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Artigos Educação infantil: o que diz a legislação

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jusbrasil.com.br
11 de Abril de 2017
Artigos ­ Educação infantil: o que diz a legislação
Como citar este artigo: BARROS, Miguel Daladier. Educação infantil:
o que diz a legislação . Disponível em http://www.lfg.com.br. 12 de
novembro de 2008.
"Educai as crianças para não ter que punir os adultos ."
(autor desconhecido)
1. Introdução
O presente artigo tem por objetivo, dentre outros, abordar a legislação
brasileira que trata da educação em geral e, em especial, a Educação
Infantil ­ isto é, o atendimento a crianças de zero a seis anos em
creches e pré­escolas ­, direito público subjetivo assegurado pela
Constituição Federal de 1988. Abordaremos ainda a eficácia dessa
legislação frente aos desafios enfrentados ao longo dos anos pela
educação no Brasil, concluindo, sobre a necessidade ou não de uma
ampla reforma nesse aspecto legislativo.
Iniciando o nosso trabalho, faremos uma viagem ao longo da História
Constitucional do Brasil, iniciando pela "Carta Imperial ", de 1824, até
os dias atuais sob a égide da"Carta Cidadã ", de 1988, com o objetivo
de verificar como a educação vem sendo tratada a nível constitucional,
ou seja, se a política educacional brasileira atende aos verdadeiros
anseios do cidadão. Abordaremos ainda a Educação Infantil na atual
Constituição , a Educação Infantil na legislação infraconstitucional, o
Plano Nacional de Educação (PNE), dados estatísticos da Educação
Infantil e, finalizando o nosso artigo, abordaremos a formação de
profissionais da Educação Infantil.
Enfim, o objetivo principal desse artigo é trazer a criança para o centro
da pauta das discussões, envolvendo nesse contexto, as "três
instituições do cidadão": a Família, a Escola e a Igreja , mesmo que
ela ­ a criança ­, ainda não figure como prioridade na agenda das
políticas públicas das três esferas do poder (União, Estados e
Municípios). Relacionar a Educação Infantil à economia, cultura,
história, política, saúde e meio­ambiente, situando a educação e o
cuidado da primeira infância como ponto estratégico para o
desenvolvimento humano e social. Este é o nosso grande desafio!
2. Educação nas Constituições Brasileiras
Uma rápida viagem através das constituições brasileiras, leva­nos às
seguintes conclusões:
A "Constituição Política do Império do Brasil", de 25 de março de 1824,
conhecida por "Carta Imperial "e, a"Constituição de República dos
Estados Unidos do Brazil", de 24 de fevereiro de 1891, conhecida
como"Carta Republicana de 1891 ", não trataram especificamente do
tema educação. A"Carta Imperial "tinha como objetivo maior
consolidar e manter a independência do Brasil, em razão da resistência
oposta pelo Reino de Portugal quanto dos segmentos da sociedade
portuguesa aqui radicada que não se conformavam em perder o
domínio sobre o Brasil Colônia. Do mesmo modo, a"Carta
Republicana de 1891 "não tratou especificamente da educação que
somente foi explicitada a nível constitucional a partir da"Constituição
da Republica dos Estados Unidos do Brasil", de 16 de julho de 1934,
seguindo­se nas demais constituições, cujo apogeu deu­se na
atual"Constituição da Republica Federativa do Brasil", de 5 de outubro
de 1988, também conhecida por"Constituição Cidadã", em razão de ter
como foco de suas ações ­ o cidadão .
Nesse contexto, a educação foi genericamente tratada pela
"Constituição da Republica dos Estados Unidos do Brasil", de 16 de
julho de 1934 em seus artigos 148 a 158. O mesmo aconteceu com as
demais constituições: "Constituição dos Estados Unidos do Brasil", de
10 de novembro de 1937, artigos 128 a 134; "Constituição dos Estados
Unidos do Brasil", de 18 de setembro de 1946, por meio dos artigos 166
a 175; "Constituição do Brasil", de 24 de janeiro de 1967, em seus
artigos 168 a 172; "Constituição da Republica Federativa do Brasil" ou
"Emenda Constitucional nº 1/69", de 17 de outubro de 1969, por
intermédio dos artigos 176 a 180 e, finalmente, a atual "Constituição da
Republica Federativa do Brasil", de 5 de outubro de 1988, a
"Constituição Cidadã", em seus artigos 205 a 214.
Entretanto, diferentemente das demais, a atual Constituição Federal
erigiu a educação ao status de fundamento da República Federativa do
Brasil no artigo 1º , inciso III , ao dispor sobre a "dignidade da pessoa
humana "e, através do artigo 3º, inciso III, que dispõe sobre o objetivo
fundamental a ser alcançado pela República Federativa do
Brasil:"erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais ". A"Constituição Cidadã"foi mais
além ao dispor no artigo 6º que:"São direitos sociais a educação, a
saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma da lei ".
Verifica­se, portanto, que a "Constituição Cidadã", foi mais ousada que
as suas antecessoras ao elevar a educação ao patamar de direito
fundamental, objetivo fundamental e direito social da República
Federativa do Brasil, seguindo, desse modo, a moderna tendência das
atuais Nações Democráticas cujas políticas encontraram­se centradas
no bem­estar e na dignidade da pessoa humana .
3. Educação Infantil na atual Constituição
A educação e o cuidado na primeira infância vêm sendo tratados como
assuntos prioritários de governo, organismos internacionais e
organizações da sociedade civil, por um número crescente de países em
todo o mundo. No Brasil, a Educação Infantil ­ isto é, o atendimento a
crianças de zero a seis anos em creches e pré­escolas ­ é um direito
assegurado pela Constituição Federal de 1988. A partir da aprovação
da Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional , em 1996, a
Educação Infantil passa a ser definida como a primeira etapa da
Educação Básica.
Nesse sentido, várias pesquisas realizadas nos anos de 1980 já
mostravam que os seis primeiros anos de vida são fundamentais para o
desenvolvimento humano, e a formação da inteligência e da
personalidade, entretanto, até 1988, a criança brasileira com menos de
7 anos de idade não tinha direito à Educação. A Constituição atual
reconheceu, pela primeira vez, a Educação Infantil como um direito da
criança, opção da família e dever do Estado. A partir daí, a Educação
Infantil no Brasil deixou de estar vinculada somente à política de
assistência social passando então a integrar a política nacional de
educação.
A Constituição Federal criou a obrigatoriedade de atendimento em
creche e pré­escola às crianças de zero a seis anos de idade em seu
artigo 208 , inciso IV . Entretanto, até a presente data esse sonho do
legislador constituinte de 1988 ainda não virou realidade. O artigo 211,
§ 2º, dispõe que os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
fundamental e na Educação Infantil. Para tanto, preceitua o artigo 212
que a União aplicará, anualmente, nunca menos de 18% (dezoito por
cento) e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios 25% (vinte e
cinco por cento), no mínimo, da receita resultante de impostos,
compreendida a proveniente de transferências, na Educação.
Estabelece ainda no artigo 23, inciso V, a competência comum de
proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência e,
destes entes políticos­administrativos, somente os Municípios estão
impedidos de legislar sobre Educação e proteção à infância, segundo
dispõe o seu artigo 24, incisos IX e XV, respectivamente. De outro lado,
através do artigo 209, incisos I e II, submete as instituições
educacionais privadas que atendam crianças de zero a seis anos de
idade, à supervisão e fiscalização do Poder Público. Tal regra encontra
ressonância no artigo 22, inciso XXIV, que dispõe sobre a competência
legislativa privativa da União de legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional .
Enfim, além de explicitar os princípios e normas inerentes à educação,
a Constituição de 1988 albergou,em seu seio, normas de caráter
universal, verdadeiros vetores generalíssimos, os quais se aplicam ao
processo educacional e, em particular, ao processo ensino­
aprendizagem. O artigo 205 da Carta Política de 1988 inovou em
matéria de política educacional, ao dispor que a educação, direito de
todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho. Para que o ambicioso, porém não prioritário projeto
inserido no artigo 205 da Constituição seja efetivamente cumprido,
muito há que se fazer em termos de polícias públicas voltadas para a
educação de qualidade. Para que seja efetivado o desígnio
constitucional em comento, torna­se indispensável a existência de
escola de qualidade para todos. Caso contrário, e esta é a nossa triste
realidade, o direito público subjetivo à educação assegurado pela
Constituição Federal ficará sem sentido. Será mais uma norma sem
alma, sem efetividade, aliás, como a maioria das normas que têm o
cidadão como destinatário.
Como se vê, no Brasil os Poderes Públicos poderiam fazer muito mais
pela educação, promovendo­a, colocando­a a disposição de todos, até
porque ela, a educação, encontra seu referencial maior no artigo XXVI,
da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, da qual o
Brasil é um de seus signatários.
4. Educação Infantil na legislação infraconstitucional
No Brasil estamos vivendo um momento histórico muito oportuno para
a reflexão e a ação em relação às políticas públicas voltadas para as
crianças. Cada vez mais, a educação e o cuidado na primeira infância
são tratados como assuntos prioritários por parte dos governos
Federal, Estadual e Municipal, bem como pelas organizações da
sociedade civil, por um número crescente de profissionais da área
pedagógica e de outras áreas do conhecimento, que vêem na Educação
Infantil uma verdadeira "ponte " para a formação integral do cidadão.
A ciência mostra que o período que vai da gestação até o sexto ano de
vida, particularmente de 0 a 3 anos de idade, é o mais importante na
preparação das bases das competências e habilidades no curso de toda
a vida humana. Nesse aspecto, os extraordinários avanços da
neurociência têm permitido entender um pouco melhor como o cérebro
humano se desenvolve. Particularmente do nascimento até os 3 anos
de idade, vive­se um período crucial, no qual se formarão mais de 90%
das conexões cerebrais, graças à interação do bebê com os estímulos
oriundos do ambiente em que vive. Acreditava­se, inicialmente, que a
organização cerebral era determinada basicamente pela genética;
agora, os cientistas comprovaram que ela é altamente dependente das
infantis.
Sob o ponto de vista da Educação Infantil, antes mesmo das pesquisas
realizadas sobre o cérebro, já constatava sensíveis progressos nos
níveis de aprendizagem e desenvolvimento das crianças que
freqüentaram a educação pré­escolar. Um estudo científico bastante
significativo nesse aspecto foi feito pelo "Projeto Pré­Escolar
High/Scope Perry ", em Michigan, nos Estados Unidos, que
acompanhou crianças de famílias de baixa renda desde a época que
participaram do projeto pré­escolar, com 3 ou 4 anos, até os 27 anos de
idade. A avaliação longitudinal demonstrou que o grupo que recebeu
atendimento pré­escolar obteve, a longo prazo, níveis mais altos de
instrução e renda, e menores índices de prisão e delinqüência.
Lembrem­se:"Educai as crianças para não ter que punir os
adultos ". O Brasil, na atualidade, discute­se com bastante freqüência
as possíveis soluções para a falta de segurança da sociedade,
entretanto, nenhuma relevância é dada à Educação Infantil como fator
de diminuição dos índices da delinqüência em todos os níveis que
assola a sociedade brasileira.
A relação custo­efetividade (equação econômica: "custo­benefício ") do
programa em que as crianças receberam atendimento pré­escolar
indicou benefícios estimados em 7 vezes o custo original do programa.
Os benefícios ocorreram como resultado da economia produzida pela
redução nos gastos de educação primária (pela diminuição da evasão e
da repetência), saúde, previdência social e sistema prisional,
combinada com o aumento da produtividade ao longo do tempo.
No Brasil, dispomos de legislação avançada na área da educação,
introduzida pela Constituição Federal de 1988: o "Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA)"­ Lei nº 8.069 , de 13 de julho de 1990, e a"Lei
de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional (LDB)"­ Lei nº 9.394 , de
20 de dezembro de 1996. Além dessa legislação nacional específica
temos acesso a pesquisas internacionais e estudos nacionais que
apontam para os benefícios do investimento público na primeira
infância.
4.1. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)­ Lei nº
8.069 , de 13 de julho de 1990.
Com o advento da Lei nº 8.069 /90 ­ Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), os Municípios passaram a ter responsabilidade
pelos direitos da infância e adolescência, através da criação do
Conselho Municipal, do Fundo Municipal e o Conselho Tutelar. Em seu
artigo 227, a Constituição Federal consagra uma recomendação em
defesa da criança ao dispor que é dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança, com absoluta prioridade, dentre outros, o
direito à educação. Essa perspectiva pedagógica passa a ver a criança
como um ser social, histórico, pertencente a uma determinada classe
social e cultural. Cumpre, inicialmente, estabelecer a diferença prevista
no artigo 2º do ECA entre criança e adolescente. Criança é o menor
entre zero e 12 anos e adolescente, o menor entre 12 e 18 anos de idade.
O artigo 4º relata os direitos básicos da criança e do adolescente,
dentre eles, à educação, à profissionalização e à cultura.
No que diz respeito à educação e à cultura, o artigo 53 dispõe que a
criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania
e qualificação para o trabalho. Assim, a educação passa a ser um
direito público subjetivo da criança e do adolescente, devendo ser
garantida pelo Estado. Segundo Paulo Afonso Garrido de Paula,
Educação, em sentido amplo, abrange o atendimento em creches e pré­
escolas às crianças de zero a seis anos de idade, o ensino fundamental,
inclusive àqueles que a ele não tiveram acesso na idade própria, o
ensino médio e o ensino em seus níveis mais elevados, inclusive
aqueles relacionados à pesquisa e à educação artística. Nesse contexto
está o dever do Estado de assegurar à criança e ao adolescente o
atendimento em creche e pré­escola às crianças de zero a seis anos de
idade, segundo dispõe o artigo 54 , inciso IV do ECA .
Quanto à obrigação dos pais ou responsável, o artigo 55 elenca dentro
dos mandamentos contidos no artigo 22, a obrigação de matricular
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. O descumprimento
desta regra implica em aplicação da medida de proteção mencionada
no artigo 129, inciso V ("obrigação de matricular o filho ou pupilo e
acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar ") e o
cometimento do delito capitulado no artigo 246 , do Código Penal
Brasileiro ( Abandono intelectual. "Art. 246. Deixar, sem justa
causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena
­ detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa" ), somente em
relação aos genitores.
O artigo 59 prevê que os Municípios, com apoio dos Estados e da
União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para
programações culturais, esportivas e de lazer voltadas à infância e a
juventude.
4.2. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)­ Lei nº
9.394 , de 26 de dezembro de 1996.
Em 26 de dezembro de 1996, o legislador infraconstitucional,
atendendo ao compromissodo legislador constituinte de 1988,
referente ao direito do cidadão à educação, agasalhados na
Constituição Federal nos artigos 205 a 214 , editou a Lei nº 9.394 /96 ­
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Nesse sentido, dispõe em
seu artigo 1º que a educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. No artigo
seguinte (artigo 2º), ao dispor sobre os princípios e fins da educação
nacional, destacou o papel da família e do Estado, leia­se, do Poder
Público em promover a educação como processo de reconstrução da
experiência, sendo, portanto, um atributo da pessoa humana e, por
isso, comum a todos.
Na esteira desse entendimento, o artigo 4º, inciso IV assegura a
educação escolar pública com atendimento gratuito em creches e pré­
escolas às crianças de zero a seis anos de idade. Nesse aspecto a LDB
merece elogio haja vista que estendeu a garantia da gratuidade para as
creches e pré­escolas, pois a Constituição no seu artigo 208 , inciso IV ,
prevê apenas o atendimento em creche e pré­escola às crianças daquela
idade, silenciando quanto à gratuidade. Por outro lado, através de uma
interpretação sistemática em face do disposto no artigo 30 desta Lei, a
Educação Infantil não integra propriamente o domínio fundamental do
ensino, por motivo de que na Educação Infantil a avaliação far­se­á
mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.
Em conseqüência, diante do sistema de direitos e garantias previstos
na Constituição Federal e pela Lei nº 9.394 /96 (LDB), concluímos que
mesmo sem o caráter obrigatório para os pais ou responsáveis, a creche
e a pré­escola, correspondendo a deveres do Estado e da família para
com a educação, são etapas integrantes do ensino fundamental,
tornando­se secundário o disposto no artigo 30 da LDB .
A partir das interações que estabelece com pessoas próximas, a criança
constrói o conhecimento. A família, primeiro espaço de convivência do
ser humano, é um ponto de referência fundamental para a criança
pequena, onde se aprende e se incorporam valores éticos, onde são
vivenciadas experiências carregadas de significados afetivos,
representações, juízos e expectativas (que são atendidas ou frustradas).
A educação inicial da criança se dá na família, e também na
comunidade e, com o advento do trabalho feminino, cada vez mais
cedo, nas escolas. Por isso, as instituições de Educação Infantil
tornam­se mais necessárias, tendo caráter complementar à educação
recebida na família. Esse princípio, afirmado tanto na Constituição
Federal quanto na LDB , consta do mais importante documento
internacional de educação do século XX, a Declaração Mundial de
Educação para Todos (Jomtien/Tailândia, 1990).
Nesse contexto, é muito importante que haja uma boa interação entre a
creche ou pré­escola e a família. Não só porque os pais podem
compreender o trabalho que está sendo feito ­ como as crianças se
relacionam entre si e com os adultos, quais materiais pedagógicos e
espaços estão disponíveis, qual a qualidade da merenda, quais
princípios e diretrizes orientam a ação da instituição, qual seu projeto
pedagógico ­, mas também porque permite que a escola conheça e
aprenda com os pais. Um momento precioso é o período de adaptação
da criança, fase fundamental para a troca de conhecimentos entre pais
e escola e para a constituição de laços de confiança entre eles.
Segundo o Programa Nacional de Educação (PNE) de 2001, a
articulação com a família visa, mais do que qualquer outra coisa, ao
mútuo conhecimento de processos de educação, valores, expectativas,
de tal maneira que a educação familiar e a escolar se complementem e
se enriqueçam, produzindo aprendizagens coerentes, mais amplas e
profundas. O resultado dessa troca produz efeitos sobre a auto­estima
da criança e no seu desenvolvimento.
É crucial que a instituição de Educação Infantil respeite e valorize a
cultura das diferentes famílias envolvidas no processo educativo. Além
disso, deve estimular a participação ativa dos pais, padrastos e outras
figuras masculinas da família no cuidado e na educação, como base de
uma educação não­discriminatória, que contribua para superar a visão
( paradigma ) de que tal responsabilidade é exclusiva das mulheres.
Para que haja maior interação entre família e escola, a instituição deve
estar preparada para lidar com as diferentes e plurais estruturas
familiares, que vão muito além do modelo tradicional de marido­
mulher­filhos. É cada vez mais comum a família monoparental
(Constituição Federal , artigo 226 , § 4º), isto é, aquela em que apenas
um dos pais (homem ou mulher) é referência. No Brasil, quase um
terço das famílias é chefiado por mulheres. Há também famílias
reconstituídas, na qual mulheres e homens vivenciam novos
casamentos e reúnem filhos de outras relações, famílias que articulam
em uma mesma casa vários núcleos familiares, famílias formadas por
casais homossexuais, entre outras.
Outros fatores que devem ser levados em conta são as diferenças
sociais. Em um País marcado por profundas desigualdades, como é o
caso do Brasil, uma série de condições sociais e familiares colocam
milhões de crianças em situação de risco. Como as pesquisas
evidenciam que apenas o atendimento de qualidade produz resultados
positivos sobre o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, é
fundamental que essas crianças tenham acesso a experiências
educativas de qualidade nas creches e pré­escolas.
Só assim a Educação Infantil poderá se constituir como importante
fator de democratização da nossa sociedade. Se atuarem juntas,
compartilhando anseios, conquistas e dificuldades, família e escola
cumprirão com grande sucesso a tarefa de formar seres humanos
confiantes, tolerantes, solidários e respeitosos dos direitos e da
dignidade de todos ­ enfim, cidadãos!
O artigo 10 , inciso VI da LDB dispõe sobre as atribuições dos Estados
em assegurar, com prioridade, o ensino fundamental. Assim, as
disposições constitucionais do artigo 211, §§ 2º, 3º e 4º, harmonizam­
se no sentido de que, se por um lado, os Municípios atuarão
prioritariamente no ensino fundamental e na Educação Infantil (artigo
211, § 1º), os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no
ensino fundamental e médio (artigo 211, § 3º). De outro lado, o artigo
211 , § 4º , acrescentado através da Emenda Constitucional nº 14 /96
dispõe que na organização de ensino, os Estados e os Municípios
definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a
universalização do ensino obrigatório. Isto significa dizer, que o
Município somente poderá prestar Educação Infantil e superior e os
Estados ensino médio e superior, uma vez atendida plenamente a
demanda pelo ensino fundamental, único estritamente obrigatório.
Esta previsão encontra­se insculpida no artigo 11 , inciso V , da LDB ao
dispor que os Municípios incumbir­se­ão de oferecer a Educação
Infantil em creches e pré­escolas, e, com prioridade, o ensino
fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente
quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área
de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos
vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento
do ensino.
O artigo 22 da LDB que trata da educação básica expressa apenas duas
finalidades: a) fornecer ao aluno a formação comum indispensável
para o exercício da cidadania ; b) fornecer­lhe meios para progredir
no trabalho e em estudos posteriores . Nesse contexto, a Educação
Infantil, na qualidade de ramo da educação básica, alberga,
necessariamente, estas finalidades.
De outro norte, um tema muito pouco explorado desde a publicação da
Lei deDiretrizes a Bases da Educação (LDB)é o da natureza obrigatória
da Educação Infantil. Assim, quando se fala no princípio da
obrigatoriedade da educação, estamos falando na responsabilidade do
Estado e da família. Tal previsão encontra­se no artigo 29 da LDB ao
dispor que a Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem
como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de
idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade. Por esse motivo,
a discricionariedade ou a omissão administrativa do Poder Público em
promover a Educação Infantil na sua rede oficial de ensino dá ensejo às
ações judiciais cabíveis, e qualquer cidadão poderá demandar contra o
Poder Público para exigir o acesso à educação por meio de mandado de
segurança (artigo 5º , inciso LXIX , da Constituição Federal), ou grupos
de cidadãos por meio de mandado de segurança coletivo, desde que
preenchidas as exigências contidas no artigo 5º , inciso LXX , alínea b ,
da Constituição Federal , ação cautelar ou outra via adequada, haja
vista a declaração legal e constitucional de que tal acesso é direito
público subjetivo , podendo, desse modo, provocar o Judiciário em face
do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional de qualquer
lesão ou ameaça de lesão a direito (artigo 5º , inciso XXXV , da
Constituição Federal). Já o Ministério Público é parte legítima para
demandar contra o Poder Público para exigir o acesso à educação pelos
meios citados, com exceção do mandado de segurança coletivo por
faltar­lhe legitimidade processual. Entretanto, poderá, principalmente,
por força do disposto no artigo 129 , inciso III , da Constituição Federal
, do artigo 25 , inciso IV , alínea a da Lei nº 8.625 /93 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público) e, no artigo 5º da Lei nº 7.347 /85,
propor ação civil pública .
Conforme acima mencionado, o artigo 31 da LDB dispõe que na
Educação Infantil a avaliação far­se­á mediante acompanhamento e
registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo
para o acesso ao ensino fundamental. A LDB determina que a União
estabeleça, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, as diretrizes curriculares para toda a Educação Básica
(Educação Infantil, Ensinos Fundamental e Médio). Isso significa fixar
as normas mínimas que assegurem uma formação comum em todo o
território nacional. Em abril de 1999, o Conselho Nacional de Educação
(CNE) fixou as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a
Educação Infantil.
Não podemos deixar de mencionar nesse espaço a garantia à educação
aos portadores de deficiência, hodiernamente chamados de portadores
de necessidades especiais . O Brasil tem uma importante legislação
neste campo. A Constituição Federal estabelece, no artigo 208 , inciso
III , que é dever do Estado garantir o atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino. Essa determinação é ratificada por leis posteriores:
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069 /90, Lei de
Diretrizes e Bases da Educacao Nacional (LDB) Lei nº 9.394 /96 e,
Decreto nº 3.298 , de 20 de dezembro de 1999.
Na LDB , a educação especial (artigo 58) é caracterizada como uma
modalidade de educação escolar. Garante o atendimento em classes,
escolas ou serviços especializados sempre que não for possível a
integração nas classes comuns de ensino regular. Prevê ainda que a
oferta de educação especial tem início na faixa etária de zero a seis
anos de idade, durante a Educação Infantil. O artigo 59, inciso III,
determina que os sistemas de ensino assegurarão professores com
especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento
especializado, bem como professores do ensino regular capacitados
para a integração desses educandos nas classes comuns.
Sobre a gestão a LDB determinou que as instituições de Educação
Infantil se integrassem ao sistema de ensino, ou seja, afirmou ser a
área da educação a mais adequada para regulamentar e supervisionar
essa etapa da educação básica. Prevê­se no médio e no longo prazo
uma transferência da rede de creches e pré­escolas antes vinculadas à
área da Assistência Social para a área da Educação, o que ainda não se
processou em boa parte dos Municípios.
Contudo, integrar o sistema de ensino representa, sobretudo, uma
mudança de concepção na área da Educação Infantil. As instituições
tornam­se espaços educacionais, que devem obedecer a uma
regulamentação (elaborada pelos Conselhos de Educação), devem ter
autorização para funcionamento, o que implica a necessidade de
projeto pedagógico, formação adequada de seus profissionais, espaços
e materiais apropriados. Assim, independentemente da vinculação
institucional (Assistência Social ou Educação), todas as creches e pré­
escolas integram o sistema de ensino e devem obedecer as diretrizes e
as normas do respectivo Conselho de Educação.
Apesar desses significativos avanços nos campos normativo e
legislativo, especificamente em relação a LDB , ainda verificamos
grandes desafios a serem enfrentados para a efetivação, na prática,
deste importantíssimo direito público subjetivo ­ a Educação Infantil.
5. Plano Nacional de Educação (PNE)
No que se refere à Educação Infantil, o PNE (promulgado em janeiro
de 2001) estabelece como meta atender, no prazo de cinco anos
(2006), 60% das crianças de 4 a 6 anos e 30% das de 0 a 3 anos de
idade. Em 2011, esse índice deve chegar a 80% e 50%, respectivamente.
De acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) de 1999, apenas 9,2% das crianças de 0 a 3 anos e 52,1%
das crianças de 4 a 6 anos de idade freqüentavam instituições de
Educação Infantil.
O PNE aponta várias metas qualitativas. Em primeiro lugar, determina
que sejam elaborados, no prazo de um ano, padrões de infra­estrutura
para o funcionamento adequado das instituições de Educação Infantil.
Esses padrões também devem orientar novas autorizações de
funcionamento. O Plano define que o executivo municipal deve
assumir a responsabilidade pelo acompanhamento, controle e
supervisão das creches e pré­escolas.
Também exige a colaboração entre os setores de educação, saúde e
assistência, bem como entre os três níveis de governo, no atendimento
à criança de 0 a 6 anos de idade. E determina a efetiva inclusão das
creches no sistema nacional de estatísticas educacionais. Outra meta
importante é assegurar que, em todos os Municípios, além de outros
recursos municipais, 10% (dos 25%) das verbas de manutenção e
desenvolvimento do ensino seja aplicado, prioritariamente, na
Educação Infantil. Para isso, exige a colaboração da União.
No que diz respeito à formação dos professores e dirigentes, o PNE
prevê a implantação de um Programa Nacional de Formação dos
Profissionais de Educação Infantil para garantir que, em dez anos,
todos os dirigentes de creches e pré­escolas e 70% dos professores
tenham nível superior. Prevê ainda, no prazo de três anos, a execução
de programa de formação em serviço, para profissionais da Educação
Infantil e pessoal auxiliar, a cargo dos Municípios. Neste caso, o PNE
exige a colaboração da União e recomenda a articulação com
instituições de ensino superior e com Estados. Também determina que
os novos profissionais admitidos na Educação Infantil tenham
titulação mínima de nível médio, modalidade normal, dando­se
preferência à admissão de graduados em curso específico de nível
superior.
Depois de aprovado pelo Congresso Nacional, o texto do PNE recebeu
nove vetos do presidente da República. A maior parte deles refere­se a
dispositivos que visam garantir mais recursos para a Educação. Entre
os artigos vetados, à época, está o que determina a ampliação anual dos
gastos públicos nosetor, a fim de se atingir 7% do PIB em 2006. Até o
final de 2002, esses vetos não tinham sido analisados e a sociedade
civil vem pressionando o Congresso para derrubá­los. Este óbice será
corrigido, em parte, com aprovação do "Fundeb ­ Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação" cujo projeto de lei encontra­se em
trâmite no Congresso Nacional, que substituirá o atual "Fundef ­
Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental ", que prevê um
significativo aumento na aplicação dos recursos para financiamento da
Educação Infantil, fundamental e média.
6. Dados estatísticos da Educação Infantil
O MEC, por meio do Serviço de Estatísticas Educacionais (SEEC), hoje
vinculado ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(INEP), realiza anualmente o Censo Escolar, no qual são coletados
dados em todos os estabelecimentos de ensino do País sobre o alunado
e as funções docentes, entre outros. No caso da Educação Infantil, até
1996 o Censo abrangia apenas a pré­escola. Englobava também as
chamadas classes de alfabetização. A partir de 1997, passou a incluir
também as creches.
Nos últimos anos, INEP/SEEC realizaram alguns censos especiais,
mais aprofundados, sobre algumas áreas da educação. A Educação
Infantil foi objeto de um censo especial no ano 2000, que envolveu
mais de 100 mil estabelecimentos de creches e pré­escolas em todo o
País. O Censo da Educação Infantil ampliou o cadastro e sistematizou
informações detalhadas sobre atendimento prestado, profissionais,
formação e fontes de recursos. A partir daí, toda a rede de Educação
Infantil foi incorporada aos censos escolares.
Os dados mais recentes sobre a Educação Infantil são os do Censo
Escolar 2001. Ao analisá­los, especialmente os relativos à matrícula, é
necessário observar que os registros não atendem à conceituação legal,
e sim à denominação com que o estabelecimento identifica seu
atendimento. Há, portanto, crianças menores de 4 anos de idade
registradas nas pré­escolas e maiores de 3 anos, em creches.
Somadas as matrículas em creche, pré­escola e classe de alfabetização,
registraram­se no Brasil, em 2001, 6.565.016 crianças matriculadas,
sendo 1.093.347 em creches, 4.853.803 em pré­escolas e 652.866 em
classes de alfabetização. Consideradas as faixas de idade, as matrículas
na Educação Infantil estão assim distribuídas: 853.056 crianças de 0 a
3 anos de idade; 5.051.438 de 4 a 6 anos de idade e 660.552 com 7 anos
ou mais.
Embora os dados do Censo Escolar 2001 apontem um crescimento de
15,2% nas matrículas registradas para a faixa etária de 0 a 3 anos de
idade e de 10% para a faixa de 4 a 6 anos, em relação a 2000, é preciso
cuidado ao avaliar essa evolução. Como a Educação Infantil
desenvolveu­se, em parte, à margem do sistema educacional, o
aumento das matrículas verificado nos últimos Censos pode ser
resultado da ampliação do cadastro e não propriamente de crescimento
do alunado.
Os dados sobre a formação no Censo Escolar de 2001 são evidência do
desafio que as metas traçadas pelo Plano Nacional de Educação (70%
com nível superior até 2011) representam para a área. Em relação à
presença de outros profissionais, apenas 10% das creches têm
nutricionista, apesar de especialistas apontarem a necessidade deste
profissional em instituições que atendem crianças de 0 a 3 anos de
idade.
O Censo da Educação Infantil (2000) mostrou que, se a quase
totalidade dos Municípios brasileiros possuem estabelecimentos que
oferecem pré­escola (98%), 18% deles ainda não dispõem de nenhuma
creche. Este Censo revela ainda que o espaço físico constitui­se, para
muitas instituições, como importante desafio a ser superado. Assim,
44% das creches e 63% das pré­escolas não contam com parquinho. No
total, mais de 80% não possui horta e quase nenhuma tem viveiro.
Além disso, 32% das creches e 37% das pré­escolas não dispõem sequer
de um quintal para as crianças tomarem sol ou se movimentarem. Só
15% delas possuem lactário (espaço destinado à amamentação dos
bebês) e 75% não dispõem de cadeiras próprias para alimentar as
crianças.
Com relação aos materiais disponíveis para as crianças, 84% das
creches utilizam brinquedos como material didático. As sucatas são o
segundo material mais utilizado (em 83% delas), mas cerca de 40% das
instituições que atendem crianças de 0 a 3 anos de idade não dispõem
de material adequado nem de livros infantis, importantes para
estimular a criança. Já nas pré­escolas, o Censo revela um grande
desafio a ser enfrentado do ponto de vista pedagógico: 43% utilizam
cartilha, 44% delas não usam qualquer material para expressão
artística e em quase 40% não existem brinquedos, demonstrando o
quanto estão orientadas pelo modelo escolar e pouco mobilizadas para
a importância do brincar como forma de aprender, interagir e se
desenvolver.
7. Formação de profissionais da Educação Infantil
Adequadamente estimulados, os bebês e as crianças pequenas
desenvolvem a inteligência e as emoções construindo conhecimentos e
valores. A partir da constatação de que as experiências da primeira
infância são determinantes para o desenvolvimento do ser humano, o
papel do profissional de creches e pré­escolas passa por reformulações
profundas e, como decorrência, as exigências relacionadas à sua
formação começam a ser repensadas.
Em 1996, a LDB estabeleceu que a Educação Infantil é a primeira etapa
da Educação Básica, e tem por finalidade promover o desenvolvimento
integral da criança até 6 anos de idade. Sobre a formação de docentes,
a Lei determina, no artigo 62 , que para atuar na educação básica é
preciso nível superior em universidades ou institutos superiores de
educação, admitindo como formação mínima para o exercício do
magistério na Educação Infantil, bem como nas primeiras quatro séries
do ensino fundamental, a de nível médio, na modalidade Normal.
Prevê ainda que em um prazo de dez anos só serão admitidos
professores habilitados em nível superior ou formados em serviço.
O Plano Nacional de Educação ­ (PNE, 2001) ­, estabelece como meta
um Programa Nacional de Formação dos Profissionais de Educação
Infantil para garantir que todos os dirigentes de instituições deste nível
de ensino possuam, no prazo de cinco anos, formação em nível médio
e, em dez anos, nível superior. Todos (as) os (as) professores (as)
também deverão ter nível médio em cinco anos e 70% deles (as), nível
superior em dez anos.
Essas metas provocaram debates entre os profissionais de educação,
que, em sua maioria, concordam que os prazos são curtos demais para
serem cumpridos. As exigências descritas implicam retorno à escola
por parte dos profissionais de Educação Infantil que não concluíram o
Ensino Fundamental e Médio, por meio de programas supletivos
especiais, e também de programas de formação em serviço.
Segundo resultados do Censo Escolar 2001, dos professores que atuam
nas creches brasileiras, 69% têm curso médio completo e apenas 12,9%
possuem nível superior. Na região Nordeste, estes últimos somam
apenas 5,6%. Nas classes brasileiras de pré­escola, 67,5% dos docentes
têm nível médio e 23,1% possuem curso superior; e no Nordeste os
professores com graduação representam 5,3% do total.
Outro problema é que a graduação em Pedagogia não oferece uma
formação específica para docentes da Educação Infantil. Em 1999, foi
instituído o Curso Normal Superior, organizado pelos Institutos de
Educação para formar professores da Educação Infantil e do Ensino
Fundamental de 1ª a 4ª série, com projetos acadêmicos distintos para
cada etapa. Especialistas da área têm posições controversas a respeito
da criação do Curso Normal Superior. Segundo o MEC, a estrutura
curricular deste curso deve incluir conhecimentos básicos,
possibilitando a compreensão crítica da escola e do contexto sócio­
cultural, conhecimentos relativos ao exercício da docência,
conhecimentos didático­pedagógicose prática pedagógica. A formação
inclui especificidades da educação de 0 a 3 anos de idade e de 4 a 6
anos; fundamentos da Educação Infantil; formação social e pessoal;
conhecimento do mundo, da natureza e da sociedade; saúde, nutrição e
proteção (cuidar); corpo e movimento (brincar); teatro, música e artes
plásticas. Todos os cursos na modalidade Normal Superior em
funcionamento estão em processo de reconhecimento pelo MEC.
Em 1998, o MEC publicou o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (RCNEI). Esse material é mais uma contribuição
para o professor de Educação Infantil. É um conjunto de reflexões, cujo
objetivo é servir de subsídio para a construção das propostas
curriculares, mas que não deve ser entendido como um manual a ser
seguido.
O RCNEI é composto de temas agrupados em três volumes. O primeiro
traz reflexões sobre as creches e pré­escolas brasileiras, a infância e a
profissionalização dos educadores. O segundo trata dos processos de
construção da identidade e autonomia das crianças. O terceiro traz
textos sobre os eixos e temas que podem ser trabalhados na Educação
Infantil.
O Referencial, coerente com as definições da LDB , reforça que as
creches não devem ser simplesmente espaços de cuidados com a
criança e que as pré­escolas não se limitem a preparar para a
alfabetização. Ao contrário, cuidado e aprendizado devem estar
integrados desde o início. E sugere que o trabalho seja articulado em
três eixos: a brincadeira, o movimento e as relações afetivas que as
crianças desenvolvem. Por meio desses três eixos, as propostas
pedagógicas podem lidar com cinco áreas diferentes: artes visuais,
conhecimento do mundo, língua escrita e oral, matemática e música.
Há ainda, no Referencial, proposta sobre o número adequado de
crianças por educador, em cada faixa etária, além de sugestões sobre o
relacionamento da escola com as famílias, integrando­as ao cotidiano e
ao trabalho da instituição.
Enfim, o profissional da Educação Infantil deve ser estimulado e
valorizado. É bastante difícil reverter o quadro em que a Educação
Infantil no Brasil se encontra, com professores desvalorizados e
desmotivados. O professor da escola pública recebe em média R$
550,00 (quinhentos e cinqüenta reais) por mês, menos do que ganha
um cobrador de ônibus em São Paulo. Com salários assim, fica difícil
investir no aprimoramento profissional. No Brasil, grande maioria dos
professores que trabalham na Educação Infantil não tem computador
em casa, e 60% deles não usam a Internet. Em 2003, o Ministério da
Educação fez uma pesquisa com um resultado revelador: os alunos da
4ª série com piores resultados nos testes de avaliação tinham
professores com renda média de R$ 730,00 (setecentos e trinta reais),
enquanto os estudantes mais avaliados tinham aulas com professores
com média salarial de R$ 1.300,00 (mil e trezentos reais).
O caminho natural para superar essa crise, como mostram os exemplos
de todos os países que deram o salto qualitativo em educação, é investir
na qualidade do ensino fundamental, com ênfase na Educação Infantil,
através de treinamento e qualificação dos professores e aparelhamento
das escolas. Há que se reverter as prioridades na aplicação dos escassos
recurso públicos na educação. De acordo com um dos maiores
pesquisadores e estudiosos do sistema educacional brasileiro, o
colombiano Alberto Rodriguez, da Universidade de Michigan, dos
Estados Unidos, o gasto público com um aluno do ensino superior é 12
vezes maior que o gasto com um aluno do ensino fundamental.
Investem­se R$ 800,00 (oitocentos reais) por ano com um aluno do
ensino fundamental e R$ 9.600,00 (nove mil e seiscentos reais) com
um estudante universitário. Na Coréia do Sul, por exemplo, o aluno de
ensino fundamental recebe até duas vezes mais investimento que um
universitário. A lógica aponta no sentido de que haja transferência de
recursos do ensino superior para o básico.
Talvez, com a aprovação do "Fundeb ­ Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação "cujo projeto de lei encontra­se em trâmite
no Congresso Nacional, que substituirá o atual"Fundef ­ Fundo de
Desenvolvimento do Ensino Fundamental ", haverá um significativo
aumento na aplicação dos recursos para financiamento da Educação
Infantil, fundamental e média. Entretanto, nenhuma revolução na área
educacional será verdadeiramente bem­sucedida se não for centrada
nos seguintes aspectos: a) qualidade do ensino, b) treinamento,
qualificação, valorização e remuneração digna do professor, e c)
prioridade na destinação dos recursos públicos para a Educação
Infantil, fundamental e média.
8. Conclusão
Em que pese os grandes desafios que ainda temos que vencer, estamos
vivenciando um momento histórico muito oportuno para a reflexão e a
ação em prol das crianças. Cada vez mais, a educação e o cuidado na
primeira infância ­ a Educação Infantil ­, são tratados como assuntos
prioritários de governo, organismos internacionais, organizações da
sociedade civil e por um número crescente de países em todo o mundo.
Ademais, no momento em que a discriminação racial é uma triste
realidade no mundo atual, a Educação Infantil surge como prioridade
no combate a esse "câncer da sociedade moderna ". Governos e
instituições da sociedade civil vêm desenvolvendo no Brasil e no
mundo propostas pedagógicas, materiais e experiências educativas
comprometidas com o enfrentamento das discriminações, sejam elas
de raça, classe social, gênero, etnia, cultura, religião, política,
necessidades especiais ou opção sexual, entre outras. Esses trabalhos
buscam promover os direitos humanos, a dignidade da pessoa humana,
o respeito, a tolerância e a valorização da diversidade, como bases de
uma sociedade multicultural, democrática, justa e cidadã. A Educação
Infantil tem papel fundamental nesse processo, pois a cultura da
discriminação é imposta às crianças desde o berço.
Somente através de uma educação de qualidade é que poderemos
alcançar a tão sonhada justiça social, objetivo presente nas
Constituições de todos os países na atualidade. Vale aqui lembrar um
dos ensinamentos do grande filósofo Sócrates (470 ou 469 a. C ­ 399 a.
C.), que ao ser perguntado por um de seus discípulos sobre o que
deveria conter a Constituição ideal de um povo, respondeu, que a
Constituição ideal é aquela capaz de fazer o seu povo "virtuoso e feliz ".
Portanto, somente através da educação o povo será"virtuoso e feliz ".
Não é demais relembrar:"Educai as crianças para não ter que
punir os adultos ".
Pelo exposto, vimos que a atual Constituição Federal e a legislação
infraconstitucional brasileira é pródiga no aspecto relacionado à
educação, e em particular, a Educação Infantil. Entretanto, é
necessário que a sociedade se mobilize cada vez mais no sentido de
tornar esse arcabouço jurídico mais efetivo, permitindo, finalmente,
que a educação seja um verdadeiro e eficaz instrumento de justiça e
inclusão social. Pensem nisso!
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Disponível em: http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/168958/artigos‐educacao‐infantil‐o‐que‐diz‐a‐
legislacao

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