Buscar

A Neo-teoria do Capital Humano na Educação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

Aula 7: A neo-teoria do Capital Humano
Segundo os ideólogos da Neo-teoria do Capital Humano, a escola deve se adequar às normas do mercado, para atender às novas demandas da sociedade. Por essa ótica, a educação passa a ser gerenciada como se fosse uma sociedade anônima, uma empresa, capaz de captar e gerir seu próprio capital sem depender do Estado para isso. Segundo Souza:
“a redefinição do modelo de desenvolvimento do capital sob a hegemonia neoliberal tem se materializado na política educacional pelo seu caráter de adaptar a educação às necessidades do mercado, através de estratégias de conformação da escola e de seus profissionais no interior da ordem de profundas mudanças sociais e econômicas em curso no mundo inteiro, de acordo com os interesses de manutenção das condições de acumulação capitalista.” (2002, p.87)
Acompanhando a ideologia neoliberal, onde as políticas sociais buscam a conformação, há uma democratização no acesso à escola, há um aumento quantitativo de vagas. Friedman, um dos teóricos mais importantes do neoliberalismo afirma que:
“uma sociedade democrática e estável é impossível sem um grau mínimo de alfabetização e conhecimento por parte da maioria dos cidadãos e sem a ampla aceitação de algum conjunto de valores” (1985, p.83-4)
Seguindo essa linha de raciocínio, podemos afirmar que essa democratização segue alinhada à mudança de finalidade da escola. Uma escola técnico-científica, que não preza uma formação humanística do indivíduo, mas uma formação guiada pela necessidade de mão de obra do mercado.
Nos discursos neoliberais, a educação não é mais reconhecida como integrante do campo social, mas se insere definitivamente no mundo do mercado. Vamos entender, segundo o ideal neoliberal, o papel atribuído à educação:
Atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa. Assegurar que o mundo empresarial tem interesse na educação porque deseja uma força de trabalho qualificada, apta para a competição no mercado nacional e internacional. [...]
Tornar a escola um meio de transmissão dos seus princípios doutrinários. O que está em questão é a adequação da escola à ideologia dominante. [...]
Fazer da escola um mercado para os produtos da indústria cultural e da informática, o que, aliás, é coerente com ideia de fazer a escola funcionar de forma semelhante ao mercado, mas é contraditório porque, enquanto, no discurso, os neoliberais condenam a participação direta do Estado no financiamento da educação, na prática, não hesitam em aproveitar os subsídios estatais para divulgar seus produtos didáticos e paradidáticos no mercado escolar. (MARRACH, 1996, p. 46-48).
A partir do exposto é fácil compreender que o neoliberalismo entende a escola como parte constituinte e importante do mercado, valorizando as técnicas de gerenciamento e reconhecendo que pais e alunos são consumidores do produto educação. Esvazia-se, desse modo, o papel político da educação.
Não é apenas a escola e a educação que tem o seu sentido resignificado, a Teoria do Capital Humano assume novos contornos e o principal disseminador dessas novas ideias é o Banco Mundial.
Buscando conformar a educação aos ideais neoliberais, o Banco Mundial apresenta propostas de reformulação do sistema educacional, entendendo que a educação deve ter como meta a criação de condições para o desenvolvimento econômico dos países.
Vejamos agora o que nos diz um relatório do referido Banco sobre a crença na educação como meio de ascensão, tanto individual quanto da nação. É importante observar como esse documento é influenciado pela teoria do capital humano:
A melhoria das aptidões e da capacidade do trabalhador é essencial para o êxito econômico numa economia global cada vez mais integrada e competitiva. Os investimentos em capital humano podem melhorar o padrão de vida familiar, expandindo as oportunidades, aumentando a produtividade, atraindo investimentos de capital e elevando a capacidade de auferir renda. (BANCO MUNDIAL, 1995, p. 42)
O investimento a que se refere esse documento é a educação. 
Outra parte do mesmo documento deixa clara a relação entre o pensamento neoliberal e a educação:
“Para o crescimento econômico e o bem-estar da família, é universalmente reconhecida a importância do investimento em capital humano, especialmente em educação”.
Podemos, então, pensar de que forma isso é verdade, já que, em período anterior, o Estado de Bem-Estar Social, o acesso à escola, nos países “subdesenvolvidos”, cresceu e a situação econômica ainda é precária. O Banco Mundial busca responder a essa questão, e a resposta é:  não adianta apenas investir no capital humano. Ainda, para o Banco Mundial, a centralização política é um entrave ao desenvolvimento.
         Os contingentes de trabalhadores do Vietnã e das Filipinas sempre tiveram taxas de alfabetização de adultos e níveis de instrução mais altos do que os outros países da região. Ainda assim, ambas as economias cresceram com relativa lentidão, (...), principalmente porque ambos os países adotaram estratégias de desenvolvimento – planejamento centralizado no Vietnã e substituição de importações nas Filipinas – que se revelaram incapazes de aproveitar inteiramente as suas reservas de capital humano. (BANCO MUNDIAL, 1995, p. 43)
A centralização política no mundo globalizado cria barreiras intransponíveis ao desenvolvimento econômico de uma nação e dos indivíduos, segundo os tecnocratas neoliberais.
Ou seja, o problema não está na teoria do capital humano, mas na forma como essa teoria tem sido administrada pelos governantes. Num mundo globalizado, o mercado deve ser livre dos entraves políticos para garantir o seu pleno desenvolvimento econômico. 
Como já salientamos, não foi simplesmente um transplante da teoria do capital humano para o pensamento neoliberal do final do século XX, é necessário reconhecer essas adaptações
No entanto, a crítica não é apenas a centralização política. Segundo a perspectiva neoliberal, a escola atravessa uma profunda crise de eficiência, qualidade e produtividade. A expansão escolar realizada nas décadas de 1960 e 1970 não primou pela organização e nem pela eficiência do serviço oferecido.
A crise das instituições escolares é produto, segundo este enfoque, da expansão desordenada e "anárquica" que o sistema educacional vem sofrendo nos últimos anos. Trata-se fundamentalmente de uma crise de qualidade decorrente da improdutividade que caracteriza as práticas pedagógicas e a gestão administrativa da grande maioria dos estabelecimentos escolares. (GENTILLI, 1996, p. 13)
Ou seja, a ineficiência da escola é responsabilidade direta da profunda incompetência dos que nela trabalham. Portanto, uma escola ineficiente não tem como contribuir na valorização do capital humano e muito menos no desenvolvimento econômico. Para que o investimento no capital humano, em tempos neoliberais, seja bem aproveitado é primordial uma profunda reforma administrativa do sistema educacional e escolar, com a introdução de mecanismos que controlem a eficiência, a produtividade e, principalmente, a qualidade desses serviços.
Gentilli (1996) salienta que diante desse diagnóstico feito pelos tecnocratas neoliberais, os argumentos centrais para a solução da profunda crise da escola perpassam pela falta de escolas melhores e não pela falta de escolas, falta de professores mais qualificados e não falta de professores, e uma melhor distribuição dos recursos financeiros existentes, já que recursos não faltam. Isso quer dizer que o desafio da escola é apenas gerencial, de gestão.
Ou seja, cabe à escola criar as condições necessárias ao indivíduo quanto à qualificação para quem sabe um dia consiga um emprego. Como fala Gentilli (1996), segundo os intelectuais neoliberais, a escola deve ser capaz de formar o indivíduo que é flexível para atender às demandas do mercado. Além do que, o papel da escola se esgota no exato momento em que o indivíduo se lança no mercado de trabalho,já que a escola tem como função apenas oferecer as ferramentas necessárias para competir nesse mercado.
Gentili faz, ainda, em sua análise, uma analogia entre o Mc Donald e o sistema escolar desejado pelos tecnocratas neoliberais; segundo o autor:
O que unifica os McDonald’s e a utopia educacional dos homens de negócios é que, em ambos, a mercadoria oferecida deve ser produzida de forma rápida e de acordo com certas e rigorosas normas de controle da eficiência e da produtividade. O modelo McDonald's tem demonstrado, graças à universalização do hambúrguer, uma enorme capacidade para ter sucesso no mercado da alimentação "rápida" (se é que o termo "alimentação" pode ser aplicado nesse caso).
      A escola, pelo contrário, no que se refere às suas funções educacionais, não tem sido tão bem sucedida, se avaliada sob a ótica empresarial defendida pelos neoliberais. Os princípios que regulam a prática cotidiana dos McDonald's, em todas as cidades do planeta, bem que poderiam ser aplicados às instituições escolares que pretendem percorrer a trilha da excelência: "qualidade, serviço, limpeza e preço".
[...] A escola, pensada e projetada como uma instituição prestadora de serviços, deve adotar esses princípios de demonstrada eficácia para obter certa liderança em qualquer mercado” (1996, p. 41).
Vamos agora observar as diretrizes do Banco Mundial para os países subdesenvolvidos em relação à escola e ao sistema educacional. Não podemos nos esquecer de que o Banco Mundial é um banco e como tal o seu objetivo é o lucro.
A importância desse banco não é apenas pela quantidade de dinheiro que empresta aos países, mas principalmente pela atuação estratégica “que vem desempenhando no processo de reestruturação neoliberal junto dos países em desenvolvimento, por meio de políticas de ajuste estrutural” (SOARES, 1998, p. 125).
O Banco Mundial tem tido um importante papel no cenário educacional brasileiro, as suas diretrizes nos mostram que a educação pensada é aquela como instrumento fundamental para a promoção do crescimento econômico e redução da pobreza.
Para alcançar estes objetivos, o Banco Mundial propõe pacotes de reformas educacionais aos países em desenvolvimento, como o Brasil.
Vejamos agora algumas das principais ideias do Banco Mundial:
Prioridade dos investimentos para o ensino fundamental, já que comparativamente o ensino fundamental é o que oferece maiores benefícios sociais e econômicos.
A melhora da qualidade e eficiência da educação e maior participação 
dos pais e da comunidade nos assuntos escolares.
Impulso do setor privado e os organismos não governamentais como agentes ativos
 no sistema educacional, tanto nas decisões como na implantação da reforma.
Com base em tais ideias, podemos constatar que o Brasil vem se guiando pela cartilha do Banco Mundial nas reformas educacionais. O Banco Mundial reconhece que um dos fatores chaves para alcançar a tão sonhada qualidade total é o desenvolvimento de um processo contínuo de avaliação do governo federal nas escolas e universidades. A escola tem sido organizada como uma empresa e o responsável pela sua administração é agora o gestor. As organizações não governamentais vêm se apresentando como soluções para o hiato deixado pelo Estado no campo educacional.
Além do que, estes problemas são ocasionados pela gestão má qualificada, por incompetência dos docentes, entre outros. O Banco Mundial tinha no final da década de 1990 projetos em nove estados brasileiros. A partir de suas análises sobre os problemas educacionais enfrentados pelo Brasil, o Banco destaca que os principais entraves à melhoria da qualidade da educação é a evasão e a repetência escolar.
Conforme Tommasi (1998), o Banco Mundial define os fatores responsáveis pela ineficiência da educação no Brasil, entre eles estão:
Falta de livros didáticos
Prática ineficiente dos professores
Gestão deficiente
Por conta desse diagnostico na nossa educação, são traçadas linhas de ações prioritárias:
Providenciar material didático
Ensinar técnicas aos professores
Melhorar o gerenciamento.
Melhoria da aprendizagem, através do currículo, livro didático, tempo e melhoria do ensino em sala de aula.
Preparação dos professores: tecnicismo, redução do tempo da formação.
 Fortalecimento da administração do sistema educativo.
Devemos compreender que a educação e o investimento no capital humano foram reapresentados na década de 1990, ainda, como a melhor maneira de ascensão social, e desenvolvimento econômico.  Ruckstadter (2005, 23) nos alerta que:
“defender a educação como alternativa para a exclusão social é alimentar um modelo perverso e excludente de desenvolvimento. Uma entre tantas outras contradições do sistema conômico em questão. Os meios de comunicação reforçam essa suposta necessidade da educação para a obtenção de emprego e sucesso no mercado de trabalho. O mito da educação como meio de ascensão social tomou conta do discurso inclusive de profissionais da área de educação, e a escola passou a ser entendida como instituição socializadora por excelência. No entanto, a mobilidade na sociedade capitalista só acontece dentro de uma mesma classe, não podendo haver, portanto, mobilidade social, uma vez que a primeira para que o sistema capitalista opere é justamente o antagonismo entre as classes sociais.”

Outros materiais