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CAPÍTULO Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento E m m a n u e l Z a g u r y T o u r in h o T e r e z a M a r ia d e A z e v e d o P ir es Sér io A Análise do Comportamento é frequentemente referida como uma orientação teórico-metodológica em Psicologia, ampla mente sustentada na obra filosófica e científica de B. F. Skinner. Considerando essa vinculação filosófica e científica como um marco histórico para datar o início da Análise do Comportamen to pode-se afirmar que tal orientação tem uma longa história que efetivamente construiu as feições que hoje podem ser vistas como suas características identificadoras. Assim, ao lado do compromisso filosófico e da produção científica dos fun dadores, essa história deve ser um elemento fundamental em qualquer tentativa de elaborar uma definição razoavelmente compreensível dessa orientação. Enquanto referência teórico-metodológica, a Análise do Comportamento sustenta que o comportamento constitui o objeto de estudos da Psicologia. Por comportamento, entende-se mais precisamente a relação entre organismo e ambiente, abordada sob a ótica das relações de contingências entre respos tas e estímulos. Analistas do comportamento voltam-se, portanto, para as relações comportamentais em seus esforços para expli car os fenômenos tradicionalmente reservados à Psicologia, aí incluídos os fenômenos cognitivos, motivacionais e emocionais. A proposição do comportamento assim entendido como objeto de estudo trouxe um conjunto de implicações metodo lógicas, destacando-se o estudo experimental, em situação especialmente criada para isso, das relações comportamentais. 2 ■ Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento O estudo experimental em situação de laboratório com animais não humanos marcou as primeiras elaborações que viriam a constituir o corpo teórico da Análise do Compor tamento (Skinner, 1938). E essa maneira de produzir conhecimento passou também a caracterizar a Análise do Comportamento, que, sintomaticamente, autodenominou-se Análise Experimental do Comportamento. Entretanto, essa característica nem sempre foi (ou é) bem compreendida; a construção e compreensão da história da Análise do Comportamento parecem refletir isso. Apesar da proposição clara de que a ciência do comportamento tem como objetivos a predição, o controle e a interpretação (Holland e Skinner, 1969)* e que o fazer ciência inclui uma gama ampla de atividades que vão desde a observação até a especulação (Skinner, 1974), o compromisso com a experi mentação acabou sendo visto como uma restrição para as atividades daqueles que se dispunham a desenvolver a Análise do Comportamento. Possivelmente, por um conjunto de pressões alheias às próprias exigências do eventual desenvolvimento da orientação teórico-metodológica adotada, as práticas de analistas do comportamento foram tornando-se mais diversificadas e, mais como re sultado da própria prática ampliada do que como resultado direto de eventuais reflexões sobre ela ou sobre seus fundamentos filosóficos originais, a própria Análise do Com portamento foi alargando seu horizonte de possíveis realizações. Na verdade, a própria denominação do campo de saber inaugurado por Skinner foi experimentando trans formações. Como sugere Michael (s/d), a ampliação do número e também dos tipos de trabalhos realizados acabou dando origem a diferentes publicações: Journal of the Ex perimental Analysis of Behavior (1958) y Journal of Applied Behavior Analysis (1968) e The Behavior Analyst (1978). Entretanto, o título das publicações nem sempre sugere de forma precisa qual foi exatamente a ampliação realizada no escopo da Análise do Com portamento. Como ressalta Michael (s/d), a diferença entre os dois primeiros títulos pode sugerir uma oposição entre as dimensões experimental e aplicada da Análise do Comportamento, o que, segundo esse autor, não seria correto; melhor seria reconhecer uma ampliação no âmbito da pesquisa e não necessariamente em seu método; as di mensões envolvidas seriam a básica (e não a experimental) e a aplicada (que, assim, poderia ser também experimental). O reconhecimento da necessidade de outro méto do que não o experimental na construção da Análise do Comportamento viria com a realização de trabalhos teóricos e filosóficos; tal necessidade e o reconhecimento da diversidade de estudos e de interesses que passaram a constituir a Análise do Compor tamento teriam como reflexos o último título {The Behavior Analyst) e também o nome da associação fundada, nos Estados Unidos, para congregar analistas do comportamen to (originalmente, Midzwestem Association of Behavior Analysis e, a partir de 1978, Association for Behavior Analysis - International)**. * Sobre a presença da interpretação entre as atividades do cientista, encontramos na autobiografia de Skinner um comentário interessante sobre o curso que ministrava em 1947: “Meu tratamento do comportamento humano era, em grande parte, uma interpretação, não um relato de dados experimentais. Interpretação era uma prática científica comum, mas os estudiosos da metodologia científica deram pouca atenção a ela”, (p. 27) ** É possível acrescentar aos títulos já indicados de revistas voltadas especificamente para a análise do com portamento e, possivelmente, buscar neles também um eventual resultado de alteração na configuração do campo que hoje constitui o que chamamos de Análise do Comportamento (por exemplo, Behaviorism, 1973, e, a partir de 1990, Behavior and Philosophy, The Analysis ofVerbal Behaviorl1982); Behavioristsfor the Social Action, 1978, e, a partir de 1991, Behavior and Social Issues; e The Behavior Analyst Today, 1999). No Brasil, pelo menos duas revistas podem ser vinculadas à Análise do Comportamento: Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva (1999) e Revista Brasileira de Análise do Comportamento (2005). Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento ■ 3 A preocupação com ampliação do escopo da Análise do Comportamento e com a caracterização da diversidade de trabalhos e interesses que foram passando a constituir o campo do analista do comportamento não é recente e vem ganhando força na última década. Talvez se possa tomar como um marco histórico dessa re flexão o difundido artigo de Baer, Wolf e Risley (1968) e um levantamento não sistemático poderá indicar alguns outros artigos nos quais, a despeito das perspec tivas diferentes a que respondem, a diversidade e sua caracterização são objeto direto de discussão; somente a título de exemplo poderiam ser citados: Hayes (1978), Birnbrauer (1979), Pierce e Epling (1980), Woods (1980), Fraley (1981), Epling e Pier ce (1983), Luna (1997), Tourinho (1999,2003), Hawkins e Anderson (2002), Moore e Cooper (2003), Rutherford (2004). Como não poderia deixar de acontecer nesse esforço sistemático de caracte rizar a Análise do Comportamento, além de considerar a diversidade cada vez mais ampliada de interesses (que pode ser identificada na diversidade de temas e proble mas investigados, de atividades realizadas, de locais de trabalho) com a conseqüente diversificação de métodos empregados, os analistas do comportamento passaram a refletir sobre os próprios fundamentos filosóficos iniciais de sua orientação teó- rico-metodológica. A mudança no título da revista Behaviorism (1973) para Behavior and Philosophy (1990) pode ser vista como resultado de se assumir ex plicitamente a reflexão filosófica como parte das atividades que formam a Análise do Comportamento. Em um comentário a um artigo de Moore (2001), que discute posições de vários “behaviorismos” acerca dos conceitos mentais, Leigland (2003) refere-se à ambigüi dade do termo “behaviorismo” e sua insuficiência como descritor da abordagem psicológica desenvolvida a partir do trabalho de Skinner. A favor de sua tese, Leiglandcita as várias modalidades (por exemplo, Behaviorismo Clássico, Behaviorismo Mediacional, Behaviorismo Metodológico, Behaviorismo Lógico ou Filosófico, Behaviorismo Radical etc.) e as submodalidades (por exemplo, Behaviorismo Me diacional de Tolman, Behaviorismo Mediacional de Hull) de psicologias descritas como Behavioristas. Segundo Leigland, quando o termo não é visto como ambíguo, ele significa (por exemplo, para psicólogos e filósofos) simplesmente uma posição bem estabelecida de reduzir a abordagem de “fenômenos mentais” a uma considera ção de eventos publicamente observáveis, o que definitivamente não é compatível com a posição skinneriana. A alternativa de assumir a designação Behaviorismo Radical é considerada igualmente insatisfatória por Leigland, em razão de toda a explicação adicional que se torna também necessária. Sobre essa alternativa, Drash (1988) já havia apontado que o termo radical também “tende a provocar reações negativas em leitores e ou vintes” (p. 87), e Hayes e Hayes (1992) argumentaram que descreve uma posição filosoficamente inconsistente; alternativamente, Drash (1988) sugeriu a adoção do Behaviorismo Científico, e Hayes e Hayes a adoção de Behaviorismo Contextualista. Análise e discussões, tais como essas, só reafirmam que, entre as diversas atividades possíveis de um analista do comportamento, esta é a própria reflexão filosófica, ou mais especificamente, a reflexão relacionada a questões sobre a produção de conhe cimento. Ao assumir esta atividade como constituinte da Análise do Comportamento, entretanto, cria-se um problema no mínimo interessante: a Análise do Comporta 4 ■ Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento mento deveria ser definida e caracterizada a partir de concepções filosóficas mais amplas de tal forma que comportasse a divergência e, portanto, a convivência de diferentes posições que estariam todas abrigadas dentro dessa concepção mais ampla. Esta atividade - a reflexão filosófica - não é objeto deste capítulo; exemplos dela são apresentados apenas como forma de ilustrar sua presença na Análise do Comportamento e, com isso, discutir aquilo que é aqui objeto central: a identificação e caracterização das diversas atividades que, hoje, constituem o campo da Análise do Comportamento. Em um artigo sobre a distinção entre ciência e prática em Análise do Compor tamento, Hawkins e Anderson (2002) argumentam que a intervenção profissional de base analítico-comportamental não se confunde com a pesquisa em Análise do Comportamento, mesmo quando se pensa em termos de Análise do Comportamen to Aplicada (o que concorda com a análise proposta por Michael [s/d], de que os pontos extremos em um continuum são pesquisa básica versus pesquisa aplicada); entretanto, com a distinção agora proposta - entre ciência e prática - outro conti nuum está sendo introduzido, continuum no qual os pontos extremos são pesquisa versus aplicação. O controle experimental, que na pesquisa básica e aplicada apresen ta-se como uma exigência, não constitui um requisito para a intervenção do profissional e, frequentemente, nem lhe está acessível. Luna (1997) já focalizava esse problema, ao apontar que o terapeuta (analítico-comportamental) tem compromisso com seu cliente, não com a produção de conhecimento e, desse modo, não está submetido às exigências proceduais que se aplicam ao cientista, especialmente aquelas que definem a investigação experimental (básica ou aplicada) em Análise do Compor tamento. Hawkins e Anderson apontam que “a responsabilidade primária de um praticante [da Análise do Comportamento] é oferecer ajuda de excelência ao cliente ou paciente, não contribuir para o nosso corpo de conhecimento sobre quais inter venções influenciam quais resultados” (p. 116). Hawkins e Anderson (2002) propõem, então, que as diferentes práticas de analistas do comportamento sejam reconheci das sob a forma de designações correspondentes. Para eles: podemos... identificar pelo menos quatro papéis que um analista do comportamento pode desempenhar: analista conceituai do comportamento, analista básico do comportamento, analista do comportamento aplicado e praticante analítico-comportamental Qualquer analista do comportamento pode se engajar em qualquer um (ou mais) desses papéis em diferentes momentos e poucos analistas do comportamento se engajam em todos. Talvez mais importante do que isso, (...) cada um desses quatro papéis é uma parte extremamente valiosa da análise do comportamento e cada um merece respeito total e igual. (p. 119) A caracterização oferecida por Hawkins e Anderson (2002) não apenas consi dera constitutivas da Análise do Comportamento práticas profissionais não vinculadas à produção de conhecimento, como reconhece vertentes diversas da própria produção de conhecimento analítico-comportamental. Isto é, de um lado, as aplicações da Análise do Comportamento são algo diverso e adicional ao que se tem denominado de Análise do Comportamento Aplicada. De outro, a Análise Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento ■ 5 do Comportamento Aplicada constitui uma vertente da produção de conhecimen to na qual se articulam a análise conceituai do comportamento e a Análise Experimental do Comportamento. Moore e Cooper (2003) oferecem uma interpretação semelhante à de Hawkins e Anderson (2002), porém sugerindo que as práticas de analistas do comporta mento variam ao longo de um continuum de atividade que vai de uma maior preocupação com o conhecimento fundamental a uma maior preocupação com a aplicação. Moore e Cooper situam a Análise Experimental do Comportamento e a oferta de serviços nos extremos desse continuum, e a Análise do Comporta mento Aplicada em uma posição intermediária. Sua maior preocupação ao longo desse artigo consiste em explicitar as diferenças entre a oferta de serviços e a pes quisa em Análise do Comportamento Aplicada. Os provedores de serviço têm pouca necessidade de se preocupar com condições de pesquisa formalmente controladas, com medidas de fidedignidade e com a publicação avaliada por pares. No lugar disso, precisam solucionar problemas eficientemente, de forma direta e a um custo razoável em termos financeiros e de tempo. (Moore e Cooper, 2003, p. 82) Curiosamente, Moore (um analista do comportamento que se dedica primaria mente a trabalhos conceituais e filosóficos) e Cooper (2003), em várias passagens do artigo, ignoram que Hawkins e Anderson (2002) fazem referência à análise con ceituai do comportamento como um “papel” desempenhado pelo analista do comportamento, como os demais. Na parte final do artigo, Moore e Cooper reco nhecem a Análise Conceituai do Comportamento como uma quarta dimensão da Análise do Comportamento atribuem a ela a função de “informar os outros domínios” (p. 80) sobre questões filosóficas e teóricas. De qualquer modo, o que Moore e Cooper argumentam centralmente é que, se em outros momentos houve uma preocupação com a diferenciação entre Análise Experimental do Comportamento e Análise do Comportamento Aplicada, o que mais importa no momento é esclarecer a distinção entre Análise do Comportamento Aplicada e a prestação de serviços. Em uma direção de valorização das investigações não-experimentais (e não aplicadas) em Análise do Comportamento, Rutherford (2004) chama a atenção para o crescimento e diversificação dos estudos históricos em Análise do Comportamen to. Segundo a autora, historiadores da Análise do Comportamento agora se voltam para mais do que a construção do sistema explicativo skinneriano, focalizando a área como um todo e as contribuições de vários analistas do comportamento, uma mudança considerada “crucial... se for para a história da Análise do Comportamen to continuar a desenvolver-se de modo sofisticado e vigoroso” (Rutherford, p. 2). Em seguida, Rutherford propõeque consideremos a história da Análise do Comporta mento como uma outra dimensão do sistema descrito por Moore e Cooper (2003): Concluo com um acréscimo à recente divisão da análise do comportamento por Moore e Cooper em quatro partes... sugiro que a análise do comportamento considere a adição da história a esse esquema, conferindo a ela um papel junto ao behaviorismo radical como filosofia, informando as 6 ■ Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento outras três ramificações. E que tal uma filosofia behaviorista radical da história? Uma explicação behaviorista radical do comportamento do historiador? O futuro da história da análise do comportamento é de fato brilhante. (Rutherford, 2004, p. 3) Se, a pesquisa básica experimental inegavelmente tem respondido pela maior parte da produção de conhecimento e impulsionado o desenvolvimento da Aná lise do Comportamento em todas as direções, parece, atualmente, ser inegável também que o estabelecimento de pesquisas em outros domínios, como, por exemplo, o conceituai e o histórico, fez com que os métodos da Análise do Com portamento se estendessem para além da experimentação. Uma argumentação desse tipo foi oferecida por Donahoe (2004), no contexto de uma discussão da proposição de Skinner (1945) de que a interpretação é um método válido, quando a experimentação não é possível. Segundo Donahoe (2004): Skinner distinguiu dois aspectos complementares da ciência - a análise experi mental e a interpretação... A análise experimental só é possível quando as condições permitem a manipulação elou controle de todas as variáveis antecedentes e a mensuração de todas as conseqüências que participam de relações funcionais ordenadas com aqueles antecedentes. Apenas no laboratório podemos nos aproximar desse estado idealizado. No caso específico da análise do comportamento, as condições para a análise experimental geralmente requerem o uso de animais não-humanos, a fim de controlarmos sua história pré-experimental. Dessa perspectiva, muitos experimentos - incluindo a maior parte dos experimentos valiosos - não se aproximam suficientemente daquelas condições idealizadas para qualificarem-se como análises experimentais. A interpretação acontece quando algum fenômeno é observado sob condições que não possibilitam a análise experimental, mas ao qual podem se aplicar para a sua explicação, os frutos de análises experimentais anteriores. O comportamento complexo - especialmente o comportamento humano - é quase sempre o domínio da interpretação, não da análise experimental, (p. 83) Observe-se que as condições definidas por Donahoe (2004) como ideais para a experimentação são condições de difícil acesso, mesmo na pesquisa com organismo não humanos, mas especialmente na investigação com organismos humanos. Assim, poderíamos dizer não apenas que “todas as aplicações da análise do comportamen to a campos como a educação e a remediação do comportamento disfuncional são instâncias de interpretação” (Donahoe, 2004, p. 84), mas, que o continuum entre a Análise Experimental do Comportamento e a oferta de serviços, sugerido por Moore e Cooper (2003) poderia ser descrito como envolvendo uma passagem gradual da experimentação para a interpretação, de forma que, próximo a um extremo estaria a pesquisa experimental básica realizada em laboratório com organismos não hu manos (aqui há um grau avançado de controle de variáveis, mas não aquelas condições ideais de controle referidas por Donahoe - portanto, há também um grau de interpretação) e no outro a pretação de serviços; entre um e outro, encontraríamos Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento ■ 7 um conjunto de atividades de pesquisa que já conteria muito da atividade de inter pretar, mesmo que mantendo algumas características da manipulação de variáveis, típica da experimentação. A rigor, podemos supor (e isso é também uma interpre tação) que, assim como a complexidade do comportamento varia ao longo de um continuum, as descrições que podemos oferecer variam ao longo de um continuum que vai de uma maior fundamentação experimental a uma maior dose de interpre tação. Donahoe, porém, considera indispensável especificarmos em que consiste exatamente a interpretação como método, uma questão que não tem recebido suficiente atenção, entre outros, em razão do reduzido número de analistas do comportamento dedicados ao trabalho conceituai ou reflexivo. No entanto, desde a proposição de Skinner (1945), a interpretação em Análise do Comportamento difere da interpreta ção na Psicologia mentalista; enquanto a primeira se volta para o comportamento humano complexo com os princípios e conceitos derivados da investigação expe rimental, a última lança mão de processos inferidos da própria observação do comportamento humano complexo. Possivelmente, esta diferença reflete concepções diferentes de conhecimento científico; como já foi indicado, possibilitar a interpre tação é um dos objetivos da prática científica, ao lado da predição e do controle (Holland e Skinner, 1969). Nos últimos anos, a expansão dos horizontes da Análise do Comportamento tem encontrado expressão também nas instituições que representam a área. Em particular a Association for Behavior Analysis - International (ABA), principal entidade a reunir pesquisadores e profissionais em Análise do Comportamento, vem repercutindo as transformações mencionadas. Midgley (2002) descreve a ABA assinalando que: ... é uma organização dedicada ao campo da análise do comportamento - uma abordagem baseada na ciência natural do comportamento, frequentemente associada com o ‘behaviorismo radical de B. F. Skinner. Entre as suas áreas de especialização estão a análise experimental do comportamento (pesquisa básica)t a análise do comportamento aplicada (a pesquisa aplicada e clínica) e a análise conceituai do comportamento (a pesquisa teórica e histórica). Essas áreas têm em comum a conceitualização do comportamento em termos naturalísticos e a rejeição do dualismo psicoflsico e de explicações para o comportamento formuladas em termos de processos, estados e eventos mentais hipotéticos. (Midgley, 2002, p. m) Na página eletrônica da ABA (www.abaintemational.org) vemos que sua missão é “desenvolver, avançar e sustentar o crescimento e vitalidade da análise do compor tamento por meio da pesquisa, da educação e da prática”. Mas é na organização de suas reuniões científicas anuais que encontramos um indicador mais preciso do im pacto das mudanças no funcionamento da ABA. Desde 1975, a ABA (inicialmente uma associação regional, a Midwestern Association of Behavior Analysis) vem realizando convenções anuais, em diferentes locações nos Estados Unidos e no exterior (em 2002, a convenção aconteceu em Toronto, Canadá). A partir de 2001, passou a realizar con- 8 ■ Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento ferências internacionais, todas fora dos Estados Unidos (Veneza, Itália, em 2001; Campinas, Brasil, em 2004; Pequim, China, em 2005; e Sidney, Austrália, em 2007). A partir de 1979, as convenções anuais da ABA passaram a indicar a área de cada trabalho. Atualmente, essas áreas incluem: • Autismo. • Farmacologia comportamental. • Clínica, família e medicina comportamental. • Intervenções em comunidades, questões sociais e éticas. • Atraso no desenvolvimento. • Desenvolvimento humano e gerontologia. • Análise experimental do comportamento. • Educação. • Gestão do comportamento em organizações. • Ensino de análise do comportamento. • Questões teóricas, filosóficas e conceituais. • Comportamento verbal. • Outros. • Internacional (sic). Além dessas áreas, que refletem temas específicos de interesse, a partir do ano de 2000, os trabalhos passaram a ser categorizados também quanto à natureza em: “trabalhos com base emdados” e “outros”. Essa classificação, ao mesmo tempo em que diferencia o que não é trabalho empírico (com base em dados), legitima e esti mula a apresentação de trabalhos de outra natureza nos eventos da ABA. Mais importante, a partir de 2005, as categorias dos trabalhos apresentados nos eventos da ABA (as convenções anuais e as conferências internacionais) deixam de ser duas e passam a ser quatro: “Análise Experimental”, “Análise do Comportamen to Aplicada”, “oferta de serviços” e “teoria”, o que está inteiramente em acordo com aquela visão que foi se estabelecendo da Análise do Comportamento como uma disciplina multidimensional. A maior diversificação das produções em Análise do Comportamento e seu reconhe cimento institucional em vários contextos, nos últimos anos, não acontecem simplesmente por força de uma percepção diferente que analistas do comportamento passam a ter de si mesmos e de suas potencialidades, mas, principalmente, como re sultado de contingências sociais mais amplas e complexas, relacionadas à configuração do mercado de trabalho para analistas do comportamento nos Estados Unidos (princi palmente) e em outros países. Uma análise dessas contingências está para além dos objetivos deste capítulo. Mas apenas para dar uma ideia do que acontece nesse domínio, vale a pena citar que, atualmente, uma parte considerável das apresentações de traba lhos em eventos da ABA nos Estados Unidos, nas várias categorias, versam sobre o atendimento a autistas, por uma razão simples: há uma legislação federal que garante recursos para o atendimento a autistas e um reconhecimento da eficácia de programas com base na Análise do Comportamento, de modo que as instituições que oferecem aquele serviço e agências que financiam a pesquisa na área tendem a preferir contratar profissionais ou apoiar pesquisadores com formação em Análise do Comportamento. Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento ■ 9 Um outro exemplo de como aquelas contingências operam é encontrado comparando-se a produção de conhecimento e a oferta de serviços na área da tera pia analítico-comportamental, nos Estados Unidos e no Brasil. Nos Estados Unidos, a oferta da psicoterapia é coberta por seguros ou planos de saúde, que só autorizam despesas com tratamentos “empiricamente validados”, sendo essa validação estabe lecida por meio de estudos que se fundamentam em uma lógica conceituai e me todológica conflitante como a da Análise do Comportamento (Neno, 2005). Como resultado, há poucos tratamentos de base analítico-comportamental empiricamente validados, a modalidade de psicoterapia dominante é a terapia cognitivo-compor- tamental, e há poucos pesquisadores em Análise do Comportamento dedicados à pesquisa em terapia analítico-comportamental. No Brasil, ao contrário, a psicote rapia não é coberta por seguros ou planos de saúde, a oferta é livre, e o consumo do serviço está baseado em informações sobre a satisfação de usuários. Especialmen te na última década, com as publicações e eventos promovidos pela Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (ABPMC), a oferta de terapia de base analítico-comportamental multiplicou-se, assim como a produção de co nhecimento sobre essa modalidade de intervenção. Como resultado, há muito mais produção brasileira do que norte-americana sobre a terapia analítico-comporta mental, ainda que essa produção seja muito heterogênea do ponto de vista de sua articulação com investigações básicas e conceituais em Análise do Comportamen to (algumas vezes consistem apenas de descrições de intervenções). Voltando à questão da conformação contemporânea da Análise do Compor tamento, adimitindo suas quatro dimensões, a diversidade de métodos na investigação e produção de conhecimento e a natureza peculiar dos procedimen tos de intervenção do profissional com formação analítico-comportamental, é possível relacionar esse estágio de desenvolvimento da área com certos aspectos da constituição da Psicologia como campo de conhecimento e como profissão de ajuda. Tourinho (2003) assinalou que: ...por razões histórico-sociais, a Psicologia se ediflca como um campo do saber que envolve simultaneamente: (a) Um esforço reflexivo sobre a natureza humana, seus problemas e suas pos sibilidades de realização em diferentes domínios da vida (social, material, intelectual, religioso etc.). (b) Uma investigação cientificamente orientada para a descoberta de regulari- dades dos fenômenos psicológicos (um modo de tentar apreender as novas experiências sob a forma de enunciados que incorporam os requisitos em- pírico-racionais da emergente ciência). (c) Uma profissão de ajuda, voltada à solução de problemas humanos, (p. 35). No mesmo artigo, Tourinho (2003) propõe a interpretação da Análise do Com portamento como um campo do saber que assume determinada conformação em resposta às demandas tradicionalmente dirigidas à disciplina psicológica. Recu perando uma ideia anteriormente formulada (Tourinho, 1999) de interpretar o campo da Análise do Comportamento como um triângulo, cujos vértices são re 10 ■ Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento presentados pela trabalhos conceituais/filosóficos, trabalhos de intervenção e pesquisas empíricas, Tourinho (2003) sugere que o Behaviorismo Radical a Análi se Experimental do Comportamento e a Análise do Comportamento Aplicada constituem os vértices de um campo condicionado pelos três tipos de demandas dirigidas à Psicologia, mas cujas produções podem se diversificar muito mais, localizando-se em posições variadas da área interna daquela figura. A Figura 1.1 reproduz essa representação da Análise do Comportamento. Levando em conta as caracterizações mais recentes da Análise do Comporta mento, podemos pensá-la como um campo do saber no interior do qual se articulam tipos variados de produção, mais ou menos aproximados de três refe rências principais: • Investigação básica de processos comportamentais. • Produções reflexivas ou metacientíficas. • Intervenções voltadas para a solução de problemas humanos. Falamos dessas três referências como constitutivas de um mesmo campo, porque o que se produz em uma área é de algum modo regulado pelo que se pro duz nas demais. Além disso, essas referências podem condicionar de diferentes modos as produções em Análise do Comportamento, gerando uma diversidade muito maior de realizações. A investigação básica consiste da produção de conhecimento acerca do objeto que define primariamente o campo da Análise do Comportamento, isto é, as relações comportamentais, sob a forma de identificação de regularidades dessas relações. A investigação básica em Análise do Comportamento é tipicamente experimental. Variações metodológicas nas tentativas de estabelecer tais regularidades em geral representam produções mais afastadas do vértice da investigação básica, mais pró ximas de outros vértices, em posições internas do nosso triângulo epistêmico. As produções reflexivas ou metacientíficas reúnem tanto trabalhos mais filo sóficos, quanto investigações científicas propriamente ditas, de caráter histórico, teórico ou conceituai. As últimas são aqui designadas como metacientíficas, de um lado, para assinalar que continuam sendo trabalhos cientificamente validados, não são apenas reflexões filosóficas sobre os objetivos, o objeto e os métodos da Behaviorismo Radical Análise do Análise Comportamento Experimental do Aplicada Comportamento Figura 1.1 - Representação da Análise do Comportamento de acordo com Tourinho (2003). Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento ■ 11 Análise do Comportamento (como Skinner, 1963/1969, definia o Behaviorismo Radical); por outro lado, seu objeto é a própria investigação básica dos processos comportamentais e questões a ela associadas. As intervenções voltadaspara a solução de problemas humanos são aquelas que se ocupam dos problemas usualmente reservados à Psicologia como profissão, frequentemente problemas relacionados ao processo de individualização no mun do moderno, no campo da saúde mental, da educação, do trabalho etc. Como discutido acima, essas intervenções não se confundem com a pesquisa aplicada, não reproduzem seus métodos e não estão comprometidas com a produção de conhecimento, mas com o atendimento de demandas da população. Onde fica, então, a pesquisa aplicada em Análise do Comportamento, em nosso triângulo epistêmico? Em algum lugar intermediário, entre o vértice da investigação básica e o vértice das intervenções analítico-comportamentais. Elaborado desse modo, podemos pensar que as quatro dimensões do campo da Análise do Comportamento sugeridas por Hawkins e Anderson (2002) são apenas algumas das diversas realizações possíveis da disciplina. Por exemplo, ao lado da análise conceituai do comportamento, podemos considerar estudos filosóficos e históricos em Análise do Comportamento como outros tipos de produção reflexiva ou metacientífica. A proposta de Rutherford (2004) sobre a história da Análise do Comportamento, uma filosofia Behaviorista Radical da história etc. acomoda-se igualmente no vértice das produções reflexivas ou me- tacientíficas. Estas, por seu turno, não precisam ser vistas como uma área que, de fora, informa as outras, como sugerido por Moore e Cooper (2003), mas podem ser consideradas produções que regulam e são reguladas pelas demais, também variando quanto aos aspectos metodológicos e a conexões com interesses na solução de problemas humanos. Em uma direção diferente, podemos considerar as análises comportamentais da cultura como produções que se situam em alguma posição intermediária entre os estudos reflexivos e a investigação básica (algumas vezes, também conectadas de modo próximo com estudos aplicados a aplicações da Análise do Comporta mento). Isto é, são produções que podem se aproximar mais de um ou outro vértice do triângulo epistêmico da Análise do Comportamento, sendo reguladas pelos avanços em cada um dos campos que o constituem. O aspecto mais importante na presente discussão consiste no reconhecimento do caráter multidimensional da Análise do Comportamento e do processo em cur so de diversificação das produções em seu âmbito. Há várias razões para que esse reconhecimento seja enfatizado nos dias de hoje. Ainda hoje prevalece, dentro e fora da Análise do Comportamento, uma concepção que identifica o campo analítico- - comportamental com a Análise Experimental do Comportamento. Externamente, essa identificação funciona para desqualificar a Análise do Comportamento, sugerin do uma estreiteza de seus horizontes, o que impacta o reconhecimento social de analistas do comportamento e seu acesso ao mercado de trabalho da Psicologia. Internamente, essa identificação funciona para, entre outras razões, reduzir o valor ou a importância de produções não experimentais, o que tende a ser evitado quan do analistas do comportamento dedicam-se a programas amplos de pesquisa que envolvem produções básicas, conceituais e aplicadas. 12 ■ Definições Contemporâneas da Análise do Comportamento Outra razão para destacarmos a multidimensionalidade da Análise do Compor tamento consiste no notório desequilíbrio da produção na área e da necessidade de superá-lo, ampliando as realizações de analistas do comportamento dedicados a produções não experimentais. Por muitos anos, analistas do comportamento dedica- ram-se em sua grande maioria à investigação básica, o que impactou positivamente a disciplina de vários modos, mas não favoreceu que ela se desenvolvesse com vigor em todas as direções possíveis. A afirmação da Análise do Comportamento como campo do saber multidimen sional, nos termos discutidos anteriormente, também a qualifica como sistema psicológico, isto é, como um conjunto de práticas que responde às demandas que a cultura cotidianamente dirige à Psicologia. Esse reconhecimento deve trazer con seqüências para o acesso e atuação de analistas do comportamento em contextos variados de produção e gestão das práticas psicológicas na cultura. Por último, a caracterização aqui oferecida da Análise do Comportamento sugere termos à frente e também um desafio para a formação de analistas do comportamento. Se, é verdade que a especialização do conhecimento e das funções sociais são quase inescapáveis no mundo contemporâneo, precisamos buscar soluções para que ela não afete a formação de analistas do comportamento sob a forma de um domínio restrito do conhecimento e das técnicas desse campo de saber. Refletir sobre o impacto desse reconhecimento nas disciplinas vinculadas à Análise do Comportamento, em cursos de graduação e pós-graduação (incluin do os de especialização que têm entre seus objetivos a formação de analistas do comportamento), talvez seja uma tarefa das mais urgentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAER, D. M.; WOLF, M.; RISLEY, T. R. Some current dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, v, 1, p. 91-97,1968. BIRNBRAUER, J. S. Applied behavior analysis, service and the acquisition of knowledge. The Behavior Analyst, v. 2, p. 15-21,1979. DONAHOE, J. D. Interpretation and experimental-analysis: An underappreciated distinction. 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