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Gêneros e tipos textuais Fiorin

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Publicado em: 
Gêneros e tipos textuais In: Ensaios sobre leitura. 1 ed. Belo Horizonte: Editora da PUCMinas, 2005, v.1, p. 
101-117 
Gêneros e tipos textuais* 
José Luiz Fiorin (USP) 
 Significação e gênero textual 
 
 Paes, José Paulo (1998). Seek transit. Os melhores 
poemas de José Paulo Paes. Seleção de Davi Arrigucci Jr. São Paulo, Global, p. 129. 
 
Qualquer pessoa que olha o texto acima vê que se trata de um sinal de trânsito. Um 
motorista paulistano entende que a placa indica que a Avenida Liberdade está interditada, 
que, à direita, na direção mostrada pela seta, ele vai para o bairro do Paraíso, para a Vila 
Mariana e para o Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN). 
 
No entanto, esse texto aparece num livro de poesia. Isso significa que o texto ganha novas 
significações. Ele está dizendo que a liberdade, ou seja, a condição daquele que não está 
submetido a nenhuma força constrangedora física ou moral, está proibida, interditada, 
vedada. Por isso, os indivíduos devem adotar uma direção obrigatória seja para realizar 
suas atividades práticas (ir ao DETRAN), seja para dirigir-se aos lugares onde vão efetuar 
suas atividades cotidianas (Vila Mariana) ou aos lugares onde se realizam os sonhos, as 
 
* Para dar um caráter didático ao texto, optou-se por não fazer citações bibliográficas. A bibliografia utilizada 
encontra-se no final do texto. 
atividades extraordinárias (Paraíso). A placa de trânsito transforma-se num poema que fala 
sobre a impossibilidade do querer (a interdição da liberdade) e a coerção do dever. 
 
Por que houve essa mudança da significação do texto? Porque se alterou o gênero do texto. 
 
Todos os textos que produzimos sejam eles orais ou escritos, sejam eles manifestados por 
qualquer outra linguagem que não a verbal, são sempre a materialização de um gênero. 
Assim, por exemplo uma conversa com amigos é diferente de uma conversa com os pais, 
uma aula é distinta de um sermão, uma carta comercial é diversa de uma carta de amor, um 
filme de bang-bang é diferente de uma filme policial, uma novela de época é distinta de 
uma novela urbana e assim por diante. Todos os textos são produzidos dentro de um 
gênero, todos os textos são manifestações de um gênero. 
 
Os gêneros são organizações relativamente estáveis caracterizadas por uma temática, uma 
forma composicional e um estilo. A temática não é o assunto de que trata o texto, mas é a 
esfera de sentido de que trata o gênero. Assim, numa conversa de amigos, a temática são os 
acontecimentos de nossa vida mesmo íntima; numa oração, a temática é o agradecimento 
ou a súplica a Deus ou aos santos; numa carta comercial, a temática é o tratar de um 
negócio; num requerimento, a temática é um pedido a uma autoridade pública. A forma 
composicional é a estrutura do texto. Assim, uma carta comercial tem lugar e data, assunto, 
fórmula de cortesia, assinatura. O estilo é o conjunto de marcas lingüísticas exigidas por um 
gênero. Assim, numa carta comercial, é preciso usar uma linguagem formal, donde estão 
excluídas quaisquer expressões afetivas; é necessário utilizar a norma culta; deve-se ser 
conciso e direto. Numa carta a um amigo ou parente, o estilo é completamente outro. 
 
Os gênero são inúmeros, pois eles dizem respeito à esfera das atividades cotidianas 
(relações de amizade, convívio familiar, etc.), bem como à esfera das atividades 
institucionalizadas (prática religiosa, atividades escolares, relações jurídicas). Em cada uma 
dessas esferas de atividade, há inúmeros gêneros textuais. Por exemplo, na esfera da prática 
religiosa, temos o sermão, a oração, as fórmulas rituais, etc. No nível das atividades 
jurídicas, há a petição, a sentença, etc. Na esfera das atividades jornalísticas, temos, por 
exemplo, o gênero editorial, em que se opina sobre os acontecimentos, e o gênero notícia, 
em que se dão informações sobre os acontecimentos. 
 
O que é importante é ter presente que a mudança de gênero do texto altera os significados 
dos elementos do texto (palavras, imagens, gestos, etc.). Isso quer dizer que seu significado 
depende também do gênero do texto. Foi o que aconteceu no exemplo acima. A mudança 
do gênero sinal de trânsito para o gênero poesia produziu uma mudança no sentido dos 
elementos do texto. 
 
Observe o caso abaixo: 
 
Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho que receberá o nome de 
Emanuel, que significa "Deus conosco" (Mateus, 1, 23). 
 
Se esse texto pertencesse ao gênero informação científica, por exemplo, ele seria um 
absurdo, porque todos sabemos que uma virgem não pode conceber nem dar à luz. No 
entanto, como ele pertence ao gênero profecia, da esfera da prática religiosa, o texto ganha 
um sentido perfeitamente coerente, já que, dentro da lógica do discurso religioso, um Deus 
que se faz homem só poderia nascer de uma Virgem, porque, se ele nascesse como todos os 
outros homens, seria apenas homem e não um Deus feito homem. 
 
Numa conversa entre amigos, às vezes, um dirige-se ao outro, com palavras que, em outro 
gênero de texto, seriam um xingamento, mas que, nesse gênero, são formas de marcar uma 
grande intimidade. 
 
Pode-se parodiar ou estilizar um gênero. No gênero receita, o texto tem duas partes: 
ingredientes e modo de preparar. O tema é sempre ensinamento para preparar um 
alimento. No texto abaixo, o poeta Nicolas Behr mantém a estrutura composicional e o 
estilo do gênero receita, mas muda a temática. Fala não de uma receita de alimento, mas de 
uma receita de poesia. Ele estilizou a receita de alimento para construir seu texto de receita 
poética. 
 
 Receita 
 Ingredientes 
 2 conflitos de gerações 
 4 esperanças perdidas 
3 litros de sangue fervido 
5 sonhos eróticos 
2 canções dos beatles 
 
Modo de preparar 
dissolva os sonhos eróticos 
 nos dois litros de sangue fervido 
 e deixe gelar seu coração 
 
 leve a mistura ao fogo 
 adicionando dois conflitos 
 de gerações às esperanças 
 perdidas 
 
 corte tudo em pedacinhos 
 e repita com as canções dos 
 beatles o mesmo processo usado 
 com os sonhos eróticos mas desta 
 vez deixe ferver um pouco mais e 
 mexa até dissolver 
 
 parte do sangue pode ser 
 substituído por suco de 
 groselha mas os resultados 
 não serão os mesmos 
 
 sirva o poema simples 
 ou com ilusões 
 (Nicolas Behr. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de e PEREIRA, Carlos 
Alberto Messeder (orgs.). Poesia jovem anos 70. São Paulo, Abril, 1982) 
 
 Tipos textuais 
 
Como se disse acima, comunicamo-nos por meio de textos, que pertencem sempre a um 
gênero determinado: o bate-papo com os amigos, o bilhete, a reportagem, a notícia, o 
horóscopo, o edital de concurso, a bula de remédio, o cardápio, etc. Cada esfera de 
comunicação têm os seus gêneros próprios. Por exemplo, o discurso jornalístico usa 
gêneros, como a notícia, o editorial, os gráficos, etc. Há, no entanto, uma categoria mais 
geral de organização dos textos, que poderia ser denominada tipo textual. Os tipos são 
construções textuais que apresentam determinadas características lingüísticas. São bem 
poucos os tipos textuais: o narrativo, o descritivo, o expositivo, o opinativo, o 
argumentativo e o injuntivo. Quando dizemos que o tipo textual é uma categoria mais geral 
do que o gênero, o que queremos dizer é que os gêneros fazem uso dos tipos na sua 
composição. Assim, um mesmo tipo é utilizado por diferentes gêneros: os gêneros notícia, 
fofoca, romance, conto, etc. usam o tipo textual intitulado narração. Por outro lado, é 
preciso dizer ainda que o mesmo gênero se vale de maisde um tipo textual: por exemplo, 
no gênero romance, encontramos o tipo narrativo, que será predominante, mas podemos 
também deparar com o tipo descritivo, quando o narrador nos mostra os lugares, as 
personagens; o tipo opinativo, quando o narrador dá sua opinião sobre os acontecimentos 
relatados, etc. Por isso, é preciso ficar claro que os tipos, freqüentemente, não são 
encontrados em estado puro, já que um gênero pode valer-se de vários tipos. Quando 
dizemos que um texto é narrativo, estamos classificando-o, assim, porque nele predomina o 
tipo narrativo e não porque ele se vale exclusivamente do tipo narrativo. A classificação do 
tipo de texto faz-se pela dominância e não pela exclusividade. O tipo textual dominante 
num gênero faz parte de sua estrutura composicional. Assim, o tipo injuntivo faz parte da 
forma composicional da receita de cozinha. Vamos analisar alguns tipos textuais. Deixamos 
de lado a narração e a descrição e a argumentação por serem os tipos mais freqüentemente 
estudados. 
 
A dissertação. 
 
Observemos o texto que segue: 
Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser primeiro-ministro. O primeiro é 
saber, com prudência, como servir-se de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, 
como trair ou solapar os predecessores; e o terceiro, como clamar, com zelo furioso, contra a 
corrupção da corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que se valem do último desses 
métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e subservientes à vontade e 
às paixões do amo. Tendo à sua disposição todos os cargos, conservam-se no poder esses ministros 
subordinando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via de um expediente 
chamado anistia (...), garantem-se contra futuras prestações de contas e retiram-se da vida pública 
carregados com os despojos da nação. 
(SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver. São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234-235). 
 
Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem chega a ser primeiro-ministro, 
aconselha o príncipe discreto a escolher entre os que clamam contra a corrupção na corte e 
justifica seu conselho. 
 
O texto é temático, isto é, trabalha com abatrações, pois analisa e interpreta a realidade com 
conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem particular e do que faz para 
chegar a ser primeiro-ministro, mas do homem em geral e de todos os métodos para atingir 
o poder). Mesmo os termos concretos são tomados em seu valor genérico: por exemplo, 
quando se fala em se servir de uma filha, a palavra filha está tomada em seu valor genérico, 
isto é, refere-se a toda e qualquer filha. 
 
A progressão dos enunciados não se fez temporalmente, mas logicamente. As idéias 
encadeiam-se por relações lógicas (por exemplo, clamar contra a corrupção da corte 
implica ser corrupto depois da nomeação para primeiro-ministro). 
 
O tempo verbal fundamental nesse tipo de texto é o presente com valor atemporal. Ele 
aparece nas frases que enunciam o que o autor pretende sejam verdades válidas em todos os 
tempos e lugares: veja-se, por exemplo, "um príncipe discreto prefere nomear os que se 
valem do último desses métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais 
obsequiosos e subservientes à vontade e às paixões do amo" 
 
O texto compõe-se de duas partes bem determinadas: a) introdução: no caso, os três 
métodos pelos quais um homem pode chegar a ser primeiro-ministro; b) o 
desenvolvimento: no texto acima, o conselho dado ao príncipe para nomear como primeiro-
ministro aquele que clama contra a corrupção na corte. 
 
O texto acima é uma dissertação, tipo textual que serve para analisar, interpretar, explicar e 
avaliar os dados da realidade. 
 
As características da dissertação são: 
 a) é um texto temático, pois não se destina a contar episódios singulares ou a 
descrever seres concretos e particular, mas dá explicações, faz análises, interpretações e 
avaliações válidas para muitos casos concretos e particulares; por isso, constrói-se 
dominantemente com termos abstratos; 
 b) a ordenação do texto não é temporal como na narrativa, em que se relata um 
acontecimento depois do outro, de acordo com sua progressão no tempo, mas é uma 
ordenação construída com base em relações lógicas: pertinência, causalidade, coexistência, 
implicação, correspondência, etc. 
 c) como esse tipo de texto pretende expor verdades gerais (ou pelo menos tomadas 
como tal), válidas para muitos casos particulares, o tempo por excelência da dissertação é o 
presente atemporal; podem-se eventualmente, usar outros tempos, principalmente, os outros 
dois tempos do sistema do presente: o pretérito perfeito e o futuro do presente; 
 d) esse tipo textual apresenta, normalmente, a seguinte estrutura composicional: 
introdução, desenvolvimento, conclusão. 
 e) normalmente, o enunciador não se projeta no interior do enunciado: daí a 
preferência por não usar, nesse tipo textual, a primeira pessoa do singular, mas a primeira 
pessoa do plural ou as formas impessoais. 
 
Um texto dominantemente dissertativo pode referir-se ao que é particular e concreto, 
valendo-se, portanto, de descrições e narrações. No entanto, elas não são o elemento central 
do texto; elas servem apenas para ilustrar afirmações gerais ou para argumentar a favor 
delas ou contra elas. 
 
A dissertação é o tipo textual predominante nos gêneros das esferas da ciência (por 
exemplo, a exposição científica, a divulgação científica, o relatório técnico) e da filosofia 
(por exemplo, a exposição filosófica), bem como em gêneros de outras esferas de 
circulação (por exemplo, os editoriais dos jornais). 
 
Poder-se-ia notar que a dissertação não estava arrolada entre os tipos textuais mencionados 
acima. No entanto, dissertação é um termo usado há séculos na escola. Por isso, preferimos 
tratar dela. No entanto, pode-se refinar mais o estudo do tipo dissertativo, dizendo que ele é 
um macrotipo textual, que recobre dois outros tipos: o expositivo e o opinativo. 
 
O texto expositivo e o texto opinativo 
 
Observemos os texto que seguem. O primeiro foi retirado do site lqes.iqm.unicamp.br, que 
divulga notícias científicas numa linguagem acessível e agradável; o segundo é um trecho 
de um artigo de autoria do psicanalista Hélio Pellegrino, foi colhido no site 
www.dhnet.org.br. 
 
Stradivarius perde o véu de mistério ! 
 
Quem, pelo menos uma vez, não teria lido ou ouvido o nome Stradivarius? Isso sem falar daqueles 
que tiveram o prazer de ouvir o som ma-ra-vi-lho-so de um dos instrumentos de corda - violinos (os 
mais famosos), harpas, violões, violas ou violoncelos -, assim conhecidos. De um total de mais de 
1100 instrumentos fabricados por Stradivarius, cerca de 650 vivem até os dias de hoje. 
 
Antonio Stradivari, mais tarde Stradivarius (1644-1737), célebre "luthier", original de Cremona 
(Itália), tem hoje seu nome reconhecido como sinônimo de violino de grande valor. Por mais de 250 
anos, tanto a geometria quanto o design, propostos por Stradivarius, têm servido como modelo 
conceitual para a fabricação de violinos. 
 
Não foram poucos os que tentaram descobrir o segredo de fabricação de tais instrumentos: tratar-se-
ia do verniz utilizado, de um trabalho particular sobre a madeira, do quê, enfim? Para responder a 
estas perguntas, pesquisadores da Universidade de Colúmbia e da Universidade do Tenessee, ambas 
nos Estados Unidos, debruçaram-se sobre o assunto, chegando à conclusão de que a qualidade 
acústica dos famosos violinos provém das próprias características da madeira, marcada por um clima 
sobremodo particular. 
 
Estudando os anéis da madeira com a qual foramfeitos os instrumentos, reconstituíram a história do 
crescimento das árvores que lhes deram origem. Constataram que elas tinham conhecido longos 
períodos invernais, dado que entre a segunda metade do século XV e a primeira metade do século 
XIX a Europa sofrera um pequeno período de glaciação, com um ponto culminante entre 1645 e 
1715, conhecido com o nome de "mínimo de Maunder" (E.W. Maunder foi um astrônomo do séc. 
XIX que documentou a falta de atividade solar no período em questão). 
 
Ocorre ter sido exatamente entre 1700 e 1720 que os melhores trabalhos do mestre foram 
executados. Os pesquisadores observaram que os invernos rigorosos são responsáveis por um 
crescimento bastante lento das árvores, fato atestado também pelos anéis, bastante próximos um dos 
outros, que acabaram por reforçar não somente a resistência da madeira mas também sua densidade. 
Tais fenômenos, segundo eles, explicariam o caráter único dos Stradivarius, os quais se destacam por 
sua insuperável qualidade de som e pela beleza da cor de sua madeira. 
 
 
PENA DE MORTE 
 
(...) Na avaliação do problema da pena de morte, há que levar em conta o fato de que ela, uma vez 
aplicada, cria uma situação absoluta – e irreparável. A morte é a impossibilidade de qualquer 
possibilidade, seja lá do que for. Na medida em que condenemos alguém à execução capital, 
estaremos praticando um ato absoluto. desmesurado e ilimitado na sua irretratabilidade. Ora, para 
que uma ação desse tipo fosse minimamente legitimável, seria necessário que os julgamentos 
humanos pudessem reivindicar para si um grau também absoluto de certeza – e de verdade. Só posso 
castigar quem quer que seja, de maneira absoluta, na medida de uma absolutização paranóica de 
minhas razões, critérios e discernimentos. A pena de morte, por parte daqueles que a defendem, uma 
usurpação do lugar da divindade. Só Deus é senhor absoluto – e juiz supremo – da vida e da morte. 
(...) 
 
Além dos aspectos filosóficos e religiosos que a condenam, a pena de morte é perfeitamente 
indefensável a partir de argumentos sociais e políticos. Cada sociedade tem os criminosos que 
merece, isto é, a prática do bem e do mal, ou a maneira pela qual os seres humanos se relacionam, 
tem tudo a ver com a vida comunitária e com o grau de justiça – ou de injustiça – que lhe define a 
estrutura. A fome, a opressão espoliadora, o abandono da infância, o desemprego em massa, os 
graves – e clamorosos – desníveis entre as classes não constituem, obviamente, boa fonte de 
inspiração para um correto exercício da cidadania. O processo civilizatório, pelo qual cada um de nós 
dá o salto da natureza para a cultura, de modo a tornar-se sócio da sociedade humana, exige 
renúncias cruciais – e sacrifícios cruciantes. Na infância, através das vicissitudes do complexo de 
Édito, temos que abrir mão de nossas primeiras – e decisivas – paixões. Depois, o corpo social nos 
impõe a lenta e dolorosa aquisição de uma competência, que nos qualifique para o trabalho e para o 
pão de cada dia. 
 
Tudo isto – contadas as favas – nos custa os olhos da cara, e da alma. É preciso, de maneira absoluta, 
que cada trabalhador, seja ele qual for, receba da comunidade um retorno salarial e existencial 
condigno, expressão do respeito coletivo pelo seu esforço. Este é um dever social irrevogável, ao 
qual corresponde um direito sagrado. A ruptura desta articulação constitui uma violência inaudita, 
capaz de tornar-se a matriz de todas as violências – e de todos os crimes. Uma sociedade como a 
nossa, visceralmente comprometida com a injustiça e, portanto, geradora de revolta e delinqüência, 
cometeria uma impostura devastadora – e destruidora -, se adotasse a pena de morte. Ao invés de 
fabricarmos bodes expiatórios, temos todos que assumir, sem exceção de ninguém, a 
responsabilidade geral pela crise – e pelo crime. 
 
Há, por fim, a favor da pena de morte o argumento psicológico da intimidação. O criminoso, diante 
do risco de perder a vida, pensa duas ou mais vezes na conseqüência fatal do delito que o tenta, 
acabando por desistir de praticá-lo. Afirma-se aqui o princípio – psicanaliticamente ilusório – de que 
o delinqüente grave tem arraigado amor à própria vida. Em verdade, acontece o oposto. A auto 
estima do ser humano se constrói a partir dos cuidados – do amor – recebidos de fora, dos outros. 
Este amor, internalizado, vai constituir o fundamento da possibilidade que cada um terá de amar-se a 
si mesmo, por ter sido amado. Se sou capaz de amar a mim próprio, e à minha vida, sou também 
proporcionalmente capaz de amar ao Próximo, meu semelhante, meu irmão – e meu espelho. 
 
O criminoso grave, ao liquidar sua vítima, condena-se, por mediação dela, à morte, com ódio e 
desprezo. Não o imitemos, através da pena de morte. 
 
Os dois textos acima são dissertações. No entanto, há uma diferença entre eles. O primeiro 
expõe os motivos que levam os instrumentos fabricados pelo célebre luthier (= palavra 
francesa que designa o fabricante de instrumentos de corda) Antonio Stradivarius a ter 
qualidades acústicas excepcionais. O texto mostra que isso se deve à qualidade da madeira 
usada, que tem uma resistência e uma densidade muito grandes, devidas fato de que ela foi 
retirada de árvores que cresceram num período em que a Europa passou por uma glaciação. 
O segundo texto entra na polêmica sobre a adoção da pena de morte no Brasil, 
apresentando três argumentos contra ela: a) a pena de morte produz um efeito irreparável e, 
portanto, sua adoção deveria pressupor a inexistência de erros judicários, o que é 
impossível; b) a violência é fruto de uma sociedade injusta e, portanto, deveriam ser 
eliminados as causas estruturais da violência; c) a pena de morte não intimida os criminosos 
mais frios e sanguinários, pois eles não têm amor à vida. O autor do segundo texto 
manifesta, com uma série de argumentos, sua opinião sobre um assunto controvertido. 
 
A diferença entre os dois textos é que o primeiro é um texto que identifica um problema 
(por que os instrumentos fabricados por Stradivarius têm qualidades acústicas 
excepcionais?), estabelece uma ligação de causalidade entre fenômenos (características da 
madeira e glaciação no período em que os instrumentos foram construídos) e, assim, 
explica o problema identificado. Esse é um texto expositivo, que serve para transmitir e 
construir um saber sobre um dado tema. O segundo externa o ponto de vista do autor sobre 
uma questão da vida social. É o que chamaríamos um texto opinativo. É preciso deixar 
claro que um texto opinativo não se funda apenas num eu acho que. Na verdade, é um texto 
que exige uma argumentação objetiva e consistente para expor um ponto de vista sobre uma 
dada questão. Como as questões que atingem os seres humanos (por exemplo, os programas 
de governo, a questão do aborto, das quotas na universidades) são sempre polêmicas, o 
texto opinativo é um pronunciamento sobre uma questão da vida social. O ponto de vista do 
enunciador revela sempre suas representações do mundo social e subjetivo, sua visão de 
mundo: por exemplo, manifestar-se a favor da extensão de direitos a minorias mostra uma 
visão de mundo, pôr-se contra elas evidencia outra concepção do mundo. O texto opinativo 
sustenta determinadas posições e refuta outras. 
 
Os textos expositivos são utilizados em gêneros da esfera da ciência, da filosofia, da escola, 
etc. (por exemplo, o livro didático, a exposição científica, a divulgação científica, a 
demonstração do teorema). Os textos opinativos são usados em gêneros da esfera da 
política, do jornalismo, etc. (por exemplo, o editorial, o discurso parlamentar, as 
declarações de voto). 
 
Muitas vezes, a diferença entre eles ébastante sutil. No entanto, a questão não é classificar 
os textos como expositivos ou opinativos, uma vez que, na verdade, os textos reais não são 
puros, mas valem-se de diferentes tipos textuais. O que importa é saber que há textos que 
servem para expor a demonstração da solução de um dado problema, para explicar um 
fenômeno, e há textos que servem para expressar uma dada opinião, consistentemente 
argumentada, sobre uma questão da vida social. 
 
É preciso considerar ainda que não é apenas no texto opinativo que o enunciador expressa 
uma posição. No texto opinativo, ele o faz de maneira clara. No entanto, em todos os outros 
tipos de texto, estão presentes os pontos de vista de quem elabora o texto. O que é diferente 
em cada tipo de texto é o modo como o produtor apresenta suas perspectivas. No texto 
expositivo, o autor manifesta seu ponto de vista ao considerar como válida uma explicação 
e não outra. Uma coisa é explicar as características de um indivíduo pela posição dos astros 
no momento de seu nascimento, outra muito diferente é fazê-lo pela hereditariedade; outra 
ainda é fazê-lo pelo ambiente em que foi educado. 
. 
 
 O texto injuntivo 
 
Observemos o texto que segue: 
 
Frango com azeitonas pretas 
 
1 kg de sobras de frango assado 
100 g de azeitonas pretas 
4 filés de anchova 
3 dentes de alho 
1/2 copo de sobra de vinho branco seco 
3 colheres (sopa) de azeite 
2 colheres (sopa) de vinagre 
sal e pimenta 
 
Coloque numa frigideira o azeite e os dentes de alho espremidos e leve ao fogo. Quando começar a 
dourar, junte o frango em pedaços. Deixe fritar até conseguir um dourado escuro. Molhe com o vinho e 
o vinagre e acrescente as anchovas picadas, metade das azeitonas picadas e as restantes inteiras, sem 
caroços. Espere até que o vinho evapore totalmente e junte um copo e meio de água. Deixe ferver 
novamente, até a água evaporar e engrossar o molho, e sirva em seguida. 
(PICCHETTO, Mariella e CATTANI, Roberto. Reciclar é gostoso. São Paulo, Ática, 1994, p. 98) 
 
O texto acima é uma receita de cozinha. Nela se ensina a preparar o prato frango com 
azeitonas pretas, feito com sobras de frango assado e outros ingredientes. No título, expõe-
se o objetivo da receita, o prato que se pretende ensinar a preparar. Depois de listar os 
ingredientes que são necessários, apresentam-se as ações que devem ser feitas para chegar 
ao objetivo visado. Essas ações são apresentadas na ordem em que devem ser executadas. 
Ao apresentá-las, usam-se verbos no imperativo (coloque, junte, deixe fritar, molhe, 
acrescente, etc.). Esse texto é chamado texto injuntivo. O nome vem do fato de que ele se 
constrói basicamente com o imperativo, o modo da injunção (= prescrição). 
 
Os textos injuntivos, embora se apresentem como uma seqüência de injunções, na verdade, 
transmitem um saber sobre como realizar alguma coisa, expõem um plano de ação para 
atingir determinado objetivo. Explicitam, por exemplo, como montar um computador, 
como preparar um prato, como tomar direito uma medicação, como tornar-se mais sensual, 
como perder a barriga, como portar-se em sociedade. Os textos injuntivos estão 
predominantemente presentes nos chamados textos instrucionais-programadores, que 
compreendem gêneros como receitas, guias, manuais de instalação; textos de 
aconselhamento, que comportam o gênero dicas sobre beleza, saúde e comportamento, 
textos reguladores-prescritivos, que abarcam o gênero legal (leis, regimentos, regras de 
jogos, etc.). 
 
As características do texto injuntivo são: 
a) exposição do objetivo da ação: aquilo a que se visa com a realização do que vem 
prescrito a seguir; essa exposição pode aparecer no título ou numa breve 
introdução (por exemplo: Dicas para perder a barriga ou Quando os filhos se 
tornam adultos sua relação com os pais muda. (...) Eis algumas orientações para 
essa nova fase de relacionamento (VEJA nº 1868, 25/08/2004, p. 108)); 
b) apresentação da seqüência de ações a realizar para atingir um dado objetivo: essas 
ações devem ser realizadas simultânea ou sucessivamente (por exemplo, numa 
receita há ações que devem ser realizadas umas depois de outras: dourar o alho, 
juntar a carne para fritar; há ações que devem ser executadas simultaneamente: 
por exemplo, os deveres de um condômino); há ações que são obrigatórias (por 
exemplo, bata as claras em ponto de neve), outras que são eventuais (por 
exemplo, Se seu filho apresentar sintomas de regressão, procure mostrar a ele 
que é amado) e outras que são opcionais (por exemplo, numa receita, quem não 
gostar de peras, pode substituí-las por maçãs); há certas ações que são principais 
para atingir um dado objetivo (por exemplo, cozinhe em fogo lento por vinte 
minutos) ou outras que são secundárias (por exemplo, lave as maçãs); as ações 
são apresentadas no imperativo ou em forma verbal com valor de imperativo; 
c) justificativa da ação: essa característica é opcional (por exemplo, seja firme nas 
suas decisões, para que seu filho não cresça achando que todas as normas podem 
ser contornadas). 
 
Conclusão 
 
Os gêneros são formas lingüísticos concretas, que são utilizadas nas diferentes esferas de 
atividade em que se organiza a vida social. São formas de ação verbal. O processo de 
socialização implica a apropriação dos gêneros: socializar-se é aprender a usar determinado 
gênero numa dada situação de interação. Os gêneros são entidades sócio-históricas. Por 
conseguinte, podem mudar de uma sociedade para outra, de uma época para a outra (por 
exemplo, na discussão acadêmica os norte-americanos são muito mais diretos do que os 
brasileiros ao apresentar suas críticas: isso faz parte do estilo do gênero discussão científica, 
que é diverso nos Estados Unidos e no Brasil). Os tipos são matrizes lingüísticas, que 
podem ser usadas em diferentes gêneros. Dado seu grau de abstração, os tipos têm uma 
permanência muito grande, podem ser idênticos em sociedades diferentes e em épocas 
diversas. 
 
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