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apostila psicologia jurídica 1 a 5.docx

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Disciplina: Psicologia Jurídica
Professora: Jorgelina Ines Brochier
Coletânea de textos I
Caros alunos e alunas: Esta coletânea de textos aborda conteúdos desenvolvidos ao longo das primeiras aulas (1 até a 5). Trata-se de um material de apoio que está articulado com os planos de aula e com os livros didáticos desta disciplina. Assim, convido cada um de vocês a ler e, especialmente, analisar os textos propostos. Espero, portanto, que esta análise promova reflexões que potencializem novos saberes e horizontes!
AULAS 1 E 2
PSICOLOGIA JURÍDICA: considerações iniciais
Caracterização: A psicologia jurídica é uma especialização que psicólogos, regulamentada pela resolução 014/00 do Conselho Federal de Psicologia em 20 de dezembro de 2000. 
- Constitui um conjunto de práticas e saberes sistematizados que se relacionam com o conhecimentos e práticas produzido pelo Direito, incorrendo numa interseção. Portanto há um diálogo, uma interação. Tal processo de interação também inclui o diálogo com outros saberes como da Sociologia, Criminologia, entre outros. 
Psicologia: ser --------- Direito: dever-ser
Complementaridade. Interlocução. Interseção
As questões humanas tratadas no âmbito do Direito e do judiciário são das mais complexas. Nesse cenário, o que está em questão “é como as leis que regem o convívio dos homens e das mulheres de uma dada sociedade podem facilitar a resolução de conflitos. Aqueles que têm alguma experiência na área se dão conta que as questões não são meramente burocráticas ou processuais. Elas revelam situações delicadas, difíceis e dolorosas” (LEAL, 2008). A referida autora, expõe alguns exemplo dos motivos pelos quais as pessoas recorrem ao judiciário: “pais que disputam a guarda de seus filhos ou que reivindicam direito de visitação, pois não conseguem fazer um acordo amigável com o pai ou a mãe de seu filho; maus-tratos e violência sexual contra criança, praticado por um dos pais ou pelo (a) companheiro(a) deste; casais que anseiam adotar uma criança por terem dificuldades de gerar filhos; pais que adotam e não ficam satisfeitos com o comportamento da criança e a devolvem ao Juizado; jovens que se envolvem com drogas/tráfico, ou, passam a ter outros comportamentos que transgridam a lei, e seus pais não sabem como fazer para ajudá-los uma vez que não contam com o apoio de outras instituições do Estado (de educação e de saúde, por exemplo)”. 
Psicologia Jurídica, Forense ou Criminal? O termo Psicologia Jurídica é uma denominação genérica das aplicações da Psicologia relacionadas às práticas jurídicas, enquanto Psicologia Criminal, Psicologia Forense e Psicologia Judiciária são especificidades aí reconhecíveis e discrimináveis. O acadêmico que produz um artigo discutindo as interfaces entre a Psicologia e o Direito; o psicólogo assistente técnico que questiona as conclusões de um estudo psicológico elaborado por um psicólogo judiciário; como também o psicólogo judiciário que elabora uma dissertação de mestrado a partir de sua prática cotidiana no Foro, todos são praticantes da Psicologia Jurídica. 
Por exemplo, ao atuar no âmbito da Psicologia Jurídica, o profissional de psicologia coloca seus conhecimentos à disposição do juiz (que irá exercer a função julgadora), assessorando- o em aspectos relevantes para determinadas ações judiciais, trazendo aos autos uma realidade psicológica dos agentes envolvidos que ultrapassa a literalidade da lei, e que de outra forma não chegaria ao conhecimento do julgador por se tratar de um trabalho que vai além da mera exposição dos fatos; trata-se de uma análise aprofundada do contexto em que essas pessoas que acorreram ao Judiciário (agentes) estão inseridas. Essa análise inclui aspectos conscientes e inconscientes, verbais e não verbais, autênticos e não autênticos, individualizados e grupais, que mobilizam os indivíduos às condutas humanas.
A Psicologia Forense corresponde a toda aplicação do saber psicológico realizada sobre uma situação que se sabe estar (ou estará) sob apreciação judicial, ou seja, a toda a Psicologia aplicada no âmbito de um processo ou procedimento em andamento no Foro (ou realizada vislumbrando tal objetivo). Incluem as intervenções exercidas pelo psicólogo criminal, pelo psicólogo judiciário, acrescidas daquelas realizadas pelo psicólogo assistente técnico.
A Psicologia Criminal é um subconjunto da Psicologia Forense e, segundo Bruno (1967), estuda as condições psíquicas do criminoso e o modo pelo qual nele se origina e se processa a ação criminosa. Seu campo de atuação abrange a Psicologia do delinquente, a Psicologia do delito e a Psicologia das testemunhas.
A Psicologia Judiciária também é um subconjunto da Psicologia Forense e corresponde a toda prática psicológica realizada a mando e a serviço da justiça. É aqui que se exerce a função pericial. A Psicologia Judiciária está contida na Psicologia Forense, que está contida na Psicologia Jurídica. A Psicologia Judiciária corresponde à prática profissional do psicólogo judiciário, sendo que toda ela ocorre sob imediata subordinação à autoridade judiciária.
A PSICOLOGIA JURÍDICA ABRANGE AS SEGUINTES ÁREAS DE ATUAÇÃO:
O Direito de Família e o Direito da Criança e do Adolescente fazem parte do Direito Civil: Como na prática as ações são ajuizadas em varas diferenciadas, optamos por fazer essa divisão também didaticamente. 
- PSICÓLOGO JURÍDICO E O DIREITO DE FAMÍLIA: Processos de separação e divórcio. Disputa de guarda e regulamentação de visitas.
Nos processos de separação de cunho litigioso o psicólogo pode operar como mediador (nos casos em que os litigantes se disponham a tentar um acordo) ou realizar uma avaliação de uma das partes ou do casal, podendo o psicólogo sugerir encaminhamento psicológico ou psiquiátrico da(s) parte(s).
Processos de separação e divórcio englobam: Partilha de bens. Guarda de filhos. Estabelecimento de pensão alimentícia. Direito à visitação. Desse modo, seja como avaliador ou mediador, o psicólogo buscará os motivos que levaram o casal ao litígio e os conflitos subjacentes que impedem um acordo. 
Disputa de guarda: O juiz pode solicitar uma perícia psicológica para que se avalie qual dos genitores tem melhores condições de exercer esse direito.
Além dos conhecimentos sobre avaliação, psicopatologia, psicologia do desenvolvimento e psicodinâmica do casal, assuntos atuais como a guarda compartilhada, falsas acusações de abuso sexual e síndrome de alienação parental podem estar envolvidos nesses processos. 
Pais que colocam os interesses e a vaidade pessoal acima do sofrimento que uma disputa judicial pode acarretar aos filhos, na tentativa de atingir ou magoar o ex-companheiro, revelam-se com problemas para exercer a parentalidade de forma madura e responsável (CASTRO, 2005). 
Regulamentação das visitas: As avaliações são realizadas para esclarecer conflitos por meio da compreensão da dinâmica familiar, sugerindo medidas a serem adotas.
- PSICÓLOGO JURÍDICO E O DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: Adoção. Destituição do poder familiar. Adolescentes autores de atos infracionais.
Adoção: Avalia se os candidatos que estão dentro das exigências legais, buscando-se assessorar os avaliados e verificar os mais aptos, objetivando prevenir a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução. 
Destituição do poder familiar: O processo de separar a criança de sua família exige muita atenção e cuidado, pois, independentemente da causa da remoção (doença, negligência, abandono, maus-tratos, abuso sexual, ineficiência ou morte dos pais), a transferência da responsabilidade para estranhos deve ser realizada com base em muita reflexão (CESCA, 2004).
O que é poder familiar? É o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores. É um direito concedido a ambos os pais, sem nenhuma distinção ou preferência, para que eles determinem a assistência, criação e educação dos filhos. Esse direito é assistido aos genitores, ainda que separados, e a guarda conferida a apenasum dos dois. A legislação brasileira prevê casos em que esse direito pode ser suspenso, ou até mesmo destituído, de forma irrevogável.
Adolescentes autores de atos infracionais: São submetidos a medidas socioeducativas que objetivam a responsabilidade dos autores e focalizam aspectos educativos, com o trabalho do psicólogo devendo convergir com esses objetivos, possibilitando uma reintegração social.
- PSICÓLOGO JURÍDICO E O DIREITO CIVIL: Indenizações oriundas de danos psíquicos; Interdição judicial.
Dano psíquico: Por intermédio de uma perspectiva teórica e de seu instrumental técnico, o psicólogo avaliará a presença real do dano. COMO DEFINIR DANO PSÍQUICO? Sequela, na esfera emocional ou psicológica, de um fato particular traumatizante. Pode-se dizer que o dano está presente quando são gerados efeitos traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório comportamental da vítima.
Interdição: O psicólogo nomeado perito pelo juiz realiza avaliação que comprove ou não a enfermidade mental. OBJETIVO: a Justiça quer saber se a doença mental de que o paciente é portador o torna incapaz de reger sua pessoa e seus bens. O QUE É INTERDIÇÃO?
Refere-se à incapacidade de exercício por si mesmo dos atos da vida civil. Uma das possibilidades de interdição previstas pelo Código Civil são os casos em que, por enfermidade ou deficiência mental, os sujeitos de direito não tenham o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil.
- PSICÓLOGO JURÍDICO E O DIREITO PENAL: Verificação de periculosidade. Discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento. A atuação dar-se-á junto ao Sistema Penitenciário e aos Institutos Psiquiátricos Forenses. 
Sistema Penitenciário: Segundo Lago et al., (2009), a Lei de Execução Penal (LEP), criada em 1984, foi um elemento fundamental, garantindo a existência oficial do trabalho dos psicólogos no sistema prisional. 
A Lei 10.792/2003 trouxe mudanças à LEP, uma vez que extinguiu o exame criminológico feito para instruir pedidos de benefícios e o parecer da Comissão Técnica de Classificação Brasil (2003). Para a concessão de benefícios legais, as únicas exigências previstas são o lapso de tempo já cumprido e a boa conduta.
Institutos Psiquiátricos Forenses: Trabalho realizado junto aos doentes mentais que cometeram algum delito. Esses sujeitos recebem medida de segurança, decretada pelo juiz, e são encaminhados para Institutos Psiquiátricos Forenses (IPF). Além de abrigar esses doentes mentais, os IPF são responsáveis: Pela realização de perícias oficiais na área criminal. Pelo atendimento psiquiátrico à rede penitenciária.
- PSICÓLOGO JURÍDICO E O DIREITO DO TRABALHO: A perícia a ser realizada nesses casos serve como uma vistoria para avaliar o nexo entre as condições de trabalho e a repercussão na saúde mental do indivíduo. Que processos que demandam a atuação do psicólogo nesses contextos? Danos psicológicos causados por acidentes de trabalho. Afastamento e aposentadoria por sofrimento psicológico.
OUTROS ÂMBITOS DE ATUAÇÃO: Psicologia Jurídica e Direitos Humanos (defesa e promoção dos Direitos Humanos). Proteção a Testemunhas (existem no Brasil programas de Apoio e Proteção a Testemunhas); Formação e Atendimento aos Juízes e Promotores (avaliação psicológica na seleção de juízes e promotores, consultoria e atendimento psicológico aos juízes e promotores); Vitimologia (violência doméstica, atendimento a vítimas de violência e seus familiares) e Autópsia Psicológica (avaliação de características psicológicas de uma pessoa já falecida mediante informações de terceiros e de análise de documentos). Psicologia Policial/Militar: Treinamento e formação básica em Psicologia Policial, avaliação pericial em instituição militar, implantação do curso de direitos humanos para policiais civis e militares. Mediação: no âmbito do direito de família e no direito penal. Trata-se de uma forma inovadora de fazer justiça: As partes são as responsáveis pela solução do conflito com ajuda de um terceiro imparcial que atuará como mediador. 
Importante: Na aula 4 (material didático, Estácio, SAI: são classificadas e descritas as áreas mais tradicionais e os âmbitos mais recentes de atuação do psicólogo jurídico. Vale a pena ler!
Principais atribuições do psicólogo jurídico, segundo o Conselho Federal de Psicologia: 
(1) Colabora no planejamento e execução de políticas de cidadania, direitos humanos e prevenção da violência, centrando sua atuação na orientação do dado psicológico repassado não só para os juristas como também aos indivíduos que carecem de tal intervenção, para possibilitar a avaliação das características de personalidade e fornecer subsídios ao processo judicial, além de contribuir para a formulação, revisão e interpretação das leis. (2) Avalia as condições intelectuais e emocionais de crianças, adolescentes e adultos em conexão com processos jurídicos, seja por deficiência mental e insanidade, testamentos contestados, aceitação em lares adotivos, posse e guarda de crianças, aplicando métodos e técnicas psicológicas e/ou de psicometria, para determinar a responsabilidade legal por atos criminosos. (3) Atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais, Justiça do Trabalho, da família, da criança e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e perícias, para serem anexados aos processos, a fim de realizar atendimento e orientação a crianças, adolescentes, detentos e seus familiares. (4) Orienta a administração e os colegiados do sistema penitenciário sob o ponto de vista psicológico, usando métodos e técnicas adequados, para estabelecer tarefas educativas e profissionais que os internos possam exercer nos estabelecimentos penais; realiza atendimento psicológico a indivíduos que buscam a Vara de Família, fazendo diagnósticos e usando terapêuticas próprias, para organizar e resolver questões levantadas; participa de audiência, prestando informações, para esclarecer aspectos técnicos em psicologia a leigos ou leitores do trabalho pericial psicológico. (5) Atua em pesquisas e programas socioeducativos e de prevenção à violência, construindo ou adaptando instrumentos de investigação psicológica, para atender às necessidades de crianças e adolescentes em situação de risco, abandonados ou infratores; (6) Elabora petições sempre que solicitar alguma providência ou haja necessidade de comunicar-se com o juiz durante a execução de perícias, para serem juntadas aos processos. (7) Realiza avaliação das características das personalidade, através de triagem psicológica, avaliação de periculosidade e outros exames psicológicos no sistema penitenciário, para os casos de pedidos de benefícios, tais como transferência para estabelecimento semiaberto, livramento condicional e/ou outros semelhantes. (8) Assessora a administração penal na formulação de políticas penais e no treinamento de pessoal para aplicá-las. (9) Realiza pesquisa visando à construção e ampliação do conhecimento psicológico aplicado ao campo do direito. (10) Realiza orientação psicológica a casais antes da entrada nupcial da petição, assim como das audiências de conciliação. (11) Desenvolve atendimento a crianças envolvidas em situações que chegam às instituições de direito, visando à preservação de sua saúde mental. (12) Auxilia juizados na avaliação e assistência psicológica de menores e seus familiares, bem como assessorá-los no encaminhamento a terapia psicológica quando necessário. (13) Presta atendimento e orientação a detentos e seus familiares visando à preservação da saúde. Acompanha detentos em liberdade condicional, na internação em hospital penitenciário, bem como atuar no apoio psicológico à sua família. (14) Desenvolve estudos e pesquisas na área criminal, constituindo ou adaptando instrumentos de investigação psicológica.
INDICAÇÕES: VÍDEO: História e Memória da Psicologia em SP. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/juridica/juridica.html. • ALTOÉ, Sônia. Atualidade da Psicologia Jurídica. Revista de Pesquisadores da Psicologia no Brasil (UFRJ,UFMG, UFJF, UFF, UERJ, Unirio). Juiz de Fora, Ano 1, Nº 2, julho-dezembro 2001. (Disponível na internet).• JACÓ-VILELA, Ana Maria. Os primórdios da psicologia jurídica. In: BRITO, Leila Maria Torraca de (Org.). Temas de Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Relumé Dumará, 1999.
IMPORTANTE: Ler (e estudar) as aulas 1, 2 e 3 elaboradas pela ESTÁCIO e disponíveis no Sia e que contemplam as seguintes temáticas: Aula 1: História da psicologia jurídica. Aula 2: Questões éticas. A elaboração de laudos e pareceres. Aula 3: Manual de elaboração de documentos. 
Quadro Síntese
1. O psicólogo jurídico deve estar apto para atuar no âmbito da justiça considerando a perspectiva jurídica dos fatos jurídicos, colaborar com o planejamento e execução de políticas de cidadania, Direitos Humanos e prevenção da violência; fornecer subsídios ao processo judicial; além de contribuir para a formulação, revisão e interpretação das leis. 
2. A Psicologia Jurídica como um campo de atuação do psicólogo tem-se feito presente nas diversas instituições do direito, como no sistema penitenciário e nos espaços do poder judiciário - Varas de Família e Varas da Infância e da Juventude. Entretanto, esta profícua relação de saberes e fazeres entre a Psicologia, o Direito e demais áreas afins, também tem se concretizado em outros inúmeros espaços. Entre eles, podem ser referidos os Juizados Especiais (Cível e Criminal), as Varas de Penas Alternativas e as Varas Cíveis em geral, assim como outros locais do Poder Judiciário, nos quais já se tem notícias de diversos trabalhos que estão sendo desenvolvidos por psicólogos que atuam em parceria com os operadores do direito, no que diz respeito à necessidade de intervenções específicas do saber psicológico na justiça. 
Além destes, também vale citar a presença de psicólogos em ambientes das Forças Armadas e Secretarias Estaduais de Segurança, Ministério Público, Escolas de Magistratura e outros. 
Referências: 
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA. São Paulo. Psicólogo especialista em Psicologia Jurídica. Disponível em: www.crpsp.org.br/portal/orientacao/titulo/fr_titulo_psi_juridica.aspx. •• FRANÇA, Fátima. Reflexões sobre psicologia jurídica e seu panorama no Brasil. Psicol. teor. prat., São Paulo , v. 6, n. 1, jun. 2004 . Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.> •• LAGO, Vivian de M. e cols. Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de atuação. Estudos de Psicologia, Campinas 26(4), 483-491, outubro - dezembro 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v26n4/09.pdf. •• LEAL, Liane M. Psicologia jurídica: história, ramificações e áreas de atuação. Diversa: ano I - nº 2 :: pp. 171-185 :: jul./dez. 2008. Disponível em:http://www.ufpi.br/subsiteFiles/parnaiba/arquivos/ ed2ano1_artigo11_Liene_Leal.PDF. •• AULAS ESTACIO/MATERIAL DIDÁTICO/SIA.
Texto Complementar 1 (Leitura facultativa)
Possíveis sentidos e significados da expressão “Direitos Humanos”[1: Texto extraído de: BROCHIER, Jorgelina I.; BEVILÁQUA, Maria H. de Oliveira; NOVAES, Heliane G .Vieites Direitos humanos e cidadania: a naturalização da concepção liberal capitalista. II Congreso Internacional de Investigación y Práctica Profesional en Psicología XVII Jornadas de Investigación Sexto Encuentro de Investigadores en Psicología del MERCOSUR. Facultad de Psicología - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2010.]
A Psicologia jurídica, antes de tudo, atua nos contextos dos direitos humanos. Assim, inicialmente vamos analisar as diferentes concepções sobre o que é Ser Humano e, portanto, o que são “direitos humanos”. 
- A expressão direitos humanos é polissêmica. Existem aspectos convergentes no sentido da defesa dos direitos e da dignidade das pessoas, no entanto, os argumentos e posicionamentos são divergentes porque estão fundamentados em diferentes concepções acerca do que é o ser humano. Com base no referencial de Guareschi (2004, 2003) a seguir serão discutidas três concepções: liberal capitalista, coletivista totalitária e solidária comunitária. 
A concepção liberal capitalista sustenta que as características de cada pessoa determinam situações de sucesso ou de fracasso em relação à sua vida. Por conseguinte, “dadas condições adequadas e liberdade aos indivíduos, estes são os únicos responsáveis pelo seu desenvolvimento” (BOCK, 2003, p 22). Com base em tal concepção, não existe a ideia de contribuir, dividir e interagir com o outro, mas somente consigo mesmo e com suas prioridades. Este tipo de pensamento, por não levar em conta as necessidades do outro e, portanto, dificulta a adoção de propostas que visem a transformação social (GUARESCHI, 2003). 
Na concepção coletivista totalitária, o ser humano é apenas um componente de algo maior. Para esta concepção, o grupo é o que importa. Aqui se descarta a capacidade de escolha individual. Em razão de “um todo”, cada ser é manipulado, confundindo-se na multidão. Inexiste a representatividade como sujeito pertencente a um grupo, dificulta-se e desvaloriza-se o direito de cada um de exercer seu poder nas decisões e ações possíveis de transformação da realidade social (GOUVEIA; CLEMENTE, 2000). 
Em relação à concepção solidária comunitária é possível vivenciar a interação com o outro, numa via de mão dupla. Há lugar para o reconhecimento do outro, resgatando o sentido de que o ser humano é a soma total de suas relações. Isto significa que “somos as bilhões de relações que nós estabelecemos no dia a dia” (GUARESCHI, 2001, p. 72). 
É pela união de todos que se pode ouvir a voz de cada um, em um movimento de fortalecimento da união e conscientização. Esta união possibilita, através de práticas baseadas nas necessidades concretas da sociedade, a realização de atos democráticos que visem à inclusão social. Em consonância, é possível identificar um comprometimento pautado nos interesses da maioria da população, porém reconhecendo cada cidadão. Por cidadania entende-se que as pessoas são capazes, tanto no plano individual quanto no coletivo, de conduzir seus destinos, construindo relações pautadas na reinvenção de novas formas de participação (MENDONÇA, 2007). Cidadania implica, portanto, em uma contínua prática do agir para superar entraves à construção de relações pautadas na solidariedade.
TEXTO COMPLEMENTAR 2 (Leitura facultativa, mas VALE A PENA LER!!!)
Direitos Humanos e atuação do psicólogo na área jurídica2
Cecília Maria B. Coimbra
“Discursos que podem matar, discursos de verdade e discursos que fazem rir. E os discursos de verdade que fazem rir e que têm o poder institucional de matar são, no fim das contas, numa sociedade como a nossa, discursos que merecem um pouco de atenção” (Foucault). 
A rápida análise que aqui será feita, articulando a chamada Psicologia Jurídica com a luta pelos direitos humanos, terá como eixo principal as contribuições trazidas, dentre outras, pelo filósofo M. Foucault em suas incursões pelo território do Judiciário, ou seja, as práticas psicológicas presentes nesse espaço - que vêm sendo produzidas como uma nova especialidade: a Psicologia Jurídica - serão analisadas como discursos de verdade que têm, cada vez mais, institucional e socialmente, o poder de vida e de morte, em especial sobre aqueles que cometem algum ato considerado ilícito e se enredam nas malhas da Justiça. 
Entretanto, como veremos, não será qualquer um que, ao cometer alguma infração, será remetido a esse território da falta, da carência, da desestruturação, da patologia. Esses discursos serão, especialmente, utilizados/dirigidos para determinados segmentos de nossa população: os pobres produzidos como potencialmente perigosos (Coimbra, 2001). Não seria, portanto, paradoxal falarmos de Psicologia Jurídica e direitos humanos? 
À primeira vista, talvez seja. Entretanto, se a entendemos como não possuindo uma essência, mas como produção de determinadas práticas datadas historicamente, tal questão não se coloca. Essa especialidade, recentemente produzida, aparece na história da Psicologia, em nosso país, desde 1945.Nesse ano, Mira y Lopes (1945), em seu Manual de Psicologia Jurídica, já a apontava como uma importante ferramenta para a avaliação e diagnóstico dos chamados criminosos e infratores. 
Os psicólogos, desde a década de 50, têm sido frequentemente, chamados para fornecer pareceres técnicos sobre “perfis psicológicos”, demandados pelo Judiciário. Portanto, no Brasil, bem antes da criação oficial do cargo de psicólogo (lei 4.119/62) a Psicologia já se encontrara com o Direito e, como instrumento de avaliação e diagnóstico, não fugia à demanda que foi a ela endereçada como um todo desde a sua oficialização: intervir e resolver problemas de desajustamento em situações definidas como problemas. Segundo pesquisas por nós realizadas no PIVETES (Programa de Intervenção voltado às Engrenagens e Territórios de Exclusão Social) constatamos que, na justiça, a demanda encaminhada à Psicologia tem se concentrado, basicamente, na solicitação de laudos psicológicos que ajudariam o juiz em suas decisões.
Verificamos, também, D.H. e a Atuação na Área Jurídica que o profissional psicólogo tem sido chamado, na maioria das vezes, para resolver “situações-problema” que os demais especialistas não se sentem competentes para tratar. Assim, podemos pensar que “a Psicologia Jurídica, enquanto especialidade, foi se constituindo, ganhando espaços e se afirmando enquanto ciência, tendo como finalidade intervir e administrar os comportamentos dos indivíduos” (Coimbra et lli, 2002). As práticas psi, presentes no Judiciário, desde seu início não têm fugido ao que Canguilhem (1978) e Foucault (1979, 1984, 1996, 2001) apontam: a crença na dicotomia normal X patológico.
Assim, a chamada Psicologia Jurídica, hegemonicamente, tem-se constituído em ferramenta de adequação e ajustamento do homem. Reificam-se os conceitos morais considerados, por muitas teorias psicológicas utilizadas, como universais, naturais e a históricos, apoiados em critérios de “certo X errado”, “bem X mal” e instituindo modelos de ser e de estar no mundo segundo padrões de normalidade produzidos como únicos e verdadeiros. Assim, não somente no espaço do Judiciário, mas principalmente nele, tem sido legitimada não só a superioridade de um saber considerado e afirmado como objetivo e neutro, mas fundamentalmente a inferiorização, a desqualificação, o lugar da falta ocupado pelos chamados diferentes, anormais, criminosos, infratores; em suma, pelos “perigosos”.
Estes necessitam, por isso, de constante vigilância, monitoramento e tutela. Baseados em alguns princípios que têm norteado, de um modo geral, as práticas psi hegemônicas em nosso país e fortalecidas, em especial, a partir dos anos de 1970, o trabalho do psicólogo no Judiciário, em alguns momentos, tem apontado para indivíduos intimizados, psicologizados, abstratos, ahistóricos e desvinculados de seus contextos sócio-histórico-político-culturais. Esses princípios têm fortalecido e afirmado certos dispositivos úteis ao mundo capitalista e têm sido muito bem manejados e reificados por alguns profissionais psi.
O “modo-de-ser-indivíduo” (Barros, 1994) reafirma como única possibilidade de existência uma certa forma de subjetividade: o indivíduo, uno, único, indivisível, homogêneo, identitário, isolado dos múltiplos atravessamentos que o formam e o constituem. Essa crença, que inscreve e constitui como traço unicamente individual as características e/ou patologias do sujeito, tem sido agenciada com o que Sennett (1988) denominou “a tirania da intimidade”: tudo passa a ser remetido para o interior, o íntimo, entendido como “coisa-em-si”.
O “modo-de-ser-indivíduo” e o intimismo têm caminhado junto com a “psicologização do social” (Kaltz, 1977) e a familiarização: os indivíduos e suas múltiplas relações passam a ser explicados unicamente do ponto de vista psicológico-existencial. Somente são levados em consideração o psiquismo, os processos psicológicos entendidos abstrata e ahistoricamente.
A isso se soma a ênfase dada ao centramento do núcleo familiar fechado em si mesmo, dentro do modelo burguês de família. Seu funcionamento, sua forma de estruturação passam a ser as explicações plausíveis, responsáveis pela saúde mental de seus membros. Tudo o que possa fugir aos modelos burgueses instituídos como universais e verdadeiros não somente é desqualificado: torna-se “perigoso”. Foucault (2002: 8) nos alerta para as três possibilidades que os discursos jurídicos, em especial o psi, possuem:
“A primeira é poder determinar, direta ou indiretamente, uma decisão de Justiça que diga respeito à detenção de um homem. No limite (...) à vida e à morte. (...) Segunda propriedade: de onde lhes vem esse poder? Da instituição judiciária, talvez, mas eles o detêm e também pelo fato de que funcionam na instituição judiciária como discursos de verdade, discursos de verdade porque discursos com estatuto científico, ou como discursos formulados, e formulados exclusivamente por pessoas qualificadas no interior de uma instituição científica”.
Se a Psicologia Jurídica tem funcionado segundo tal lógica, como pensá-la aliada à luta pelos direitos humanos? Como pensá-la fomentando/adubando cidadanias ativas e processuais?
Afirmar uma Psicologia Jurídica vinculada aos direitos humanos é assinalá-la como um campo de saber, e não como mais uma especialidade, da mesma forma que articulá-la à luta pelos direitos humanos não será, em hipótese alguma, a produção de mais uma especialidade. A construção cotidiana desses essencialismos, desses atributos de verdade afirmados como científicos e, por isso, percebidos como objetivos, neutros, universais e ahistóricos estará, nessa outra perspectiva, sendo constantemente colocada em análise, sendo sistematicamente estranhada.
Nossa afirmação aqui, portanto, ao articular Psicologia Jurídica - ou qualquer outra prática psi - com direitos humanos é afirmar outros discursos. Discursos que estranham o instituído, aceito e naturalizado; discursos que estejam encharcados e atravessados pela história; discursos que afirmem a cidadania, a vida, as utopias.
[...]
Bibliografia Utilizada
BARROS, R. D. B. Grupo: a Afirmação de um Simulacro. São Paulo: Tese de Doutorado, PUC, 1994.
BASAGLIA, F. A Instituição Negada. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
CANGUILHEM, G. O Normal e o Patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1978.
COIMBRA, C. M. B. Guardiães da Ordem: uma Viagem pelas Práticas Psi no Brasil do “Milagre”. Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 1995.
_______. Operação Rio: o Mito das Classes Perigosas. Rio de Janeiro: Oficina do Autor/Intertexto, 2001.
COIMBRA, C. M. B et alli. Projeto de Pesquisa Trajetórias do Encontro entre a Psicologia e o Judiciário. Niterói, UFF, 2002. 
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
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_______. A verdade e as Formas Jurídicas. Rio de Janeiro: NAU, 1996.
_______. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
KATZ, C. S. Psicanálise e Instituição. Rio de Janeiro: Documentário, 1977.
NASCIMENTO, N. L. (org). PIVETES: a Produção de Infâncias Desiguais. Rio de Janeiro: Oficina do Autor/Intertexto, 2003.
SENNETT, R. O Declínio do Homem Público: as Tiranias do Intimismo. São Paulo: Cia das Letras, 1988.
AULA 3 
Ver material didático: Aula Estácio/SAI
MODALIDADES DE DOCUMENTOS: Declaração. •• Atestado psicológico. •• Relatório/laudo psicológico •• Parecer psicológico. 
A Declaração e o Parecer psicológico não são documentos decorrentes da avaliação Psicológica, embora muitas vezes apareçam desta forma. A inserção no Manual de Documentos teve como objetivo favorecer a compreensão das referidas diferenças. 
IMPORTANTE: No anexo 1 da Coletânea de Textos II você encontrará os principais tópicos descritos no MANUAL DE ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS DECORRENTES DE AVALIAÇÕES PSICOLÓGICAS
AULA 4
ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JURÍDICO
O CONTEÚDO DA AULA 4, referente as funções do psicólogo jurídico, foi inserido nas aulas 1 e 2 desta Coletânea de Textos. A caracterização do Perito e doAssistente Técnico foi inserida na aula 9 (ELABORAÇÃO DE LAUDOS NA ÁREA DA INFÂNCIA, JUVENTUDE E IDOSO, contida na Coletânea de Textos II. 
AULA 5
Evolução histórica dos direitos da criança e adolescente sob a ótica da Doutrina da Situação Irregular.
ANTES DE FOCALIZAR A DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR, cabe incluir um pequeno recorte sobre a construção da infância: das concepções sobre o menor a garantia de direitos da criança e do adolescente. Com essas considerações pretende-se discutir dinâmicas sociais e políticas implicadas nos conceitos e nas experiências históricas que afetaram nossa noção de infância e adolescência.
1. Considerações sócio históricas:
Período colonial: A Constituição Política do Império (1824) não fazia qualquer menção à proteção ou garantia às crianças e aos adolescentes. • Na vigência desse instrumento legal - Constituição Federal de 1824 –o Código Criminal de 1830 trazia a doutrina penal do menor, mantendo-se no Código Penal de 1890. Não havia proteção ou menção constitucional no que diz respeito à evolução jurídica do direito infanto-juvenil. • A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, em 24 de fevereiro de 1891, também não mencionava garantias de proteção à criança e ao adolescente. O Código de Menores de 1927 constituiu a primeira norma legal brasileira.
- No início do período da colonização existiam os denominados grumetes mirins: Os grumetes e os pajens eram recrutados junto ás famílias desfavorecidas, orfanatos e crianças de rua em Portugal e empregadas, não raras vezes à força, nas embarcações portuguesas pelo mundo.
Acredita-se que os serviços dos grumetes e pajens (estes últimos funcionavam mais como acompanhantes do que trabalhadores braçais) além de mero trabalho braçal e companhia serviam como escape sexual dos marinheiros.
Trata-se de uma concepção de infância e adolescência como objeto. Tal concepção não estava restrita aos segmentos pobres da população: também havia sido naturalizada entre as famílias mais abastadas.
- Roda dos Expostos -> 1738 (Rio) 1896 (SP)
O abandono de bebês recém-nascidos ou de crianças era uma prática comum nos séculos XVII e XVIII no Brasil colonial. Meninas e meninos eram abandonados em calçadas, praias ou terrenos baldios, falecendo por falta de alimento, pelo frio, ou passando a conviver com todos os males que as cidades em desenvolvimento já possuíam (ratos, lixo...).
Neste período, a assistência era caritativa: baseada em esmolas e boas ações dos ricos para com os pobres para amenizar o sofrimento dos mais desvalidos ganhando em troca a salvação de suas almas, a busca do paraíso assim como do status. O recolhimento dos recém-nascidos por essas famílias representava o modo informal de assistências as crianças que passaram a ser chamadas de “filhos de criação”.
No entanto, em alguns centros urbanos, no século XVIII, até 25% dos bebês eram abandonados e cerca de 70-80% faleciam antes de completar sete anos.
A Roda dos Expostos foi uma solução encontrada pela Igreja Católica, copiando moldes do que já havia ocorrido na Europa, para dar uma solução aos seguintes problemas:
1- Recém-nascidos já órfãos de mães (altas taxas de mortalidade materna no parto);
2 - Impedir a prática do infanticídio;
3 - Salvar a reputação de jovens (brancas), que mantinham em segredo a gravidez e precisavam depositar seus filhos em algum lugar com o benefício do anonimato.
 No século XVII, o modelo familiar, patriarcal, monogâmico, sacramental e indissolúvel e, portanto, todos os desvios, além de ilegais eram considerados como pecados, contribuindo para o aumento do abandono e do infanticídio. Também o culto à virgindade imposta pela Igreja provocou o aumento de expostos, termo usado na época para crianças abandonadas, pois as desviantes que na maioria das vezes eram ricas, não podiam perante a sociedade assumir a maternidade antes do casamento.
 As Rodas eram localizadas nas Santas Casas de Misericórdia protegiam os bebês até os três anos de idade. As crianças eram criadas pelas amas-de-leite, mercenárias que ganhavam dinheiro para isso. Depois desse período, até os sete anos, essas crianças voltavam as Casas dos Expostos para a dita “educação” onde se buscava coloca-las em casas de família ou outro lugar onde pudessem continuar a serem criadas. (MARCÍLIO, 2006 apud SANCHES, 2008).
- Lei 2.040/1871 (Lei do Ventre e Lei Áurea, Lei nº 3.353/1888
Ventre livre: 28 de setembro de 1871
Destino do filho/a da escrava: sobre a guarda do senhor: obrigação de cria-lo até a idade de 8 anos. Após essa idade: 2 destinos: continuar sobre a guarda do senhor até completar 21 anos. OU: receber uma indenização do Estado que, por sua vez, encaminhará o filho da escrava para associações filantrópicas que “terão direito aos serviços gratuitos dos menores até a idade de 21 anos completos, e poderão alugar esses serviços, mas serão obrigadas a cuidar e tratar da criança/adolescente; criar um pecúlio, a procurar-lhes, findo o tempo de serviço, apropriada colocação.
- Lei Áurea: Libertação dos escravos: que ao serem libertados foram abandonados e descartados como mão de obra em função das políticas de imigração. 
Verifica-se que estas leis não trouxeram nenhuma solução para a situação do negro no Brasil, principalmente para a infância e adolescência.
- Final do século XIX e início do século XX
- Com a imigração (1870) de trabalhadores europeus para trabalhar nas plantações de cafés foi criado o primeiro orfanato brasileiro para abrigar os filhos destes trabalhadores brancos.
- Urbanização e Industrialização da economia: Posteriormente, o processo de urbanização e o início da industrialização trouxe graves problemas sociais, principalmente para as crianças e adolescentes pobres que passaram a trabalhar nas fábricas (mão de obra barata e dispensável, acarretando em graves e frequentes acidentes de trabalho, além de alto índice de mortalidade infantil. A partir desses acontecimentos, foram promulgadas leis de “amparo/proteção à infância e adolescência).
 2. Evolução histórico-doutrinária da legislação da infância e juventude: do código do menor ao Estatuto da infância e da adolescência.
2.1. Código de Menores: conhecido como Código Mello Mattos: Decreto nº 17.943-A, de 12.10.1927
Havia o que se chamava Juízo Privativo de Menores na década de 1920, e o primeiro Juiz de Menores do Brasil era o Dr. José Cândido Albuquerque Mello Mattos.
O primeiro expoente do pensamento da legislação da infância e juventude no Brasil criou vários estabelecimentos de assistência e proteção à infância abandonada e delinquente, assim como organizou o primeiro código, que ganhou o seu nome.
No imaginário social, era atribuído às crianças pobres inclinações inatas prejudiciais recebidas por herança das células do vício de seus pais.
2.2 - Código de Menores -> Lei n. 6.697/79 (DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR):
Essa doutrina se encontrava implícita no Código de Mello Matos (1927) foi oficializada neste código por meio do seu artigo 2
A DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR (sustentada pelo antigo Código de Menores/Lei 6697/79) admitia situações absurdas de não proteção à criança e ao adolescente. Naquele ínterim, os menores infratores eram afastados da sociedade, sendo segregados, de forma generalizada, em estabelecimentos como a FEBEM, A dignidade da pessoa humana era desrespeitada e o termo “menor” passou a ser usado pejorativamente.
Mas afinal, como é definida a situação irregular no código de menores (Lei 6697/79)? Tal definição é destacada no artigo 2º:
“Art. 2º Para os efeitos deste Código considera-se em situação irregular o menor:
I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: (a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável e (b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las;
Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável;
III - em perigo moral, devido a: (a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aosbons costumes e (b) exploração em atividade contrária aos bons costumes;
IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável;
V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária;
VI - autor de infração penal.
Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de ato judicial. 
A partir da análise dessa legislação, é visto, então, que a lei tratava o menor infrator como se fosse um portador de certa patologia social, deixando de lado suas necessidades de proteção e segurança. São apresentados, principalmente, mecanismos de “defesa” contra os jovens, dificultando a reinserção social das crianças e adolescentes em situação irregular.
Nas palavras de Alyrio Cavallieri, Juiz de Menores e doutrinador, a situação irregular é percebida como estados que caracterizam o destinatário das normas de Direito do Menor.
 A condição de menor não está relacionada à idade, mas a condição social. A partir da construção doutrinária de Cavallieri (Juiz de Menores e Doutrinador) é possível classificar os destinatários do artigo 2º do CM/1979 da seguinte forma: O menor abandonado materialmente; o menor vítima; o menor em perigo moral; o menor em abandono jurídico; o menor com desvio de conduta ou inadaptado; o menor infrator. 
CONCEITO DE DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR (SÍNTESE)[2: Texto extraído do plano de aula 3 (SIA).]
 - Doutrina não universal, restrita, de forma quase absoluta, a um limitado público infanto-juvenil.
 - Internação involuntária e obrigatória em instituições totais. Exemplo: FEBEM. 
- A lei tratava o menor infrator como se fosse um portador de certa patologia social, deixando de lado suas necessidades de proteção e segurança. 
Em função do estigma da “patologia social” eram banalizadas (naturalizadas) práticas de tortura, espancamentos, violência e franca repressão às crianças e aos adolescentes privados de liberdade (pobres).
 A lei que deveria ser criada com o objetivo da inclusão social estigmatizou quem era oriundo das classes pobres. Assim, o termo jurídico “menor” passou denominar uma categoria perigosa ou com possibilidade de oferecer perigo se não houvesse interferência institucional. (MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. 3a. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, pág. 13.)
Referências: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. 3a. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, pág. 13. •• SANCHES, Rosane de Araujo. Crianças e Adolescentes em Casas de Acolhida: um estudo de caso. 2008. Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia. Pró Reitoria de Saúde, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro. 
IMPORTANTE: Você foi convidado a assistir: A invenção da infância no Brasil (curta metragem dirigido por Liliana Sulzbach).
A HISTÓRIA ATUAL DOS DIREITOS DA INFÂNCIA E JUVENTUDE[3: Texto extraído do plano de aula 4 (SIA)]
A Doutrina da Proteção Integral e o Estatuto da Criança e do Adolescente surgiram ao longo de décadas de discussões e batalhas sociais dos diversos campos do conhecimento, participando deste processo grupos heterogêneos da sociedade como Advogados, Assistentes Sociais, Educadores, a Igreja Católica, Promotores, Psicólogos, Sociólogos, dentre outros. 
1. Documentos Internacionais: principais marcos jurídicos. 
- Regras de Beijing: Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude (1985). 
- Diretrizes de Riad: Diretrizes das Nações Uni Unidas para a Prevenção da Delinqüência Juvenil (1990). 
- Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade (1990). 
- Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989. Dec. 99.710, de 22.11.90). 
Estes documentos internacionais influenciaram e impulsionaram muitas das discussões que a Constituição Federal de 1988 trouxe para os direitos da infância e juventude, assim como o próprio desenvolvimento do Estatuto da Criança e Adolescente. 
A CONSTITUIÇÃO e o ESTATUTO DA CRIANÇA E O ADOLESCENTE: Os principais artigos a serem observados na Constituição Federal e no ECA são os que seguem: 
1.1. Constituição Federal/1988: 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: 
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; 
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
§ 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. 
§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: 
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; 
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; 
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola; 
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; 
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; 
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; 
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; 
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins. 
§ 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. 
§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. 
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. 
§ 7º - No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á em consideração o disposto no art. 204. 
§ 8º A lei estabelecerá: 
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens; 
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas. 
É possível observar, através da breve leitura deste artigo da Constituição Federal praticamente todo o alicerce doutrinário e legislativo da Doutrina da Proteção Integral, que alicerça todo o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
1.2. Artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Comentário: A Doutrina da ProteçãoIntegral inaugura o Estatuto da Criança e do Adolescente, direcionando todo o texto legal ao seu conceito. 
- Qual o conceito de Doutrina da Proteção Integral? Segundo Wilzon Donizete (em aula de pós graduação de Direitos da Criança e do Adolescente no ISMP/RJ): 
Reconhecer que cada fase do desenvolvimento da criança deve ser reconhecida como singular e especial com um conjunto de direitos próprios de cada fase, que crianças e adolescentes são pessoas a caminho da plenitude a ser consumada na idade adulta e que cada etapa, é, à sua maneira, um período de plenitude que deve ser compreendido, acatado e protegido pelo Direito.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. 
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. 
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. 
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. 
Comentário: Na nova abordagem jurídica da infância e adolescência, estes não são mais objetos ou personagens secundários que devem ter seu desenvolvimento assistido somente nos casos de abandono ou infração, e sim como sujeitos de direitos. 
1.3. Doutrina da Situação Irregular x Doutrina da Proteção Integral 
A melhor forma de demonstrar a Doutrina da Situação Irregular é com a seguinte frase do Ministro da Suprema Corte Argentina e Doutrinador de Direito Penal e Criminologia, Raul Zaffaroni: Ao longo de toda a história da humanidade, a ideologia tutelar em qualquer âmbito resultou em um sistema processual punitivo inquisitório. 
O tutelado sempre o tem sido em razão de alguma inferioridade (teológica, racial, cultural, biológica etc.). Colonizados, mulheres, doentes mentais, minorias sexuais etc. foram psiquiatrizados ou considerados inferiores e, portanto, necessitados de tutela. 
Segue uma tabela, adaptada para os fins da aula, comparativa do Código de Menores e o ECA, retirada da obra de Loberto Narciso Brancer (Organização e Gestão do Sistema de Garantia de Direitos da Infância e da Juventude. In: Encontros Pela Justiça na Educação. FUNDESCOLA/MEC: Brasíl, 2000, p. 126).	
	ASPECTO
	CÓDIGO DE MENORES
	ESTATUTO (ECA)
	Doutrinário
	Situação irregular
	Proteção integral
	Caráter:
	Filantrópico
	Política pública
	Fundamento:
	Assistencialista
	Direito subjetivo
	Centralidade:
	Judiciário
	Município
	Institucional:
	Estatal
	Co-gestão c/sociedade civil
	Organização:
	Piramidal hierárquica
	Rede
	Gestão:
	Monocrática
	Democrática
Indicação bibliográfica: PIRES, Sergio Fernandes Senna. Protagonismo infantil no processo político: as crianças e a elaboração legislativa na virada dos anos 80. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13140. •• VÍDEO: Laudos Psicológicos em Debate 04: Avaliação Psicológica de Crianças Abrigadas e Jovens. Conselho Regional de Psicologia, São Paulo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oLV0XRSrB7g.
TEXTO COMPLEMENTAR 3(Leitura facultativa)
Os nomes da criança no Brasil (Cristovam Buarque)
 Se família, Estado e sociedade compreenderem que cada criança é especial e única, que é protagonista e participa, será possível entender que todas as crianças precisam do carinho de todos – da família, da comunidade, das pessoas que cuidam delas –, e também de equipes de saúde bem preparadas, de educadores atenciosos e bem formados, de instalações seguras, alegres, estimulantes. 
Para um habitante de cidade brasileira, todas as árvores de uma floresta são apenas mato, sem distinção entre elas. Os habitantes dos desertos, ao contrário, têm nomes diferentes para se referir à areia. Da mesma forma, os esquimós têm diversos nomes para indicar aquilo que, para nós, é apenas neve. 
Cada povo desenvolve sua cultura, com palavras distintas, para diferenciar as sutilezas do seu ao-redor, como forma de sobreviver mais facilmente e usufruir esteticamente. A riqueza de uma cultura se mede pelo número de palavras usadas para definir o meio ao redor. Quanto mais palavras distinguindo as coisas, em detalhes imperceptíveis para os demais, mais rica é a cultura. 
Os brasileiros urbanos também desenvolveram, em sua cultura, nomes diferentes para dizer o que entre outros povos teria um nome apenas: criança. 
Em suas cidades, os brasileiros do começo do século XXI têm muitas maneiras para dizer criança com sutis diferenças manifestas em cada palavra. É a riqueza cultural, manifesta num rico vocabulário, que mostra a degradação moral de uma sociedade que trata suas crianças como se não fossem apenas crianças. 
[...] Menino-na-rua significa aquele que fica na rua em lugar de estar na escola, em casa, brincando ou estudando, mas que, à noite, em geral, tem uma casa para onde ir. Ao vê-lo, um habitante de uma das nossas cidades grandes faz logo a diferença com as demais crianças que ali estão apenas passeando. Diferencia até, sutilmente, dos meninos-de-rua - aqueles que não apenas estão na rua: moram nela, sem uma casa para onde voltar.
 Flanelinha é aquele que, nos estacionamentos ou nas esquinas, dribla os carros dos ricos com um frasco de água numa mão e um pedaço de pano noutra, na tarefa de convencer o motorista a dar-lhe uma esmola em troca da rápida limpeza no pára-brisa do veículo. É diferente do esquineiro que, no lugar de oferecer o serviço de limpeza, pede esmolas apenas. Ou do menino-de-água-na-boca, pobre criança que carrega pequenas caixas de chocolates, tentando vendê-los, sem direito a sentir o gosto do que carrega para os outros e existe aos milhares no Brasil. 
Prostituta-infantil já seria um genérico maldito para uma cultura que sentisse vergonha da realidade que retrata. Como se não bastasse, ela tem suas sutis diferenças. Pode ser bezerrinha, ninfeta-de-praia, menina-da-noite, menino ou menina-de-programa ou michê, conforme o local onde faz ponto e o gosto sexual do freguês que atende. E existe - vergonha das vergonhas - a expressão menina-paraguai para indicar criança que se prostitui por apenas R$ 1,99, o mesmo preço das bugigangas que a globalização trouxe em contrabandos, quase sempre, daquele país. Ou menina-boneca, de tão jovem quando começa a se prostituir, ou porque seu primeiro pagamento sirva para comprar a boneca que nunca ganhou de presente. 
Delinquente, infrator, avião, pivete, trombadinha, menor, pixote. Sete nomes para o conjunto das relações de nossas crianças com o crime. [...] Pode também, no lugar de criança, ser boy, engraxate, menino-do-lixo, reciclador-infantil, conforme o trabalho que faz. 
Ainda tem filho-da-safra, para indicar criança deixada para trás por pais que emigram todos os anos em busca de trabalho, nos lugares onde há empregos para boias-frias. Nome que indica, também, a riqueza cultural do sutil vocabulário da maldita realidade social brasileira. Ainda o pagão-civil, que vive sem o registro que lhe indique a cidadania de sua curta passagem pelo mundo. Em um país que lhe nega, não só o nome de criança, também a existência legal.
Como resumo de todos estes tristes verbetes, há também criança-triste, como um verbete adicional. Não pela tristeza de um brinquedo quebrado, de uma palmada ou reprimenda recebida, nem da perda de um ente querido. No Brasil há um tipo de criança que não apenas fica ou está triste: criança que nasce e vive triste. Cujo primeiro choro mais parece um lamento do futuro que ainda não prevê do que a inspiração do ar em que vai viver, que por primeira vez recebe em seus diminutos pulmões. 
Criança-triste como substantivo e não adjetivo, comoestado permanente de vida - esta talvez seja a maior das vergonhas no vocabulário da realidade social brasileira. Tal e qual a maior vergonha da realidade política está na falta de tristeza nos corações de nossas autoridades diante da tristeza das crianças brasileiras, com as sutis diversidades de suas posições sociais, refletidas no vocabulário que indica os nomes da criança. 
A sociedade brasileira, em sua maldita apartação, foi obrigada a criar palavras que distinguem cada criança conforme sua classe, sua função e sua casta. A cultura brasileira, medida pela riqueza de seu vocabulário, enriqueceu perversamente ao aumentar a quantidade de palavras que indicam criança. Um dia, esta cultura vai se enriquecer criando nomes para os presidentes, governadores, prefeitos, políticos em geral que não sofrem, não ficam tristes, não percebem a vergonhosa tragédia de nosso vocabulário, nem ao menos se lembram das crianças-tristes do Brasil. [...] 
QUESTÃO PARA REFLEXÃO: O artigo que você acabou de ler foi elaborado em 2001. Considerando que estamos no ano de 2017, cabe perguntar: Ocorreram mudanças significativas nos cenários descritos pelo autor? O que o psicólogo poderia argumentar a esse respeito?

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