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Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 1 1 INTRODUÇÃO Estudaremos, agora, a resposta livre de sistemas dinâmicos de 2a ordem. Serão apresentados, também, alguns novos parâmetros desse tipo de sistema. A resposta livre será classificada, em função de um desses parâmetros, em quatro casos, sendo que em dois deles existe oscilação (vibração) e nos outros dois a resposta livre não é oscilatória. 2 FREQÜÊNCIA NATURAL. PERÍODO NATURAL. COEFICIENTE DE AMORTECIMENTO. FATOR DE AMORTECIMENTO Vamos apresentar o assunto através de um sistema mecânico de 2a ordem, cujo modelo matemático é dado pela EDOL (1) )t(f)t(kx)t(xc)t(xm ... =++ Os resultados obtidos se aplicam aos demais sistemas dinâmicos de 2a ordem, sejam eles elétricos, eletromecânicos, etc. No caso de resposta livre não existe excitação externa durante o movimento, de maneira que f(t) = 0. O movimento é, então, causado pelas condições iniciais x(o) = x0 (deslocamento inicial) e/ou 0 .. x)0(x = (velocidade inicial). Logo, a EDOL passa a ser (2) 0)t(kx)t(xc)t(xm ... =++ Dividindo a eq. (2) por m: (3) 0)t(x m k)t(x m c)t(x ... =++ Vamos definir, agora, alguns novos parâmetros do sistema: Freqüência Natural A freqüência natural é definida por (4) k onde a unidade SI é o rad/s. Not a eq. (3). A ωn, expressa em rad/s, rece 15 Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de 2a Ordem mn =ω emos que k/m é o coeficiente da variável dependente, x(t), d be o nome de freqüência angular natural ou freqüência circular Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 2 natural. No caso de se expressar esse parâmetro em Hz, basta dividir ωn por 2π, passando a ser chamado, simplesmente, de freqüência natural: (5) m k 2 1fn π= Fisicamente, a freqüência natural dada pela eq. (5) corresponde à quantidade de ciclos por segundo que o sistema apresenta quando em vibração livre. Período Natural É definido como o inverso da freqüência natural, sendo a sua unidade SI o s: (6) k m2 f 1 n n π==τ Conforme foi estudado na Apostila 5, quando o grau de liberdade x(t) do sistema mecânico está na vertical, existe a relação de equilíbrio estático mg = kδest. Logo, para esse caso, é fácil mostrar que os parâmetros acima podem ser expressos, respectivamente, por (7) est n g δ=ω (8) est n g 2 1f δπ= (9) g 2 estn δπ=τ onde g é a aceleração da gravidade, em m/s2 e δest é o deslocamento estático, definido anteriormente. Coeficiente de Amortecimento Crítico Trata-se de um parâmetro fictício. Todo sistema possui um coeficiente de amortecimento real, c, e um coeficiente de amortecimento crítico, ccr, definido como (10) ccr = 2mωn = 2 km O significado físico de ccr será melhor entendido mais adiante. Fator de Amortecimento (ou Razão de Amortecimento ou Relação de Amortecimento) É definido como a relação entre o coeficiente de amortecimento real, c, e o coeficiente de amortecimento crítico, ccr: (11) ζ = c/ccr Podemos ver facilmente que o fator de amortecimento é adimensional. Levando em conta a eq. (10), temos Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 3 (12) nm2 c ω=ς Na expressão do fator de amortecimento estão presentes os três elementos básicos do sistema mecânico: m, c e k (esse último indiretamente, através da ωn – ver eq. (4)). Portanto, o fator de amortecimento é representativo de todo o sistema. 3 RESPOSTA LIVRE DE UM SISTEMA MECÂNICO DE 2a ORDEM Levando em conta as eqs. (4) e (12), a eq. (3) pode ser rescrita assim: (13) 0)t(x)t(x2)t(x 2n . n .. =ω+ςω+ Da Teoria das Equações Diferenciais, temos que a solução de uma EDOL de 2a ordem homogênea é dada por (14) tsts 21 BeAe)t(x += onde A e B são constantes a serem determinadas pelas condições iniciais do problema e s1 e s2 são as raízes da equação característica seguinte, associada à EDOL (13): (15) s2 + 2ζωns + 02n =ω As raízes s1 e s2 são dadas por (16) s1,2 = (- ζ ± 12 −ς )ωn Evidentemente, os valores das raízes s1 e s2 dependem do valor de ζ, podendo as mesmas assumir valores reais ou complexos. Assim, de acordo com o valor de ζ, temos 4 casos: I. ζ < 1, o que implica em duas raízes complexas e conjugadas II. ζ = 1, o que implica em duas raízes reais e iguais III. ζ > 1, o que implica em duas raízes reais e diferentes IV. ζ = 0, o que implica em duas raízes imaginárias puras conjugadas A fig. 1, abaixo, ilustra os 4 casos no plano complexo: Fig. 1 Estudaremos, a seguir, cada um dos 4 casos citados. Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 4 4 CASO I: ζ < 1 ⇒ MOVIMENTO SUBAMORTECIDO Também conhecido como vibração livre com amortecimento viscoso, é o caso de maior interesse em engenharia, devido à grande freqüência com que ocorre na prática. Um exemplo clássico é suspensão independente de um automóvel, ilustrada na fig. 2: Fig. 2 Tomando as transformadas de Laplace da eq. (13) e levando em conta as condições iniciais, temos: (17) 2 nn 2 0 . 0n s2s xx)2s()s(X ω+ζω+ +ζω+= O denominador da eq. (17) pode ser expresso como (18) 2nn2 s2s ω+ζω+ = (s + ζωn)2 + 2dω onde (19) 2nd 1 ζ−ω=ω é a chamada freqüência angular natural amortecida, em rad/s. A partir dessa nova propriedade, podemos também definir a freqüência natural amortecida, fd (em Hz) e o período natural amortecido, τd, dados, respectivamente, por (20) π ζ−ω=π ω= 2 1 2 f 2 nd d (21) 2 nd d 1 2 f 1 ζ−ω π==τ Expandindo a eq. (17) em frações parciais (utilizando a eq. (18)) e voltando ao domínio do tempo, chegamos à expressão da resposta livre (22) ωω +ςω+ω= ςω− tsenxxtcosxe)t(x d d 0 . 0n d0 tn composta pelo produto de uma função exponencial decrescente por uma função harmônica. A função harmônica é claramente oscilatória (composição de senos e cossenos), ao passo que a exponencial Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 5 decrescente faz com que haja uma diminuição da amplitude da função harmônica à medida que o tempo cresce. Trata-se, portanto, de um movimento oscilatório amortecido, logo, de uma vibração livre amortecida. A representação gráfica da eq. (22) está mostrada na fig. 3 (onde aparece o “funil” criado pela exponencial decrescente), para os seguintes dados: ζ = 0,1 ωn = 5 rad/s x0 = 0 m/s 2,0x0 . = 5 CASO II: ζ Para obter a equação da (23) composta pelo produto como ocorre no caso I. A valores de velocidade in Esse caso recebe o nom entreo movimento su Fig. 3 = 1 ⇒ MOVIMENTO COM AMORTECIMENTO CRÍTICO resposta livre para esse caso, basta fazer ζ = 1 na eq. (22): +ω+= ω− t)xx(xe)t(x 0.0n0tn de uma exponencial decrescente por uma linha reta. Logo, não há oscilação, fig. 4 ilustra a eq. (23) para ζ = 1, ωn = 2 rad/s, posição inicial nula e alguns icial. Fig. 4 e de movimento com amortecimento crítico exatamente pelo fato de se situar bamortecido, que vimos há pouco, e o movimento superamortecido, que Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 6 estudaremos a seguir. Uma característica importante do movimento com amortecimento crítico é que, além de não apresentar vibração, a volta ao repouso se dá em um tempo mínimo. Isso recomenda esse tipo de movimento para certas aplicações, tais como nos manipuladores robóticos, onde é desejável que o movimento de um ponto ao outro se dê sem vibração (por questões de precisão) e num tempo mínimo (por questões de produtividade). 6 CASO III: ζ > 1 ⇒ MOVIMENTO SUPERAMORTECIDO Nesse caso, podemos rescrever a equação geral (17): (17) 2 nn 2 0 . 0n s2s xx)2s()s(X ω+ζω+ +ζω+= e colocá-la na forma (24) 2 2 1 1 ss c ss c)s(X −+−= onde s1 e s2 são as raízes dadas pela eq. (16) e c1 e c2 são calculados aplicando as condições iniciais do problema. A solução, por fim, é dada por (25) ts2 ts 1 21 ecec)t(x += A fig. 5 representa o gráfico da eq. (25), para ζ = 1,4, ωn = 4 rad/s, posição inicial nula e alguns valores de velocidade inicial. Fig. 5 Esse tipo de movimento recebe o nome de movimento superamortecido e não constitui uma vibração, assim como no caso do movimento com amortecimento crítico. A diferença entre esses dois tipos de movimento está no tempo de retorno ao repouso: no caso do movimento com amortecimento crítico, esse tempo é mínimo, enquanto que no caso superamortecido ele não o é. Um exemplo clássico de movimento superamortecido é a porta equipada com um conjunto mola-amortecedor, quando desejamos que a mesma, uma vez aberta, retorne à posição de fechamento sem oscilar, não havendo necessidade que tal se dê em um tempo mínimo. Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 7 7 CASO IV: ζ = 0 ⇒ MOVIMENTO SEM AMORTECIMENTO Embora não exista, na prática, um sistema totalmente desprovido de amortecimento, algumas vezes o amortecimento é tão pequeno que podemos considerá-lo nulo. Nesse caso, o movimento é oscilatório, sendo também chamado de vibração livre sem amortecimento, ou, também, movimento harmônico. Exemplos clássicos são os sistemas pendulares, em que é desprezado o atrito na articulação e o atrito com o ar. Para obtermos a resposta livre, basta fazer ζ = 0 na eq. (22), chegando a (26) tsenxtcosx)t(x n n 0 . n0 ωω+ω= Um gráfico da eq. (26) está ilustrado na fig. 6: Fig. 6 8 DECREMENTO LOGARÍTMICO DA AMPLITUDE Apresentaremos, agora, um novo parâmetro da vibração livre de um sistema mecânico com amortecimento viscoso, o decremento logarítmico da amplitude, o qual, assim como o fator de amortecimento, também fornece uma medida do amortecimento viscoso da vibração subamortecida. Portanto, só se aplica ao caso em que ζ < 1. O decremento logarítmico da amplitude é muito usado em associação com instrumentos de medida de vibração. Definimos decremento logarítmico da amplitude, δ, por (27) 1n n X Xln + =δ onde Xn é a amplitude que ocorre no instante tn e Xn+1 é a amplitude que ocorre um ciclo após, ou seja, no instante tn+1, conforme ilustra a fig. 7: Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 8 Fig. 7 A curva da fig. 7 é o gráfico da equação da resposta livre de um sistema subamortecido, a qual, conforme já vimos, é dada por: (28) ωω +ςω+ω= ςω− tsenxxtcosxe)t(x d d 0 . 0n d0 tn Tendo em vista que a função harmônica entre colchetes não contribui para o amortecimento (por ser harmônica), podemos aplicar a eq. (27) para os instantes tn e tn+1, considerando apenas a parte exponencial decrescente da eq.(28): 1nn nn t t e eln +ςω− ςω− =δ Como tn+1 = tn + τd, então dn dnnn nn eln ee eln t t τςω τςω−ςω− ςω− ==δ , logo (29) δ = ζωnτd Por outro lado, sabemos que τd = 2π/ωd = 2n 1/2 ς−ωπ Levando na eq. (29), obtemos (30) 21 2 ς− πς=δ Obs.: não é difícil mostrar que o decremento logarítmico da amplitude também pode ser dado por (31) n 0 X Xln n 1=δ onde X0 é a amplitude no início do 1o ciclo e Xn é amplitude do início do n-ésimo ciclo (ver fig. 7). Valores típicos de δ para amortecedores de automóveis variam de δ = 4 (novo) a δ = 2 (usado). Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 9 EXERCÍCIOS 1 Considere o movimento oscilatório amortecido, mostrado na figura e os seguintes dados: ζ = 0,1 ωn = 5 rad/s Determinar: (a) freqüência natural, em Hz; (b) período natural, em s; (c) freqüência angular natural amortecida, em rad/s; (d) freqüência natural amortecida, em Hz; (e) período natural amortecido, em s; Resp.: (a) 0,7958 Hz (b) 1,257 s (c) 4,97494 rad/s (c) 0,7918 Hz (e) 1,263 s 2 O sistema da figura tem os seguintes parâmetros: m = 100kg; c = 50 N.s/m; k = 1200 N/m; L = 1 m. Achar: (a) Rigidez equivalente, em N/m; (b) Freqüência natural, em Hz; (c) Fator de amortecimento; (d) Tipo de resposta livre; (e) Modelo matemático (equação diferencial); (f) Equação da resposta livre, sendo as condições iniciais dada por um deslocamento angular inicial θ(0) = 0,15 rad e velocidade inicial nula. 3 Um Engenheiro, num primeiro cálculo aproximado, deseja estimar a rigidez de cada mola e o coeficiente de amortecimento de cada amortecedor a serem utilizados em uma suspensão independente de um automóvel, composta de 4 molas e 4 amortecedores. Como hipóteses simplificadoras, ele admite que: - a massa do carro, estimada em 1500 kg, distribui-se igualmente pelas 4 rodas; - o movimento da carroceria se dá apenas na vertical (translação); - a freqüência natural, por questões de conforto, deve ficar em torno de 1,5 Hz; - a carroceria, quando deslocada da posição de equilíbrio estático, deve voltar à mesma sem oscilar e num tempo mínimo. Nessas condições, pedem-se: (a) rigidez de cada mola, em N/m; (b) coeficiente de amortecimento de cada amortecedor, em N.s/m. Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 10 4 A figura mostra a suspensão dianteira independente de um automóvel de massa total 1420 kg. As molas têm, cada uma, rigidez de 50 kN/m. Desprezando o amortecimento, calcular a freqüência natural das oscilações verticais, em Hz. Considerar que o peso do carro se distribui igualmente pelas 4 rodas. Resp.: 1,133 Hz 5 Uma massa de 25 kg está suspensa por uma mola de rigidez 2 N/mm, a qual, por sua vez, está suspensa na extremidade de uma viga de aço (E = 2.105 N/mm2) em balanço, de comprimento 250 mm, largura 20 mm e espessura 3 mm. Determinar a freqüência natural do sistema. Resp.: 0,97 Hz 6 Mostrar que o decremento logarítmico da amplitude também pode ser dada por n o X Xln n 1=δ , onde X0 é a amplitude no início do primeirociclo e Xn é a amplitude no início do n- ésimo ciclo. Solução Xn Xln n 1neln Xn Xln e)e( Xn X... X X X X X X Xn X 0n0 nn1n 3 2 2 1 1 00 =δ⇒δ== === δ δδ− Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 11 7 Um peso P, atuando estaticamente no centro de uma viga bi-apoiada, produz uma deformação de 2 mm na mesma. Vibrando em conjunto com um amortecedor, verifica-se que a amplitude no início do décimo ciclo é metade da amplitude do início do primeiro ciclo. Determinar: (a) Decremento logarítmico da amplitude; (b) Fator de amortecimento; (c) Período da vibração amortecida. Resp. (a) 0,0693; (b) 0,011; (c) 0,09 s. 8 Para um fator de amortecimento 0,2, qual é a diferença percentual entre as freqüências naturais com e sem amortecimento? Resp.: 2% 9 Qual a razão entre duas amplitudes consecutivas quaisquer quando o fator de amortecimento vale 0,5? Resp.: 37,5:1 10 Dada a figura com o registro da resposta livre de um sistema mecânico, determinar: (a) Decremento logarítmico da amplitude; (b) Fator de amortecimento. Resp.: (a) 0,09 (b) 0,014 Análise da Resposta Livre de Sistemas Dinâmicos de Segunda Ordem 12 11 Um dispositivo possui um fator de amortecimento viscoso ajustável. Inicialmente, ele está regulado de tal modo que a razão entre duas amplitudes consecutivas quaisquer é de 10:1. Se o fator de amortecimento do dispositivo for dobrado, qual será a razão entre duas amplitudes consecutivas quaisquer? Resp.: 387,5 12 Um dispositivo de teste consiste de um cilindro pneumático cujo pistão acelera um corpo até o mesmo atingir uma velocidade de 30m/s (pistão e corpo possuem, em conjunto, massa total 5 kg). Nesse instante, o conjunto é desacelerado, ao se engajar com uma mola (rigidez 50000 N/m) e um amortecedor viscoso (coeficiente de amortecimento 1000 Ns/m). Determinar o máximo deslocamento experimentado pelo conjunto e o tempo que leva o conjunto para atingir esse deslocamento. Resp.: 0,11 m; 0,01 s
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