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1 UFSC – Departamento de Química Prof. Marcos Aires de Brito QMC 3111 – Química Inorgânica Avançada A ligação Química do ponto de vista da Química Quântica Temos como objetivo que você possa comparar o enfoque da ligação química, via simetria molecular apresentado em QMC 3111, com o enfoque quântico. Leia este arquivo, se for necessário releia-o, acompanhe o desenvolvimento matemático apresentado, para você poder comparar os dois enfoques e assim passar a ter uma visão mais geral da ligação química. Inicialmente faremos uma revisão quanto ao Princípio de Pauli, pois este é um princípio central em Química Quântica. 1- Introdução Átomos Multieletrônicos e o Princípio de Pauli Wolfgang Pauli, físico austríaco, postulou que dois elétrons não podem ter o mesmo conjunto de números quânticos (Z. Physik, v. 31, p. 765, 1925). Nesse artigo W. Pauli analisa, considerando o efeito Zeeman anômalo, a contribuição de Niels Bohr (Ann. Physik, v. 71, p. 228, 1923) e de E. C. Stoner (Phil. Mag. v. 48, p. 719, 1924), para a descrição da configuração eletrônica de átomos. Quando a análise de um sistema com mais de um elétron é comparada com resultados experimentais, este postulado torna-se necessário como um complemento à equação de Schrödinger (1926), que prever apenas 3 números quânticos: n, l e ml. Com a inclusão de ms, um orbital comporta no máximo 2 elétrons com spins contrários e após o tratamento ondulatório relativístico, realizado por Dirac em 1928, o átomo passou a ser descrito por quatro números quânticos, como já foi comentado. W. Pauli recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1945 pela descoberta do princípio de exclusão. A função de onda que atende a equação de Schrödinger para o átomo de hidrogênio é representada pela expressão Ψnlm (r) = Rnl (r) Θlm () Φm (ф), em que se correlacionam os 3 números quânticos n, l e ml. Dirac (1928), para atender ao princípio 2 de exclusão de Pauli (1925) que foi anterior à mecânica ondulatória, introduziu para átomos com mais de um elétron, as coordenadas de spin como complemento a equação de Schrödinger. Introduzindo as coordenadas de spin e fazendo uma aproximação em desprezar o acoplamento spin-órbita, temos Ψtotal = ΨΨspin ou Ψtotal = Ψnlm (r)Ψspin. Com este procedimento introduz-se o quarto número quântico e assim o átomo passa a ser descrito por 4 números quânticos: n, l, ml e ms. Quando se considera o acoplamento spin-órbita, sendo necessário para átomos pesados, a Mecânica Quântica passa a ser considerada relativística. Assim como Ψ, Ψspin também apresenta propriedades de simetria. Para simplificar a apresentação, utiliza-se uma notação em que ms = + ½ () significando spin e ms = - ½ () significando spin . Desse modo, a teoria quântica moderna para o átomo de hidrogênio também pode ser aplicada, através de aproximações, para átomos multieletrônicos, como hélio e para outros átomos. Para o átomo de hélio no estado fundamental (1s2), existem 4 possibilidades para ΨΨspin. Os números entre parênteses se referem aos eletros 1 e 2. ( a ) (1) (2 ) Os elétrons 1 e 2 tem spin + ½ ( b ) (1) (2) Os elétrons 1 e 2 tem spin – ½ ( c ) (1) (2) + (2) (1) troca de elétrons entre os estados e ( d ) (1) (2) - (2) (1) troca de elétrons entre os estados e Observe nas possibilidades (c) e (d) que os elétrons foram trocados, entre os estados e , e foram feitas combinações lineares. Considerando o princípio exclusão de Pauli, que não permite 2 ou mais elétrons com o mesmo conjunto dos 4 números quânticos, as possibilidades (a) e (b) ficam descartadas. 3 Realizando a troca de elétrons, pois de acordo com o princípio de incerteza não podemos distinguir elétrons para a função (c), obtemos a função (cx) = (2) (1) + (1) (2), ou seja, (c) e (cx) são simétricas quanto à troca de elétrons. Por outro lado, realizando a troca de elétrons na função (d), obtemos a função (dx) = (2) (1) - (1) (2). Comparando as duas funções, (d) = - (dx), portanto a função (d) é considerada antissimétrica para a troca de elétrons. Portanto, através de combinações lineares de funções de onda, chega-se a uma combinação simétrica e outra antissimétrica. A combinação linear de funções também é utilizada pela teoria de orbitais moleculares, para a descrição aproximada das ligações química em moléculas. Essa teoria pode ter um enfoque matemático-quântico ou pode ser apresentada utilizando- se (como fazemos em QMC 3111) a teoria de grupo aplicada a Química, em que são feitas combinações lineares de orbitais atômicos de mesma simetria, para gerar os orbitais moleculares. Átomos Multieletrônicos e a Equação de Schrödinger Pelo princípio exclusão de Pauli elétrons são indistinguíveis, podendo ser trocados e assim torna-se impossível uma solução exata da equação de Schrödinger para átomos multieletrônicos ou moléculas, devido à repulsão intereletrônica, devendo-se tentar soluções aproximadas. Soluções aproximadas da equação de Schrödinger indicam a energia de um estado particular, por exemplo, para o estado fundamental ou para os estados excitados, em um átomo multieletrônicos como um todo, ou uma molécula, mas não para um elétron específico. Uma opção de aproximação é utilizar uma função de onda do tipo orbitais atômicos do hidrogênio. O átomo de hélio(Z =2) consiste de um núcleo, de carga +2e e dois elétrons. Por uma questão de conveniências didáticas esses elétrons serão numerados como 1 e 2, mas lembre-se que “elétrons são indistinguíveis”. Considerando as distâncias de cada elétron ao núcleo (r1 e r2) e a distância 4 intereletrônica (r12), conforme a seguinte Figura, é conveniente utilizar o sistema de coordenadas esféricas polares. _ _ x y z r1 r2 r12 Representação das coordenadas no átomo de hélio. Considerando o átomo de hélio devem-se levar em consideração os seguintes termos para o operador Hamiltoniano: i) a energia cinética (Ec) de cada elétron; ii) a energia potenciais (V), de atração de cada elétron pelo núcleo; iii) a repulsão intereletrônica. Ĥ = Ec - atração + repulsão Ĥ = - ½ [2(1) + 2(2)]} – 2/r1 – 2/r2 + 1/ r12 Onde, zyx zyx 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 2 2 1 2 2 1 2 2 1 Portanto, EV mm rrr 1221 2 2 2 2 1 2 ,, 22 Para o operador Laplaciano, em coordenadas esféricas polares, i se refere ao elétron 1 ou ao elétron 2, conforme a seguinte expressão: 5 2 2 222 2 2 2 111 ii ii i iii i ii i senrrr r rr sen sen i Para se tentar uma primeira aproximação para a energia do estado fundamental (E0), desprezamos o termo de repulsão intereletrônica (+/r12) = último termo na expressão do Hamiltoniano. Neste caso o Hamiltoniano se transforma em Ĥ0 = ½ (1 2 + 2 2) - Z/r1 - Z/r2. Podemos reformular o Hamiltoniano para Ĥ0 = ĥ0(1) + ĥ0(2). Portanto, ĥ0(1) depende apenas das coordenadas do elétron 1 e ĥ0(2) depende apenas das coordenadas do elétron 2. Realizando a separação das variáveis, podemos utilizar = 0(1)0(2), ou seja, a função de onda para dois elétrons tem a forma de um produto entre duas funções orbitais, onde, 0(1) = Rnl (r)Θlm () Φm (ф) (1) ĥ0(1) 0(1)= 00(1) 0(2) = Rnl (r) Θlm () Φm (ф) (1) ĥ0(2) 0(1)= 00(2) 1= - Z 2 / 2 (1 / n1 2) e 2= - Z 2 / 2 (1 / n2 2) 0 = 1 + 2 = - Z 2 / 2 (1 / n1 2 + 1 / n2 2) Sendo n1 = n2 = 1, para a energia do estado fundamental do átomo de hélio, temos: He = 2 Z 2 EH. A partir de EH = energia do estado fundamental do átomo de hidrogênio (- 13,6 eV), resulta em E0 = - 108, 8 eV. Este seria o valor esperado para o átomo de hélio, mas este valor corresponde a cerca de 4 vezes o valor experimental = - 79 eV. Portanto, a previsão, desconsiderando a repulsão intereletrônica foi péssima, devendo ser desconsiderada. Podemos melhorar a previsão, considerando = 0(1) + 0(2), ou seja, uma combinação de orbitais atômicos. Considerando que cada elétron se move em um potencial que reflete a soma da atração nuclear e a blindagem do núcleo pelo outro elétron, foi introduzido o conceito de carga nuclear efetiva (Zef). Com esse conceito, 6 modificamos o orbital, que passa a ser expresso pela seguinte função 0 = A e -Zefr/a0. Agora o problema se transforma em determinar Zef, de modo a refletir um melhor valor para a energia. No método variacional inicia-se a solução com uma função tentativa, contendo alguns parâmetros, para se calcular e minimizar o valor da energia com respeito a esses parâmetros. Várias tentativas podem ser feitas com uma função simples, variando-se Zef e comparando-se o resultado do cálculo com o valor experimental. O princípio variacional prever que “dada uma função de onda aproximada, que satisfaz as condições de contorno (condições impostas) para se resolver o problema, o valor esperado para as energias calculadas a partir dessa função de onda, sempre resultará maior que o verdadeiro valor da energia para o estado fundamental”. A teoria quântica moderna limita a previsão indicando que a solução será aproximada, ou seja, a solução da equação de Schrödinger conterá erro. Realizando uma série de tentativas, os pesquisadores teóricos chegaram ao valor Zef = 1.6875 (≈ 1.7), como a melhor escolha possível para a carga nuclear efetiva do átomo de hélio, indicando que um elétron sente aproximadamente 85% da carga do núcleo. Com esse valor de Zef os cálculos indicam uma energia, 0 = - 77,5 eV, o que é um resultado satisfatório. A primeira energia de ionização do hélio, ou seja, a energia necessária para remover um elétron no processo He He+ + 1e-, é igual a 24,6 eV o que corresponde à menos que o dobro da energia de ionização do átomo de hidrogênio (+13,6 eV) e isto confirma que existe um efeito de blindagem do núcleo. É interessante notar que a segunda energia de ionização do hélio (He+ He2+ + 1e-) sendo igual a 54,4 eV corresponde a exatamente 4 vezes a energia de ionização do átomo de hidrogênio. Considerando o efeito da blindagem do núcleo (modelo Hartree ou modelo do campo médio) e o princípio de exclusão de Pauli, chegamos à configuração eletrônica, à tabela periódica e as propriedades periódicas dos elementos. A partir desse ponto, podemos combinar átomos para formar moléculas, o que se constitui na base teórica 7 para o estudo da Química como uma ciência moderna. Portanto, os conceitos estudados na teoria quântica são fundamentais para a sua formação em Química. 2 - Moléculas e a teoria quântica Apresentaremos inicialmente alguns aspectos da teoria quântica para a ligação química em situações simples, ficando as moléculas mais complexas para serem tratadas de maneira qualitativa, através de aspectos de simetria molecular. Nossa meta é que você compare os dois enfoques sobre a ligação química. Teoria da ligação de valência Por que átomos se combinam para formar moléculas? Seguem alguns argumentos: Átomos se combinam, pois suas energias totais se tornam menores no processo; A dimensão da molécula é fixada pelo arranjo de átomos em baixa energia. O seguinte gráfico ilustra a variação da energia total (E) na molécula de hidrogênio, em função da distância internuclear (r0). r r0 De D0 E D0 = Energia de dissociação química De = Energia de dissociação eletrônica De _ De = Energia vibracional do ponto zero r0 = distância de equilíbrio internuclear ► Em pequena distância internuclear a energia é dominada pela repulsão; ► r0 (distância de equilíbrio internuclear) está relacionada com o comprimento das ligações químicas; Não se pode afirmar que os núcleos estão fixados em r0, pois contraria o princípio de incerteza de Heisenberg; Mesmo no estado fundamental, a molécula vibra, portanto r0 indica a separação média entre os núcleos; 8 ► As ligações químicas são tratadas em situações extremas, ou seja, como iônicas ou como covalentes, sendo as ligações reais consideradas intermediárias, com certo caráter iônico e covalente. As teorias de valência são subdivididas em: i) Ligação de valência; ii) do orbital molecular; iii) do campo ligante. Apenas as duas primeiras serão apresentadas neste arquivo. A teoria da ligação de valência foi inicialmente aplicada por Heitler e London (1927) para a molécula de hidrogênio, mas depois Slater e Pauling (1931) estenderam o modelo para moléculas mais complexas. O método de Heitler e London para H2 Uma das principais conseqüências da química quântica foi o esclarecimento da ligação química. A primeira análise aproximada da ligação na molécula de hidrogênio, utilizando química quântica, foi realizada em 1927 por W. Heitler e F. London. Para demonstrar o teste de hipóteses geniais e as considerações impostas ao sistema em estudo (condições de contorno) e assim ser possível uma solução aproximada da equação de Schrödinger vamos introduzir a solução dessa equação para a molécula de H2. Conforme a representação a seguir, em que x representa os núcleos, os dois núcleos são considerados fixos como uma condição de contorno para a solução da equação de Schrödinger. x _ _ x R ra1 r12 rb2 rb1 ra2 Assim como a solução da equação de Schrödinger para o átomo de hélio (com dois elétrons) a solução para H2 não será exata. Heitler e London utilizaram o método da perturbação, introduzido por Heisenberg, para a solução do átomo de hélio. Nesse 9 método, para o cálculo da energia de perturbação, que está relacionada com a interação entre os átomos (H1 - H2) deve-se tentar conhecer a “solução zero” que é a solução que corresponde ao problema não perturbado, ou seja, implica em ausência de interação entre os átomos. Para tanto, deve-se considerar o núcleo em posição fixa, pois estamos interessados nas propriedades eletrônicas de H2. ĤΨ = EΨ Ĥ = Ĥ0 + VI Ĥ = - ћ/2m (21 + 2 2) + V (Hamiltoniano para dois núcleos fixos) Ĥ0 = - ћ/2m 2 1 – e 2/ ra1 - ћ/2m 2 2 - e 2/ rb2 (Hamiltoniano para R = infinito) VI = e 2 (- 1/rb1 – 1/ ra2 + 1/ r12 + 1/ R) (operador de interação) Considerando R = , a equação pode ser separada em duas equações iguais à solução para o átomo de hidrogênio, o que constitui uma aproximação. Se for necessário, recorra aos livros citados como referências ao final deste arquivo, para você relembrar a solução da equação de Schrödinger para o átomo de hidrogênio. A solução da equação que satisfaz à “solução zero”, para R = , é Ψa(1) Ψb(2). Nesta função o elétron 1 está ligado ao núcleo a e o elétron 2 está ligado ao núcleo b. Como elétrons não podem ser distinguidos, outra solução seria: Ψ = Ψa(2) Ψb(1). Para uma solução geral, devemos fazer a combinação linear das duas soluções: Ψ = Ψa(1) Ψb(2) Ψa(2) Ψb(1). O quadrado desta função multiplicado pelo fator de normalização, que é igual a 1/ 2(1 S), indica a distribuição de elétrons na molécula, conforme a seguinte expressão: Ψ2 = Ψa(1) 2Ψb(2) 2 + Ψa(2) 2Ψb(1) 2 2Ψa(1) Ψb(2) Ψa(2) Ψb (1) .................................................................. ..................................... Parte eletrostática (coulômbica), Energia de troca devido à interação entre os átomos. A divisão da energia, em coulômbica e de troca, é convencional e não tem significado físico. Considerando a energia de perturbação, ou seja, a interação entre os 10 átomos, que foi considerada através da combinação linear das funções base, resulta na energia total (ET). ET = E - 2E0 = (C A) / (1 S) C = integral de Coulomb C = e2 [-1/rb1 – 1/a2 + 1/r12 + 1/R] / Ψa(1) 2Ψb(2) 2dV1dV2 A= integral de troca A = e2 [-1/rb1 – 1/a2 + 1/r12 + 1/R] / Ψa(1) Ψb(1) Ψa(2) Ψb(2) dV1dV2 S = integral de recobrimento S = Ψa(1) Ψb(1) Ψa(2) Ψb(2) dV1dV2 Portanto, ET, C e A, são funções de R. E0 = energia para o estado fundamental do átomo de hidrogênio e 2E0 = energia de H2, para a aproximação zero, que é igual à soma das energias para dois átomos de hidrogênio. As integrais A e C são ambas negativas. Para todos os valores de R a integral A, que contribui para a ligação química, é menor em valor absoluto que a integral C e S 1. Temos, então, dois valores para a energia na molécula H2. E+ = (C + A) / (1 + S) 0 .................................... Estado mais estável E- = (C - A) / (1 - S) 0 .................................... Estado menos estável Calculando Ψ2 para a nuvem eletrônica, no estado estável (Ψ+), temos a distribuição de densidade, que corresponde à concentração de elétrons (nuvem eletrônica) entre os núcleos. No estado instável (Ψ-), os elétrons tendem a se mover para fora do centro da molécula, conforme as seguintes representações. Portanto, mesmo utilizando aproximações, o método, de Heitler e London, demonstra a atração entre os átomos na molécula de hidrogênio e a formação da ligação covalente. 11 + + ++ + _ H2 e n e r g i a O método de Slater e Pauling para moléculas polinucleares Através de J. C. Slater e L. Pauling (1931), o método de Heitler e London foi estendido para moléculas polinucleares. Slater e Pauling consideraram uma função de onda que atende à ligação entre dois átomos, através de dois elétrons compartilhados. Este método recebeu a denominação de aproximação ou teoria da ligação de valência. A função Ψ+ corresponde ao estado singleto, com 2 elétrons de spins emparelhados (observe a figura anterior), enquanto que a função Ψ- (repulsão) apresenta dois elétrons com spins paralelos (estado tripleto), que são denominadas de função ligante (Ψ+) e antiligante (Ψ-) respectivamente. Como a função ligante apresenta spins paralelos, normalmente se refere a Ψ+ como representativa de ligação por par eletrônico. Slater e Pauling contribuíram para tornar a idéia original de Lewis, sobre ligação covalente, em um conceito muito mais preciso e desse modo, o modelo da ligação de valência é considerado uma aproximação adequada para a descrição da ligação química. Em 1954 Linus Carl Pauling (E.U.A), recebeu o Prêmio Nobel de Química pelos trabalhos desenvolvidos sobre a natureza das ligações químicas. No tratamento da molécula H2, foi considerada apenas a possibilidade de ligação covalente, H-H, sendo descartadas as possibilidades H+- H- e H- - H+, ou seja, a função de onda para H2 foi representada por Ψ = Ψa(1) Ψb(2) Ψa(2) Ψb(1). Considerando a participação de estrutura iônica, devemos fazer uma correção na função original, Ψ = a Ψat + b Ψion , em aproximação zero a Ψat = Ψ = Ψa(1) Ψb(2) 12 Ψa(2) Ψb(1). Ψion = função de onda que corresponde à contribuição iônica. Entretanto, como H2 apresenta elevado potencial de ionização e baixa afinidade eletrônica, seria necessária muita energia, para se admitir o caráter iônico da ligação, ou seja, o coeficiente b a, prevalecendo o esquema covalente. Em uma análise inicial da molecular de hidrogênio, cerca de 80% da energia de ligação corresponde a interação de troca, 15% para a integral de Coulomb e 5% devido a estrutura iônica. No caso de compostos polares e iônicos é necessário se considerar o termo bΨíon, pois se torna mais efetivo que o termo aΨat. A aproximação do orbital molecular Na época do desenvolvimento da teoria da ligação de valência, outro tratamento da ligação covalente foi apresentado por F. Hund e Robert S. Mulliken (1928). Mulliken ganhou o Prêmio Nobel de Química de 1966 pelo seu trabalho relacionado à ligação química e pela estrutura eletrônica de moléculas através da teoria do orbital molecular. Interessado em interpretar o espectro de moléculas, Mulliken estendeu o método utilizado na interpretação do espectro atômico, o que resultou na aproximação do orbital molecular para a ligação covalente. O método utiliza a combinação linear de orbitais atômicos para formar orbitais moleculares. Conhecendo o caráter ligante e antiligante dos orbitais moleculares e a configuração eletrônica, podemos prever a estabilidade relativa de diferentes moléculas ou de uma molécula em diferentes estados eletrônicos. O protótipo para o método é o íon H2 +, com um elétron se movendo sob o campo de dois núcleos fixos, de acordo com o seguinte operador Hamiltoniano. Ĥ = - ћ/2m 2 – e2/ra – e 2/rb + e 2/R Este problema é mais complicado que o problema do átomo de hidrogênio, pois H2 + não apresenta simetria esférica. Tentando uma solução aproximada e considerando que a atração de um elétron pelo núcleo, com duas cargas positivas é grande e não havendo nodo no estado fundamental, mas havendo um nodo no 13 primeiro estado excitado, podemos utilizar as seguintes funções para esses estados eletrônicos. L = 1 / 2 (1Sa + 1Sb) ......................... Estado fundamental A = 1 / 2 (1Sa - 1Sb)........................... Primeiro estado excitado Para o cálculo das energias relacionadas a estas duas funções, devemos considerar a média de um Hamiltoniano efetivo (he) para 1 elétron. i) Para 1 E1 = b(1) he(1)1(1)dV1 = ½( 1Sa(1)he(1)1Sa(1)dV1 + 1Sb(1)he(1)1Sb(1)dV1 + 1Sa(1)he(1)1Sb(1)dV1 + 1Sb(1)he(1)1Sa(1)dV1 Como 1Sa e 1Sb são equivalentes e he é simétrico nos dois núcleos, as duas primeiras integrais são idênticas e também as duas últimas integrais, portanto podemos reescrever E1 (energia para o orbital ligante). E1 = 1Sa(1)he(1)1Sa(1)dV1 + 1Sa(1)he(1)1Sb(1)dV1 ……………………............. ……………………............... Integral atômica Integral de ressonância A integral atômica corresponde à média do Hamiltoniano sobre os orbitais de um único átomo. A integral de ressonância inclui os orbitais atômicos dos átomos a e b. Sendo a integral de ressonância = (também denominada integral de Coulomb, em paralelo à teoria da ligação de valência) e a integral de ressonância = , tem-se que E1 = + 14 Para a energia do orbital excitado, E2 = - A integral de Coulomb (maior contribuição para ) corresponde a energia do elétron em um átomo separado, portanto a energia de interação para 1 = E = E1 – EH e para 2 = E = E2 – EH - . Sendo os valores de 0, portanto, 1 corresponde ao orbital molecular ligante, pois diminui a energia da molécula e2 corresponde ao orbital molecular antiligante, pois eleva a energia da molécula. Desse modo, 1 eleva a densidade de carga negativa entre os núcleos enquanto que 2 apresenta um plano nodal entre os núcleos e conseqüentemente indica uma diminuição da densidade de carga negativa entre os núcleos. As integrais (atômica) e (de ressonância) são conceitos fundamentais na teoria do orbital molecular, assim como as integrais de Coulomb, de troca e de recobrimento, são conceitos centrais na teoria da ligação de valência. Método Variacional para a Ligação química A teoria do orbital molecular se aplica melhor a compostos cujas ligações são tipicamente covalentes. Em um enfoque quântico, a teoria do orbital molecular se fundamenta no método variacional e ao final desta seção estarão representados os diagramas de orbitais moleculares para as moléculas H2, C2H4 e C4H6. Considere a seguir o formalismo do método variacional para ligação química: 1) Cada orbital molecular é escrito através da combinação linear de orbitais atômicos na molécula, sendo, k: orbital “k” na molécula. (1) ... 2211 cc kk k k c 15 2) Condição de normalização: (2) 1 dkk 3) A partir da minimizarão na energia, chega-se à equação secular que representa a equação de onda: (3) 0ˆˆ EHEH 4) Realizando a combinação linear de orbitais atômicos para , resulta: (4) ˆ oEH kk k c Para dois termos: (5) 0ˆˆ 2211 EHEH cc Multiplicando esta equação por 1 e integrando todas as coordenadas espaciais da função de onda: (6) 0 ˆ ˆ 212111 dEHdEH cc 5) Introduzindo as seguintes definições: (7) coulomb de integral atômicos orbitais dos energia iiiii dHH 6) Como a energia representa um número, (10) sijjiji EdEdE Desse modo, a equação (6) pode ser reescrita na forma de uma equação secular: (11) 0 12122111 sHcHc EE (9) torecobrimen de integral (8) atômicos orbitais de pares entre interação da energia sij d dH ji jiijH 16 Do mesmo modo, a equação (5) pode ser multiplicada por 2 e integrada: (12) 0 22221211 EE HcsHc 7) As equações (11) e (12) formam um sistema de equações lineares homogêneas em C1 e C2 e quando, C1 = C2 = 0, a solução é trivial. Através do Teorema de Cramer (“soluções não triviais para equações lineares homogêneas, existem somente se a matriz dos coeficientes “Ci” formar um determinante igual a zero”), pode-se resolver estas equações montar o determinante secular, sendo: (13) 0 222121 12121111 EE E HsH sHEH HH ss S jiij jiij 8) Resolver o determinante secular implica em resolver a equação (14) que leva a duas raízes (E1 e E2) que representam, respectivamente, as energias do estado fundamental e do primeiro estado excitado. 14 0 121221212211 EHEHHH SSEE i) Caso degenerado (existe recobrimento orbital) moléculas diatômicas homonucleares (ex.: H2) H11=H22 =x H21=H12= y S21=S12 = z [x - E]2 - [y – Ez]2 = 0 2 soluções: a) (x – E1) = - (y – Ez) ou E1 = (H11 + H12) / 1 + S12 b) (x – E2) = + (y – E) ou E2 = (H11 - H12) / 1 - S12 17 Veja a seguir a representação do diagrama de orbital molecular para a molécula de hidrogênio (H2). Esta molécula apresenta ordem de ligação igual a um, indicando uma ligação entre os dois átomos de hidrogênio. __ 1 __ 2 1 2 ii) Caso não degenerado (não existe recobrimento orbital) moleculas heteronucleares (ex. C2H4 ; C4H6) utilizar o Metodo de Hückel, que considera apenas orbitais . Considere o etileno, C2H4: C C 1 2 0 222121 211211 E E HEH EHH S S Considerar as restrições do método: H11= (integral de coulomb) H21= (atomos adjacentes) S1j = 0 0 E E Dividindo todos os termos por e sendo x= - E/ : 18 0 1 1 x x x2 – 1 =0 x= 1 Portanto, E = E1= + E2 = - _ + Considere o butadieno, C4H6: 1 2 3 4 0 100 110 011 001 x x x x x(x3-2x) – (x2 – 1) = x4 – 3x2 + 1 = 0 x = [(3 5) / 2]1/2 E1 = + [(3 + 5) / 2] 1/2 = + 1.62 E2 = + [(3 - 5) / 2] 1/2 = + 0.62 E3 = - [(3 - 5) / 2] 1/2 = - 0.62 E4 = - [(3 + 5) / 2] 1/2 = - 1.62 19 2+ 2_ + _ Comparando a energia de duas moléculas de etileno (4 + 4) com a energia do sistema de uma molécula de butadieno (4 + 4.48), conclui-se que C4H6 é mais estavel, devido a delocalização dos 4 eletrons . Pelo visto neste arquivo, a linguagem utilizada em Química quântica para se descrever os conceitos químicos, é de natureza matemática. Se você estiver interessado em saber mais sobre esta abordagem consulte livros de Química quântica tais como os referenciados a seguir: 1) KARPLUS M. & PORTER R. N. Atoms & Molecules: An introduction for students of Physical Chemistry – The Benjamin /Cummings Publishing Company, 1970; 2) EYRING H. & KIMBALL G. E. Quantum Chemistry: John Wiley & Sons, 1944; 3) HANNA M. W. Quantum Mechanics in Chemistry: The Benjamin /Cummings Publishing Company, 1981;
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