Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Linguística II – 2017.1 Guia de estudos AP2 – Aulas 9-20 AULA 9 1) Faça a representaça em árvore sintática ou em colchetes das sentenças abaixo. a) João ama festas de aniversário. [SN João [SV ama [SN festas [SP de [SN aniversário]]]]]] SV SN V N V SN João ama N SP festas P' P N de aniversário b) Maria teve muitos filhos. [SN Maria[SV teve [SN muitos livros]]]] SV SN V N V SN Maria teve N D N muitos filhos AULA 10 1) Qual é a instância que se localiza entre o léxico e o sistema computacional? Explique-a. A numeração. Ela é uma entidade psicológica que corresponde aproximadamente ao nosso planejamento de fala. É a compilação dos conjuntos de instruções que serão retirados para uma derivação. AULA 11 3) A Aquisição da Linguagem pode ser caracterizada como um fenômeno cognitivo e social complexo. Diferentes perspectivas teóricas buscam dar conta dessas duas dimensões do processo de aquisição. Desenvolva essa afirmação. A aquisição da linguagem envolve tanto um processo cognitivo de formação de regras abstratas (construção de uma gramática), quanto o desenvolvimento de habilidades de expressão e comunicação. Enquanto as primeiras são adquiridas pela simples exposição à língua em questão, as segundas dependem em boa medida da interação social. Existem diversas abordagens teóricas para tentar dar conta do complexo processo de aquisição. Como acontece nos estudos sobre a linguagem de um modo geral, também no caso da aquisição cada teoria prioriza algum aspecto específico em detrimento dos outros. Assim, encontramos a teoria gerativista cujo foco é a aquisição da gramática por parte da criança e abordagens sociointeracionistas que centram seu interesse em aspectos sociais e interacionais da linguagem. Ambas as perspectivas estudam o processo de aquisição, mas os objetivos específicos são diferentes em cada caso. 4) Explique a distinção entre aquisição e aprendizado no que diz respeito à língua falada e a língua escrita. A aquisição pode ser caracterizada como um processo de obtenção de conhecimentos e habilidades, mas sem a necessidade de todos os mecanismos envolvidos no processo de aprendizagem. A aquisição é um processo natural, diferente do aprendizado dirigido, que precisa da orientação de alguém dirigida à criança para que ela aprenda. A língua falada é um tipo de conhecimento adquirido pela criança. A língua escrita, por sua vez, depende de um processo de aprendizado: a criança passa usualmente por um ensino formal ao longo do qual são salientadas propriedades da língua, suas regras e exceções. Além disso, durante o aprendizado da escrita a criança utiliza um vocabulário especializado para expressar suas descobertas a respeito desse processo, suas dúvidas e questionamentos (Exemplo: “a barriguinha do ‘p’ é para a direita ou para a esquerda?”; “se eu falo [gatu] eu deveria escrever “gatu”; etc.) e é exposta a correções sistemáticas, que revelam padrões inexistentes da língua, para que assim ela os evite. Todas essas características permitem distinguir o processo de aprendizado da escrita do processo natural de aquisição da língua oral. AULA 12 5) O desenvolvimento linguístico apresenta aspectos universais ou compulsórios e aspectos idiossincráticos, peculiares a cada indivíduo. Desenvolva essa afirmação. É possível constatar que, partir de experiências diferentes, todos os membros de uma comunidade linguística – após o processo de aquisição ser completado – falam uma mesma língua. Esse fato sugere que, por mais distintas que tenham sido nossas experiências no desenvolvimento linguístico, haveria uma série de semelhanças marcantes entre nossas trajetórias. A ideia da universalidade remete, por sua vez, à ideia das fases na aquisição da linguagem: uma vez que as fases existem, toda criança não só passaria por elas, mas também passaria aproximadamente na mesma faixa etária e numa ordem semelhante. As fases podem ser definidas como etapas dentro de um quadro maior que a criança deveria cumprir em determinada época da vida. Alguns exemplos de fases universais pelas quais todos os bebês têm que passar são: a etapa do balbucio durante a qual as crianças testam um extenso inventário de distinções sonoras e suas combinações para, mais tarde, restringir o que elas vão usar (dependendo da língua em processo de aquisição), a ordem na aquisição dos fonemas, a fase de uma palavra, de duas palavras de enunciados maiores, etc. O processo de aquisição é, no entanto, bastante complexo e envolve aspectos cognitivos e sociais. É graças a essas características que encontramos também algumas exceções, idiossincrasias, que geram certas particularidades mais ou menos individuais (palavras ou expressões aparentemente “inventadas”). Contudo, essas diferenças ficam por conta das peculiaridades cognitivas e sociais do processo e não teriam influência significativa no desenvolvimento linguístico. AULA 13 6) Em que consiste o chamado Período Crítico da aquisição da linguagem? De acordo com a hipótese inatista, existiria um componente inato, específico para lidar com a linguagem. De acordo com essa mesma hipótese as fases e regras universais estariam previstas a partir do componente inato, sendo uma questão de tempo sua concretização. Haveria então uma programação biológica para a aquisição da linguagem: fases e regras estão previstas; a trajetória linguística da criança também está pré-estabelecida e tudo isso vai “acontecer” em um determinado período, dadas certas condições biológicas e ambientais. A esse período, foi dado por Eric Lenneberg o nome de Período Crítico e pode ser caracterizado como um período de início, formação e conclusão do desenvolvimento linguístico; uma “janela temporal” da programação biológica para a aquisição da linguagem. Considera- se o início como sendo o nascimento da criança, a formação como sendo o tempo em que ela está exposta à linguagem na infância e a conclusão como sendo o momento em que ela internaliza uma gramática (sistema de regras) da língua com a qual tem contato. Assim, durante esse período crítico, a criança deve estar em condições biológicas e ambientais minimamente necessárias para que esse processo dê certo. Se não estiver, a aquisição da linguagem não se dará de forma satisfatória. Estima-se que o período crítico encerraria por volta do começo da puberdade e esse fato estaria relacionado com as mudanças hormonais (principalmente no nível cerebral) que caracterizam essa etapa da vida. 7) Identifique evidências contra e a favor da hipótese do período crítico. O caso de Genie tem sido apresentado como evidência favorável à hipótese do período crítico, pois proporciona uma oportunidade de verificar se, de fato, há a necessidade de exposição em condições normais à linguagem durante um período pré- determinado (a infância) ou não. O fracasso de Genie em relação à aquisição da linguagem poderia então ser tomado como uma evidência a favor dessa hipótese(uma vez que Genie não teve exposição à linguagem durante o período crítico). Sabemos que Genie conseguia se comunicar, usando palavras isoladas e compreendendo o que lhe era dito, mas que apesar do intenso treinamento, seu domínio da língua sempre foi incompleto. Situações de bilinguismo envolvendo pessoas que aprenderam uma segunda língua após a puberdade podem parecer menos favoráveis – e até contrárias – à hipótese do período crítico. Ser bilíngue significa ser fluente em uma segunda língua e essa fluência é caracterizada por habilidades e desempenho de produção e compreensão oral e escrita avançadas. O termo “conhecimento”, entendido como Competência – conhecimento internalizado de regras e do sistema linguístico –, não é necessariamente colocado em foco no caso de bilinguismo. No caso de pessoas que adquirem uma segunda língua após o período crítico, apesar de serem tratados igualmente, os processos de aquisição da língua materna e de uma segunda língua seriam diferentes. O período crítico parece ser crucial no caso de uma primeira língua ou língua materna, mas não necessariamente isso se aplica no caso de segundas línguas, embora seja possível constatar que crianças são capazes de falar uma segunda língua sem sotaque com mais facilidade que adultos. Assim, é possível conciliar a hipótese do período crítico com casos de bilíngues que adquiriram uma segunda língua após a puberdade. AULA 14 8) Identifique as principais características das línguas de sinais e correlacione as características do processo de aquisição de línguas orais e de sinais. As língua de sinais apresentam um conjunto de características fundamentais compartilhadas com as línguas orais. Os sinais utilizados pelos falantes surdos não são gestos e podem ser definidos como signos linguísticos na medida que guardam uma relação de arbitrariedade entre forma e sentido. Línguas de sinais apresentam ainda uma estrutura própria, regras de boa formação de sentenças e os mesmos níveis linguísticos encontrados em línguas orais: fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática. No que diz respeito à aquisição de línguas de sinais, tem sido observado que o processo é bastante semelhante ao verificado nas línguas orais. Bebês surdos expostos desde cedo a uma língua de sinais passam por fases bem similares às observadas nos bebês ouvintes. Existem porém, algumas situações em que o contato de uma criança surda com uma língua de sinais pode ser enquadrado num processo de aprendizagem (e não de aquisição). O primeiro fator que pode levar uma criança surda a aprender e não adquirir uma língua de sinais é a ausência de contato com uma língua de sinais desde sua tenra infância. Outra situação na qual encontramos um processo de aprendizado são os casos nos quais é decidido que a criança surda aprenda o português (uma língua oral) no lugar de uma língua de sinais. Temos então uma situação caracterizada como oralismo, na qual o processo natural de aquisição de uma língua é substituído pelo aprendizado de uma língua oral. Crianças surdas que não têm contato com uma língua de sinais em sua infância correm o risco de perder o limite do período crítico para aquisição. Nesse caso, o máximo que conseguirão fazer é utilizar os sinais tardiamente aprendidos mesmo que fluentemente, mas através de um processo consciente e demorado, fruto de um processo de aprendizado. AULA 15 9) Os animais possuem sistemas de expressão e comunicação. Há, contudo, diferenças estruturais sistemáticas entre a “linguagem animal” e a linguagem humana. Desenvolva essa afirmação. Várias espécies apresentam um conjunto de meios de expressão que podemos definir como “sistemas de comunicação” – sendo alguns deles bastante sofisticados: abelhas fazem uma espécie de “coreografia de voo” para a localização do alimento, golfinhos são capazes de realizar tarefas mediante comandos verbais ou gestuais e alguns tipos de macacos utilizam gritos ou chamadas distintas para identificar os predadores. Há, contudo, diferenças estruturais e sistemáticas entre as linguagens animais e as línguas humanas. Os conceitos de Faculdade de Linguagem em Sentido Amplo (FLA) e restrito (FLR), propostos por Hauser, Chomsky & Fitch (2002), podem nos ajudar a entender melhor essas diferenças. A FLA envolveria os traços que existem em comum entre os sistemas de comunicação animal e as línguas naturais: servem para a comunicação, utilizam algum aparato fisiológico, possuem unidades que transmitem informação. Já a FLR, representaria aquilo que seria único à espécie humana: a capacidade de utilizar a linguagem de forma criativa em virtude da propriedade da recursividade linguística. AULA 16 10) Embora as primeiras expressões linguísticas sejam produzidas pela criança após seu primeiro ano de vida, bebês com idade bem inferior já demonstram ter algumas habilidades linguísticas. Como é que tais habilidades podem ser pesquisadas? São várias as técnicas que podem ser empregadas para pesquisas o conhecimento linguístico dos bebês. A maior parte dessas técnicas se baseia fundamentalmente na medição das reações da criança frente aos estímulos linguísticos – já que ela ainda não é capaz de responder a perguntas explícitas – para descobrir quais são as habilidades linguísticas do bebê. Diversos experimentos (um experimento é uma situação controlada na qual é possível isolar os fatores que podem ser relevantes para a ocorrência de um dado fenômeno) podem ser conduzidos a partir de técnicas tais como: a sucção não nutritiva, escuta preferencial e a fixação preferencial do olhar. Além disso, técnicas de neuroimagem também podem ser empregadas na pesquisa sobre aquisição da linguagem, principalmente o método de Potenciais Relacionados a Eventos e a Magnetoencefalografia, que são técnicas não invasivas que podem ser utilizadas com crianças. 11) É possível encontrar um desempenho linguístico normal em condições cognitivas fora do normal? Situações que envolvam um desenvolvimento normal da linguagem independentemente de um desenvolvimento anormal de habilidades cognitivas podem ser encontradas no caso da síndrome de Down e da síndrome de Williams. Em ambos os casos temos condições cognitivas fora do normal, evolvendo um QI baixo, mas um desempenho linguístico normal. Isso significaria uma total independência no desenvolvimento da linguagem e de outras habilidades cognitivas? A definição do que vem a ser linguagem deve ser levada em conta para responder a essa pergunta. Se entendermos linguagem como um sistema abstrato, um conjunto de regras que envolvem categorias, relações estruturais, etc., a resposta parece ser “sim”. Agora, se entendermos linguagem como uma atividade social, interacional, que se constrói em práticas discursivas, os portadores da síndrome de Down, revelam algumas limitações nesse sentido. AULA 17 12) A aquisição da linguagem envolve aspectos fonológicos, lexicais, morfossintáticos e semânticopragmáticos. Mencione alguns exemplos desses aspectos diversos que podem ser observados no estudo do processo de aquisição. No que diz respeito à fonologia, podemos observar que existem estágios de aquisição de segmentos e de sílabas. Dentre os primeiros sons sons que a criança adquire temos os sons /p/, /t/ e /k/ (o “c” de “casa”). Já outros sons como /l/ e o “lh”, /r/ e do /R/ (o “rr”) resultam mais difíceis. No que tange às sílabas, as que são formadas apenas por vogal já aparece cedo para as crianças, assim como sílabas formadas por consoante + vogal. No seguinte estágio encontramos sílabasterminadas por consoante (“mar”) e semivogais (“pai”). Por fim, a união é interrompida por uma outra consoante: temos assim os encontros consonantais com /l/ e /r/ (“flor” e “três”, por exemplo); uma sílaba assim é estruturada como consoante-consoante-vogal. Essas constatações permitem entender melhor porque as crianças em fase de aquisição fazem certas trocas de sons, mas não qualquer uma. Com relação ao léxico, é possível observar que as primeiras palavras utilizadas pelas crianças são substantivos. Posteriormente, começam a ser incorporados os verbos e, apenas mais tarde, vão aparecer outros tipos de palavras: adjetivos, preposições, artigos, e daí por diante. É importante salientar que a atividade de nomear – que é a função essencial da classe dos substantivos ou nomes - aparece em primeiro lugar. Os verbos, por sua vez, fazem referência a acontecimentos, eventos que têm lugar no tempo, diferentemente dos substantivos. Embora haja uma preferência inicial pelos substantivos e verbos, isso não significa que a criança não utilize outras classes de palavras. Ou seja, a ordem não é imutável e pré- estabelecida. A palavra “não”, por exemplo, é bem comum e surge logo no começo do trajeto linguístico da criança. Outro aspecto interessante, diz respeito ao fato de que muitas vezes a criança utiliza um tipo de palavra valendo por todas de que ela precisa(Exemplo: “Bó” por “Quero a bola” ou “Me dá a bola”. Palavras não referenciais, tais como artigos, pronomes e proposições, parecem ser adquiridas um pouco mais tardiamente. Crianças pequenas prestam atenção a partes das palavras, mas não a qualquer parte, mas aquelas que trazem um pouco do significado total. Podemos afirmar que crianças, mesmo pequenas, têm habilidades para lidar com as palavras, suas partes e seus significados. No que tange à sintaxe, as crianças possuem conhecimentos sobre estruturas da língua que estão adquirindo. Assim, elas são capazes de reconhecer que uma estrutura está mal estruturada. Ao mesmo tempo, em termos sintáticos, certos tipos de frases podem ser bastante complexas para as crianças. Frases na voz passiva, com sujeito reversível, do tipo “A menina foi beijada pela mãe” são um exemplo de estrutura que não é bem compreendida pelas crianças (embora elas mesmas sejam capazes de falar frases desse tipo). O caso das orações relativas é outro exemplo de sentenças problemáticas. Por último, com relação aos aspectos semântico-pragmáticos, a criança não apenas precisa conhecer o significado das palavras, mas também precisa compreender as relações que existem entre os significados das palavras e das frases. Além disso, muitas vezes o contexto é fundamental para que certas expressões possam ser corretamente entendidas. Ou seja, a criança precisa aprender a lidar com essas situações também. Inicialmente, estabelecer essas conexões pode ser complicado e difícil e a criança vai demonstrar dificuldade para entender certos contextos semânticos. O completo domínio das nuances semântico- pragmáticas só se dá mais tardiamente e, até mesmo falantes adultos podem apresentar algumas dificuldades com certos significados não literais: ironia, sarcasmo, metáforas, etc. AULA 18 13) Em que consiste o bilinguismo? O bilinguismo envolve uma situação na qual a pessoa tem contato com duas ou mais línguas. Porém, esse contato deve apresentar certas características específicas para que a pessoa possa ser considerada bilíngue: deve haver interação comunicativa com falantes nativos das línguas em questão (isto é, falantes que dominam plenamente a gramática dessas línguas), em ambientes acessíveis, de modo natural e constante. 14) Qual é a diferença entre aquisição e aprendizado de uma segunda língua? Basicamente, trata-se de dois processos diferentes: um processo de aprendizado não termina com o mesmo produto de um processo de aquisição. Podemos salientar as seguintes diferenças: enquanto a aquisição é implícita, inconsciente, construída a partir de situações informais (e independente de regras gramaticais formais) e apresenta uma ordem estável; o aprendizado é explícito, consciente, dependente de situações formais e de aptidão e – geralmente – segue uma ordem que vai do mais simples para o mais complexo (essa ordem não necessariamente reflete a ordem da aquisição natural de uma língua). 15) Explique os conceitos de code switching e interlíngua, vinculados à aquisição e aprendizado, respectivamente. O fenômeno do code switching (mudança de código) ocorre quando o falante bilíngue alterna entre uma ou mais línguas em uma mesma situação. Muitas vezes, o falante não percebe que está em realizando o code switching, já que é tão natural para ele acessar uma ou outra língua (= código), que acontece de uma ser acessada durante o acesso à outra. Por ambas terem o mesmo valor para o falante e constituírem sistemas linguísticos igualmente estruturados, o acesso inadvertido pode passar despercebido. O fenômeno chamado de interlíngua está relacionado ao aprendizado de língua estrangeira. Tratase de uma situação em que o aprendiz se encontra em um momento intermediário em direção ao domínio da língua estrangeira. Segundo alguns autores, trata-se de uma tentativa de domínio da língua estrangeira que apresenta distância do que se deseja alcançar. O que caracteriza a interlíngua é que a incorreção é constante e torna-se quase uma marca de um falante, pois ele estabiliza a construção utilizada, e o processo de substituição dessa construção incorreta pode encontrar resistência. Uma observação bastante comum a respeito do fenômeno da interlíngua é a utilização de construções da língua materna quando do uso da língua estrangeira. 16) Em que consiste a situação linguística conhecida como pidgin e como esse fenômeno se relaciona com o crioulo? Relacione esses dois fenômenos linguísticos com o processo de aquisição de uma língua natural. O pidgin é o resultado do contato de duas (ou mais) línguas. Esse contato acontece por algum motivo social ou político; temos um exemplo na chegada dos portugueses no Brasil. Pidgin cumprem uma função comunicativa: permitir que dois povos se compreendam. Seguindo com o exemplo do acontecido no Brasil, sem o pidgin (no caso a chamada Língua Geral, que continha elementos do português e do tupi), não haveria possibilidade de comunicação entre os portugueses e dos índios devido à distância entre as línguas. A “mistura” torna a comunicação viável e um efeito colateral desse objetivo é a simplificação das estruturas que constituem o pidgin. Esse efeito, que pode ser visto de modo negativo por um lado, pode trazer o benefício da facilidade da aprendizagem do pidgin por novos falantes: quanto mais simples em estrutura e vocabulário, mais fácil de aprender e de ser difundido. Um pidgin muito difundido começa a extrapolar as funções de comunicação entre dois povos e pode passar a cumprir outras funções. Um espaço ganho por um pidgin difundido é a família: se há contato duradouro entre os povos, se não há necessidade de que as línguas que deram origem ao pidgin sejam utilizadas em situações informais, então o pidgin pode expandir seus espaços. Nesse tipo de situação, quando crianças travam contato com o pidgin como único sistema linguístico disponível, elas reorganizam esse sistema. Em outras palavras, crianças expostas a um pidgin tornam as estruturas e vocabulários simplificados em sistemas complexos e ampliados. Esses sistemas linguísticos completos, derivados do pidgin recebem o nome de crioulos. O Tok Pisin (Papua Nova Guiné) e o Papiamentu, faladono Caribe, são alguns exemplos desse fenômeno. Esses dois fenômenos podem ser relacionados com o processo de aquisição de uma língua natural na medida que o elemento-chave para a transformação de um pidgin em um crioulo não é sua expansão e, sim, o fato de o pidgin servir de sistema base para a criação de um novo sistema linguístico gerado e criado pelas crianças. Em outras palavras, enquanto um adulto aprendendo um pidgin para utilizá-lo em situações específicas (comércio, por exemplo) terá facilidade e não alterará esse pidgin; uma criança adquirindo um pidgin está transformando-o em seu sistema linguístico, sua língua materna. Dessas duas situações, podemos extrair a seguinte conclusão: o aprendizado possuirá limites que não se aplicam na aquisição; pidgin e crioulo são mais uma amostra de como os processos de aquisição e de aprendizagem de uma língua estrangeira são distintos. 17) Caracterize brevemente as diversas abordagens de ensino de línguas estrangeiras. Com base num critério de natureza linguística, as diferentes abordagens para o ensino de línguas estrangeiras (LE) podem ser agrupados em dois grandes grupos: abordagens com foco no sistema e abordagens com foco no uso. Assim, existem perspectivas nas quais é valorizado o domínio de estruturas da língua estrangeira e se procura garantir que o aluno possua essas estruturas sistematizadas, mesmo que inconsciente disso. Outras perspectivas, porém, valorize principalmente as habilidades comunicativas, a possibilidade de compreensão e produção, mesmo que o aluno não tenha consciência de estruturas e construções da língua estrangeira. Essa divisão é útil para visualizar as principais abordagens, embora não permita visualizar diretamente os diferentes métodos de ensino utilizados, já que existem métodos mistos nos quais ambas perspectivas podem ser articuladas. AULA 19 18) Desenvolva brevemente as principais características das três situações atípicas que envolvem crianças no desenvolvimento da linguagem estudadas: gagueira, déficit especificamente linguístico e dislexia. O tipo de gagueira mais estudado e considerado por fonoaudiólogos pode ser caracterizado como um problema na atividade de dar início a uma palavra, gerando repetições de sons ou sílabas, sendo que a causa desse problema tem raízes neurológicas e fisiológicas. Atualmente, uma hipótese linguística bastante aceita localiza o problema da gagueira em um momento do processamento da produção da linguagem, especificamente no componente que cuida de organizar os sons das palavras. O quadro denominado déficit especificamente linguístico (DEL) pode ser caracterizado como um atraso no desenvolvimento da linguagem em crianças que aparentemente não apresentam nenhum outro problema evidente. Em outras palavras, crianças que, sem apresentar problemas de audição, neurológicos, psicológicos e com QI considerado normal, mostram um desfasagem no desenvolvimento da linguagem quando comparadas com crianças sem problemas na mesma faixa etária. O diagnóstico do DEL é bastante complicado já que é realizado com base no critério de exclusão, ou seja, se a criança não apresenta nenhum dos problemas anteriormente mencionados,mas seu desenvolvimento linguístico é atípico, então ela muitas vezes é considerada como portadora de DEL. Esse tipo de diagnóstico traz dificuldades na medida que o DEL, ao envolver a linguagem, pode acabar envolvendo outras áreas, outros componentes da mente, como memória, raciocínio, etc. Pesquisas apontam que o DEL pode ter uma origem genética. O elemento central caracterizador da dislexia é a inabilidade de fazer a combinação correta de letras em uma palavra. Para uma criança ler corretamente a palavra “prato” é necessário juntar as letras “p”,“r”, “a”, “t” e “o” uma por uma. Imagine que uma parte do cérebro éresponsável pela ordenação dessas letras e que essa parte pode apresentar um defeito. O resultado pode ser a união das letras mas em ordens diferentes: de “prato”, a criança poderia ler “parto” ou “porta”. Esse é o elemento central da dislexia, mas pode haver outros que acompanham certos casos mas não todos os casos. Em particular, a leitura de palavras isoladas (fora de contexto), raras, e em voz alta, é uma atividade difícil para as crianças disléxicas. Embora um leitor proficiente não siga um processo de leitura letra por letras (mas por segmentos maiores), a leitura por blocos, não é um fato que pertença aos momentos iniciais do aprendizado da leitura. Começamos aprendendo a ler letra por letra e mais tarde passamos a não precisar mais desse mecanismo e o substituímos por outro, o da leitura por blocos. Esses três fenômenos envolvem situações de desenvolvimento linguístico atípico. A gagueira está relacionada à produção da linguagem, a dislexia a um tipo específico de compreensão da linguagem escrita (a leitura) e o DEL tem um de caráter mais geral. Todos eles, embora se restrinjam ao componente da linguagem, têm repercussões na vida social de quem possui algum desses distúrbios. AULA 20 19) O que é a afasia? Explique brevemente em que consistem os tipos de afasia estudados no curso. A afasia envolve o deterioro ou comprometimento das habilidades linguísticas decorrente de uma lesão cerebral. Os motivos dessa lesão podem ser variados (traumatismo craniano, acidente vascular cerebral, doenças infecciosas como a meningite, etc.). Pacientes com lesão em áreas do cérebro responsáveis pela linguagem são chamados de afásicos. Segundo uma definição geral, a afasia de Broca envolve problemas na produção da linguagem, com preservação das restantes faculdades mentais. Pacientes com esse tipo de afasia apresentam problemas na construção de frases, mas são capazes de articular corretamente os dias da semana ou os meses do ano. A área do cérebro afetada corresponde a uma pequena área, a terceira circunvolução frontal do hemisfério esquerdo, chamada área de Broca em homenagem ao seu descobridor. Inicialmente, foi proposto que essa área seria a responsável pela articulação da linguagem. A chamada afasia de Wernicke, por sua vez, pode ser caracterizada por uma fala fluente, mas desprovida de sentido como resultado da falta de compreensão daquilo que é dirigido a esses pacientes. O local da lesão cerebral nesses casos é a parte posterior do lobo temporal esquerdo. Por ter sido descoberta por Wernicke, essa área ganhou seu nome e ficou conhecida como a área que sedia a compreensão da linguagem. Neste caso, aparentemente, as conexões entre conceitos e sons estão danificadas e por esse motivo os afásicos de Wernicke não só não compreendem o que lhes é dito, mas também produzem frases sem sentido. A anomia se caracteriza por problemas na nomeação fora isso, o afásico anômico possui fala fluente e níveis normais de compreensão. Pacientes anômicos podem nomear um lápis como “caneta”, um galo como “pato”, e daí por diante, apesar de nomear os objetos de forma errada eles não confundem os objetos entre si. Os erros encontrados nesses pacientes possuem uma explicação semântica (palavras de um mesmo campo semântico) ou fonológica (em vez de “lápis”, dizem “lata, laranja, lava”, palavras com alguns sons parecidos com os da palavra alvo). Um outro tipo é a chamada afasia de condução. Esse tipo de afasia recebe esse nome, pois se acredita que pessoas com esse problema não conseguem conduzir uma informação armazenada para a sua posterior articulação. O problema de um afásico de condução é não ser capaz de repetir sequer uma sequência de duas palavras como “casa, bola”.Os sons dessas palavras são armazenados em sua memória de curto prazo, mas não são passados para a articulação, perdendo-se no meio do caminho. O último tipo de afasia estudado é o agramatismo. Esse tipo de afasia parece afetar diretamente a competência linguística, produzindo uma alteração na capacidade de análise sintática, gerando construções frasais pobres e compreensão seletiva baseada em apenas em pistas semânticas. Agramáticos não produzem orações subordinadas nem interrogativas complexas e não compreendem frases que apresentam divergência de ordem canônica ou de atribuição de papel semântico a seus componentes.
Compartilhar