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MORTE ENCEFÁLICA E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS REFERÊNCIAS Manual para notificação, diagnóstico de morte encefálica e manutenção do potencial doador de órgãos e tecidos- Curitiba 2014 (Central estadual de transplantes) Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Eric Grossi Morato- Hospital das Clínicas UFMG 2009 POR DEFINIÇÃO 2 EXAMES CLÍNICOS + TESTE DE APNEIA POSITIVO + EXAME CONFIRMATÓRIO COMPATÍVEL COM M.E = MORTE (DIAGNÓSTICO DE M.E) IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE EM SUSPEITA DE MORTE CEFÁLICA Resolução de algumas doenças apenas por transplante Para ter transplante ter doação de órgãos é necessária morte encefálica é necessário exame específico CRITÉRIOS Apresentar grave lesão estrutural encefálica, que seja irreversível e bem documentada • Patologias mais comum associadas: AVE Isquêmico ou hemorrágico Tumores de SNC Infecção de SNC TCE Encefalopatia Hipóxica-isquêmica • Deve ter lesão de tronco encefálico Envolvimento direto Lesão primária no tronco Envolvimento indireto Efeito de massa Herniação para tronco • Lesões difusas que acometem todo o cérebro (encefalopatia hipóxica) também pode ter repercussões no tronco Assegurar que causas reversíveis de coma foram excluídas ou corrigidas • Excluir condições que podem confundir com coma Hipotermia grave (só pode abrir protocolo de morte cefálica se paciente estiver sob temperatura >32°) Instabilidade hemodinâmica: deve ser corrigido PAD> 65 mmHg PAS> 90 mmHg Perfusão adequada Distúrbios eletrolíticos, metabólico e endócrinos graves Deve ser verificado se a morte encefálica não está causando o desequilíbrio. Se sim, este deve ser corrigido para que não haja perda dos órgãos para possível doação Uso de medicações depressoras do SNC (sedativos, analgésicos, opioides, bloqueadores neuromusculares) Na suspeita da morte cefálico, medicações que podem induzir o coma precisam ser suspensas por tempo mínimo que garanta sua depuração Estar em coma profundo (Glasgow 3) e não apresentar incursões ventilatórias espontâneas e aparentes Avaliar resposta motora Nos 4 membros Não deve ter movimentos de retirada Movimentos esporádicos por reflexo medular podem acontecer esporadicamente. Ex: Reflexo de Lazaro (semelhante a um abraço quando há movimentação cervical ou a acidose metabólica) Não apresentar incursões ventilatórias espontâneas • Pacientes sem sedação e sem ventilação espontânea pode estar em morte encefálica Ex de verificação: a mesma FR que programa na máquina é a que o paciente tem. Pode também desligar aparelhos e avaliar movimentação por 1 min. Resumindo.... Pacientes que preenchem esses quatro critérios podem abrir protocolo de Morte Encefálica Independente da doença de base ou para doação de órgãos, o protocolo deve ser executado para DIAGNÓSTICO de ME EXAME CLÍNICO PARA DIAGNÓSTICO DE M.E PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO Segue a resolução 1430 do CFM de 1997 Deve ter necessariamente esses três requisitos atendidos: 1. Dois exames clínicos 2. Teste de apneia 3. Exame complementar confirmatório da morte encefálica Toda a etapa do protocolo deve ter sido concluída A ordem das etapas não precisa ser a citada acima. Mas, quase sempre iniciam o protocolo de morte encefálica com a realização do primeiro exame clínico EXAMES CLÍNICOS (item 1) • Devem ser iguais • Devem ser realizados por examinadores diferentes, sendo UM deles: Neurologista, neuropediatra ou neurocirurgião • Deve ter um intervalo mínimo entre os testes, sendo: Maior intervalo para crianças Menor intervalo para adultos Não é permitido que membros de equipes de transplante realize os testes de morte encefálica O médico do exame clínico pode fazer o exame complementar, sem restrição de atuação. O que é checado? 1. Coma irresponsivo 2. Pares cranianos 3. Exame clínico da Apneia VERIFICAÇÃO DO COMA IRRESPONSIVO A resposta motora deve ser testada bilateralmente por meio da compressão: • Nervo supraorbital • Articulação temporomandibular ou leito ungueal Não deve apresentar nenhum movimento de retirada da dor (Glasgow 3) Alguns movimentos involuntários podem acontecer (reflexo medular) • Reflexo de Lázaro (período de acidose respiratório ou flexão da cervical) • Não pode acontecer no momento de avaliação da dor VERIFICAÇÃO DO ESTADO CLÍNICO DE APNEIA Observa a FR do paciente no ventilador mecânico no modo controlado A FR que o paciente fizer tem que ser igual a FR programada • Logo, o paciente não apresenta nenhuma incursão respiratória espontânea • Obs: se o ventilador estiver descalibrado, pode detectar respiração espontânea sem esta existir IDEAL: Desconectar o paciente do ventilador durante 1 min, observando seu tórax para ver se ele ventila • Se não apresentar nenhuma incursão respiratória, teste de apneia (etapa subsequente) REFLEXOS DE TRONCO ENCEFÁLICO Verifica se há atividade dos pares cranianos Todos os reflexos precisam ser testados • Se houver UM único par craniano que não possa ser testado, já INVIABILIZA a abertura do protocolo de morte encefálica Ex: perfuração timpânica, leão de globo ocular REFLEXO PUPILA • Testa o 2° e 3° par de nervo craniano • Não há resposta pupilar, estando médias e fixas ou midriáticas REFLEXO CÓRNEO PALPEBRAL • Testa a via aferente com Nervo oftálmico (ramo do nervo trigêmeo) e via eferente é o 7° par. • Espera a ausência do piscar quando a córnea é tocada • Técnica: pinga soro no globo ocular ou uso de gase no momento de tocar a córnea AVALIAÇÃO DO 3° 4° 6° 8° PARES DE NERVOS CRANIANOS • Técnica: movimenta-se a cabeça do paciente na vertical e horizontal • Resultado esperado: os olhos permanecem fixos sem qualquer movimento AVALIAÇÃO DO REFLEXO VESTÍBULO CALÓRICO • Avalia o 8° par craniano • Deve ter membranas timpânicas íntegras e condutos auditivos pérvios • Injetar 50ml de soro gelado na orelha e observe se há nistagmo por cerca de 1min • Depois de 5 min, repetir o processo do outro • Esperado para paciente com morte encefálica: ausência de qualquer movimento ocular REFLEXO DA TOSSE • Avalia o 9° e o 10° par • Estimula carina traqueal com tubo de entubação orotraqueal • Esperado para paciente com morte encefálica: não ter o reflexo da tosse TESTE DE APNEIA Respiração é um reflexo. Movimento respiratório involuntário quando o cérebro encontra valores elevados de CO2 na corrente sanguínea Mesmo que haja lesão neurológica grave, o mecanismo respiratório ainda é mantido e só é ausente quando há lesão no Bulbo, onde se localiza o centro respiratório O teste avalia a resposta do centro respiratório após indução de hipercapnia É um teste obrigatório Condicções para o teste • Normotenso • Euvolêmico • Normotérmico Importante: paciente deve estar monitorizado pelo risco de descompensação para que alterações precoces sejam corrigidas • Monitor cardíaco • Oximetria de pulso • Pressão arterial invasiva 1° PASSO: Ajustar ventilação mecânica ANTES do teste • PaCO2 entre 40-45 mmHg • Diminui a chance de não atingir o PaCO2 exigido • Impede que paciente seja submetido a níveis altos de Co2 durante a testagem e acarretar danos. 2° PASSO: hiperoxigenar o paciente com FIO2 a 100% por 10 min • Fração inspirada de O2 a 100% • Garante que toda hemoglobinado paciente se torne totalmente saturada de oxigênio, diminuindo o risco de hipóxia durante o teste 3° PASSO: Coleta da gasometria arterial inicial • Em condições ideais: hiperóxia e PCO2 Entre 40-45mmHg 4° PASSO: desconectar o paciente do aparelho • Desconectar paciente do respirador • Introduzir cateter de O2 na carina com fluxo contínuo de 6l/min • Observar movimentos ventilatórios por 10min 5° PASSO: coletar gasometria arterial final • Reconectar paciente ao ventilador mecânico AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS • Ausência de movimentos respiratórios + PaCO2 final > 55 mmHg = POSITIVO para Morte Encefálica • Ausência de movimentos respiratórios + PaCO2 final < 55 mmHg = Resultado INCONCLUSIVO Repetir teste após intervalo de tempo • Presença de movimentos respiratórios INTERROMPER teste imediatamente NEGATIVO para morte encefálica Protocolo SUSPENSO Paciente deve ser reavaliado • Presença de instabilidade hemodinâmica ou ventilatória durante o teste em tempo de apneia < 10min colher gasometria arterial imediata Se PaCO2 final >55 mmHG =POSITIVO para morte encefálica Se PaCO2 final <55 mmHg= Exame INCONCLUSIVO (deve ser repetido) Quando o teste dá inconclusivo, não tem tempo mínimo para ser refeito. Pode ser realizado assim que o paciente for estabilizado E se o paciente não puder ser desconectado dp respirador? Pode fazer ... • Retirar o paciente da ventilação mecânica e acoplá-lo ao tubo T com válvula de CPAP com pressão em 10 cmH20 • Usar um ventidador específico para ventilação não invasiva ajustado para CPAP com PEEP em 10cmH20 • O paciente com morte encefálica deve permanecer em apneia respeitando o tempo de teste de apneia atual Em pacientes com doença pulmonar obstrutiva grave há maior retenção fisiológica de CO2. Como proceder? • Ausência de movimentos respiratórios + PaCO2 > 55 mmHg + Variação de 20 mmHg entre o PaCO2 inicial e final = POSITIVO para morte encefálica Se o teste de apneia foi realizado sem intercorrências o protocolo pode prosseguir. EXAMES COMPLEMENTARES CONFIRMATÓRIOS São obrigatórios Visa mostrar de forma inequívoca a ausência de atividade elétrica e perfusão cerebral Em condições ideais, os exames deveriam ser realizados ao final das etapas anteriormente citadas Todavia, por questões práticas, é inserido no meio do protocolo Exames de escolha: • Doppler transcraniano • Arteriografia • Cintilografia • Eletroencefalograma (EEG) O que se espera: • Ausência de fluxo sanguíneo • Ausência de atividade elétrica encefálica Indicação depende de: • Faixa etária do paciente Crianças <2 anos Repetição de EEG em intervalos variáveis dependendo da idade DOPPLER TRANSCRANIANO • Método não invasivo de avaliação do fluxo sanguíneo cerebral • Avaliado por janelas ósseas • Possui um padrão específico quando há morte encefálica, dando o diagnóstico. • Vantagem: Execução em beira de leito por aparelho portátil • Desvantagem: Nem sempre as janelas ósseas são encontradas com facilidade. Pode ter falsos negativos, por apresentar fluxo sanguíneo em pacientes com M.E (principalmente pacientes com craniectomia descompressiva, neonatos com fontanela aberta ARTERIOGRAFIA CEREBRAL • Avalia a presença de fluxo sanguíneo após a injeção de contraste nas artérias carótidas e cerebrais • O que se espera na M.E: parada total do fluxo nos 4 vasos intracranianos • Vantagem: Padrão Ouro Documenta de forma definitiva a ausência de fluxo sanguíneo • Desvantagem: Exame invasivo Requer transporte do paciente para fora da UTI Uso de contraste (interferência na função renal) CINTILOGRAFIA CEREBRAL • Avalia a circulação sanguínea cerebral pela injeção de radioisótopo Tecnécio 99 • O que se espera: interrupção completa do fluxo de sangue • Vantagem: Bom para documentação definitiva de ME • Desvantagem: Pouco disponível Requer transporte do paciente para fora da UTI ELETROENCEFALOGRAMA (EEG) • Detecta atividade elétrica cerebral • O que se espera em ME? Atividade elétrica ausente (EEG ISOELETRO) • Técnica adequada: 21 canais Alta sensibilidade para captar 1-2 miliVolts de atividade • Vantagem Não invasivo Pode ser feito em beira de leito • Desvantagem Falsos negativos por artefatos de interferência de outros equipamentos eletrônicos • Boa escolha de exame para pacientes que possuem craniectomia ou RN’s com fontanela aberta • NÃO é confiável em pacientes que possuem insuficiência renal ou hepática ou em pacientes que estão sob intoxicação de medicamentos depressores do SNC PRIMEIRO EXAME NÃO COMPATÍVEL COM M.E • Indicado a repetir o exame em 48h, SEM trocar o tipo do teste. Deve realizar o MESMO • Depende da quantidade de fluxo residual ou da capacidade residual de função elétrica. Não precisa repetir as fases anteriores do teste, caso o exame complementar não tenha sido compatível com ME Realizado todos esses processos do protocolo, está fechada a confirmação de MORTE ENCEFÁLICA Avaliar doação de órgãos • Se sim: manutenção do potencial doador de órgãos até a captação dos órgãos MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS Morte: evento amplo que cursam com diversas manifestações fisiopatológicas que cursam com depressão de setores hormonais, pressóricos Tendência à hipotermia Labilidade hemodinâmica grave Distúrbios eletrolíticos e metabólicos Detecção precoce das alterações e intervenção imediata pode diminuir a chance de rejeição desse órgão e melhorar o enxerto e o pós transplante Iniciar quando fechado o protocolo de ME e deve ser mantido até a captação dos órgãos A HIPOTERMIA • Mais comum • Pode apresentar tanto hipotermia grave, quanto hipertermia mantida • Indicado aquecer o ambiente, mantas térmicas, infundir líquidos aquecidos. • Meta: acima de 35° (lembrar que para abrir o protocolo de ME pode acima de 32°) SUPORTE HEMODINÂMICO • Liberação adrenérgica (tempestade autonômica): hipertensão e taquicardia • Depois: hipotensão grave e vasodilatação (com necessidade de vasopressor) • Oscilações muito rápidas monitorização frequente • Meta: PAM 65- 95 mmHg • Tanto hiper quanto hipotensão causa lesão de órgão • Se pressão ALTA, controlar com Nitroprussiato Beta-bloqueadores • Se pressão BAIXA, controlar com Reposição volêmica + bolus de cristaloide 20ml/kg + vasopressor (noradrenalina até atingir PA) OBS> se usar adrenalina, tem que usar vasopressina concomitante • Doador em potencial e desenvolve arritmia? É indicada a reanimação segundo o ACLS SUPORTE VENTILATÓRIO • Volumes correntes adequados Ideal 6ml/kg de peso • PEEP 8-10 cmH20 • PO2 > 90 mmHg • PCO2 35-45 mmHg • Volume minuto deve manter o PH o mais compensado possível CUIDADOS ENDOCRINO METABÓLICOS • Podem evoluir com hipertermia, distúrbios hidroeletrolíticos, poliúria • A dieta enteral deve ser mantida e é benéfica Aumenta glicogênio Melhora fígado no pós transplante • Manter dieta enteral atingindo 15-30% das necessidades diárias • Glicemia monitorizada de 6/6h Se glicemia >180 , iniciar Insulina em bomba infusora de 2/2h • Poliúria (por déficit de ADH) Deve ser monitorizada diurese Se superior a 200ml/h suspeita de diabetes insipidus Se diabetes insipidus Início precoce de dDesmopressina Meta: diurese de 0,5-4ml/kg/h • Diminuição do hormôniotiroideano Indicado Levotiroxina 300 mcg/dia até o momento da doação • Para os transplantes de Pulmão Administrar 1 dose por dia de metilpredinisolona Melhora o pulmão para o transplante • Metas gerais: Na: 130- 130 mEq/L Glicemia <180 PH> 7,2 Hidratado Recebendo dieta Levotiroxina Metilprednisolona Níveis pressóricos aceitáveis SUPORTE HEMATOLÓGICO • Mesmos cuidados com transfusão • Plasma fresco e crioprecipitado se houver distúrbio de coagulação grave e sangramento ativo • Reposição de plaquetas só se sangramento ativa ou <50 mil • Manter níveis de hemoglobina >7 Se for doador de coração? Hb >9 SUPORTE INFECCIOSO • Sepse não controlada ou não tratada adequadamente, CONTRAINDICAÇÃO absoluta de doação • Suspeita de infecção coleta de cultura iniciar ATB correto avaliar resposta • Se paciente responde bem, não há problemas na doação CUIDADOS COM AS CÓRNEAS • Pálpebras devem ser mantidas fechadas com gaze umedecida em solução isotônica para não ressecar FLUXO INTERNO Identificação de possível paciente com morte encefálica comunicação para a CIHDOT (Comissão intra-hospitalar de doação de órgãos e Tecidos) para avaliar potencial doador Morte encefálica identificada Assinar a TDME (Termo de declaração de morte encefálica) notificação para CNCDO (Central de Notificação, captação e doação de órgãos) Conversa com familiares para autorização da doação. OBSERVAÇÕES GERAIS Cumpriu todas as etapas do protocolo emite o TDME Fazer todas essas etapas contribui para que haja rapidez no transporte e logística dos órgãos ÓRGÃOS DOADOS Órgãos sólidos • Coração, pulmão, rins, pâncreas Tecidos • Córnea, ossos, pele, válvulas cardíacas, ligamentos LOGÍSTICA APÓS AUTORIZAÇÃO DE DOAÇÃO Entrevista com a família Família autoriza Comissão de recepção dos órgãos faz a retirada e acondicionamento correto dos órgãos Entra no Sistema Nacional de Transplantes Busca por receptores compatíveis Reconhece receptores mais prováveis
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