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TCC 2 Reflexões sobre a Guerra de Jugurta e a decadência dos valores cívicos e morais da República Romana (2)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCH 
LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
MONOGRAFIA 
 
Reflexões sobre a Guerra de Jugurta e a decadência dos valores cívicos e morais 
da República Romana – TCC 2 
 
 
 
 
Aluno (a): James Leal Borges 
Matrícula: n° 13216090237 
Polo: Duque de Caxias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2017 
 
 
 
 
 
 
James Leal Borges 
 
 
 
 
 
Reflexões sobre a Guerra de Jugurta e a decadência dos valores cívicos e morais da 
República Romana 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2017
1 
 
Reflexões sobre a Guerra de Jugurta e a decadência dos valores cívicos e morais da 
República Romana 
 
 
 
 
 
James Leal Borges 
 
 
 
 
 
Monografia submetida ao corpo docente da Escola de 
História da Universidade Federal do Rio de Janeiro – 
UNIRIO – como parte dos requisitos necessários à 
obtenção do grau de Licenciado em História sob 
orientação do (a) Prof. (a) Mª Anna Carla Monteiro de 
Castro. 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2017 
2 
 
Reflexões sobre a Guerra de Jugurta e a decadência dos valores cívicos e morais da 
República Romana 
 
 
 
 
 
James Leal Borges 
 
 
 
 
 
Aprovado por: 
Profª Mª Anna Carla Monteiro de Castro 
Orientador (Mestre em História Social/UFF) 
 
Profª Dr.ª Juliana Bastos Marques 
Leitor Crítico (Doutora em História Social/USP) 
 
 
Rio de Janeiro 
2017 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos autodidatas, que 
através dos tempos proporcionaram a 
ampliação do conhecimento por sua dedicação 
intelectual espontânea e idealista. 
 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 Agradeço especialmente aos meus diletos companheiros de graduação, sem o 
apoio mútuo, a compreensão das dificuldades, a solidariedade nos piores momentos e a 
obstinação em alcançar um objetivo comum, não teria conseguido esta importante conquista. 
Essas pessoas maravilhosas e únicas, apaixonadas pelos estudos históricos como eu, foram 
fundamentais para a minha vitória, eu nunca imaginei que Deus me concederia o prazer de 
conviver nessa graduação com um grupo de colegas inigualável. “Feras da História”, André 
Luiz, Ana Cláudia, Davi, Eliane, Harley, Jefferson, Leandro, Leonilson, Lucão, Maxwell, 
Mendonça, Ruan, Valéria Graça, Valéria Oneto e Wilson, para sempre em meu coração. 
 Também tenho que agradecer as minhas tutoras do Polo de Duque de Caxias, os 
debates realizados durante as tutorias foram essenciais para o entendimento do conteúdo das 
disciplinas, o incentivo para progredir e ampliar o desenvolvimento intelectual foi 
importantíssimo. Agradeço a minha orientadora, professora Anna Carla Monteiro de Castro, 
por todo o esforço e dedicação para que este trabalho fosse elaborado de forma correta, a 
professora Rafaela Paula da Silva, pelos valiosos ensinamentos sobre Historiografia, a 
professora Maria Helena Domingues, pelas importantes discussões sobre a interpretação dos 
textos históricos, a professora Rita de Cássia Santos Melo, pelos conselhos para a escolha do 
tema do TCC, enfim, a todas essas e outras maravilhosas docentes que guardarei sempre com 
carinho por todo o empenho em ajudar na minha formação acadêmica. 
 Termino agradecendo aos meus familiares pela compreensão durante o período 
desta graduação e a todas as pessoas que colaboraram para que fosse possível realizar este 
empreendimento acadêmico. 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O historiador pode aplaudir a importância e a 
variedade de sua matéria, mas, conquanto 
tenha consciência de suas próprias 
imperfeições, deve amiúde denunciar a 
deficiência de seus dados. 
(Edward Gibbon – História do Declínio e 
Queda do Império Romano) 
6 
 
RESUMO 
 Este trabalho pretende, através da análise dos fatos ocorridos na guerra travada 
pela República Romana contra o rei da Numídia, Jugurta, fazer uma reflexão sobre a perda dos 
valores éticos, morais e cívicos ocorridos na sociedade de Roma, principalmente pelos 
principais atores políticos, decorrentes da expansão territorial ocorrida durante os séculos III e 
II a. C., que proporcionaram um grande desequilíbrio nas relações entre o patriciado e a plebe. 
Será destacada também a questão da corrupção como elemento propulsor dessa condição, sendo 
as ações de Jugurta para se manter no poder a comprovação explícita desses procedimentos 
escusos adotados. 
Palavras chaves: Jugurta, valores, corrupção 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
ABSTRACT 
 This thesis intends, through the analysis of events in the war waged by the 
Roman Republic against the King of Numidia, Jugurtha, to make a reflection on the loss of 
ethical, moral and civic values in the society of Rome, especially regarding the main political 
actors, arising from territorial expansion during the centuries III and II b. c., which provided a 
great imbalance in the relationship between the patricians and the plebeians. We will highlight 
the issue of corruption as a propellant element of this condition, and the actions of Jugurtha to 
stay in power as the explicit proof of these shady procedures adopted. 
Key words: Jugurtha, values, corruption 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
SUMÁRIO 
 
Introdução.........................................................................................................................Pag. 10 
 
Capítulo 1 – Os indícios da crise política e as origens do conflito.....................................Pag. 11 
 
1.1 – A Guerra de Jugurta e as relações com a degeneração do sistema político da Roma 
Republicana – A participação de Salústio nesses eventos e suas motivações para escrever 
sobre o contexto de sua época......................................................................................Pag. 11 
 
1.2 – Antecedentes do conflito – A personalidade de Jugurta e suas relações com a corrupção 
da elite política romana – O início da guerra...............................................................Pag. 14 
 
1.3 – As tentativas de resolução diplomática para a questão da Numídia – As relações de 
patronato e clientela – A declaração de guerra da República Romana contra 
Jugurta........................................................................................................................Pag. 19 
 
1.4 – As razões para a decadência cívica e moral – A excessiva concentração de terras em mãos 
do patriciado – As tentativas de Tibério e Caio Graco para a resolução do problema 
fundiário......................................................................................................................Pag. 22 
 
Capítulo 2 – A continuação da guerra e as contradições da sociedade romana................Pag. 28 
 
2.1 - As movimentações em Roma relativas a guerra na Numídia – A corrupção da classe 
política e sua importância no contexto do conflito – As dificuldades para o início efetivo das 
hostilidades contra Jugurta – A trégua e a suposta rendição de Jugurta firmada com Lúcio Béstia 
Calpurnio e suas consequências.........................................................................................Pag. 28 
 
2.2 – O reinício das hostilidades sobre o comandode Espúrio Albino – A questão eleitoral – 
Decisões errôneas na condução da campanha militar – Problemas ocorridos em Roma devido 
aos acontecimentos na Numídia.........................................................................................Pag. 34 
9 
 
2.3 – Mudanças de rumo na condução das operações militares – O comando de Quinto Cecílio 
Metelo – Vitórias dos romanos e as movimentações de Jugurta – Indefinições para a finalização 
da guerra...........................................................................................................................Pag. 38 
 
Capítulo 3 – Acontecimentos derradeiros da Guerra de Jugurta......................................Pag. 45 
 
3.1 – As operações militares inconclusivas – A saída de Metelo – Mário assume o comando das 
tropas.................................................................................................................................Pag. 45 
 
3.2 – A aliança de Jugurta com o rei Boco – As ações de Mário no campo de batalha – O refúgio 
de Jugurta na Mauritânia – As investidas para o término do conflito – A prisão de Jugurta e o 
fim da guerra – A hipótese sobre a morte de Jugurta.........................................................Pag. 53 
 
Conclusão..........................................................................................................................Pag. 60 
 
Fontes................................................................................................................................Pag. 61 
 
Referências Bibliográficas................................................................................................Pag. 61 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 A “Guerra de Jugurta” é um dessas narrativas que prezam pela exposição dos 
elementos que caracterizam a degradação de um contexto social, onde existia anteriormente 
honorabilidade e orgulho pelas virtudes morais e cívicas, e que, através de um processo de 
enriquecimento material avassalador, perde-se estas referências éticas em troca da obtenção de 
prestígio e poder a qualquer custo, fazendo a necessidade de recursos financeiros para a 
obtenção de resultados eleitorais satisfatórios proporcionarem a aceitação de indignidades e 
rebaixamento de caráter daqueles que são responsáveis pela condução do bem estar público. 
 De acordo com o relato de Salústio, Jugurta consegue estabelecer conexões com os 
setores corrompidos do “status quo” da República Romana, auferindo benefícios políticos que 
manterão por bastante tempo seu reinado na Numídia, independente das atrocidades e 
ilegalidades que tenha praticado. Esta história, ocorrida nos finais do século II a.C., apesar de 
ter em seu conteúdo opiniões que denotam juízo de valor e preferencias políticas do autor, serve 
para demonstrar a existência de uma crise na sociedade romana já evidenciada por episódios 
anteriores, como a rejeição violenta do patriciado à proposta de reforma agrária dos irmãos 
Graco. As reflexões sobre os seus acontecimentos são fundamentais para entender o que 
ocorreria posteriormente em Roma no século I a.C., onde o confronto entre os “optimae” e os 
“populares” seria responsável pela derrocada dos princípios republicanos e a personificação 
do poder através da ascensão de Augusto. 
 No capítulo 1 será feita uma descrição dos fatores que ocasionaram a derrocada dos 
princípios republicanos em Roma e das causas que levaram a confrontação militar na Numídia 
devido as atitudes de Jugurta. No capítulo 2 a continuação da guerra e seus desdobramentos em 
Roma será relatado, com destaque para as movimentações dos principais atores políticos e seus 
procedimentos dúbios durante a campanha na Numídia, até que Quinto Cecílio Metelo assuma 
o comando das operações. No capítulo 3 as indefinições para o término do conflito causarão 
inquietações em Roma, fazendo com que Metelo seja afastado e Caio Mário seja designado 
pelo Senado como o novo comandante, que finalmente conseguirá finalizar a guerra e aprisionar 
Jugurta. 
 
 
 
11 
 
Capítulo 1 – Os indícios da crise política e as origens do conflito 
 Neste início do trabalho será descrito como Caio Salústio Crispo esteve envolvido 
com a problemática política existente na República Romana durante o século I a. C., destacando 
que esta experiência seria fundamental para a elaboração do livro relacionado a Guerra de 
Jugurta, ocorrida no final do século II a. C., e de sua implicação nos acontecimentos referentes 
a decadência moral e cívica em Roma. Incialmente será feito um breve relato sobre a vida de 
Salústio, em seguida será descrito como o crescimento do território romano, resultado das 
conquistas militares durante os séculos III e II a. C., causariam uma mudança nas relações 
dentro da sociedade romana, devido ao enriquecimento material decorrente desse processo. 
Posteriormente será feito um relato sobre as relações históricas entre a Numídia e Roma, além 
de sua correlação com o surgimento de Jugurta e demonstrar o seu relacionamento inicial com 
os romanos, com destaque para questão da corrupção da classe política. Será feito um relato 
sobre as motivações que levaram ao conflito armado e os seus desdobramentos iniciais, para 
finalizar uma análise dos problemas agrários existentes em Roma e da tentativa de sua solução 
pela lei de reforma agrária elaborada por Tibério Graco, que provocaram grandes conturbações 
sociais dentro do contexto da República. 
1.1 – A Guerra de Jugurta e as relações com a degeneração do sistema político da Roma 
Republicana – A participação de Salústio nesses eventos e suas motivações para escrever sobre 
o contexto de sua época. 
 Os antecedentes históricos referentes ao episódio conhecido como guerra de Jugurta 
foram relatados por Caio Salústio Crispo (86-35 a.C.) numa obra literária em que o político e 
historiador romano descreve, utilizando como exemplificação o confronto militar ocorrido na 
Numídia no Norte da África, entre os anos de 112 a.C. e 105 a.C., as conturbações ocorridas no 
final do século II a.C. na Roma Republicana, resultado de problemas decorrentes pela 
degeneração dos antigos princípios cívicos seguidos pelos romanos, que foram responsáveis 
pelo engrandecimento territorial e a abrangência da influência política de Roma em 
praticamente toda a região do Mar Mediterrâneo. 
 A vida do próprio autor está correlacionada com o desenrolar dos dramas políticos 
ocorridos no período posterior ao descrito no livro “Guerra de Jugurta”. Primeiramente 
devemos saber que Caio Salústio Crispo, de acordo com as fontes historiográficas existentes, 
foi um indivíduo pertencente a facção política dos “populares”, defensores de maiores 
concessões para a plebe romana em oposição aos “optimae”, que não queriam alterações no 
12 
 
“status quo” da República, devido ao grande poder concentrado nas mãos das classes senatorial 
e equestre, que ocupavam os altos cargos da magistratura em Roma e por isso detinham todo o 
poder decisório. Devemos ressaltar que a sociedade romana após a vitória final contra Cartago 
nas Guerras Púnicas (264-146 d.C.), conjunto de três confrontos militares entre Roma e a cidade 
de origem fenícia do Norte da África, e que era a grande opositora à expansão romana na região 
mediterrânea, modificou-se devido a opulência material decorrente desse triunfo. Suas 
consequências foram a ampliação do poder de Roma, resultante da sequência de vitórias contra 
os reinos helenísticos na Ásia Menor, culminando com a anexação do território da Grécia no 
ano da derrota final de Cartago naTerceira Guerra Púnica (146 a.C.). Estes fatores foram 
responsáveis por alterar o antigo espírito de austeridade existente entre os cidadãos romanos, 
provocando uma corrida desenfreada pela obtenção de enriquecimento como forma de galgar 
as mais altas dignidades republicanas, independente que fosse de maneira escusa. 
As repetidas vitórias permitiram a transferência para a Itália de grandes 
riquezas, dos tesouros acumulados no Mediterrâneo oriental. O erário 
público enriqueceu-se com a pilhagem dos povos conquistados; 
gradualmente, a esta forma de transferência de riquezas acrescentou-se 
o pagamento regular de impostos pelas províncias em que as regiões 
conquistadas foram transformadas. 1 
 Segundo as fontes historiográficas que citam sua vida, “ Gaio Salústio Crispo 
nasceu de família plebeia em Amiterno na Sabina, em 86(?) a.C.” (SILVEIRA, 2003: p. 12), 
ainda jovem foi para Roma com o intuito de desenvolver seus estudos, acabando por se ligar a 
já citada facção dos populares, cujo um dos seus grandes expoentes era Caio Júlio César. A 
partir daí as escassas informações existentes demonstram que Salústio passou a estar envolvido 
em todas as querelas políticas do período, presenciando a derrocada dos princípios republicanos 
em detrimento das decisões de cunho personalista. Este posicionamento demonstrado por 
Salústio em seus trabalhos literários torna-se de certa forma contraditória, pois ele próprio 
esteve ligado a umas das correntes políticas que lutavam pelo poder em Roma e foi um 
apadrinhado político de Júlio César, de acordo com os relatos existentes sobre sua vida. 
 
1 (CORASSIN, Maria Luiza, A Reforma Agrária na Roma Antiga, Coleção “Tudo é História”, São Paulo, 
Brasiliense, 1988, p. 15.) 
 
13 
 
 Isto é demonstrado no decorrer de sua carreira, com ascensão política de Júlio César 
ao poder, Salústio seria nomeado governador da província da África Proconsular, isso teria 
aumentado o seu interesse pelo episódio envolvendo Jugurta, pois além de ter vivido na região 
onde aconteceram os fatos relativos a guerra, teria possivelmente tido acesso a documentos 
existentes em cartaginês que facilitaram suas pesquisas sobre o tema. Ironicamente, Salústio 
seria afastado do governo da África Proconsular com suspeitas de enriquecimento ilícito. O 
assassinato de Júlio César em 44 a.C. o fez se desiludir com as atividades políticas, provocando 
seu afastamento da vida pública, supostamente também para evitar possíveis retaliações. 
 É deste momento em diante que Salústio passará a redigir suas “monografias 
históricas”, obras literárias em que através do estudo de caso de determinados personagens, 
como Jugurta e Catilina, descreverá suas opiniões sobre a perda gradativa da importância das 
virtudes e dos valores cívicos por parte dos homens públicos em Roma, destacando a 
valorização da individualidade em busca da obtenção do poder. O enfoque de Salústio está em 
fazer uma comparação nostálgica entre o passado virtuoso e glorioso da República Romana 
com a época decadente em que vive, ressaltando uma desilusão com os atuais rumos da política 
em Roma. 
 Podemos fazer uma correlação entre a visão estabelecida sobre a derrocada da 
sociedade romana por Salústio com a de Tito Lívio, que também vai destacar a decadência dos 
costumes e das virtudes durante o século II e o século I a. C., porém, como resultado da 
ampliação territorial decorrente das conquistas militares, ressalta que o contato anterior com as 
populações helenísticas já havia deturpado o caráter austero e decidido dos cidadãos romanos 
que faziam parte das legiões. 
Quanto a Salústio, embora também esteja presente a ideia de que a 
opulência traga a corrupção, há uma diferença fundamental em relação 
a Tito Lívio, pois aquele atribui a decadência ao fim do metus hostilis, 
por causa da destruição de Cartago, o mais poderoso inimigo de Roma. 
Em Tito Lívio é possível ver essa degradação já ocorrendo antes, em 
razão de novos contatos nas guerras macedônicas. 2 
 
² (MARQUES, Juliana Bastos. Tradição e renovação da identidade romana em Tito Lívio e Tácito/ 
Juliana Bastos Marques. - Rio de Janeiro: Apicuri, 2013, p. 61.) 
14 
 
 Todo este quadro de degradação descrito por Salústio terá no personagem de 
Jugurta a personificação do corruptor que demonstra todas as vicissitudes existentes na 
sociedade romana, através de seus constantes subornos a personagens da República para a 
manutenção do poder na Numídia, colocando em evidencia a dependência do sistema político 
romano dos valores materiais para sua sustentação. 
Bellum Iugurthinum, retrato de um confronto externo que, apesar de 
contar os elementos que fizeram parte do conflito, indica muito mais as 
mudanças na política interna e externa da sociedade. De forma que, 
quando se organiza as formas de lidar com o conflito contra os númidas, 
Salústio demonstra a corrupção da política romana e a sua influência 
nas decisões referentes à guerra. 3 
1.2 – Antecedentes do conflito – A personalidade de Jugurta e suas relações com a corrupção 
da elite política romana – O início da guerra. 
 A Guerra de Jugurta na realidade tem suas raízes em fatos históricos ocorridos cerca 
de um século antes do conflito. De acordo com o relato de Salústio, na época da Segunda Guerra 
Púnica (218-201 a. C.), a Numídia era aliada de Cartago no confronto contra Roma, este período 
das Guerras Púnicas encaminhou a futura vitória definitiva da República Romana sobre os 
cartagineses. Após Aníbal Barca permanecer por vários anos na Península Itálica e, apesar de 
seus grandes feitos militares, não ter conseguido derrotar definitivamente Roma, a luta 
transferiu-se para o norte da África, estratégia utilizada pelos romanos para deslocar o foco da 
luta do território próximo a Roma. Com isso Aníbal foi obrigado a retornar, pressionado 
também pela classe dirigente de Cartago, que considerava infrutíferos os esforços 
empreendidos por Aníbal na tentativa de vencer os romanos. 
 Nesta conjuntura ocorria uma disputa dinástica pelo trono da Numídia que 
acabaria sendo vencida por Massinissa, que era filho do rei Gala ou Gaia. Este se aliaria aos 
romanos e teria participação na Batalha de Zama em 202 a. C., em que as legiões romanas 
 
 ³ (SILVA, Daniela Barbosa da. Tempo e Memória em Bellum Catilinae e Bellum Iugurthinum de Caio 
Salústio Crispo [manuscrito] / Daniela Barbosa da Silva – 2014, p. 94.) 
 
 
 
 
15 
 
comandadas por Públio Cornélio Cipião derrotariam os cartagineses comandados por Aníbal, 
terminando a Segunda Guerra Púnica. Com este apoio a Numídia passaria a ser um protetorado 
romano, Massinisa deixaria o trono para o seu filho Micipsa no ano de 148 a. C., que manteria 
a premissa da aliança com Roma como primordial para a manutenção da independência e da 
sobrevivência política da Numídia. Com a morte de seus dois irmãos, Gurula e Mastanabal, 
Micipsa reinava tranquilamente sem nenhuma ameaça de oposição. Ele acabaria por adotar 
Jugurta, filho de Mastanabal, considerado de origem ilegítima, que acabaria vindo a se destacar 
na Numídia por sua dedicação as atividades físicas, como os exercícios de equitação e das artes 
militares, além do seu caráter voluntarioso, resoluto e carismático, fazendo com que angariasse 
a simpatia de grande parte da população. 
 Quando Roma solicitou o auxílio de tropas auxiliares da Numídia para o cerco da 
cidadede Numância na Península Ibérica, Micpsa enviou para esta empreitada Jugurta. Além 
de poder colocar em prova seu valor e disposição para a luta armada supõe-se que, segundo 
Salústio, o rei da Numídia poderia, graças a alguma fatalidade, se livrar da presença de seu 
sobrinho na corte, que já se revelava de certa forma incomoda para os interesses de Micipsa. 
 É justamente nesta campanha militar na Península Ibérica que Jugurta terá contato 
com os cidadãos romanos componentes de uma nova classe de nobres, “que anteponiam la 
riqueza a lo bueno y honesto; hombres intrigantes em Roma, poderosos entre los aliados, más 
célebres que honorables” (SALÚSTIO, 1971: p. 26), estes cidadãos fizeram a Jugurta propostas 
de apoio irrestrito aos seus interesses, alegando que na falta de Micpsa ele assumiria o trono da 
Numídia por sua capacidade de decisão e valor pessoal. Em troca desse auxílio, porém, era 
solicitado que Jugurta fosse benevolente financeiramente com seus aliados, concedendo a eles 
condições necessárias para a manutenção de sua posição social dentro da sociedade romana, 
principalmente o financiamento das caríssimas campanhas políticas da República. Podemos 
relativizar esta opinião expressa por Salústio sobre a corrupção de setores da classe política de 
Roma em “Guerra de Jugurta”, a expansão romana foi resultado não apenas do poderio militar 
da República, acordos e concessões foram necessários para que fosse conseguido o apoio de 
lideranças locais das regiões dominadas ou rivais dos inimigos de Roma, esta questão referente 
as supostas propostas de suborno feita por cidadãos romanos estaria inserida num contexto de 
conciliação através do estabelecimento de relações amistosas, em que concessões de ambas a 
parte eram necessárias. 
16 
 
E falar da guerra entre os romanos e os cartagineses ou entre os romanos 
e os macedonianos deixaria escapar completamente o que Políbio julga 
ser sua principal descoberta e a novidade de seu tempo: a 
simultaneidade de confrontos que envolvem protagonistas diferentes, 
desenrolando-se em lugares variados e repercutindo uns sobre os 
outros. Neste caso, é possível afirmar que o número de intervenientes é 
superior a dois lados ou também que há um só, visto que Roma, ao 
estender a sua dominação, constitui o traço de união ou atua como 
agente de ligação entre essas histórias, até então, locais e separadas. 4 
 Na sequência dos acontecimentos, Jugurta vem a se destacar por seu valor e méritos 
na campanha militar contra a cidade de Numância, ao final da contenda e com a vitória romana 
o comandante das forças romanas, Públio Cipião, filho do vencedor da batalha de Zama, 
condecorou Jugurta em público e o reverenciou por suas atitudes. Em particular Cipião 
recomendou a Jugurta que procurasse alcançar prestígio e glória através de suas virtudes e que 
não vinculasse o seu sucesso a concessão de benefícios escusos a determinados cidadãos 
romanos de conduta reprovável, já que ele deveria conseguir o reconhecimento de toda a 
comunidade que compunha a República Romana através de atitudes integras para obter na 
Numídia os direitos condizentes com sua capacidade de liderança. É preciso ressaltar que esta 
opinião expressa por Cipião se correlaciona com a importância do respeito das tropas em 
relação ao seu comandante como fator fundamental para que este conseguisse almejar destaque 
na política em Roma, dentro deste contexto veremos como Caio Mário pode ser considerado o 
primeiro grande líder político da República que soube explorar esta situação. Destacando que 
sua capacidade de estar sempre ao lado dos seus comandados, participando dos perigos 
decorrentes das batalhas e atendendo as demandas e solicitações da soldadesca, alavancaram 
sua carreira de forma brilhante. 
 
4 (HARTOG, François – Evidencia da história: o que os historiadores veem / François Hartog; tradução 
Guilherme João de Freitas Teixeira com a colaboração de Jaime A. Clasen – 1 ed. 1 reimp. – Belo 
Horizonte: Autentica Editora, 2013 – (Coleção História e Historiografia / coordenação Eliana de Freitas 
Dutra, 5) p. 94 e 95) 
 
 
 
17 
 
O contato com os romanos aparenta, na narrativa salustiana, o começo 
de uma interação com aqueles membros da aristocracia que não se 
destacavam pela justeza e bom caráter e, esse contexto, denota uma 
mudança no próprio posicionamento de Jugurta frente a Roma e que irá 
transparecer quando, mais tarde, ele mesmo se encontra em conflito 
com os mesmos. 5 
 Em seguida Públio Cipião redige uma carta à Micipsa, em que destaca todas as 
qualidades de Jugurta e que o rei da Numídia deveria sentir-se orgulhoso pelo valor 
demonstrado por seu sobrinho em combate ao lado dos romanos, que procuraria obter do senado 
da República e do povo de Roma a aceitação do nome de Jugurta como um importante e 
valoroso aliado na Numídia, indiretamente dizendo à Micipsa que Jugurta deveria ser designado 
como um dos seus sucessores, ao lado dos seus filhos Aderbal e Hiempsal. Micipsa, de acordo 
com o relato do livro “Guerra de Jugurta”, concluiu que as palavras de Públio Cipião 
corroboravam com as informações que vinha recebendo sobre as ações de Jugurta na Península 
Ibérica, resolve então o colocar em seu testamento como um dos herdeiros do trono da Numídia. 
Passados os anos, estando Micipsa com o seu estado de saúde já prejudicado pelo avanço da 
idade e vendo que chegava próximo o seu falecimento, resolve reunir parentes e amigos, ao 
lado de seus filhos Aderbal e Hiempsal, para aconselhar à Jugurta como deseja que ele proceda 
à frente dos negócios da Numídia e em relação aos seus herdeiros diretos, e também dizer a 
Aderbal e Hiempsal que deveriam seguir o exemplo de Jugurta, procurando respeitar seus 
conselhos devido a sua maior experiência e idade. 
Pero antes que a éstos te toca a ti, Jugurta, puestos que los aventajas em 
edad y sabiduría, procurar que las cosas salgan bien. Porque en toda 
contienda el más fuerte, aunque sea el injuriado, parece que es el 
agresor porque es más poderoso. Y em cuanto a vosotros, Aderbal e 
Hiempsal, rspetad y venerad a este hombe insigne, imitad su valor y 
trabajad para que no se diga que mi hijo adoptivo es mejor que los hijos 
que engendré. 6 
 
5 (Cf. SILVA, Daniela Barbosa da. Op., Cit., p. 94) 
 
6 (SALUSTIO, Guerra de Jugurta – Texto latino com tradución literal y literária por Joaquín García 
Álvarez – 3ª edição – Madrid: Editorial Gredos S. A., 1971 p. 32) 
18 
 
 Após este acontecimento não demorou muitos dias para o falecimento de Micipsa, 
Jugurta procurou logo se reunir com Aderbal e Hiempsal para definirem assuntos referentes a 
administração da Numídia. Ele propôs anular os atos de Micipsa dos últimos cinco anos, 
alegando que, devido à idade avançada e a seu precário estado de saúde, suas decisões eram 
passíveis de contestação. Hiempsal, o mais jovem dos filhos de Micipsa e menos afeito a divisão 
do trono da Numídia com Jugurta, concordou com esta proposição, alegando que a própria 
adoção de Jugurta como herdeiro fora realizada nos últimos três anos e seria também passível 
de anulação. Ao ouvir estas palavras Jugurta passou a preocupar-se com o que poderia acontecer 
futuramente, procurou esquematizar uma forma de vingar-se de Hiempsal o eliminando 
fisicamente, medida esta que lhe seria também proveitosa pois seria menos um a atrapalhar seus 
planos de assumir o poder total na Numídia. Como Hiempsal estivesse na cidade de Thírmida 
hospedado coincidentemente na casa do principal lictor de Jugurta, este conseguiuatravés dele 
cópias das chaves para que seus sectários entrassem no local e realizassem o intento de mata-
lo. Após consumarem sua missão, os númidas presenteiam Jugurta com a cabeça de Hiempsal, 
de acordo com as determinações pré-estabelecidas. 
 A notícia deste crime ao espalhar-se por toda a Numídia causou um temor 
generalizado em Aderbal e nos antigos súditos de Micipsa. Ocorreu uma divisão, em que a 
maioria da população númida ficou ao lado de Aderbal enquanto os mais beligerantes uniram-
se a Jugurta. Este se aproveita para tomar várias cidades pela força enquanto outras se uniram 
a ele por vontade própia. Aderbal envia emissários à Roma para que o Senado fosse informado 
do assassinato de seu irmão e da usurpação perpetrada por Jugurta. Confiando no maior número 
de suas tropas, Aderbal resolve enfrenta-lo no campo de batalha, porém, ao ser derrotado, se 
refugia na província romana da África e dali resolve ir à Roma para relatar os fatos ocorridos. 
Temeroso das consequências das palavras de Aderbal perante o Senado, tentando se justificar 
e estabelecer definitivamente o seu poder na Numídia, Jugurta parte para a utilização da 
corrupção de membros do senado e dos nobres romanos propensos aos seus oferecimentos, 
lembrando do caráter desonesto demonstrado por aqueles cidadãos da República que conheceu 
na Península Ibérica. 
Com a morte do rei da Numídia, três serão os herdeiros, entre eles 
Jugurta. Diz-se que a possibilidade de governar tantos bens deturpa sua 
personalidade; no entanto, não é necessariamente de onde provem sua 
mudança que nos interessa e, sim, como essa transformação e leva a 
anunciar os romanos que procura para angariar a sua causa na guerra da 
19 
 
Numídia. Quando Jugurta inicia sua rivalidade contra Aderbal e esse 
sugere que se procure os romanos para conseguir apoio, por várias 
vezes Jugurta diz ser o apoio deles passível de compra. 7 
1.3 – As tentativas de resolução diplomática para a questão da Numídia – As relações de 
patronato e clientela – A declaração de guerra da República Romana contra Jugurta. 
 No início da disputa entre Jugurta e Aderbal pelo controle territorial da Numídia 
foram tentadas saídas de cunho diplomático, que envolveram a intermediação dos políticos de 
Roma, principalmente os membros do Senado. Segundo Salústio, Aderbal compareceu na 
assembleia senatorial e discursou longamente, alegou a antiga amizade existente com os 
romanos desde os tempos de seu avô Massinissa durante a Segunda Guerra Púnica, consolidada 
posteriormente durante o reinado de seu pai Micpsa. Ele solicita que os senadores intercedam 
para que seja coibida a sanha usurpadora de Jugurta, ressaltando que sua integridade física 
estava em risco enquanto não fossem cessadas as hostilidades e Jugurta afastado do poder. 
Aderbal, de acordo com o texto de Salústio, frisa a questão de existirem cidadãos de caráter 
corruptível ocupando cargos públicos na República, e que, graças as suas manipulações, 
decisões eram tomadas pelo Senado em benefício de Jugurta. Terminou solicitando a ajuda de 
Roma para a recuperação do trono da Numídia, afirmando que na realidade o território do reino 
pertencia aos romanos e ele apenas cuidava de sua administração, evitando que o crime, a 
injúria e usurpação perpetrados contra sua família por Jugurta prevaleçam. 
 Ao término do discurso de Aderbal, os representantes de Jugurta desconsideraram 
o que ele havia falado, dizendo que a morte de Hiempsal fora causada por suas atitudes violentas 
na Numídia e que a guerra fora provocada por Aderbal, defenderam a conduta de Jugurta por 
seu histórico favorável em relação à República, quando havia lutado ao lado dos romanos na 
campanha do cerco da cidade de Numância. Após a saída de ambas as partes do recinto do 
Senado iniciaram-se as deliberações referentes ao caso, os partidários de Jugurta e grande parte 
dos senadores corrompidos pelo dinheiro desprezavam o discurso de Aderbal e exaltavam os 
méritos de seu patrono, fazendo o possível para defender a usurpação e os crimes cometidos 
por Jugurta. Uma minoria de senadores, que colocavam a honra e a justiça acima do dinheiro, 
defendiam o socorro à Aderbal e punir severamente o assassinato de Hiempsal, porém acabou 
sendo privilegiada a opinião dos que haviam sido beneficiados financeiramente. É bom destacar 
que esta disputa entre Aderbal e Jugurta significaria também uma uma cisão no Senado por 
 
7 (Cf. SILVA, Daniela Barbosa da. Op., cit., p. 98) 
20 
 
interesses diferentes, apesar do relato de Salústio colocar em Jugurta a culpa pelos conflitos 
exitentes na Numídia é necessário fazer uma análise coerente e abalizada dessa situação, 
evitando a adoção de uma postura maniqueísta. 
 É preciso destacar que a necessidade premente de verbas disponíveis pela classe 
política da República Romana estava relacionada com as eleições para os cargos da 
magistratura. Havia um gasto elevadíssimo para a formação de uma clientela de eleitores. 
Devido as constantes dificuldades da plebe para sobreviver, lembrando que Roma nunca 
desenvolveu atividades econômicas que propiciassem condições de sobrevivência para a maior 
parte de sua população, havia motivações para o recebimento desses favores. Este problema foi 
agravado também devido ao grande número de escravos que adentraram na República Romana, 
resultado da expansão das conquistas militares, por isso era necessário para a maior parte da 
plebe ter um patrono para a garantia das necessidades básicas. Em troca dessa dependência, os 
cidadãos plebeus deveriam ser eleitores do seu patrono, portanto quanto mais dinheiro houvesse 
para investir na manutenção de uma grande clientela maiores seriam as chances de eleger-se. 
Já os libertos também participavam ativamente do processo eleitoral de seus antigos senhores, 
muitos conseguiam enriquecer e ascender socialmente, porém a maioria permanecia ligada por 
laços de dependência e afetividade as suas antigas casas senhoriais. 
 Além disso, a organização dos comícios exigia um grande investimento financeiro, 
isto explica porque os oferecimentos corruptores em ouro e prata de Jugurta eram tão bem 
aceitos por parte dos políticos romanos. “Jugurta havia aprendido mais do que arte militar na 
Espanha. Ele sabia que o sucesso e o fracasso em Roma dependiam de assumir um mandato e 
que as eleições, até mesmo para as magistraturas inferiores, eram incrivelmente caras”. 
(MATYSZAK, 2013: pos. 949/951) 
 O Senado acabaria por decidir pela divisão da Numídia entre Jugurta e Aderbal. 
Nesta repartição, Jugurta acabaria ficando com a parte mais rica da Numídia e os representantes 
do Senado foram enviados à África para definir esta repartição do território. Depois de resolvida 
a questão da partilha do reino da Numídia entre Jugurta e Aderbal, os representantes do Senado 
de Roma se retiraram da África, fazendo que Jugurta chegasse a conclusão que seus temores 
eram infundados em relação a uma retaliação da parte dos romanos por causa de suas atitudes, 
Aquilo que lhe fora dito em Numância pelos seus amigos era verdade, ou seja, a sociedade de 
Roma era composta por cidadãos descomprometidos com o bem público em sua maior parte e 
que não era difícil conseguir seus intentos, desde que fosse pago o preço certo. 
21 
 
Este acordo durou por alguns anos enquanto Jugurta consolidava seu 
novo reino e o colocava em condições de lutar e por mais alguns meses 
depois disso, enquanto Aderbal continuamente se recusava a responder 
às provocações de Jugurta, cada vez mais violentas. Finalmente, Jugurta 
perdeu a paciênciae invadiu ostensivamente as terras de Aderbal, 
obrigando-o a retornar rapidamente à cidade-fortaleza de Cirta. 8 
 Na sequência dos acontecimentos, os romanos enviariam uma comissão para 
investigar o que estava ocorrendo na Numídia. Jugurta acabaria por conseguir contornar a 
situação, colocando a culpa em Aderbal pela agressão e que ele apenas estava se defendendo, 
conseguindo utilizar o seu prestígio na campanha militar na Península Ibérica e sua amizade 
com Públio Cipião para atenuar sua condição. Com o retorno da comissão para Roma, Jugurta 
recomeçou o cerco à Cirta, Aderbal recorreria desesperadamente de novo a intervenção romana, 
uma nova comissão foi enviada para a Numídia comandada por senadores experientes, como 
Marco Emílio Escauro. Jugurta mais uma vez evitou que essa comissão interferisse, após a 
saída dos embaixadores romanos do território da Numídia ele reinicia suas hostilidades 
voltando ao sítio de Cirta, agindo de forma beligerante e decisiva, consegue penetrar na cidade 
com suas forças e colocar Aderbal numa situação delicada. 
 Em Cirta havia mercadores italianos que auxiliavam na resistência contra o cerco 
de Jugurta, estes confiando na honorabilidade do nome de Roma aconselharam Aderbal a 
render-se em troca de sua vida. Apesar de relutante ele aceitou o conselho, que infelizmente 
resultou em sua morte após ser torturado terrivelmente, Jugurta ordenou também a execução de 
todos os númidas adultos e dos mercadores italianos, sem se preocupar com as consequências. 
Quando a notícia da queda de Cirta chegou a Roma, em 112 a. C., a 
guerra tornou-se inevitável, até porque muitos dos defensores de Cirta 
haviam sido comerciantes italianos com amigos e patronos no senado. 
Quando o filho de Jugurta chegou para acalmar os romanos com 
 
8 (MATYSZAK, Philip. Os Inimigos de Roma – Editora Manole – 2013 – Livro digital/ Kindle. 
 pos. 953/955) 
 
22 
 
palavras gentis e muito dinheiro, recebeu a ordem de voltar para casa a 
menos que pretendesse oferecer uma rendição incondicional. 9 
1.4 – As razões para a decadência cívica e moral – A excessiva concentração de terras em mãos 
do patriciado – As tentativas de Tibério e Caio Graco para a resolução do problema fundiário. 
 Para fazer uma reflexão mais detalhada sobre as questões descritas por Salústio em 
“Guerra de Jugurta”, teremos que retornar à segunda metade do século II a. C. para relatar com 
mais abrangência a já citada degradação cívica e moral da República Romana, além da perda 
da sacralidade e magnitude dos cargos da magistratura. Devido à expansão territorial decorrente 
das conquistas ocorreria um grande acúmulo de terras públicas pertencentes à Roma. Nesse 
contexto haveria também um empobrecimento da maior parte do campesinato, devido ao longo 
período que os camponeses passavam nas legiões acabavam perdendo suas colheitas e eram 
obrigados a vender suas terras para os cidadãos ricos do patriciado, quando não eram ocupadas 
sem nenhum tipo de ressarcimento financeiro. 
 A concentração fundiária nas mãos do patriciado seria responsável por uma 
modificação gradual das estruturas de poder dentro da República Romana, este processo 
levariam as futuras dissensões dentro da classe política e seria responsável pela dicotomia entre 
os defensores do poder nas mãos das famílias tradicionais e os da sua ampliação para a plebe. 
A República romana constituía-se essencialmente de uma comunidade 
de pequenos camponeses livres, proprietários das terras que cultivavam. 
O camponês romano era o cidadão; como tal devia defender sua pátria 
pelas armas. Em caso de guerra, ele deixava sua casa e seu campo; mas, 
terminada a campanha, retornava para fazer a colheita. É por isso que 
raramente se permitia que as campanhas militares se prolongassem 
muito após os primeiros dias de verão. As grandes guerras de conquista 
iriam modificar profundamente a estrutura social tradicional. Mesmo 
assim, permaneceu a idealização do “cidadão-soldado”. 10 
 
9 (MATYSZAK, Philip. Op., cit., pos. 963/965) 
 
 
10 (Cf. CORASSIN, Maria Luiza. Op., cit., p. 7 e 8) 
 
23 
 
 Estas grandes modificações ocorridas dentro da sociedade romana causaram um 
empobrecimento em larga escala de maior parte da população, Roma sempre teve na agricultura 
a principal atividade produtiva e economicamente responsável pela manutenção do equilíbrio 
entre os diversos estamentos sociais. A concentração da maior parte da propriedade fundiária 
nas mãos do patriciado levaria ao inchaço populacional das cidades, isto geraria problemas 
desconhecidos anteriormente em Roma, mas a chamada crise do século II a. C. tem em seus 
desdobramentos a gênese da discórdia entre as facções políticas que emergiram de todo esse 
processo de mudanças. Paradoxalmente, o expansionismo que enriquecera o erário público de 
Roma e a tornara uma grande potência seria também o responsável por enfraquecer suas 
instituições. 
O Estado romano dispunha de consideráveis extensões de terras que 
caíram em seu poder após serem confiscadas aos inimigos. Um certo 
número de cidades itálicas aliadas, principalmente na Campânia e na 
Itália do sul, passaram para o lado de Aníbal; foram depois duramente 
castigadas por Roma, através do confisco de suas terras. Estas foram 
acrescentadas ao patrimônio público que Roma já havia adquirido no 
decorrer de século III, durante a conquista da Itália central e meridional. 
Na mesma época, sobretudo no início da segunda guerra púnica 
(principalmente de 216 a 210) o Estado precisou pedir empréstimos a 
particulares – aos cidadãos mais ricos, senadores e cavaleiros em 
primeiro lugar. O Estado aproveitou estas terras que caíram em seu 
poder para liquidar em parte as dívidas públicas. Tal medida foi muito 
bem recebida pelos credores; foram reembolsados com terras que após 
a guerra ficaram ainda mais valorizadas. 11 
 Outro fator primordial que alteraria as condições existentes na sociedade romana 
seria a utilização cada vez maior da mão de obra escrava. A escravidão na Antiguidade era 
resultado dos cativos apreendidos como prisioneiros de guerra, além de boa parte das 
populações das terras conquistadas que eram levados para Roma como butim de guerra. Existia 
a escravidão também por endividamento ou por punição por crimes cometidos, enfim a adoção 
dessa instituição em larga escala aprofundaria as dificuldades para a sobrevivência da plebe, 
 
11 (Cf. CORASSIN, Maria Luiza. Op., cit., p. 14 e 15) 
 
24 
 
dentro de um contexto em que a acumulação material pelo patriciado ia criando um abismo 
social com consequências funestas para a República Romana. 
Outro efeito da escravidão foi diminuir a necessidade da exploração 
direta dos homens livres pobres, os quais foram utilizados apenas na 
guerra. Apiano refere-se à preferência dos proprietários romanos pela 
mão de obra escrava, pois os homens livres estavam sujeitos à 
convocação militar, e portanto não disponíveis como trabalhadores. Na 
verdade, a guerra colocou uma mão-de-obra escrava barata e abundante 
à disposição dos proprietários fundiários romanos. O resultado foi 
claro; a situação dos camponeses piorou. Muitos desses cidadãos-
soldados que os romanos gostavam de chamar de “conquistadores do 
mundo” perderam suas terras e nelas foram substituídos pelos povos 
vencidos reduzidos à escravidão. 12 
 Segundo a interpretação de Salústio, este quadro viria a agravar-se apósa vitória 
definitiva conta Cartago na Terceira Guerra Púnica em 146 a. C., a partir daí a República 
Romana não teria mais um inimigo direto e potencialmente capaz de impedir a predominância 
de Roma no entorno do Mediterrâneo. Por volta do de 134 a. C., seria iniciado um movimento 
para tentar diminuir a discrepância existente entre os grandes proprietários e os camponeses 
expropriados de suas terras. Tibério Graco, originário de uma família patrícia, se elegeria 
tribuno da plebe e seria o responsável por elaborar uma lei que limitasse a propriedade fundiária 
da nobreza e redistribuísse parte das terras públicas pelo campesinato despossuído, que haviam 
se tornado membros da plebe urbana empobrecida. Pretendia diminuir o impacto do êxodo 
dessa população para as cidades e readequar a economia agrária romana nos seus antigos 
moldes, ou seja, retornando os pequenos agricultores a sua antiga condição. 
As cidades, particularmente Roma, incharam no início do século II, 
recebendo muitos dos sem-terra que foram sendo expulsos do campo 
devido à tendência da propriedade rural de concentrar-se nas mãos dos 
ricos. O aumento das despesas com “obras públicas” e em geral as 
maiores oportunidades de trabalhos na cidade, no artesanato, na 
produção de manufaturas necessárias, por exemplo, no exército, 
 
12 (Cf. CORASSIN, Maria Luiza. Op., cit., p. 17) 
25 
 
favoreceram o processo de urbanização do proletariado rural. Por outro 
lado, a construção de grandes obras públicas, como aquedutos para 
atender o crescimento urbano, ou de templos e outros edifícios, em 
contínuo aumento no decorrer do século II, que tinham por finalidade 
política; mas não conseguiam criar uma alternativa permanente à base 
agrária da sociedade romana. 13 
 Apesar das aparentes boas intenções do projeto de lei agrária elaborado por Tibério 
Graco ele foi violentamente contestado pelos membros do Senado, os grandes proprietários 
fundiários que achavam que seriam prejudicados com esta redistribuição, por mais que fosse 
notório que a intenção era utilizar as terras públicas, pertencentes ao Estado romano e 
consequentemente da população de Roma. 
 Tibério Graco e seus partidários fizeram o possível, dentro do ordenamento jurídico, 
para conseguir que fossem implementadas as medidas previstas na lei. Diante das dificuldades 
que surgiam, devido a oposição ferrenha da classe senatorial, acabaria ingerindo inclusive em 
assuntos fora de suas atribuições como tribuno da plebe, como a política externa, no intuito de 
solucionar todo este imbróglio. 
 O curto espaço de tempo do mandato de tribuno da plebe, 1 ano, sem a possibilidade 
de reeleição imediata, foi um empecilho para que Tibério Graco conseguisse resolver todas as 
questões pertinentes a reforma agrária. 
 Ele decidiu então recorrer a um princípio nunca utilizado anteriormente em Roma, 
a predominância da opinião popular, para conseguir ultrapassar este obstáculo e reeleger-se 
para o cargo, o que não seria aceito pela classe senatorial. Parte do Senado resolveu que a 
solução para o problema seria utilizar a violência para conter Tibério Graco e seus 
correligionários, durante o comício no Capitólio organizado para as eleições foi protagonizada 
uma grande carnificina, em que pereceu Tibério Graco e vários de seus seguidores. 
 O Senado, reunido nas proximidades, aguardava o momento para 
intervir. Quando os inimigos de Tibério vieram informar ao Senado que 
ele havia levado a mão à cabeça para indicar que desejava a coroa. 
 
13 (Cf. CORASSIN, Maria Luiza. Op., cit., p. 28) 
 
 
 
26 
 
(Plutarco, Tibério, XIX) e espalhou-se o boato de que ele expulsara os 
outros tribunos, que desejava se fazer proclamar tribuno sem eleição 
(Apiano, Guerra Civis, 15), não houve a preocupação em verificar se 
essas notícias eram verdadeiras. Um grupo de senadores propôs que se 
apelasse para a violência; o cônsul Múcio Cevola se recusou a ordenar 
a morte de um cidadão sem julgamento. Apesar disso, uma facção de 
senadores liderada por Cipião Násica, primo de Tibério, irrompeu para 
fora da cúria, a sede do Senado. Uma multidão de senadores e 
cavaleiros, acompanhados de seus clientes e escravos, invadiu o local 
dos comícios no Capitólio. A plebe não ousou opor-se, abrindo 
passagem. Foi um massacre, no qual Tibério e inúmeros partidários 
foram mortos. 14 
 A lei agrária de Tibério Graco não foi revogada, porém foi seus efeitos foram 
praticamente inócuos devido a ação dos senadores e demais membros da nobreza, que 
procuraram evitar que houvesse grandes alterações no contexto da sociedade romana. Cerca de 
10 anos depois (123 a. C.) Caio Graco, irmão de Tibério, seria eleito tribuno da plebe e 
retornaria com os projetos de radicalizar a reforma agrária. Caio Graco já fazia parte 
anteriormente da comissão do senado que agilizava os projetos de implementação da lei agrária, 
não há indícios historiográficos mais detalhados sobre como ocorreram esses procedimentos, 
porém ocorreram demarcações das terras para a distribuição. Para conseguir obter êxito em suas 
demandas Caio Graco procurou atrair os membros componentes da classe equestre concedendo-
lhes benefícios, como a participação no controle jurídico sobre os recursos destinados as 
províncias. Caio Graco procuraria ser mais atuante para implementar as modificações 
pertinentes a alteração do status quo da propriedade da terra, além disso havia uma preocupação 
com a sobrevivência da plebe, criando medidas que garantissem uma melhor qualidade de vida 
da população, “na qual o Estado distribuía mensalmente trigo a preço fixo e mais baixo que o 
de mercado para os cidadãos romanos” (CORASSIN, 1988: p. 58). 
 Os membros do patriciado voltaram a reagir de forma violenta contra estas novas 
tentativas de implementação da reforma agrária e de outras melhorias para a plebe. Contestando 
as medidas de cunho popular tomadas por Caio Graco, as classes detentoras do poder utilizaram 
a convocação de uma assembleia popular para propor a revogação da criação de uma colônia 
 
14 (Cf. CORASSIN, Maria Luiza. Op., cit., p. 54) 
 
27 
 
em Cartago, considerado um local amaldiçoado pelos romanos, para exacerbar os ânimos dos 
partidários de Caio Graco e iniciar um ataque contra eles. 
Caio e seus partidários retiraram-se para o Aventino, uma das colônias 
de Roma, procurando negociar uma rendição. No dia seguinte o cônsul 
ordenou o ataque. Tentando a fuga e em vias de cair nas mãos de seus 
inimigos, Caio fez-se matar por um seu escravo, Fúlvio Flaco também 
foi morto. Seguiu-se uma violenta repressão, numa onda de prisões, 
processos e exílios. 15 
 A partir desse momento inicia-se um processo de desqualificação dos princípios da 
lei agrária de Tibério Graco, os membros da nobreza conseguiram reverter os benefícios que 
favoreciam a plebe, isto aprofundou ainda mais a desigualdade entre os setores componentes 
da sociedade romana. No início dos acontecimentos relativos a Guerra de Jugurta, com os 
ânimos aflorados por causa dessas divergências, torna-se latente a divisão de interesses da 
classe dirigente da República Romana, estes fatores vão influir diretamente nos rumos dos 
acontecimentos e seriam fundamentais para a compreensão de certas atitudes e fatos ocorridos. 
Em Roma, dois reformadores de uma das principais famílias patrícias, 
os irmãos Graco, tentaram corrigir alguns desequilíbrios da justiçasocial que ameaçavam o estado romano. Eles encontraram intensa 
resistência daqueles que tinham interesses velados e que, de modo 
egoísta e corrupto, exterminaram não só o programa de reformas, mas 
também os dois irmãos. A morte de Tibério Graco em 133 a. C. marcou 
o início da lenta morte da República Romana. 16 
 
 
 
 
 
15 (Cf. CORASSIN, Maria Luiza. Op., cit., p. 72) 
 
16 (Cf. MATYSZAK, Philip. Op., cit., pos. 188/190) 
 
28 
 
Capítulo 2 – A continuação da guerra e as contradições da sociedade romana 
 Neste capítulo será feita uma análise dos desdobramentos ocorridos em Roma após 
o início da guerra contra Jugurta e das contradições existentes entre os membros do Senado em 
relação ao posicionamento sobre o conflito, principalmente ressaltando a questão da corrupção 
e de sua relativa influência nos acontecimentos. Será destacada a indefinição da estratégia a ser 
utilizada pelas tropas enviadas para a Numídia, resultado da incapacidade demonstrada pelos 
comandantes designados para o início da campanha. Em seguida uma descrição sobre a 
mudança no desenrolar dos acontecimentos a partir do momento em que Quinto Cecílio Metelo 
assume o comando, referindo-se ao seu empenho no treinamento das tropas, na eliminação dos 
vícios, do reestabelecimento da disciplina e da resolução dos problemas de logística. Depois 
dos combates iniciais, em que a organização dos romanos vai superar as estratégias e os 
artifícios de Jugurta, a guerra entra em um impasse para a sua definição, pois apesar dos 
revesses os númidas continuavam resistindo, sendo necessário encontrar uma saída para a 
resolução do conflito. 
2.1 – As movimentações em Roma relativas a guerra na Numídia – A corrupção da classe 
política e sua importância no contexto do conflito – As dificuldades para o início efetivo das 
hostilidades contra Jugurta – A trégua e a suposta rendição de Jugurta firmada com Lúcio Béstia 
Calpurnio e suas consequências. 
 A notícia do assassinato de Aderbal ao chegar a Roma provocou alvoroço no 
Senado, onde os partidários de Jugurta tentaram contornar a situação, porém a intervenção do 
tribuno da plebe Caio Memmio, inimigo declarado do patriciado, impediu que discussões 
infindáveis protelassem a retaliação contra Jugurta. Neste momento o relato de Salústio em 
“Guerra de Jugurta” vai exemplificar a profunda divisão de interesses existentes na classe 
política da República, principalmente na questão referente às medidas urgentes que deveriam 
ser adotadas para a condução do conflito armado na Numídia. 
 O Senado designou, segundo a lei Semprônia, a polemica regulamentação da 
propriedade fundiária criada por Tibério Graco, as províncias da Numídia e da Itália para os 
futuros cônsules Publio Cipião Nasica e Lucio Bestia Calpurnio. Cipião ficou com a Itália 
enquanto coube a Calpurnio a Numídia através de sorteio, assumindo assim o comando das 
ações militares contra Jugurta. A partir dessa definição inicia-se o processo de recrutamento do 
exército que irá combater no norte da África e da liberação das verbas necessárias para o 
financiamento dessa empreitada. Mais uma vez Salústio vai destacar a tentativa de Jugurta, 
29 
 
utilizando a disponibilização dos seus recursos materiais, para contornar esta situação 
complicada através da corrupção de membros da classe política senatorial. Seu filho vai a Roma 
com dois acompanhantes na tentativa de solucionar esta questão, porém, devido aos 
acontecimentos anteriores, o Senado decide não receber os enviados por Jugurta, dando um 
prazo de 10 dias para retornarem à Numídia. 
O relato de Salústio não pode ser levado ao pé da letra, Jugurta pode ter 
sido perito em enfiar dinheiro na bolsa dos senadores – era convicção 
nos tribunais romanos de que o fato de ter aceitado propinas em uma 
delegação para a África havia sido o que finalmente obrigara Opímio, 
o assassino de Caio Graco, a se retirar para o exílio. Mas os romanos 
tendiam a usar o suborno como uma escusa prática toda vez que a 
guerra, as eleições ou os vereditos da corte não tinham o desfecho que 
esperavam. Corrupção direta desse tipo era provavelmente menos 
comum do que alegavam.17 
 A relativização da questão referente a corrupção, utilizada por Jugurta para a 
manutenção do controle sobre os políticos de Roma, de acordo com o texto de Salústio, está 
inserida nas relações que os romanos procuravam estabelecer no período republicano para a 
manutenção da dominação de determinadas regiões, sem a efetiva necessidade do controle 
político e da manutenção de tropas no local. A Numídia era um reino independente, porém 
atrelado aos ditames políticos da República Romana desde o final da Segunda Guerra Púnica, 
o surgimento de Jugurta, como fator desestabilizador desta relação, vai demonstrar as 
fragilidades existentes dentro de Roma para que este sistema continue funcionando a contento, 
na medida em que o alargamento territorial aumenta as dificuldades para o efetivo controle por 
parte da classe senatorial e dos cônsules. Esses fatores vão causar uma indefinição por parte 
dos romanos na Numídia, apesar de iniciarem as ações de forma decisiva e contundente contra 
Jugurta. Lucio Bestia Calpurnio organizara seu exército escolhendo como lugar tenentes 
homens nobres e influentes, que seriam teoricamente fundamentais para a manutenção da 
austeridade durante a campanha, devido a uma suposta autoridade moral e caráter integro, 
estando entre eles o já citado senador Marco Emílio Escauro. Calpurnio conduz seus 
comandados da Itália ao Norte da África com determinação, consegue vitórias no campo de 
 
17 (BEARD, Mary. SPQR: Uma história da Roma Antiga. São Paulo, Planeta, 2007. p. 263) 
 
 
30 
 
batalha e faz muitos prisioneiros, “pues nuestro consul estaba adornado de numerosas 
cualidades físicas y morales, pero su avaricia lo echaba todo a perder” (SALÚSTIO, 1971: p. 
94). 
 Mais uma vez entrará em cena no relato do livro “Guerra de Jugurta” a disposição 
dos recursos financeiros aparentemente infindáveis do rei da Numídia, que colocavam em 
cheque a honestidade dos políticos romanos e conseguiam modificar suas intenções. A 
disposição de Jugurta em continuar empregando a corrupção para evitar uma confrontação 
militar contra Roma novamente dá seus resultados, graças à ganância de Calpúrnio ele consegue 
atenuar as dificuldades decorrentes da guerra, este utiliza Escauro como cúmplice e executor 
dos seus projetos, ironicamente a suposta integridade e honestidade dos componentes 
escolhidos para esta campanha militar cai por terra diante da possibilidade de alcançar 
vantagens materiais. “Esta lamentável história no norte da África levantou grandes questões. 
Seria o Senado de fato capaz de conduzir o Império e proteger os interesses de Roma além-
mar? Se não que tipo de capacidade era necessária, e onde poderia ser encontrada? (BEARD, 
2017: p. 262). 
 Jugurta consegue entabular as negociações para uma trégua através da concessão 
das exigências feitas por Calpúrnio, posteriormente será definida sua “rendição”, que na 
realidade, de acordo com o texto de Salústio, é uma grande farsa. A repercussão da forma como 
foi resolvido o conflito não foi positiva em Roma, em todos os locais da cidade a conduta do 
consul Lucio Bestia Calpurnio era discutida. A plebe estava indignada com o acordo firmado 
com Jugurta, havia indecisão no Senado sobre qual decisão tomar em relação ao caso, se seria 
justo julgar a conduta de Calpurnio, que tinha a reputação de Escauro parasalvaguardar sua 
conduta. Porém a postura de Caio Memmio, insuflando a plebe com discursos inflamados 
contra as irregularidades cometidas, colocava a dignidade da República acima dos interesses 
escusos, principalmente acusando a Calpurnio pelos fatos ocorridos. 
A fuerza de repetir estos discursos y outros por el estilo, Memmio 
persuade al Pueblo para que Lucio Casio, a la sazón pretor, sea enviado 
a Jugurta y lo conduzca a Roma bajo la garantía del Estado, a fin de 
descubrir más fácilmente, por sus declaraciones, los delitos de Escauro 
y los demás cómplices, a quienes acusaba de prevacaración. Mientras 
que esto sucede en Roma, los oficiales que Bestia había dejado em 
Numidia con el mando del ejército, siguiendo el ejemplo dado por su 
31 
 
general, cometieron muchos y muy escandalosos excesos. Hubo incluso 
quienes, ganados por el oro, entregaron los elefantes a Jugurta; unos los 
vendíam sus desertores, otros saquaban los pueblos con los que no 
estábamos em guerra: tan grande era la avaricia que, como una 
epidemia, se había apoderado de las almas!18 
 A proposta de Caio Memmio é aprovada pelo Senado, apesar da citada 
“consternação da nobreza” no texto de “Guerra de Jugurta”, o pretor Casio é enviado para 
entrevistar Jugurta. Este presumivelmente estava temeroso das consequências de um 
depoimento perante os representantes do povo romano, devido aos crimes que cometera. Casio 
consegue convence-lo a ir à Roma argumentando que seria melhor experimentar a clemencia 
em vez da cólera do povo romano, já que havia se rendido em seu nome, dando a sua garantia 
pessoal de que nada ocorreria com ele, garantia esta que Jugurta, segundo Salústio, desconfiava 
tanto quanto a do Estado, apesar da cumplicidade de vários membros do Senado em relação aos 
seus interesses e da incompetência já demonstrada para a resolução do problema da Numídia. 
Para Salústio, essa incompetência decorria de seu estreito elitismo e de 
sua recusa em reconhecer talentos fora de um pequeno grupo. A 
exclusão dos plebeus dos cargos políticos fora interrompida havia 
muito tempo, mas duzentos anos mais tarde – assim seguia a discussão 
– a nova aristocracia mista de patrícios e plebeus tinha se tornado 
extremamente exclusiva. As mesmas famílias monopolizavam os mais 
altos cargos e os comandos de maior prestígio, geração após geração, e 
não se inclinava a aceitar a entrada de “novos homens” competentes. O 
Senado era dominado pelo equivalente antigo ao grupinho dos 
veteranos.19 
 Esta presença de Jugurta em Roma demonstra o respeito que os romanos tinham 
pelos preceitos de sua legislação, a inviolabilidade de um indivíduo deveria ser respeitada 
estando ele sob a proteção da autoridade de um magistrado, não havendo a possiblidade de ser 
preso devido a esta imunidade. É um momento complicado politicamente para a República, a 
divisão de interesses entre os componentes do patriciado está cada vez mais explícita neste final 
 
18 (Cf. SALÚSTIO. Op., cit., p. 112 e 114) 
 
19 (Cf. BEARD, Mary. Op., cit., p. 262) 
 
32 
 
do século II a. C., a situação indefinida na Numídia é mais uma demonstração dessa dicotomia. 
Salústio em seu relato procura sempre destacar a existência de um setor corrupto do Senado 
que impossibilitava o andamento correto das ações, o que novamente vai ressaltar em seu texto 
quando Jugurta consegue corromper o tribuno da plebe Caio Bebio para vetar qualquer sanção 
imposta pela cúpula senatorial. 
 Após o discurso de Caio Memmio era a hora de Jugurta responder as acusações, 
porém Caio Bebio, o tribuno da plebe anteriormente citado como corrompido pelo ouro de 
Jugurta, interrompe o interrogatório, manda que ele permaneça em silencio, apesar da irritação 
do povo presente à audiência, que indignado se manifestava contra a intervenção de Bebio. 
Esta interrupção favorável a Jugurta fez com que Bestia e todos os outros envolvidos 
renovassem seus ânimos para escaparem da punição por seus crimes. 
 Fazendo uma pausa para uma reflexão sobre a construção da história da Guerra de 
Jugurta por Caio Salústio Crispo, não podemos nunca deixar de nos ater aos intuitos políticos 
inerentes a este relato. Escrito após o assassinato de Júlio César em 15 de março de 44 a. C., 
procura fazer uma defesa das propostas dos “populares” que almejavam, de acordo com os 
registros historiográficos existentes, uma melhor distribuição das benesses advindas do 
engrandecimento territorial da República Romana com a plebe, em vez de se limitarem ao grupo 
dos “optimae”, composto pela elite do patriciado, as classes senatorial e equestre. É sempre 
bom voltarmos a este tema para termos condições de compreender as motivações inseridas nesta 
obra literária e o papel que Salústio desempenhava nesta conjuntura. “Não é o corpus de análise 
do historiador que determina a estruturação de seu discurso e seu significado, mas antes a 
presença de elementos extra-epistêmicos, sobretudo éticos e estéticos”. (MELLO, 2009: p. 615) 
 Por esta época vivia em Roma exilado, Masiva, filho de Gulusa e neto de 
Massinissa, que havia se refugiado na cidade após a tomada de Cirta e da morte de Aderbal 
devido a fazer parte do partido contrário as pretensões de Jugurta. Espurio Albino havia 
assumido o consulado em companhia de Quinto Minucio Rufo e induziu Masiva de solicitar ao 
Senado a coroa da Numídia, por ser descendente direto de Massinissa, opondo-se a Jugurta, que 
era visto como ódio e temor geral pelos crimes que cometera. 
 Nesta parte do relato de Salústio vemos mais uma vez as ambições pessoais sendo 
o principal elemento propulsor das ações dos personagens, em detrimento dos interesses da 
República e da população de Roma, Espurio Albino desejava uma guerra, que o colocaria numa 
posição de destaque na conjuntura política existente, por isso queria que as coisas se 
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encaminhassem para um novo confronto na Numídia, sendo por sorteio esta província cabendo 
para a sua administração e para Rufo a Macedonia. A partir do momento que as pretensões de 
Masiva foram descobertas por Jugurta, sabendo que seus amigos nada podiam fazer para 
impedi-las por variados motivos, encarrega a Bólmicar, seu amigo mais íntimo e confidente, a 
contratação de indivíduos para executa-lo de maneira bem discreta, mesmo que isso não seja 
possível este assassinato deve ser executado de qualquer maneira. 
Bolmícar cumple inmediatamente las órdenes del rey y por medio de 
sujetos mestros en tales empresas, espía, las idas e venidas de Masiva, 
los lugares que frecuenta y las horas de las salidas; despúes le tiende la 
emboscada en el momento más oportuno. Uno de estos sujetos 
encargados de asesinar a Masiva le ataca demasiado imprudentemente 
y lo apuñala; pero el asesino es detenido y, a instancia de muchas 
personas, sobre todo del consul Albino, descubre el complot con sus 
declaraciones. Es acusado Bolmícar, más en virtude de la justicia y de 
la moral que por el derecho de gentes, pues había venido a Roma 
acompañado a Jugurta y este estaba protegido por el salvoconducto del 
Estado. En cuanto a Jugurta, aunque reo manifesto de tan grave delito, 
no cesó de negarlo insistentemente hasta que comprendió que por 
encima de su crédito y de su oro estaba el odio provocado por este 
hecho. Así pues, aunque al comienzo del proceso había entregado como 
garantía a cincuenta de sus amigos, más preocupado de su corona que 
de los amigos entregados como caución, despacha ocultamente al reo 
para Numidia, ante al temor de que, si Bolmícar era entregado ao 
suplicio em Roma,recelasen de obedecerle los demás vasallos. Él 
mismo le siguió pocos días después, por haber recebido del Senado 
orden de abandonar Italia. Se dice que, ya fuera de Roma, volvió a ella 
muchas veces sus ojos en silencio y que por último exclamó: “¡Ciudad 
venal y que perecería pronto si encontrase un comprador!20 
 Este retorno de Jugurta para a Numídia representará uma mudança na condução das 
operações militares por parte dos romanos, e em breve os seus resultados serão responsáveis 
por um impasse para a solução definitiva dessa guerra. 
 
20 (Cf. SALÚSTIO. Op., cit., pag. 122 e 124) 
34 
 
2.2 – O reinício das hostilidades sobre o comando de Espúrio Albino – A questão eleitoral – 
Decisões errôneas na condução da campanha militar – Problemas ocorridos em Roma devido 
aos acontecimentos na Numídia. 
 As hostilidades são reiniciadas na Numídia sob o comando de Espurio Albino, que 
procurou reorganizar as tropas romanas com o intuito de terminar a guerra o mais rápido 
possível. Jugurta permanecia com seus procedimentos dúbios, ora dando sinais que poderia 
render-se aos romanos, depois partindo para o ataque com o intuito de não desanimar seus 
comandados. Salústio chega a cogitar de uma possível conivência de Albino com Jugurta, 
devido a lentidão das ações militares, porém isto provavelmente era ocasionado pela ingerência 
dos assuntos políticos e não pela traição. Um dos fatores que desviavam as atenções de Albino 
eram a proximidade das eleições em Roma, ele voltou para a cidade por causa das realizações 
dos comícios deixando seu irmão Aulo no comando. A velha preocupação com as eleições para 
as magistraturas, cujo mandatos eram anuais, ocasionavam esta constante atenção dos 
comandantes militares com o que ocorria nos debates públicos em Roma, isto criava problemas 
para a elaboração das estratégias que deveriam ser tomadas para a condução das tropas no 
intuito de vencer a guerra. 
 Porém, enquanto as discussões políticas em Roma atrasavam o início dos comícios, 
na Numídia, Aulo decide tentar a finalização do conflito pela força das armas ou através de um 
acordo de Jugurta, conseguindo extrair dele ainda uma grande soma em dinheiro. Ele coloca 
suas tropas em marcha no mês de janeiro, apesar da inclemência do inverno, cerca a cidade de 
Sutul, onde Jugurta guardava seus tesouros, apesar das dificuldades existentes, no intuito de 
conseguir apossar-se das riquezas existentes. Percebendo a incompetência de Aulo, Jugurta 
procura ganhar tempo e vai tergiversando com os romanos até conseguir se livrar da ameaça. 
Utilizando de seus emissários, Jugurta vai corrompendo centuriões e outros oficiais, 
promovendo uma cisão dentro das tropas romanas. Consegue afastar Aulo de perto de Sutul e 
desfecha um ataque de surpresa contra os romanos, em que a divisão das forças provocadas 
pela corrupção determina a derrota romana. Jugurta impõe suas condições para a rendição a 
Aulo, duras e humilhantes, que são aceitas por não haver outra opção de sobrevivência para os 
romanos, impondo sua saída da Numídia em 10 dias. 
 O texto de Salústio continua realçando a questão da aceitação por parte dos romanos 
do suborno oferecido por Jugurta para contornar as situações conflitantes. A insistência com 
esta temática resulta na construção de uma narrativa repleta de exemplos indignos seguidos 
35 
 
pelos componentes da sociedade romana, especialmente a classe política. De que forma 
podemos estabelecer uma conexão com uma possível retratação da realidade? 
 
A verdade, portanto, pode até ser encontrada nas afirmações factuais, 
nos enunciados, enfim, nas partes dos discursos, já que se torna possível 
a verificação desta por meio de análise das fontes. Contudo, quando se 
trata da narrativa do discurso historiográfico, não há elemento que 
identifique ou estabeleça critério para se dizer qual é e qual não é o 
modo verdadeiro e correto de se organizar narrativamente uma dada 
massa de informações.21 
 
 E mais uma vez vemos no relato de Salústio a perda da credibilidade da classe 
política da República na condução dos negócios públicos, ele afirma que o conhecimento desses 
fatos em Roma causou uma grande consternação entre os cidadãos, que viam a glória das armas 
romanas humilhadas pela inexperiência de Aulo e por sua covardia, devido ao fato de preferir 
um acordo para salvar-se em vez de utilizar os meios militares para honrar o nome da República. 
Temendo as consequências da decisão tomada por seu irmão na Numídia, o consul Albino 
resolve consultar o Senado sobre a validade do tratado enquanto resolve recrutar novas tropas 
e pedir ajuda aos aliados para recomeçar a guerra contra Jugurta. 
 
A derrota romana não se deveu apenas a capacidade superior de Jugurta 
como general. Ele estava em terreno conhecido e as legiões, 
devastadoramente efetivas nas baixas planícies costeiras, tinham 
dificuldades no planalto elevado do interior da Numídia. Nesse local, 
uma mistura de arbustos e terreno acidentado dificulta o movimento. 
Os verões eram quentes e áridos e, na primavera e no inverno, os ventos 
frios sopravam do Mediterrâneo para as montanhas, trazendo chuvas 
que transformavam as poucas estradas em lama e cada leito de riacho 
em uma torrente. Os suprimentos vindos da costa tinham de ser levados 
 
21 (MELLO, Ricardo Marques de. Da utilidade e desvantagem da história para Hayden White. Varia hist. 
[online]. 2009, vol.25, n.42, pp.611-634. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
87752009000200013&script=sci...tlng p. 620) 
 
36 
 
pelas montanhas com densa vegetação de coníferas e sempre vivas e 
que também eram densamente povoadas por bandidos prontos a atacar 
qualquer comboio com pouca guarda.22 
 
 A constatação dessas ocorrências em sequência favoráveis a Jugurta era resultado 
também do seu conhecimento do teatro das operações militares, as legiões romanas eram 
eficientes em terreno plano, porém em áreas irregulares, repletas de declives e elevações, além 
com um clima árido como na Numídia, favoreciam as estratégias e táticas de Jugurta. Além 
disso ele sabia como incentivar suas tropas para manter o moral elevado, especialmente da 
cavalaria, que era a principal arma que os númidas possuíam para superar as legiões. 
 
Nos locais em que o terreno era aberto, os romanos tinham de enfrentar 
a formidável cavalaria de Jugurta. Esses homens haviam sido cavaleiros 
nômades apenas há algumas gerações e se readaptaram facilmente a seu 
ambiente semidesértico. Com armaduras mais leves do que as de seus 
oponentes romanos, tinham mais mobilidade e conheciam o terreno 
muito melhor. Em resumo, Numídia não era um inimigo fácil para a 
força expedicionária romana.23 
 
 Em meio a todo este quadro de desentendimento e confusão existente, o tribuno da 
plebe Caio Mamilio Limetano coloca em votação pública um projeto de lei para uma imediata 
investigação sobre as responsabilidades daqueles que negociaram com Jugurta em detrimento 
do interesse da República. Na descrição feita em “Guerra de Jugurta”, os membros do Senado 
ficaram preocupados com o desenrolar desse processo, ou por temerem as consequências de 
atos desonestos ou pelos rumos que poderia tomar a indignação popular. A aprovação da lei foi 
seguida de agitações e dos caprichos da plebe, que assim como os nobres anteriormente haviam 
agido com insolência, agora havia uma predisposição para a vingança por parte da população.

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