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ALMA NUA 
 
O DESNUDAMENTO DA ALMA ATRAVÉS DE UMA 
ABORDAGEM PSICO-TEOLÓGICA DO SERMÃO DO MONTE
 
 
 
 
IVÊNIO DOS SANTOS 
 
 
 
ALMA NUA 
 
 
O DESNUDAMENTO DA ALMA ATRAVÉS DE UMA 
ABORDAGEM PSICO-TEOLÓGICA DO SERMÃO DO MONTE 
 
Digitalização: Argonauta
 
 
 
5 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória ................................................................ 07 
Prefácio ..................................................................... 09 
Nota do Autor............................................................ 11 
Apresentação............................................................. 13 
Introdução................................................................. 17 
Capítulo I 
O Evangelho do Reino.............................................. 25 
Capítulo 2 
Um Outro Evangelho................................................ 41 
Capítulo 3 
O Voto da Simplicidade............................................ 47 
Capítulo 4 
A Constituição do Reino........................................... 57 
Alma Nua 
6 
Capítulo 5 
O Princípio da Adoração........................................... 61 
Capítulo 6 
O Princípio de Servir................................................. 85 
Capítulo 7 
O Princípio da Submissão.......................................... 103 
Capítulo 8 
O Princípio da santidade............................................ 119 
Capítulo 9 
O Princípio do Perdão................................................ 131 
Capítulo 10 
O Princípio da Reconciliação.....................................153 
Capítulo 11 
O Princípio da Integridade......................................... 167 
Capítulo 12 
O Princípio do Testemunho....................................... 195 
Capítulo 13 
A Terapia de Deus..................................................... 221 
Conclusão...................................................................237 
Notas.......................................................................... 244 
Referências bibliográficas..........................................249 
 
 
7 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este livro a um amigo do coração, Luiz Gustavo Lança, 
por ter sido quem mais me estimulou a escrevê-lo. 
Obrigado Gustavo por ter ouvido as minhas pregações no Ser-
mão do Monte com um ouvido tão atento e um senso crítico tão 
aguçado. Foi certamente as suas anotações, tão minuciosas, envia-
das a mim, que deram a partida para eu colocar-me diante do 
computador e transformar o Seminário Diagnóstico e Terapia Es-
piritual em Alma Nua. 
Alma Nua 
8 
 
9 
PREFÁCIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentar um livro é, na verdade, antes de tudo, apresentar 
um autor. Apresentar um autor é, na verdade, antes de tudo, apre-
sentar uma pessoa. Por esta razão, tenho extremo conforto e ale-
gria com o privilégio que me foi concedido de apresentar Alma 
Nua, e por trás das palavras, Ivênio dos Santos. 
Coincidentemente, meu primeiro contato com Ivênio foi atra-
vés de um texto: a sinopse publicada de suas mensagens baseadas 
em Isaías 6 no jornal Liderança Pastoral, publicado pela SEPAL. 
Naquela época, início da década de 80, Ivênio já era uma figura 
lendária em meu coração. As muitas histórias que ouvia a seu res-
peito e de seu ministério despertavam a cada dia o desejo de co-
nhecê-lo pessoalmente, o que imaginava quase impossível, tama-
nha a idealização que fazemos dos nossos heróis. 
Nosso contato pessoal foi numa conferência de aniversário da 
Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo, início do meu mi-
nistério pastoral. Ali ouvi Ivênio pregar e cantar, e também o vi 
fazer o povo rir e chorar. Naqueles dias descobri o quê de mais be-
lo há nos sábios e santos: são vasos de barro, homens de dores, em 
quem repousa a glória de Deus de maneira graciosa e singular. 
O título de seu livro é coerente com sua maneira de viver: I-
vênio é um homem de alma nua. A abordagem do seu livro é pas-
Alma Nua 
10 
toral, muito coerente com seu jeito de ser. A linguagem de seu li-
vro é teológica, muito adequada a um amante das Escrituras Sa-
gradas. Suas ilustrações são experienciais e vivenciais, próprias 
para quem deseja falar de coração para coração. 
Sua abordagem é original: tratar o Sermão do Monte como "a 
Constituição do Reino de Deus" e explicá-lo a partir das bem-
aventuranças, transformando cada uma delas em princípios explo-
didos no corpo do famoso Sermão de Jesus: os pobres de espírito 
adoram; os que choram servem; os mansos vivem sem ansiedade; 
os que têm fome e sede de justiça se santificam; os misericordio-
sos perdoam; os pacificadores promovem reconciliação; os puros 
de coração são coerentes; os perseguidos se posicionam. 
O objetivo do seu livro é relevante: ajudar cada leitor a "detec-
tar aqueles males da alma que se alojam nos cantos escuros da 
personalidade". A proposta do seu livro é uma santa pretensão: "a-
presentar a Terapia de Deus para os males da nossa alma". 
No contexto religioso e evangélico brasileiro, o livro chega em 
boa hora. Diante da superficialidade das conversões, da irrespon-
sabilidade de tantas lideranças espirituais, do analfabetismo bíbli-
co de incontáveis crentes, e das doenças de alma do povo da fé, 
Alma Nua é uma palavra que merece e precisa ser ouvida por to-
dos aqueles que desejam trilhar os caminhos do discipulado de Je-
sus. livres dos pesos da religião e comprometidos com os elevadís-
simos ideais da verdade revelada. 
Para o leitor interessado em ser curado na alma, o texto é óleo 
puro, pronto para a unção das feridas; para os pastores e líderes in-
teressados em subsídios pastorais, o texto é "uma carta do céu". 
Para todos, uma estaca segura que aponta a essência da fé em Cris-
to e o Cristo da fé. 
Com alegria recomendo às suas mãos Alma Nua, na esperança 
e oração que lhe seja ajuda para despir a alma diante de Deus e re-
ceber a cura que existe apenas no evangelho da graça de Deus. 
Ed René Kivitz 
 
 
11 
NOTA DO AUTOR 
(EXPLICANDO O CONCEITO) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esta abordagem psico-teológica do Sermão do Monte visa de-
monstrar que Teologia e Psicologia .não podem andar dissociadas, 
pois somente através de um conhecimento real de Deus é que se 
pode ter um conhecimento real do homem. 
A psicologia humanista que tem dominado quase todas as pro-
postas terapêuticas conduz inevitavelmente o pensamento do ho-
mem moderno a crer na auto-ajuda e não na ajuda do alto. 
Os pastores têm ficado reféns da idéia de que quanto ao acon-
selhamento eles devem ceder lugar a um profissional da área de 
psicologia, pois estes estão mais preparados para tratar dos males 
da alma. 
Os psicólogos cristãos têm uma grande contribuição a fazer 
desde que usem a psicologia sob a ótica da Teologia e não o con-
trário. Mas, a bem da verdade, um grande número de psicólogos 
cristãos entendem que não podem fazer qualquer tipo de infração 
espiritual com os seus pacientes pois não estariam agindo com as 
ferramentas de uma "psicologia científica". 
O que muitos chamam de "psicologia científica" é a abordagem 
humanista que exclui totalmente Deus, crendo somente na capaci-
dade e bondade inerentes ao ser humano, entendendo como esca-
pismo qualquer busca de solução em Deus. 
Alma Nua 
12 
Temos de concordar que existem formas simplistas e escapistas 
de muitos que espiritualizam excessivamente tudo. No entanto, is-
to não pode e não deve nos levar ao ceticismo que não confere 
qualquer valor à oração e à intervenção sobrenatural de Deus. 
Outrossim, é somente na Bíblia, como nosso espelho, que a-
prendemos a lidar com as culpas certas e a ficar livres do domínio 
das falsas culpas. 
Esta abordagem doSermão do Monte pretende ser uma ajuda 
real na cura da alma profundamente maculada pelo pecado. 
 
 
13 
APRESENTAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nós tivemos no meio evangélico, na década de 70. uma in-
fluência muito benéfica do Seminário "Conflitos da Vida", minis-
trado por Larrv Cov. Tive o privilégio de participar do primeiro, 
que foi realizado em São Paulo, na Catedral Presbiteriana da Rua 
Nestor Pestana. 
Antes de Larry Coy, Bill Gothard, seu discipulador, havia mi-
nistrado, num encontro da MIB (Missão Informadora do Brasil), 
os princípios que deram origem ao Seminário "Conflitos da Vida". 
Dr. Russel Shedd esteve naquele encontro e passou para nós - um 
grupo de pastores que se reunia com ele semanalmente para estu-
dar a Bíblia - os princípios aprendidos com Bill Gothard. Foi um 
grande impacto em nossas vidas. 
Quando Larry Coy ministrou pela primeira vez em São Paulo, 
os seus ensinos, exemplificados principalmente por sua vida, atin-
giram-nos em cheio. Lembro-me que muitos teceram severas críti-
cas ao que achavam ser uma imposição cultural do "american way 
of life". No entanto, não podíamos esperar que um pastor america-
no, que nunca viveu no Brasil, apresentasse as suas propostas con-
textualizadas à nossa realidade brasileira. Nós é que teríamos a ta-
refa de contextualizar os seus ensinos. E, realmente foi o que pas-
sei a fazer dali para frente. 
Alma Nua 
14 
Tive oportunidade de conversar com Larry Coy e fazer-lhe 
uma observação que julgava ser de grande relevância.O Seminário 
"Conflitos da Vida" precisava dar um enfoque mais claro à graça, 
caso contrário, ele poderia produzir três frutos indesejáveis: De-
sespero - naqueles que tentassem viver os princípios do Sermão do 
Monte na sua própria suficiência; exacerbado legalismo, por parte 
daqueles que tentassem impor aos outros os padrões de excelência 
do Sermão do Monte; e descrédito para com a mensagem central 
dos ensinos de Jesus vendo-os como utópicos ou não aplicáveis 
aos dias de hoje. 
Naquela mesma ocasião esteve ministrando em São Paulo o 
abençoado avivalista inglês Roy Hession, autor de Senda do Cal-
vário, Queremos ver a Jesus e Enchei-vos Agora, da Editora Betâ-
nia. Tive o privilégio de recebê-lo na Igreja Batista Unida do Brás, 
onde eu era pastor. Numa daquelas memoráveis noites ele nos 
trouxe uma mensagem muito esclarecedora que mudou os rumos 
de minha percepção teológica. O seu tema foi: "Como entrar na 
posse das bem-aventuranças pela porta dos fundos", pregando so-
bre "bem-aventurados os perdoados"1. 
Dali para frente comecei a ministrar o Sermão do Monte unin-
do o que havia recebido do Seminário "Conflitos da Vida" com o 
que havia compreendido da graça através de Roy Hession. De lá 
para cá, tenho me aprofundado na compreensão do maior sermão 
jamais pregado até hoje, entendendo-o como "aio"2 que nos con-
duz para Cristo, não apenas para a nossa justificação, mas também 
para a nossa santificação. 
O Seminário de Larry Coy ajudou-me a perceber os conflitos 
resultantes da violação dos princípios do Reino de Deus. Mas, foi 
a visão da graça que me possibilitou reconhecer o objetivo princi-
pal de Jesus no Sermão do Monte, que é levar-nos a descobir a 
nossa total incapacidade de nos melhorarmos a nós mesmos, ou de 
nos santificarmos a nós mesmos através dos nossos esforços. As-
sim sendo, passei a conjugar os princípios do Sermão do Monte 
com a mensagem da graça capacitadora de Deus, vendo no Ser-
mão do Monte a Lei Superior de Jesus, que, qual espelho cristali-
no, realça a nossa fealdade, provocando assim um desnudamento 
Apresentação 
15 
da nossa alma. Daí surgiu o conceito que transformei em livro: 
Santidade ao Seu Alcance3. 
Há esperança para nós, pecadores fracos que, justificados por 
Jesus, não fomos deixados à nossa própria sorte para tentarmos ser 
santos na "marra", através de autodisciplina e coisas tais. Este é o 
enfoque do Seminário "Diagnóstico e Terapia Espiritual" que ve-
nho ministrando há quase 30 anos. Alma Nua é o Seminário trans-
formado em livro que passo agora às suas mãos, desejando since-
ramente descortinar diante de seus olhos uma vida de real Santi-
dade, possível de ser vivida por aqueles que já descobriram o "... 
já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver 
que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me 
amou e a si mesmo se entregou por mim."4. 
Que você possa ser tomado pelo maravilhoso sentimento de 
que Deus tornou-se acessível a nós, não somente para a nossa jus-
tificação, mas também para a nossa santificação. Para tanto quero 
sugerir-lhe, depois de ler Alma Nua, a leitura de Santidade ao Seu 
Alcance onde procuro apresentar de forma mais distendida a a o-
peração da graça na nossa santificação. Assim sendo Alma Nua é a 
Lei, e Santidade ao Seu Alcance é a Graça. 
Há esperança para pecadores fracos e cansados, pois este é o 
convite amoroso de Jesus: "Vinde a mim, todos os que estais can-
sados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o 
meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de co-
ração; e achareis descanso para a vossa alma, Porque o meu jugo é 
suave, e o meu fardo é leve"5. 
 
 
Ivênio dos Santos 
Alma Nua 
16 
 
17 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Voltar ou avançar no tempo sempre foi uma aspiração dos fic-
cionistas. Seria realmente fantástico poder viajar a um passado 
bem distante e vivenciar certos acontecimentos que marcaram a 
história da humanidade. Vamos dar asas à nossa imaginação e em-
barcar num avião do tempo que nos leve à Palestina de dois mil 
anos atrás. 
Vamos nos imaginar como judeus: vivendo na cidade de Jeru-
salém nos dias de Jesus. Estamos debaixo do domínio dos roma-
nos, amargando impostos extorsivos e leis coercitivas. Quando sa-
ímos à rua e encontramos um romano carregando um fardo pesado 
este obriga-nos a levar o seu fardo por mais de um quilômetro. E 
assim, de mil maneiras, somos profundamente humilhados todos 
os dias. E a vida vai passando sem qualquer possibilidade de 
mudança. 
No entanto quando chega o sábado somos tomados de um novo 
alento, pois, deixaram-nos a possibilidade de adorar livremente em 
nosso grande templo. Na área do templo sentimo-nos gente. A 
nossa dignidade é reafirmada, e nossa esperança avivada. O rabino 
levanta-se para ler o Livro Sagrado1, e sua voz, embargada pela 
emoção, demonstra ter um recado do coração de Deus para o seu 
povo sofrido: 
- Queridos irmãos, quero repartir com vocês algo fantástico 
Alma Nua 
18 
que li durante esta semana no rolo do profeta Isaias. Minh'alma 
enchesse de regozijo ao meditar na palavra profética desse ho-
mem que a 700 anos atrás foi um instrumento de Deus para falar-
nos da nossa principal esperança nacional, a vinda do Ungido, o 
Messias de Israel. Eis a promessa do Senhor que deverá renovar 
em nós hoje a segurança de sermos o povo escolhido de Deus. 
- "Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um 
renovo. Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de 
sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortale-
za, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. Deleitar-se-
á no temor do Senhor; não julgará segundo a vista dos seus olhos, 
nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; mas julgará 
com justiça os pobres, e decidirá com eqüidade a favor dos man-
sos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro 
dos seus lábios matará o perverso. A justiça será o cinto dos seus 
lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins. O lobo habitará com 
o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o 
leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os 
guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se 
deitarão; o leão comerápalha como o boi. A criança de peito 
brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão 
na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o 
meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do 
Senhor, como as águas cobrem o mar. Naquele dia recorrerão as 
nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a 
glória lhe será a morada" 2. 
- Que promessa tremenda! Da descendência de Jessé, pai do 
nosso grande rei Davi surgirá aquele que haverá de trazer justiça 
para todos nós. Sacudirá de nossos ombros todo jugo romano, e 
não mais "estaremos por cauda, mas por cabeça" 3, pois as na-
ções recorrerão a Ele, o nosso glorioso Messias. 
Voltamos para casa com uma disposição nova, o que nos con-
fere força para suportar os romanos por mais uma semana. No 
próximo sábado estaremos juntos novamente considerando as fan-
tásticas promessas de Deus. 
A semana passa sem maiores novidades, fora o ato humilhante 
a que fomos expostos quando vimos um romano espancando um 
irmão nosso pelo simples fato deste tê-lo atrapalhado a transitar 
Introdução 
19 
com a sua biga4 numa passagem estreita que dá acesso à via prin-
cipal. A sensação de impotência diante da injustiça é horrível e 
corrói-nos as forças. 
Mesmo assim vamos levando as coisas, pois nossa alma ainda 
degusta a palavra profética que encheu-nos de regozijo, e pensa-
mos: "Certamente teremos no próximo sábado a continuação do 
que vimos no sábado passado". 
Assim, quase não vemos o tempo passar, pois estamos, como 
que encharcados de esperança. 
Eis que hoje novamente é sábado solene. Aprontamo-nos com 
alegria e expectativa, pois vamos, como povo de Deus, adorar no 
Seu Santo Templo. Tudo em nós vibra de emoção e entusiasmo. A 
Palavra de Deus será ministrada de uma forma objetiva e clara, 
pois o nosso líder espiritual é um homem cheio do temor de Deus, 
e sua alma está em chamas diante daquilo que o Senhor tem reve-
lado em sua bendita Palavra. 
No entanto, quando ele se levanta para falar o seu semblante 
parece turbado. Não percebemos nele aquela mesma alegria e en-
tusiasmo da semana passada. O que será que o está perturbando? 
- Queridos irmãos, encontro-me hoje perplexo diante da Pala-
vra de Deus. Passei uma semana de profundas lutas íntimas, pois 
não consegui discernir o que o profeta Isaias prosseguiu falando 
sobre o nosso glorioso Messias. Depois da benção que tivemos 
aqui no sábado passado, continuei analisando acuradamente as 
profecias seguintes e deparei-me com algo inusitado que passarei 
a lhes expor: 
- "Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exalta-
do e elevado, e será mui sublime. Como pasmaram muitos à vista 
dele, pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que de 
outro qualquer, e a sua aparência mais do que a dos outros filhos 
dos homens, assim causará admiração às nações, e os reis fecha-
rão as suas bocas por causa dele; porque aquilo que não lhes foi 
anunciado verão, e aquilo que não ouviram entenderão. Quem 
creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Se-
nhor! Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de 
uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, 
mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado, e 
o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o 
Alma Nua 
20 
que é padecer; e como um de quem os homens escondem o rosto 
era desprezado, e dele não fizemos caso. Certamente ele tomou 
sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; 
e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas 
ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nos-
sas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e 
pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos des-
garrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o 
Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi opri-
mido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi leva-
do ao matadouro; e, como ovelha, muda perante os seus tosquia-
dores, ele não abriu a sua boca. Por juízo opressor foi arrebata-
do, e de sua linhagem quem dela cogitou? Porquanto foi cortado 
da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo foi 
ele ferido. Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com 
o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem do-
lo algum se achou em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-
lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta 
pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a 
vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do 
penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito; o meu Servo, o 
Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as i-
niqüidades deles levará sobre si. Por isso eu lhe darei muitos co-
mo a sua parte e com os poderosos repartirá ele o despojo, por-
quanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os trans-
gressores, contudo levou sobre si o pecado de muitos, e pelos 
transgressores intercedeu. "5 
 Palavra? A quem o profeta está se referindo? Por tudo que 
analisei só pode ser uma referência ao Messias, pois a expressão 
"meu servo", que aparece aqui, é empregada em todo o livro de 
Isaias referindo-se ao Messias. Mas, como conciliar essas duas 
profecias? No sábado passado vimos um Messias glorioso que 
vem para governar com sabedoria e justiça, cuja atuação afetará 
até a natureza, pois as feras e os répteis peçonhentos viverão em 
paz e harmonia com o homem e entre si. O texto é claríssimo ao 
afirmar que "não se fará mal nem dano algum, porque a terra se 
encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o 
Introdução 
21 
mar". É de impressionar também a declaração: "naquele dia re-
correrão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte 
dos povos". Tudo aponta para um tempo maravilhoso em que o 
nosso Messias haverá de reinar sobre toda a terra. Como enten-
der então este texto de hoje no qual O vemos sendo levado como 
ovelha para o matadouro?O que pode significar ser ele "traspas-
sado pelas nossas transgressões?" Como entender também: "Era 
desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e 
que sabe o que é padecer; e como um de quem os homens escon-
dem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso"? 
- Sendo bem honesto não sei o que esta profecia quer nos co-
municar. Será que a Palavra de Deus está falando de dois Messi-
as, um glorioso e outro sofredor? Será que não faremos caso d'E-
le quando surgir no cenário histórico do nosso povo? 
Era este o sentimento que dominava os judeus da Palestina nos 
dias de Jesus. A esperança messiânica estava no seu auge. As cir-
cunstâncias históricas de dominação e opressão mantinham-nos 
continuamente ligados nas promessas bíblicas de libertação pela 
vinda do Messias glorioso, prometido em Isaías 11. Por isso foram 
incapazes de reconhecê-lo ("... e d'Ele não fizemos caso"). Jesus, o 
Servo Sofredor de Isaías não se encaixava nos seus paradigmas de 
Messias glorioso e por isso O rejeitaram6. 
Se os judeus daqueles dias tivessem a Palavra de Deus escrita 
num volume, como a temos hoje, certamente grifariam Isaias 11.1-
10 e passariam por cima de Isaias 52.13-53.12, deixando-o de lado 
como texto incompreensível. Não é exatamente isso que fazemos 
em nossas Bíblias? 
O que hoje, depois de mais de dois milênios de história, po-
demos saber, com segurança, é que as profecias da Palavra de 
Deus não estão falando de dois Messias, mas de duas vindas do 
Messias. Na sua primeira vinda, em cumprimento de Isaias 
52.13;53.12, Ele veio para destronar, não o império romano, co-
mo esperavam os judeus, mas o império satânico, e estabelecer o 
Seu Reino dentro de nós7. Na Sua segunda vinda, Ele virá em 
glória, para reinar sobre toda a terra, em cumprimento de Isaias11, que certamente terá o seu cumprimento literal como teve I-
saias 53. Nós estamos, nesse momento da história, entre Isaias 53 
Alma Nua 
22 
e Isaias 11, em que o Reino de Deus já está em nós e entre nós 
mas não ainda na sua plenitude. 
Somente de posse desta compreensão é que poderemos enten-
der, de fato, o Reino de Deus, como entrar nele e também como 
buscá-lo em primeiro lugar conforme ordenou Jesus em Mateus 
6.33. Buscá-lo em primeiro lugar é orar diariamente pedindo "Ve-
nha o teu Reino. Seja feita a tua vontade"8 , não no sentido do 
Reino Milenar futuro, mas desejando de fato o seu governo sobre 
todas as situações do nosso dia a dia. 
É também através do entendimento do "Reino já e ainda não" 
que poderemos perceber porque Deus não cura sempre. Os que 
pregam que é da vontade de Deus curar sempre se baseiam em Isa-
ías 53.4 — "Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermida-
des". No entanto não foram apenas as nossas enfermidades que 
Ele levou sobre si, mas todas as mazelas conseqüentes da queda. 
Isaías 53.4 está se referindo apenas a uma dessas mazelas. Ele le-
vou sobre si também a nossa morte e nós ainda morremos. Ele le-
vou sobre si também os males que afetam a ecologia e esses conti-
nuam ainda a nos assolar. Paulo afirma em Romanos 8.18-25 que 
a criação geme e suporta angústias até agora aguardando a sua re-
denção. 
Neste período da história entre Isaías 11 e 53 Deus faz inter-
venções sobrenaturais neste mundo para demonstrar que o Reino 
já chegou entre nós, mas não ainda na sua plenitude. No entanto 
Ele não faz sempre. Não podemos afirmar que é sempre da vonta-
de de Deus curar. Teríamos que afirmar também que é sempre da 
vontade d'Ele ressuscitar mortos. Somente na plenitude do Reino, 
conforme Isaías 11 é que não se fará mais nenhum mal ou dano, 
porque a terra se encherá com o conhecimento do Senhor como as 
águas cobrem o mar.9 
Por outro lado àqueles que pensam no Reino só em termos 
de futuro acabam tendo uma visão muito limitada do Sermão do 
Monte e sua aplicabilidade em nossa vida diária, pois racioci-
nam tratar-se da ética do Reino Milenar que virá com a segunda 
vinda de Jesus. Tal postura tem gerado um baixo padrão ético 
na igreja contemporânea. Por isso John Stott analisa o Sermão 
Introdução 
23 
do Monte como uma contracultura demonstrando ser o Reino 
de Deus exatamente o oposto do que observamos na sociedade 
em que vivemos. 
 
Alma Nua 
24 
 
25 
Capítulo 1 
 
O EVANGELHO 
DO REINO 
 
(A PORTA DO REINO) 
 
"Percorria Jesus toda a Galiléia ensinando nas sinagogas, 
pregando o evangelho do reino...". (Mt 4.23) 
 
 
 
 
 
 
Seguramente, todos os que estão lendo este livro, devem co-
nhecer um número bem grande de diferentes religiões. São tantos 
os nomes e alguns tão esquisitos, que ficamos a pensar que a ques-
tão religiosa mais se parece com um mercado, onde se encontra de 
tudo, a gosto do freguês. 
No entanto pretendo demonstrar, através deste texto, que só e-
xistem e, sempre, só existiu, de Adão até hoje, duas religiões no 
mundo, e que todos os diferentes grupos enquadram-se numa de 
duas diferentes filosofias religiosas. 
Quero apresentar-lhes assim o âmago das Escrituras. Não irei 
tratar das questões periféricas, mas ir ao coração da verdade bíbli-
ca. A palavra evangelho significa boa notícia. A boa notícia que 
temos a dar a todas as pessoas é que, através da vida, morte e res-
surreição de Jesus, abriu-se à oportunidade do ser humano colo-
car-se novamente debaixo do governo de Deus. Esta foi à defini-
ção dada para Evangelho pelo Congresso de Lausanne, na Suíça, 
em 1974, quando as principais lideranças da Igreja Evangélica no 
mundo debruçaram-se sobre a caminhada da Igreja Reformada. 
Este é o Evangelho do Reino, ou seja, do governo de Jesus sobre 
todas as áreas da vida. 
Ao falarmos em Reino de Deus, não estamos pensando em 
Alma Nua 
26 
termos escatológicos ou futurísticos1, quando então o Reino se 
consolidará plenamente sobre a terra e a sociedade humana, por 
ocasião da segunda vinda de Jesus, mas no Reino que já foi inau-
gurado na sua primeira vinda2 – o Reino que Ele veio plantar den-
tro de nós. Portanto, quando falamos em Reino de Deus, estamos 
pensando no Reino que já chegou. Todos os que se submetem ao 
governo de Jesus tornam-se súditos desse Reino. 
Quando Deus criou o homem Ele o criou em três partes. Vida 
física, vida mental e vida espiritual 3. Alguns advogam que alma e 
espírito aparecem nas Escrituras como sinônimos4. Usarei a trico-
tomia mais por uma questão didática do que propriamente teológi-
ca, para demonstrar o que foi que morreu na queda do homem. 
Em Gênesis 1.26 e 27 está registrado que Deus criou o homem 
à sua imagem e semelhança. O que vem a ser essa imagem e se-
melhança? Teria Deus um corpo parecido com o do homem? Isto 
não é possível, pois o próprio Jesus afirmou que Deus é Espírito5. 
Por isso Deus não pode estar confinado num corpo que o limitaria 
no espaço. Ele é Onipresente. 
O que vem a ser, portanto, essa imagem e semelhança? Um dos 
principais atributos do homem, que o assemelha a Deus, é a sua 
Liberdade. Deus desejou criar um ser livre que correspondesse a 
Ele. Existem outros aspectos dessa imagem e semelhança, tais 
como: Pessoalidade (Deus é um ser pessoal e não uma força im-
pessoal), Moralidade (Deus tem valores morais), Vontade (Deus 
tem uma vontade que é sempre "boa, perfeita e agradável"6, Cons-
ciência (Deus é um ser que tem consciência de Si), Comunicação 
verbalizada (Deus é um ser que se comunica), etc. 
Algumas pessoas às vezes perguntam, como se estivessem fa-
zendo uma grande descoberta: "Se Deus é tão sábio, poderoso e 
bom, por que Ele não criou o homem só para o bem?" 
Imaginemos o homem criado com apenas um caminho para tri-
lhar. Eu pergunto: Ele seria livre? Quem gostaria de casar-se com 
uma pessoa maravilhosa, mas que tivesse debaixo da sua blusa vá-
rios botões para ser programada? Um robô perfeito que ninguém 
jamais poderia imaginar ser uma máquina. E ali está ela para ser 
programada a fim de corresponder a todas as expectativas do noi-
O Evangelho do Reino 
27 
vo. Será que teria sentido casar-se com uma máquina? 
Deus poderia ter criado um boneco assim, que Lhe repetisse o 
dia inteiro: "Eu te amo, eu te amo, eu te amo..." 
Na realidade Ele seria um grande tolo brincando com bonecos 
perfeitos. Como fator obrigatório, de querer um ser semelhante a 
Si, Deus tinha que dar a esse ser a possibilidade de escolher, mes-
mo sabendo que não O escolheriam. 
O que torna uma pessoa livre é a possibilidade de escolher. Os 
homens distinguem-se basicamente dos animais por esta caracte-
rística. Os animais agem por instinto, uma espécie de programa-
ção, enquanto que nós, seres humanos fazemos escolhas continu-
amente. Ao colocar o primeiro casal ali no Éden, Deus confron-
tou-os com uma escolha: Obedecer-lhe ou não. Qual foi o fator es-
colha? Aquela árvore colocada no meio do jardim. A árvore do 
conhecimento do bem e do mal. 
Muita gente pensa que o relato de Gênesis é um tanto fantasio-
so. Tais pessoas simplesmente não atinaram para a singularidade 
do que estava acontecendo ali. Aquela árvore era um teste. Era o 
fator obrigatório de Deus querer um ser livre que correspondesse a 
Ele livremente. O fruto proibido não tem nada a ver com sexo co-
mo geralmente se pensa na teologia popular. Às vezes mostra-se 
uma maçã mordida com a insinuação de que o pecado original te-
nha sido o ato sexual. Deus já havia ordenado ao casal para crescer 
e multiplicar-se, e, obviamente, ninguém iria nascer dependurado 
como fruto de uma árvore. 
A ordem de Deus ao homem foi muito clara: "De toda árvore 
do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do 
bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres,certamente morrerás"7. 
Isto nos revela a existência de uma liberdade, mas uma liber-
dade com responsabilidade. E ali, naquele paraíso, no pleno uso de 
suas faculdades mentais, aquele primeiro casal disse não a Deus. 
Ao comer do fruto estavam dizendo: "Não queremos o teu go-
verno sobre nossas vidas. Queremos ser os donos do nosso próprio 
nariz". 
Mas aí cometeram um sério e terrível engano, pois o homem 
Alma Nua 
28 
não é um ser absolutamente livre. Ele é livre tão somente para es-
colher uma dependência. Em outras palavras, o homem é livre pa-
ra escolher quem vai governá-lo. O homem só seria um ser absolu-
tamente livre, se tivesse o controle de todas as circunstâncias. No 
entanto sabemos que somos finitos e dependentes. Nenhum de nós 
tem qualquer garantia de que viveremos mais uma dia sequer. Por-
tanto, se somos assim dependentes, não somos livres. Eu pergunto: 
O Brasil é um país livre? Logicamente que não, pois devemos até 
as meias. E, quem deve é escravo8. Mas num certo sentido somos 
livres. Somos livres para escolher a quem dever. Isto ilustra perfei-
tamente a situação do ser humano. Um homem é livre tão somente 
para escolher uma dependência. 
Portanto, ali no Éden, ao dizer não para Deus, o homem estava 
dizendo sim para alguém. Para quem ele estava dizendo sim? A 
quem estava ele se submetendo? A Palavra de Deus afirma com 
todas as letras que o homem estava colocando-se debaixo do jugo 
do tirano Satanás9. E, ao comer daquele fruto o homem morreu. 
Ele não morreu nem física, nem mentalmente. Não caiu um raio 
sobre a sua cabeça aniquilando-o por completo. Em que sentido 
então ele morreu? Ele morreu espiritualmente. Ele foi cortado da 
vida de Deus. Aquela árvore pode ser chamada também de árvore 
da autonomia. Ao comer daquele fruto o homem estava desligan-
do-se de Deus, e isto é morte. 
Como via de conseqüência todos nós nascemos mortos. Não 
nascemos como Adão, e tivemos uma árvore pela frente, pois já 
nascemos cortados da vida de Deus. Nascemos separados de Deus, 
e, no dizer do apóstolo Paulo aos Efésios, nascemos mortos10. 
Agora pasmem com as palavras de Jesus em João 8.44. É im-
portante perceber que Jesus está tendo um diálogo com gente boa 
da sociedade. Gente honesta que pagava as suas contas, que tinha 
boa reputação, que eram bons pais de família. Em outras palavras, 
gente honrada. Ouçamos as palavras contundentes de Jesus: "Vós 
sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. 
Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, 
porque nele não há verdade. Quando ele profere a mentira, fala do 
que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira". 
O Evangelho do Reino 
29 
Jesus não dirigiu essas palavras a bandidos e prostitutas. Ele di-
rigiu-as a gente comum, como nós, que vivemos de forma honra-
da. Portanto essas palavras de Jesus não diziam respeito apenas 
àqueles com quem falava, mas a todas as pessoas que já viveram 
até hoje. Isto inclui a você e a mim. Isto é muito diferente daquilo 
que as pessoas naturalmente pensam. É corrente entre as pessoas, 
que todo mundo é filho de Deus, e que todos nascem do lado de 
Deus. Só os facínoras e desclassificados é que são alinhados com 
Satanás. No entanto Jesus contesta claramente esta idéia popular, e 
coloca todos os seres humanos na posição de filhos do Diabo, 
submetidos assim ao seu governo tirano. Este é o problema crucial 
da humanidade caída. A história da humanidade é, de fato, a histó-
ria de uma dominação maligna sobre a raça humana. 
Quero destacar agora a importância da palavra religião. Vem 
do latim religare, que significa religar. Portanto a palavra religião 
traz implícita a idéia de que o homem estava ligado a Deus, mas 
agora, depois de sua rebelião, ele foi desligado. Religião tem por, 
objetivo promover essa religação. São centenas e talvez milhares 
os nomes das religiões, mas pretendo defender a seguinte tese: O 
homem nasce neste mundo espiritualmente morto ou separado de 
Deus, existindo apenas duas religiões ou duas filosofias religiosas 
que procuram apresentar uma solução para o problema. 
Para ilustrar este fato imaginemos a seguinte cena: Um rio mui-
to largo e traiçoeiro que nunca foi vencido por ninguém. Carlos, 
medalha de ouro em nado livre nas Olimpíadas aceita o desafio de 
atravessá-lo, querendo com isto entrar para o livro dos recordes. 
No dia marcado está ali, à beira do rio, uma verdadeira multidão 
de repórteres de várias partes do mundo, por ser Carlos o grande 
campeão mundial. O pai de Carlos leva um barco a motor, bem 
possante, e fica da margem torcendo pelo filho. No momento a-
prazado Carlos começa a travessia, com muita segurança, debaixo 
do aplauso de todos. Mas em chegando bem no meio da travessia 
algo inusitado lhe acontece: começa a sentir terríveis câimbras nos 
braços e nas pernas. Quem já teve câimbras sabe o que isto signi-
fica. Os músculos embolam-se produzindo uma dor lancinante que 
impede uma livre movimentação. Agora imaginemos Carlos com 
Alma Nua 
30 
câimbras nos braços e nas pernas dentro de um abismo de águas. 
Em outras palavras ele está morto. Ele começa a afundar em de-
sespero. E é neste momento de desespero que ouve os gritos de 
seu pai lá da margem: 
- Meu filho não se afogue, bata as pernas e os braços, cora-
gem! 
Será que os conselhos de seu pai irão ajudá-lo de alguma ma-
neira? Parece-me que não. Pelo contrário, irão deixá-lo mais de-
sesperado ainda. Os conselhos do pai levam-no a entrar em maior 
pânico, pois percebe que seu pai está esperando que ele consiga 
salvar a si mesmo, e ele sabe que as pernas não lhe valem para na-
da nem tampouco os braços. O único recurso que lhe resta é a voz 
pra gritar: 
- Socorro meu pai! 
O que ele está esperando que o pai faça? Que pegue a sua pos-
sante lancha e venha em seu socorro. E o pai faz exatamente isto, 
retirando-o da morte certa, colocando-o dentro do barco. 
Carlos está salvo e agora chegam em terra firme. Repórteres de 
todos os lados querendo saber o que aconteceu. Será que Carlos 
vai sair todo orgulhoso dizendo: 
- Eu sou o maior nadador do mundo, eu me salvei! 
Seria esta a sua postura? Certamente que não. Penso que ele sa-
iria muito humilde afirmando: 
- Gente, eu estava morto, meu pai me salvou! 
Aqui está a diferença entre a religião de Deus e a religião dos 
homens. A religião dos homens é ilustrada pelo pai, lá da margem, 
dando conselhos para o filho, esperando que ele salvasse a si 
mesmo. É por isso chamada também de auto-soterismo, que ensi-
na ser a salvação uma conquista do próprio homem. Existem mui-
tos grupos que se intitulam cristãos, e que esposam esta filosofia. 
Para esses, Jesus não é Salvador, mas exemplo a ser seguido. 
Salvador é o próprio homem 
Agora eu lhe pergunto: Se você estivesse morrendo afogado, 
numa situação como a que foi descrita você precisaria que um 
grande nadador pulasse na água e começasse a lhe dizer: "Olhe pa-
ra mim, veja como eu faço, siga o meu exemplo!" 
O Evangelho do Reino 
31 
Naquele momento você estaria precisando de um exemplo ou 
de um salvador? Antes de Jesus ser nosso exemplo Ele veio para 
ser o nosso Salvador. 
O que é crer em Jesus? Não é meramente acreditar na sua exis-
tência. Apanhemos uma cadeira. Quando eu estou de pé todo o 
meu corpo está apoiado nas minhas pernas, mas quando me assen-
to na cadeira, todo o meu peso passa para a cadeira e, então, eu 
posso descansar. Agora suponhamos que eu não confie na cadeira, 
e apenas finja estar sentado, continuando a sustentar todo o meu 
peso. Aparentemente estou sentado, mas as minhas pernas sentem 
a tensão do esforço de estar segurando o meu peso, de uma forma 
ainda mais desconfortável. 
Existem muitas pessoas que crêem em Jesus assim. Na realida-
de aparentam ser boas pessoas, que se dizem possuidorasde muita 
fé, mas quando se verifica, a fé dos tais é em si mesmos. "Olha, eu 
sou uma boa pessoa! Eu não desejo mal nem para uma formiga! 
Eu só me apego com Deus! Eu faço o melhor que posso!" 
Qual é o centro de confiança dessas pessoas? Elas próprias. Es-
tão confiadas nas próprias pernas, isto é, na sua integridade, na sua 
bondade, na sua justiça. Foi para esses que Jesus declarou: "... pois 
não vim chamar justos (ou seja, aqueles que pensam ser justos)11 e 
sim pecadores [ao arrependimento]"12. 
Esta é a filosofia básica da religião dos homens. O homem é o 
seu próprio salvador. A salvação é o fruto de suas boas obras. Não 
existe perdão de pecados. A tese esposada é: aqui se faz aqui se 
paga. É a chamada: Lei do Karma. Daí a necessidade das reencar-
nações ou de purgar-se os pecados num determinado lugar. Con-
seqüentemente aqueles que assim pensam nunca podem usufruir a 
segurança da salvação, pois nunca fizeram o suficiente. Estão 
confiados nas próprias pernas e não podem assim experimentar o 
descanso n'aquele que veio para levar sobre si todos os nossos 
fardos. 
E a religião de Deus? Eis a verdade central das Escrituras. 
Nunca é o homem que se volta para Deus para buscá-lo, mas é 
sempre Deus quem busca o homem. Esta é a gloriosa verdade que 
permeia toda a Bíblia: "Porque Deus amou ao mundo de tal ma-
Alma Nua 
32 
neira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê 
não pereça, mas tenha a vida eterna"13. 
Jesus é a lancha de Deus. Jesus é Deus que veio aqui, porque o 
homem jamais poderia ir para Ele. O homem está com câimbras 
nas pernas e nos braços. No dizer de Paulo aos Efésios 2.1 "... 
mortos nos vossos delitos e pecados...". 
Deus não ficou do Céu gritando ao homem: "Seja bom, seja 
honesto! Faça o melhor possível! Faça boas obras! Faça penitên-
cias! Faça tudo o que puder para chegar aqui". 
Jesus não está no cimo de uma escada bem íngreme dizendo: 
"Se você quer a salvação, então se esforce para subir cada degrau. 
O primeiro degrau é o domínio do seu gênio, o segundo, o domí-
nio dos seus desejos carnais, o terceiro, a vitória sobre o seu ego-
ísmo, e assim centenas de degraus estão à sua frente, vá subindo 
até estar preparado para chegar a mim. São muitos os degraus, mas 
se você esforçar-se bastante, quem sabe um dia, daqui a milhares 
de anos, você estará apto. Agora, se você tropeçar e falhar terá que 
começar tudo de novo". 
Qual é a gloriosa notícia que temos a dar a todos os homens? É 
que Deus tornou-se acessível ao maior pecador. Ele não esta lá no 
topo de uma escada, mas ao rés-do-chão chamando os pecadores: 
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e 
eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, 
porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para 
a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve"14. 
Jesus é o pai, na parábola do nadador, vindo em direção do 
homem para tirá-lo da morte. A religião de Deus é a religião do 
perdão comprado na cruz por Jesus. É a verdade bíblica de que ao 
homem era impossível redimir-se e então Deus o redimiu do jugo 
do tirano Satanás. 
Agora, há um detalhe muito importante:.A vinda de Jesus não 
salvou automaticamente todas, as pessoas. A vinda de Jesus para 
morrer naquela cruz é o sim de Deus ao homem. A semelhança de 
um casamento. O celebrante dirige-se ao noivo e pergunta: 
- João, você aceita Maria para ser sua esposa, para amá-la, 
ser-lhe fiel em todo o tempo, etc, etc? 
O Evangelho do Reino 
33 
- Sim! Responde João. 
Será que o celebrante contentar-se-á apenas com o sim do noi-
vo? Será que declará-los-á casados sem dirigir-se à noiva? Se ele 
fizesse, qual seria a reação natural da noiva? 
- O senhor não vai perguntar pra mim? Eu sou uma pessoa e 
não um objeto! 
Isto mostra-nos que o sim do noivo não consuma o casamento. 
De igual maneira a morte de Jesus é o sim de Deus ao ser humano. 
Ele, o noivo, já disse sim. Ele é a Árvore da Vida, diante da qual, 
agora, nos encontramos numa situação contrária à de Adão e Eva. 
Eles nasceram no sim, na comunhão com Deus e disseram-Lhe 
não. Nós já nascemos no não. Nascemos mortos espiritualmente. 
Nascemos cortados da vida de Deus. Nascemos debaixo do jugo 
satânico. E agora estamos diante do amor do Deus revelado em 
"Cristo Jesus. Estamos agora diante da Cruz. A Cruz é a "Arvore 
da Vida". E diante dessa outra árvore nós temos que responder a 
uma célebre pergunta: 
- Que farei de Jesus] 
Esta pergunta foi feita pela primeira vez por Pôncio Pilatos 
quando os judeus lhe trouxeram Jesus para que ele o condenasse a 
morte. 
- Tens que crucificá-lo porque ele se diz Rei, e não há rei se-
não César! - Esbravejaram os judeus enraivecidos15. 
Quem era Pôncio Pilatos? Era o governador romano colocado 
ali na Palestina pelo Imperador do mundo, o poderoso César Au-
gusto. Os judeus, à semelhança de todos os outros povos conquis-
tados, estavam debaixo do tacão dos romanos, amargando uma 
dominação escravocrata. Anelavam pela vinda do Messias prome-
tido a Israel, pois queriam se ver livres daquele jugo. 
Quando Jesus iniciou o seu ministério, os líderes de Israel fica-
ram sobressaltados, pois não conseguiram entender a sua mensa-
gem. Jesus pregava amor aos inimigos, referindo-se aos romanos. 
Numa certa ocasião chegaram a Ele com uma pergunta de conota-
ção política: 
- Mestre, devemos pagar esses impostos a César?16 
Quanta revolta havia naquela pergunta. Então, Jesus lhes pede 
Alma Nua 
34 
uma moeda: 
- De quem é esta efígie gravada aqui nesta moeda?17 
Imagino que a contragosto e com muita raiva, responderam: 
- E de César! 
- Então dêem a César o que é de César, e a Deus o que é de 
Deus! - foi a resposta de Jesus. 
Os líderes de Israel passaram a ver nele uma ameaça às suas 
aspirações políticas imediatas, e decidiram então matá-lo.18 
Quando liam o profeta Isaías maravilhavam-se diante da profe-
cia do cap. 11 que fala do Reino Milena do Messias. Por isso O 
esperavam, para que os livrasse de todo o jugo opressor dos roma-
nos, mas não conseguiam entender a profecia do cap. 53, que fala 
do Messias Sofredor. E, eles, sem o perceber, cumpriram a profe-
cia do cap. 53. O cap. 11 não se cumpriu ainda, e nós aguardamos 
aquele dia glorioso quando Jesus haverá de reinar sobre toda a ter-
ra. Na sua primeira vinda Jesus veio libertar-nos de um jugo muito 
mais terrível do que o jugo dos romanos sobre os judeus. Jesus 
veio libertar-nos do jugo de Satanás. Mas os líderes de Israel não o 
reconheceram ("e d'Ele não fizemos caso"), e decidiram matá-lo. 
No entanto, eles não tinham autoridade política para fazê-lo19 e, 
por isso, foram a Pilatos exigir a sua condenação: 
- Tens de crucificá-lo, pois Ele se diz rei, e não há rei senão 
César. 
Os Judeus, não queriam saber do governo de César. Na reali-
dade estavam colocando Pilatos "contra a parede". 
- Se soltas a este, não és amigo de César20. 
E Pilatos então, tentando agradá-los e ao mesmo tempo que-
rendo soltar a Jesus propõe uma anistia. Era seu costume soltar-
lhes anualmente um preso político, e assim ele traz diante da mul-
tidão Barrabás e Jesus21. 
Quem era Barrabás? Era um zelote. Zelotes eram aqueles fer-
renhos nacionalistas, bem extremados, que queriam derrubar o 
Império romano. Barrabás havia sido preso numa.sedição contra 
os romanos, e era bem popular entre o povo22. Pilatos tem a espe-
rança que o povão que usufruiu dos milagres de Jesus o escolha. 
Então, ele propõe: 
O Evangelho do Reino 
35 
- Quem vocês querem que eu lhes solte, a Jesus chamado o 
Cristo (Messias), ou a Barrabás?23 
A massa humana, ali reunida foi facilmente manipulada pelos 
líderes de Israel a gritar: 
- Queremos Barrabás! Queremos Barrabás!24 
Pilatos não esperava por essa reação do povo, e então faz a cé-lebre pergunta que tem atravessado os séculos e gerações: 
- Que farei então de Jesus chamado o Cristo?25 (Messias). 
É esta a pergunta que cada um de nós tem de responder, mais 
dia, menos dia. Você está sendo confrontado agora por esta per-
gunta, diante da qual só existem três opções: 
 
PRIMEIRA OPÇÃO: 
CONTINUAR NO MEIO DA MULTIDÃO 
 
Qual foi a decisão da multidão naquele dia? Gritaram com to-
das as suas forças: 
- Crucifica-o, não queremos que ele reine sobre nós! 
Nós nascemos aqui no mundo com a mesma atitude daquela 
multidão, por isso afirmei que a primeira opção é continuar no 
meio da multidão. Qual foi a atitude de Adão e Eva lá no Éden ao 
comer daquele fruto? O que estavam dizendo a Deus? "Não que-
remos o teu governo sobre nós! Queremos ser os donos do nosso 
nariz!". 
Todos nós que nascemos aqui neste mundo, depois de Adão, 
nascemos com a mesma atitude. Este é o pecado herdado de Adão. 
"Não queremos que Tu governes sobre nós!" 
Por isso a nossa primeira opção real é permanecer no meio da 
multidão gritando: "Não quero o teu governo sobre a minha vi-
da!". 
Você é livre para isto. Agora, não se engane; se não é Deus 
quem está no governo, então, é Satanás o governador. Não adianta 
enganar-se com a idéia romântica de que é Deus quem é o Senhor 
de sua vida, desde que você entende-se por gente. Não é isto que a 
bíblia diz. Nascemos aqui debaixo do jugo do terrível e tirano de 
Satanás, e, nenhum rito religioso, que alguém tenha feito, com a 
Alma Nua 
36 
melhor das intenções, em seu nome, inseriu-o no Reino de Deus. É 
tão absurdo alguém dizer-se cristão desde o nascimento, por ter si-
do batizado em criança, quanto dizer-se casado desde que nasceu. 
Vamos imaginar dois casais muito amigos que ganharam um 
bebê, mais ou menos na mesma época, um menino e uma menina. 
Então resolvem levar seus filhos ao cartório e casá-los. Isto já po-
de ter sido feito em outros tempos e em outras culturas, mas para 
nós hoje é algo inconcebível, uma verdadeira violência à liberda-
de. Assim também seria a maior violência privar o ser humano de 
decidir quem ele quer, de fato, no governo de sua vida. Isto não é 
uma mera questão de gosto religioso. Isto é o âmago da questão. 
 
SEGUNDA OPÇÃO: 
TENTAR O IMPOSSÍVEL, ISTO É, 
"DAR UMA DE PILATOS" 
 
O que foi que Pilatos fez? Pilatos mandou vir água, e lavou as 
mãos, num gesto que passou a ser conhecido como tentativa de 
neutralidade. Era como se estivesse dizendo: "Nesta questão eu 
não tomo partido. Eu fico em cima do muro!". 
E, isto, é impossível, pois Jesus afirmou categoricamente: 
"Quem não é por mim é contra mim: e quem comigo não ajunta 
espalha."26 
Voltemos a pensar na ilustração do casamento. Depois do noi-
vo dizer sim, o celebrante dirige-se agora à noiva: 
- Maria você aceita João para ser seu marido, etc, etc... 
Imagine que a noiva fique quieta. Não abre a boca para dizer 
nada, nem faz qualquer movimento com a cabeça. Penso que o ce-
lebrante irá estranhar bastante e, sem dúvida, irá repetir a pergun-
ta. Se a noiva permanecer em silêncio, ele poderá realizar o casa-
mento? Claro que não! Mesmo que os pais, os padrinhos, os con-
vidados, ou quem quer que seja, argumentem com ele. O silêncio 
da noiva será tomado pelo celebrante como não, e não como sim, 
pois neste caso "quem cala não consente". Eis uma situação em 
que é impossível manter-se na neutralidade. 
Contudo, há muita gente "em cima do muro'' com relação a Je-
O Evangelho do Reino 
37 
sus. As igrejas de um modo geral estão abarrotadas de pessoas 
que, embora freqüentadoras assíduas, estão tentando uma posição 
de neutralidade com relação a Jesus. Querem um Jesus à sua mo-
da. Querem o Céu, o perdão, a paz, a prosperidade, mas não que-
rem o governo de Jesus sobre elas. Querem ser seus próprios se-
nhores. Senhores dos seus negócios, do seu lar, do seu namoro, do 
seu lazer, etc. Jesus não entra nessas questões. Jesus é coisa religi-
osa de domingo. 
Na realidade, ao lavar as mãos, Pilatos estava dizendo não a Je-
sus. Ele não queria deixar o trono, pois este lhe trazia muitas van-
tagens. Ele, aparentemente, não queria dizer não a Jesus, mas o 
seu gesto acabou redundando num estrondoso não. Da mesma 
forma, aqueles que, aparentemente são cristãos, estão aí todo do-
mingo, mas, na realidade, não querem o governo de Jesus sobre 
suas vidas, portanto estão também dando um sonoro não a Jesus. 
Lembro-me de um jovem que me disse em certa ocasião: 
- Eu não quero dizer sim para Jesus, mas também não quero 
dizer sim ao Diabo. Eu quero ficar neutro nessa questão. Eu não 
quero que Jesus nem o Diabo controlem a minha vida. Eu mesmo 
é que quero controlá-la. 
Aí está o engano de muitos, pois isto é impossível. Ou nos 
submetemos ao governo de Jesus, ou permaneceremos debaixo do 
governo do terrível e tirano Satanás. 
 
TERCEIRA OPÇÃO: 
FAZER DE JESUS O REI 
 
"Sim, Jesus, reina em mim! Eu me submeto ao teu comando! 
Eu desfaço agora todo compromisso com o reino das trevas e 
submeto-me incondicionalmente a ti para que me governes! Eu me 
arrependo agora de todos os meus pecados, ou seja, de toda a mi-
nha vida vivida fora da tua vontade, tentando eu mesmo governar-
me, mas sendo governado pelo reino das trevas. Tentando ser au-
tônomo ou independente de ti, mas vivendo debaixo do jugo do ti-
rano Satanás. Até hoje predominavam as minhas idéias, agora 
quero a tua Palavra. Até hoje era a minha vontade, agora eu quero 
Alma Nua 
38 
fazer da tua vontade o meu alimento diário"27. 
Isso é como se assentar na cadeira. É uma rendição total, mu-
dando o centro de confiança de si mesmo para Ele. Isso é crer em 
Jesus e não meramente acreditar n'Ele. 
O que foi que o apóstolo Pedro disse à multidão no dia de Pen-
tecostes quando tiveram seus olhos abertos para ver que haviam 
crucificado o Messias? A pergunta crucial da multidão foi: "Que 
faremos, irmãos?".28 
E a resposta de Pedro foi clara e incisiva: "Arrependei-vos, e 
cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a 
remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito 
Santo".29 
Esta é a porta de entrada do Reino de Jesus. Arrependimento é 
meia volta. É deixar de ser independente para ser dependente de 
Deus. Ser batizado é ser sepultado com Cristo. É morrer para o 
reino das trevas e levantar-se para uma nova vida no Reino de Je-
sus. E o resultado será: "... e recebereis o dom do Espírito Santo". 
Deus virá morar no seu corpo. Seu corpo passará a ser templo 
do Espírito Santo30. Você tornar-se-á um transportador de Deus. 
Todos os seus pecados serão perdoados31. Você passará da morte 
para a vida32. Seu nome irá para o Livro da Vida do Cordeiro33. 
Aleluia! Eis a tremenda notícia que eu queria lhe dar: Através da 
vida, da morte e da ressurreição de Jesus você pode colocar-se de-
baixo do governo de Deus. Deponha suas armas e renda-se incon-
dicionalmente a Ele. 
Nunca irei esquecer-me daquele jovem a quem batizei, por vol-
ta da meia noite, na banheira de minha casa. Ele vinha sendo e-
vangelizado a um bom tempo. Ele entrou porta adentro declaran-
do: 
- Quero batizar-me pois estou convertendo-me agora. Eu en-
tendi que Jesus é a única solução e quero dar a Ele toda a minha 
vida. 
Enchi a banheira e o batizei naquela madrugada mesmo, depois 
de uma avaliação bem criteriosa do seu posicionamento. Ao sair 
do batismo ele falou com muita convicção: 
- Agora eu preciso pregar para a minha namorada, pois se ela 
O Evangelho do Reino 
39 
não se converter vou ter que deixá-la. 
- Mas, por que você terá que deixá-la? Perguntei a ele. 
- É porque, se ela não se converter irá querer transar comigo, 
e de agora em diante não transarei mais com ela. 
Aquele jovem havia compreendido claramente as implicações 
de render-se inteiramente ao governo de Jesus. Ele sabiaque ago-
ra, no Reino de Jesus namorar era diferente da maneira como na-
morava antes no reino das trevas. No reino das trevas o namoro 
era pela via da intimidade sexual, mas agora, no Reino de Deus, 
não. Agora, namoro era pela vida da santidade. 
Depois de alguns meses sua namorada também se rendeu a Je-
sus e passaram a ter um namoro lindo, segundo os padrões do Rei-
no de Deus. Depois de três anos de um abençoado namoro tive o 
privilégio de celebrar o casamento deles com uma alegria muito 
grande, pois sabia que ali estava um casal firmando os alicerces da 
sua vida conjugal sobre os valores do Reino de Deus. 
Este era o evangelho que Jesus pregava: "Vinde a mim, todos 
os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai 
sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e hu-
milde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o 
meu jugo é suave, e o meu fardo é leve".34 
O que é jugo? É o mesmo que "canga", aquela pesada peça de 
madeira que se coloca numa parelha de bois para arar a terra. Nós 
somos livres para escolher um jugo, ou uma canga. Nascemos a-
qui, debaixo do jugo do tirano Satanás e somos convidados a tro-
car de jugo; "Vinde a mim... Tomai... o meu jugo... Porque o meu 
jugo é suave, e o meu fardo é leve". O jugo de Jesus é suave por-
que o Seu pescoço é que está colocado nessa parelha conosco. 
Portanto, aceitar o Evangelho do Reino é receber o jugo de Jesus, 
é submeter-se incondicionalmente, ao Seu governo, em todas as 
áreas da vida, é "negar-se a si mesmo", é "tomar a cruz" cada dia, 
é "segui-Lo". Não existe a possibilidade de aceitá-lo apenas como 
Salvador dos seus pecados e não como senhor de sua vida. 
Alma Nua 
40 
 
41 
Capítulo 2 
UM OUTRO 
EVANGELHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foi Juan Carlos Ortiz, na década de 80, através do seu livro O 
Discípulo que alertou-nos para um outro evangelho que vem sendo 
espalhado à larga e que tem dominado a maneira de pensar de 
muitas igrejas evangélicas. Ortiz o chama de "evangelho das ofer-
tas" ou "evangelho segundo os santos evangélicos", que nada mais 
é do que o alardeado e aparentemente combatido "evangelho da 
prosperidade". Evangelho este praticado por vários e importantes 
segmentos do meio evangélico, que faz do homem o centro de tu-
do, por isso designado também de "evangelho antropocêntrico". 
Tal evangelho faz de Deus um servo do homem. É como se Deus 
existisse em função de fazer-nos felizes. Eis algumas falas bem ca-
racterísticas daqueles que esposam este "outro evangelho": 
• "Entregue sua vida a Jesus e a prosperidade baterá a sua 
porta"; 
• "Enfermidades não mais poderão vir sobre você, pois Je-
sus levou sobre Si todas as enfermidades"; 
• "Aquele que crê, de fato, em Jesus não mais tem de an-
dar de carro velho, pois como filho do Rei, passa a ter direito a um 
zero quilômetro"; 
• "Deus não quer que nenhum de seus filhos seja pobre, 
Alma Nua 
42 
por isso reivindique d'Ele os seus direitos de filho. Pobreza mate-
rial é sinal de pobreza espiritual"; 
• "Qualquer enfermidade na vida de um crente é evidência 
de pecado, pois aquele que realmente anda em obediência a Deus 
nenhum mal chegará a sua tenda"; 
• "Pense e fale positivamente, pois há poder em suas pala-
vras. Aquilo que você fala lhe acontecerá'". 
 
Repudiamos essas propostas sedutoras, e, aparentemente bíbli-
cas, mas são muitos os que têm embarcado nessa pregação que a-
trai as multidões. 
Basta, a qualquer pregador que quiser hoje ser popular e ver 
sua igreja crescer, entrar para essa corrente do pensamento positi-
vo. Num momento de crise econômica, com taxas elevadíssimas 
de desemprego, tal pregação soa como bálsamo para muitos, e as 
multidões são atraídas pelos "pães e peixes". No entanto percebe-
mos ser tal pregação um outro evangelho. 
Paulo disse aos Galatas: 
 
"Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos 
chamou na graça de Cristo, para outro evangelho; o qual não é outro, 
senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evange-
lho de Cristo. Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu 
vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja 
anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos pre-
ga evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema" 
(Gl 1.6-9). 
 
Esse "outro evangelho" denunciado por Paulo, e que estava ca-
tivando o coração dos crentes da Galácia era o "evangelho da jus-
tificação pela guarda da lei", incluindo a necessidade da circunci-
são dos gentios, tornando-os assim parte do povo de Israel. Não é 
exatamente o que hoje estão pregando os adeptos da "teologia da 
prosperidade", mas Paulo deixou em aberto que qualquer "outro 
evangelho" que fosse pregado deveria ser anatematizado. 
Qual foi o evangelho que Paulo apresentou aos Gálatas? Segu-
Um Outro Evangelho 
43 
ramente o "Evangelho do Reino"', ou seja, do governo de Jesus 
sobre todas as áreas da vida. Na pregação do Evangelho do Reino 
fica evidente o "negar-se a si mesmo", o "tomar a cruz", o "buscar 
em primeiro lugar o Reino de Deus", o "abrir mão dos seus direi-
tos", o "servir ao invés de ser servido". Nesse "outro evangelho" o 
que se percebe claramente é a busca dos seus interesses egoístas, a 
defesa e reivindicação dos seus direitos, a cura e a prosperidade 
material como direitos adquiridos dos filhos do Rei, ou seja, as 
benesses do Reino já. Daí a fala estranha: "Eu exijo", "Eu reivin-
dico", "Eu ordeno", etc. 
Agora, é muito importante perceber que fomos nós mesmo os 
pregadores do evangelho, que criamos tal excrescência, pois fo-
mos nós que geramos esse "falso evangelho". 
Como foi que ele nasceu? Certamente como resultado das 
nossas famosas "séries de conferências evangelísticas". A maior 
parte das igrejas evangélicas desenvolveu, durante muito tempo, 
como sua principal estratégia evangelística, eventos em que os 
crentes esforçavam-se para trazer convidados a fim de ouvirem o 
evangelho através de um renomado pregador. Durante muitos 
anos de minha vida participei de conferências deste tipo. Numa 
conferência evangelística o pregador será avaliado pela quanti-
dade de pessoas que conseguir trazer à frente no apelo. Daí é que 
começou a surgir o barateamento do evangelho. O apelo virou 
apelação. Quanta apelação temos presenciado. Já ouvi apelações 
incríveis. Lembro-me até de um pregador famoso do passado, já 
promovido à glória, que fez um apelo evangelístico nos seguintes 
termos: 
- Quem quer ir para o céu levante a mão. 
Diante das mãos levantadas, continuou apelando: 
- Agora, todos os que levantaram suas mãos, venham para 
frente, pois quero orar por vocês. 
Todos os que vieram à frente foram computados como conver-
tidos, ou decididos. Isto para mim é pura manipulação. Isto não é 
pregar o evangelho. 
Outros, diante da falta de decisões, começam a baratear o custo: 
- Não estou convidando ninguém a fazer qualquer compromisso. 
Alma Nua 
44 
(Isto é falso, pois a conversão a Cristo é um tremendo compromis-
so com Ele e com seu povo.) 
- Agora abaixem suas cabeças, fechem os olhos, ninguém está 
olhando, enquanto ouvimos os instrumentos tocando, você pode 
tomar a sua decisão. 
Outros mandam os crentes falarem com as pessoas não conver-
tidas, convidando-as a vir à frente. 
Daí foi mudando-se para os mais diferentes tipos de apelo: 
- Aqueles que estão com problemas no relacionamento conju-
gal venham à frente, pois vamos orar para Deus curar o seu ca-
samento. 
- Aqueles que estão enfermos venham à frente. 
"Os que estão desempregados", "os deprimidos", "os solitá-
rios", "os gordos". E assim vai se ampliando o leque para se ter 
pessoas na frente. 
Não vejo nenhum problema de orarmos pelos enfermos, aliás, 
devemos fazê-lo regularmente, mas não como proposta evangelís-tica, pois nem Jesus nem os apóstolos agiram assim. Na proclama-
ção do Evangelho do Reino o que devemos colocar é a renúncia de 
tudo e a rendição ao governo de Jesus. É o arrependimento e o 
rompimento com o reino das trevas. A salvação, a paz, a alegria, 
são conseqüência da rendição total ao governo de Jesus. Cura e 
prosperidade podem ser ou não bênçãos decorrentes de uma real 
entrega. No entanto, não se pode colocá-las como atrativos para as 
pessoas virem a Jesus, pois tal tipo de proposta torna-se manipula-
ção grosseira e não paixão pelas almas perdidas. Se a motivação 
fosse a paixão pelas almas, mesmo assim não deveríamos tolerar 
tais práticas; mas, a bem da verdade, muitas vezes, o que está em 
jogo é a reputação do pregador que tem de apresentar resultados. 
Tais práticas acabaram gerando esse evangelho adocicado a gos-
to do freguês, cheio de promessas mirabolantes. Tal evangelho aca-
ba reduzindo Jesus ao "meigo nazareno" que está do lado de fora 
do seu coração, ansioso para ter um lugarzinho em sua vida. "Dê 
uma chance a Jesus!" Quase que completamos automaticamente: 
- Coitadinho, não o deixe do lado de fora, sentindo frio e fome. 
Abra-lhe agora mesmo o coração, pois Ele o ama tanto! 
Um Outro Evangelho 
45 
Quase que se diz: 
- Faca este favor a Jesus, pois ele precisa tanto de você! 
Jesus acabou tornando-se um produto a ser vendido: 
- Use Jesus e sua pele terá a beleza da noiva do Cordeiro. 
- Jesus é a resposta para a sua insônia. 
- Com Jesus em sua vida você consegue até emagrecer. 
Percebo que muitos se convertem "ao céu^', "à paz", "à prospe-
ridade", mas não ao governo de Jesus. Tem sido também muito 
comum a idéia de que é possível aceitar a Jesus apenas como Sal-
vador e não como Senhor. É como se estivéssemos dizendo que a 
graça elimina o padrão de excelência. Confunde-se assim a graça 
preciosa, tornando-a no que denunciou Dietrich Bonhoffer em 
"graça barata"1. Seria, mais ou menos, semelhante a um casamento 
onde a noiva depois da cerimônia se dirigisse ao noivo nos seguin-
tes termos: 
- Meu amor, eu estou tão feliz de estar agora casada com você, 
mas você precisa entender que eu gosto ainda de outros rapazes e 
quero continuar namorando-os também. Mas, você não deve ficar 
triste, pois você é o principal! 
Muita gente pensa que Jesus é tão bom que Ele aceita o peca-
dor de qualquer jeito, até mesmo com esse tipo de proposta inde-
cente: 
- Jesus! Eu o aceitei como meu Salvador. Eu estou muito feliz 
por ter certeza de um dia ir morar contigo no céu, mas agora Je-
sus, enquanto ainda estamos por aqui na terra, eu quero que sai-
ba que tenho outros interesses importantes. Espero que me enten-
da que não posso ser exclusivo do Senhor. Mas não fique triste, 
pois o Senhor é o principal! 
É a isto que chamamos de "graça barata". É à luz de tal barate-
amento do evangelho que precisamos, mais do que nunca, procla-
mar o evangelho que Jesus e os apóstolos proclamaram: o Evange-
lho do Reino. Somente a proclamação do "Evangelho do Reino" é 
que gera discípulos e não meros convertidos. 
 
Alma Nua 
46 
 
47 
Capítulo 3 
O VOTO DA 
SIMPLICIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não haveria uma promessa clara de prosperidade aos que se 
colocam debaixo do Senhorio de Cristo? Será que o combate à 
pregação da prosperidade não pode levar-nos para o desequilíbrio 
da pregação do "evangelho da miséria" como sendo o Evangelho 
do Reino? Estaria a palavra de Deus condenando a prosperidade e 
valorizando a pobreza? Será que inconscientemente não estamos 
defendendo o voto de pobreza? Haveria uma virtude intrínseca em 
ser pobre de recursos materiais? Na parábola dos talentos Jesus 
não está ensinando a virtude do progresso? Quando Paulo exorta 
os crentes de Corinto1 a semear muito para colher muito ele não 
está falando em termos materiais? 
À luz destas questões quero propor-lhes um paradoxo. Parado-
xo, segundo os dicionários, é uma afirmação, na mesma frase, de 
um conceito, mediante contradições aparentes ou termos incompa-
tíveis. 
Como a definição já diz, o paradoxo é apenas uma afirmação, 
aparentemente contraditória, pois depois de esclarecida deve trazer 
grandes ensinamentos. Eis o paradoxo: "Contentai-vos com o que 
tendes e progredi o máximo que puderdes". Vamos analisar este 
paradoxo refletindo sobre três importantes conceitos. 
Alma Nua 
48 
O primeiro é o conceito de CONTENTAMENTO. 
 
"Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as cousas que 
tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei nunca ja-
mais te abandonarei. Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o 
meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?" 
(Hb 13.5). 
 
O autor de Hebreus está simplesmente dizendo que devemos 
deixar que o senhor seja, de fato, o nosso Deus. Não coloquemos 
nossa confiança no dinheiro, pois avareza é adoração a Mamom. O 
deus-dinheiro é muito atraente por dar-nos, aparentemente, a sen-
sação de segurança quanto ao futuro. O que a Palavra de Deus está 
nos exortando a fazer é colocar nossa confiança total no Senhor e 
não nas posses materiais. 
Tudo o que vier a se constituir em nossa fonte de segurança, de 
significado, ou de contentamento, torna-se o nosso deus. A Pala-
vra, em Hb 13.5, está nos ordenando a deixar que Deus, Pai de 
Nosso Senhor Jesus Cristo, seja, de fato, o nosso Deus. Através do 
profeta Jeremias, Ele fala a seu povo Israel: "Espantai-vos disto, ó 
céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois 
males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de 
águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as 
águas"2. 
Se Deus não for nossa fonte de contentamento, segurança e 
significado, estaremos sempre "cavando cisternas rotas" que não 
conseguem reter as águas, ou seja, estaremos sempre em busca de 
algo que preencha em nós essas necessidades básicas, e assim aca-
bamos curvados em atração diante de outros altares. 
Faça uma verificação em seu coração indagando com honesti-
dade: "Quem é, de fato, o meu Deus? Em que altar tenho me cur-
vado em real adoração? Em quê coloco a minha total confiança? 
Onde está a minha fonte de genuíno contentamento? O que é que 
me dá significado para viver cada dia? Se eu tirasse Deus da mi-
nha vida o que mudaria?" 
O Voto da Simplicidade 
49 
O segundo conceito é o de PROGRESSO. Vamos analisar, 
cuidadosamente, a famosa parábola dos talentos: 
 
"Pois será como um homem que, ausentando-se do país, chamou os 
seus servos e lhes confiou os seus bens. A um deu cinco talentos, a 
outro dois e a outro um, a cada um segundo a sua própria capacidade; 
e então partiu. O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a 
negociar com eles e ganhou outros cinco. Do mesmo modo o que re-
cebera dois, ganhou outros dois. Mas o que recebera um, saindo, a-
briu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito 
tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. 
Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros 
cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros 
cinco talentos que ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom 
e fiel; foste fiel no pouco, sobre muito te colocarei: entra no gozo do 
teu senhor. E, aproximando-se também o que recebera dois talentos, 
disse: Senhor, dois talentos me confiaste; aqui tens outros dois que 
ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no 
pouco, sobre o muito te colocarei: entra no gozo do teu senhor. Che-
gando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo 
que és homem severo, que ceifas onde não semeaste, e ajuntas onde 
não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu tesouro; aqui tens o 
que é teu. Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, 
sabias que ceifo onde não semeeie ajunto onde não espalhei? Cum-
pria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, 
ao voltar, receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe, pois, o talento, 
e dai-o ao que tem dez. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em 
abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. E o 
servo inútil lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger 
de dentes." (Mt 25.14-30). 
 
Percebemos claramente nesta parábola o conceito de progresso. 
O Rei exige lucro. Ele deu potencialidade a todos e exige progres-
so de todos. Esta é a lei que rege a vida. Planta-se um grão espe-
rando uma centena. Jesus está ensinando-nos aqui que vida gera 
vida. O grande pecado denunciado nesta parábola é o pecado da 
Alma Nua 
50 
anti-vida. Voltar-se para dentro com medo e não crescer evidencia 
morte espiritual. Esse medo paralisante tem destruído muitas vidas 
e recebe hoje o nome de baixa auto-estima. O que Deus pune é a 
negação da vida, das potencialidades que Ele colocou em todos 
nós, diferentes sim, um recebeu cinco, outro dois e outro um, mas 
capazes de produzir a trinta, sessenta e a cem por um, conforme a 
parábola do semeador3. Enterrar o talento significa dizer para 
Deus: "Eu tenho medo do Senhor, pois és muito exigente. Eu não 
dou conta de agradar-te, por isso eu não me atiro à tarefa de gran-
jear outros talentos pois tenho medo de fracassar e ser rejeitado 
por ti. Assim sendo eu fico na minha; não faço nada para o pro-
gresso do teu Reino, mas, pelo menos, não dou maiores proble-
mas. Está aqui o que é teu.". 
São estes que passam pela vida mas não vivem. "Se o grão de 
trigo, caindo em terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, pro-
duz muito fruto"4. Para frutificar é preciso morrer. A casca da se-
mente precisa ser rompida para que a vida, que está nela, aflore. 
Este é o progresso que Deus espera de cada um de nós. 
 
O terceiro conceito é o de ADMINISTRAÇÃO. Somente enten-
dendo este conceito é que penetraremos no ensino do paradoxo 
proposto. Quem é o dono do ouro e da prata? O Salmista afirma: 
"Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo 
e os que nele habitam"5. Portanto a nós foi entregue a tarefa de 
administrar os bens do Senhor. 
Um dos textos que mais tive dificuldade de compreender em 
toda a Bíblia, e que, durante muitos anos, ficou na prateleira a-
guardando iluminação do Senhor foi Lucas 16.9, onde Jesus, con-
cluindo a parábola do administrador infiel, afirma: "E eu vos re-
comendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, 
quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos taber-
náculos eternos". 
Na primeira vez que li este texto fiquei com um verdadeiro nó 
na cabeça, que levou muitos anos para ser desatado. Lendo o pe-
queno e excelente livro Não Ameis o Mundo, de Watchman Nee, 
Deus trouxe luz sobre esse texto e o nó foi desfeito. Anos depois, 
O Voto da Simplicidade 
51 
em Dinheiro, Sexo e Poder de Richard Foster, encontrei a mesma 
interpretação dada por Nee, que veio solidificar o entendimento da 
parábola. 
Na parábola, Jesus mostra um administrador que, tomando ci-
ência de que seria despedido, agiu com astúcia com os devedores 
do seu patrão, favorecendo-os com descontos especiais em suas 
dívidas para que tais credores viessem a favorecê-lo no futuro. 
Numa parábola não se deve buscar significado em todos os deta-
lhes, mas num ponto focal. Qual o ponto focal dessa parábola? Je-
sus estava enfatizando a astúcia do administrador infiel, ensinan-
do-nos a ser astutos com a riqueza de origem iníqua que cair em 
nossas mãos, para granjearmos com elas, amigos nos tabernáculos 
eternos, ou seja, entesourar nos Céus investindo em vidas que le-
varemos para lá, onde nem traça, nem ferrugem corroem. 
Porém, o nó não está aí, mas em Jesus chamar os bens a serem 
administrados de riquezas de "origem iníqua". Logo pensamos em 
dinheiro sujo, adquirido em trabalhos indignos ou de forma indig-
na. Mas daí surge uma outra dificuldade intransponível, pois Jesus 
jamais apoiaria certas atividades lucrativas que ferem os valores 
do Reino. Tanto Watchman Nee como Richard Foster chamam de 
"riquezas de origem iníqua" todo o dinheiro circulante, ou todo o 
sistema monetário vigente neste mundo. Por isso é que Jesus cha-
ma o dinheiro de Mamom, o deus-dinheiro. 
 Compreendendo então que todo dinheiro circulante é iníquo 
por fazer parte de um sistema iníquo, percebemos que o ensino de 
Jesus é no sentido de sermos verdadeiros administradores dos bens 
que vierem para nossas mãos, transformando o dinheiro iníquo em 
dinheiro abençoado. Richard Foster diz que ao cristão é dada a e-
levada vocação de usar Mamom sem servir a ele. 
Quando é que estaremos usando Mamom sem servi-lo? 
Quando permitirmos que Deus determine nossas decisões eco-
nômicas. Estaremos servindo a Mamom quando permitirmos que 
o dinheiro determine nossas decisões econômicas. Compramos 
uma casa, um carro, ou qualquer outro bem com base numa ori-
entação clara de Deus ou por termos o dinheiro para fazê-lo? Se 
o dinheiro determinar o que fazemos ou deixamos de fazer, então 
Alma Nua 
52 
é ele quem nos governa, mas se for Deus quem determina o que 
fazemos ou deixamos de fazer então é Ele quem nos governa. 
Simplesmente precisamos decidir quem vai tomar nossas deci-
sões. 
Pode ser que o dinheiro me diga: "Você tem o suficiente para 
comprar isso". Mas Deus pode estar objetando: "Eu não quero que 
você compre isso". A quem vamos obedecer? 
Se minha esposa me diz: "Meu bem, vamos comprar isto, pois 
o preço está excelente". E eu lhe responder: "Não podemos, pois 
não temos dinheiro". O dinheiro decidiu. 
Mas se eu disser: "Bem, querida, vamos orar para saber se 
Deus quer que façamos essa compra. Se Ele quiser, certamente 
nos proverá os recursos!" Nesse caso seria Deus o Senhor, mas no 
outro Mamom. 
Esta é uma área onde temos errado muito como pais, pois dei-
xamos de ensinar aos nossos filhos a vida dependente. Se um filho 
chega pedindo-nos alguma coisa e vamos logo respondendo que 
não podemos porque não temos dinheiro, comunicamos claramen-
te que quem decide é o dinheiro. No entanto muitos erram pelo ou-
tro lado, principalmente aqueles pais que tiveram uma infância 
pobre e agora são bem sucedidos financeiramente. Muitos desses 
pais atendem aos mais absurdos desejos dos filhos por acharem 
que não devem privá-los de nada. É novamente Mamon decidindo. 
Quão valioso é para a vida espiritual dos filhos, se desde pequenos 
aprendem com os pais a vida dependente. Talvez seja mais difícil 
para quem tem muito dinheiro sob sua guarda do que para quem 
tem pouco. Ou, provavelmente, ambos tenham dificuldades pró-
prias. 
Richard Foster advoga que, assim como os monastérios com o 
seu voto de pobreza e os puritanos com o seu voto de diligência 
foram uma reação ao deus-dinheiro, nós precisamos também hoje 
de um voto que responda criativa e corajosamente à questão do di-
nheiro6. Precisa ser um voto, diz ele, que rejeite a mania moderna 
de granjear riquezas, sem pender para um ascetismo mórbido. De-
ve ser um voto que nos conclame a usar o dinheiro sem servi-lo, e, 
que, submeta o dinheiro, totalmente, à vontade e aos caminhos de 
O Voto da Simplicidade 
53 
Deus. 
Portanto, nós, que seguimos a Jesus Cristo, somos chamados a 
um VOTO DE SIMPLICIDADE. Esse voto não é para um punha-
do de gente dedicada, mas para todos. Não é uma opção, à qual 
podemos aceitar ou rejeitar, dependendo de nossa preferência pes-
soal. Todos os que se intitulam discípulos de Jesus têm a obriga-
ção de seguir o que Ele diz, e o apelo de Jesus, na questão do di-
nheiro, pode ser reduzido a uma só palavra - SIMPLICIDADE. 
Irei apresentar aqui os nove significados de simplicidade dados 
por Richard Foster no seu livro acima citado: 
 
1. Simplicidade significa

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