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História das Ideias Políticas e Econômicas.

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Núcleo de Educação a Distância
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
HISTÓRIA DAS 
IDEIAS
POLÍTICAS E
ECONÔMICAS
SEMESTRE 6
Créditos e Copyright	
SILVA, Emiliana Andréo da.
História das Ideias Políticas e Econômicas. Revisado por Clara Versiani dos Anjos Prado. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2016. 102 p. (Material didático. Curso de História).
 
Modo de acesso: www.unimes.br
1. Ensino a distância. 2. História. 3. História das Ideias Políticas e Econômicas
CDD 900
	
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO
CURSO: Licenciatura em História
COMPONENTE CURRICULAR: História das Ideias Políticas e Econômicas
ANO/SEMESTRE: 6º.
CARGA HORÁRIA: 40 horas
   
EMENTA 
Introdução às ideias relacionadas à política e à constituição, organização, distribuição e legitimidade do poder e da autoridade no ocidente a partir dos  autores clássicos da modernidade como Maquiavel, Hobbes e  Locke; estudo de movimentos intelectuais e fenômenos políticos resultantes das transformações das mentalidades como o Iluminismo e o Despotismo Esclarecido. Aprofundamento da compreensão sobre os princípios do pensamento Iluminista e das bases da formação política contemporânea a partir do estudo do pensamento de Montesquieu, Rousseau e Kant. Estudo das ideais e teorias econômicas constituintes dos modelos econômicos surgidos na modernidade ocidental a partir dos fundadores do pensamento liberal, como Adam Smith, e dos fisiocratas com destaque para a caracterização dos fundamentos em Quesnay. Estudo dos princípios políticos e econômicos das ideais que inspiraram os movimentos revolucionários de esquerda nos séculos XIX e XX a partir da análise e interpretação das ideais de Marx e do estudo dos movimentos socialista e anarquista. Reflexão sobre  as ideais e teorias estudadas na relação com  o contexto brasileiro pós-independência, a partir do Período Regencial até a Ditadura Militar.
   
OBJETIVO GERAL
Preparar os alunos para compreender o processo histórico de transformação das sociedades humanas na perspectiva da longa duração e para a construção autônoma do conhecimento histórico.
   
OBJETIVOS ESPECÍFICOS  
UNIDADE I - Ideias políticas e econômicas
Objetivo:
Estudar as ideias políticas e econômicas, destacando suas principais ideias e o momento histórico em que foram apresentadas.
  
UNIDADE II: Pensamento político liberal e conservador
Objetivo:
Analisar os pensadores políticos e econômicos e suas principais obras e ideias. Destacar o momento histórico que eles estavam inseridos.
  
UNIDADE III: Ideias políticas no Brasil
Objetivo 
Estudar os principais acontecimentos políticos no Brasil desde o primeiro reinado, pondo em destaque as forças políticas e suas ideias presentes nestes acontecimentos.
  
UNIDADE IV: Ideias econômicas no Brasil
Objetivo:
Refletir sobre os acontecimentos econômicos ocorridos no Brasil desde o primeiro reinado, destacando as ideias presentes nesses acontecimentos.
  
Bibliografia Básica
BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de política, v1 e v2. Brasília: UNB, 2007.
CHATELET, François. História das ideias políticas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
WEFFORT, Francisco C. Os clássicos da política, v. 1 e v. 2. São Paulo: Ática, 2006.
  
Bibliografia Complementar
FALCON, Francisco José C. Iluminismo. São Paulo: Ética, 2009.
HEIWOOD, Andrew. Ideologias Políticas- Do liberalismo ao fascismo. São Paulo: Ática , 2010
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Penguin Classics / Cia das Letras, 2010
SANTIAGO, Theo (org.). Do feudalismo ao capitalismo. 11. Ed.  São Paulo: Contexto, 2015 ( col. Textos e Documentos, v. 2.)
WEFFORT, Francisco C. Formação do Pensamento Político Brasileiro – Idéias e Personagens.   São Paulo: Ática, 2006.
  
METODOLOGIA
As aulas serão desenvolvidas por meio de recursos como: videoaulas, fóruns, atividades individuais, atividades em grupo. O desenvolvimento do conteúdo programático se dará por leitura de textos, indicação e exploração de sites, atividades individuais, colaborativas e reflexivas entre os alunos e os professores.
 AVALIAÇÃO
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações à distância e Presencial, de acordo com a Portaria da Reitoria UNIMES 04/2014.
	
Aula 01_O Iluminismo
  
Nesta aula estudaremos o iluminismo, suas ideias políticas e econômicas, sua origem, suas principais características, seus seguidores, bem como a importância que desempenhou nas mudanças desencadeadas a partir do século XVIII. 
Em poucas palavras, o iluminismo pode ser definido como uma ideologia burguesa que criticava o antigo regime e o absolutismo. Os pensadores iluministas mais conhecidos são Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Locke, Diderot e D’Alembert. 
O iluminismo esteve intimamente ligado ao enciclopedismo, um movimento de ideias surgido em torno da obra Enciclopédia, publicada na França, no século XVIII. Essa obra, sendo anterior ao iluminismo, registrava aqueles que são considerados seus princípios fundamentais. 
Entretanto, devemos considerar que não é simples definir ou caracterizar, de modo sintético, um movimento de ideias. Tal definição e caracterização são feitas a posteriori, considerando um grupo de pensadores que, apesar de algumas concordâncias, divergem em muitos pontos ou apresentam determinadas peculiaridades. 
Em termos gerais, um traço importante do Iluminismo é o primado da razão a partir do qual foi construída a ideia de progresso, de civilização e cultura e toda a gama de pensamentos envolvendo os diferentes aspectos da vida social. 
Na economia, a vertente do liberalismo defendia a igualdade de comércio; na política, a igualdade jurídica – baseado no princípio de que todos são iguais perante a lei, descartando os privilégios baseados no nascimento e na família, característicos do Antigo Regime. 
A tolerância religiosa e filosófica também era defendida pelo iluminismo, além da liberdade pessoal e social, destacando, aqui, a lei da oferta e da procura e a extinção da escravidão. A defesa da propriedade privada era outro objetivo dos iluministas. 
Assim, para defender tudo isso, o iluminismo combatia a situação em que se encontravam os países europeus naquele momento – a maior parte deles era governada por monarquias absolutistas. Por isso, o principal alvo de suas críticas era o o absolutismo monárquico, a proteção dada à nobreza e seus privilégios, a não participação da burguesia nas decisões políticas, o mercantilismo, a intervenção do Estado na economia e o poder da igreja. Neste momento há um choque entre a igreja e os pensadores iluministas, pois os primeiros acreditavam na verdade revelada pela fé e os últimos defendiam a autonomia intelectual. 
A ideologia do iluminismo consistia no racionalismo, sendo a razão o único meio válido para o conhecimento humano. Sendo assim, a maioria dos filósofos iluministas era deísta, ou seja, acreditavam em Deus como força infinita. Alguns também eram materialistas e ateus e acreditavam que todos os fenômenos se explicavam por meio da matéria. 
Para os iluministas, a sociedade ideal seria aquela em que os homens seriam felizes e o respeito aos direitos humanos  fossem postos em prática integralmente. Assim, cabia ao governo garantir os direitos dos homens, as liberdades econômicas, comerciais e industriais. Deveria haver uma tolerância religiosa, liberdade de expressão e igualdade dos homens perante a lei. 
Leia a seguir algumas considerações sobre o pensamento de Voltaire, um dos mais conhecidos pensadores iluministas da França do século XVIII: 
 
Assim, Voltaire definiaas virtudes que seriam próprias de um bom governante em função do auxílio que elas poderiam prestar à eficácia e à força de suas ações. Dentre tais virtudes, as principais seriam a justiça, a prodigalidade, a magnificência, a operosidade, a sabedoria e a tolerância, enquanto entre os vícios condenáveis na personalidade do rei estariam a irascibilidade, a imprudência, o esbanjamento e a covardia. Graças à elaboração dessa “ética aos monarcas”, Voltaire tornou-se “um autêntico pedagogo político” (LOPES, 2004: 60), cuja meta era esclarecer a realeza para que ela agisse com excelência na qualidade de verdadeira agente da civilização.1
 
Considerando os discursos políticos, os estudos acadêmicos e as conversas entre as pessoas comuns, qual ou quais seriam as ideias presentes na nossa sociedade sobre um bom governante? Você vê nelas a permanência de ideias iluministas? 
  
____  
1 MOSCATELI, Renato. Voltaire político: espelhos para príncipes de um novo tempo. Revista Espaço Acadêmico. Nº 47, abril, 2005. Disponível em:http://www.espacoacademico. com.br/047/47res_moscateli.htm
Aula 02_Os pensadores modernos
   
Nesta aula apresentaremos os precursores do iluminismo. Estes pensadores modernos são importantes, porque foram a fonte da qual os seus contemporâneos retiraram as ideias para a consolidação do iluminismo. 
O pensador que destacamos, em primeiro lugar, é René Descartes (1596-1650), físico e matemático criador da geometria analítica. Foi o fundador da filosofia moderna. Uma de suas propostas foi a criação de um novo método científico para explicar e produzir o conhecimento sobre o mundo. Ele concebeu o racionalismo como teoria do conhecimento. Dizia que a verdade se encontra na razão e a filosofia deveria conciliar a religião e a ciência; a fé cega deveria ser substituída pela razão e pela ciência. 
O racionalismo cartesiano deveria ser um instrumento crítico para o pensamento liberal contestando as instituições do Antigo Regime. Suas principais obras foram: Tratado da Luz, de 1633, na qual desenvolveu os princípios da ótica; e Discurso do método de 1637, na qual propôs o racionalismo filosófico.
  
Leitura 
 
Convenci-me de que não existe nada no mundo, nem céu, nem terra, nem mente, nem corpo. Isto implica em que também eu não exista? Não: se existe algo de que eu esteja realmente convencido é de minha própria existência. Mas existe um enganador de poder e astúcia supremos, que está deliberada e constantemente me confundindo. Neste caso, e mesmo que o enganador me confunda, sem dúvida eu também devo existir... a proposição “eu sou”, “eu existo”, deve ser necessariamente verdadeira para que eu possa expressá-la, ou para que algo confunda minha mente 1 . 
 
Outro importante pensador para o desenvolvimento das ideias iluministas foi John Locke (1632-1704), teórico da revolução inglesa de 1688. Foi considerado a principal fonte de ideias que orientaram a luta pela independência dos Estados Unidos em 1776. Suas ideias vão de encontro às ideias de Hobbes que afirmava que o governo deveria deter todos os poderes a fim de evitar os choques entre o povo. Para Locke, ao contrário, o Estado era um encargo assumido em nome do povo para servi-lo e não para controlá-lo. 
Locke considerava fundamental a ideia da lei natural. Suas principais obras foram: Dois tratados de governo e Ensaio sobre o entendimento humano.
François-Marie Arouet, conhecido como Voltaire (1694-1778), também foi responsável pelas ideias iniciais do iluminismo. Ele criticava as instituições políticas do Antigo Regime e combatia o fanatismo clerical e as injustiças sociais. Suas principais obras foram: Cartas filosóficas de 1735, Dicionário filosófico de 1749, O século de Luis XIV, Ensaio sobre os costumes e Espírito das nações - as três últimas de 1752. A seguir um trecho da obra Menon, em que Voltaire discute a conquista da sabedoria humana, às vezes de modo sarcástico: 
 
“Para ser bastante sábio, e por conseguinte bastante feliz, - considerou Memnon, - basta não ter paixões; e nada é mais fácil, como se sabe. Antes de tudo, jamais amarei mulher nenhuma: pois, ao ver uma beleza perfeita, direi comigo mesmo: “Essas faces se enrugarão um dia; esses belos olhos se debruarão de vermelho; esses rijos seios se tornarão flácidos e pendentes; essa linda cabeça perderá os cabelos”. É só olhá-la agora com os olhos com que a verei então, e essa cabeça não há de virar a minha. 
 
Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond d’Alembert (1717-1783) também fizeram parte das ideias iniciais do iluminismo. Eles foram os principais organizadores da Enciclopédia, conjunto de 33 livros, em que tentaram reunir os principais conhecimentos da época nos campos artístico, científico e filosófico. Foram colaboradores da enciclopédia Buffon, Montesquieu, Turgot, Condorcet, Voltaire, Hoebach e Rousseau. 
Os enciclopedistas exerceram grande influência no pensamento burguês, além de defenderem o racionalismo e a independência do Estado em relação à Igreja. Eles tinham confiança no progresso humano a partir de realizações científicas e tecnológicas. 
Podemos verificar a presença de muitas ideias que se solidificarão com o iluminismo. A questão da atuação do Estado, sua separação da igreja, o racionalismo, a procura da verdade por intermédio da utilização de métodos científicos e a substituição da fé pela razão. São elementos que irão ser aperfeiçoados e servirão de base para as ideias iluministas e, posteriormente,  para a organização de outras teorias. 
Em síntese, nas obras dos pensadores modernos, é possível encontrar alguns dos aspectos que se tornaram fundamentais nas teses iluministas: o Estado como organização política e jurídica da nação e não como personificação do rei; a separação entre Estado e Igreja; o racionalismo, utilização dos métodos científicos para conhecer o mundo; substituição da fé pela razão.  
 
_____ 
1 DESCARTES, R. Meditações Metafísicas, 1641. 
Aula 03_Despotismo esclarecido
   
Nesta aula estudaremos o despotismo esclarecido. A palavra despotismo tem origem grega e remete à relação que o senhor – despotés – mantém com seu escravo. Sendo assim, despotismo pode ser definido como um tipo de governo em que o poder é exercido de modo autoritário. Para muitos, despotismo é sinônimo de ditadura ou tirania.
Mas o que seria o despotismo esclarecido? Essa expressão surgiu na Europa. Vamos, então, pensar como estava a Europa no momento em que as ideias iluministas haviam sido lançadas. Era um período em que os monarcas exerciam o poder do modo absoluto em seus países. As monarquias procuravam controlar o desenvolvimento comercial e as atividades de expansão e colonização. Era um período de grandes transformações no plano econômico, mas também no plano cultural. Não se deve esquecer  de que a Europa havia passado por uma fase de efervescência cultural com o Renascimento. Esse movimento, como também as reformas protestantes, deu um novo vigor às pesquisas científicas e à educação. Desse modo, pode-se dizer que o despotismo esclarecido foi um expressão utilizada para designar os governos absolutistas que, no século XVIII, procuraram conciliar os regimes absolutistas com as ideias iluministas. 
Teoricamente, as monarquias governadas por déspotas esclarecidos tinham como objetivo promover a organização racional dos Estados a fim de levar a felicidade a todos os seus cidadãos, estabelecer a igualdade entre eles – abolindo os privilégios da nobreza e criando um sistema tributário mais justo – e garantir a liberdade de consciência e manifestação. 
Em muitas monarquias absolutistas, foram empreendidas reformas nos campos sociais e econômicos. Na área educacional houve um incentivo à educação pública, à construção de escolas e apoio às academias literárias e científicas e a divulgação de textos eruditos. 
Na área econômica, as reformas se concentraram nos tributos. Houve um aperfeiçoamento do sistema de arrecadação tributária, procurando torná-lo menos opressivo, diminuindo as cargas tributáriascobradas às populações mais pobres. 
“O despotismo esclarecido foi obra de soberanos e dignitários e somente floresceu enquanto eles viveram” 1. Todavia, nem todos os déspotas esclarecidos exerceram o poder do mesmo modo. Os governantes considerados protótipos de déspotas esclarecidos foram a czarina Catarina II da Rússia, Frederico II da Prússia, José I da Áustria.  
Catarina II, da Rússia, foi responsável por construir escolas e hospitais, aprimorar a administração pública do Estado e tomar bens e terras da igreja que foram distribuídas entre os seus protegidos. 
Frederico II, da Prússia, foi responsável por abolir a tortura aos criminosos de seu país, construir escolas elementares e estimular o crescimento da indústria e da agricultura. 
José II, da Áustria, imperador do Sacro Império Romano Germânico, por sua vez, diminuiu o poder da igreja católica, confiscou terras, libertou servos, aboliu as obrigações feudais, aperfeiçoou o exército e introduziu o serviço militar obrigatório.
  
Para alguns analistas o despotismo esclarecido foi uma tendência assumida por países atrasados do Leste e do Sul da Europa para tentarem se aproximar do desenvolvimento em que se encontravam a Inglaterra e a França. Em grande parte dos casos, o discurso do déspota não correspondia à realidade de suas ações autoritárias baseadas em seus compromissos de classe, ou seja, usando termos mais modernos, poderíamos dizer que o “esclarecimento” de determinadas monarquias absolutistas não passou de propaganda. 
De um modo geral, não houve mudança alguma em relação à política e ao poder. Este continuou nas mãos do monarca. Transformações significativas foram vistas na área econômica, em que até os monarcas vislumbraram a necessidade de modificações com a finalidade de propiciar o desenvolvimento do comércio e, em alguns casos, da indústria. Alguns monarcas aceitaram também a diminuição dos privilégios da nobreza, porque viam nisso uma possibilidade de aumento dos cofres públicos. As mudanças na área econômica serviram para que os comerciantes e a burguesia pudessem desenvolver seu potencial. 
Fazendo um balanço geral, diríamos que, com a a intervenção iluminista, houve um desenvolvimento da economia e as áreas sociais, com destaque para a área da educação, que passaram a ser vistas com outros olhos. Surgiu a preocupação com os direitos humanos, o que tornou censuráveis as práticas de tortura. Em síntese:
 
É sabido que, no bojo das transformações por que passou a Europa no século XVIII, o Esclarecimento se apresentou como programa teórico e pedagógico que, contrário a toda forma de dogmatismo, identificou na razão a única instância normativa capaz de levar a bom termo o avanço da humanidade. Esta predisposição exprimiu-se no projeto de submeter todos os terrenos da cultura — a religião, a arte, a moral, a sociedade e, finalmente, a política — ao crivo da crítica. 
Esse ideal normativo, aliado à noção de progresso, impulsionou as transformações que, do despotismo esclarecido ao terror, fizeram com que o ideário modernizador da burguesia suplantasse o Absolutismo 2 .
 
 ____ 
1 AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. Rio de Janeiro: Nova Fronteita 1990, p. 132.
2 FIGUEIREDO, V.de. O dualismo da crítica. Revista de Sociologia e Política. N º 15, Curitiba, Nov.2000. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-4478200000 0200009&script=sci_arttext&tlng.·.
Aula 04_Marquês de Pombal
 
Nesta aula estudaremos o Marquês de Pombal, suas ideias e realizações na corte portuguesa e no Brasil, como exemplo de despotismo esclarecido. Pombal implantou mudanças liberais em Portugal e fez praticamente o contrário na colônia.
Na segunda metade do século XVIII, Portugal era governado  por D. José I. Nessa época, como já vimos, as ideias iluministas circulavam pela Europa. Em 1748, Sebastião José de Carvalho e Melo – futuro Marquês de Pombal – que havia estudado na Universidade de Coimbra, foi nomeado secretário de Estado para assuntos exteriores. Sete anos depois, foi nomeado primeiro-ministro, tendo tido um papel fundamental na reconstrução de Lisboa – a capital do reino – que ficara praticamente destruída com o terremoto de 1755. Em 1756 já contava com poderes absolutos e tomou algumas medidas no sentido da modernização de Portugal, dentre elas: reorganizou o sistema educacional, aboliu a escravidão, elaborou um novo código penal, reorganizou o exército e fortaleceu a marinha, desenvolveu a agricultura, o comércio, as finanças etc.
Entretanto, se marquês de Pombal ficou conhecido em Portugal por levar a modernidade para este país, no Brasil – então colônia de Portugal - sua fama foi outra. Pombal foi considerado como aquele que aumentou o controle sobre a colônia. Ele permaneceu no cargo de Primeiro-Ministro por 27 anos. Foi o principal ministro e homem forte do governo português neste período. 
No campo econômico, Pombal combinou o mercantilismo  com as ideias iluministas. Suas principais medidas foram: o estímulo às exportações - principalmente o vinho e a produção manufatureira de tecidos - procurando diminuir a dependência de Portugal em relação aos produtos ingleses; o reforço do monopólio comercial em relação ao Brasil, com o objetivo de explorar ao máximo suas riquezas (açúcar e fumo); ampliou os tributos na área de mineração colonial e combateu o contrabando – essa medida, em especial, não foi bem vista por certa parte da população brasileira. 
No campo político e social, assim como grande parte dos países europeus da época, o Marquês determinou a expulsão dos jesuítas, tanto do reino quanto da colônia. Com isso, apropriou-se das riquezas acumuladas pelos jesuítas, sendo que muitos bens foram transferidos aos amigos da coroa portuguesa.
No Brasil, as mudanças não tiveram a mesma intenção de desenvolvimento como na metrópole portuguesa. O objetivo era controlar ainda mais a colônia, tentando obter a maior quantidade de riquezas, a fim de desenvolver Portugal. 
As medidas tributárias de Pombal para a colônia provocaram manifestações e rebeliões contrárias ao governo português. De certo modo, a revolta contra o controle fiscal da metrópole deu início ou acirrou o desejo de independência por parte de setores da sociedade brasileira. 
Leia a seguir um texto que analisa a figura de Pombal em relação ao contexto de sua época: 
 
As modernizações, como modelo de desenvolvimento, assumem um perfil definido já no século XVIII. A Rússia de Pedro, o Grande (1682-1725), se propôs, no desesperado atraso econômico em que se encontrava, entrar em disputa com países mais adiantados, o que o obrigou a procurar alcançá-los, a ferro e fogo. Igualmente, o descompasso de economias, nas quais uma sugava — real ou presumidamente — a outra, levou Pombal (1775-1777), “reunindo corações e espíritos”, como dizia, a procurar estancar a sangria. Era necessário reformar a monarquia e a economia: “A monarquia estava agonizando. Os ingleses tinham peado esta nação e a tinham debaixo de sua pendência: eles a haviam insensivelmente conquistado, sem ter provado dos inconvenientes das conquistas” (J. Carvalho e Melo, Marquês de Pombal. Cartas e outras obras seletas do Marquez de Pombal. Lisboa, 1881, 5ª ed., v. 2, p. 103). As reformas partiam de uma plataforma intelectual, ideológica: antes de tudo, recuperar o pensamento científico, tolhido pela Escolástica. Uma economia calcada sobre a burguesia comercial, cevada de estímulos e privilégios, viria a ser, no futuro, também manufatureira, não ao modelo inglês, alvo inatingível pela modernização mercantilista, mas segundo o sistema colbertiano. A nação seria reorganizada, com um absolutismo que não se constrangia de admitir o despotismo, favorecendo os setores “ privilegiados, como a nobreza e o clero, o ensino superior e tudo o que possa haver um raio de confidência” (A. Luís Bessa. Sebastião José. Lisboa, 1981, p. 167). Sobre esta pedra, que mal durou o tempo de um reinado, formou-se a base, nunca abalada, de todas asmodernizações brasileiras 1 . 
    
 _____ 
1 FAORO, Raimundo. A questão nacional e a modernização. Estud. av. vol.6 no.14 São Paulo Jan./Apr. 1992. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-4014 1992000100002&script=sci_arttext&tlng=
Aula 05_O socialismo utópico
    
Nesta aula estudaremos o socialismo utópico, suas principais características, seus pensadores e suas ideias. Apresentaremos suas teorias nas áreas econômicas e principalmente sociais relacionadas ao trabalho. 
“Socialismo utópico” é a expressão com a qual denominamos a doutrina dos primeiros socialistas. Eles faziam críticas à nova realidade social industrial, atacavam as grandes propriedades e defendiam um acordo entre as classes dominantes e dominadas, no qual eram apresentados modelos idealizados (utópicos) de organização social. 
Um de seus representantes mais significativos foi Claude-Henry Saint-Simon (1760-1825). Ele acreditava no progresso econômico como o eixo da história. Uma de suas exigências era uma nova organização da sociedade favorecendo os produtores (assalariados, fabricantes, comerciantes) contra os ociosos (nobres, clero). Tratava-se, portanto, da oposição trabalho x ócio. 
Saint-Simon propunha uma nova sociedade dirigida pelos industriais apoiados nas ciências a fim de promover o desenvolvimento geral. Era crítico do liberalismo econômico e da exploração desumana dos trabalhadores. Pregava a extinção das diferenças de classe. 
Outro representante do socialismo utópico era Charles Fourier (1772-1837). Inspirado no iluminista Rosseau, Fourier – também francês – propunha uma sociedade baseada na organização dos falanstérios, que eram fazendas coletivas agroindustriais, que teriam como função libertar os trabalhadores da exploração e da miséria. Mas ele não conseguiu patrocinadores para pôr em prática suas ideias, pois ninguém se interessou pelos seus falanstérios. 
Luis Blanc (1811-1882) também foi um dos representantes do socialismo utópico e elaborou várias teorias e propostas, dentre as quais a a criação de oficinas nacionais que seriam uma espécie de associação produtora administradas autônoma e democraticamente. 
Robert Owen (1771-1859), industrial inglês, também representou o socialismo utópico. Foi autor de projetos de cooperativas de produção e consumo além de realizar experiências em suas fábricas têxteis. Mas, por pressões de outros industriais e dos poderosos, foi obrigado a abandonar a Inglaterra e ir para os Estados Unidos, onde fundou uma cooperativa comunitária. 
Estes pensadores têm algumas ideias em comum que sintetizam as bandeiras do socialismo utópico. A questão principal é retirar o trabalhador de sua condição de oprimido e miserável. A organização de cooperativas e associações era outro ponto em comum entre eles. 
Entretanto, diferentemente dos socialistas posteriores, os socialistas utópicos não consideravam as diferenças ou a luta entre as classes. A oposição fundamental para eles era entre os trabalhadores e os ociosos . 
Podemos verificar que estes pensadores foram os precursores das ideias relacionadas aos trabalhadores industriais. 
São ideias que, em alguns casos, não foram adiante, como os falanstérios de Charles Fourier, mas que levaram muitos outros pensadores a refletir e a desenvolver teorias que pudessem ser efetivamente empregadas no futuro. 
Em síntese, o socialismo utópico lançou as novas ideias socialistas, algumas das quais puderam ser aplicadas ou aperfeiçoadas, enquanto outras permaneceram apenas como teorias utópicas. Seus idealizadores buscavam um modo de alcançar maior igualdade entre os homens, sem, necessariamente, subverter a ordem social capitalista.
Aula 06_O socialismo científico
   
Nesta aula estudaremos sobre o socialismo científico: seus principais teóricos, propostas e diferenças em relação ao socialismo utópico. 
O fundadores do socialismo científico foram os pensadores alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Os dois pensadores escreveram várias obras, dentre as quais o Manifesto Comunista, 1848, que deu uma nova dimensão ao socialismo. Cada um deles escreveu também várias obras que se tornaram referenciais na análise teórica e na prática socialista. Marx, por exemplo, escreveu a obra que se tornou clássica e, ao mesmo tempo, fonte conceitual de todos os estudos sobre o capitalismo até hoje: O capital. Engels, por sua vez, escreveu outra obra clássica e que deve ser conhecida por todos os historiadores ou professores de história: A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 
Devemos nos perguntar, então, em que consistiu a originalidade desses dois autores? 
Em primeiro lugar, eles rompem com o liberalismo e, por meio de suas teorias, nasceu uma nova proposta revolucionária para o proletariado, a qual perdurou por várias décadas e transformou a maneira de pensar a economia, a questão do trabalho, a sociedade e a própria história. 
Dentre as principais ideias de Marx e Engels podemos destacar a de que a história se move como resultado da luta de classes. 
 
[...] Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade fundada no antagonismo entre classes. A libertação da classe oprimida implica, pois, necessariamente, a criação de uma sociedade nova. Para que a classe oprimida possa libertar-se, é preciso que os poderes produtivos já adquiridos e as relações sociais existentes não possam mais existir umas ao lado de outras. De todos os instrumentos de produção, o maior poder produtivo é a classe revolucionária mesma. A organização dos elementos revolucionários como classe supõe a existência de todas as forças produtivas que poderiam se engendrar no seio da sociedade antiga.
Isso significa que, após a ruína da velha sociedade, haverá uma nova dominação de classe, resumindo-se em um novo poder político? Não. A condição da libertação da classe laboriosa é a abolição de toda classe, assim como a condição da libertação do terceiro estado, da ordem burguesa, foi a abolição de todos os estados [aqui, estado significa as ordens da sociedade feudal] e de todas as ordens 1.
 
Outro conceito importante para a análise da sociedade e da história, proposto por Marx e Engels, foi o de modo de produção, ou seja, a estrutura formada pelas relações sociais de produção, características de cada sociedade. No processo de transformação das sociedades, essas relações sofrem rupturas ou desaparecem, abrindo espaço para novas relações:
 
A burguesia desempenhou na história um papel eminentemente revolucionário. 
Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Ela despedaçou sem piedade todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal aos seus “superiores naturais”, para só deixar subsistir, entre os homens, o laço do frio interesse, as cruéis exigências do “pagamento à vista”. Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. [...]
A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez os seus servidores assalariados. 
A burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e as reduziu a simples relações monetárias2. 
 
Marx lançou um novo olhar e novas luzes sobre o funcionamento do capitalismo. Eis um exemplo de como subverteu a concepção tradicional de trabalho, demonstrando que ela estava baseada em premissas incorretas:
 
O que os economistas tinham considerado como custos de produção “do trabalho”, eram os custos de produção, não do trabalho, mas do próprio operário vivo. 
E o que o operário vendia ao capitalista não era o seu trabalho. “No momento em que começa realmente o seu trabalho — disse Marx — este deixa logo de lhe pertencer e o operário não poderá, portanto, vendê-lo”. Poderia, quando muito, vender o seu trabalho futuro, isto é,comprometer-se a executar um dado trabalho num tempo determinado. Mas então o operário não vende trabalho (que ainda teria de ter lugar); põe sim à disposição do capitalista a sua força de trabalho, a troco de um salário determinado, por um determinado tempo (se trabalha à jorna) ou para determinada tarefa (se trabalha à peça): ele aluga ou vende a sua força de trabalho. Mas essa força de trabalho faz um com a sua própria pessoa e é inseparável dela. Por conseguinte, os seus custos de produção coincidem com os custos de produção [do operário]; o que os economistas chamavam custos de produção do trabalho são precisamente os custos de produção do operário e, por isso, os da força de trabalho. E assim já podemos regressar dos custos de produção da força de trabalho ao valor da força de trabalho, e determinar a quantidade de trabalho socialmente necessário que é requerido para a produção de uma força de trabalho de determinada qualidade — como o fez Marx no capítulo da compra e venda da força de trabalho (O Capital, tomo 1, capítulo 4, secção 3) 3 . 
 
Na política, Marx e Engels propunham a transformação revolucionária da sociedade capitalista rumo à sociedade comunista. Segundo os dois pensadores, o comunismo era a doutrina das condições de libertação do proletariado. Libertação que começaria com a abolição da propriedade privada. 
A partir do final do século XIX, várias sociedades realizaram revoluções socialistas, tomando por base as ideias desses teóricos e seus seguidores. Atualmente, restam poucos países socialistas. Faça uma pesquisa sobre o assunto.  
  
  
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1 MARX, K. Luta de classes e luta política. 1ª edição: julho de 1847. Disponível em: http:// www.marxists.org/portugues/marx/1847/04/luta-class-luta-polit.htm.
2 MARX, K. E ENGELS, F. Manifesto Comunista. Diponível em: http://www.marxists. org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunistaEmGalego/cap1e2.htm#I
3 ENGELS, F. Prefácio ao Trabalho assalariado e capital. 1ª edição: março de 1849. Dispo-nível em:http://www.marxists.org/portugues/marx/1849/04/05.htm
Aula 07_O socialismo cristão
  
Na aula de hoje estudaremos o socialismo cristão. A combinação entre socialismo e cristianismo parece muito natural para alguns e extremamente contraditória, para outros. 
Penso que a contradição se resolve ao considerarmos que o socialismo pregado por setores da Igreja não era o mesmo socialismo formado pelas ideias de Claude Saint Simon, Charles Fourier, Louis Blanc Robert Owen, Karl Marx ou Friedrich Engles. As ideias do socialismo cristão são outras. Creio que a Igreja se utilizou do termo socialismo para relacionar a questão social e do trabalho, a miséria da população e a exploração por parte dos capitalistas. As concepções socialistas dos autores acima são, na verdade, criticadas pela igreja.  
 Então, do que se trata o socialismo cristão? 
 De um modo simplificado, podemos dizer que se trata de um apelo da Igreja às classes dominantes para que aliviassem o sofrimento das classes trabalhadoras. Ou seja, certos setores da Igreja, sensibilizados, pretendiam diminuir ou atenuar a exploração, criando condições para que os trabalhadores pudessem sobreviver com seus salários e que suas condições de trabalho também não fossem desumanas, regulamentando a jornada de trabalho, os salários, o trabalho de crianças e mulheres. 
A ideia de certos setores da Igreja Católica era aplicar os ensinamentos evangélicos de amor e respeito pelo próximo na resolução de problemas sociais gerados pela industrialização. Em 1891, o Papa Leão XIII publicou a Encíclica Rerum Novarum, na qual expôs o pensamento social cristão. Seus mais importantes pensadores foram Robert Lamennais, Adolph Wagner e J. D. Maurice. 
O documento Rerum Novarum – que significa “Das coisas novas” – era uma carta aberta para todos os bispos, na qual o Papa tratava da condição de vida dos trabalhadores. Dentre outras coisas dispunha sobre o direto à propriedade privada - que a igreja não iria negar, já que era possuidora de consideráveis bens, incluindo bens imobiliários, indústrias etc - e rejeitava as teorias marxistas (socialismo) e anarquistas, embora, condenasse, expressamente a exploração desumana do trabalho.
Sobre a propriedade privada, assim se expressou o Papa: 
 
De facto, como é fácil compreender, a razão intrínseca do trabalho empreendido por quem exerce uma arte lucrativa, o fim imediato visado pelo trabalhador, é conquistar um bem que possuirá como próprio e como pertencendo-lhe; porque, se põe à disposição de outrem as suas forças e a sua indústria, não é, evidentemente, por outro motivo senão para conseguir com que possa prover à sua sustentação e às necessidades da vida, e espera do seu trabalho, não só o direito ao salário, mas ainda um direito estrito e rigoroso para usar dele como entender. Portanto, se, reduzindo as suas despesas, chegou a fazer algumas economias, e se, para assegurar a sua conservação, as emprega, por exemplo, num campo, torna-se evidente que esse campo não é outra coisa senão o salário transformado: o terreno assim adquirido será propriedade do artista com o mesmo título que a remuneração do seu trabalho. Mas quem não vê que é precisamente nisso que consiste o direito da propriedade mobiliária e imobiliária? Assim, esta conversão da propriedade particular em propriedade colectiva, tão preconizada pelo socialismo, não teria outro efeito senão tornar a situação dos operários mais precária, retirando-lhes a livre disposição do seu salário e roubando-lhes, por isso mesmo, toda a esperança e toda a possibilidade de engrandecerem o seu patrimônio e melhorarem a sua situação 1 . 
 
A Igreja aconselhava aos empresários que melhorassem as  condições de trabalho e os salários dos trabalhadores, respeitando o descanso semanal. Segundo a Igreja, o Estado deveria intervir nas relações de trabalho para que houvesse uma melhora nas condições de vida dos trabalhadores, especialmente nos setores de saúde e habitação. A educação não era mencionada, pois não interessava a ninguém um trabalhador educado e letrado. 
Em síntese, a posição diante da industrialização e da nova sociedade industrial que surgia era de que seria necessário haver uma reforma e maior justiça social. 
Para alguns analistas, a Igreja Católica temia, na verdade, uma convulsão social que provocasse sofrimentos para muitos ou uma revolução que transformasse de vez a ordem social, como se pode interpretar na leitura da introdução da encíclica:
 
A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social. Efetivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito. 
Por toda a parte, os espíritos estão apreensivos e numa ansiedade expectante, o que por si só basta para mostrar quantos e quão graves interesses estão em jogo. Esta situação preocupa e põe ao mesmo tempo em exercício o gênio dos doutos, a prudência dos sábios, as deliberações das reuniões populares, a perspicácia dos legisladores e os conselhos dos governantes, e não há, presentemente, outra causa que impressione com tanta veemência o espírito humano 2. 
 
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1 CARTA ENCÍCLICA «RERUM NOVARUM»DO PAPA LEÃO XIII SOBRE A CONDIÇÃO DOS OPERÁRIOS. Disponível em http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/docu-ments/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum_po.html
2 Op.cit
Aula 08_Anarquismo
  
Na aula de hoje estudaremos o anarquismo, termo derivado do grego anarchia, que significa ausência de autoridade. Vamos analisar como se portavam os pensadores anarquistas diante da industrializaçãoe das questões dos trabalhadores. 
Para alguns ideólogos e ativistas, o anarquismo era a suspensão de toda a forma de governo, ou seja, a população não precisaria mais de governantes para lhes indicar o que era preciso fazer. A liberdade faria com que todos se organizassem e soubessem qual seria seu papel, sem que ninguém precisasse mandar ou obedecer. Assim, o anarquismo implicava altas doses de autonomia. O governo, e mais ainda o Estado, era visto como a principal fonte dos problemas sociais. 
Os anarquistas defendiam a liberdade geral. Dentre eles podemos citar Pierre Joseph Proudhon (1809-1865). Proudhon é considerado o iniciador do anarquismo que se expandiu para vários países, a partir da França. Ele propôs a criação de uma sociedade sem classes e sem Estado. A sociedade anarquista seria de homens livres e iguais. Sua obra principal foi "O que é a Propriedade". 
Outro importante pensador anarquista foi o russo Kropotkin (1842-1921), defensor do comunismo libertário – como ele mesmo chamava – ou do anarco-comunismo. Kropotkin criticava o individualismo, o egoísmo e a violência. Pregava a via pacífica para a instalação de uma sociedade de iguais, sem o Estado. Kropotkin defendia ainda o não pagamento dos impostos, a repulsa ao serviço militar e aos tribunais como forma de destruição do Estado. Sua principal obra foi "A conquista do Pão". 
Ao contrário de Kropotkin, outro anarquista russo, Mikhail Bakunin (1814-1876), era defensor da violência como única forma de alcançar uma sociedade sem Estado e sem desigualdade. 
A crítica ao papel do Estado era o tópico comum aos pensadores anarquistas, ao contrário dos socialistas e dos filósofos iluministas, que propunham soluções para os problemas  sociais através da intervenção do Estado. Por essa razão algumas correntes socialistas ou liberais eram taxadas de “reformistas” pelos anarquistas ou pelos comunistas mais radicais, pois pregavam as mudanças na sociedade, enquanto os radicais pregavam a destruição da sociedade para a construção de uma nova organização social. 
Alguns anarquistas, como Bakunin, atribuíam a opressão a outras instituições além do Estado, como a Igreja ou a Escola: 
 
Eis-nos de novo sob o jugo da Igreja e do Estado. É verdade que nesta nova organização, devida, como todas as organizações políticas antigas, à graça de Deus, é apoiada desta vez, pelo menos quanto à forma, à guisa de concessão necessária ao espírito moderno, e como nos preâmbulos dos decretos imperiais de Napoleão III, sobre a pretensa vontade do povo, a Igreja não se chamará mais Igreja, ela se chama Escola. O que importa? Sobre os bancos desta Escola não estarão sentadas somente as crianças: haverá o eterno menor, o estudante para sempre reconhecido como incapaz de se apresentar a seus exames, de alcançar a ciência de seus mestres e de passar em sua disciplina: o povo. O Estado não se chamará mais monarquia, chamar-se-á república, mas nem por isso deixará de ser Estado, isto é, uma tutela oficial e regularmente estabelecida por uma minoria de homens competentes, gênios, homens de talento ou de virtude, que vigiarão e dirigirão a conduta desta grande, incorrigível e terrível criança, o povo. Os professores da Escola e os funcionários do Estado chamar- se-ão republicanos; mas não deixarão de ser menos tutores, pastores, e o povo permanecerá o que foi eternamente até agora: um rebanho. Os tosquiados que se cuidem, pois onde há rebanho há necessariamente pastores para tosquiá-lo e comê-lo1 .
   
Reflexão 
Como é possível entender essa imagem do povo como rebanho proposta por Bakunin? Essa imagem teria validade ainda hoje? Em que sentido?
    
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1 BAKUNIN, Mikail. Deus e o Estado, 1882. Disponível em: http://ateus.net/artigos/criti-ca/deus_e_o_estado.php
Aula 09_Nicolau Maquiavel
   
Na aula de hoje estudaremos Nicolau Maquiavel, personagem importante da história das ideias políticas. Ele ficou conhecido pela sua obra O Príncipe, em que analisa e compara dois tipos de governo: a monarquia e a república. 
O italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), até hoje é considerado o fundador do pensamento e da ciência política moderna. Suas obras principais, além de O príncipe, escrito em 1513, são: Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Histórias florentinas e A arte da guerra. 
Vamos nos concentrar em sua obra mais conhecida para explicar as suas ideias. Como a maior parte das obras da época, O príncipe foi dedicado a uma figura importante e poderosa, o banqueiro e governante da República de Florença, Lorenzo de Medici. A seguir, um trecho da dedicatória: 
 
Costumam, o mais das vezes, aqueles que desejam conquistar as graças de um Príncipe, trazer-lhe aquelas coisas que consideram mais caras ou nas quais o vejam encontrar deleite, donde se vê amiúde serem a ele oferecidos cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e outros ornamentos semelhantes, dignos de sua grandeza. Desejando eu, portanto, oferecer-me a Vossa Magnificência com um testemunho qualquer de minha submissão, não encontrei entre os meus cabedais coisa a mim mais cara ou que tanto estime, quanto o conhecimento das ações dos grandes homens apreendido através de uma longa experiência das coisas modernas e uma contínua lição das antigas as quais tendo, com grande diligência, longamente perscrutado e examinado e, agora, reduzido a um pequeno volume, envio a Vossa Magnificência 1. 
 
Por muito tempo suas proposições foram interpretadas como conselhos repletos de astúcia para um governante que deseja atingir, manter ou se perpetuar no poder. Em decorrência dessa interpretação, surgiu o adjetivo “maquiavélico”. Atualmente, existem outras interpretações, entre as quais a que considera que Maquiavel analisou e descreveu o governo e o Estado como realmente eram e não como ele acreditava que deveriam ser.
De qualquer modo, o significado de Maquiavel para a história das ideias políticas foi romper com uma ética religiosa para a política, propondo para esta atividade humana uma ética própria. Por isso, pode-se compreender que as primeiras críticas e perseguições ao autor vieram por parte da Igreja. 
Para Nicolau Maquiavel, quem deveria fazer política eram os governantes - o príncipe - e não a Igreja. Não podemos nos esquecer de que, nesta época, a Itália já possuía um Estado da Igreja – que foi reduzido em termos territoriais e transformado no Vaticano que conhecemos hoje. No entanto, no período em que viveu Nicolau Maquiavel, a Igreja tinha muito poder e influenciava os governos dos diferentes reinos. Não havia a separação entre Estado e Igreja que foi proposta, posteriormente, pelos iluministas. 
Segundo Nicolau Maquiavel, a política do governante deveria orientar-se pelos critérios da eficiência. Dizia ainda que o Estado deveria ser forte e concentrado nas mãos desse governante. Assim, por exemplo, aconselha os governantes que conquistaram novos territórios: 
 
Mas, quando se conquistam territórios numa província com língua, costumes e leis diferentes, aqui surgem as dificuldades e é necessário haver muito boa sorte e habilidade para mantê-los. E um dos maiores e mais eficientes remédios seria aquele do conquistador ir habitá-los. Isto tornaria mais segura e mais duradoura a posse adquirida, como ocorreu com o Turco da Grécia, que a despeito de ter observado todas as leis locais, não teria conservado esse território se para aí não tivesse se transferido. Isso porque, estando no local, pode-se ver nascerem as desordens e, rapidamente, podem ser elas reprimidas; aí não estando, delas somente se tem notícia quando já alastradas e não mais passíveis de solução. Além disso, a província conquistada não é saqueada pelos lugar-tenentes; os súditos ficam satisfeitos porque o recurso ao príncipe se torna mais fácil, donde têm mais razões para amá-lo, querendo ser bons, e para temê-lo, caso queiram agir por forma diversa. Quem do exterior desejar assaltar aquele Estado, por ele terá maior respeito; donde, habitando- o, o príncipe somente com muita dificuldade poderá vir a perdê-lo2. 
 
A política para Nicolau Maquiavel era conquistar e conseguir manter o poder ou a autoridade. Para conseguir atingir seus objetivos o governante deveria ser calculista: deveria saber o que dizer e o que fazer em cada situação: 
 
Resta ver agora quais devam ser os modos e o proceder de um príncipe para com os súditos e os amigos e, por que sei que muitos já escreveram a respeito, duvido não ser considerado presunçoso escrevendo ainda sobre o mesmo assunto, máxime quando irei disputar essa matéria à orientação já por outros dada aos príncipes. Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por tal se interesse, pareceu-me mais conveniente ir em busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou conhecidos como tendo realmente existido. Em verdade, há tanta diferença de como se vive e como se deveria viver, que aquele que abandone o que se faz por aquilo que se deveria fazer, aprenderá antes o caminho de sua ruína do que o de sua preservação, eis que um homem que queira em todas as suas palavras fazer profissão de bondade, perder-se-á em meio a tantos que não são bons. Donde é necessário, a um príncipe que queira se manter, aprender a poder não ser bom e usar ou não da bondade, segundo a necessidade 3 . 
 
Em síntese, Maquiavel inaugurou de certo modo, a teoria política moderna. Quanto à interpretação da sua obra, as posições variam. Num extremo, há os que o consideram maléfico, tal como Shakespeare – contemporâneo de Maquiavel – que mencionou suas ideias em mais de uma peça. Em outro, há os que acreditam que Maquiavel usou uma artimanha para alertar as pessoas contra a tirania. Leia e forme a sua opinião. 
  
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1 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Disponível em: http://www.culturabrasil.org/oprin-cipe.htm#prc01 
2 MAQUIAVEL, Nicolau. Op.cit..
3 MAQUIAVEL, Nicolau. Id.,ibidem.
Aula 10_Thomas Hobbes
   
Nesta aula estudaremos Thomas Hobbes, pensador político inglês, suas principais obras e sua importância para a história das ideias políticas. 
Hobbes (1588-1651) foi o fundador da filosofia moral e política inglesa. Sua principal obra, O Leviatã, foi escrita em 1651, na qual ele expôs sua teoria sobre o poder político. Suas ideias pareciam pessimistas em relação ao mundo. Parecia não acreditar nos homens. 
Para Thomas Hobbes, os homens são egoístas e o mundo não satisfaz todas as suas necessidades. O ser humano sempre está à procura de alguma coisa: nunca está satisfeito ou feliz. Hobbes defendia o Estado natural sem a existência da sociedade civil. Para ele, quando o homem vivia sem a presença do Estado ou da sociedade civil estava mais perto de sua felicidade. Nessas condições, o homem se preocuparia em manter-se vivo, em vez de se preocupar em acumular bens materiais; viveria sob a lei natural que é, na verdade, a lei do mais forte, sem a intervenção de nada ou de ninguém. 
Segundo Thomas Hobbes, há uma competição entre os homens pela riqueza, segurança e glória. Por esse motivo, há uma guerra de todos contra todos. Esta não é uma guerra visível, mas ocorre frequentemente quando o homem almeja atingir seus objetivos. 
A solução proposta por Thomas Hobbes seria o contrato social, isto é, um contrato entre todos os indivíduos imposto pela razão e por meio do qual os homens abririam mão dos direitos que possuem naturalmente sobre todas as coisas, em favor de um soberano que teria direitos ilimitados com o objetivo de estabelecer a ordem e a paz. 
 O fim último, causa final e desígnio dos homens (que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre os votos), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com a sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra que é a consequência necessária (conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens, quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao cumprimento dos seus pactos e ao respeito àquelas leis de natureza [...] 1
Para Thomas Hobbes, o homem é movido pelo desejo e pelos seus temores e isso acaba gerando uma situação de conflito permanente que seria solucionado pelo contrato social. Ele era considerado um materialista mecanicista e ligava toda a realidade com a ação e a reação dos corpos em movimento, ou seja, o homem era movido pelos seus sentimentos que gerariam o conflito.
De certo modo, com a sua teoria sobre o Estado forte e necessário, Hobbes contribuiu legitimar os Estados absolutistas, pois o Estado Leviatã vem conjugar com as monarquias absolutistas da época e as ideias iluministas. 
Em síntese, Thomas Hobbes elaborou uma teoria sobre a igualdade entre os homens, concebendo, para isso, a ideia de um poder absoluto, formado do poder de cada cidadão, que, de livre e espontânea vontade, renunciaria a esse poder em prol da comunidade. 
Até que ponto essa ideia sobrevive em nossa sociedade? Em que aspectos ou setores? 
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1 HOBBES, Thomas. Leviatã. Disponível em: http://www.arqnet.pt/portal/teoria/leviata_ 17cap.html
Resumo_Unidade I
    
Nesta unidade, estudamos as diversas ideologias e teorias apresentadas pelos pensadores europeus desde o período do Iluminismo, no século XVIII, e até um pouco antes. Analisamos as teorias, os pensadores e a influência que houve sobre as ideias que estavam circulando no mundo. 
No iluminismo destacamos a busca pela razão e a crença na ciência como precursores do progresso, bem como a origem de muitas das ideias atuais sobre direitos humanos, justiça e respeito às leis. 
Na aula sobre o despotismo esclarecido, analisamos alguns monarcas absolutistas que conseguiram, em seus reinos, misturar o absolutismo com as ideias iluministas a fim de modernizar seus países sem perder seus poderes. Como exemplo de despotismo esclarecido, estudamos o marquês de Pombal, que foi, durante 27 anos, Primeiro-Ministro na corte portuguesa. 
Analisamos também as três correntes do socialismo: utópico, científico e cristão. Vimos que a busca por uma sociedade mais igualitária e justa era um ponto comum entre essas ideologias que, entretanto, apresentavam ideias diferentes sobre a composição dessa sociedade justa e sobre os caminhos para chegar a ela. Como uma variação dessas ideologias, estudamos ainda o anarquismo que, diferentemente de todas as outras, repudiava o papel do Estado na construção de uma sociedade igualitária. 
Assim, percorremos algumas ideologias que foram importantes para a modernização do pensamento. Muitas destas ideias ainda se fazem presentes em nossos dias. Dessa maneira, torna-se importante conhecer suas origens para compreender sua utilização por nós hoje. 
Referências Bibliográficas
COSTA, Caio Túlio. Que é anarquismo? São Paulo: Brasiliense, 1986. 
DESCARTES, René. O discurso do método. Brasília: Universidade de Brasília, 1985.
FALCON, Francisco José Calazans. Iluminismo. São Paulo: Ática, 1986 (Série Princípios). 
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (col. Os pensadores). 
MARX, Karl. Capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1988. 
MARX, Karl. O manifesto comunista. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 
WEFFORT, Francisco Correia. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2000.
Aula 11_Montesquieu
 
   
Nesta aula estudaremos o pensador Montesquieu, que tem sido considerado um dos principais teóricos do liberalismo político. 
O francês Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu (1689-1755), era jurista, político, filósofo e escritor. Dentre suas obras, podemos destacar "As cartas persas" -- uma sátira aos costumes franceses escrita em 1720 - Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e sua decadência, de 1734, e Do Espírito das leis, de 1748. Nesta última, que se tornou sua obra mais famosa, Monstesquieu expôs suas ideias políticas. 
Ele defendeu a divisão dospoderes do Estado em: legislativo, executivo e judiciário. Essa divisão teria por finalidade evitar os abusos cometidos pelos governantes e proteger as liberdades individuais. 
Montesquieu também pregou a separação entre Estado e Igreja. Além de desenvolver uma teoria, segundo a qual as religiões, os valores morais e os costumes são analisados não em si mesmos, mas em relação à sociedade, preocupou-se também em estudar a relação existente entre a sociedade e o meio natural. Montesquieu elaborou certas conclusões que, hoje em dia, seriam consideradas preconceituosas, mas que se encaixavam com a mentalidade da sua época. Tal é o caso da afirmação de que as regiões frias do planeta apresentam uma tendência à formação de Estados livres enquanto locais de clima quente tendem a formar impérios despóticos. 
De acordo com Montesquieu, não se deve julgar os governos, e sim tentar entendê-los segundo sua natureza e seu princípio. Partindo dessa premissa, ele passou a analisar a república e a monarquia. A república seria um poder soberano pertencente ao povo (democracia) ou à parte dele (aristocracia) e teria como princípio o amor à pátria. 
Já a monarquia é o governo de um só, mas com leis fixas e estabelecidas. O princípio aqui é a honra, ou seja, o amor individual que o homem tem pelo Estado. As leis deveriam ser adequadas à natureza, ao princípio e ao espírito geral de cada sociedade e governo.
 
As leis, no seu sentido mais amplo, são relações necessárias que derivam da natureza das coisas e, nesse sentido, todos os seres têm suas leis: a divindade possui suas leis; o mundo material possui suas leis; as inteligências superiores ao homem possuem suas leis; os animais possuem suas leis; o homem possui suas leis 1 . 
 
A liberdade também foi um ponto abordado por Montesquieu. Para ele, a liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem, não é uma liberdade total. Existem graus de liberdade de acordo com o Estado. Em um Estado em que os poderes (executivo, legislativo e judiciários) não se entendem, a tendência é haver o mínimo de liberdade. Já em Estados em que os três poderes interagem, não com a separação ou com a independência que conhecemos hoje, mas de uma maneira equilibrada e harmoniosa, haveria maior grau de liberdade de sua população. Para Montesquieu, o modelo desse equilíbrio era encontrado no governo da Inglaterra, onde a liberdade reinante propiciava uma maior prosperidade. 
Em síntese, Montesquieu teve grande influência no seu tempo. Suas ideias aparecem nos discursos dos líderes das Revoluções Americana Francesa, no século XVIII. Muitas dessas ideias foram aprimoradas e se encontram nas constituições de muitas nações atuais. 
Montesquieu contribuiu para as teorias sobre o Estado, os seus poderes e sua liberdade, a partir de estudo sobre os governos europeus.
 
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1 MONTESQUIEU. O espírito das leis. Disponível em: http://www.reinerio.kit.net/textos/ montesquieu.htm
Aula 12_François Quesnay
  
Nesta aula estudaremos o pensador François Quesnay, levando em consideração sua contribuição para a fisiocracia e seus principais seguidores.
O francês François Quesnay foi um pensador da economia que viveu entre os anos de 1694 a 1774. Colaborou com a Enciclopédia e foi autor de Quadro Econômico escrito no ano de 1758, além de Fisiocracia, o governo da natureza. Dentre as suas ideias, podemos destacar sua oposição à intervenção do Estado na economia, ou seja, Quesnay era favorável à liberdade econômica. A sua frase “Laissez-faire, laissez-passer, le monde va de luimême” (deixem fazer, deixem passar, o mundo vai por ele mesmo), tornou-se emblemática. E a sua ideia sobre a oferta e a procura como reguladora dos mercados alimentou as teses econômicas liberais.
Ele também sustentava a ideia de que existe um poder natural que age nas sociedades humanas, sendo inútil contrariá-lo através de leis, regulamentos ou sistemas. Ele defendia a valorização da agricultura como a única atividade real, capaz de gerar riquezas para uma nação. Por essas ideias, Quesnay era considerado fisiocrata. A fisiocracia é tida como a primeira escola científica da economia. Essa escola analisava o sistema econômico como um organismo submetido a leis intrínsecas. 
Uma das ideias de Quesnay era implantação de um capitalismo agrário. Para ele a indústria não tinha importância, sendo considerada arte estéril que apenas transformava a matéria, não produzia nada, como ocorria na agricultura. 
Quesnay defendia a diminuição dos impostos e aceitava que houvesse concentração dos poderes nas mãos da monarquia, mas acreditava que o déspota deveria realizar somente as benfeitorias públicas financiadas pelos impostos, sem a interferência na vida econômica da nação. Seria função do monarca também velar pelo respeito às leis naturais e garantir a liberdade individual e a segurança da propriedade privada. 
Os fisiocratas consideravam trabalho produtivo aquele que produz excedentes. Por conseguinte, o trabalho agrícola era o único considerado produtivo e gerador de riqueza. Eles abominavam a indústria por não produzir nada e ser responsável somente pela transformação.
Em síntese, Quesnay e os fisiocratas defendiam a não intervenção do Estado na economia e a agricultura como a única atividade capaz de gerar riquezas para uma nação. Por outro lado, os fisiocratas introduziram a ideia de que a economia seguia uma ordem natural. 
 
“Os proprietários, o soberano e toda a nação têm o maior interesse de que o imposto seja inteiramente baseado na renda das terras, de modo imediato; qualquer outra forma de taxação seria contra a ordem natural, porque seria prejudicial à reprodução e ao imposto; o imposto recairia sobre si próprio. Tudo na terra está sujeito às leis da Natureza e os homens são dotados da inteligência necessária para as conhecer e observar; mas a multiplicidade dos objetos exige grandes combinações que tornam muito ampla a base de uma ciência evidente, cujo estudo é indispensável para que os equívocos sejam evitados na prática. 1” 
   
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1 QUESNAY, François. Citado por MACHADO, Luís. Grandes Economistas V: Quesnay e os fisiocratas. Disponível em:http://www.cofecon.org.br/index.php?option=com_content& task=view&id=794&Itemid=102.
Aula 13_Rousseau
    
Na aula de hoje estudaremos as ideias de Jean-Jacques Rousseau, um dos pensadores de maior influência da época contemporânea. 
Rousseau era um filósofo e romancista suíço que viveu, na  França, entre os anos de 1712 e 1778. Ele teve uma rígida educação calvinista. Era órfão de mãe e foi abandonado pelo pai aos dez anos. Conheceu vários pensadores do Iluminismo, quando esteve em Paris, dentre os quais Voltaire e Diderot. Também contribuiu para a Enciclopédia, redigindo verbetes relativos à música. 
Rosseau escreveu várias obras, entre as quais podemos destacar Discurso sobre as ciências e as artes, escrita em 1750, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, de 1754 e o Contrato Social de 1762. 
Segundo Rousseau, o ser humano é bom por natureza, mas é corrompido pela sociedade, onde o cultivo das ciências e das artes acarreta a ociosidade e esta, por sua vez, leva à decadência moral e à deterioração dos costumes. Vê-se que Rosseau era um crítico da organização social.Para ele a desigualdade teve origem com o surgimento da propriedade privada: 
 
[...] verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado o terreno lembrou-se de dizer “isto é meu” e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “evitai ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”1 . 
 
A desigualdade, por sua vez, estava na origem do Estado despótico. 
 
De maneira inequívoca situa-se Rousseau como antítese de Hobbes e do Estado absolutista. Observadorde guerras civis, Hobbes percebe na criação de um Estado forte e centralizado o recurso extremo de proteção e defesa da sociedade contra a inexorável catástrofe da guerra de todos contra todos.[...] 
Para Rousseau, ao contrário de Hobbes, a guerra não é inerente à natureza do homem, mas consequência da vida em sociedade, que aguça a competição e conduz ao conflito. A criação de um Estado, portanto, não reduzirá as tensões ou a violência beligerante; um Estado forte ameaçará a paz pela compulsão da conquista, um fraco tornar-se-á tentação para a cobiça alheia [...] 2
 
Para Rousseau, o Estado ideal seria um acordo entre os indivíduos que abririam mão de alguns de seus direitos para se tornarem cidadãos. A base do acordo seria a vontade geral conhecida como coletividade. Para ele, o soberano deveria conduzir o Estado segundo a vontade geral de seu povo, sempre tendo em vista o atendimento do bem comum. Afirmava também que apenas o Estado democrático teria condições de oferecer igualdade a todos os cidadãos. Estas ideias contribuíram para a Revolução Francesa, influenciando-a.
Com relação à educação, Rousseau considerava que ela deveria contribuir para conservar a bondade inata do ser humano, bem como sua inocência e as virtudes do estado natural. Ele realizava ataques contra a corrupção, a avareza e os vícios da sociedade civilizada e era defensor da pequena burguesia. 
Para Rousseau, a criança devia ser educada, sobretudo em liberdade e viver cada fase da infância na plenitude de seus sentidos mesmo porque, segundo seu entendimento, até os 12 anos, o ser humano é praticamente só sentidos, emoções e corpo físico, enquanto a razão ainda se forma. Liberdade não significa a realização de seus impulsos e desejos, mas uma dependência das coisas (em oposição à dependência da vontade dos adultos). “Vosso filho nada deve obter porque pede, mas porque precisa, nem fazer nada por obediência, mas por necessidade”, escreveu o filósofo em Emílio 3 .
 
Em síntese, as teorias e ideias de Rousseau compactuam com as ideias iluministas no que diz respeito à igualdade e aos estudos sobre ela, à questão do contrato social ou até mesmo ao homem e ao estado natural. 
  
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1 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Trad. Lourdes Santos Machado. São Paulo: Abril Cultural, 1983a. (Os Pensadores), p.259.
2 BENEVIDES, Maria Victoria de M. Guerra e Paz em Rousseau: sobre projeto da paz perpétua. Disponível em: http://www.hottopos.com/harvard1/rousseau.htm
 3 FERRARI, Márcio. Jean-Jacques Rousseau. O filósofo da liberdade como valor supremo. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0174/aberto/mt_72479.shtml.
Aula 14_Adam Smith
   
Nesta aula estudaremos Adam Smith. Economista escocês, foi o principal representante do liberalismo econômico. Escreveu Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, em 1776, e A Teoria dos Sentimentos Morais, entre outras obras.
Adam Smith (1723-1790) fazia críticas à política mercantilista e à intervenção do Estado na economia. Para ele, a economia deveria ser dirigida pela lei da oferta e da procura, ou seja, obedecendo ao próprio fluxo da atividade econômica. Ele defendia que a política de câmbio livre deveria ser posta em prática. Pregou a total liberdade de iniciativa em oposição aos privilégios monopolistas. 
Para Smith, a verdadeira fonte de riqueza para as nações era o trabalho. O trabalho, aliado às condições naturais favoráveis – clima, solo etc – permitiria o desenvolvimento das nações.
Smith acreditava que a organização da economia deveria ser espontânea em todas as sociedades nas quais os indivíduos poderiam conduzir-se sob o impulso de seus interesses pessoais. Defendia que os governos deveriam conceder liberdade total à produção nacional e ao comércio internacional. 
Adam Smith foi o responsável por formular os princípios clássicos do imposto, definido, segundo ele, por quatro regras: a justiça - o imposto seria proporcional à renda; a certeza - a taxa imposta deve ser certa e não arbitrária; a comodidade - o imposto deve ser cobrado em uma determinada época e como parecer mais conveniente ao contribuinte; e a economia - os gastos com a cobrança do imposto devem ser reduzidos a quanto for possível. 
Outra contribuição de Adam Smith para a economia foi demonstrar que a divisão do trabalho é capaz de estimular suas forças produtivas. Antes, o trabalhador que produzia uma peça inteira demorava mais tempo para produzi-la do que aquele que realizava apenas uma etapa de sua confecção. Assim, para aumentar a produtividade, o trabalhador deveria ser um técnico responsável por apenas uma etapa da elaboração do produto final. Além disso, o controle sobre cada etapa do trabalho seria maior, possibilitando, ainda, um ritmo maior na produção. .
 
Para ele, a fonte da riqueza é o trabalho de uma nação, dividido entre os indivíduos que a compõem e que se distribuem pelos diferentes ramos de produção: trabalho em geral, sans phrase (sem rodeios), e não apenas o trabalho aplicado na agricultura. E é sobre este par de conceitos, riqueza e trabalho, que Smith apoiará sua reflexão: o desejável crescimento da riqueza é, antes de tudo, o resultado da divisão do trabalho.1
 
Os estudos atuais têm demonstrado que, na verdade, não houve originalidade nas proposições de Smith acerca da divisão do trabalho. Outros autores, antes dele, já haviam refletido a respeito. Segundo Marx e Schumpeter, a originalidade de Smith reside no peso dado por ele à divisão do trabalho no sistema produtivo. 
 
Como Dulgart Stewart - o primeiro biógrafo de Smith - já notara há mais de duzentos anos, o problema de estabelecer a natureza da originalidade e o mérito de Adam Smith como fundador da economia política pode ser resumido da seguinte maneira: “o mérito de um trabalho como o do Sr. Smith deve ser avaliado não tanto pela novidade dos princípios que contém, mas pelos raciocínios empregados para sustentar estes princípios e pela maneira científica pela qual eles são expostos em sua ordem e conexão apropriadas.” (Stewart, 1982, p. 322-3). Ordem e conexão, vale lembrar aqui, são ideias que nos remetem mais uma vez à sua intenção fundamental: fazer para os fenômenos sociais aquilo que Newton fizera para a natureza 2.
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1 CERQUEIRA, Hugo E.A. da Gama. O trabalho e troca: Adam Smith e o surgimento do discurso econômico. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2000. 25p. (Texto para discussão; 142).
2 CERQUEIRA, Hugo E.A. da Gama. Op.cit. 
Aula 15_Kant
   
Na aula de hoje estudaremos Kant, suas ideias principais e sua importância para o pensamento ocidental moderno. Ele foi considerado o último dos grandes filósofos do princípio da era moderna. 
Immanuel Kant (1724-1804), filósofo e professor, nasceu na  Alemanha e nunca abandonou sua cidade natal, Königsberg. Dentre suas obras podemos destacar Ensaio para introduzir em filosofia o conceito de grandeza negativa, de 1763, Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível, de 1770, Crítica da Razão pura, escrita em 1781, Doutrina do Direito, Fundamentação da metafísica dos costumes, de 1785, Crítica da razão prática de 1788 e Crítica do juízo de 1790. 
Sua filosofia crítica tentava responder a três questões: que podemos saber? Que podemos fazer? Que podemos esperar? 
Kant colocava a razão como o centro de tudo. A razão deveria atuar como um tribunal, no qual as legítimas aspirações fossem asseguradas e, ao mesmo tempo, fossem rechaçadas as aspirações infundadas. Neste tribunal, a razão encontrar-se-ia simultaneamente no banco dos réus e no lugar de juiz, pois somente ela possui a competência para se auto julgar. 
Para Kant, o conhecimento é proveniente da intuição, que representa o objeto de forma imediata. Já o espaço e o tempo são a receptividade que define a sensibilidade. Ou seja, o conhecimento vem da intuição e encontra no espaço e no tempo um ambiente propício para se alojar. 
Kant distinguiuduas formas de saber: o conhecimento empírico – baseado na experiência sensível ; o conhecimento puro – que não depende dos sentidos e é anterior à experiência.
A critica da razão pura realizou uma revolução metodológica e foi apresentada como o entendimento legislando sobre a sensibilidade e a imaginação, tornando possível uma física a priori. 
Em resposta às questões apresentadas no início desta aula (Que podemos saber? Que podemos fazer? Que podemos esperar?) Kant apresentou solução para as duas últimas na suas máximas morais:
Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da Natureza. 
Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio. 
Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais. 
 
Quanto ao saber, verificamos que toda a obra de Kant gira em torno de explicar o papel da razão na aquisição de conhecimento. A razão, como ele mesmo disse, é o centro de tudo e deve ser pensada de maneira que nos leve a entendê-la. 
As três questões levantadas por Kant, na crítica da razão pura, são a base para a compreensão de seu pensamento. Primeiro: o que sabemos? Vem da procura pelo conhecimento. Conhecimento este que, muitas vezes, não é o conhecimento que sabemos a priori, mas aquele a ser buscado. Depois: o que devemos fazer? Devemos nos perguntar como o mundo seria, se todos pensássemos da mesma maneira. Por fim: o que devemos esperar? Neste momento, ele apresenta a liberdade como algo a ser alcançado por meio da razão. 
Em síntese, podemos dizer que Kant foi um dos grandes pensadores do iluminismo. Influenciou o pensamento moderno ao demonstrar, por exemplo, que o conhecimento não é reflexo dos objetos. O conhecimento é produto da mente humana, pois ele parte do sujeito que imagina e organiza as informações para explicar o mundo. 
Aula 16_Os economistas liberais
   
Nesta aula estudaremos os economistas liberais, especialmente os pensadores Thomas Malthus e David Ricardo.
Os economistas liberais estavam preocupados com o domínio exercido pelo mercantilismo. Eles contestavam ideias e defendiam os princípios burgueses. Preocupavam-se com a defesa da propriedade privada, com o individualismo econômico, a liberdade de comércio e produção, com o respeito às leis naturais da economia e com a liberdade de realizar contratos de trabalho sem a interferência do Estado ou de organismos que representassem os trabalhadores. 
Um de seus principais pensadores foi Thomas Malthus  (1766-1834), que escreveu Ensaio sobre a população. O inglês Malthus era economista e religioso, e afirmava que a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, enquanto a população cresce em progressão geométrica, provocando a pobreza e a fome. Portanto, nota-se um certo pessimismo em relação ao progresso da sociedade humana. Malthus afirmava que, quando a situação chega ao extremo, a própria natureza se incumbe de tomar providências para diminuir a população, tais como epidemias ou cataclismos. 
Malthus propôs uma solução radical para o problema do crescimento da população: controle de natalidade. Essa tese provocou polêmica e contestações. Os críticos diziam que ele ignorava a estrutura social da economia, as possibilidades criadas pela tecnologia agrícola e, principalmente, que ele não levava em consideração o progresso como uma forma de resolver o problema. 
Outro pensador entre os economistas liberais foi David Ricardo (1772-1883), que escreveu Princípios da economia política e tributação, em 1817. Ricardo também era inglês, mas de origem judaico-portuguesa. Após fazer fortuna na bolsa de Londres, passou a estudar as ciências econômicas, desenvolveu a doutrina da criação e determinação do valor pelo trabalho. Ricardo defendia o câmbio livre no comércio exterior e afirmava que cada país deveria produzir aquilo que lhe custasse menos. Assim, apoiava os interesses da burguesia industrial. Acreditava que deveria manter os salários baixos apenas para que o trabalhador pudesse sobreviver. Assim como Malthus, ignorou as possibilidades criadas pelos progressos técnicos. 
Para Ricardo, o valor que o capitalista conhece como lucro  não provém apenas da força de trabalho, mas da matéria-prima e das ferramentas utilizadas. Desse modo, ele justificava a apropriação por parte do capitalista de porção significativa dos ganhos com a produção do produto. Seria mais uma questão de distribuição da renda. 
Em síntese, podemos dizer que a grande contribuição dos economistas liberais foi pensar sobre os fenômenos econômicos, para além dos princípios mercantilistas, criando as ideias que permitiram embasar o desenvolvimento do capitalismo. 
Resumo_Unidade II
    
Nesta unidade estudamos os pensadores e as teorias que começaram a ser discutidos algum tempo antes do iluminismo e, em alguns casos, estendendo-se até nossos dias. Destacamos também o caráter progressista de algumas ideias e o conservador de outras, tendo o nosso tempo como referência. 
Na aula em que abordamos Nicolau Maquiavel descobrimos que ele apresentou quais seriam as maneiras com que o governante poderia conquistar, aumentar e manter o poder. Falamos sobre as ideias de Montesquieu a respeito da separação dos poderes do Estado em legislativo, executivo e judiciário. 
Destacamos a ideia de Rousseau sobre o contrato social que deve ser o princípio do Estado. 
No campo econômico, vimos Adam Smith, analisamos a sua crítica ao mercantilismo, as suas ideias de livre comércio e o seu combate à interferência do Estado na economia. Vimos, ainda, os teóricos Thomas Malthus e David Ricardo que defenderam, respectivamente, o controle da natalidade e a manutenção dos baixos salários dos trabalhadores. 
Assim, percorremos alguns pensadores e conhecemos as suas ideias e teorias. Algumas ainda vigoram, outras nunca foram utilizadas, mas auxiliaram o debate para o surgimento de novas teorias.
   
Referências Bibliográficas
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria. Forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1984. 
KANT, Emmanuel. Crítica da razão pura. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 
MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O Espírito das Leis. São Paulo: Saraiva, 1994. 
QUESNAY, François. Quadro econômico dos fisiocratas. São Paulo: Abril, 1983. 
ROSSEAU, Jean Jacques. Do contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 1997. 
SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
Aula 17_A política no primeiro reinado
    
Nesta aula vamos estudar as ideias e a conjuntura política do Brasil no período do primeiro reinado, logo após a independência. Vamos apresentar as personagens principais, os partidos e a organização política.
Para nos situarmos com maior facilidade, apresentarei alguns antecedentes políticos. A Independência do Brasil não foi homogeneamente aceita por todas as regiões do país. 
Em muitas delas houve movimentos e rebeliões de protesto. Outro ponto importante foi o reconhecimento da independência: Portugal relutou muito em aceitar, e somente concordou em reconhecer nossa independência depois de receber uma considerável quantia como indenização 1. 
As primeiras medidas tomadas pelo novo monarca D. Pedro I tratavam de começar a organizar o Brasil como um país independente. Nesse contexto deve ser entendida a elaboração da nossa primeira constituição. Para essa elaboração, D. Pedro convocou uma Assembleia Constituinte. 
Neste momento existiam dois partidos no Brasil. Um deles era o Partido Brasileiro, que representava os interesses da classe dominante agrária e de alguns setores da classe média. O outro era o Partido Português que defendia os interesses da burocracia civil e militar do Estado e era formado, majoritariamente, por portugueses. 
O Partido Brasileiro, que era a maioria na Constituinte, defendia um

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