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Limite e Continuidade - MAT001 Guilherme Henrique Siqueira Camargo 1 Introdução Vamos inicialmente introduzir uma ideia intuitiva sobre o conceito de continuidade, para futuramente apresentar uma definição formal. Intuitivamente, uma função contínua em um ponto p do seu domínio é uma função cujo gráfico não apresenta um �salto� em p. Por exemplo, na Fig 1 temos que o gráfico da função f não apresenta um �salto� em p, portanto, é contínua, note que a medida que x se aproxima de p, tanto pela direita quanto pela esquerda, f (x) se aproxima de f (p). Já o gráfico da função g apresenta um salto em p, portanto g não é contínua em p. Por exemplo, sejam as funções f e g dadas por f (x) = x, g (x) = { 1, x ≤ 1 2, x > 1 . (1) Desse modo, observando os gráficos apresentados na Fig 2, temos que a função f é contínua para qualquer x real, entretanto, g apresenta uma descontinuidade em x = 1. E agora podemos construir uma noção intuitiva sobre o conceito de limite, que será explorado formalmente no futuro. Dizer que o limite de f (x), quando x tende a p, é igual a L significa que quando x tende a p, f (x) tende a L, e escrevemos lim x→p f (x) = L. (2) Por exemplo, o limite de f (x) = x+ 1 quando x tende a 1 será o valor que a função assume quando x se aproxima cada vez mais de 1, que nesse caso será lim x→1 (x+ 1) = 2. (3) Uma informação importante é que no limite temos a variável tendendo ao valor, mas nunca igual. Por exemplo, lim x→1 x2 − 1 x− 1 (4) temos que a função f (x) = x2 − 1 x− 1 está definida para x 6= 1, entretanto, como no limite a variável não atinge o valor exatamente podemos resolver esse limite da seguinte forma. Para x 6= 1, Figura 1: Intuitivamente, temos que a função f é contínua, já a função g não. 1 Figura 2: Temos que a função f é contínua, já a função g não. (a) Quando x tende a p, f (x) tende a f (p). (b) Quando x tende a p, f (x) tende a L. Figura 3: Ilustração da ideia de limite. 2 Figura 4: Temos que apesar da função f (x) = x2 − 1 x− 1 não estar definida em x = 1, mas ainda podemos tomar o limite de x tendendo a 1, obtendo o valor 2. Figura 5: Ilustração do limite de uma função descontínua. lim x→1 x2 − 1 x− 1 = limx→1 (x+ 1) = 2, (5) como ilustrado na Fig. 4. Caso f esteja definida e ainda for contínua em p, então lim x→p f (x) = f (p), e reciprocamente, ou seja f cont´inua em p⇔ lim x→p f (x) = f (p) . (6) E ainda, se lim x→p f (x) = L e se f não for contínua em p, então L será o valor que f deveria assumir caso fosse contínua, como ilustrado na Fig. 5. 2 Definição de Função Contínua Definição 1 Sejam f uma função e p um ponto do seu domínio. Definimos que f é contínua em p se, e somente se, para todo � > 0 dado, existe δ > 0 (δ dependendo de �), tal que, para todo x ∈ D, p− δ < x < p+ δ ⇒ f (p)− � < f (x) < f (p) + �. (7) 3 Figura 6: Ilustração de uma função que não satisfaz a Definição 1. Temos que |x− p| < δ ⇔ p− δ < x < p+ δ, portanto, podemos reescrever a Eq. (7) como |x− p| < δ ⇒ |f (x)− f (p)| < �. (8) Na Fig. 6 temos o gráfico de uma função que não satisfaz a Definição 1, temos que podemos tomar um � > 0 tal que não exista δ > 0 satisfazendo a Eq. (7). Exemplo 1 A função constante f (x) = k é contínua em todo p real. Solução: Temos que |f (x)− f (p)| = |k − k| = 0 < � para todo x e todo p, assim, tomando δ > 0 qualquer temos que a Eq. (8) é satisfeita, portanto, f (x) = k é contínua. Exemplo 2 A função afim f (x) = ax+ b é contínua. Solução: Se a = 0 temos o exemplo anterior, portanto contínua. Vamos supor então a 6= 0, assim, |f (x)− f (p)| = |ax+ b− ap− b| = |ax− ap| = |a| |x− p| . Então, para todo � > 0 dado |f (x)− f (p)| = |a| |x− p| < �⇔ |x− p| < �|a| . Tomando δ = �/ |a|, |x− p| < δ ⇒ |f (x)− f (p)| < �, (9) logo f é contínua em p, e como p foi tomado arbitrariamente temos que f é contínua em todo p real. Exemplo 3 Seja a função g definida por g = { 0, x < 0 1, x ≥ 0 , mostre que g é descontínua em p = 0. Solução: Pela Definição 1, temos que g será contínua se para todo � > 0 existir δ > 0 tal que, p − δ < x < x + δ ⇒ g (p)− � < g (x) < g (p) + �. Tomando p = 0, −δ < x < δ ⇒ g (0)− � < g (x) < g (0) + �. Como g (x) = 0 para x < 0 e g (0) = 1, tomando � = 1/2, para todo δ > 0. Mas para −δ < x < 0 temos g (x) = 0, que não está entre g (0)− 1/2 e g (0) + 1/2. Portanto, não existe δ que satisfaça a Definição 1. 4 Figura 7: Ilustração de quatro possíveis comportamentos distintos de f no ponto p. Exemplo 4 Seja f contínua em p e f (p) > 0. Prove que existe δ > 0 tal que, ∀x ∈ D, p− δ < x < p+ δ ⇒ f (x) > 0. Solução: Como f é contínua em p, então dado � > 0 existirá δ > 0 tal que ∀x ∈ D p− δ < x < p+ δ ⇒ f (p)− � < f (x) < f (p) + �. (10) Como podemos tomar � arbitrário que a Eq. (10) será satisfeita, então vamos tomar � = f (p). Assim, a Eq (10) se torna p− δ < x < p+ δ ⇒ f (p)− f (p) < f (x) < f (p) + f (p) , ou seja, p− δ < x < p+ δ ⇒ f (x) > 0. Exemplo 5 Determine L para que a função dada seja contínua no ponto dado f (x) = { x2−x x , x 6= 0 L, x = 0 , em p = 0. Solução: Para x 6= 0 temos que x 2 − x x = x− 1, portanto, para que f seja contínua temos que L = 0− 1 = −1. 3 Definição de Limite Sejam f uma função e p um ponto em seu domínio ou extremidade de um dos intervalos que compõe o domínio de f , vamos considerar as situações na Fig. 7. Na situação (a) temos que f não está definida em p, mas para todo � > 0 dado, existem L e δ > 0 tais que, para todo x ∈ D, p− δ < x < p+ δ, x 6= p⇒ L− � < f (x) < L+ �, (11) de fato, não importa o valor de �, sempre poderemos tomar um δ com p− δ < x < p+ δ, tal que L− � < f (x) < L+ �. Futuramente vamos explorar melhor o significado da Eq. (11). Na situação (b) temos que f não é contínua em p, mas mesmo assim existe L satisfazendo a Eq. (11), note que a restrição x 6= p é essencial. Na situação (c) temos que f é 5 contínua em p, assim L = f (p) satisfaz a Eq. (11), já que sendo contínua a Eq. (7) é satisfeita. Já na situação (d) não temos L que satisfaça a Eq. (11) para todo �. A Eq. (11) é equivalente a dizer 0 < |x− p| < δ ⇒ |f (x)− L| < �. (12) Temos ainda que quando L existe, ele é único. De fato, vamos supor que L1 e L2 satisfaçam a Eq. (12), então para � > 0 existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que 0 < |x− p| < δ1 ⇒ |f (x)− L1| < �, 0 < |x− p| < δ2 ⇒ |f (x)− L2| < �. Tomando δ = min {δ1, δ2}, então, sendo que |x− p| < δ ⇒ |x− p| < δ1 e |x− p| < δ2, 0 < |x− p| < δ ⇒ |f (x)− L1| < � e |f (x)− L2| < �. (13) Agora, usando que |a+ b| ≤ |a|+ |b|, para todo x tal que 0 < |x− p| < δ |L1 − L2| = |L1 − f (x) + f (x)− L2| ≤ |L1 − f (x)|+ |f (x)− L2| < 2�, (14) portanto, L1 = L2. Assim, o único número L satisfazendo a Eq. (11) será o limite de f (x), quando x tende a p, que será denotado por lim x→p f (x) = L. Definição 2 Sejam f uma função e p um ponto do domínio de f ou extremidade de um dos intervalos que compóem o domínio de f . Dizemos que f tem limite L, em p, se, para todo � > 0 dado, existir δ > 0 tal que, para todo x ∈ D, 0 < |x− p| < δ ⇒ |f (x)− L| < �. (15) Tal número L, que quando existir é único, será indicado por lim x→p f (x) = L. É de extrema importância ter em mente que quando tomamos o limite lim x→p não estamos fazendo nossa variável x igual a p, e sim tendendo a p, portanto, x 6= p. Esse fato será de grande importância quando formos resolver alguns limites. Comparando as Eqs. (8) e (12) temos que f cont´inua em p⇔ lim x→p f (x) = f (p) . (16) 3.1 Propriedades do Limite Se k é uma constante e lim x→p f (x) = L1 e limx→p g (x) = L2, então 1. lim x→p [f (x) + g (x)] = L1 + L2; Temos que |f (x) + g (x)− (L1 − L2)| ≤ |f (x)− L1|+ |g (x)− L2|. Mas pela hipótese, dado � > 0, existe δ > 0 tal que 0 < |x− p| < δ ⇒ |f (x)− L1| < � 2 e |g (x)− L2| < � 2 . Portanto, 0 < |x−p| < δ ⇒ |[f (x) + g (x)]− (L1 + L2)| < �. 2. lim x→p kf (x) = kL1; Se k = 0 então kf (x) = 0, então lim x→p kf (x) = 0 = kL1. Para k 6= 0, dado � > 0 existe δ > 0 tal que 0 < |x− p| < δ ⇒ |f (x)− L1| < �|k| ⇒ |kf (x)− kL1| < �. 6 3. lim x→p f (x) g (x) = L1L2 ; 4. lim x→p f (x) g (x) = L1 L2 , desde que L2 6= 0; 5. lim x→p [f (x)] n = Ln1 ; 6. lim x→p n √ f (x) = n √ L1. 7. Se f (x) = g (x) para todo x 6= p, então L1 = L2, desde que o limite exista. Temos que 0 < |x− p| < δ ⇒ f (x) = g (x), então 0 < |x− p| < δ ⇒ |f (x)− L1| < �⇒ |g (x)− L1| < �, portanto L1 = L2. Exemplo 6 Calcule lim x→p k, onde k é uma constante. Solução: Pelo Exemplo 1 temos que a função constante f (x) = k é contínua. Portanto, usando a Eq. (16), lim x→p k = k. Exemplo 7 Calcule lim x→5 ( 2x2 − 3x+ 4). Solução: Pelas Propriedades 1 e 2 lim x→5 ( 2x2 − 3x+ 4) = lim x→5 ( 2x2 )− lim x→5 (3x) + lim x→5 4 = 2 lim x→5 x2 − 3 lim x→5 x+ 4 = 2× 25− 3× 5 + 4 = 50− 15 + 4 = 39. Exemplo 8 Calcule lim x→1 x4 − 2x+ 1 x3 + 3x2 + 1 . Solução: Temos que lim x→1 ( x4 − 2x+ 1) = 0 e lim x→1 ( x3 + 3x2 + 1 ) = 5 6= 0, portanto podemos usar a Propriedade 4 lim x→1 x4 − 2x+ 1 x3 + 3x2 + 1 = 0 5 = 0. Exemplo 9 Calcule lim x→−1 x3 + 1 x2 + 4x+ 3 . Solução: Temos que lim x→−1 ( x3 + 1 ) = 0 e lim x→−1 ( x2 + 4x+ 3 ) = 0, portanto não podemos usar a Propriedade 4. Mas, como no limite temos x tendendo a −1, mas nunca igual, podemos fazer a seguinte simplificação, sendo x = −1 raiz tanto do numerador quanto do denominador, x3 + 1 x2 + 4x+ 3 = (x+ 1) ( x2 − x+ 1) (x+ 1) (x+ 3) = x2 − x+ 1 x+ 3 . Assim, da Propriedade 7, lim x→−1 x3 + 1 x2 + 4x+ 3 = lim x→−1 x2 − x+ 1 x+ 3 = 3 2 . Exemplo 10 Calcule lim x→0 √ t2 + 9− 3 t2 . Solução: Como nossa função é descontínua em t = 0 não podemos usar a Eq. (16) e sendo lim t→0 t2 = 0 então não podemos usar a Propriedade 4. Assim, usando a Propriedade 7, lim t→0 √ t2 + 9− 3 t2 = lim t→0 √ t2 + 9− 3 t2 · √ t2 + 9 + 3√ t2 + 9 + 3 = lim t→0 t2 + 9− 9 t2 (√ t2 + 9 + 3 ) = lim t→0 1√ t2 + 9 + 3 = 1 6 . 7 Introdução Definição de Função Contínua Definição de Limite Propriedades do Limite
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