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Cap´ıtulo 7 As equac¸o˜es de Maxwell 7.1 As equac¸o˜es de Maxwell e a propagac¸a˜o de ondas eletromagne´ticas no va´cuo As leis do eletromagnetismo que vimos ate´ aqui foram leis descobertas empiri- camente, no laborato´rio, e em sua forma integral sa˜o dadas por ∮ E · dS = q ²0 lei de Gauss ∮ B · dS = 0 lei de Gauss magne´tica ∮ E · dl = − ∂ ∂t ∫ ∫ B · dS lei de Faraday ∮ B · dl = µ0I lei de Ampe´re Se, por um instante, deixamos de lado a lei de Faraday, veremos que, em situac¸o˜es esta´ticas temos a seguinte imagem: “A fonte dos campos eletrosta´ticos sa˜o distribuic¸o˜es esta´ticas de carga.” 190 “A fonte dos campos magnetosta´ticos sa˜o correntes.” Observe que, na˜o fosse pela lei de Faraday, que introduz uma nova fonte de campo ele´trico (campos magne´ticos dependentes do tempo) ter´ıamos uma teoria para os fenoˆmenos ele´tricos completamente separada e independente daquela refer- ente a fenoˆmenos magne´ticos. A lei de Faraday foi o primeiro passo para unificar a eletricidade e o mag- netismo, uma vez que nos mostra que existe uma outra fonte de campos ele´tricos, ale´m das distribuic¸o˜es de cargas, e que esta´ diretamente relacionada aos campos magne´ticos : - Faraday concluiu que variac¸o˜es do fluxo de campo magne´tico sa˜o capazes de produzir uma forc¸a eletromotriz e portanto, um campo ele´trico. Se pararmos agora um momento para refletir, teremos a sensac¸a˜o estranha de que as equac¸o˜es na˜o esta˜o sime´tricas ! Se um campo magne´tico que varia no tempo e´ capaz de gerar um campo ele´trico, porque sera´ que um campo ele´trico varia´vel no tempo na˜o pode gerar um campo magne´tico? Se fosse assim, ter´ıamos uma simetria nas equac¸o˜es descobertas em laborato´rio para o eletromagnetismo. Haveriam enta˜o duas fontes para o campo ele´trico: distribuic¸o˜es de cargas e campos magne´ticos varia´veis no tempo; e tambe´m duas fontes poss´ıveis para o campo magne´tico: cor- rentes e campos ele´tricos dependentes do tempo. A pergunta fundamental e´: porque esse efeito na˜o foi observado? Logo chegare- mos a` resposta dessa pergunta. Antes disso, vamos ver como foi que Maxwell chegou a essa mesma ide´ia sem usar experimento algum, apenas estudando o conjunto de equac¸o˜es que ele tinha dispon´ıveis. Vamos, antes de mais nada, escrever as equac¸o˜es de Maxwell em forma difer- encial, sabemos que ∮ E · dS = ∫ ∇ · EdV (pelo teorema da divergeˆncia) e ∮ E · dl = ∫ ∫ (∇× E) · dS (pelo teorema de Stokes). Usando esses teoremas em todas as equac¸o˜es teremos 191 ∮ E · dS = ∫ ∇ · EdV = ∫ ρ ²0 dV Que implica em ∇ · E = ρ ²0 lei de Gauss da eletricidade E tambe´m teremos ∮ B · dS = 0 Que implica em ∇ ·B = 0 lei de Gauss do magnetismo Assim como, usando Stokes ∮ E · dl = − ∂ ∂t ∫ ∫ B · dS −→ ∫ (∇× E) · dS = − ∂ ∂t ∫ ∫ B · dS De onde ∇× E = −∂B ∂t lei de Faraday E, finalmente ∮ B · dl = µ0I −→ ∫ ∫ (∇×B) · dS = µ0 ∫ j · dS Que nos fornece ∇×B = µ0j lei de Ampe´re Agora, ao inve´s de pensarmos em coisas muito abstratas, como a simetria das equac¸o˜es, vamos considerar algo bem concreto e que sabemos ser verdade desde os 192 primo´rdios de qualquer teoria: a carga e´ conservada. O que quer dizer que a carga e´ conservada, matematicamente? Existem, na realidade, duas maneiras completamente distintas de implementar a conservac¸a˜o da carga: a) A lei de conservac¸a˜o de cargas e´ GLOBAL. Isto quer dizer que se uma quantidade de carga desaparece de um lugar e aparece num lugar arbitrariamente distante, a carga estara´, neste sentido, conservada. b) A lei de conservac¸a˜o de cargas e´ LOCAL. Se a lei de conservac¸a˜o e´ local, ela deve obedecer uma equac¸a˜o de continuidade. Por que? Ora, imagine um volume qualquer arbitra´rio contendo uma densidade volume´trica de cargas ρ. Figura 7.1: fluxo de carga para fora da superf´ıcie A lei de conservac¸a˜o LOCAL de cargas nos diz que a carga na˜o desaparece instantaneamente de um volume para aparecer em outro volume arbitrariamente distante, mas que a densidade de carga por unidade de volume que desaparece, na˜o desaparece “de qualquer jeito”. Ela e´ obrigada a atravessar a superf´ıcie que engloba o volume considerado. Se a densidade de carga desaparece de um volume arbitra´rio, ela o faz atravessando as fronteiras desse volume, como uma densidade superficial de corrente. Matematicamente, a lei de conservac¸a˜o local de qualquer quantidade (seja massa, carga, energia eletromagne´tica, probabilidade, etc...) se exprime atrave´s da equac¸a˜o de continuidade 193 ∂ρ ∂t = −∇ · j Onde j e´ a densidade de corrente espec´ıfica de cada caso. Embora a forma de j varie de caso para caso na F´ısica, a equac¸a˜o da continuidade e´ uma caracter´ıstica geral da maior parte das leis de conservac¸a˜o em F´ısica. Como a conservac¸a˜o da carga pode ser deduzida das equac¸o˜es que temos? ∇ · E = ρ ²0 ∇ ·B = 0 ∇× E = −∂B ∂t ∇×B = µ0j Podemos, por exemplo, calcular o divergente da u´ltima equac¸a˜o, onde aparece explicitamente a densidade de corrente. Isto da´ ∇ · (∇×B) = µ0∇ · j Mas, do ca´lculo vetorial sabemos que o divergente do rotacional de qualquer campo e´ nulo (verifique!). Portanto, Maxwell se encontrou frente a` um dilema ∇ · j = 0 Ou a equac¸a˜o de Ampe`re estava incompleta, ou a conservac¸a˜o local de cargas na˜o esta´ contida nas equac¸o˜es do eletromagnetismo!! E´ claro que ele optou pela segunda hipo´tese e descobriu uma maneira de compensar esse efeito. Imagine que a` equac¸a˜o de Ampe`re adicionemos um termo que depende da variac¸a˜o temporal do campo ele´trico +µ0²0 ∂E ∂t Neste caso o divergente da equac¸a˜o de Ampe`re modificada daria 194 ∇ · (∇×B) = µ0∇ · j+ µ0²0∂(∇ · E) ∂t O termo do lado esquerdo da equac¸a˜o e´ nulo e do lado direito vemos que o u´ltimo termo e´ µ0²0 ∂(∇ · E) ∂t Ora, da lei de Coulomb (Gauss), sabemos que ∇ · E = ρ ²0 Inserindo enta˜o, na expressa˜o anterior temos µ0²0 ∂(∇ · E) ∂t = µ0 ²0 ²0 ∂ρ ∂t E a equac¸a˜o de Ampe`re modificada nos daria 0 = µ0∇ · j+ µ0 ²0 ²0 ∂ρ ∂t Que implica ∂ρ ∂t = −∇ · j Enta˜o compatibilizando as equac¸o˜es do eletromagnetismo com a equac¸a˜o de conservac¸a˜o local das cargas. Com isso, a equac¸a˜o de Ampe`re se transforma na chamada equac¸a˜o de Ampe`re-Maxwell, escrita como ∇×B = µ0j+ µ0²0∂E ∂t equaca˜o de Ampe´re−Maxwell Isto na˜o so´ conserta as equac¸o˜es com relac¸a˜o a respeitar a conservac¸a˜o local de cargas como tambe´m proveˆ a simetria da qual esta´vamos sentindo falta: agora vemos que existem duas fontes de campo eletromagne´tico - as correntes e a variac¸a˜o temporal do campo ele´trico. Agora uma pergunta pra´tica se coloca: porque Ampe`re na˜o viu esse termo ao fazer suas experieˆncias em laborato´rio? A resposta e´ que, a presenc¸a de correntes domina a gerac¸a˜o do campo magne´tico. O segundo termo, batizado de corrente de deslocamento de Maxwell e´ quantitativamente muito menor 195 jD = ²0 ∂E ∂t Por isso, na˜o foi percebido por Ampe`re. Podemos no entanto, perceber seu efeito em situac¸o˜es onde na˜o hajam correntes estaciona´rias como as que veremos nos exemplos que seguem. Exerc´ıcios: Exerc´ıcio 1) Considere um capacitor plano paralelo formado por placas cir- culares de raio R separados por uma distaˆncia L, como mostra a figura abaixo. A placa direita do capacitor e´ a placa positiva e ele esta´ sendo carregado por cargas transportadas por uma corrente i. Considere que, durante o carregamento a carga se distribua uniformemente sobre as superf´ıcies das placas do capacitor. Figura 7.2: Capacitor plano de placas circulares a) Considerando a superf´ıciecircular plana S1 de contorno C e raio ρ, ache a corrente de deslocamento atrave´s dessa superf´ıcie e o campo magne´tico na curva ampereana. Para determinar a corrente de deslocamento atrave´s da superf´ıcie, precisamos do campo ele´trico dentro do capacitor, que pode ser obtido da seguinte forma 196 E = σ ²0 n De modo que ∂E ∂t = 1 ²0 ∂σ ∂t n Assim, a corrente de deslocamento fica iD = ²0 ∫ ∂E ∂t · ndS = ²0 ∫ S1 1 ²0 ∂ρ ∂t n · ndS Ou ainda iD = dσ dt ∫ S1 dS = piρ2 dσ dt Utilizando agora a lei de Ampe`re modificada (ou lei de Ampe`re-Maxwell) ∮ B · dl = µ0 ∫ j · ndS + µ0²0 ∮ ∂E ∂t · ndS Lembrando que na˜o ha´ nenhuma corrente real atravessando a superf´ıcie S1, de modo que j = 0 e a primeira integral e´ nula. Obtemos, portanto ∮ B · dl = µ0iD Como B = Bθˆ e dl = ρdθθˆ, temos ∫ 2pi 0 Bdθˆ · ρdθθˆ = µ0piρ2dσ dt Ou ainda Bρ ∫ 2pi 0 dθ = µ0piρ 2dσ dt De modo que B = µ0ρ 2 dσ dt , ou vetorialmente B = µ0ρ 2 dσ dt θˆ 197 Figura 7.3: Placa imersa em campo ele´trico 1)Uma a´rea A = 0, 020m2 esta´ no plano xy e completamente inverso num campo el/’etrico E na direc¸a˜o z. E varia sinusoidalmente com o tempo com um per´ıodo T = 4, 0µs e |E| = 800× 103N/C E = Em cos (ωt)z a) Ache uma expressa˜o para a corrente de deslocamento iD = ²0 ∫ ∂E ∂t · dS = ²0Em(−ω) sin (ωt)A = −²0EmA2pi T sin (ωt) iD = −(0, 220A) sin 1, 5708× 106s−1t = 220mA sin 1, 6× 10−6s−1t b) t ≥ 0 em que instantes do tempo iD = 0? 1, 5708× 106 = npi n = 0, 1, 2, , ... t = npi 1, 5708× 106s−1 = 0µs, 2µs, 4µs, , ... Exerc´ıcio 3) Um capacitor de placas paralelas e´ constitui´ıdo por duas placas circulares de raio R, muito pro´ximas. Uma corrente de 2, 5A esta´ entrando em uma 198 Figura 7.4: Capacitor de placas paralelas das placas e saindo da outra. Calcule a corrente de deslocamento na regia˜o entre as placas ID = ²0 dΦE dt (Placas muito pro´ximas implica que o campo e´ uniforme e que e´ nulo fora do capacitor.) ΦE = EA ID = ²0 dΦE dt ΦE = EA = σA ²0 = Q ²0 −→ ID = ²0 ²0 dQ dt = ²0A dQ dt(²0) = 2, 5A 3) Mesmo caso do problema anterior, mas aqui R = 3, 0cm. Determine o campo magne´tico e r = 2, 0cm se a corrente ρ entre as placas e´ 2, 5A. ∮ B · dl = µ0I + ²0µ0ID B · 2pir = 0 + µ02, 5A r 2 R2 199 B = µ0 2pi 2, 5 r R2 = 2× 10−2Tm/A 0, 02 (0, 03)2 × 2, 5A = 1, 11× 10−5T Menor que o campo magne´tico da Terra. 7.2 A equac¸a˜o de onda Para deduzir a equac¸a˜o de onda, devemos utilizar o conjunto completo e cor- reto das equac¸o˜es de Maxwell. As equac¸o˜es na forma diferencial sa˜o mais adequadas para essa deduc¸a˜o. Nosso ponto de partida e´, enta˜o ∇ · E = ρ ²0 , ∇× E = −∂B ∂t ∇ ·B = 0 , ∇×B = µ0j+ µ0²0∂E ∂t No va´cuo ∇ · E = 0 , ∇× E = −∂B ∂t ∇ ·B = 0 , ∇×B = µ0²0∂E ∂t Para deduzir a equac¸a˜o de onda, precisaremos usar uma identidade vetorial, como segue ∇× (∇×A) = −∇2A+∇(∇ ·A) Uma vez de posse dessa identidade, podemos calcular o rotacional da terceira ou da quarta equac¸a˜o. Vamos trabalhar com o rotacional da quarta equac¸a˜o e deixar o da terceira como exerc´ıcio ∇× (∇×B) = µ0²0 ∂ ∂t (∇× E) 200 −∇2B+∇(∇ ·B) = µ0²0 ∂ ∂t (∇× E) Pela segunda das equac¸o˜es de Maxwell temos ∇·B = 0 e pela terceira ∇×E = −∂B ∂t Assim temos a equac¸a˜o de onda para o campo magne´tico ∇2B− µ0²0∂ 2B ∂t2 = 0 Da mesma forma podemos deduzir uma equac¸a˜o de onda para o campo ele´trico e ficamos com ∇2B− 1 c2 ∂2B ∂t2 = 0 ∇2E− 1 c2 ∂2E ∂t2 = 0 Aparentemente, essas equac¸o˜es esta˜o desacopladas, o que implica imediata- mente que a propagac¸a˜o espac¸o-temporal dos dois campos sa˜o independentes. A raza˜o disto e´ que obedecer as equac¸o˜es de onda acima na˜o necessariamente quer dizer que as soluc¸o˜es obedecem tambe´m a`s equac¸o˜es de Maxwell. Vamos ver como isso funciona. A soluc¸a˜o geral de uma equac¸a˜o de onda da forma acima e´ B(r, t) = Re(B0e i(k·r−ωt)) E(r, t) = Re(E0e i(k·r−ωt)) Onde a relac¸a˜o entre k e ω deve ser determinada por substituic¸a˜o na equac¸a˜o de onda. Dica matema´tica importante: Verifique que ∇× E = k× E ∇×B = k×B e 201 ∇ · E = k · E ∇ ·B = k ·B Se substituirmos as soluc¸o˜es gerais para E(r, t) e B(r, t) nas equac¸o˜es de Maxwell no va´cuo, obteremos k · E = 0 k ·B = 0 k× E = +ωB k×B = −ω c E Das duas primeiras equac¸o˜es vemos que tanto E como B devem ser perpen- diculares a` direc¸a˜o de propagac¸a˜o da onda k. A terceira (e quarta) equac¸o˜es nos dizem que E (B) devem ser perpendicular a k e a B (E). Devemos ter enta˜o, na propagac¸a˜o de uma onda eletromagne´tica Figura 7.5: Direc¸o˜es numa onda eletromagne´tica Esses treˆs vetores devem ser perpendiculares entre si e isso e´ exigeˆncia das equac¸o˜es de Maxwell, nada tendo a ver com a equac¸a˜o de onda. Esta exige uma relac¸a˜o entre k, ω e c. Substituindo as soluc¸o˜es obtidas para a equac¸a˜o de onda nas mesmas obtemos k2 = ω2 c2 −→ k = ω c −→ 2pi λ = 2pif c 202 c = λf Uma expressa˜o muito conhecida de todos (decorada). Vemos assim que a gerac¸a˜o de uma onda ele´trica implica necessariamente na gerac¸a˜o de uma onda magne´tica e na˜o se pode separar as duas. E´ o Eletromag- netismo. Vamos ver como gerar uma onda eletromagne´tica e a importaˆncia da con- tribuic¸a˜o do termo novo introduzido por Maxwell, fundamental para isso: 7.2.1 Produc¸a˜o de ondas eletromagne´ticas por uma antena As ondas eletromagne´ticas sa˜o geradas em consequeˆncia de dois efeitos: (1) Um campo magne´tico varia´vel que produz um campo ele´trico. (2) Um campo ele´trico varia´vel que produz um campo magne´tico. Portanto, e´ claro que nem cargas estaciona´rias, nem correntes constantes po- dem gerar ondas eletromagne´ticas. Sempre que uma corrente num condutor se altera no tempo, o condutor emite radiac¸a˜o eletromagne´tica. “O mecanismo fundamental responsa´vel por essa irradiac¸a˜o e´ a acelerac¸a˜o de part´ıculas carregadas. Sempre que sofre uma acelerac¸a˜o, uma part´ıcula carregada irradia energia.” Uma voltagem alternada aplicada nos condutores de uma antena obriga as cargas na antena a oscilarem. Essa e´ uma te´cnica comum para acelerar part´ıculas carregadas e e´ a fonte de ra´dio emitida pelas antenas das estac¸o˜es radioemissoras. A figura abaixo ilustra a produc¸a˜o de uma onda eletromagne´tica pelas cargas ele´tricas oscilantes de uma antena. 203 Figura 7.6: Campo ele´trico numa antena Duas hastes meta´licas esta˜o ligadas a um gerador de corrente alternada, o que provoca oscilac¸a˜o das cargas entre as duas hastes. A voltagem de sa´ıda do gerador e´ senoidal. Em t = 0 a haste de cima tem uma carga positiva ma´xima e a haste de baixo uma carga igual, pore´m negativa, como mostra a parte a) da figura. O campo ele´trico nas vizinhanc¸as da antena, neste instante tambe´m aparece nesta figura. Quando a carga oscila, as hastes ficam menos carregadas, o campo ele´trico nas vizinhanc¸as das hastes diminui de intensidade e o campo ele´trico ma´ximo, gerado no instante t = 0 se afasta das hastes. Quando as cargas se neutralizam, como na parte seguinte da figura (b), o campo ele´trico cai a zero. Isto ocorre per´ıodo igual a 1/4 do per´ıodo de oscilac¸a˜o. Continuando dessa maneira, a haste de cima logo fica com uma carga negativa ma´xima e a de baixo fica positiva como na figura seguinte (c) provocando um campo ele´trico dirigido para cima. Isto ocorre num instante igual a` metade do tempo de oscilac¸a˜o. As oscilac¸o˜es continuam como na parte seguinte da figura (d). Ha´ tambe´m um campo magne´tico que oscila perpendicularmenteao plano da firgura acima, que acompanha o campo ele´trico, mas que omitimos em benef´ıcio da clareza. O campo ele´trico nas vizinhanc¸as da antena oscila em fase 204 com a distribuic¸a˜o de cargas. Isto quer dizer que o campo esta´ dirigido para baixo quando a haste de cima for positiva para baixo quando a haste de cima for negativa. Ale´m disso, o mo´dulo do campo, em qualquer instante, depende da quantidade de carga nas hastes neste instante. A` medida que as cargas continuam a oscilar (e a serem aceleradas entre as hastes) o campo ele´trico se afasta da antena a` velocidade da luz. Esta figura mostra a configurac¸a˜o do campo ele´trico em diversos instantes durante o ciclo de oscilac¸a˜o. Agora consideremos o que acontece quando duas hastes condutoras sa˜o ligadas aos terminais de uma bateria como mostra a figura seguinte. Figura 7.7: Par de barras meta´licas ligadas numa bateria Antes da chave ser fechada, a corrente e´ nula e enta˜o na˜o existem campos (figura). Logo depois da chave ser fechada, cargas de sinais opostos principiam a se acumular nas hastes (parte seguinte da figura), o que corresponde a uma corrente varia´vel no tempo I(t). As cargas varia´veis provocam um campo ele´trico varia´vel que, por sua vez, provoca um campo magne´tico envolvendo as hastes. Finalmente, quando as hastes estiverem plenamente carregadas, a corrente e´ nula e na˜o havera´ campo magne´tico (parte c da figura). 205 7.3 Exerc´ıcios Uma onda eletromagne´tica plana senoidal tem frequeˆncia de 40Mhz e se propaga no va´cuo na direc¸a˜o do eixo dos x, como mostra a figura. Figura 7.8: Segmento de fio condutor Em certo ponto e num certo instante o mo´dulo do campo ele´trico |E| tem o valor ma´ximo de 750N/C e tem a orientac¸a˜o do eixo dos y. a) Determine o comprimento de onda e o per´ıodo da onda; b) Calcular o mo´dulo e direc¸a˜o do campo magne´tico B quando E = 750N/C ˆ; c) Escrever as expresso˜es da variac¸a˜o no espac¸o e no tempo dos campos ele´trico e magne´tico componentes dessa onda plana. Neste tipo de problema, as duas coisas importantes para se ter em mente sa˜o: 1) No va´cuo tanto o campo ele´trico como o campo magne´tico obedecem a` seguinte equac¸a˜o de onda 206 ∇2B− 1 c2 ∂2B ∂t2 = 0 ∇2E− 1 c2 ∂2E ∂t2 = 0 Cujas soluc¸o˜es sa˜o B(r, t) = Re(B0e i(k·r−ωt)) E(r, t) = Re(E0ei(k·r−ωt)) Essas soluc¸o˜es sa˜o soluc¸o˜es da equac¸a˜o de onda SE E SO´ SE: k = ω c Enta˜o, embora aparentemente independentes, e com k e ω arbitra´rios, isso NA˜O E´ ASSIM. A EQUAC¸A˜O DE ONDA FIXA A RELAC¸A˜O ENTRE k E ω 2) Ale´m da relac¸a˜o acima, tenha sempre em mente que a soluc¸a˜o da equac¸a˜o de onda NA˜O NECESSARIAMENTE e´ soluc¸a˜o das equac¸o˜es de Maxwell. Enta˜o, dada uma equac¸a˜o de onda plana e´ necessaa´rio verificar se as equac¸o˜es de Maxwell esta˜o satisfeitas, i.e; se ∇ · E = 0 , ∇× E = −∂B ∂t ∇ ·B = 0 , ∇×B = µ0²0∂E ∂t Vamos agora a` soluc¸a˜o do presente problema a) Da equac¸a˜o de onda sabemos que k = ω c −→ 2pi λ = 2pif c −→ c = λf Sabemos que f = 40Mhz = 4× 107s−1 e enta˜o λ = c f = 3× 108m/s 4× 107s−1 = 7, 50m 207 O per´ıodo e´ o inverso da frequeˆncia T = 1 f = 1 4×107s−1 = 2, 5× 10−8s b) Queremos relacionar Em e Bm. Enta˜o devemos usar uma das duas equac¸o˜es de Maxwell que contenha ambos os campos. Por exemplo ∇× E = −∂B ∂t k× E = +ωB Portanto, em mo´dulo (uma vez que os treˆs vetores que a´ı aparecem sa˜o per- pendiculares) B = k ω E = E c c) E = Em cos (kx− ωt) = 750N C cos (kx− ωt) B = Bm cos (kx− ωt) = 2, 5× 10−6 cos (kx− ωt) ω = 2pif = 8pi × 107rad/s k = 2pi λ = 2pi 7, 5m = 0, 838m−1 Exemplo 4) Uma antena constitu´ıda por uma u´nica espira de raio 10cm e´ us- ada para detectar uma onda eletromagne´tica de intensidade tal que Em = 0, 15V/m. Determine o valor da tensa˜o induzida se a frequeˆncia de onda for a) 600 kHz b) 600 MHz Tensa˜o induzida−→ relacionada a` taxa de variac¸a˜o do fluxo de campo magne´tico pela Lei de Faraday. |E| = dΦm dt = pir2 dB dt |E| = pir2(−ωBx) cos kx− ωt 208 Figura 7.9: Antena constitu´ıda por uma espira dB dt |max = ωBmax = ωEmax c dB dt |max = 2pif c Emax |E| = pir2(dB dt ) = pir2 2pif c Emax = pi(0, 1) 22pi(0, 15V/m)(3×108m/s) = 5, 92×10−5V No outro caso, E = 0, 0592V , mil vezes maior. Exerc´ıcio 4) O vetor campo ele´trico de uma onda eletromagne´tica e´ dado por E(x, t) = E0 sin (kx− ωt)ˆ+ E0 cos (kx− ωt)kˆ B(x, t) =? Calcule E ·B e E×B: ∇ · E = 0 −→ k · ıˆ −→ ok! ∇ ·B = 0 −→ na˜o da´ nada! ∇× E = ∂B ∂t −→ ∂Bz ∂t = −∂Ey ∂x 209 −→ − ∂ ∂x [E0 sin (kx− ωt)] = −kE0 cos (kx− ωt) −→ Bz = −kE0 sin (kx− ωt)(−1/ω) = −E0/c sin (kx− ωt) B = E0 c sin (kx− ωt)kˆ = E0 c cos (kx− ωt)ˆ E ·B = 0 e E×B = E0B0ıˆ (A fazer.Tem a ver com a propagac¸a˜o da energia do campo eletromagne´tico.) 5) Quais dos seguintes pares de campo podem corresponder a uma onda eletro- magne´tica? a) E = Em sin 2pi λ (x− ct) e B = Em c sin 2pi λ (x− ct) b) E = cBm sin ( 2pi λ x− 2pi T t) e B = Bm sin ( 2pi λ x− 2pi T t) c) E = Em sinω( x c − t) e B = √µ0²0Em sinω(xc − t) d) E = Bm√ µ0²0 sin 2pi(x λ − ft) e E = Bm sin 2pi(xλ − ft) Exerc´ıcio 6) Bx = (400µT ) sin (ky − 2× 1015s−1)t. Qual a direc¸a˜o na qual se propaga a onda? Esta´ polarizada em que eixo? 7) Onda plana eletromagne´tica λ = 200nm no va´cuo com a direc¸a˜o de propagac¸a˜o x positivo. O campo magne´tico ma´ximo e´ 50µT polarizado segundo z. a) f , ω e k. Que parte do expectro esta´ envolvido? f = c λ = 3× 108 200× 10−9 = 1, 50× 10 15Hz ω = 2pif = 9, 42× 1015rad/s 210 k = 2pi λ = 3, 14× 107m−1 Exerc´ıcio 8) Dado o campo ele´trico E(r, t) = −1 (4pi²0r2) qθ(vt− r)r B(r, t) = 0 Mostre que estes campos satisfazem todas as equac¸o˜es de Maxwell e determine ρ e j. Descreva a situac¸a˜o f´ısica que da´ origem a esses campos. Para demonstrar que esses campos satisfazem a`s equac¸o˜es de Maxwell use o rotacional e gradiente em coordenadas esfe´ricas. Deixamos esta parte do exerc´ıcio para voceˆ. Mais interessante e´ determinar ρ e j. Sabemos que ∇ · E = ρ −→ ( ∂ ∂r r2rˆ ) Erˆ = ρ −→ 1 (4pi²0) q ∂ ∂r θ(vt− r) = ρ ρ = 1 (4pi²0) qδ(vt− r) Enta˜o a densidade de carga que determina esse campo ele´trico e´ uma carga puntiforme viajando com velocidade constante. E a densidade de corrente? Tomemos a lei de Ampe`re-Maxwell: ∇×B = µ0j+ µ0²0∂E ∂t 0 = µ0j+ µ0²0 ∂E ∂t −→ j = −²0∂E ∂t 211 j = +²0 ( 1 (4pi²0) q ∂ ∂t θ(vt− r) ) = qv 4pi δ(vt− r) E´ uma densidade de corrente qv que se move tambe´m com velocidade constante v. 212
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