Buscar

Sistema Público de Comunicação no Brasil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 32 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 32 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 32 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

SiStema público
de comunicação
no braSil:
aS conquiStaS e
oS deSafioS
2
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
S i S t e m a p ú b l i c o d e c o m u n i c a ç ã o :
o q u e é e p a r a o q u e S e r v e ?
É possível encontrar diversos conceitos ou definições acerca do que podemos chamar de sistema público de 
comunicação, seja em livros, pesquisas ou documentos oficiais. Geralmente, evoca-se o horizonte educativo e 
cultural inerente a estas mídias. Em outros momentos, enfatiza-se o fato de serem empresas não-comerciais. 
Há ainda a noção de que mídia pública é aquela que cumpre o papel de dar visibilidade ao debate público, 
sendo autônoma em relação ao mercado e também livre das amarras ou das ingerências governamentais. Essas 
variadas ênfases ou visões são fruto das influências que a idéia de comunicação pública absorveu em seu per-
curso histórico durante boa parte do século XX.
A definição atual de “mídia pública” incorpora essas facetas e sustenta algumas outras características relevan-
tes, algo que podemos resumir nos seguintes termos: mídia pública é um meio de comunicação onde não se 
prevê atividade comercial direcionada à obtenção de lucro para proprietários particulares ou acionistas pri-
vados e que apresenta, simultaneamente, algum nível de participação pública em seu gerenciamento. Quanto 
mais autônoma em relação ao mercado, quanto mais livre de ingerências governamentais e quanto mais aberta 
e predisposta à participação do cidadão, mais forte e qualificado é o adjetivo “público”.
Quando se fala em sistema público de comunicação pensa-se justamente em um conjunto de mídias públicas 
(nos diversos suportes como rádio, televisão, internet etc.) que operam de modo integrado e sistêmico, tendo 
como horizonte o interesse dos cidadãos.
Para o professor da Universidade de São Paulo (USP), sociólogo, jornalista e doutor em Ciências da Comunica-
ção Laurindo Leal Filho – um dos pioneiros na pesquisa sobre mídia pública no Brasil – este não é um conceito 
fechado. “Em princípio, todo o sistema de comunicação deveria ser público, uma vez que a sua missão é pres-
tar um serviço público. Nesse sentido, poderiam até variar as formas de financiamento, mas o controle deve 
3
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
ser da sociedade. De algum modo, é o que acontece em alguns países onde órgãos reguladores estabelecem as 
diretrizes para o todo o setor das comunicações eletrônicas. De maneira mais restrita, costumamos chamar de 
público o sistema não-comercial e, de alguma forma, independente do Estado. E aí temos inúmeras nuances: 
de sistemas ditos públicos, mas que sofrem forte controle estatal, até outros onde essa relação é tênue”, explica 
Leal Filho, que também exerce a função de ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
É possível apontar duas dimensões que podem ser determinantes para caracterizar uma mídia pública: a ori-
gem do financiamento e o seu modo de gestão. 
Se os recursos financeiros que sustentam uma instituição de mídia originam-se fundamentalmente na comer-
cialização de sua audiência no mercado publicitário, seu perfil terá dificuldades em se encaixar na noção de 
mídia pública (ainda que, ressalte-se, este opere um serviço público através de uma concessão pública, como 
ocorre com o rádio e TV).
Se a gestão desta instituição estiver restrita às decisões de proprietários privados com fins comerciais ou sub-
metida a estruturas governamentais, também há objeções para defini-la como pública. Ao mesmo tempo que 
uma rádio, TV ou agência de notícias pública necessitam de autonomia frente ao mercado, precisam também 
de autonomia face às influências políticas governamentais para cumprir o seu papel de servir ao interesse dos 
cidadãos.
Meios de comunicação de massa financiados por dinheiro público e livre do controle privado comercial têm 
sido um modelo de comunicação bastante explorado e consolidado na maioria das democracias modernas. 
Trata-se de algo tão antigo quanto o próprio surgimento da TV e do rádio. Diversos países sustentam hoje 
robustas corporações de mídia pública que concentram substancial fatia da audiência e são reconhecidas pela 
qualidade no conteúdo que produzem e transmitem. Uma das mais antigas em operação é a BBC do Reino 
Unido, criada nos anos 1920. A BBC tem servido como um modelo para muitas outras experiências que surgi-
ram durante todo o século passado.
Do ponto de vista da legitimidade e relevância, os sistemas públicos de comunicação operantes hoje no mundo 
sustentam um alto grau de aprovação social. Segundo pesquisa realizada no ano de 2006 em sete países (Fran-
ça, Coréia do Sul, Alemanha, Reino Unido, Itália, Estados Unidos e Japão) pelo Instituto NHK de Pesquisa em 
Radiodifusão (NHK Broadcasting Culture Research Institute), 4 em cada 5 cidadãos consideram necessário 
existir um sistema público de comunicação. Em países como Alemanha, Japão e Reino Unido – onde há co-
brança de imposto específico que financia mídias públicas – 60% dos entrevistados consideraram importante 
pagar este tipo de tributo para sustentar tais corporações. 
No Brasil, falar em mídia pública parece não despertar a mesma simpatia. Isso ocorre devido ao fato de o deba-
te sobre o tema ter sido apagado durante quase todo o século XX. Não por acaso o país desenvolveu um sistema 
de comunicação de perfil majoritariamente comercial – principalmente sob o incentivo do regime militar após 
os anos 60 – e relegou o projeto de um sistema público de comunicação ao esquecimento, subsistindo apenas 
através de algumas experiências isoladas. Como explica o professor da Universidade de Brasília (UnB) e dou-
tor em Comunicação pela Universidade de Missouri-Columbia (EUA), Murilo César Ramos, a radiodifusão 
4
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
no Brasil nasceu pública, na forma da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada por Edgard Roquette-Pinto 
e Henrique Moritze em 1923, mas foi muito cedo transformada em um sistema comercial lucrativo. “Assim, 
quando a televisão chegou, nos anos 1950, já chegou comercial, privatizada e desregulamentada ao extremo, e 
assim permanece até hoje. O público não-comercial sempre foi marginal e assim permanece até hoje, apesar da 
esperança que foi – e é – a criação da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, e a constituição da Associação 
das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais, a Abepec”, analisa Ramos, que também é membro do Conselho 
Curador da EBC.
O fato deste debate ter sido abafado ao longo dos anos fez com que, no Brasil, pouco se saiba sobre o real papel 
da mídia pública, fazendo vingar uma visão distorcida a seu respeito. “A sociedade brasileira convive com o 
modelo comercial achando que ele é único, o que impede qualquer reivindicação transformadora. As iniciati-
vas de radiodifusão pública que surgem a partir do final da década de 1960 no Brasil são tímidas e sem forças 
para concorrer com o modelo hegemônico estabelecido. Sofrem da falta de recursos, das ingerências político-
partidárias e da ausência de programas de ação de médio e longo prazo. Além das pressões abertas ou veladas 
dos radiodifusores comerciais contra uma possível concorrência do modelo público”, acrescenta o professor 
Laurindo Leal Filho.
Para Murilo César Ramos, a consolidação da democracia no Brasil passa pelo desenvolvimento de um sistema 
público de comunicação. “É absolutamente essencial. É, junto com o fortalecimento das organizações sociais 
de base e do sistema político, a chave para a democratização social crescente em todo o mundo. O fortaleci-
mento da radiodifusão pública é um dos grandes desafios, se não o maior, das políticas de comunicações no 
Brasil”, ressalta.
Independência e autonomia
“O modelo de serviço público foi baseado na idéia de que nem o mercado nem o Estado 
poderiam satisfazeradequadamente os objetivos do serviço de radiodifusão e agir pelo 
interesse público; na verdade, sentiu-se que o interesse público não coincide nem com 
interesses privados ou com interesses dos poderes políticos constituídos.” (Relatório da 
Unesco de 2001, intitulado “Radiodifusão pública: Porque? Como?” [Public Broadcasting: 
Why? How?])
Comunicação pública como contraponto
“A radiodifusão pública aparece em muitos países, especialmente na Europa, como um 
contraponto ao poder que o privado poderia ter sobre o público em razão dessa posição 
assimétrica. A comunicação pública tem servido, nos países democráticos, como parâmetro 
de competência e credibilidade no trato da informação.” (César Ricardo Bolaño, Universidade 
Federal de Sergipe)
5
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Produção independente
“Só há um fortalecimento do campo público de comunicação se houver uma aproximação 
estreita com a área cultural e o segmento da produção independente de conteúdos 
audiovisuais. Quanto mais a produção for concentrada nas emissoras, mais dificuldade 
teremos. Temos que fazer essa parceria com os produtores independentes. Agora, sem perder 
de vista que há uma linguagem que é característica da TV.” (Regina Lima, Abepec)
Mais gente produzindo, mais diversidade
“Aposto mais no micro que no macro. Não quero dizer que não deva haver previsão 
de investimentos do orçamento e de fundos privados em produção de programas e 
programações de maior amplitude, mas preferia que houvesse mais incentivo a iniciativas 
mais pontuais, mais locais, como vem sendo feito aos poucos nos Pontos de Cultura, em 
algumas escolas e comunidades com o apoio de ONGs e/ou prefeituras. O investimento 
para a democratização da mídia é de longo prazo, exige uma mudança de comportamento 
em relação ao meio. Quanto mais gente produzindo hoje, mais diversidade e qualidade 
teremos em alguns anos. Mas isso tem que ser uma política nacional, que envolva recursos 
federais estaduais, municipais e privados.” (José Edgard Rebouças, Universidade Federal do 
Espírito Santo)
Programação da TV pública
“O II Fórum Nacional de TVs Públicas reivindica: - Formação e qualificação técnica e 
em gestão dos profissionais de comunicação e telecomunicação do campo público de 
televisão; - Fomento à estruturação de grupos de trabalho permanente, com formato 
de laboratório e participação de todas as vertentes do campo público de televisão, para 
a realização de pesquisa e desenvolvimento em inovação de linguagem, em conteúdos 
para convergência digital, criação de novos formatos de programação elaborados a 
partir das possibilidades interativas do público com a TV digital, multiprogramação, 
acessibilidade e usabilidade do controle remoto usado como miniteclado; - Fomento 
à produção independente, através da construção compartilhada com produtoras 
independentes, TVs Públicas, Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do 
Audiovisual, e Agencia Nacional de Cinema (Ancine) de editais públicos específicos 
que considerem a vocação do campo público de televisão; - Fomento à produção 
cidadã, de conteúdos realizados diretamente pela sociedade, mediante a incorporação 
de modelos de produção audiovisual baseados na cultura colaborativa, compartilhada e 
participativa; - Fortalecimento e abertura de espaços para a veiculação dessas produções 
nas TVs do campo público, além da implementação de políticas de estímulo e fomento 
a esses modelos de produção, nos moldes do item anterior; - Realização de inventário, 
digitalização e disponibilização de acervos locais existentes.” (Trecho de documento de 
conclusões do II Fórum Nacional de TVs Públicas)
6
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
p r i n c í p i o S d a m í d i a p ú b l i c a
S e g u n d o a u n e S c o
Em um relatório publicado em 2001 intitulado “Radiodifusão pública: Porque ? Como?” (no original, “Public 
Broadcasting: Why? How?”), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) 
apontou quatro princípios a serem seguidos pela radiodifusão pública. São diretrizes e metas que tentam dar 
conta das diversas funções e facetas deste segmento de mídia. Veja abaixo alguns trechos do documento1: 
a) Universalidade - A radiodifusão pública deve ser acessível a todos os cidadãos em todo o país. Esta é uma 
meta profundamente igualitária e democrática, na medida em que coloca todos os cidadãos em pé de igualda-
de, independentemente do seu status social ou econômico. Isso força a emissora pública a estar voltada para 
toda a população, buscando ser utilizada pelo maior número possível de pessoas. Isso não significa que a radio-
difusão pública deve tentar otimizar seus índices de audiência em todos os momentos, como fazem as mídias 
comerciais. Devem, na verdade, esforçar-se para fazer a totalidade da sua programação acessível a toda a po-
pulação. Isto não se limita a acessibilidade técnica, mas garantir que todos possam compreender e acompanhar 
esse conteúdo. Sendo democrática, a programação de serviço público de radiodifusão deve ser “popular”, não 
no sentido pejorativo que alguns possam dar a este termo, mas no sentido de que o fórum público que oferece 
não pode ser restrito a um grupo minoritário de cidadãos.
b) Diversidade - o serviço oferecido pela radiodifusão pública deve ser diversificado, pelo menos em três mo-
dos: no que se refere aos gêneros de programas oferecidos; no que diz respeito ao público visado e no tocante 
aos assuntos discutidos. A radiodifusão pública deve refletir a diversidade de interesses públicos, oferecendo 
diferentes tipos de programas, mediante transmissão de informação clara. Alguns programas podem ser desti-
nados a apenas uma parte do público, cujas expectativas são variadas. No final, a radiodifusão pública deverá 
1 Tradução livre a partir do original disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001240/124058Eo.pdf
7
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
chegar a todos, não através de cada programa, mas através de todos os programas e sua diversidade. Final-
mente, através da diversidade dos temas discutidos, a radiodifusão pública também deve procurar responder 
aos variados interesses do público e assim refletir toda a gama de assuntos atuais na sociedade. Diversidade e 
universalidade são complementares na medida em que produzir programas voltados às vezes para a juventude, 
às vezes para as pessoas idosas e às vezes para outros grupos, em última análise, significa que a comunicação 
pública atingiu a todos.
c) Independência - A radiodifusão pública é um fórum onde as idéias devem ser expressas livremente, onde 
a informação, opiniões e críticas circulam. Isso só é possível se a independência – portanto a liberdade – da 
radiodifusão pública for assegurada contra pressões comerciais ou influência política. [...] Com efeito, se infor-
mações fornecidas pela emissora pública forem influenciados pelo governo, as pessoas deixam de acreditar. Da 
mesma forma, se a programação da emissora pública for projetada para fins comerciais, os cidadãos não irão 
compreender porque estão sendo solicitados a financiar um serviço cujos programas não sejam substancial-
mente diferentes dos serviços prestados por empresas privadas.
e) Diferenciação - Exige que o serviço oferecido pela radiodifusão pública deve se distinguir de outros serviços 
de radiodifusão. Na programação de serviço público – na qualidade e caráter especial de seus programas – o 
público deve ser capaz de identificar o que distingue este serviço de outros serviços. Não é apenas uma questão 
de produzir o tipo de programas que os outros serviços não estão interessados em produzir, visando audiên-
cias negligenciadas ou lidando com assuntos ignorados pelas outras mídias. É uma questão de fazer as coisas 
de forma diferente, sem exclusão dequalquer gênero. Este princípio deve conduzir emissoras públicas para 
inovar, criar novas faixas horárias, gêneros novos, definir o ritmo do mundo audiovisual e trazer outras redes 
de radiodifusão na sua esteira.
8
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
a m í d i a p ú b l i c a n o m u n d o
e n o b r a S i l
A idéia de mídia pública surge com as primeiras experiências de estações de rádio ainda na década de 1920. Na 
Europa, a BBC surgiu em 1922, em Londres, como um conglomerado de grupos empresariais ligados à fabri-
cação de equipamentos eletrônicos. Logo em seguida, em 1927, passou a ser controlada pelo governo britânico, 
tornando o serviço de rádio um monopólio público. No mesmo período, nas Américas, emergem as primeiras 
rádios de cunho educativo gestadas em universidades nos Estados Unidos. Ao final dos anos 50, após a chegada 
da televisão, diversos países criaram estações de rádio e TV pública que passaram a constituir um sistema de 
mídia (rádios e TVs) financiado com recursos públicos.
Em países como o Canadá e a Austrália, organizações de radiodifusão pública foram projetadas justamente 
para garantir pluralidade de vozes e fomentar a produção de conteúdo nacional. No caso canadense, a emer-
gência de estações radiofônicas vinculadas a grupos religiosos ortodoxos e a invasão da produção da TV co-
mercial estadunidense foram elementos propulsores para a criação da CBC/SRC como um contraponto: um 
equilíbrio necessário ao sistema de comunicação que crescia de modo pouco diversificado. 
Na experiência australiana, o serviço de radiodifusão pública foi responsável por levar informação e conteúdo 
para as áreas mais remotas do país, onde a mídia comercial não estava propensa a investir recursos inicialmen-
te. Durante o século XX, o Estado australiano criou duas organizações de radiodifusão pública: a ABC, voltada 
para produzir e transmitir conteúdo em língua inglesa; e a SBS, cujo objetivo é refletir a diversidade cultural 
do país, transmitindo conteúdo em 68 idiomas, incluindo línguas nativas. Nesses e em outros países, organi-
zações de mídia pública floresceram principalmente na segunda metade do século XX como um mecanismo 
necessário às democracias modernas, buscando pluralidade e inovação na produção e transmissão de conteú-
do e criando mecanismos de financiamento público e de participação civil na sua gestão, através de conselhos 
diretores, comitês de audiência e outras instâncias similares.
9
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
No Brasil, a radiodifusão pública nasce na década de 30, através de duas iniciativas. A primeira foi a Rádio 
MEC (vinculada ao então Ministério da Educação e Cultura), nascida a partir da doação da Rádio Sociedade 
do Rio de Janeiro por Edgard Roquette-Pinto. Neste caso, o doador condicionou a transferência à manutenção 
do caráter educativo da emissora que até hoje mantém de certo modo tal perfil. A segunda foi a Rádio Nacio-
nal do Rio de Janeiro, criada em 1936 pelas Organizações Victor Costa e incorporada pelo governo de Getúlio 
Vargas em 1940. 
Após estas duas sementes, a demanda por educação no país fez com que o regime militar dos anos 60 fomen-
tasse a criação das TVs educativas, através do Decreto-Lei 236/1967 e da criação da Fundação Centro Brasilei-
ro de TV Educativa (FCBTVE).
Ao contrário do resto do mundo, que apostou na criação de um sistema público de radiodifusão com estações 
de TV e rádio operantes em territórios nacionais relativamente integrados e buscando um equilíbrio com o 
sistema privado de mídia, no Brasil não houve tal perspectiva. Primeiro, as iniciativas de rádios e TVs de ca-
ráter público nunca chegaram a funcionar como um sistema integrado. Tornaram-se emissoras que operavam 
e transmitiam de modo isolado e com baixíssimos investimentos em equipamentos e produção. Segundo, no 
caso das TVs educativas, prevaleceu um modelo de forte influência dos governos estaduais, com estes determi-
nando diretamente a gestão e gerência dessas emissoras. 
O resultado foi um subdesenvolvimento da radiodifusão pública-estatal, que foi ao mesmo tempo engessada 
e fragmentada, apresentando sérios problemas estruturais e financeiros e pouca independência para cumprir 
sua missão. Por outro lado, gerou-se no Brasil uma anomalia caracterizada pela sobreposição da radiodifusão 
comercial que desenvolveu um mercado concentrado e robusto de emissoras a ponto de se tornar o modelo 
hegemônico no país até os dias atuais. 
10
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
a comunicação pública-estatal no brasil
1936 Doação da Rádio MEC por Edgard Roquette-Pinto ao governo 
federal
1940 Incorporação da Rádio Nacional pelo governo Getúlio Vargas
1967 Decreto-Lei n. 236, cria as TVs educativas e um órgão voltado para 
o seu fomento: a Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa (FCBTVE)
1968 Criada a primeira TV universitária, em Pernambuco
1969 Governo de São Paulo adquire a TV Cultura
1975 Entra em funcionamento a TVE do Rio de Janeiro. O governo 
Federal cria a Radiobrás.
1980 Empresas coordenadas pelo FCBTVE criam o Sistema Nacional de 
Radiodifusão Educativa (Sinred)
1988 Promulgada a Constituição, com o artigo 223 que fala na 
complementariedade entre os sistemas público, privado e estatal
2006 I Fórum Nacional de TVs Públicas
2007 Decreto 6.246 cria a Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
2009 II Fórum Nacional de TVs Públicas
11
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
a c o n S t i t u i ç ã o d e 1 9 8 8
e o S S i S t e m a S d e r a d i o d i f u S ã o :
o l u g a r d a m í d i a p ú b l i c a
Apesar do não fomento ao modelo público de radiodifusão no Brasil e mesmo diante de um quadro regulatório 
que sempre foi omisso em relação a este tema, a Constituição de 1988 em seu artigo 223 acabou reenquadran-
do o lugar da mídia pública dentro daquilo que chamou de “sistemas complementares”. O texto – aprovado 
sob pressão de segmentos da sociedade civil e de movimentos sociais – diz que “compete ao Poder Executivo 
outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e ima-
gens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.” Na prática, isso 
significava dizer que o conjunto da radiodifusão deveria ser regulamentado buscando um equilíbrio entre essas 
três formas de organização de serviços midiáticos.
Como explica o advogado e doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) Ericson Meister Scorsim, 
esta divisão que coloca a complementariedade entre três modelos de radiodifusão não foi prevista em outros 
países e avalia: “Penso que o constituinte brasileiro foi sábio ao adotar o princípio da complementaridade en-
tre os sistemas de radiodifusão privado, público e estatal. Trata-se de uma fórmula de compromisso entre as 
diversas ideologias presentes no cenário nacional à época da discussão do capítulo constitucional dedicado à 
Comunicação Social.”
Para o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBa) e doutor em Comunicação pela Universidade de 
Westminster (Inglaterra), Othon Fernando Jambeiro Barbosa, isso se deu justamente devido ao contexto de 
correlação de forças, articulações e negociações políticas da constituinte, o que também significou efeitos prá-
ticos. “Creio que a solução brasileira foi um solução de compromisso, feita sob a tensão política que se estabele-
12
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
ceu na reta final da conclusão da Constituição de 1988. O certo é que ficamos com esta complementaridade não 
conceituada (quem complementa quem e como?) e inédita na regulamentação brasileira de telecomunicações. 
Não tenho qualquer ilusão com relação à factibilidade deste dispositivoconstitucional: foi feito – não tenho 
qualquer dúvida disto – para não ser aplicado.”
Embora seja de direito mas não de fato, o atual quadro legal está longe de ser unânime entre especialistas e 
estudiosos. Na opinião do professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e doutor em Comu-
nicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Valério Cruz Brittos, o modelo 
deveria ser outro, pois, ao separar o público do estatal acaba-se sugerindo que estatal não é público. “Isso seria 
um problema, porque quando o Estado entra para prover serviços públicos à população, seja para a saúde ou 
educação, não deixa de ser caracterizado como público. Então, quando temos a comunicação estatal, em qual-
quer plano, ela é necessariamente pública. O ideal é pensar que existe um sistema privado e um público, esse 
podendo ser gestado pelo Estado, e não dividindo o público em dois“, contesta. 
Ao falar das conclusões da sua pesquisa de mestrado sobre o tema, defendida recentemente na Universidade 
Federal de Pernambuco (UFPE), a jornalista Mariana Martins também reforça as críticas. “Acho que essa não 
é a melhor forma de complementar os sistemas. Não só em outros países, mas na própria legislação brasileira, 
se observarmos outros setores, essa divisão não existe. Esta divisão da comunicação é algo bem peculiar e tam-
bém bastante conjuntural do momento em que essa Constituição foi outorgada. O artigo 223 é uma armadilha 
normativa. Concluo que esta divisão é um equívoco motivado por uma conjuntura anti-estatal do final da 
década de 80.”
O professor Murilo Ramos vê neste capítulo da Constituição uma saída que beneficiou principalmente o seg-
mento comercial-privado que teria galgado um status inexistente. “Na minha opinião, não existe sistema pri-
vado de radiodifusão; o que existe é, por concessão, o Estado autorizar o privado a explorar comercialmente 
o serviço público de TV e rádio, utilizando, para isso, o instituto da concessão, permissão e autorização. Esta 
suposta complementaridade acabou sendo uma armadilha, porque aparenta ter um sistema privado. Quando 
se trata de outorga de concessão e permissão, não existe. Já na autorização, pode-se admiti-lo, uma vez que 
ela difere dos demais institutos em relação ao equilíbrio entre direitos e deveres. Advogando a existência do 
sistema privado, os radiodifusores comerciais querem a máxima segurança jurídica com máxima liberdade de 
mercado”, afirma.
Já para o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutor em Comunicação Social pela 
Universidade Metodista de São Paulo José Edgard Rebouças, o atual formato não deve ser visto como uma 
divisão e sim uma soma. “Eu gosto deste modelo, que deveria ser uma complementaridade, e não uma divisão. 
Não entendo complementaridade como 33,3%, 33,3% e 33,3%, mas 100% de intercâmbio o tempo todo, com 
co-produções e co-programações. Um exemplo disso seria o acordo que a TV Globo fez com a TV Cultura de 
São Paulo no início dos anos 1970 para realizarem a versão brasileira de Vila Sésamo. Cada um entrava com 
uma parte. O que defendo é a soma, não a divisão. Um completando o outro, sendo o resultado o interesse 
público, e não vejo problema em que isso gere lucro, contanto que haja políticas claras quanto a não ingerência 
exclusivamente comercial nos conteúdos e ao reinvestimento de parte de tais receitas em programas e progra-
mações que garantam a diversidade”, argumenta.
13
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Embora a idéia de três sub-sistemas complementares seja aceita por uns e contestada por outros, boa parte 
dos pesquisadores e entidades que se dedicam ao tema da comunicação acreditam na necessidade de se pensar 
a radiodifusão no âmbito de uma nova regulamentação para o setor. Diante do quadro Constitucional atual, 
Ericson Meister Scorsim lembra que é necessário pensar num novo marco regulatório para a comunicação e 
também aplicar aquilo que a Constituição de 1988 incorporou, quanto ao princípio da complementariedade 
entre os três modelos de radiodifusão. “Entendo que aplicação do mencionado princípio requer a compreen-
são dos diferentes papéis do Estado, da sociedade e do mercado. A questão central é cumprir a Constituição e 
realizar os direitos fundamentais mediante a atividade de comunicação social. Daí a necessidade de um novo 
marco regulatório da comunicação adequado ao desenvolvimento econômico, social e tecnológico, compro-
metido com a efetivação dos direitos fundamentais e que concretize, na prática, o mencionado princípio cons-
titucional. É preciso investigar o porquê da complementaridade em suas origens. Trata-se de um mandamento 
de otimização para possibilitar a oxigenação de toda a comunicação social, diante da hegemonia do modelo 
comercial, garantindo-se o equilíbrio e a harmonia sistêmicos”, acredita.
O contexto da Constituinte de 1988
“A criação do Conselho de Comunicação Social; a complementaridade entre os sistemas 
público, privado e estatal; a regionalização da produção, subordinada a lei a ser feita 
posteriormente (promessa jamais cumprida) são exemplos de acordos construídos naquele 
momento. Havia, de um lado, uma proposta de transformação de todos os meios de 
comunicação do país (jornal, revista, rádio e TV) em fundações; e, de outro, uma proposta, 
ora explícita ora implícita, de deixar tudo como estava. Havia propostas subsidiárias a estas, é 
claro. Como não havia ocorrido qualquer acordo, por mínimo que fosse, na comissão setorial 
nem na comissão de articulação, tudo teve de ser decidido no plenário, onde ou se negociava 
ou se perdia tudo, já que era inevitável a votação, no prazo estabelecido por Ulysses 
Guimarães.” (Othon Jambeiro Barbos, prof. da UFBA)
Sobre a atual legislação brasileira de radiodifusão
“Temos aqui outro problema mais de fundo do que de forma. Não adianta propormos a 
regulamentação mais moderna em termos de conteúdos, geração e até recepção. O artigo 
221 da Constituição é quase perfeito. O que é preciso é a criação de mecanismos para que 
tais normas sejam cumpridas. Mas, enquanto permanecer este estado de anomia, onde a 
cada proposta de regulamentação há uma grita sobre a volta da censura, ao autoritarismo... 
enquanto tivermos um Executivo refém das corporações, um Legislativo omisso e com o rabo 
mais que preso, e um Judiciário nada cego; e enquanto o cidadão não souber que pode exigir 
seus direitos... Quem dera esta 1ª Conferência Nacional de Comunicação conseguisse dar um 
grande sacolejo em todas estas questões.”(José Edgard Rebouças, UFES)
 
14
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
a c r i a ç ã o d a e b c : l e g i t i m i d a d e e a 
b u S c a p o r u m S i S t e m a
Mesmo diante da redemocratização do país, que passou a ser guiado por uma nova Constituição e por eleições 
diretas ao final dos anos 80, a mídia pública continuou sendo um tema negligenciado pelo Estado e pelas po-
líticas públicas que se seguiram. O fortalecimento do segmento comercial, o sucateamento das TVs educativas 
nos estados e a falta de legislação que apontasse para o desenvolvimento da radiodifusão pública marcaram as 
duas décadas que se seguiram.
Só duas décadas depois da promulgação da Constituição de 1988, o projeto de um sistema público de comuni-
cação ganhou um novo fôlego com a criação da Empresa Pública de Comunicação (EBC) através do Decreto 
Presidencial 6.689 de 11 de dezembro de 2008. Em seu artigo primeiro, o decreto estipula que a EBC é “uma 
empresa pública, organizada sob a forma de sociedade anônima de capital fechado, vinculada à Secretaria de 
Comunicação Social da Presidência da República”. 
Para o professor Laurindo Leal Filho, a criação da EBC aparece como um dos elementos necessários ao fortale-
cimento democrático do país, juntamente com a revisão do marco regulatório da comunicação.“É fundamen-
tal para a democratização da radiodifusão brasileira. Esse processo tem que se dar em dois níveis: com uma 
nova regulação que abra o espectro eletromagnético para outros atores, a exemplo do que está ocorrendo na 
Argentina2, e com a criação de emissoras públicas. É ai que se coloca a EBC. Ela tem tudo para retomar, mais 
de 50 anos depois, o projeto de uma rede nacional pública de televisão concebido no segundo governo Vargas, 
agora associada à rede de emissoras de rádio e aos serviços informativos prestados on-line. Mas para isso ela 
precisa estar presente, com destaque, em todo o território nacional.”
2 O professor refere-se ao novo marco regulatório do setor aprovado pelo Congresso argentino, a Ley de Servicios Audiovisuales 
(Lei de Serviços Audiovisuais), que estabelece, entre outras medidas, a reserva de 33% do espectro radioelétrico para mídias não-
comerciais, além de garantir espaço para emissoras de universidades públicas e para alguns entes estatais.
15
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Na avaliação de Jonas Valente, membro do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e mestre em 
Comunicação pela Universidade Federal de Brasília (UnB), a EBC foi uma vitória dos segmentos progressistas 
da sociedade brasileira e deve ser defendida. Para ele, apesar de apresentar problemas em sua atual formatação, 
a empresa precisa ser fortalecida a fim de cumprir sua missão e servir como pólo catalisador de um sistema de 
comunicação pública no país. “A EBC e as demais emissoras do campo público precisam de investimentos para 
cumprir o seu papel e minimizar os efeitos da hegemonia do segmento comercial no país. O hiper-desenvolvi-
mento do modelo comercial que se deu no Brasil é uma aberração, que não existe nem nos países mais capita-
listas do mundo. Para cumprir essa tarefa, empresas como a EBC precisam de recursos e de independência dos 
humores governamentais através de mecanismos de blindagem contra as pressões políticas. Para isso, precisa 
criar instâncias participativas em sua estrutura de gestão, algo que ainda não foi devidamente previsto em seu 
atual formato”, ressalta. 
Os avanços conseguidos até o momento também são destacados com alguns poréns pelo professor Valério 
Brittos: “Na área pública [da comunicação] em particular já houve um avanço, mas há necessidade de uma le-
gislação que transcenda o governante de plantão, deixando muito claro o percentual do orçamento do Estado, 
para que [o seu financiamento] não fique oscilando, um governo aplique mais, outro aplique menos. Deve-se 
também ter conselhos de controle desse sistema, não só da TV, mas da própria aplicação das verbas de comu-
nicação do Estado, para que essas verbas sejam bem aplicadas e não haja mau uso político.”
 Finalidades da EBC 
 (Art. 2º do Decreto nº 6.689, de 11 de dezembro de 2008)
I - complementaridade entre os sistemas privado, público e estatal;
II - promoção do acesso à informação por meio da pluralidade de fontes de produção e 
distribuição do conteúdo;
III - produção e programação com finalidades educativas, artísticas, culturais, científicas e 
informativas;
IV - promoção da cultura nacional, estímulo à produção regional e à produção independente;
V - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família;
VI - não discriminação religiosa, político partidária, filosófica, étnica, de gênero ou de opção 
sexual;
VII - observância de preceitos éticos no exercício das atividades de radiodifusão;
VIII - autonomia em relação ao Governo Federal para definir produção, programação e 
distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão; e
IX - participação da sociedade civil no controle da aplicação dos princípios do sistema público de 
radiodifusão, respeitando-se a pluralidade da sociedade brasileira.
 Objetivos da EBC 
 (Art. 3º do Decreto nº 6.689, de 11 de dezembro de 2008)
I - oferecer mecanismos para debate público acerca de temas de relevância nacional e 
internacional;
16
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
II - desenvolver a consciência crítica do cidadão, mediante programação educativa, artística, 
cultural, informativa, científica e promotora de cidadania;
III - fomentar a construção da cidadania, a consolidação da democracia e a participação na 
sociedade, garantindo o direito à informação, à livre expressão do pensamento, à criação e à 
comunicação;
IV - cooperar com os processos educacionais e de formação do cidadão;
V - apoiar processos de inclusão social e socialização da produção de conhecimento, garantindo 
espaços para exibição de produções regionais e independentes;
VI - buscar excelência em conteúdos e linguagens e desenvolver formatos criativos e inovadores, 
constituindo-se em centro de inovação e formação de talentos;
VII - direcionar sua produção e programação pelas finalidades educativas, artísticas, culturais, 
informativas, científicas e promotoras da cidadania, sem com isso retirar seu caráter competitivo 
na busca do interesse do maior número de ouvintes ou telespectadores;
VIII - promover parcerias e fomentar produção audiovisual nacional, contribuindo para a 
expansão de sua produção e difusão; e
IX - estimular a produção e garantir a veiculação, inclusive na rede mundial de computadores, 
de conteúdos interativos, especialmente aqueles voltados para a universalização da prestação de 
serviços públicos.
TV pública versus audiência I 
“É preciso mesmo multiplicar os usuários de um serviço financiado majoritariamente por 
recursos públicos. No caso da TV Brasil, o exame também honesto mostra que tem havido 
evolução e que atribuir-lhe traço de audiência é uma hipérbole da má vontade. Programas 
infantis de corte nacional, como ‘Um Menino Muito Maluquinho’ e ‘A Turma do Pererê’ nun-
ca têm menos de 2,5% de share. O ‘Repórter Brasil’, transmitido para 19 Estados, consolidou 
audiência em torno de 2%, o que para sua tenra idade é muito promissor. O programa diário 
de Leda Nagle, ‘Sem Censura’, raramente não alcança os 5 pontos. A faixa de cinema nacional 
também bate freqüentemente esta marca. Mas ainda há programas de baixa audiência, que 
puxam a média para baixo. Em 2009, será maior o esforço para qualificar a grade.” (Tereza 
Cruvinel, diretora-presidente da EBC, trecho de artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 
em 2 de janeiro de 2009).”
TV pública versus audiência II 
“A audiência é desejável. Quanto maior, melhor. Mas é preciso ir com calma. Para uma TV 
comercial, os índices de audiência vêm em primeiro lugar porque são a medida de sua mer-
cadoria: o que ela vende para os anunciantes são os olhos da platéia - e quem mede a quan-
tidade de olhos são os pontos do Ibope. Já para uma TV pública, o que mais importa é levar 
cultura e informação de qualidade aos diversos segmentos da população. A quantidade de 
telespectadores é um dos critérios a levar em conta, por certo, mas não é o único nem o prio-
ritário (se assim fosse, bastariam alguns auditórios espalhafatosos no domingo e noticiários 
sensacionalistas nos finais da tarde).” (Eugênio Bucci, artigo publicado no jornal O Estado de S. 
Paulo, em 26 de março de 2009)
17
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Autonomia e participação na EBC
Intimamente ligado ao problema da blindagem em relação a interesses de natureza partidária ou privada, isto 
é, da autonomia e independência de uma mídia efetivamente pública, está o problema da legitimidade, que 
remete à questão da participação. 
Atualmente, a EBC tem uma instância deliberativa, o Conselho Curador, que tem a prerrogativa de aprovar 
anualmente o plano de trabalho da empresa, ratificar e acompanhar a aplicação da linha editorial e observar a 
veiculação da programação, fiscalizando e fazendo recomendações de acolhimento obrigatório pela diretoria-
executiva da organização. O Conselho Curadorda EBC é composto por 22 membros. São 15 representantes da 
sociedade civil (indicados pelo presidente da República nesta primeira gestão), 4 do Governo Federal (repre-
sentantes dos ministérios da Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Comunicação Social, também indica-
dos pelo Executivo Federal), 2 do Congresso Nacional (Câmara e Senado) e 1 dos funcionários da empresa. Os 
membros têm mandato de quatro anos, com possibilidade de renovação a cada dois anos. A legislação também 
prevê que a renovação das vagas dos representantes da sociedade civil será feita através de uma consulta públi-
ca, mas o formato desta consulta ainda não está definido.
A diretora-presidente da EBC, Tereza Cruvinel, acredita que a atual composição do conselho tem representação 
pluralista da sociedade, do governo, do Congresso e dos empregados. “O modelo é eficiente. Tem funcionado 
muito bem e está em sintonia com modelos mais avançados de comunicação pública do mundo. A pluralidade 
da representação é um mérito do modelo, juntamente com os poderes concedidos ao conselho, entre eles o de 
emitir moção contra a diretoria, derrubando o diretor que receber duas moções consecutivas”, afirma.
Embora reconheçam que a existência de uma instância mista e com certo poder de decisão seja um ganho, 
organizações civis e especialistas reivindicam a qualificação do modo de escolha de seus membros e o aumen-
to da participação da sociedade na atuação do próprio conselho. Para este coro, a EBC ainda não sustentaria 
os canais de participação necessários. O atual modelo seria frágil quanto aos critérios de indicação de seus 
membros, o que seria problemático e colocaria em xeque a legitimidade e autonomia necessárias a uma mídia 
pública. “O problema é que a falta de objetividade e de regras para essa escolha de representantes acaba se 
transformando em uma escolha personalista do Presidente da República. Como conseqüência, tal instância 
passa a ser influenciada por uma política de governo e não por uma política de Estado, como deveria ser e 
como acontece nos países onde o sistema é mais consolidado”, critica Jonas Valente.
Único membro eleito por seus pares no Conselho Curador, o representante dos trabalhadores da EBC, Lourival 
Antonio de Macedo, lembra que o debate sobre um aumento de participação civil na escolha dos membros 
do conselho já vem sendo travado internamente pela própria instância, mas segue indefinido. “Sim, devemos 
mudar a forma de composição do Conselho Curador. Acreditamos que pode ser através de inscrições de pes-
soas ou entidades. Algo que seja aberto a ponto de garantir que o Conselho tenha proporcionalidade regional, 
diversidade de segmentos, pluralidade, onde todos os setores como cinema, audiovisual cultura se sintam 
representados”, afirma Macedo.
Para o presidente da Associação das Rádios Públicas do Brasil (Arpub), Orlando Guilhon, o fato de o conselho 
existir já é algo importante, mas ele também endossa a crítica ao seu modelo. “Considero que o modelo do 
18
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Conselho Curador da EBC já foi um avanço em termos de marco regulatório para o setor, mas ele pode e deve 
ser aperfeiçoado, principalmente no sentido de garantir uma participação mais direta da sociedade civil orga-
nizada na sua composição e também garantir regras mínimas de transparência para o seu funcionamento.”
A participação é um elemento que precisa ser fortalecido não apenas em empresas como a EBC, mas também 
no plano mais amplo do campo da comunicação. “Sou a favor do controle social não apenas nas empresas ditas 
‘públicas’, mas em todo o sistema”, afirma o professor José Edgard Rebouças. “Minha sugestão é que seja criado 
um Conselho Nacional de Comunicação. É um absurdo, nosso setor ser o único dentre os listados no título 
Da Ordem Social da Constituição a não ter uma instância de participação da sociedade na discussão de suas 
políticas. Sequer o Conselho de Comunicação Social, órgão auxiliar do Congresso, funciona. E, caso haja [esta 
instância], que seja com representantes indicados por um maior número possível de entidades da sociedade 
civil.”
Renovação do Conselho Curador
“A legislação prevê que, em suas próximas renovações, o Conselho faça consultas a um 
conjunto de entidades representativas de diferentes setores da sociedade para elaborar a lista 
de indicações.” (Do site da EBC)
Mais participação
“Com debate e diálogo podemos chegar a um bom modelo de conselhos mais participativos 
[nas emissoras públicas]. Ainda que não seja o ideal, que seja algo que consiga refletir 
melhor a sociedade e sua diversidade. A sociedade que recebe conteúdo também deve 
interferir na produção. Este é um cenário novo no Brasil. Estamos ainda engatinhando.” 
(Regina Lima, presidente da Abepec)
Ouvidoria da EBC
“Ainda dentro do âmbito da Ouvidoria e como duas de suas atribuições pretende-se criar 
Comitês de Usuários dos veículos da EBC e programas de alfabetização para a mídia. São 
projetos de médio prazo cujos exemplos que conhecemos mostram os seus efeitos altamente 
positivos para os dois lados do balcão: público e produtores. No Rio, a rádio MEC/FM, 
uma das emissoras da EBC, possui uma sociedade de ouvintes que funciona muito bem. 
Pretendemos ampliar esse tipo de associação para os demais veículos da empresa em diferentes 
regiões do pais. É uma tarefa difícil, mas, se implantada, dará ótimos resultados, sem dúvida. 
E a alfabetização para mídia é um programa já consolidado na Inglaterra, por exemplo, através 
de uma parceria entre a BBC e a Open University. Aqui, a idéia é realizarmos esse tipo de 
trabalho com escolas de todos os níveis. Devemos assinar o primeiro desses convênios com a 
Universidade de Brasília. No caso específico da alfabetização para a mídia, a idéia é desenvolver 
em crianças e jovens principalmente, mas sem excluir os adultos, conhecimentos e habilidades 
que dêem a eles condições de se tornarem mais críticos e exigentes em relação aos produtos 
oferecidos pelos meios de comunicação. Se tudo der certo haverá, sem dúvida, uma aumento 
não apenas numérico na participação dos cidadãos, mas também teremos uma participação 
qualitativamente mais elevada.” (Laurindo Leal Filho, Ouvidor da EBC)
19
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
o c a m p o p ú b l i c o d a c o m u n i c a ç ã o
Se no nível nacional a tentativa é apostar na criação de um sistema público de comunicação tornando a EBC 
a ponta-de-lança deste projeto, no nível regional também já há uma mobilização em torno daquilo que vem 
sendo chamado de “campo público da comunicação”. Trata-se da aglutinação de canais não-comerciais – as 
emissoras estatais-educativas estaduais, além dos canais comunitários – em torno de uma mesma bandeira.
A presidente da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec) Regina Lima 
esclarece que a formação e a identificação das emissoras em torno de um campo público é fundamental para 
se consolidar um sistema. “Mas para isso, é preciso termos em mente a necessidade de se fortalecer cada um 
desses elementos, estatais, universitárias, comunitárias... Nenhum campo consegue se afirmar, de fato, com 
emissoras fragilizadas”, chama a atenção. 
Hoje o campo público da comunicação enfrenta um conjunto de dificuldades de cunho financeiro, tecnológico, 
legal ou de ingerência política. No caso das TVs estatais que operam nos estados, as atuais condições de infra-
estrutura estão em boa parte defasadas, salvo raras exceções, como explica Regina Lima. “Podemos dizer que 
essas emissoras não estão atualizadas tecnologicamente. Os governos não investem na comunicação pública, 
salvo raras exceções, e esta é uma área onde a questão tecnológica tem uma velocidade absurda. É preciso um 
grande programa para garantir a manutenção e a atualização dessas TVs”, informa.
Noque se refere à autonomia e independência, os canais estaduais são, em sua maioria, diretamente geridos 
pelos governos locais. Interessante notar que, ainda que a Constituição de 1988 as coloque como canais esta-
tais, em muitos casos, as emissoras se auto-denominam “públicas”. Em sua pesquisa de mestrado, defendida 
neste ano na Universidade Federal da Bahia, a pesquisadora Edna Miola chama a atenção justamente para esse 
cenário de dependência em relação ao aparato governamental e a ausência de instâncias participativas. “Uma 
tentativa de reverter esse quadro de baixa autonomia administrativa é a alteração da forma legal das empresas 
20
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
com a implantação de órgãos deliberativos”, acredita. Para outra estudiosa do tema, a professora Regina Mota, 
nesses casos não haveria justificativa plausível para a inexistência de instrumentos de participação nos canais, 
incluindo os estatais, educativos e públicos. “A grande maioria das emissoras que se dizem públicas não ope-
ra os seus dispositivos descentralizadores, que acabam existindo para inglês ver, apenas na legislação, já que 
boa parte sequer instala os seus impotentes conselhos. Nos dados fornecidos pela Abepec em 2004, apenas a 
Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura de São Paulo, a TVE do Rio de Janeiro e a Fundação 
Cultural Piratini, mantenedora da TVE do Rio Grande do Sul, contam com conselhos efetivos e atuantes como 
parte da sua administração”, afirma em trabalho publicado nos anais do VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro 
de Ciências Sociais, realizado na cidade de Coimbra em setembro de 2004.
Além das emissoras educativas-estatais e aquelas ligadas a fundações civis sem fins lucrativos, dois outros 
segmentos também entram no debate sobre o campo público de comunicação: as emissoras universitárias e os 
canais comunitários de rádio e TV. Embora sustentem formatos bastante distintos de conteúdo e transmissão, 
ambos os segmentos se vinculam ao campo através de sua aproximação com as comunidades ou nichos pú-
blicos em que atuam, seja as comunidades universitárias, as comunidades de bairros urbanas ou em pequenas 
localidades do interior e povoados rurais. 
 No caso dos canais de televisão vinculados às universidades, a situação estrutural é bastante heterogênea, como 
explica o presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), Cláudio Márcio Magalhães. 
“Há de tudo um pouco: instituições de ensino superior (IES) que estão sucateando suas emissoras por motivos 
igualmente diversos (desde de pura falta de recursos financeiros até a simples desmobilização porque trata-se 
de um projeto de um reitor/coordenador anterior e não sintonizado com a atual gestão). Há a outra ponta, IES 
com investimentos maciços na construção ou reformulação do parque técnico visando a TV Digital ou mesmo 
a valorização das emissoras do campo público como um todo. No meio, aqueles com orçamentos modestos, 
mas suficientes para tocar um bom projeto; outros penando para colocar uma programação no ar; mais algu-
mas que caminham para viabilizar a TV transformando-a em uma produtora de conteúdo”, descreve.
Ao ser indagado se as TVs Universitárias deveriam ser de fato consideradas peças de um sistema público de co-
municação, Magalhães responde: “Sim, pelo aspecto de que o seu objetivo é o interesse público, que é refletido 
na sua programação, em detrimento à programação comercial voltada para anunciantes. Mas a diversidade das 
emissoras universitárias não nos permite dizer que todas elas serão ‘públicas’ nos termos que vários autores e 
entidades defendem.”
Magalhães acredita que “várias das TVs Universitárias não terão uma gestão da comunidade onde seus sinais 
chegam, pois as Reitorias não permitirão, mas também não serão bancadas majoritariamente com recursos 
públicos”. Segundo ele, a ABTU defende “uma gestão sempre feita com conselhos, no mínimo da comunidade 
acadêmica e representantes das demais comunidades, mas não excluímos aquelas IES que não o fazem”. “Para 
nós, da ABTU, o importante é uma programação voltada para o interesse público mesmo se ela for uma ou-
torga comercial. Criar um contraponto as emissoras comerciais já seriam um grande avanço nos aparelhos de 
televisão brasileiros.”
21
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Já no caso dos canais comunitários, a aproximação com o campo público está na sua forma de gestão enraizada 
nas comunidades e a missão intrínseca de fomentar a diversidade da comunicação. Como explica o coordena-
dor executivo da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), José Luiz do Nascimento Sóter, 
as rádios comunitárias fazem parte do sistema público não-estatal e o papel das emissoras comunitárias, afir-
ma, é ser um instrumento de comunicação a serviço das comunidades onde estão localizadas. “Este caráter co-
munitário é que diferencia a radiodifusão comunitária de outros veículos públicos. As emissoras comunitárias 
têm e devem ter uma relação orgânica com as comunidades. Isto significa estarem abertas à participação dos 
moradores e movimentos sociais da localidade, garantir o contraditório e a pluralidade de opiniões, prestarem 
serviços de utilidade pública, estar comprometida com as lutas e demandas da comunidade.”
Sóter enumera uma série de exigências feitas às emissoras comunitárias relacionadas a um modelo de gestão 
pública: deve estar abertas à filiação de qualquer morador de sua área de abrangência e ter, alem da diretoria 
da associação, um Conselho Comunitário, com a participação de, no mínimo, cinco segmentos da sociedade 
local. 
Já a inserção das TVs comunitárias neste campo também é reforçada pelo vice-presidente da Associação Bra-
sileira de Canais Comunitários (Abccom), Paulo Miranda ao afirmar que “se incorporaram ao sistema público 
de comunicação por opção e por meio do Fórum Nacional de TVs Públicas. As reivindicações das comunitá-
rias são basicamente as mesmas das universitárias, legislativas, educativas e culturais, incluindo, é claro, a EBC 
e a TV Justiça”.
Atualmente, os canais comunitários enfrentam dificuldades decorrentes das limitações impostas pelas leis que 
os regulamentam. No caso das TVs comunitárias, criadas a partir da Lei 8.977/1995 – a chamada Lei do Cabo 
–, a legislação prevê sua vinculação aos serviços de TV paga a cabo exclusivamente, o que impossibilita a 
expansão deste segmento. Em relação às rádios, a Lei 9.612/1998 também limita o número e o alcance das 
emissoras por localidade, além de se verificar a persistência de empecilhos burocráticos que impede a grande 
maioria de atuarem legalmente. “Temos processos de rádios, efetivamente comunitárias, que levam anos tra-
mitando, enquanto processos de rádios ligadas a lideranças políticas ou a grupos religiosos, tramitam rapida-
mente e passam na frente”, denuncia José Sóter.
No caso das TVs comunitárias, Miranda explica que existem hoje cerca de 68 canais em operação. “Poderiam 
ser 220 canais comunitários, bem como 220 canais universitários se houvesse uma política de comunicação 
comunitária no país. Os canais são capengas e funcionam porque existem ‘moicanos’ ou famílias que tocam as 
TVs comunitárias com muito sacrifício, enfrentando a omissão do Estado e dos movimentos social e sindical”, 
lamenta.
Fórum de TVs Públicas I
“Nove meses transcorridos desde o chamamento para o 1º Fórum Nacional de TVs Públicas, 
uma iniciativa pioneira do Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, 
com apoio da Presidência da República, podemos afirmar que este nosso clamor soma-se 
aos anseios da sociedade brasileira. Neste processo, o Brasil debateu intensamente a televisão 
22
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
que quer e pretende construir, quando estamos à porta da transição para a era digital. Nesseperíodo, superamos a dispersão que nos apartava de nós mesmos e descobrimos uma via 
comum de atuação, que tem como rota o reconhecimento de que somos parte de um mesmo 
todo, diverso e plural, complementar e dinâmico, articulado em torno do Campo Público de 
Televisão. Um corpo que se afirma a partir da sua heterogeneidade, mas compartilha visões 
e concepções comuns.” (Trecho do Manifesto pela TV Pública independente e democrática, I 
Fórum Nacional de TV’s Públicas, 2006)
Rádios comunitárias e sistema público
“A Abraço defende a criação de uma Lei Geral da Radiodifusão, que contemple os sistemas 
público (incluído as rádios comunitárias), estatal e privado. Esta nova lei deverá assegurar 
o livre funcionamento das rádios comunitárias, como um serviço público relevante e com 
um tratamento isonômico. Também, defendemos a regulamentação do artigo 223 da CF, 
destinando 1/3 dos canais para cada sistema, o público, o estatal e o privado.”( José Luiz do 
Nascimento Sóter, Abraço)
Formação profissional e comunicação pública 
“Não vejo a maioria das instituições de ensino superior se preparando para isso, nem mesmo 
as universidades públicas. A ABTU reivindicou, perante a comissão que estuda a mudança 
de currículo de jornalismo, uma série de reformulações. A principal: não há qualquer 
disciplina sobre comunicação pública! O assunto depende do engajamento e disponibilidade 
de colegas em discutir o assunto dentro de outras disciplinas. Assim, não estamos formando 
profissionais para tudo isso que estamos discutindo.” (Cláudio Magalhães, presidente da 
ABTU)
Rádios e sistema público
“Temos trabalhado entre nós mais o conceito de sistema público do que de rede pública, 
por entender que, no caso do rádio, não cabe um conceito de ‘rede’, com ‘cabeça de rede’ 
no sentido formal e vertical, e sim um ‘sistema’, algo mais horizontal e mais compartilhado. 
Temos trabalhado com diversas iniciativas: a) troca de conteúdos entre as rádios públicas; b) 
coberturas conjuntas de eventos nacionais (culturais, sociais e políticos); c) alguns produtos 
comuns (jornal em rede, programa Conexão Brasil, campanhas institucionais); d) projetos 
comuns junto a terceiros, tais como I Festival Nacional de Música das Rádios Públicas e I 
Concurso de Produção de Programas Radiofônicos.” (Orlando Guilhon, Arpub)
23
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
p a r t i c i p a ç ã o e f i n a n c i a m e n t o
peSquiSa aponta aS experiênciaS de doze paíSeS e traz liçõeS 
para o braSil
Em junho de 2009, o Intervozes publicou um livro intitulado “Sistemas públicos de Comunicação no mun-
do: experiências de doze países e o caso brasileiro. A pesquisa avaliou itens como história, estrutura, gestão, 
financiamento, programação e debates atuais em países de quatro continentes: Alemanha, Austrália, Canadá, 
Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Portugal, Reino Unido e Venezuela. O livro também 
aborda o caso brasileiro e aponta algumas perspectivas sob a luz dessas experiências internacionais.
Para o coordenador da publicação e também um dos autores, Diogo Moyses, o trabalho reafirma a preocupa-
ção do Intervozes em pensar e debater a relação entre democracia, mídia e interesse público. “Nós já havíamos 
divulgado uma proposta concreta para a criação e desenvolvimento de um sistema público no país que foi 
apresentada oficialmente no I Fórum Nacional de TVs Públicas, em maio de 2007. A partir daí, percebemos 
que era preciso aprofundar a análise das diversas experiências internacionais a fim de contribuir e qualificar 
ainda mais o debate sobre este tema”, afirma.
Moyses explica ainda que os sistemas públicos mais avançados e consolidados no mundo são justamente aque-
les que possuem autonomia financeira-administrativa e sustentam diversos mecanismos de participação civil 
em sua estrutura. “Geralmente sua arrecadação é baseada em tributos que são recolhidos diretamente para as 
empresas públicas e, por isso, não oscilam quando o humor do governo muda. Isso dá autonomia prática à 
mídia pública. Por outro lado, do ponto de vista da participação, enquanto no Brasil a lei não estabelece crité-
rios claros para a composição das instâncias decisórias destas empresas, em países como a Alemanha, Japão, 
Espanha, França, EUA e Reino Unido existe formas de representação objetivada de setores da sociedade civil, 
incluindo mecanismos de eleição bem mais sofisticados que a pura indicação do presidente da República”, 
ressalta. E complementa: “A pesquisa, que também analisou o caso brasileiro e traçou análises comparativas, 
conclui que o modelo atual de composição do Conselho Curador da EBC é bastante frágil e está bem aquém 
24
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
dessa sofisticação encontrada nos países estudados. No caso do Brasil, é o que chamamos de modelo simplifi-
cado, isto é, aquele que não dispõe de mecanismos de participação avançados e que está sob forte influência da 
esfera governamental”, ressalta.
Dentre os doze países pesquisados, veja o ranking de investimento, tomando como base receitas compreendi-
das no período de 2006-2008 (valores aproximados, convertidos de diversas moedas para o real):
Quadro comparativo de receitas (estimativas / em bilhões R$)
ALEMANHA R$ 23,3
REINO UNIDO R$ 15,0
JAPÃO R$ 12,2
ITÁLIA R$ 8,9
FRANÇA R$ 8,1
EUA R$ 5,2
ESPANHA R$ 4,3
CANADÁ R$ 2,7
AUSTRÁLIA R$ 2,1
PORTUGAL R$ 0,8
COLÔMBIA R$ 0,2*
BRASIL R$ 0,5 
VENEZUELA (sem estimativa)
Fonte: Intervozes (Sistemas públicos de Comunicação no Mundo, Editora Paulus, 2009)
* No caso específico da Colômbia, os autores ressalvam que o valor possa ser superior, devido ao cruzamento 
de outras receitas indiretas não identificadas com exatidão durante a coleta de dados. 
Audiência das TVs públicas em alguns dos países pesquisados:
Reino Unido (Sistema BBC) 43,0%
Portugal (Sistema RTP) 30,8%
Itália (Sistema RAI) 43,6%,
França (Sistema Frances Télévisions) 42,0 %
Espanha (Sistema RTVE/ Forta) 38,0%
Alemanha (Sistema ZDF /ARD) 42,5%
Japão (Sistema NHK) 28,5%
Canadá (Sistema CBC) de 10 e 22 %
EUA (PBS) 7ª posição (num universo de 30 canais/redes comerciais)
Fonte: Intervozes (Sistemas públicos de Comunicação no Mundo, Editora Paulus, 2009)
25
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Financiamento I
“Tomando como base o orçamento de 2007, o Brasil investiu 
cerca de 2% dos recursos financeiros que a Alemanha empregou em mídia pública. Isso 
demonstra bem a dimensão da nossa carência e o quanto o país ainda precisa avançar.” 
(Diogo Moyses, Intervozes)
Financiamento II
“Para 2009, o orçamento proposto pelo Governo foi de R$ 350 milhões. O Congresso 
cortou R$ 91 milhões, o que muito prejudicou o desempenho da empresa. A proposta 
para o exercício de 2.010 é de R$ 446,7 milhões. O Congresso Nacional ainda não aprovou 
a proposta orçamentária para o ano que vem e esperamos que não haja cortes.”(Tereza 
Cruvinel, EBC)
Financiamento III
 “É preciso haver uma política de financiamento e integração e quebrar a dependência dos 
governos federais ou locais” quando tem 100 % de orçamento vinculado ao estado e ele 
contingência existem dificuldades.”(Regina lima, Abepec)
 
26
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
a c o m u n i c a ç ã o p ú b l i c a f r e n t e à 
d i g i t a l i z a ç ã o
Se o Brasil ainda investe pouco em mídia pública e enfrenta dificuldades para efetivar um sistema público de 
comunicação, este cenário se torna ainda mais complexo com a digitalização da TV e do rádio. O processo de 
convergência digital já está em processo de implementação e traz novos elementos para este debate. 
Para o professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e doutor em Ciência Econômica pela Universidade 
Estadual de Campinas, César Bolaño, todaa economia política dos meios de comunicação está passando por 
uma mutação de enorme profundidade, que inaugura uma nova época. Essa mudança, acredita, está intima-
mente relacionada com a reestruturação capitalista iniciada nos anos 70 do século passado. “O mundo todo 
está mudando, em suma, e isso se traduz, no campo da comunicação, num processo complexo de digitalização, 
convergência, mudanças de hábitos de audiência etc. Todos os que disputam esse espaço têm que se adaptar e 
o Estado também. A TV pública, por exemplo, precisa se preparar para essa nova situação, explorando todas as 
possibilidades de democratização do sistema. Multi-programação, interatividade, novos meios, tudo deve estar 
voltado para a construção, no novo ambiente que se desenha, de um sistema de comunicação nacional mais 
democrático do que aquele que herdamos do século XX”, afirma. 
“Nesse momento acredito que a convergência digital pode ser um catalisador para criar um sistema público 
mais eficiente, pois permite que este trabalhe mais a diversidade, transmitindo mais conteúdos, levando mais 
canais e introduzindo a interatividade, que é a plena participação do cidadão, potencializando e havendo uma 
convergência nos vários canais públicos”, avalia o professor Valério Brittos. Para ele, a TV Brasil (principal 
emissora da EBC) vem conseguindo se desenvolver de modo relativamente versátil, através de um modelo que 
pode ser tanto analógico quanto digital.
27
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Atualmente, a TV Brasil já transmite em canais digitais no Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo. Apenas 
a geradora do Maranhão ainda não migrou para o sistema digital. Segundo a presidente da empresa, Tereza 
Cruvinel, já foram comprados os equipamentos para garantir que a produção como um todo passe também a 
ser feita em tecnologia digital.
Embora a digitalização possa trazer um novo cenário para a comunicação pública, o professor Othon Jambeiro 
Barbosa lembra que o subdesenvolvimento deste setor no Brasil não é um problema técnico ou de tecnologia. 
“Desde que surgiu como proposição governamental, no Decreto 21.111 de 1932, com o nome de Rede Nacio-
nal de Radiodifusão, jamais foi considerada seriamente por qualquer governo brasileiro. Sequer foi implantada 
tal rede. E quando o foi, no período da ditadura militar, já não tinha os mesmos objetivos de antes, pois que a 
idéia passara a ser a de Rede Educativa. Um fracasso retumbante, aliás. O que se tem hoje são emissoras liga-
das a governos, que ostentam o título de públicas mais por charme ideológico do que propriamente por terem 
gestão pública”, adverte. Ainda assim, Jambeiro aposta nas potencialidades da digitalização que poderiam ser 
apropriadas de forma benéfica pelas emissoras públicas. “A tecnologia digital poderá ajudar a construir um 
conceito para a radiodifusão pública brasileira. Há experiências em vários países do mundo com tecnologias 
avançadas aplicadas ao rádio, não necessariamente de natureza pública ou estatal, que podem oferecer sub-
sídios para isto.” Jambeiro reforça, no entanto, que antes destas mudanças técnicas ou estéticas “é necessário 
que haja no país rádios e TVs efetivamente públicas, no sentido de gestão, de concepção de programação,de 
interação com o público e de uso de tecnologias que favoreçam tal interação.”
Do ponto de vista jurídico, a digitalização também levanta questões não previstas no atual quadro regulatório 
brasileiro. O advogado Ericson Meister Scorsim, que publicou recentemente o livro “TV Digital e Comunica-
ção Social: aspectos regulatórios”, pela Editora Fórum, acredita que a evolução tecnológica subverteu paradig-
mas e ainda vivenciamos um momento de transição da era analógica para a digital que sustenta determinadas 
peculiaridades. Para Scorsim, é justificável que os membros da Constituinte de 1988 não previssem o avanço 
das transformações tecnológicas, mas falta a “discussão e a aprovação de uma nova lei geral de comunicação 
social eletrônica”, que desse conta de regular as tecnologias e serviços na era digital.
Para Jonas Valente, do Intervozes, o sistema público de comunicação estaria hoje ainda muito vinculado à TV 
e ao rádio e isso precisaria evoluir, avalia, para englobar outros serviços de mídia, desde aqueles audiovisuais 
até os de provimento de acesso à dados e à internet. “Os reguladores britânicos nomeiam esta transição da 
mudança do conceito de Public Service Broadcasting (Serviço de Radiodifusão Pública) para Public Service 
Media (Serviço de Mídia Pública). Isso implica, em primeiro lugar, pensar a produção e difusão de conteúdos 
de modo multiplataforma. Ou seja, um conteúdo realizado no interior de um operador do Sistema Público de 
Comunicação deve formatar seu telejornal, ou programa, ou as notícias de sua agência, para que sejam veicu-
ladas na TV, na internet, pelo celular ou até mesmo por satélite ou cabo”, explica.
Outra característica da digitalização que deve ser aproveitada pela mídia pública é a interatividade. “Esta fun-
cionalidade permite quebrar a lógica vertical e unidirecional da radiodifusão, dando ao telespectador, ouvinte, 
usuário uma condição de sujeito ao poder organizar a informação que irá acessar e interferir naquele conteúdo 
veiculado”, aponta Valente.
28
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
Especificamente no que diz respeito à infra-estrutura das transmissões digitais, atualmente está em processo 
de formulação e possível implementação o chamado operador de rede para transmissão dos canais públicos-
estatais de TV digital – além da TV Brasil, a TV Justiça, a TV Câmara, a TV Senado e os canais ligados ao 
Executivo criados pelo decreto que instituiu o Sistema Brasileiro de TV Digital. 
O operador de rede é um ente que recebe uma outorga para fazer a irradiação dos canais de televisão de um 
grupo de prestadores. Na prática, funciona como uma “antena única” ou um “provedor único” para um con-
junto de canais. Seria uma plataforma conjunta para os canais públicos que a utilizariam como infra-estrutura 
de transmissão. O objetivo seria possibilitar a construção de uma rede entre as emissoras públicas, de modo 
sistêmico, menos custosa e mais eficiente. “A implantação de um operador único é um pequeno passo dado 
em direção a uma ambição maior, que é a construção de um sistema público complementar, com produção 
mais integrada de conteúdos”, avaliou o diretor de serviços da EBC, José Roberto Garcez, durante o II Fórum 
Nacional de TVs Públicas, em março deste ano. 
Operador de rede e canais públicos
“No Brasil, como o Decreto 5.820, de 2006 [que estabelece as diretrizes do Sistema Brasileiro 
de Televisão Digital Terrestre], prevê 6 MHz para cada emissora, a figura do operador de 
rede não é obrigatória e, talvez por isso, não tenha sido prevista. Isso não significa, porém, 
que ela não possa ser muito útil. (...) Acreditamos que a melhor alternativa seria destinar 
dois ou três canais de 6 MHz para serem operados em multiprogramação (SDTV) pelas 
emissoras dos três poderes da União, destinando, ainda, programações para as TVs estaduais, 
as Assembléias Legislativas, as TVs dos municípios e as TVs comunitárias, todos com 
uma programação em SDTV, criando-se a figura de um Operador de Rede - que poderia 
ser público ou privado - que faria a implantação e a operação das antenas e transmissores, 
recebendo pelos serviços prestados o pagamento dos veiculadores da programação. Com esse 
sistema, além da economia resultante, se alcançará uma cobertura muito maior e em muito 
menor tempo.” (Vilson Vedana, consultor Legislativo da Câmara dos Deputados)
Digitalização dos canais universitários
“Há dois quadros aí. Quem está aprisionado no cabo, tem pouco a ver com essa história pois 
sua produção já é digitalizada e suas transmissões, pouco a pouco, vão migrando para o sinal 
digital. Jáas emissoras abertas têm pouco ou nenhum projeto de digitalização dos seus sinais 
(assim como boa parte das emissoras educativas) por simples falta de recursos ou mesmo 
pela incerteza que ainda cerca a digitalização brasileira. Há pouca discussão sobre o tema 
nas emissoras, talvez porque estamos discutindo isso há mais de 10 anos, com a participação 
das universidades em todo o processo. Agora, há um clima de espera. Mesmo porque o 
que mais nos interessa é a potencialidade desta TV digital no que tange à interatividade e à 
possibilidade da ocupação do sinal aberto.” (Cláudio Magalhães, ABTU)
29
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
TV digital e TVs educativas-estatais
“A Abepec está realizando um levantamento através de consulta a todos os gestores dos canais 
estatais hoje operantes nas Unidades da Federação para termos um diagnóstico mais exato 
desse problema. Isso nos servirá para conhecermos o quadro da migração para o digital. O 
que sabemos agora é que há um quadro bastante diverso. Enquanto algumas emissoras já 
produzem seus conteúdos em modo digital e estão quase prontas para transmitir, há outras 
onde nada da transmissão é digital e até a captação ainda é analógica.” (Regina Lima, Abepec)
Digitalização versus canais comunitários
“Na década de 70, os principais mestres da comunicação glorificavam as novas tecnologias 
como libertadoras e democratizantes. Mas o que se viu foi o contrário. As tecnologias 
multiplicaram os canais de comunicação e os concentraram em poder de poucos 
conglomerados. Portanto, com a digitalização poderá ocorrer a mesma coisa. Porém, 
devemos enfrentar a concentração danosa no setor e buscar apoio da sociedade, dos governos 
e até de empresários nacionalistas para que a indústria nacional não morra diante do grande 
poder do capital internacional.” (Paulo Miranda, Abccom)
30
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
H o r i z o n t e S e p r o p o S t a S
Uma série de propostas e teses vem sendo publicadas por instituições, associações e movimentos sociais so-
bre o tema sistema púbico de comunicação. Em suas especificidades, esse conjunto de proposições engloba 
redações e abordagens diversas na busca por soluções e caminhos capazes de fortalecer a mídia pública no 
país. Embora haja tais peculiaridades, é possível listar alguns horizontes ou diretrizes que vem sendo aponta-
das e reforçadas através dessas manifestações: 
ampliação e fortalecimento das emissoras já existentes no campo público (estatais, culturais, comunitárias, •	
educativas);
elaboração de novo marco regulatório que reorganize a comunicação como um todo, recolocando o debate •	
do lugar da mídia pública;
aumento da participação civil nas empresas públicas de comunicação, através de instâncias deliberativas e •	
consultivas, com participação de representantes da sociedade civil criteriosamente estabelecida e objetivada;
estipular metas em torno de percentuais a serem cumpridos quanto ao desenvolvimento entre os sistemas •	
público, privado e estatal (seja através de cotas na concessão de canais, seja através de fomento e políticas 
públicas de desenvolvimento para atingir tal equilíbrio);
regulamentação da Constituição Federal em seu capítulo sobre Comunicação Social (principalmente os •	
artigos 220, 221 e 223); 
fomento à produção independente e fortalecimento da cadeia produtiva entre os canais e emissoras do •	
campo público;
31
SiStema público de comunicação no braSil: aS conquiStaS e oS deSafioS
criação de fundos para fomento do sistema público de comunicação;•	
criação de tributos ou redirecionamento de tributos já existentes para financiamento direto da comunicação •	
pública; 
tributação do sistema comercial para financiamento do sistema público;•	
reformulação e maior objetivação dos critérios e normas de distribuição da publicidade institucional do •	
Governo Federal a fim de corrigir distorções e contemplar as emissoras do campo público;
investimento e políticas públicas que garantam o devido processo de migração do sistema analógico para o •	
sistema digital nos canais públicos;
criação de rede pública ou operador único digital, capaz de integrar os canais públicos e baratear a •	
transmissão em rede; 
incorporação legal dos canais comunitários como um serviço público de comunicação e desburocratização •	
das concessões para tais veículos;
aumento do número de canais destinados para emissoras comunitárias e aumento da potência em que •	
operam;
criação de TVs comunitárias em sinal aberto.•	
SiStema público de comunicação no braSil: 
aS conquiStaS e oS deSafioS
pesquisa e texto Sivaldo Pereira
revisão Cristina Charão
projeto gráfico e diagramação Henrique Costa

Outros materiais