Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Manejo da Atopia em Cães Richard G. Harvey - BVSc, PhD., DVD, DipECVD, CBiol, MIBiol, MRCVS Godiva Referrals, Coventry, Inglaterra, Reino Unido Peter Markwell - BSc., BvetMed., MRCVS Waltham Centre for Pet Nutrition, Waltham, Inglaterra, Reino Unido CIÊNCIA PARA CÃES O Dr. Harvey se qualificou na Universidade de Bristol em 1978 e é sócio de uma pequena clínica veterinária locali- zada em Coventry, no sul da Inglaterra (Reino Unido). Ele possui diplomas de doutorado em Dermatologia Veteriná- ria, tanto britânico como europeu. Já publicou trinta ar- tigos científicos, principalmente nos campos de infecções estafilocócicas caninas e nas aplicações clínicas de ácidos graxos poli-insaturados. Recebeu um diploma de doutora- do da Universidade de Bristol no começo deste ano. Peter Markwell obteve seu primeiro diploma em anatomia, pela Universidade de Londres e, subseqüentemente, diplo- mou-se com honras pela Universidade Real, em 1981. Tra- balhou com animais de companhia durante algum tempo, antes de ingressar no corpo docente da Universidade Real de Veterinária, como palestrante sobre criação de animais de companhia na Faculdade de Saúde Animal. Ingressou no Centro de Nutrição de Mascotes de WALTHAM no final de 1985 na função de Conselheiro Veterinário, tornando-se subseqüentemente Nutricionista Principal. Atualmente, ocupa o cargo de Nutricionista Clínico Principal, respon- sável pelas pesquisas e desenvolvimento das Dietas Vete- rinárias WALTHAM. PONTOS CHAVE • Em geral, não é possível evitar contato com o alergênico ou alergênicos associados à atopia. Os sintomas clínicos devem ser suprimidos por medicação. • A doença pode ser levada à remissão com o uso de imunoterapia, embora isto vá requerer a identificação do alergênico ou alergênicos envolvidos, seja por teste de imunoavaliação ligada a enzimas (ELISA), seja por teste in- tradérmico. • Cerca de 40% dos cães responderão à imunoterapia e não precisarão de terapia adjuntiva ou irão precisar de muito pouca. • Cerca de 50% dos cães atópicos irá requerer algum grau de terapia por esteróides — tópica, sistêmica ou ambas. • A maior parte dos cães atópicos se beneficiará de varia- dos tratamentos adjuntivos, a fim de otimizar o micro-am- biente cutâneo e minimizar a dosagem de glicocorticóides necessários para manter a remissão. INTRODUÇÃO A atopia é uma doença comum em cães e é responsável por uma considerável proporção das consultas realizadas em clínicas veterinárias de pequeno porte. O Dr. Nagata revisa a etiologia detalhada, diagnóstico diferencial e as sutilezas do diagnóstico definitivo da atopia neste número de Focus. A imunoterapia, baseada na identificação dos alergê- nicos relevantes, é o tratamento preferencial e pode-se esperar que apresente um bom efeito entre 40% e 50% dos casos — particularmente em cães que apresentem pruridos perenes. Todavia, isto implica que mais ou me- nos 50% dos cães atópicos irá requerer alguma outra for- ma de terapia sintomática e, para a vasta maioria, isto irá consistir em glicocorticóides de uma forma ou de outra. A administração da atopia no cão pode ser considerada segundo duas perspectivas: • Tratamento adjuntivo [agregado, auxiliar], que benefi- ciará todos os cães atópicos; • Terapia anti-prurídica, que deverá ser prescrita de acor- do com o indivíduo. TRATAMENTO ADJUNTIVO Todos os animais apresentam um limiar prurídico. Quando o prurido é percebido como estando acima de seu limiar, o animal se torna prurídico e irá coçar-se. Além disso, um pru- rido é aditivo [cumulativo] (veja Figura 1). Assim, a atopia asso- ciada ao pioderma secundário, mais otite externa produz um desconforto observável. Se, no entretanto, a otite for contro- lada, então a soma da coceira é menor e o cão se sente mais confortável. Se o prurido recair abaixo do limitar prurídico, ou se a atenção do cão for distraída de algum modo, ele irá parar de se coçar. O tratamento adjuntivo é utilizado para manter o prurido tão próximo ao limiar prurídico quanto for possível, de tal modo que a dosagem de glicocorticóides, em particu- lar, seja minimizada. DIETA O tratamento pós-diag- nóstico de um cão atópico deve incluir uma experi- ência de exclusão dietária rigorosa com a duração de, no mínimo, seis semanas, que seja especificamente projetada para verificação da sensibilidade dietária. Figura 2 Cão atópico apresentando pioderma superficial. Figura 1 Má função de barreira associada a um couro cronicamente inflamado. Manejo da Atopia em Cães CIÊNCIA PARA CÃES 2008DEZEMBRO JANEIRO FEVEREIRO Todos os cães atópicos devem ser alimentados com uma dieta nutricionalmente equilibrada e de preparação indus- trial, a fim de garantir um ótimo metabolismo cutâneo. O metabolismo normal da pele requer cerca de 30% da ingestão dietária de proteínas, além dos ácidos graxos, aminoácidos, vitaminas e minerais essenciais [Lloyd, Mar- sh, WALTHAM Focus 1999 9(2), Otimização das condi- ções do couro e da pelagem dos cães]. Existem algumas evidências de que a modificação da dieta possa afetar a dosagem de glicocorticóides necessários para controlar os pruridos. Isto será discutido em maiores detalhes abaixo. MODIFICAÇÃO DO AMBIENTE CUTÂNEO O couro cronicamente inflamado é edematoso, exibe infil- trado inflamatório, apresenta má função como barreira (Fi- gura 2) e perda de água transepidérmica aumentada, além de menor hidratação da superfície (1). Também é prurídi- co. Tanto terapia tópica como sistêmica podem ser de valor na otimização das condições da superfície do couro. XAMPU E OUTRAS TERAPIAS TÓPICAS Os xampus de limpeza removem o suor e a sujeira acumu- lada e podem mesmo aliviar o prurido durante algumas horas. Terapia tópica com umectantes e oclusivos pode ajudar a manter a hidratação epidérmica, ligando as mo- léculas de água ao estrato córneo (função umedecedora) ou recobrindo a superfície e, deste modo, inibindo a per- da percutânea de água (função oclusiva). Umectantes e umedecedores podem também demonstrar-se benéficos após a xamputerapia, particularmente se um xampu de secagem for empregado, por exemplo, o peróxido benzói- co (2). O uso regular de xampus antimicrobianos ajudará a impedir a instalação de pioderma secundário e derma- tite malassezial. TERAPIA DIETÁRIA Por muitos anos se argumentou que os cães com doen- ças dérmicas freqüentemente se beneficiam da adição de “gorduras” em sua dieta. Campbell demonstrou que a adição de óleo de girassol (em dosagens de l,5 mg/kg diá- rias) à dieta dos cães com doenças do couro resultava em uma redução da concentração de mediadores inflamató- rios na epiderme (3). O óleo de girassol e os ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) podem exercer seu efeito anti- inflamatório em uma ou mais de três formas diferentes (4, 5). 1. Otimizando a camada intercelular de lipídios den- tro do estrato córneo, portanto minimizando o fluxo de água percutâneo e aumentando a hidratação superficial. 2. Aumentando a fluidez das membranas celulares, que otimiza a função dos mediadores e receptores celulares. 3. Agindo como precursor dos mediadores anti-inflama- tórios e antagonizando os mediadores inflamatórios. Esta última função é mais particularmente atribuída aos PUFA, tais como os ácidos linoleico e di-homogamalinoleico e a certos óleos de peixe, que serão discutidos abaixo. To- davia, se um cão atópico não conseguir mostrar resposta positiva a uma suplementação específica de PUFA, pode ainda valer a pena acrescentar óleo de girassol à sua die- ta, particularmente quando é alimentado com uma dieta completa de ração seca e baixa concentração de lipídios. Um outro benefício pode derivar de suplementos de áci- dos graxos. Os ácidos graxos dietários se incorporam aos lipídios epidérmicosou sebáceos e se isto conduzir a um aumento da concentração superficial destes lipídios, pode auxiliar na prevenção do pioderma estafilocócico. Os es- tafilococos positivos à coagulase são mais sensíveis aos áci- dos graxos EFA do que os membros negativos à coagulase da flora cutânea normal. CONTROLE DE ECTOPARASITAS Ectoparasitas, particularmente pulgas, devem ser rigorosa- mente controlados. Os cães atópicos são predispostos ao desenvolvimento de hipersensibilidade a mordidas de pul- gas. Além disso, a hipersensibilidade a mordidas de pulgas é uma das causas de prurido e soma-se à carga geral pru- rídica dos cães atópicos. Um controle rigoroso das pulgas é obrigatório. Qualquer infestação com um ectoparasita (sarna, em particular) provavelmente provocará uma res- posta mais prurídica em um cão atópico do que em um indivíduo normal, porque aqueles já vivem próximo a seus limiares prurídicos. Não é necessário um grande estímulo para impulsionar o prurido além do limiar. CONTROLE DE INFECÇÕES BACTERIANAS SECUNDÁRIAS Mudanças nos lipídios superficiais e alterações no grau de acidez da superfície favorecem o aumento da carga de estafilococos na pele lesionada atópica (6). Um aumento na permeabilidade epidérmica facilita a passagem percu- tânea de toxinas bacterianas, que aumentam ainda mais as inflamações cutâneas. [Mason, WALTHAM Focus 1997 7(4), Pioderma superficial canino]. Embora cães mantidos em dosagens baixas administradas em dias alternados de prednisolona, prednisona ou metilprednisolona (PPMP) não transportem no couro mais estafilococos do que cães normais (7), podem sofrer mesmo assim de pioderma. Sem dúvida, o pioderma secundário é a razão mais comum para um atópico estável exibir um aumento de prurido (Figura 3). Isto pode ser difícil de diagnosticar, uma vez que os gli- cocorticóides sistêmicos suprimem a inflamação associada com o pioderma e as papilas eritomatosas podem ser difí- ceis de detectar. Uma infecção bacteriana declarada deve ser tratada com agentes antibacterianos sistêmicos e xam- pus antibacterianos. Regimes regulares de xampus man- têm o couro limpo e reduzem a quantidade de nutrientes bacterianos existentes na superfície do couro. Os cães tratados a longo prazo e em dias alternados com PPMP podem desenvolver cistite oculta (8). Os sinais clássicos de cistite bacteriana (tensão, micções freqüentes) podem não ser observados porque os glicocorticóides reduzem a infla- mação dentro da bexiga. Foi recomendado que cães trata- dos com PPMP a longo prazo sejam sujeitos a cistocênteses de rotina (8) e que a amostra seja subseqüentemente sub- metida a testes de cultura bacteriana e sensibilidade. CONTROLE DE PAQUIDERMATITE DE MALASSEZIA Alguns cães transportam quantidades aumentadas de leveduras no couro [Bond, WALTHAM Focus 1997 7(2), Paquidermatite de Malassezia e doenças do couro canino] e alguns cães atópicos transpor- tam quantidades maiores de leveduras no couro em comparação com os cães normais, embora o relacio- namento entre leveduras e atopia não esteja ainda claro. A dermatite paqui- dermática de Malassezia (Figura 4) se encontra associada a um prurido intenso, que pode não responder bem a glicocorticóides sistêmicos. Xampus anti-malassezianos (por exemplo, miconazol ou ketoconazol) são, em geral, curativos. Todavia alguns, se bem que nem todos os cães, podem requerer a aplicação regular de xampus anti-malassezianos como parte de seu programa adjuntivo regular. OTITE EXTERNA E ATOPIA A Otite Externa crônica, inicialmente ceruminosa, encon- tra-se comumente associada à atopia (Figura 5). Uma pe- quena proporção (freqüentemente citada como sendo de 5%) dos cães portadores de atopia exibe somente otite ex- terna unilateral ou bilateral. Muitos cães também exibem lesões hiperplásticas nos aspectos côncavos das pinas (Fi- gura 6). A otite externa crônica pode ser associada com a otite mediana — sem dúvida, acredita-se ser sua principal causa subjacente. Uma otite externa não resolvida pode aumentar consideravelmente a carga prurídica de um cão atópico e deve ser controlada com medicamentos anti- otíticos tópicos apropriados. O reconhecimento de que a atopia é a causa subjacente de um caso de otite crônica é importante, uma vez que uma simples ressecção da pa- rede lateral provavelmente não será eficaz para resolver o problema (Figura 7). Uma ablação do canal vertical tem melhores probabilidades de indicação. Uma alergia sub- jacente não reconhecida (em geral, atopia) é uma das cau- sas mais comuns para o fracasso da ressecção da parede lateral, presumindo-se que o seu objetivo seja o de aliviar a otite externa. TERAPIA ANTI-PRURÍDICA IMUNOTERAPIA ESPECÍFICA A imunoterapia é o tratamento preferen- cial para os cães pe- renemente afetados. Pode-se antecipar que de 40% a 50% dos cães atópicos ou mesmo mais deles respondam bem a imunoterapia (9, 10). Os protocolos para administração da imunoterapia e a natureza do coadju- vante e da escala de aplicação de injeções ainda são assunto para discussão porque, por enquanto, não foram realizados estudos cegos comparativos. Além disso, não existe uma clara concordância com referência àquilo que torna um paciente em “bom respondente” e isto faz com que a comparação das várias publicações se torne difícil. Todavia, se os bons respondentes forem definidos somente como aqueles animais que não reque- rem suplementação com glicocorticóides, então a taxa de resposta provavelmente cai para 30% ou 40% no má- ximo. Não obstante, a maioria dos proprietários aceitará a imunoterapia com base de uma possibilidade de 40% de eliminação da necessidade de futura terapia por gli- cocorticóides. A imunoterapia é, em grande parte, livre de efeitos colaterais, é econômica, custo-efetiva (parti- cularmente para cães de grande porte) e logisticamente exige pouco do cliente. Idealmente, os cães serão julga- dos como respondentes se, depois de seis a oito meses de terapia, atingirem a remissão (isto é, não é requerida a aplicação de glicocorticóides sistêmicos). Alguns clínicos CIÊNCIA PARA CÃES Manejo da Atopia em Cães Figura 3 Cão atópico portador de dermatite paquidermática de Malassezia. Figura 4 Vista otoscópica de mudanças hiperplásticas iniciais dentro do canal auditivo externo. se dão por satisfeitos em aceitar somente uma resposta parcial à imunoterapia, julgando que uma redução signifi- cativa dos requisitos de administração de glicocorticóides seja melhor do que nenhuma redução. Todavia, pode ser difícil persuadir disto os clientes e a questão permanece de avaliação subjetiva. Um pré-requisito da imunoterapia é a identificação dos alergênicos, o que requer testes in- tradérmicos do couro ou a mensuração de titulação [aná- lise volumétrica] do lgE circulante por processos in vitro e a correlação destes com a história clínica. Deste modo, poder-se-ia esperar que uma história de prurido regular e sazonal no verão se correlacionasse com titulações de- monstráveis de lgE ou sensibilidade intradérmica ao pó- len das festucas [gramíneas], por exemplo. A indução da imunoterapia é atingida pela administração de uma série de injeções, em geral a intervalos mensais, que pode levar de seis a oito meses. Durante o período de indução, pode- se tornar necessário administrar dosagens baixas de PPMP a dias alternados, a fim de controlar os piores efeitos do prurido. Se a remissão não tiver sido atingida após nove meses de terapia, provavelmente não ocorrerá mais tarde e se tornará necessário um controle sintomático. Se a in- dução da remissão efetivamente ocorre, deve ser mantida por meio de injeções regulares de imunoterápico, tipica- mente a intervalos de quatro a oito semanas. Em muitos casos, os clientespodem realizar as injeções de manuten- ção em seus lares, uma vez que o volume de cada injeção é constante. CONTROLE SINTOMÁTICO DO PRURIDO O controle sintomático do prurido com PPMP, anti-histamíni- cos ou PUFA pode ser indicado em duas situações clínicas: • Controle de prurido dependente da indução de remissão dentro da imunoterapia; • Controle de prurido nos 60% dos cães que não conse- guem obter remissão com imunoterapia ou nos casos em que a imunoterapia não foi escolhida. GLICOCORTICÓIDES A maioria dos cães atópicos responderá a baixas dosagens de PPMP administradas em dias alternados e a longo pra- zo, mediante doses de 0,2 a 0,5 miligramas por quilograma de peso. Em alguns indivíduos, será possível controlar o prurido com administração oral de PPMP duas vezes por semana durante as estações mais frescas do ano. Inicial- mente, os cães podem ser tratados com 0,2 a 0,5 mg/kg duas vezes por dia durante três a sete dias, a fim de su- primir o prurido. A dosagem é então reduzida para uma aplicação diária, por um novo período de três a dez dias e depois reduzida novamente para um regime de dias alter- nados, Em muitos casos, pode ser possível acelerar a pas- sagem para a dosagem menor e o regime de medicação a dias alternados pode ser atingido de sete a dez dias nos referidos animais. Uma falha na resposta adequada deve indicar reavaliação do diagnóstico — haverá presença de pioderma ou de dermatite paquidermática de Malassezia? Os princípios de diagnóstico diferencial para o prurido esteróide-refratário encontram-se listados na Tabela 1. A maioria dos cães que recebem PPMP oral em baixas dosa- gens e dias alternados a longo prazo irá sofrer de poucos efeitos colaterais, além de poliúria transitória (durante a indução) e algum acréscimo de peso, tipicamente de 5% a 10% em cães de tamanho médio (segundo as observações dos autores). A maioria dos proprietários se demonstra capaz de ajustar a dosagem (e muitos o fazem de forma regular) a fim de tomar em consideração os fatores climá- ticos e de administração que permitem uma redução na dosagem — por exemplo, os cães mais ativos raramente demonstram evidências de pruridos. Inversamente, se os cães estão sujeitos a períodos de inatividade e o clima é quente e úmido, terão uma probabilidade maior de de- monstrar reações a pruridos. Esta resposta subjetiva ao prurido é uma razão por que muitos proprietários relatam uma redução marcada no prurido quando levam seus cães em férias, porque o aumento da atividade mental e física resulta em uma percepção reduzida da coceira. A admi- nistração de PPMP em dosagens de 0,2 a 0,5 miligramas por quilograma de peso em dias alternados não é imunos- supressora e os cães responderão tanto à vacinação anual como à imunoterapia. Foi recomendado (11, 12) que o protocolo de dias alternados, em conjunção com a meia- vida curta dos efeitos (menos de 24 horas) resulte em um estabelecimento menos severo e menos rápido de hipera- drenocorticismo iatrogênico. Todavia, trabalhos recentes demonstraram que a administração de prednisolona em dias alternados (a dosagens de um miligrama por quilo- grama de peso) tem efeito real sobre o eixo pituitário- adrenal e mudanças na resposta ao hormônio adrenocor- ticotrópico [ACHT] administrado exogenamente foram demonstradas (12). Todavia, as concentrações endógenas do ACHT no plasma não foram significativamente diferen- tes das apresentadas pelos controles não-tratados. Deste modo, um tratamento a dias alternados com PPMP não é isento de riscos, mas a severidade da supressão adrenal é menor e a taxa de estabelecimento muito mais lenta do Manejo da Atopia em Cães CIÊNCIA PARA CÃES 2008DEZEMBRO JANEIRO FEVEREIRO CIÊNCIA PARA CÃES Manejo da Atopia em Cães que quando o tratamento é administrado em base diária. Alguns animais são extremamente sensíveis até mesmo às menores doses de glicocorticóides exógenos, enquanto outros parecem quase refratários a efeitos colaterais. Cada caso, portanto, deve ser tratado em base individual. Os proprietários devem ser informados de que mesmo dosa- gens muito baixas de PPMP podem resultar em hiperadre- nocorticismo iatrogênico. Testes bi-anuais de estimulação do ACTH têm sido recomendados. Se um cão atópico é submetido a um bom controle e mesmo assim se demonstra perceptivelmente mais pru- rídico, a razão mais provável para isso será uma infecção microbiana secundária ou uma infestação ectoparasitária. Portanto, as dosagens de glicocorticóides não deverão ser aumentadas. Em vez disso, deve-se examinar o animal em busca de parasitas e prescrever um xampu antimicrobiano com agentes antibacterianos sistêmicos. Anti-histamínicos — Classificação parcial, exemplos e sumário de recomendações Classe de medicamento Exemplo Dosagem Sinergia com PUFA? Etanolaminas Clemastina 0,05-0,15 mg/kg bid [bis in diem], duas vezes ao dia Sim Piperazinas Hidroxizina 2,2 mg/kg tid [tre in diem], três vezes ao dia Sim Alquilaminas Clorfenid- ramina 4 a 8 mg/kg tid Sim Fenotiazinas Trimeprazina 0,5-2 mg/kg bid Sim Key-PUFA / Ácidos graxos poli-insaturados — bid q [quartus], quartil a cada 12 horas; Tid: q a cada 8 horas PUFAS Os PUFAS [ácidos graxos poli-insaturados ou não-sa- turados] podem ser usadas com sucesso no controle de prurido em cães atópicos em uma certa proporção de ca- sos. Estudos clínicos e estu- dos duplo-cegos com óleo de semente de borragem, óleo de prímula amarela e diversos óleos de peixes consistente- mente demonstraram os efeitos benéficos destes agentes (13, 14, 15). A terapia com PUFA parece ser responsiva à dosagem. Não obstante, deve ser observado que os es- tudos que relataram boas respostas à terapia com PUFA foram justamente os estudos em que as dosagens mais elevadas de PUFA foram administradas (16). Não é fácil predizer quais animais irão responder, embora seja mais fácil prever que aqueles apresentando infecções se- cundárias ou inflamações cutâneas severas são o irão. Deste modo, todos os esforços devem ser empregados para supri- mir as infecções e fornecer “um campo de ação limpo”, antes que venham a ser empregados. Para isto, pode-se necessitar de algumas semanas de aplicação de PPMP, caso o couro se demonstre cronicamente inflamado. Freqüentemente, há um período de espera antes que os EFAS [ácidos graxos esteróides] possam exercer seu máximo efeito. Embora a duração deste período seja variável, é prudente estimar um período de, pelo menos, dois meses antes de se julgar que não houve resposta ao suplemento. Deste modo, proprietá- rios e clínicos devem ser advertidos a não esperar resultados dramáticos. O uso concorrente de um ou de vários anti-his- tamínicos pode revelar efeitos sinergísticos em alguns cães (17), como será descrito abaixo. De forma semelhante, o emprego de EFAS em conjunção com PPMP pode permitir uma redução na dosagem de glicocorticóides necessária para controlar o prurido. ANTI-HISTAMÍNICOS O uso de anti-histaminas para controlar a atopia em cães está sendo continuamente reavaliado. Indubitavelmente, uma das razões principais para sua má reputação é o fato de que existem oito diferentes grupos de anti-histamínicos químicos. O fracasso de um não implica necessariamente que nenhum venha a ser efetivo e o clínico é aconselhado a tentar vários — pelo menos um de cada uma das oito classes. A clemastina, a clorfeniramina e a hidroxizina são provavelmente os mais úteis (17, 18). Além disso, alguns anti-histamínicos parecem apresentar efeitos sinergísticos com os PUFAS e glicocorticóides (19), conforme é mos- trado na Tabela 2. Deste modo, com a devida paciência, pode ser possível identificar um regime medicamentoso que combine PUFAS com anti-histamínicos e que seja capazde efetivamente suprimir o prurido, aliviando os requisitos de PPMP. ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR A DOSAGEM DE GLICOCORTICÓIDES A maioria dos cães portadores de atopia expressa prurido entre modesto e importante, variando de dia para dia. En- Figura 5 Lesões hiperplásticas no aspecto côn- cavo da pina e na região distal do canal auditivo externo. tretanto, o prurido, em geral, não interfere com suas ativi- dades normais. Assim, eles não ficam se coçando a noite inteira, raramente se coçam enquanto se exercitam e nun- ca se coçam nos consultórios. As variações individuais de- vem ser observadas e este é o motivo por que a admi- nistração deve ser adaptada ao indivíduo. Esta variação na apresentação do prurido é uma das razões por que o PPMP em base de dias alter- nados apresenta tanto suces- so. Permite aos proprietários reagirem rapidamente a fato- res que possam facultar uma redução nas dosagens ou, conversamente, lhes permite de EFA ou de anti-histamínico irá permitir maior redução. Em alguns caso, uma diminuição significativa da dosagem necessária de PPMP poderá ser obtida, mesmo em casos nos quais o controle com EFA ou anti-histamina individu- almente ou em combinação não tenha se demonstrado adequado. Em adição à suplementação com PUFA, outros fatores dietários podem ser adjuntos importantes à terapia, po- tencialmente reduzindo os requisitos de corticosteróides. Isto foi ilustrado por um estudo clínico conduzido com cães atópicos e usando uma dieta enlatada comercial cujas fontes de proteína eram limitadas a carne de frango e arroz (20). Doze cães atópicos perenemente afetados e mantidos em remissão clínica mediante terapia de predni- solona oral, em baixas dosagens e a dias alternados foram inscritos em um estudo aberto e cruzado de seis meses de duração (20). A dosagem de prednisolona tinha sido mantida em grande parte estável e os cães alimentados com uma certa variedade de dietas comerciais durante os dois meses anteriores ao período abrangido pelo estudo. Nenhum dos cães havia demonstrado qualquer melhora durante uma experiência de três semanas com uma dieta preparada em casa e restrita a frango, arroz e água. Os cães foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos e alimentados ou com Dieta de Proteínas Selecionadas PE- DIGREE (frango e arroz) ou com uma dieta de Controle, que consistia em alimentos enlatados com base princi- palmente em peixe, farinha de milho e trigo. Cada dieta foi administrada durante três meses antes de ser cruzada, ocasião em que as dietas foram revertidas. Os cães foram avaliados a cada quatro semanas com relação à dosagem de prednisolona necessária para controlar seus sinto- mas clínicos e também para uma classificação clínica de prurido, eritema, edemas interdigitais, alopecia, traumas auto-induzidos e condições da pelagem. A dosagem de prednisolona e as classificações clínicas totais foram sig- nificativamente reduzidas (p < 0.05) quando a Dieta de Proteínas Selecionadas PEDIGREE foi administrada aos cães, em comparação com aqueles que receberam a die- ta de controle (Figura 8). O nutriente ou nutrientes, ou matérias-primas responsáveis por estas diferenças não puderam ser identificados neste estudo, o que significa que novos estudos são necessários. Não obstante, estes dados indicam que a dieta — particularmente de uma fonte limitada de proteínas e de uma dieta relativamente alta em gorduras — pode apresentar impacto significativo sobre a administração da atopia canina, conforme medido pelas mudanças na dosagem de drogas anti-inflamatórias requeridas para manter a remissão dos sinais clínicos. Por- tanto, a mudança para uma dieta deste tipo deve ser con- siderada como uma nova forma de terapia adjuntiva. 0 4 8 12 16 20 24 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 Mudanças Dietárias Número de semanas Pr ed [p re di ca tu s] ,p re vi sã o m ili gr am as p or qu ilo gr am as e p or se m an a Grupo 1: PEDIGREE Dieta de proteínas selecionada para 12 semanas, seguida por dieta controlada. Grupo 2: CONTROLE Dieta de controle por 12 semanas, seguida por PEDIGREE. Dieta de proteínas selecionada. aumentar a dose durante períodos curtos, a fim de evitar recaídas sérias. Assim que o prurido se encontra mais ou menos sob controle e a dosagem de PPMP se tornou mais ou menos constante, é possível avaliar se um suplemento Figura 6 Fracasso da ressecção da parede lateral. O cão apresenta atopia e a inflamação crônica das paredes medianas não- resseccionadas do canal auditivo externo não permitiu a resolução da otite externa. Manejo da Atopia em Cães CIÊNCIA PARA CÃES 2008DEZEMBRO JANEIRO FEVEREIRO Figura 6 O efeito dietário sobre a dosagem de glicocorticóides necessários para o controle da atopia. Dosagem média semanal de prednisolona em 12 cães atópicos alimentados com um de duas dietas. CIÊNCIA PARA CÃES Manejo da Atopia em Cães SUMÁRIO Há boas evidências para sugerir que os cães atópicos apre- sentam melhores condições, requerem a administração de menos esteróides e sofrem de menos complicações quando se encontram sob os cuidados de um dermatolo- gista (9). Isto se deve em parte porque os dermatologistas lidam com os casos que lhes são encaminhados quando a motivação do proprietário é boa e, em parte, porque entendem as complexidades da doença e de suas com- plicações secundárias. Não há razão por que clínicos de cuidados gerais não possam obter resultados igualmente bons (medidos pela prescrição de doses mínimas de glico- corticóides), desde que disponham de boa motivação de seus clientes, boa comunicação com eles e uma visão clara do que pode ser obtido. Fonte: WALTHAM Centre for Pet Nutrition Leicestershire - Inglaterra 2008DEZEMBRO JANEIRO FEVEREIRO Em todas as espécies de mamíferos, há evidências que indicam que o envelhecimento está associado com um declínio do gasto total de energia. O Dispêndio Total de Energia {TEE ou DTE) inclui a taxa de metabolismo basal (BMR ou TMB), a termogênese induzida pela dieta (DIT ou TID) e o gasto de energia durante as atividades físicas; deste modo, uma redução de qualquer um destes elemen- tos pode contribuir para uma redução do dispêndio total de energia. Em humanos de mais idade, o dispêndio total de energia pode ser reduzido de até 20%, com mais de metade deste decréscimo sendo causado pela redução da atividade física. O gasto de energia em repouso (REE ou GER) pode diminuir de até 36%. Embora não exista um relacionamento aparente entre a idade e a termogênese induzida pela dieta, foi estimado que a taxa de metabolis- mo basal nos humanos decresce aproximadamente de 1% a 2% por década de existência entre a segunda e a sétima décadas da vida, um fenômeno que pode ser grandemen- te explicado por reduções da massa corporal magra [espe- cialmente muscular ou óssea]. De forma semelhante, o envelhecimento dos cães parece estar associado a um declínio do dispêndio total de ener- gia da ordem de aproximadamente 20%, o que se deve tanto a uma diminuição do exercício quando a decrésci- mos relacionados com a idade da proporção entre a massa corporal gorda e magra. Guias de alimentação para cães mais velhos em geral recomendam uma redução do con- sumo de energia e, até recentemente, foi presumido que os gatos mais velhos poderiam também apresentar uma diminuição em seus requisitos de energia. Todavia, há evidências crescentes que vem sugerindo que o caso não é este, uma vez que, diferentemente dos cães e dos huma- nos, os gatos parecem ser relativamente inativos durante toda a sua vida adulta, mantendo, portanto, uma taxa de metabolismo basal e uma proporção entre a massa corpo- ral gorda e magra constantes.Recentes pesquisas realiza- das em WALTHAM investigaram o gasto de energia em re- pouso em gatos jovens e velhos, empregando calorimetria indireta do corpo inteiro. Doze gatas adultas castradas (seis com menos de cinco anos e seis com mais de onze anos) foram alimentadas com ração felina padronizada durante as vinte semanas anteriores e durante a experiên- cia. Para cada fêmea, o consumo de oxigênio e a produ- ção de dióxido de carbono foram monitorados durante o período de pós-absorção durante um período de 15 horas em um calorímetro e, a partir dos resultados, calculou-se seu gasto de energia em repouso. Dois estudos foram re- alizados com cada gata e o gasto de energia em repouso médio foi calculado. A composição corporal, inclusive a massa de gordura livre (FFM ou MGL) foi avaliada através do emprego de Absorciometria Dual de Energia por meio de Raios X (DXA). As gatas jovens e velhas não demons- traram diferenças significativas em seu consumo diário de alimentos. Não se detectaram diferenças significativas na massa de gordura livre entre as gatas jovens e idosas, nem em seu peso absoluto, nem como percentagem da massa corporal total (Tabela 1). O gasto de energia em repouso (expressado por quilogramas da massa de gordura livre, a fim de comparar as gatas em uma massa metabólica de te- cidos equivalentes) não mostrou diferenças significativas entre as gatas jovens e as idosas (Tabela 1) Estes resultados sugerem que o gato tem uma constituição peculiar em comparação com outras espécies de mamífe- ros, no sentido de que o gasto de energia em repouso não parece declinar com a idade e de que isto se encontra liga- do a uma massa corporal magra relativamente constante através das idades. A prática de alimentar gatos mais ve- lhos com uma quantidade reduzida de alimento pode ser portanto mal orientada, salvo quando o gato está obeso; o conselho a ser dado aos proprietários de felinos deveria ser o de alimentar os gatos idosos no mesmo nível de ener- gia que os gatos adultos jovens. Todas as evidências até o presente apóiam o ponto de vista de que a atividade cons- tante dos gatos através de sua vida adulta seja um fator significativo na manutenção da composição de seu corpo e do seu gasto de energia em repouso. O Envelhecimento e o Dispêndio de Energia Pelos Gatos. Waltham Centre For Pet Nutrition CIÊNCIA PARA GATOS
Compartilhar