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APOSTILA DE FILOSOFIA JURÍDICA 1 BIMESTRE (2014)

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FILOSOFIA JURÍDICA 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ROCHA, José Manuel de Sacadura. Fundamentos de filosofia do direito: da Antiguidade a nossos dias/ José Manuel de Sacadura Rocha. – São Paulo: Atlas, 2011.
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Curso de Filosofia do Direito/ Eduardo Carlos Bianca Bittar, Guilherme Assis de Almeida. – 9º edição. São Paulo: Atlas, 2011.
NALINI, José Renato. Por que Filosofia/ José Renato Nalini. – 2º edição. Revisado atualizado e ampliando. . São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2010.
VADE Mecum Humanístico/ coordenação Alvaro de Azevedo Gonzaga, Nathaly Campitelli Roque. – 2º edição. São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2011.
MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito. 2º edição. São Paulo: Editora: Atlas, 2012.
CASTILHO, Ricardo. Filosofia do Direito. São Paulo: Editora: Saraiva, 2012.
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico Universitário. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.
Dicionário de Língua Portuguesa.
Bibliografia Complementar:
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004. 
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução a ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2001/2008.
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do direito. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
IHERING, Rudolf Von. A luta pelo direito. São Paulo: RT, 1998/2008.
Montesquieu, Charles Luís. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 1996/2005.
PLATÃO. A república. São Paulo: Martins Fontes, 1998/2006.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 
REALE, Miguel. Filosofia do direito. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
FILOSOFIA
Filosofia - O termo tem origem grega. Composto por Philo e Sophía.
 PHILO - FILO – significa “amizade e amor fraterno”.
SOPHÍA - SOFIA – significa “sabedoria, conhecimento, sábio”. 
Deste modo, a filosofia significa “amizade pela sabedoria”, “amor pelo saber”, “busca pelo conhecimento”. Assim a filosofia indica um estado de espírito, da pessoa que ama, isto é, deseja conhecimento, o estima o procura e o respeita.
A filosofia pode ser dividida em:
Lógica – pensamento.
Especulativa – olhar a realidade.
Prática – prática, ética.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA:
 O berço da filosofia:
A filosofia tem início na civilização grega, com o esplendor do período denominado Clássico, em Atenas, no século V a. C. Para compreendermos o nascimento da filosofia, precisamos recompor o período anterior, no qual foram moldados os elementos que consolidaram essa cultura.
Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos a invenção da palavra “filosofia”. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. 
Pitágoras de Samos, filósofo e matemático, pensa-se que nasceu na primeira metade do século sexto a.C., em Samos, uma ilha de Samos do Mar Egeu, situada muito perto de Mileto, onde viveu Thales.
Quando novo, fez longas viagens pelo Oriente tendo permanecido alguns anos no Egito onde frequentou os templos (escolas da época) e ouviu os sacerdotes de Mênfis com quem Pitágoras aprendeu as regras de cálculo.
Pitágoras falava com clareza ao expor as suas teorias, traçava figuras e fazia com letras e símbolos estranhos cálculos que os seus patrícios não compreendiam.
Nas suas lições tratava de princípios de moral, de religião e de elementos de Geometria, Aritmética, Astronomia e Música.
O filósofo permaneceu pouco tempo na Grécia porque os chefes políticos temiam que ele, com os recursos da ciência, alcançassem prestígio e autoridade sobre as massas populares.
Pitágoras teve de emigrar e foi para onde fundou a Escola Pitagórica que passou a ser frequentada por cidadãos de todas as classes.
Importância para o Direito
Pitágoras foi o primeiro filósofo a criar uma definição que quantificava o objetivo final do Direito: a Justiça. Ele definiu que um ato justo seria a chamada "justiça aritmética", na qual cada indivíduo deveria receber uma punição ou ganho quantitativamente igual ao ato cometido. Tal argumento foi refutado por Aristóteles, pois ele acreditava em uma justiça geométrica, na qual cada indivíduo receberia uma punição ou ganho qualitativamente, ou proporcionalmente, ao ato cometido; ou seja, ser desigual para com os desiguais a fim de que estes sejam igualados com o resto da sociedade.
IMPORTANTE:
Logo, a grande proeza da vida e viver bem de acordo com sua própria consciência, ser ético, antes de tudo, conseguem mesmo, e acreditar que a maior felicidade é aquela que parte de nossos atos e nosso compromisso com a decência e simplicidade.
	
Podemos dividir a história da Grécia em quatro fases.
Grécia Homérica, os 400 anos narrados pelo poeta Homero, em seus dois grandes poemas, “Ilíada e Odisséia”.
Grécia Arcaica, século VII ao século V antes de Cristo, quando os gregos criaram cidades como Atenas, Esparta, Tebas, e predomina a economia urbana, baseada no artesanato e comércio.
Grécia Clássica, séculos V e IV antes de Cristo, quando a democracia se desenvolve, a vida intelectual e artística entra no apogeu e Atenas domina a Grécia com seu império comercial e militar.
Helenismo, a partir do final do século IV antes de Cristo, quando a Grécia é dominada por Alexandre da Macedônica, e, depois, pelo Império Romano.
O pensamento mítico: O que é Mito:
O pensamento mítico é a forma de conhecimento anterior à filosofia. Nasce o desejo do homem de dominar o mundo e vencer o medo e a insegurança diante das forças que ele não compreende ou não controla. É uma crença, uma verdade intuída, ou seja, que não necessita de provas para ser aceita.
 A palavra mito é grega e significa contar, narrar algo para alguém que reconhece o proferido do discurso como autoridade sobre aquilo que foi dito.
Mito: são narrativas utilizadas pelos povos gregos antigos para explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza, as origens do mundo e do homem, que não eram compreendidos por eles. Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses e heróis. Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas e pessoas que realmente existiram.
Um dos objetivos do mito é transmitir conhecimento e explicar fatos que a ciência ainda não havia explicado. A maneira de colocar em ação o mito é através dos ritos, em cerimônias, danças, sacrifícios e orações.
Mito nem sempre é utilizado na simbologia correta, porque também é usado em referencia as crenças comuns que não tem fundamento objetivo ou cientifico. Porem, acontecimentos históricos podem se transformar em mitos, se tiver uma simbologia muito importante para uma determinada cultura. Os mitos têm caráter simbólico ou explicativo, são relacionados com alguma data ou uma religião, procuram explicar a origem do homem por meio de personagens sobrenaturais, explicando a realidade através de suas historias sagradas. Um mito não é um conto de fadas ou uma lenda.
RESUMINDO:
 A explicação mítica é contrária à explicação filosófica. 
A Filosofia procura, através de discussões, reflexões e argumentos, saber e explicar a realidade com razão e lógica enquanto que o mito não explica racionalmente a realidade, procura interpretá-la a partir de lendas e de histórias sagradas, não tendo quaisquer argumentos para suportar a sua interpretação.
Destacamos o que significa a filosofia para alguns importantes pensadores:
PLATÃO – a filosofia é um saber verdadeiro que deve ser usado em beneficio dos seres humanos.
DESCARTES – a filosofia é o estudo da sabedoria conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes.
KANT – a filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e que pode fazer,tendo como finalidade a felicidade humana.
ESPINOSA – a filosofia é um cominho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e felicidade.
MARX – a filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava, agora de conhecê-lo, para transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos.
MERLEAU-PONTY – a filosofia é um despertar para ver e mudar nosso mundo.
1 - ATITUDE CRÍTICA FILOSÓFICA:
A atitude filosófica dever ter uma postura negativa, pois o pensador deve negar o senso comum, deve negar seus próprios pré-conceito, (pré) juízo, enfim deve buscar a verdade sem se influenciar por tudo aquilo que ouviu cotidianamente dado como verdade.
A atitude filosófica deve ter uma postura positiva no sentido de interrogar, questionar constantemente sobre os “porquês” das coisas.
2 - A FUNÇÃO DA FILOSOFIA:
 	Busca despertar a reflexão que visa constantemente à verdade. Acreditamos ser necessário existem pessoas que pensem o mundo, a fim de adaptá-la às crescentes necessidades e mudanças que existem. A filosofia contribui para que não flertemos com o velho constantemente, e com isso, alcancemos o novo e possamos mudar ou melhorar as coisas.
3 - A UNIVERSALIDADE DA FILOSOFIA:
O filósofo busca, incessantemente, uma totalidade de sentidos, integrando e situado o homem e o mundo. 
Vê-se que a filosofia representa o esforço de sondagem das raízes dos problemas. É uma ciência cujos cultores somente se consideram satisfeitos se lhes é facultado atingir, com certeza e universalidade, todos os princípios ou razões últimas e explicativas da realidade, em plena interpretação da experiência humana.
4 - A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NO ESTUDO DO DIREITO:
Para o direito, a filosofia é muito importante, tanto para a formação teórica como para a formação prática dos futuros juristas. O direito só é possível por causa da filosofia.
Grande parte senão todos dos direitos existentes possuem raízes filosóficas. E o direito continua sendo criado com uma forte dose filosófica, direta ou indiretamente.
É na filosofia do direito que encontramos o ponto de encontro reflexivo de todas suas áreas (direito civil, direito penal, direito tributário entre outras) e também o ponto de convergência do sistema jurídico: a busca pela justiça e pela igualdade social.
Outrossim, a filosofia auxilia no desenvolvimento do raciocínio crítica e na capacidade de criação de novas soluções para os problemas jurídicos.
5 - O QUE BUSCA A FILOSOFIA DO DIREITO:
Proceder às criticas das práticas, das atitudes e atividades dos operadores do direito e juristas;
Avaliar e questionar a atividade legiferante, bem como oferecer suporte reflexivo ao legislador;
Proceder à avaliação do papel desempenhado pela ciência jurídica e o próprio comportamento do jurista ante ela;
Depurar a linguagem jurídica, os conceitos filosóficos e científicos do direito, bem como analisar a estrutura lógica das preposições jurídicas;
Investigar a eficácia dos institutos jurídicos, sua atuação social e seu compromisso com as questões sociais;
Desmascarar as ideologias que orientam a cultura da comunidade jurídica, os pré-conceito que orientam as atitudes dos operadores do direito.
6 - DISTINÇÃO ENTRE OPERADOR/JURISTA E FILOSOFO DO DIREITO:
 	Como vimos à ciência é construída a partir de pressupostos, ao passo que a filosofia busca os pressupostos.
Entendemos que o jurista é um cientista do direito e que constrói a sua ciência partindo de certos pressupostos, os quais, habitualmente, são fornecidos pela lei. Por outro lado, o filósofo do direito converte tais pressupostos em um problema, para poder encontrar uma verdade.
PARA REFLETIR:
Aqueles que não se valem da filosofia no seu trabalho com o direito são apenas operadores do direito, são peças facilmente substituíveis por outras; por outro lado, os profissionais do direito que refletem e se valem da filosofia para resolver suas indagações jurídicas, são sem dúvida, verdadeiros juristas, e jamais serão substituídos, pois conseguiram um lugar exclusivo e indelével no direito.
RESUMINDO
É possível perceber que a filosofia sempre busca a verdade por meio de reflexão, que é o instrumento mais seguro para encontrar, ou pelo menos aproximar-se da verdade. 
Filosofia: do senso comum ao senso crítico
O QUE É SENSO COMUM?
Senso comum significa um tipo de conhecimento adquirido pelo homem a partir de experiências, vivências e observação do mundo. É uma forma de conhecimento vulgar ou popular. Se caracteriza por conhecimentos empíricos acumulados ao longo da vida e passados de geração em geração.
No senso comum não é necessario que haja um parecer científico para que se comprove o que é dito, é um saber informal que se origina de opiniões de um determinado indivíduo ou grupo que é avaliado conforme o efeito que produz nas pessoas. É um saber imediato, subjetivo, heterogêneo e acrítico, pois se conforma com o que é dito para se realizar, utiliza várias idéias e não busca conhecimento científico para ser comprovado. 
Em nossa conversa diária com as pessoas, surge uma série de opi​niões sobre os mais variados assuntos. Na maioria das vezes, essas opi​niões informais, que ouvimos ou emitimos em nossas conversas, refletem conhecimentos vagos, superficiais ou ingênuos a respeito dos inúmeros lemas que abordamos. Isto é, conhecimentos pouco profundos, adquiri​dos ocasionalmente no cotidiano, sem uma procura séria e reflexiva por parte das pessoas. 
A título de ilustração, podemos dizer que faz parte do senso comum uma infinidade de "frases feitas", repetidas irrefletidamente, rio cotidia​no, como as seguintes: homem que é homem não chora; o brasileiro é um povo pacífico; querer é poder; filho de peixe, peixinho é; Deus é a única esperança etc. 
Esse tipo de conhecimento mediano, compartilhado pela maioria das pessoas, constitui o chamado senso comum. Pertence ao senso co​mum um vasto conjunto de concepções a respeito dos mais diferentes te​mas. Freqüentemente, essas concepções estão impregnadas de noções falsas, parciais ou preconceituosas. 
Entretanto, o senso comum não é formado, apenas, por concepções falsas ou incorretas, mas, também, por concepções verdadeiras. O que as caracteriza, portanto, é o fato de serem produzidas por conhecimentos soltos, superficiais, que não nasceram de reflexões profundas e abertas. 
O conhecimento do senso comum possui, habitualmente, as seguin​tes características gerais: 
Imprecisão: conceitos vagos, sem rigor, que não definem claramente seu conteúdo e seu alcance; 
Incoerência: associação, num mesmo raciocínio, de conceitos con​traditórios, que se anulam em termos lógicos; 
Fragmentação: conceitos soltos, que não abrangem, de modo am​plo e sistemático, o objeto estudado. 
O CAMPO DA FILOSOFIA NA ATUALIDADE:
Na época contemporânea, prossegue esse processo de especialização do saber racional, pelo qual as diversas ciências particulares se despren​dem da Filosofia e delimitam, especificamente, seus objetos de investiga​ção científica. Assim, o antigo imenso domínio do conhecimento filosó​fico foi-se restringido cada vez mais. Na antiguidade, todo o conheci​mento racional pertencia à Filosofia. Hoje, perguntamos: o que resta de característico para a Filosofia que esteja fora do alcance das inúmeras ciências particulares? 
Para dar uma resposta um tanto simplificada à questão, podemos dizer que restam à Filosofia a busca da compreensão profunda de todos os seres, o trabalho de reflexão sobre os conhecimentos desenvolvidos por todas as ciências, a procura de respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e do mundo. Assim, pertence à Filosofia o estudo geral dos seres, do nosso conhecimento e do valor das coisas. Em termos mais es​pecíficos, podemos situar dentro do campo filosófico aqueles estudos que se referem a temas como: teoria do conhecimento, fundamentos do saber científico,lógica, política, ética, estética etc. 
O PAPEL EDUCACIONAL DA FILOSOFIA:
Em termos educacionais, a Filosofia tem uma urgente e grandiosa missão a desempenhar em nossas escolas. Como parte essencial dessa missão, está a tarefa de desenvolver no estudante o senso crítico, que implica a superação das concepções ingênuas e superficiais sobre os homens, a sociedade e a natureza, concepções estas forjadas pela "ideolo​gia" social dominante.
Para isso é necessário que o ensino da Filosofia estimule o desen​volvimento da reflexão do estudante e forneça-lhe um conjunto de infor​mações sobre reflexões já desenvolvidas na história do pensamento filo​sófico. 
O resultado desse processo é a ampliação da consciência reflexiva do estudante, voltada para dois setores fundamentais: 
A consciência de si mesmo: crítica de si próprio enquanto pessoa e de seu papel individual e social (autocrítica); 
A consciência do mundo: compreensão do mundo natural e social e de suas possibilidades de mudança. 
	“Quanto a este último aspecto, é necessário compreender claramente que a Filosofia não deve servir, apenas, para’ ‘pensar contemplativamente o mundo”, mas para transformá-lo.
SÓCRATES�
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Retrato de Sócrates, mármore romano (Louvre, Paris)
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"A Morte de Sócrates", por Jacques-Louis David (1787)
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 Local onde Sócrates ficou preso antes de morrer.
 A morte de Sócrates
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1 - SÓCRATES E O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
A história da Grécia antiga pode ser dividida em dois grandes períodos: antes e depois de Sócrates (469 – 399 a. C.). Estamos no século V a. C., na Grécia antiga, mais precisamente em Atenas.
Uma grande revolução está acontecendo no pensamento filosófico grego: os Deuses estão perdendo a centralidade e o poder na compreensão da existência humana. A centralidade do pensamento grego a partir deste momento passará a ser o próprio homem. A filosofia passa da condição teológica – mítica (deuses e mitos) para secular (humana e mundana) – de teocêntrica para antropológica.
TEOCÊNTRICA – Deus é o centro do Universo.
ANTROPOCÊNTRICA – o homem é o centro do Universo.
2 - SOFISTAS E O PODER DA RETÓRICA:
O movimento sofístico aparece na Grécia no século V. São professores ambulantes, que vão de cidade em cidade, ensinando os jovens; lecionam por dinheiro, mediante retribuição, caso novo na Grécia e que surpreendeu bastante. Tinham grande brilhantismo e êxito social; eram oradores e retóricos e, fundamentalmente, pedagogos. Pretendiam saber e ensinar tudo, e certamente qualquer coisa e seu contrário, tese e antítese. Tiveram forte influência na vida grega e foram personagens importantes, alguns, de grande inteligência.
O porta – vozes desta nova mentalidade grega são os Sofistas. Eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamento prático do conhecimento. Levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de eloqüência e sagacidade mental. 
Eles surgem discursando em praça pública, enaltecendo a capacidade e a inteligência dos homens. Como tal, advogam a autossuficiência destes para resolverem os problemas do cotidiano existencial, até porque passam a serem os homens os verdadeiros culpados pelos problemas que enfrentam.
 As lições sofistas tinham por objetivos o desenvolvimento do poder de argumentação retórica e do conhecimento de outras doutrinas. Segundo essas concepções, não havia uma verdade única, absoluta, tinha apenas o ato de convencer sua platéia que eram capazes de resolverem seus problemas através da retórica, tornando assim egoísta e individualista.
Devido ao envolvimento com os interesses das novas classes, os discursos sofistas vão ser repudiados pelos socráticos como sendo no mínimo superficiais, não revelando a essência das coisas e menos ainda a essência dos homens.
A sofística move-se num âmbito retórico. Trata-se de dizer as coisas de modo que convençam, de dizer bem. Não importa a verdade; e por isso é uma falsa filosofia. Diante disso, Sócrates e Platão reinvidicarão o bem pensar, ou seja, a verdade.
Ademais, é algo público, dirigido ao cidadão; tem, portanto, uma clara tendência política. E, por último, é uma Paidéia, uma pedagogia, a primeira a propriamente existir.
Entre os sofistas, temos vários pensadores, como Protágoras, Leontinos, Trasímico, Pródico, Hípias, Antifonte e Crítias.
RETÓRICA – poder de convencimento através da eloqüência, ou seja, arte de convencer pelo uso de instrumento lingüístico.
3 – A FILOSOFIA E A DIALÉTICA SOCRÁTICA:
Sócrates é um “feroz” adversário dos sofistas. A sua antipatia, no entanto, estava declaradamente circunscrita ao pensamento, ao conhecimento e a ânsia de construir uma filosofia mais essencial, mais verdadeira.
Assim, para ele a essência do homem e a explicação do problema existencial não podem ser buscadas na materialidade cotidiana, povoada que está de interesses suspeitos e egoístas. A busca da virtude, o bem maior capaz de resgatar a paz e a harmonia entre os homens, passa a ser vista como a luta entre o bem e o mal, mas em um plano estritamente espiritual.
Na oposição ao discurso retórico, ao sofismo dos oradores desvinculados da verdade, Sócrates propõe e utiliza, de forma magistral o discurso dialético.
4 – CONHECENDO A VERDADE (ALETHÉIA): A DIALÉTICA:
O termo grego alethéia significa a verdade ou o caminho para a verdade, ou do esquecimento, pois lethe significa esquecimento. Sócrates acreditava que conhecer a verdade seria retornar aos conceitos esquecidos para buscar a verdade. Todas as verdades estavam em nós, esquecidas. O meio para que chegássemos à verdade absoluta.
5 – DIVISÃO DA DIALÉTICA:
	A dialética divide-se em:
Exortação – consiste no convite ao diálogo;
Indagação – é o questionamento do tema que será dialogado;
Refutação – que está na própria indagação consiste na exposição dos preceitos para que possamos rebatê-los.
Maiêutica – consiste em “parir” o conhecimento.
 
 Exortação
DIALÉTICA
 
 Indagação Refutação
 Maiêutica
 
MAIÊUTICA (parto) dentro do método dialético, Sócrates acreditava que o conhecimento deveria ser parido, ou seja, deveria passar por um estágio de gestação até chegar a seu nascedouro. Fazia uma analogia com a função de sua mãe, parteira, e dizia que assim como as mulheres conseguem gerar uma vida após um tempo de gestação, o homem pode gerar o conhecimento, a verdade, a partir também de uma gestação. Enquanto as mulheres parem uma vida, os homens parem uma verdade, um conhecer.
6 – A DIALÉTICA PARA O JURISTA:
O ato do jurista muito se assemelha com o sistema dialético socrático, pois, exortamos um diálogo, normalmente, um caso concreto que se aplique ou não a lei. Indagamos sobre o conceito de determinado instituto para sua aplicação ou não no caso em tela e por fim nosso juízo final e apresentado, nascendo uma idéia jurídica e uma tese que defendemos com a crença desta ser a verdade.
7 - ÉTICA SOCRÁTICA:
	O pensamento socrático é profundamente ético. Reveste-se, em todas as suas latitudes, de preocupações ético-sociais, envolvendo-se em seu método maiêutica todo tipo de especulação temática impossível de solução (o que é justiça?; o que é o bem?; o que é coragem?...), o que aparece retratado nos diálogos platônicos, sobretudo na Apologia de Sócrates (Platão), uma das únicas fontes de referência escrita a respeito da filosofia socrática, ao lado dos Ditos e feitos memoráveis de Sócrates.
Isso porque a filosofia socrática possui um método, e esse método faz o filósofo, como homem, radicar-se em meio aos homens, em meio à cidade. É do convívio, da moralidade, dos hábitos e práticas coletivas, das atitudes do legislador, da linguagem poética. Pode – se mesmodizer que o modo de vida socrático e a filosofia socrática não se separam. Pelo contrario, a filosofia socrática reafirma-se pelo exemplo de vida de Sócrates; na mesma medida, a doutrina ética e o ensino ético de Sócrates retiram-se de seu testemunho de vida, corporificado que está em seus atos e palavras.
	Sócrates, em verdade, pode ser dito o iniciador da filosofia moral e o inspirador de tosa uma corrente de pensamento. O conhecimento, para Sócrates, reside no próprio interior do homem. 
Conhecendo-se a si mesmo, pode-se conhecer melhor o mundo. Isso se adiciona o fato de Sócrates ter vislumbrado na linguagem um grande manancial de dúvidas que gerou o fulcro da necessidade de depuração lógico-semântica do que era exercitado em praça pública com discípulos ou terceiros, por meio da parturição discursiva das idéias. 
Assim é que, em poucas palavras, o ensinamento ético de Sócrates reside no conhecimento e na felicidade. 
Em primeiro lugar, ética significa conhecimento, tendo-se em vista que, ao praticar o mal, crê-se praticar algo que leve à felicidade, e, normalmente, esse juízo é falseado por impressões e aparências puramente externas. Para saber julgar acerca do bem e do mal, é necessário conhecimento, este sim verdadeira sabedoria e discernimento. 
O conhecer-te a ti mesmo é esse mandamento que inscreve como necessária a gnose interior para a construção de uma ética sólida. 
Em segundo lugar, a felicidade, a busca de toda a ética, para Sócrates, pouco tem a ver com a posse de bens materiais ou com o conforto e a boa situação entre os homens; tem ela a ver com a semelhança com o que é valorizado pelos deuses, pois parecem este ser os mais beatos dos seres. 
O cultivo da verdadeira virtude, consistente no controle efetivo das paixões e na condução das forças humanas para a realização do saber, é o que conduz o homem à felicidade.
8 - PRIMADO DA ÉTICA DO COLETIVO SOBRE A ÉTICA DO INDIVIDUAL:
A ética socrática impõe respeito, seja por sua logicidade, seja por seu caráter. É certo que, se Sócrates desejasse, poderia ter fugido à aplicação da pena de morte que lhe havia sido imposta, e os discípulos a seu lado estavam para auxiliá-lo e acobertá-lo. No entanto, a ética do respeito às leis, e, portanto, à coletividade, não permitia que assim agisse. E também, se durante toda a sua vida distinguiu-se por seguir os conselhos dos deuses, não seria no momento de sua morte que os desobedeceria, negando seu destino de união coma a cidade e com a constituição.
Isso porque Sócrates vislumbra nas leis um conjunto de preceitos de obediência incontornável, não obstante possam estas ser justas ou injustas. O direito, pois, aparece como um instrumento humano de coesão social, que visa à realização do bem comum, consistente no desenvolvimento integral de todas as potencialidades humanas, alcançável por meio do cultivo das virtudes. Em seu conceito, que nos foi transmitido pelos diálogos platônicos de primeira geração, as leis da cidade são inderrogáveis pelo arbítrio da vontade humana.
Concluindo assim que a filosofia socrática traduz uma ética, e sua contribuição consiste em vislumbrar na felicidade o fim da ação. Essa ética tem por fito a preparação do homem para conhecer-se, uma vez que o conhecimento é a base do agir ético; só erra quem desconhece, de modo que a ignorância é o maior dos males. Conhecer, porém, não é fiar-se nas aparências é nos enganos e desenganos humanos, e sim fiar-se no que há de verdadeiro e certo. Erradicar a ignorância, portanto, por meio da educação, é tarefa do filósofo, que na certeza desses princípios, abdica até mesmo de sua vida para reafirmar sua lição e seu compromisso com a divindade. A lição de vida da ética socrática é já uma lição de justiça.
Portanto, um misterioso conjunto de elementos éticos, sociais e religiosos permearem os ensinamentos socráticos, que permaneceram como princípios perenes e modelares, apesar de não terem sido reduzidos a escritos, mas que se transmitiram e se consubstanciaram principalmente no pensamento platônico, surtindo seus reflexos nas demais escolas que se firmaram na doutrina socrática.
Ao contrário de fomentar a desordem, o caos, a insurreição, sua filosofia prima pela submissão, uma vez que a ética do coletivo está acima da ética do individuo. Seu testemunho de vida bem provou essa convicção no acerto da renúncia em prol da cidade-estado. Onde está à virtude esta a felicidade, e isso independentemente dos julgamentos humanos a respeito.
A condenação de Sócrates, além de ter-lhes propiciando a oportunidade de questionar com sua vida a justiça citadina, também produziu sérios efeitos e deixou profundas marcas na história da filosofia. Platão incorporando esse dilema haverá de legá-lo com toda força para a posteridade.
	
PLATÃO
Platão, discípulo de Sócrates e um um dos mais influentes filósofos da atualidade. É através de seus diálogos que se pode saber sobre a vida de Sócrates.
1 - PLATÃO: UM DISCÍPULO GRANDIOSO
Platão pertencia a uma tradicional família de Atenas e estava ligado, pelo lado materno, a grandes personalidades do meio político. Sua genitora descendia do grande legislador Sólon, era irmã de Carmides e prima de Crítias, dois dos trinta tiranos que dominaram Atenas durante algum tempo.
Talvez seja possível atribuir o desapreço de Platão pelos políticos de seu tempo ao convívio e, conseqüentemente, ao conhecimento dos bastidores políticos, adquirido desde criança. Aos 20 anos, encontrou-se com Sócrates e isso imprimiu novo rumo a sua vida. 
Desiludido com a morte de Sócrates deixou Atenas e viveu em Mégara antes de viajar pelo Egito e Cirene, Itália e Sicília.
Após a morte de Sócrates, Platão (427 – 347 a. C.). Continua a Filosofia no quintal dos fundos de sua casa afastada. Ao criar a academia, Platão resolve dois problemas de uma só vez: afasta a Filosofia do cotidiano egoísta e interesseiro dos homens e protege a ciência do conhecimento do afrontamento direto com as novas classes atenienses. Nas idéias inspiradas nos ensinamentos de Sócrates.
Sua obra de maior importância para ciência política é A República ou Da Justiça, na qual Platão organiza a cidade ideal. A cidade é composta por homens de ouro, prata e bronze, respectivamente, os reis filósofos, os guardas e os produtores. Todo na polis ideal de Platão eram submetidos a exames para avaliar quais virtudes possuíam.
	O filósofo, para Platão, é o modelo mais adequado do estágio de perfectibilidade que a educação humana pode atingir. “o amigo da sabedoria é aquele que vive feliz porque é virtuoso, possui como ideal de vida viver a justiça tanto individual quanto coletiva, seu objetivo é chegar à verdade que se manifesta na transparência das coisas, por meio de uma consistente formação dialética”. Por isso é que o filósofo é o único habilitado a governar a cidade com justiça.
	Como conseguir filósofo? Educando. E educar não é propiciar aquisição de conhecimento técnico. Ensinar a decorar ou a colecionar informação. Educar é formar um homem virtuoso. O que é virtude para Platão? Os predicados morais, na visão platônica, representam o tesouro mais valioso, a coisa mais importante da vida. A pessoa virtuosa é a pessoa boa.
2 – PENSAMENTO POLÍTICO:
Segundo sua filosofia idealista, o Estado deve ser em ponto maior o que é o homem em ponto menor. Assim, como o homem é governado pela razão, deveria o Estado ser governado pelos sábios filósofos.
Tal como o corpo, com suas paixões e instintos, segue o que é determinado pela inteligência, os trabalhadores devem obedecer aos sábios governantes que possuem os conhecimentos verdadeiros.
Finalmente, do mesmo modo que o ser humano segue os ditamos da razão, mas quem decide é à vontade, haveria no Estado uma classe encarregada de defender a polis contra a subversão dos trabalhadores, para se cumprir os mandamentos dos sábios ou para repelir ameaças externas. Compõem esta classe os guerreiros ou guardiões.
3 –A POLIS JUSTA:
	Para que essa cidade tenha em seu corpo a justiça, cada ator, os produtores, os guardiões e os sábios, deverão agir conforme seus papéis sociais. Entretanto, caso algum indivíduo queira, por qualquer motivo, exercer função diversa daquela para qual é apto, haverá, então, elementos para uma cidade injusta.
4 – HOMENS E MULHERES SÃO IGUAIS:
	No livro V de A República, Platão fala sobre o papel da mulher, que seria vista como alguém que mereça espaço nessa sociedade justa.
	Platão não leva em consideração a questão do gênero humano, mas sim a natureza e, bem por isso, a mulher poderia exercer qualquer função na cidade platônica, seja produtora, guardião ou sábia. Este aspecto é relevante, pois todos deveriam participar da vida pública, tanto na esfera política como militar, motivo inclusive pelo qual Platão administrava.
5 – A MENTIRA:
	Outro aspecto interessante seria a licitude de mentir conferida aos dirigentes da cidade, seja para enganar os inimigos ou os próprios cidadãos, desde que essa medida traga vantagem a comunidade.
	Vale frisar que somente aos governantes é possibilitada a mentira. Aos demais habitantes é proibido mentir, tende em vista que não tem a sabedoria sobre seus atos.
6 – SOBRE A FORMA DE GOVERNO DEMOCRÁTICO: 
	Platão aprofundou sua descrença na democracia como a melhor forma de governo. Para Platão, o mais sábio e mais justo de todos os homens, seu mestre Sócrates, não poderia ter sido condenado injustamente, o que fez Platão crer que não poderia haver um partido político que um homem pudesse integrar sem abrir mão de seus princípios éticos.
Por conto disso, apresenta como modelo ideal essa sociedade meritocrata.
Ouro – Reis filósofos--------------------------------sabedoria+ coragem+temperança
Prata – Guardiões----------------------------------------coragem+temperança
Bronze – Produtores-----------------------------------------------temperança
Temperança – uma das virtudes éticas de Aristóteles e consistente no uso justo dos prazeres corpóreos.
Coragem – opinião reta e conforme a lei sobre o que se deve e sobre o que não se deve temer (Platão).
Sabedoria – disciplina racional das atividades humanas. Comportamento racional em todo domínio que é bom e aquilo que é mau para o homem. É o conhecimento das atividades humanas e da melhor maneira de conduzi-las.
Para Platão o governo ideal seria o filósofo – rei. Ele deveria ser educado por um processo que Platão explicitou em A República e que pode ser resumido como segue:
“Os mais bem dotado dos guerreiros são escolhidos entre os vinte e os trinta anos, e submetidos a uma particular educação cientifica. Quem nela se distinguir é tomado e introduzido na terceira classe, a dos “perfeitos guardiões”. E agora percebemos propriamente a alma do Estado platônico. Pois esses perfeitos guardiões devem tornar-se perfeitos filósofos para estabelecer o Estado platônico nos seus fundamentos de verdade e idealidade. Passam logo a estudar, durante cinco anos, filosofia, matemática, astronomia, bela arte, sobretudo dialética filosófica, para se capacitarem de todas as leis, verdade e valores do mundo. Passam depois, durante quinze anos, em altos cargos políticos, para aprender a conhecer praticamente o mundo e a vida. Aos cinquenta anos, esse circulo de escolhidos se retira, vivendo então somente na contemplação do vem em si e presta superior serviço de expor as grandes ideias pelas quais o Estado deve dirigir- se”.
7 - TRANSCENDÊNCIA E ALMA:
	Afinal, o que é a essência nos homens? O espírito, a alma. Mas a alma precisa do corpo para se desenvolver. A alma em Platão tem duas características: ela é preexistente (existe antes do corpo) e subsistente (existirá após o perecimento do corpo). Compõem a alma três partes: logística, a parte superior, que corresponde à razão; Irascível, a parte mediana, que corresponde às paixões; apetecível, a parte inferior, que corresponde aos vícios. Esta mesma tríade é comparada pelo autor as três partes do corpo.
Platão ressalta-se ainda que a categoria mais importante seja metafísica – alma – a visão idealista não recorre a nenhuma circunstância externa ao ser humano para explicar ou justificar o mal e todas as imperfeições mais escatológicas que dele derivam. Este compromisso com a compreensão da condição humana em suas limitações, e mesmo sua capacidade de ultrapassá-las, encontra-se absolutamente nas contradições que desde o inicio povoam os espíritos do próprio homem. Neste sentido, os males da existência humana, imateriais e materiais, advêm de dentro do próprio ser e só a partir desse interior podem ser ultrapassado.
Preexistente - existe antes do corpo. 
Subsistente - existirá após o perecimento do corpo.
 Compõem a alma três partes:
LOGÍSTICA - parte superior, que corresponde à razão; 
IRASCÍVEL - parte mediana, que corresponde às paixões;
APETECÍVEL - parte inferior, que corresponde aos vícios.
8 – O CICLO VIRTUOSO – ALMA E CORPO:
	
	Qual a necessidade da alma de reencarnar? Por que as paixões e os vícios só se manifestam enquanto a alma se encontra materializada no corpo? Portanto, ela precisa do corpo para ser instigada a procurar a razão e assim aprimorar-se permanentemente.
No mundo platônico o conhecimento é infinito e a sabedoria, ilimitada. Esta infinidade move inexoravelmente a alma à reencarnação permanente. Logo, a virtude é si mesma uma pretensão nunca alcançada dentro de um ciclo virtuoso de aprimoramento e desenvolvimento espiritual.
	Ainda que a luta entre o bem e o mal, a procura incessante do predomínio da razão contra as paixões e vícios, se verifique no âmago do próprio ser, a possibilidade do crescimento espiritual, aquele que verdadeiramente interessa, se dá na transcendência da alma transmudada na materialidade do corpo.
9 – O MITO DE “ER”:
	Por outro lado, o que acontece quando a alma desencarna? Conta o Mito de ER que a alma recobra a consciência de toda sua trajetória e é julgada por seus atos enquanto estava encarnada. Julgada, é punida em um tipo de purgatório muito parecido com nossa noção cristã de “inferno”.
	Ao contrário do Cristianismo em que a alma fica aguardando o dia do julgamento do julgamento final, a alma reencarna rapidamente, não como cumprimento “carmático” especifico, mas como necessidade imperiosa e infinita de continuar seu ciclo de virtuosidade. 
	Como sabemos da justiça no além e do que acontece com a alma quando desencarna? Conta o mito que o esquecimento, ao incorporar o corpo, se dá através da água de um lago que a alma se vê obrigada a beber. ER é uma alma que não bebeu da água do lago do esquecimento, e assim saber desta verdade.
Alma Reencarnada – Predomínio da Razão – Harmonia Espiritual – Ética – Virtude – Sabedoria – Justiça.
O Mito de ER (Platão, República)
A verdade que o que te vou narrar não é um conto de Alcínoo, mas de um homem valente, Er o Arménio, Panfílio de nascimento. Tendo ele morrido em combate, andavam a recolher, ao fim de dez dias, os mortos já putrefactos, quando o retiraram em bom estado de saúde. Levaram-no para casa para lhe dar sepultura, e, quando, ao décimo segundo dia, estava jazente sobre a pira, tornou à vida e narrou o que vira no além. Contava ele que, depois que saíra do corpo, a sua alma fizera caminho com muitas, e havia chegado a um lugar divino, no qual havia, na terra, duas aberturas contíguas uma à outra, e no céu, lá em cima, outras em frente a estas. No espaço entre elas, estavam sentados juízes que, depois de pronunciarem a sua sentença, mandavam os justos avançar para o caminho à direita, que subia para o céu, depois de lhes terem atado à frente a nota do seu julgamento; ao passo que, os injustos, prescreviam que tomassem à esquerda, e para baixo, levando também atrás a nota de tudo quanto haviam feito. Quando se aproximou, disseram-lhe que ele devia ser o mensageiro, junto dos homens,das coisas do além, e ordenaram-lhe que ouvisse e observasse tudo o que havia naquele lugar. Ora ele viu que ali, por cada uma das aberturas do céu e da terra, saíam as almas, depois de terem sido submetidas ao julgamento, ao passo que pelas restantes, por uma subiam as almas que vinham da terra, cheias de lixo e de pó, e por outra desciam as almas do céu, em estado de pureza. E as almas, à medida que chegavam, pareciam vir de uma longa travessia e regozijavam-se por irem para o prado acampar, como se fosse uma panegíria�[1]; e as que se conheciam, cumprimentavam-se mutuamente, e as que vinham da terra faziam perguntas às outras, sobre o que se passava no além, e as que vinham do céu, sobre o que sucedia na terra. Umas, a gemer e a chorar, recordavam quantos e quais sofrimentos haviam suportado e visto na sua viagem por baixo da terra, viagem essa que durava mil anos, ao passo que outras, as que vinham do céu, contavam as suas deliciosas experiências e visões de uma beleza indescritível. Referir todos os pormenores seria, ó Gláucon, tarefa para muito tempo. Mas o essencial dizia ele que era o que segue. Fossem quais fossem as injustiças cometidas e as pessoas prejudicadas, pagavam a pena de tudo isso sucessivamente, dez vezes por cada uma, quer dizer, uma vez em cada cem anos, sendo esta a duração da vida humana – a fim de pagarem, decupilando-a, a pena do crime; por exemplo, quem fosse culpado da morte de muita gente, por ter traído Estados ou exércitos e os ter lançado na escravatura, ou por ser responsável por qualquer outro malefício, por cada um desses crimes suportava padecimentos a duplicar; e, inversamente, se tivesse praticado boas acções e tivesse sido justo e piedoso, recebia recompensas na mesma proporção. Sobre os que morreram logo a seguir ao nascimento e os que viveram pouco tempo, dava outras informações que não vale a pena lembrar. Em relação à impiedade ou piedade para com os deuses e para com os pais, e crimes de homicídio, dizia que os salários eram ainda maiores.
Contava ele, com efeito, que estivera junto de alguém a quem perguntaram onde estava Ardieu o Grande. Este Ardieu tinha sido tirano numa cidade da Panfília, havia já então mil anos; tinha assassinado o pai idoso e o irmão mais velho, e perpetrado muitas outras impiedades, segundo se dizia. E o interpelado respondera: “Não vem, nem poderá vir para aqui. Na verdade, um dos espectáculos terríveis que vimos foi o seguinte: Depois de nos termos aproximado da abertura, preparados para subir, e quando já tínhamos expiado todos os sofrimentos, avistámos de repente Ardieu e outros, que eram tiranos, na sua quase totalidade; mas também havia alguns que eram particulares que tinham cometido grandes crimes – que, quando julgavam que já iam subir, a abertura não os admitia, mas soltava um mugido cada vez que algum desses, assim incuráveis na sua maldade ou que não tinham expiado suficientemente a sua pena, tentava a ascensão. Estavam lá homens selvagens, que pareciam de fogo, e que, ao ouvirem o estrondo, agarravam alguns pelo meio e levavam-nos, mas, a Ardieu e outros, algemaram-lhes as mãos, pés e cabeça, derrubaram-nos e esfolaram-nos, arrastaram-nos pelo caminho fora, cardando-os em espinhos, e declaravam a todos, à medida que vinham, por que os tratavam assim, e que os levavam para os precipitar no Tártaro”. Então tinham tido terrores múltiplos e variados, mas o maior de todos era o de cada um deles ouvir o mugido, quando ia a subir, e foi com o maior gosto que cada um fez a ascensão ante o silêncio daquele. Eram mais ou menos estas as penas e castigos, e bem assim as vantagens que lhes correspondiam. Depois de cada um deles ter passado sete dias no prado, tinham de se erguer dali, e partir ao oitavo dia, para chegar, ao fim de mais quatro dias, a um lugar de onde se avistava, estendendo-se desde o alto através de todo o céu e terra, uma luz, direita com uma coluna, muito semelhante ao arco-íris, mas mais brilhante e mais pura. Cegaram lá, depois de terem feito um dia de caminho, e aí mesmo, viram, no meio da luz, pendentes do céu, as extremidades das suas cadeias (efectivamente essa luz é uma cadeia do céu, que tal como as cordagens das trirremes, segura o firmamento na sua revolução); dessas extremidades pendia o fuso da Necessidade, por cuja acção giravam as esferas. A respectiva haste e gancho eram de aço; o contrapeso, de uma mistura desse produto e de outros. Quanto à natureza do contrapeso, era como segue. A sua configuração era semelhante à dos daqui, mas, quanto à sua constituição, contava ele que devíamos imaginá-la da seguinte maneira: era como se, num grande contrapeso oco e completamente esvaziado, estivesse outro semelhante, maior, que coubesse exactamente dentro dele, como as caixas que se metem umas nas outras; do mesmo modo, um terceiro, um quarto, e mais quatro. Com efeito, eram oito ao todo, os contrapesos, encaixados uns nos outros, que, na parte superior, tinham o rebordo visível com outros tantos círculos, formando um plano contínuo de um só fuso em volta da haste. Esta atravessava pelo meio, de lés-a-lés, o oitavo. Ora o primeiro contrapeso, o exterior, era o que tinha o círculo de rebordo mais largo; o segundo lugar cabia ao sexto, o terceiro ao quarto, o quarto ao oitavo, o quinto ao sétimo, o sexto ao quinto, o sétimo ao terceiro, o oitavo ao segundo. O círculo do maior era cintilante, o do sétimo era o mais brilhante, o do oitavo tinha a cor do sétimo, que o iluminava, o do segundo e do quinto eram muito semelhantes entre si; um pouco mais amarelados do que aqueles, o terceiro era o que tinha a cor mais branca, o quarto era avermelhado, o sexto era o segundo em brancura�[2].O fuso inteiro girava sobre si na mesma direcção, mas, na rotação desse todo, os sete círculos interiores andavam à volta suavemente, em direcção oposta ao resto. Dentre estes, o que andava com maior velocidade era o oitavo; seguiam-se, ao mesmo tempo, o sétimo, o sexto, e o quinto; o quarto parecia-lhes ficar em terceiro lugar nesta revolução em sentido retrógrado, o terceiro em quarto, e o segundo em quinto. O fuso girava nos joelhos da Necessidade. No cimo de cada um dos círculos, andava uma Sereia que com ele girava, e que emitia um único som, uma única nota musical; e de todas elas, que eram oito, resultava um acorde de uma única escala�[3]. Mais três mulheres estavam sentadas em círculo, a distâncias iguais, cada uma em seu trono, que eram as filhas da Necessidade, as Parcas�[4], vestidas de branco, com grinaldas na cabeça – Láquesis, Cloto e Átropos – as quais estavam ao som da melodia das Sereias, Láquesis, o passado, Cloto, o presente, e Átropos o futuro. Cloto, tocando com a mão direita no fuso, ajudava a fazer girar o círculo exterior, de tempos a tempos; Átropos, com a mão esquerda, procedia do mesmo modo com os círculos interiores; e Láquesis tocava sucessivamente nuns e noutros com cada uma das mãos. Ora eles, assim que chegaram, tiveram logo que ir para junto de Láquesis. Primeiro, um profeta dispô-los por ordem. Seguidamente, pegou em lotes e modelos de vidas que estavam no colo de Láquesis, subiu a um estrado elevado e disse:
“Declaração da virgem Láquesis, filha da Necessidade. Almas efémeras, vai começar outro período portador da morte para a raça humana. Não é um génio�[5] que vos escolherá, mas vós que escolhereis o génio. 
“O primeiro a quem a sorte couber, seja o primeiro a escolher uma vida a que ficará ligado pela necessidade. A virtude não tem senhor, cada um terá em maior ou menor grau, conforme a honrar ou desonrar. A responsabilidade é de quem escolhe. O deus é isento de culpa”.
Ditas estas palavras, atirou com os lotes para todos e cada um apanhou o que caiu perto de si, excepto Er, a quem isso não foi permitido. Ao apanhá-lo, tornaram-se evidentes para cada um a ordem que lhe cabia para escolher. Seguidamente, dispôs no solo, diante deles, os modelos de vida, em número muito mais levado, do que os dos presentes. Havia-os de todas as espécies, vida de todos os animais, e bem assim de todosos seres humanos. Entre elas, havia tiranias, umas duradoiras, outras derrubadas a meio, e que acabavam na
pobreza, na fuga, na mendicidade. Havia também vidas de homens ilustres, umas pela forma, beleza, força e vigor, outras pela raça e virtudes dos antepassados; depois havia também as vidas obscuras, e do mesmo modo sucedia com as mulheres. Mas não continham as disposições do carácter, por ser forçoso que este mude, conforme a vida que escolhem. Tudo o mais estava misturado entre si e com a riqueza e a indigência, a doença e a saúde, e bem assim o meio termo entre estes predicados. É ai que está, segundo parece, meu caro Gláucon, o grande perigo para o homem, e por esse motivo se deve ter o máximo cuidado em que cada um de nós ponha de parte os outros estudos para investigar e se aplicar a isto, a ver se é capaz de saber e descobrir quem lhe dará a possibilidade e a ciência de distinguir uma vida honesta da que é má e de escolher sempre em toda a parte tanto quanto possível a melhor […]
Ora, então, anunciou o mensageiro do além, o profeta falou deste modo: “Mesmo para quem vier em último lugar, se escolher com inteligência e viver honestamente, espera-o uma vida apetecível, e não uma desgraçada. Nem o primeiro deixe de escolher com prudência�[6], nem o último com coragem”.
Ditas estas palavras, contava Er, aquele a quem coube à primeira sorte logo se precipitou para escolher a tirania maior, e, por insensatez e cobiça, arrebatou-a, sem ter examinado capazmente todas as conseqüências, antes lhe passou despercebido que o destino que lá estava fixado comportava comer os próprios filhos e outras desgraças. Mas, depois que a observou com vagar, batia no peito e lamentava a sua escolha, sem se ater às prescrições do profeta. Efetivamente, não era a si mesmo que se acusava da desgraça, mas à sorte e às divindades, e a tudo, mais do que a si mesmo. Ora, esse era um dos que vinham do céu, e vivera, na encarnação anterior, num Estado bem governado; a sua participação na virtude devia-se ao hábito, não à filosofia. Pode-se dizer que não eram menos numerosos os que vindos do céu, se deixavam apanhar em tais situações, devido à sua falta de treino nos sofrimentos. Ao passo que os que vinham da terra, na sua maioria, como tinham sofrido pessoalmente e visto os outros sofrer, não faziam a sua escolha à pressa. Por tal motivo, e também devido à sorte da escolha, o que mais acontecia às almas era fazerem a permuta entre males e bens. […]
Era digno de se ver este espectáculo, contava ele, como cada uma das almas escolhia a sua vida. Era, realmente, merecedor de piedade, mas também ridículo e surpreendente. Com efeito, a maior parte fazia a sua opção de acordo com os hábitos da vida anterior. Dizia ele que vira a alma que outrora pertencera a Orfeu escolher uma vida de cisne, por ódio à raça das mulheres, porque, devido a ter sofrido a morte às mãos delas, não queria nascer de uma mulher; vira a de Tamiras�[7] escolher uma vida de rouxinol; vira também um cisne preferir uma vida humana, e outros animais músicos procederem do mesmo modo. [..]
Assim que todas as almas escolheram as suas vidas avançaram, pela ordem da sorte que lhes coubera, para junto de Láquesis. Esta mandava a cada uma o génio que preferira para guardar a sua vida e fazer cumprir o que escolhera. O génio conduzia-a primeiro a Cloto, punha-a por baixo da mão dela e do turbilhão do fuso a girar, para ratificar o destino que, depois da tiragem à sorte, escolhera. Depois de tocar no fuso, conduzia-a a novamente à trama de Átropos, que tornava irreversível o que fora fiado. Desse lugar, sem se poder voltar para trás, dirigia-se para o trono da Necessidade, passando para o outro lado. Quando as restantes passaram, todas se encaminharam para a planura do Letes�[8], através de um calor e uma sufocação terríveis.
De fato, ela era despida de árvores e de plantas. Quando já entardecia, acamparam junto do Rio Ameles�[9], cuja água nenhum vaso pode conservar. Todas são forçadas a beber uma certa quantidade dessa água, mas aquelas a quem a reflexão não salvaguarda bebem mais do que a medida. Enquanto se bebe, esquece-se tudo. Depois que se foram deitar e deu a meia-noite, houve um trovão e um tremor de terra. De repente, as almas partiram dali, cada uma para seu lado, para o alto, a fim de nascerem, cintilando como estrelas. Er, porém, foi impedido de beber. Não sabia, contudo, por que caminho nem de que maneira alcançara o corpo, mas, erguendo os olhos de súbito, viu, de manhã cedo, que jazia na pira. 
Foi assim, ó Gláucon, que a história se salvou e não pereceu.»
Platão, República, Livro X, 614b-621c
10 - JUSTIÇA, ÉTICA E GOVERNABILIDADE:
	A seguinte seqüência de aforismos pode fornecer uma explicação clara da relação entre sabedoria e justiça:
Na medida em que existe uma vida terrena para o espírito, os homens fazem suas leis, desejando punir o que vêem e conforme o que entendem;
Assim, mesmo julgado pela lei dos homens, o ser espiritualmente será julgado e punido no além, quando então terá a verdadeira oportunidade de expiar seus males;
Portanto, o inferno pode ser aqui, mas explicações e justificativas dos descaminhos da humanidade não podem ser buscadas e avaliadas a partir desta materialidade existencial e sim da fragilidade espiritual dos homens;
Finalmente, num plano absolutamente terreno, o melhor caminho é o comportamento ético absoluto fundamentalmente dirigido ao outro e á coletivamente. Desvinculando de interesses imediatos e exclusivamente pessoais.
O Mito da Caverna
Aprofundando o Estudo: A República - O Mito da Caverna
Na República, Platão formula seu modelo ideal de cidade, a cidade justa, que serve de contraste para a cidade concreta, Atenas, cujo sistema político é injusto, corrupto e decadente. Para definir o que é a cidade justa, Platão começa a examinar o que é a justiça, o que o leva a investigar o conhecimento da justiça e, por fim, o próprio conhecimento. A Alegoria, ou Mito da Caverna, que se encontra no início do livro VII deste diálogo consiste precisamente em uma imagem construída por Sócrates para explicar a seu interlocutor, Glauco, o processo pelo qual o indivíduo passa ao se afastar do mundo do senso comum e da opinião em busca do saber e da visão do Bem e da Verdade. É este precisamente o percurso do prisioneiro até transformar-se no sábio, no filósofo, devendo depois retomar a caverna para cumprir sua tarefa político-peda​gógica de indicar a seus antigos companheiros o caminho. 
SÓCRATES: Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de educação que ela recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagine, pois, homens que vivem em uma espécie de morada subterrânea em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar à cabeça para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao tapume que os exibi​dores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo. 
GLAUCO: Entendo. 
SÓCRATES: Então, ao longo desse pequeno muro, imagine homens que carregam todo tipo de objetos fabricados, ultrapassando a altura do muro; estátua de homens figura de animais, de pedra, madeira ou qualquer outro material. Provavelmente, entre os carregadores que desfilam ao longo do muro, alguns falam, outros se calam. 
GLAUCO: Estranha descrição e estranhos prisioneiros! 
SÓCRATES: Eles são semelhantes a nós. Primeiro você pensa que, na situação deles, eles tenham visto algo mais do que as sombras de si mesmos e dos vizinhos que o fogo projeta na parede da caverna à sua frente? 
GLAUCO: Como isso seria possível, se durante toda a vida eles estão condenados a ficar com a cabeçaimóvel? 
SÓCRATES: Não acontece o mesmo com os objetos que desfilam? 
GLAUCO: É claro. 
SÓCRATES: Então, se eles pudessem conversar, não acha que, nomeando as sombras que vêem, pensariam nomear seres reais? 
GLAUCO: Evidentemente. 
SÓCRATES: E se, além disso, houvesse um eco vindo da parede diante deles, quando um dos que passam ao longo do pequeno muro falasse, não acha que ele tomaria essa voz pela da sombra que desfila à sua frente? 
GLAUCO: Sim, por Zeus. 
SÓCRATES: Assim sendo, os homens que estão nessas condições não poderiam considerar nada como verdadeiro, a não serem as sombras dos objetos fabricados. 
GLAUCO: Não poderia ser de outra forma. 
SÓCRATES: Veja agora o que aconteceria se eles fossem libertados de sua corrente e curados de sua desrazão. Tudo não aconteceria naturalmente como vou dizer? Se um desses homens fosse solto, forçado subitamente a levantarem-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria ofuscado e não poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas as sombras, anteriormente. Em sua opinião. O que ele poderia responder se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas sem consistência, que agora ele está mais perto da realidade, voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que ele responderia se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam, obrigando-o, com perguntas, a dizer o que são? Não acha que ele ficaria embaraçado e que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais verdadeira" do que os objetos que lhe mostram agora? 
GLAUCO: Certamente, elas lhe pareceriam mais verdadeiras. 
SÓCRATES: E se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas que os olhos lhe doeriam, que ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode olhar e que as consideraria verdadeiramente mais nítidas do que as coisas que lhe mostram? 
GLAUCO: Sem dúvida alguma.
 
SÓCRATES: E se o tirassem de lá à força. Se o fizessem subir o íngreme caminho montanhoso, se não o largassem até arrastá-lo para a luz do sol, ele não sofreria e se irritaria ao ser assim empurrado para fora? E. Chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, não seria capaz de ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora serem verdadeiros.
 
GLAUCO: Ele não poderá vê-los, pejo menos nos primeiros momentos. 
SÓCRATES: É preciso que ele se habitue, para que possa ver as coisas do alto. Primeiro, ele distinguirá mais facilmente as sombras, depois, as imagens dos homens e dos outros objetos refletidas na água, depois os próprios objetos. Em segundo lugar, durante a noite, ele poderá contemplar as constelações e o próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros e da lua mais facilmente que durante o dia para o sol e para a luz do sol.
GLAUCO: Sem dúvida 
SÓCRATES: Finalmente, ele poderá contemplar o sol, não o seu reflexo nas águas ou em outra superfície lisa, mas o próprio sol, no lugar do sol, o sol tal como é. 
GLAUCO: Certamente. 
SÓCRATES: Depois disso, poderá raciocinar a respeito cio sol, concluir que é ele que produz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível, e que é de algum modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna. 
GLAUCO: É indubitável que ele chegará a essa conclusão. 
SÓCRATES: Nesse momento. Se ele se lembrar de sua primeira morada, da ciência que ali se possuía e de seus antigos companheiros, não acha que ficaria feliz com a mudança e teria pena deles? 
GLAUCO: Claro que sim. 
SÓCRATES: Quanto às honras e louvores que eles se atribuíam mutuamente outrora, quanto às recompensas concedidas àquele que fosse dotado de uma visão mais aguda para discernir a passagem das sombras na parede e de uma memória mais fiel para se lembrar com exatidão daquelas que precedem certas outras ou que lhes sucedem. As que vêm juntas. E que, por isso mesmo, era o mais hábil para conjeturar a que viria depois, acha que nosso homem teria inveja dele, que as honras e a confiança assim adquiridas entre os companheiros lhe dariam inveja? Ele não pensaria antes, como o herói de Homero, que mais vale "viver como escravo de um lavrador" e suportar qualquer provação do que voltar à visão ilusória da caverna e viver como se vive lá? 
GLAUCO: Concordo com você. Ele aceitaria qualquer provação para não viver como se vive lá. 
SÓCRATES: Reflita ainda nisto: suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do sol? 
GLAUCO: Naturalmente. 
SÓCRATES: E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê - los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-la, não o matariam? 
GLAUCO: Sem dúvida alguma, eles o matariam. 
SÓCRATES: E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que dissemos anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão. A luz do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação do que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e não te enganarás sobre minha espe​rança, já que desejas conhecê-la. Deus sabe se há alguma possibilidade de que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo o caso eis o que me aparece tal como me aparece; nos últimos limites do mundo inteligível aparece-me a idéia do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há de reto e de belo. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz. No mundo inteligível ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência. Acrescento que é preciso vê-Ia se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida privada. Seja na vida pública.
GLAUCO: Tanto quanto sou capaz de compreender-te, concordo contigo.
O MITO DE PANDORA
 MITOLOGIA 
Prometeu deus cujo nome em grego significa "aquele que vê o futuro", doou aos homens o fogo e as técnicas para acendê-lo e mantê-lo. Zeus, o soberano dos deuses, se enfureceu com esse ato, porque o segredo do fogo deveria ser mantido entre os deuses. Por isso, ordenou a Hefesto [1], que criasse uma mulher que fosse perfeita, e que a apresentasse à assembléia dos deuses. Atena, a deusa da sabedoria e da guerra, vestiu essa mulher com uma roupa branquíssima e adornou-​lhe a cabeça com uma guirlanda de flores, montada sobre uma coroa de ouro. Hefesto a conduziu pessoalmente aos deuses, e todos ficaram admirados; cada um lhe deu um dom particular:
Atena lhe ensinou as artes que convêm ao seu sexo, como a arte de tecer;
Afrodite lhe deu o encanto, que despertaria o desejo dos homens; 
As Cárites, deusas da beleza, e a deusa da persuasão ornaram seu pescoço com colares de ouro;
Hermes, o mensageiro dos deuses, lhe concedeu a capacidade de falar, juntamente com a arte de seduzir os corações por meio de discursos insinuantes. 
Depois que todos os deuses lhe deram seus presentes, ela recebeu o nome de Pandora, que em grego quer dizer "todos os dons". 
Finalmente, Zeus lhe entregou uma caixa bem fechada, e ordenou que ela a levasse como presente a Prometeu. Entretanto, ele não quis receber nem Pandora, nem a caixa, e recomendou a seu irmão, Epimeteu, que também não aceitasse nada vindo de Zeus. Epimeteu, cujo nome significa "aquele que reflete tarde demais", ficou encantado com a beleza de Pandora e a tomou como esposa. 
A caixa de Pandora foi então aberta e de lá escaparam a Senilidade, a Insanidade, a Doença, a Inveja, a Paixão, o Vício, a Praga, aFome e todos os outros males, que se espalharam pelo mundo e tomaram miserável a existência dos homens a partir de então. Epimeteu tentou fechá-la, mas só restou dentro a Esperança, uma criatura alada que estava preste a voar, mas que ficou aprisionada na caixa [...] e é graças a ela que os homens conseguem enfrentar todos os males e não desistem de viver. 
O MITO DE GIGES
Platão. A República, II, 359b-360a
Para provar que só se pratica a justiça contra a própria vontade e pela incapacidade de cometer a injustiça, não poderíamos fazer nada melhor do que imaginar o seguinte. Demos ao homem de bem e ao iníquo igual poder de fazer o que quiserem e os sigamos para ver onde a paixão os vai conduzir. Surpreenderemos o homem de bem tomando o mesmo caminho que o iníquo, levado pelo desejo de ter sempre mais, desejo que toda natureza persegue como um bem, mas que a lei sujeita, à força, ao respeito e à igualdade. O melhor meio de lhes dar o poder de que falo é lhes emprestar o privilégio que, dizem,Giges, o antepassado do Rei da Lídia, possuiu outrora.
Giges era um pastor a serviço do rei que reinava então na Lídia. Em consequência de uma grande tempestade e de um terremoto, o solo tinha se fendido e uma medonha abertura tinha se formado no lugar onde ele apascentava seu rebanho. Admirado com o que via, desceu pela abertura, e conta-se que, entre outras maravilhas, viu um cavalo de bronze, oco, com portinholas e, tendo passado a cabeça através de uma delas, viu um homem que estava morto, segundo toda a aparência, e cuja estatura ultrapassava a estatura humana. Esse morto estava nu; tinha somente um anel de ouro na mão. Giges o pegou e saiu. Ora, tendo-se reunido os pastores como de costume para fazer ao rei o seu relatório mensal sobre o estado dos rebanhos, Giges veio à assembleia, trazendo no dedo o seu anel.
 Tendo tomado o lugar entre os pastores, girou, por acaso, o anel de tal modo que a pedra ficou do lado de dentro de sua mão e, imediatamente, ele se tornou invisível para os seus vizinhos, e falava-se dele como se tivesse partido, o que o encheu de espanto. Girando de novo o seu anel, virou a pedra para fora e imediatamente tornou a ficar visível. Atônito com o efeito, ele repetiu a experiência para ver se o anel realmente tinha esse poder, e constatou que, virando a pedra para dentro, tornava-se invisível; para fora, visível. Tendo essa certeza, fez-se incluir entre os pastores que seriam enviados até o rei como representantes. Foi ao palácio, sequestrou a rainha e atacou e matou o rei; em seguida, apoderou-se do trono.
Suponhamos, agora, dois anéis como esse; coloquemos um no dedo do homem justo e outro no do injusto. Segundo o que tudo indica, não encontraremos em nenhum dos dois uma força de caráter suficientemente forte para permanecerem fiéis à justiça e resistirem à tentação de se apoderar do bem que quisessem, já que poderiam, impunemente, pegar n mercado o que quisessem, e fazer o que bem entendessem em qualquer lugar, como se fossem deuses entre os homens, pois não seriam punidos por nada que viessem a fazer. Penso que, quanto a isso, nada distinguiria o homem justo do injusto, e os dois tenderiam para o mesmo fim,e poderíamos ver nisso uma grande prova de que não se é justo por escolha, mas por imposição, e não é a justiça como um bem individual, pois sempre que julgamos poder ser injustos, não o deixamos de ser.
Todos os homens, com efeito, creem que a injustiça lhes é muito mais vantajosa individualmente do que a justiça, e têm razão para acreditar nisso, se nos referimos àquele que é partidário da doutrina que exponho. De fato, se um homem que tivesse tal poder nãoconsentisse nunca em praticar uma injustiça e em apoderar-se de um bem de outrem, seria considerado por aqueles que estivessem a par do segredo como o mais infeliz e o mais insensato dos homens. Nem por isso deixaria de elogiar em público a sua virtude, mas como intento de se enganarem mutuamente, no temor de sofrerem, eles mesmos, alguma injustiça.
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ARISTÓTELES
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��Aristóteles, detalhe da Escola de Atenas, afresco de Rafael, 1509. Museus do Vaticano, Roma.
Aristóteles foi provavelmente o mais erudito e sábio dos filósofos gregos clássicos ou antigos. Familiarizou-se com todo o desenvolvimento do pensamento grego anterior a ele. Em sua obra pessoal, considerou, resumiu, criticou e desenvolveu ainda mais toda a rica tradição que herdara. 
É autor de grande número de tratados de lógica, política, história natural e física. Sua obra é a fonte do tomismo e da escolástica. Ele e seu professor Platão são em geral considerados os dois mais importantes filósofos gregos da antiguidade.
1 - VIDA
Aristóteles nasceu em Estagira, pequena cidade do norte da Grécia. Seu pai, Nicômaco, era médico de Amintas II, rei da Macedônia, país vizinho. Amintas foi pai de Filipe da Macedônia e avô de Alexandre, o Grande. Quando seus pais morreram, Aristóteles, ainda uma criança, passou a ser criado por um tutor chamado Proxeno.
Por volta dos 18 anos, Aristóteles ingressou na escola ateniense de Platão, conhecida como a Academia. Ali ficou por cerca de 20 anos. Platão considerava Aristóteles o mais brilhante e instruído discípulo da Academia, e chamava-o a inteligência da escola e o leitor.
Com a morte de Platão, em 347 a.C., Aristóteles deixou a Academia para se juntar a um pequeno grupo de discípulos de Platão que viviam com Hérmias, antigo estudante da Academia. Hérmias tornara-se o senhor de Atarnéia e Asso, cidades costeiras da Ásia Menor. Aristóteles passou cerca de três anos com Hérmias, e casou-se com sua filha adotiva, Pítia.
Em 343 ou 342 a.C., Filipe II, rei da Macedônia, convidou Aristóteles para supervisionar a educação de seu filho Alexandre. Este, mais tarde, conquistou toda a Grécia, venceu o Império Persa, e tornou-se conhecido como Alexandre, o Grande. Alexandre teve Aristóteles como preceptor até 336 a.C., ocasião em que o jovem subiu ao trono, após seu pai ter sido assassinado.
Após 334 a.C., Aristóteles voltou a Atenas e fundou uma escola chamada o Liceu. A escola de Aristóteles, sua filosofia e seus adeptos foram chamados peripatéticos (da palavra grega que significa dar voltas), porque Aristóteles ensinava passeando com seus discípulos.
Pouco depois da morte de Alexandre, em 323 a.C., Aristóteles foi acusado de impiedade (desrespeito aos deuses) pelos atenienses. Estes provavelmente se ressentiam de sua amizade com Alexandre, o homem que conquistara seu país. 
Aristóteles não esquecera o destino do filósofo Sócrates, condenado à morte por uma acusação semelhante feita pelos atenienses em 399 a.C. Fugiu então para a cidade de Cálcis, para que os atenienses não pudessem como ele disse, "pecar duas vezes contra a filosofia". Ali morreu um ano depois.
2 – OBRA ESCRITA DE ARISTÓTELES:
A obra escrita de Aristóteles é geralmente dividida em três grupos: obras populares; memorandos; tratados.
As obras populares são, em sua maioria, diálogos sobre o modelo dos diálogos de Platão, e foram produzidas enquanto Aristóteles ainda freqüentava a Academia. Tais obras se destinavam a um público geral externo à escola. Eis por que Aristóteles a elas se referia como exotéricas. Esses escritos não sobreviveram, mas autores posteriores se referiram a eles muitas vezes, inclusive com citações.
Os memorandos foram, em grande parte, coleções de materiais de pesquisa e registros históricos. Preparados por Aristóteles com a ajuda de seus discípulos, destinavam-se a servir de fonte de informação para os estudiosos. Tal como sucedeu com os escritos populares, os memorandos perderam-se, com poucas exceções.
Os tratados constituem quase toda a parte da obra de Aristóteles conservada até hoje. Foram provavelmente escritos para servir como anotações de aula ou manuais para o Liceu. Ao contrário das obras populares, os tratados se destinavam aos estudantes na escola. Por isso, os tratados são chamados obras esotéricas. (eso- em grego significa interno).3 – ÉTICA E POLÍTICA: 
Para Aristóteles, tanto a ética como a política estudam o conhecimento prático, isto é, o conhecimento que capacita o homem a agir adequadamente e a viver feliz. As obras de Aristóteles sobre este tema incluem a Ética a Nicômaco e a Política.
Diz Aristóteles que a meta do homem é a felicidade, e que ele alcança a felicidade quando desempenha plenamente sua função. Logo, é preciso determinar qual é a função do homem. A função de uma coisa é aquilo que só ela pode fazer, ou o que ela pode fazer melhor. Por exemplo, a função do olho é ver, e a função da faca é cortar. Aristóteles declarou que o homem é o "animal racional", cuja função é raciocinar. Assim, segundo Aristóteles, para o homem uma vida feliz é a vida governada pela razão.
Aristóteles acreditava que um homem que tem dificuldade em proceder eticamente (de acordo com a moral) é moralmente imperfeito. Seu homem ideal exercita-se no comportamento razoável e adequado, até poder fazê-lo com naturalidade e sem esforço. Aristóteles acreditava que a virtude moral é uma questão de evitar os extremos no comportamento, procurando, ao contrário, o meio-termo que fica entre os extremos. Por exemplo, a virtude da coragem é o meio-termo entre os vícios da covardia, de um lado, e do outro uma louca ousadia.
Para Aristóteles:
Ser feliz e ser útil à comunidade eram dois objetivos sobrepostos, e ambos estavam presentes na atividade pública. O melhor governo, dizia ele, seria: 
“Aquele em que cada um melhor encontra o que necessita para ser feliz”.
Aristóteles
4 - ÉTICA E JUSTIÇA:
	Aristóteles escreveu diversos tratados sobre a ética podemos citar a Ética Eudemos, a Ética Maior e a Ética a Nicômaco. A obra de Ética a Nicômaco, especialmente no Livro V é a mais importante.
5 - A QUESTÃO DO BEM E BEM FINAL:
 
	Aristóteles acreditava que o bem é aquilo que todas as coisas visam. Assim, todas as coisas têm uma finalidade, que pode ser em si mesma (na ação) ou distinta da ação, mas todas as finalidades devem visar algum bem, pois, desse modo, agiremos conforme os preceitos da Ética. Tais finalidades devem seguir algum bem, ou melhor, destes bens (bem supremo final e autossuficiente).
6 - AS DUAS PARTES DA ALMA:
	Apresenta a bipartição da alma em excelência ou virtude moral e excelência ou virtude intelectual. A primeira é a parte irracional da alma e a segunda, a racional. A conjugação das duas excelências leva – nos a ética.
7 - EXCELÊNCIA OU VIRTUDE MORAL:
	Relaciona–se com os sentimentos (emoções). Para atingi–la, devemos buscar o meio termo, a justa medida, a fim de conseguirmos o equilíbrio.
 
8 - EXCELÊNCIA OU VIRTUDE INTELECTUAL:
	Refere-se às capacidades intelectuais e a todos os campos que envolvam a razão, tais como a ciência, a técnica e a sabedoria filosófica.
9 - A QUESTÃO DO MEIO TERMO E A DEFICIÊNCIA MORAL:
	Devemos buscar o meio termo a fim de encontrarmos o equilíbrio e nos tornamos pessoas eqüidistantes. Caso não encontremos o meio termo, teremos uma alma deficiente e consequentemente não buscaremos a felicidade.
	No campo da virtude ou excelência, aquele que não busca o meio termo é um deficiente moral vivendo com excesso ou a falta de alguma coisa.
Exemplo:
	Excesso
	Meio Termo
	Falta
	
	
	
	Prodigalidade
	Liberalidade
	Avareza
	Comer muito
	Comer o suficiente
	Comer pouco
10 - A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:
	A falta de excelência intelectual gera o medo, a insegurança e a dependência, transformando a pessoa em deficiência intelectual.
11 - A JUSTIÇA:
	Em relação ao homem, a excelência moral considerada mais elevada e perfeita é a justiça, pois nela se resume toda a excelência. Além de sintetizar as outras excelências, ela é ao mesmo tempo individua e coletiva, sendo a prática efetiva da excelência moral. Assim, ao praticarmos um ato justo, deliberadamente, tem-se a excelência moral como um todo.
12 - O BOM JUIZ:
	 Para Aristóteles, o juiz é uma figura fundamental para efetivação da justiça. Por conta disso deve se valer constantemente de todos os conhecimentos para que possa alcançar a verdade, e consequentemente decidir de maneira justa.
	Acreditava que o juiz devesse ser experiente, não podendo ser jovens em experiências, ou seja, a experiência não se liga com idade, mas se liga com imaturidade, ou juventude de vivencias. Aristóteles acreditava que cada juiz julga corretamente os assuntos que conhece, sendo um bom juiz em cada assunto de sua especialidade. Portanto, o homem instruído a respeito de um assunto é um bom juiz em relação ao mesmo, e o homem que recebeu uma instrução geral será um bom magistrado.
	É importante salientar que para ser um bom juiz é necessária experiência que se traduz em vivencia, ou seja, deve o candidato à magistratura ou qualquer outra carreira não se guiar pelas paixões ou por falsas opiniões. Daí a necessidade de existência de carreiras em órgãos públicos, nos quais o iniciante começa sua carreira como substituto, avança como juiz titular, muda de entrância podendo até galgar cargos nos Tribunais.
	Para Aristóteles o juiz é uma figura fundamental para a efetivação da justiça. Por conta disso deve se valer constantemente de todos os conhecimentos para que possa alcançar a verdade, e consequentemente decidir de maneira justa.
Acreditava que o juiz devesse ser experiente, não podendo ser jovens em experiências, ou seja, experiência não se relaciona apenas e tão somente com idade, mas com imaturidade, ou juventude de vivencias.
13 - COMO ATINGIR A VERDADE:
	Existem três elementos e cinco disposições da verdade.
14 - OS TRÊS ELEMENTOS DA ALMA:
	Que governo a ação refletida e a percepção da verdade:
Primeiro é a sensação, que esta ligada a alma cientifica ou a intuição;
Segundo é o pensamento, que esta ligada a alma deliberativa ou calculativa consistindo no pensamento racional;
Terceiro é o desejo, que esta ligada a alma deliberativa e cientifica ligando-se ao cultural.
15 - AS CINCO DISPOSIÇÕES DA ALMA:
	Que fazem com que alcance-se a verdade por meio da afirmação ou da negação:
Primeira é a arte, disposição ligada à criação não a ação;
Segunda é a ciência ou conhecimento cientifico;
Terceira e o discernimento, que consiste nos caminhos que devo utilizar para chegar à verdade;
Quarto é a sabedoria filosófica, que consiste no conhecimento da maturidade; é junção de algumas destas disposições;
Quinto é a inteligência que liga nossa essência com Deus.
16 - NINGUÉM NASCE VIRTUOSO:
A virtude, para Aristóteles, é uma prática e não um dado da natureza de cada um, tampouco o mero conhecimento do que é virtuoso, como para Platão (427-347 a.C.). Para ser praticada constantemente, a virtude precisa se tornar um hábito. Embora não se conheça nenhum estudo de Aristóteles sobre o assunto, é possível concluir que o hábito da virtude deve ser adquirido na escola.
Grande parte da obra que originou o legado aristotélico se desenvolveu em oposição à filosofia de Platão, seu mestre e fundador da Academia ateniense, que Aristóteles frequentou durante duas décadas. 
Posteriormente ele fundaria uma escola própria, o Liceu. Uma das duas grandes inovações do filósofo em relação ao antecessor foi negar a existência de um mundo supra-real, onde residiriam as ideias. Para Aristóteles, ao contrário, o mundo que percebemos é suficiente, e nele a perfeição está ao alcance de todos os homens. A oposição entre os dois filósofos gregos – ou entre a supremacia das ideias (idealismo) ou das coisas (realismo) – marcaria para sempre o pensamento ocidental.
Lógica. 
As obras de Aristóteles sobre lógica são chamadas, em conjunto, Organon, que significa instrumento, porque investiga o pensamento, instrumento do conhecimento.
O Organon abrange As Categorias, As Analíticas Anterior e Posterior, Os Tópicos e Sobre a Interpretação. Aristóteles foi o primeiro filósofo a analisar o processo pelo qual se pode,

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