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Karl Marx Quando um espaço contendo objetos é iluminado por luzes de diversas cores vindas de várias fontes, obtemos diferentes imagens, cada uma colocando em destaque certos contornos e formas. De maneira análoga é isso que acontece com o campo científico: os pressupostos teóricos iluminam de forma peculiar a realidade, resultando daí níveis diferentes de abordagens e modelos teóricos particulares. Até este ponto do livro, procuramos reconstruir o percurso que vai desde o surgimento do pensamento sociológico até a organização das primeiras teorias sobre a sociedade, cada uma delas orientada por um conjunto de pressuposto sobre a realidade e a vida social. Assim como as diversas imagens que obtemos do espaço citado na experiência acima, os diferentes modelos teóricos, cada qual”pondo a luz” determinados aspectos da realidade sócia, oferecem diferentes perspectivas que se complementam. Ao longo de nosso curso abordamos as teorias renascentistas de Maquiavel e Morus, os iluministas, o positivismo de Comte, as teorias sociológicas de Durkheim e de Max Weber cada qual iluminando a realidade com suas teorias e explicações. Assim como esses teóricos abordaram a realidade, Karl Marx também se propõe a realizar essa tarefa. Para isso ele elaborou uma ferramenta metodológica que ficou conhecida como o materialismo histórico dialético, originando uma corrente de pensamento revolucionária tanto do ponto de vista teórico metodológico como do ponto de vista da prática social. É também um dos pensadores mais rígido teoricamente e, portanto, que traz mais dificuldade em se compreender, explicar e sintetizar. O ponto inicial de K. Marx era entender e explicar a lógica de funcionamento do sistema capitalista para assim modificá-lo. Ele escreveu sobre Filosofia, Economia, História e Sociologia. Sua intenção porém, não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social. K. Marx não escreveu particularmente para os acadêmicos e cientistas, mas para todos os homens que quisessem assumir a vocação revolucionária. Sua obra máxima, o Capital, destinava-se a todos os homens, na apenas os estudiosos da economia, política e da sociedade. Este é um aspecto singular da teoria marxista. Há um alcance mais amplo nas suas formulações que adquirem dimensões de ideal revolucionário e ação política efetiva. K. Marx, acima de tudo, definia-se como um militante da causa socialista, por isso, suas ideias não se limitaram ao campo teórico e cientifico, mas foram definidas como princípios norteadores para o desenvolvimento de uma nova sociedade. Por isso, o marxismo se organizou como uma corrente política. K. Marx foi especialmente sensível as dificuldades que a Europa enfrentava numa época de pleno e contraditório desenvolvimento do capitalismo: ao mesmo tempo em que crescia, tornava-se mais agudos seus conflitos e dissensões. As contradições básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de superação apontadas pela sua obra não puderam, pois, permanecer ignoradas pela Sociologia, pelos cientistas sociais em geral nem pelo cidadão comum, submetido à ordem social que ele procurou interpretar e criticar. Diferentes modelos de administração pública, de organização partidária, de ação revolucionária e exercícios do poder reconheceram em K. Marx, nos últimos duzentos anos, sua inspiração. As Origens O pensamento marxista foi sintetizador de diferentes preocupações filosóficas, políticas e científicas de sua época, assim como herdeiro de fundamentos formulados por outros pensadores. Em primeiro deve-se fazer referência a influência filosófica de F. Hegel a quem K. Marx absorveu uma diferente percepção de História – não como um movimento linear ascendente como propúnhamos evolucionistas, nem o resultado da ação voluntariosa e consciente de heróis envolvidos, como pensavam os historiadores românticos. Hegel entendia a História como um processo coeso que envolvia diversas instâncias da sociedade – da religião à economia – e cuja dinâmica se dava por oposições entre forças antagônicas – tese e antítese. Desse embate emergia a síntese que fechava o processo “dialético” de conceber a História. K. Marx utilizou esse método de explicação da História para o qual os agentes sociais, apesar de conscientes, não são os únicos responsáveis pela dinâmica dos acontecimentos – as forças em oposição atuam sobre o devir. Também significativo foi o contato de K. Marx com o pensamento do socialista francês e ingleses do século XIX. O pensamento de Claude Henri de Rouvroy, ou conde de Saint-Simon (1760-1825), François Charles Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858). K. Marx admirava o pioneirismo desses críticos da sociedade burguesa e suas propostas de transformação social, apesar de julgá-las utópicas, ou seja, idealistas e irreais. Esses autores, influenciados por Rousseau – que atribuíra a origem das desigualdades sociais ao advento da propriedade privada – propunham transformar radicalmente a sociedade, implantando uma ordem social justa e igualitária, da qual seriam eliminados o individualismo, a competição e a propriedade privada. Os métodos para isso variavam do uso maciço da propaganda até a realização de experiências modelos, que deveriam servir de guia para o restante da sociedade. Entretanto, nenhum deles havia considerado seriamente a necessidade de luta política entre classes sociais e papel revolucionário na implantação de uma nova ordem social. Era por esse aspecto que K. Marx os dominava de utópicos, em contrapartida o socialismo defendido por ele era denominado de científico. Há ainda na obra de K. Marx toda a leitura crítica do pensamento clássico dos economistas ingleses, em particular de Adam Smith e David Ricardo, trabalho que tomou sua atenção até o final de sua vida e resultou na maior parte de seu esforço teórico. Essa trajetória é marcada pelo desenvolvimento de conceitos importantes como alienação, classes sociais, valor, mercadoria, trabalho, mais valia, modo de produção, etc. Finalmente, impossível não fazer referência ao seu grande interlocutor trabalhou com K. Marx de 1844 até sua morte, sendo co-fundador do socialismo científico, também conhecido como por comunismo, doutrina que demonstrava pela analise cientifica e dialética da realidade social que as contradições históricas do capitalismo levariam, necessariamente, à sua superação por um regime igualitário e democrático que seria, de fato, sua antítese. A ideia de alienação. A palavra alienação tem um conteúdo jurídico que se designa a transferência ou venda de um bem ou direito. Mas, desde a publicação da obra de Rousseau (1712-1778), passa a predominar para o termo a ideia de privação, falta ou exclusão. Filósofos alemães, como Hegel e Feurbach, também fazem uso da palavra, emprestando-lhe um sentido de desumanização e injustiça que será absorvido por K. Marx. Este faz do conceito uma peça chave de sua teoria para a compreensão da exploração econômica exercida sobre o trabalhador no capitalismo. A indústria, a propriedade privada e o assalariamento alienavam ou separavam o operário dos meios de produção – ferramentas, matéria prima, terra e máquina – e do fruto de seu trabalho, que se tornava propriedade privada de capitalista. Politicamente, também o homem se tornou alienado, pois o princípio da representatividade, base do liberalismo, criou a ideia de Estado como um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos. K. Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta. Segundo K. Marx, a divisão social do trabalho fez com que o pensamento filosófico se tornasse atividade exclusiva de um determinadogrupo. As diversas escolas filosóficas passaram a expressar a visão parcial que esse grupo tem da vida, da sociedade e do Estado, refletindo assim, seus interesses. Algumas, como o liberalismo, transformaram-se em verdadeira filosofia do Estado, com o intuito explicito de defendê-lo e justificá-lo. O mesmo aconteceu com o pensamento científico que, pretendendo-se universal, passou a expressar a parcialidade da classe social que ele representa. Esse comprometimento do filósofo e do cientista em face do poder resultou também em nova forma de alienação para o homem. Alienado, separado e mutilado, o homem só pode recuperar a integridade de sua condição humana pela crítica radical ao sistema econômico, á política e a filosofia que o excluíram da participação efetiva na vida social. Essa crítica está assim unida á práxis – novo método de abordar e explicar a sociedade e também um projeto para a ação sobre ela. Assim o marxismo se propunha como opção libertadora para o homem. Mais exatamente, a alienação é o efeito necessário de certas estruturas ou formações sociais que, embora sendo produto da ação humana, têm por efeito tornar o homem estranho a si mesmo e o resultado de suas ações modificadas e eventualmente invertidos em relação a suas intenções, desejos ou necessidades. BOUDON, R. Dicionário Crítico de Filosofia, pág. 234 As classes sociais. Outro conceito básico do marxismo de classes sociais, que K. Marx desenvolve na busca por denunciar as desigualdades sociais contra a falsa ideia de igualdade política e jurídica proclamada pelos liberais. Para ele, os inalienáveis direitos de liberdade e justiça, considerados naturais pelo liberalismo, não resistem às evidências das desigualdades sociais promovidas pelas relações de produção que dividem os homens em proprietários e não proprietários de meios de produção. Dessa divisão se originam as classes sociais: os proletários – despossuídos dos meios de produção, que vendem sua força de trabalho em troca de salário – e os capitalistas, que possuindo meios de produção sob a forma legal de propriedade privada, apropriam-se do produto do trabalho de seus operários em troca de salário do qual eles dependem para sobreviver. As classes sociais formadas no capitalismo – burgueses e proletários – estabelecem intransponíveis desigualdades entre os homens e relações que são, antes de tudo, de antagonismo e exploração. A oposição e o antagonismo dos interesses inconciliáveis entre as classes – o capitalismo desejando preservar seu direito à propriedade privada dos meios de produção e dos produtos e à máxima exploração do trabalho dos operários, pagando baixos salários ou ampliando sua jornada de trabalho. O trabalhador, por sua vez, luta contra a exploração, reivindicando menor jornada de trabalho, melhores salários e participação nos lucros que se acumulam com a venda daquilo que ele produziu. Por outro lado, apesar das oposições, as classes sociais são também complementares e interdependentes, pois uma só existe em função da outra. Só existem proprietários porque há uma massa de despossuídos cuja única propriedade é sua força de trabalho, dispostos a vendê-la para assegurar a sua sobrevivência. De igual modo, só existem proletários por que alguém luta com sua condição de assalariamento. Para K. Marx, a História humana é a História da luta de classes, da disputa constante por interesses que se opõe, embora essa oposição nem sempre se manifeste socialmente sob a forma de conflito ou guerra declarada. As divergências e antagonismos das classes são subjacentes a toda relações social, nos mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o surgimento da sociedade. A origem histórica do capitalismo Para desenvolver sua teria,Marx se vale de conceitos abrangentes, da análise crítica do momento que vive e de uma sólida visão histórica com as quais procura explicar a origem das classes sociais e do capitalismo. É assim que ele atribui a origem das desigualdades sociais a uma enorme quantidade de riquezas que se concentra, na Europa do século XIII até meados do século XVIII, nas mãos de uns poucos indivíduos, que têm o objetivo e as possibilidades de acumular bens e obter cada vez mais lucros. No início, essa acumulação de riquezas se fez por meio da pirataria, d roubo, dos monopólios e do controle dos preços praticados pelos estados absolutistas. A comercialização, principalmente com as colônias, era a grande fonte de riqueza para os estados e para a nascente burguesia. Mas, a partir do século XVI, o artesão e as corporações de ofício foram paulatinamente substituídos, respectivamente, pelo trabalhador “livre” assalariado e pela indústria. Na produção artesanal européia da Idade Média e do renascimento, o trabalhador mantinha em sua casa os instrumentos de produção. Aos poucos, surgiram oficinas organizadas por comerciantes enriquecidos que produziam mais a baixo custo. A generalização desses galpões originou, em meados do século XVIII, na Inglaterra, a Revolução Industrial. Esta possibilitou a mecanização ampla e sistemática da produção de mercadorias, acelerando o processo de separação entre o trabalhador e os instrumentos de produção levando à falência dos artesãos. As máquinas e tudo o mais necessário ao processo produtivo ficaram acessíveis somente aos empresários capitalistas com os quais os artesãos, isolados, não podiam competir. Assim multiplicou-se o número de operários, isto é, trabalhadores expropriados, artesãos que não conseguiam competir com o sistema industrial e desistiam da produção individual, empregando-se nas indústrias, constituindo uma nova classe social. O salário O operário é o individuo que, nada possuindo é obrigado a sobreviver da sua própria força de trabalho. No capitalismo, ele se torna uma mercadoria, algo útil, que pode se comprar e vender. Por meio de um contrato estabelecido entre ele e o capitalista, a quem é permitido comprar ou “alugar por certo tempo” sua força de trabalho em troca de uma quantia em dinheiro, o salário. O salário é, assim, o valor da força de trabalho, considerada como mercadoria. Como a fora de trabalho não é uma coisa, mas uma capacidade, inseparável do corpo do operário, o salário deve corresponder à quantia que permita ao operário alimentar-se, vestir-se, cuidar de seus filhos, recuperarem suas energias e, assim, estar de volta ao serviço no dia seguinte. Em outras palavras, o salário deve garantir as condições de subsistência do trabalhador e sua família. O cálculo do salário depende do preço dos bens necessários à subsistência do trabalhador. O tipo de bens necessários depende, por sua vez, dos hábitos e dos costumes dos trabalhadores. Isso faz com que o salário varie de lugar para lugar. Além disso, o salário depende do próprio trabalhador. No cálculo do salário um operário qualificado deve-se computar o tempo que ele gastou com educação e treinamento para desenvolver suas capacidades. Trabalho, valor e lucro O capitalismo vê a força de trabalho como mercadoria, mas é claro que não se trata de uma mercadoria qualquer. Ela é a única capaz de criar valor. Os economistas clássicos ingleses já haviam percebido isso ao reconhecerem o trabalhador como a verdadeira fonte de riqueza da sociedade. Marx foi além Para ele, o trabalhador, ao s exercer sobre determinados objetos, provoca nestes uma espécie de “ressurreição”. Tudo o que é criado pelo homem, diz Marx, contém trabalho passado, “morto” que só pode ser reanimado por outro trabalho. Assim, por exemplo, um pedaço de couro animal curtido, agulha, linha, etc. são todos produtos do trabalho humano. Deixados em si mesmos, são coisas mortas, utilizadas para produzir um sapato, renascem como meios de produção e se incorporam em um novo produto, uma nova mercadoria,um novo valor. Os economistas ingleses já havia postulado que o valor da mercadoria dependia do tempo de trabalho gasto na produção. Marx acrescentou que esse tempo de trabalho se estabelecia em relação a habilidades individuais médias e às condições técnicas vigentes na sociedade. Por isso, dizia que no valor de uma mercadoria era incorporado o “tempo de trabalho humano abstrato socialmente necessário” à sua produção. De modo geral, as mercadorias resultam da colaboração de várias habilidades profissionais distintas; por isso, seu valor incorpora todos os tempos de trabalho específicos. O valor dos trabalhos está embutido no preço que o capitalista para ao adquirir essas matérias primas e instrumentos, os quais, juntamente com a quantia para a título de salário, serão incorporados ao valor do produto. Marx demonstra primeiro a armadilha da economia vulgar, aquela que consiste em se ater apenas às aparências do jogo de oferta e procura para analisar os fenômenos do mercado. LALLEMENT, Michael. História das ideias sociológicas. Op. Cit, pág.128 Sabemos que o capitalista produz para obter lucro, isto é, que ganhar com seus produtos mais do que investiu. Partindo da dinâmica que executamos em sala de aula, gerou uma duvida no inicio d processo, pois, se o valor do produto é apenas a soma dos gastos no processo anterior, então qual é o lucro do capitalista? De acordo com analise de Marx, não é no âmbito da compra e venda da mercadoria que se encontram as bases estáveis para o lucro dos capitalistas individuais nem para a manutenção do sistema capitalista. Ao contrário, a valorização da mercadoria se dá no âmbito de sua produção. As relações políticas Após a análise detalhada do modo de produção capitalista, Marx passa ao estudo das formas políticas produzidas no seu interior. Ele constata que as diferenças entre as classes sociais não se reduzem a diversas quantidades de riquezas, mas expressam uma diferença de existência material. Os indivíduos de uma mesma classe partilham de uma situação de classe que lhes é comum, incluindo valores e comportamentos, regras de convivência e interesses. A essas diferenças econômicas e sociais segue-se uma distribuição de poder. Diante da alienação do operário, as classes economicamente dominantes desenvolveram formas de dominação política que lhes permitem apropriar-se do aparato de poder do estado e, com ele, legitimar seus interesses sob a forma de leis, planos econômicos e políticos. Cada forma assumida pelo estado n sociedade burguesa, seja sob o regime liberal, monárquico, constitucional ou ditatorial representa as diferentes maneiras pelas quais ele se transforma num “comitê para gerenciar os negócios da burguesia”, sob quaisquer regimes já propostos, dos mais liberais aos mais ditatoriais. Para Marx, as condições especificas do trabalho geradas pela industrialização tendem a promover a consciência de que há interesses comuns, para o conjunto da classe operaria e, consequetemente, tendem a impulsionar a sua organização política para a ação. A classe trabalhadora, portanto, vivendo uma mesma situação de classe e sofrendo progressivo empobrecimento em razão das formas cada vez mais eficientes de exploração do trabalhador, acaba por se organizar politicamente. Essa organização é que permite a tomada de consciência da classe operária e sua mobilização para a ação política. Materialismo Histórico Para entender o capitalismo e explicar a natureza da organização econômica humana, Marx desenvolveu uma teoria abrangente universal, que procura dar conta de toda e qualquer forma produtiva criada pelo homem. Os princípios básicos dessas teorias estão expressos em seus métodos de análise – o materialismo histórico. Marx parte do princípio de que a estrutura de uma sociedade qualquer reflete a forma como os homens se organizam para a produção social de bens que engloba dois fatores fundamentais: as forças produtivas e as relações de produção. As forças produtivas constituem as condições materiais de toda a produção.Qualquer processo de trabalho implica determinados objetos – matérias primas identificadas e extraídas da natureza – e determinados instrumentos – conjunto de forças naturais já transformadas e adaptadas pelos homens, como ferramentas ou máquinas, utilizadas segundo uma orientação técnica e específica. O homem, principal elemento das forças produtivas, é o responsável por fazer a ligação entre a natureza, a técnica e os instrumentos. O desenvolvimento da produção vai determinar a combinação e o uso desses diversos elementos: recursos naturais, mão de obra disponível, instrumentos e técnicas produtivas. Essas combinações procuram atingir o máximo de produção em função do mercado existente. A cada forma de organização das forças produtivas corresponde uma determinada forma de relação de produção. As relações de produção são as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. Ele se refere às diversas maneiras pelas quais são apropriados e distribuídos os elementos envolvidos no processo de trabalho: as matérias-primas, os instrumentos e a técnica, os próprios trabalhadores e o produto final. Assim, as relações de produção podem ser, num determinado momento, cooperativistas (como em um mutirão), escravistas (como na Antiguidade), servis (como na Europa medieval), ou capitalistas (como na indústria moderna). Forças produtivas e relações de produção são condições naturais e históricas de toda atividade produtiva que ocorre em sociedade. As formas pelas quais ambas existem e são reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que Marx denominou “modo de produção”. Para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental para compreender como se organiza e funciona uma sociedade. As relações de produção, nesse sentido, são consideradas as mais importantes relações sociais. Os modelos de famílias, lei, a religião, as ideias políticas, os valores sociais são aspectos cuja explicação depende, em princípio, do estudo do desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de produção. Analisando a História, Marx identificou alguns modos de produção específicos: sistema comunal produtivo, modo de produção asiático, modo de produção antigo, modo de produção germânica, modo de produção feudal e modo de produção capitalista. Cada qual representa diferentes formas de organização da propriedade privada, comunitária ou estatal e da exploração do homem pelo homem. Em cada modo de produção, a desigualdade de propriedade, como fundamento das relações de produção, cria contradições bascas com o desenvolvimento das forças produtivas. Essas contradições se acirram até provocar um processo revolucionário, com a derrocadado modo de produção vigente e a ascensão de outro. A História e a totalidade A teoria marxista repercutiu de maneira decisiva não só na Europa – objeto primeiro de estudos – como nas colônias européias e em movimentos de independência. Incentivou os operários a organizarem partidos marxistas – e os sindicatos revolucionários – levou intelectuais á crítica da realidade e influenciou as atividades científicas de modo geral e as ciências humanas em particular. Além de elaborar uma teoria que condenava as bases sociais da espoliação capitalista, conclamando os trabalhadores a construir, por meio de sua práxis revolucionária, uma sociedade assentada na injustiça social e igualdade real entre os homens, Marx conseguiu, como nenhum outro, com sua obra, estabelecer relações profundas entre a realidade, a filosofia e a ciência. Por sua formação filosófica, Marx concebia a realidade social como uma concretude histórica, isto é, como um conjunto de relações de produção que caracterizava cada sociedade em um tempo e espaço determinado.Na obra “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, Marx dá um exemplo de seu método de analisar o golpe de estado ocorrido na França do século XIX, encabeçado pelo sobrinho de Napoleão I, mostrando como este parodiou o feito do tio que, em 1799, substituiu a República pela ditadura. Marx vaticinou o fracasso da aventura do sobrinho, porque este aplicou a mesma fórmula política do tio, porém, para uma conjuntura totalmente diferente daquela enfrentada por Napoleão Bonaparte. Por outro lado, cada sociedade representava para Marx uma totalidade, isto é, um conjunto único e integrado das diversas formas de organização humana nas suas diversas instâncias – família, poder e religião. Entretanto, apesar de considerar as sociedades da sua época e do passado como totalidades e como situações históricas concretas, Marx conseguiu, pela profundidade de suas analises, extrair conclusões de caráter geral e aplicáveis as formas sociais diferentes. Assim, analisar o golpe de Luís Bonaparte identifica na estrutura de classes estabelecidas na França aspectos universais da dinâmica da luta de classes. A amplitude da contribuição de Marx O sucesso e a penetração do materialismo histórico, que no campo da ciência – ciência política, econômica e social – quer no campo da organização política, se deve ao universalismo de seus princípios e ao caráter totalizador que Marx imprimiu às suas ideias. Deve-se também ao caráter militante das ideias propostas, voltadas para a ação prática e para a práxis revolucionária. Além desse universalismo da teoria marxista – mérito que a diferencia de todas as teorias subseqüentes – outros questões adquiriram nova dimensão com os princípios sustentados por Marx. Um deles foi à objetividade científica, tão perseguida pelas ciências humanas. Para Marx, a questão da objetividade só se coloca como consciência crítica. A ciência, assim como a ação política, só pode ser verdadeira e não ideológicas se refletir uma situação de classe e, consequetemente uma visão crítica da realidade. Assim, objetividade não é uma questão de método, mas de como o pensamento cientifico se insere no contexto das relações de produção e na História. A ideia de uma sociedade “doente” ou “normal”, preocupação dos cientistas sociais positivistas, desaparece em Marx. Para ele, a sociedade é constituía de relações de conflito e é de sua dinâmica que surge a mudança social. Fenômenos como luta, contradição, revolução e exploração são constituintes dos diversos momentos históricos e não disfunções sociais. A partir do conceito de movimento histórico proposto por Hegel, assim como do historicismo existente em Weber, Marx redimensiona o estudo da sociedade humana. Suas ideias marcaram de maneira definitiva o pensamento científico e a ação política dessa época, assim como das posteriores, formando duas diferentes maneiras de atuação sob a bandeira do marxismo. A primeira é abraçar o ideal comunista, de uma sociedade em que estão abolidas a relação de classes sociais e propriedade privada dos meios de produção. Outra é exercer acrítica à realidade social, procurando suas contradições, desvendando as relações de exploração e expropriação do homem pelo homem, de modo a entender o papel dessas relações no processo histórico. Não é preciso afirmar a contribuição da teoria marxista para o desenvolvimento das Ciências Sociais. A abordagem do conflito, da dinâmica histórica, das relações entre consciência e realidade e da correta inserção do homem e de sua práxis no contexto social foram conquistadas jamais foram abandonadas pelos sociólogos. Isso sem contar a habilidade com que o método marxista possibilita o constante deslocamento do geral para o particular, das leis macrosociais para suas manifestações históricas, do movimento estrutural da sociedade para a ação humana individual e coletiva.
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