Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRAJETÓRIA HISTÓRICA E LEGAL DA ENFERMAGEM Taka Oguisso Origens da ação de cuidar O gênero Homo surgiu na superfície há aproximadamente 2 milhões de anos, ao passo que o Homo Sapiens existe há apenas cerca de 100 mil anos. O processo civilizatório teve início a uns 10 mil anos, quando o homem abandonou o estilo de vida nômade e passou a fixar-se na terra (Berlote, 2001). Nessa perspectiva do processo civilizatório, destacam-se alguns grandes marcos históricos, como a invenção da imprensa de tipos móveis, a Revolução Industrial e a descoberta da pílula anticoncepcional. Já a era da informática teve início há cerca de duas décadas. O ritual de cuidar Para estudar como os grupos primitivos cuidavam de doentes, seria preciso antes de tudo examinar os achados arqueológicos, pois a arqueologia é a ciência que traz à luz marcas da existência do homem no passado remoto para ser escrutinadas. Não há uma data exata para o início da história humana. Por séculos, o Egito foi considerado o berço da civilização humana. Recentemente, descobertas arqueológicas têm demonstrado que a figura humana mais primitiva foi a encontrada na África do Sul. O maior rei babilônico foi Hamurabi (1792 a.C. -1750 a.C.) o qual elaborou um sistema de leis, que foram organizadas em um código – o Código de Hamurabi – que já previa normas de conduta para o sacerdote/médico; uma das quais estabelecia que se ele errasse no tratamento de um homem livre, teria sua mão arrancada. Babilônia foi destruída pelos assírios, mas reconstruída por Nabucodonosor (605 a.C -562 a.C), em cujos palácios foram instalados os Jardins Suspensos, onde eram cultivadas muitas plantas com poderes curativos ou medicinais. A grande contribuição do povo hebreu para a humanidade foi o legado cultural religioso monoteísta, que se tornou único entre os povos contemporâneos. Os hebreus passaram a ser os escolhidos de Deus, que os guiou e lhes revelou os Dez mandamentos, por meio de Moisés, cujos preceitos, válidos ainda hoje, incorporaram as mais importantes regras éticas de relacionamento humano e oferece até mesmo um quadro de referência para a saúde mental. Moisés estabeleceu ainda um código – o Código Mosaico – que apresentava de forma sistemática e organizada os métodos para prevenir doenças, por meio de certas regras de higiene pessoal, alimentação, repouso, etc. A prática da hospitalidade era uma regra para os hebreus, assim como a prática da visita e o cuidado de doentes constituíam um dever religioso (Dolan, 1968). Dentro deste contexto de desenvolvimento da humanidade que caminhos a ação de cuidar tem percorrido? A atividade de cuidar ou “tomar conta” de pessoas se confunde no tempo com o trabalho da mãe no cuidado e na nutrição dos filhos e de outras pessoas dependentes, como os idosos, os feridos ou doentes. A proteção materna instintiva foi a primeira forma de manifestação do ser humano no cuidado de seu semelhante. O conhecimento dos meios de cura conferia poder no seio dos grupamentos humanos, e o homem fortaleceu esse poder e se apoderou dele transformando-se em uma figura mística ou religiosa para aplacar as forças mal. Essas figuras tornaram-se conhecidas como pajé, xamãs, sacerdotes, etc., que utilizavam magias, danças, beberagens para afugentar os demônios, quem, segundo a crença da época, provocavam as doenças. Os sacerdotes executavam ações inerentes ao tratamento e à recuperação dos enfermos, exercendo as funções que seriam próprias de médicos, farmacêuticos e enfermeiros. Com o nascimento da clínica, o médico, descendente do sacerdote, aparece como mediador dos sinais e sintomas identificadores de um mal de que o doente é portador (Foucault). A figura do cuidador através dos tempos Os cuidados existiram desde que surgiu a vida, uma vez que seres humanos sempre precisaram deles. Cuidar é um ato que tem como fim primeiro permitir que a vida continue e, assim, lutar contra a morte. Os cuidados não pertenciam a um ofício, menos ainda a uma profissão, pois diziam respeito a qualquer pessoa que ajudasse outra a garantir o que lhe era necessário para continuar sua vida. Seria o cuidador. Para garantir as funções vitais era necessário prover a alimentação, a proteção com o vestuário e o abrigo contra as intempéries, essas necessidades deram origem a um conjunto de atividades assumidas por homens e mulheres, o que deu lugar à divisão sexuada do trabalho, de acordo com as culturas e as épocas, marcando o lugar do homem e da mulher na vida social e econômica. Tanto o homem como a mulher cuidavam de manter a vida dos seres vivos com o objetivo de permitir a reprodução e a perpetuação dos grupos. À medida que descobriam o que era bom e o que era mau para a continuidade da vida, foram surgindo as práticas de cuidados habituais, compostas de coisas permitidas e proibidas, posteriormente erigida em rituais confiados ao xamã, e depois ao sacerdote. Por esse poder de mediação, o sacerdote vai adquirindo o direito de eliminar do grupo qualquer suspeito de ser portador de mal. Esse papel de mediador foi se transformado e, lentamente, deu origem à figura do médico, o mediador dos sinais e sintomas indicadores de um mal, de que o doente é portador. É bem conhecida a figura do médico grego Hipócrates, que é tido como o pai da medicina pelo fato de tê-la separado da religião, da magia e da filosofia e, assim, dado início à medicina científica. A medicina moderna fixou-se em 1973, quando a observação ao leito se tornou parte essencial dessa nova ciência, organizada em torno da clinica, que renascia na França. Assim, a história dos cuidados prosseguiu com a aparição do Homo e do Homo Sapiens, quando homens e mulheres lutaram para assegurar a continuidade da vida. A ação de proteção, no início reflexiva e instintiva tornou-se objeto mais tarde do médico. Por conseguinte, “cuidar” tornou-se tratar a doença. Essa trajetória, na verdade, influenciou definitivamente a prática de enfermagem e, segundo Collière, contribuiu para dificultar a identificação dos cuidados pertinentes à profissão. Inicialmente ligada à manutenção e desenvolvimento da vida, foi construída ao redor de tudo que dá vida, especialmente as mulheres. Couberam a elas todos os cuidados e as práticas relativas ao nascimento, o cuidado das crianças, de doentes e moribundos, inclusive a alimentação. Aos homens competiam outros cuidados com o corpo: traumatismo de fraturas, domínio de pessoas agitadas, etc., o cuidar da mulher no parto configurou-se desde logo como um ofício específico somente para mulheres experientes, durantes séculos não era permitido aos homens dar essa assistência. Os homens se vincularam mais à ortopedia, cirurgia e psiquiatria. As mulheres somente começaram a ser incluídas no quadro de enfermagem psiquiátrica quando apareceu uma medicação que neutralizava a força física do paciente. Mesmo com a riqueza de informações sobre a prática de cuidados com as pessoas, a história do cuidar ainda está para ser reconstruída, não só para que se conheça melhor os processos que conduziram a enfermagem ao estágio atual de profissionalização, como também para que se busque explicações sobre o sentido e a finalidade dos cuidados oferecidos por essa profissão. As atuais profissões voltadas para a saúde emergiram de um tronco histórico comum, plantados sobre as práticas de cuidados. A enfermagem como atividade profissional foi inicialmente concebida como parte integrante da prática médica e também como prática social. O cuidar na Idade Média e a influência do Cristianismo A Idade Média se estende dos séculos V ao XVIII. Nos primeiros séculos do período cristão, as ações de cuidarsofreram as influências de fatores socioeconômicos e políticos da época. A vida cotidiana e as atividades de cuidar dessa época consistiam em delegar às mulheres a tarefa de se dedicar fundamentalmente à compensação das perdas demográficas causadas pelas guerras continuadas e pelas epidemias, através da reprodução, que garantia a perpetuação e a sobrevivência do grupo. Assim, a mulher seguia realizando tarefas domésticas e paradomésticas, isto é, o cuidado com enfermos, crianças e feridos e com a alimentação da família, entre outras. A necessidade de auxílio e de redenção dos sofrimentos, aliada à sensibilidade mística do povo, encontrava expressão na religião cristã, que começava a progredir, a organização eclesiástica assumiu posições importantes, aumentando seu poderio e sua posse fundiária. A Igreja então passou a deter o monopólio moral, intelectual e financeiro como precursora da lei, da caridade e da bondade e começou a difundir o dogmatismo cristão. Nesse período, não havendo ainda os princípios de higiene e assepsia, os doentes compartilhavam a mesma cama indistintamente com um ou até mais pacientes. As Cruzadas e sua influência na ação de cuidar As Cruzadas eram expedições militares organizadas pelos cristãos a partir do final do século XI com o objetivo de libertar e recuperar Jerusalém, ou Terra Santa, que havia caído em poder dos muçulmanos no século VII, tiveram início em 1905 com o papa Urbano II e foram mais estimuladas posteriormente por indulgências e privilégios concedidos pelos papas e pelos reis aos cruzados. Os expedicionários que delas participavam usavam uma cruz vermelha nos ombros, no peito e no estandarte ou na bandeira, daí o nome cruzada, derivado da cruz. Os senhores feudais, assumiram o encargo de aliviar a Europa e a Terra Santa de enfermidades e pobreza. E a Igreja, com a ajuda das populações dos povoados, começou a construir hospitais, onde instalou grande número de monges-militares para cuidar de ferimentos e doenças. Não apenas os cruzados eram atendidos, mas também os peregrinos. Entre esses havia muitas mulheres, o que gerou a necessidade de construir hospitais para elas também. Daí o surgimento do Hospital de São João de Jerusalém para os homens e o Hospital de Santa Maria Madalena para as mulheres. Na ilha mediterrânea de Malta existiu a Ordem dos Cavaleiros de Malta, que construiu um famoso hospital em 1617, em que um pequeno quadro era colocado na cabeceira da cama. Nesse quadro os médicos cirurgiões deveriam escrever suas ordens. Durante as visitas, eles eram acompanhados por súditos, que tomavam nota do que era dito. A enfermagem sofreu forte influência das Cruzadas, uma vez que a rígida hierarquia e a disciplina existentes na vida militar e mesmo na clerical e religiosa foram em muito assimiladas pelos pioneiros para moldar a formação dos primeiros enfermeiros. Outro aspecto relevante a se considerar é que a ação de cuidar era exercida praticamente pelos homens, e as ordens militares com monges enfermeiros caracterizavam a enfermagem como atividade masculina. Islamismo e Cristandade O islamismo ou muçulmanismo é uma religião monoteísta, fundada no século VII por Maomé e inspirada no judaísmo e parcialmente no cristianismo. Os preceitos religiosos, assim como as leis civis e penais,estão contidos no Alcorão, o livro sagrado. Maomé incitava o ataque a todos os infiéis que se negassem a se submeter a Alá. Assim, os muçulmanos saíram do deserto da Arábia para conquistar a Síria, a Palestina, o Egito e a Pérsia. Ao entrarem em contato com esses países procuravam assimilar a organização política local e enriquecer sua cultura. Sabiam cuidar de rebanhos, aprenderam a arte da irrigação com os egípcios e levaram essa experiência para a Espanha, onde permaneceram por quase oito séculos. Muitos benefícios foram trazidos por essa proximidade, os árabes introduziram na Europa o cânhamo, o arroz, o açafrão, a laranjeira, a cana de açúcar e outros vegetais, traduziram pensamentos de Platão e Aristóteles, ensinaram aos europeus os algarismos e a álgebra, fizeram grandes estudos de astronomia, geografia e medicina. A arquitetura árabe atingiu alto grau de desenvolvimento, não faziam, entretanto, escultura ou pintura da figura humana porque não era permitido pelo Alcorão, mas criaram um gênero de decoração especial chamado de arabesco. A indústria foi notável, igualmente o artesanato se destacou. A escrita floral árabe transformou a produção manual de livros em arte decorativa, foram ainda os árabes que introduziram na Europa o uso de papel, de bússola e de pólvora. De um modo geral, os califas árabes fomentavam estudos com vistas ao progresso. Com isso, as obras de Hipócrates e Galeno foram traduzidas para o árabe e os estudos sobre fisiologia e higiene foram estimulados. Avicena (980 -1037), um dos médicos árabes mais conhecidos, escreveu Cânon da Medicina obra que serviu aos estudiosos por séculos depois de sua morte. Reformas socioculturais e religiosas No longo período das Cruzadas os papas pareceram descuida-se da missão espiritual. Ao mesmo tempo, o Humanismo e o Renascimento prepararam o terreno para uma reforma espiritual, ocorrida no século XVI, liderada por Martinho Lutero (1483-1546). Lutero, nascido na Saxônia, Alemanha, estudava leis, mas logo percebeu sua inclinação eclesiástica e ingressou na Ordem dos Agostinianos. Em 1517, um incidente motivado pela questão das indulgências provocaria seu rompimento com a Igreja. O papa Leão X decidiu conceder indulgências em troca de ajuda e doações, atitude essa que tomou feições excessivamente comerciais. Lutero criticou essa campanha defendendo a doutrina da salvação pela fé e não pelas indulgências. Chamado a retratar-se pelo papa, recusou-se e foi excomungado. Sendo expulso também do império, refugiou-se no castelo de um amigo por dez meses, durante os quais traduziu a Bíblia para o alemão, colocando-a ao alcance dos fiéis. Com isso, aumentou o número de adeptos e seguidores. Esse movimento, que começou como uma reforma, terminou como verdadeira revolução, o que produziu uma grande divisão no cristianismo. Por seu lado, a Igreja Romana encontrou em santo Inácio de Loyola (1491-1556) o autor de uma verdadeira contra reforma. Santo Inácio se converteu e fundou, em 1534, a sociedade de Jesus, mais conhecida como a ordem dos jesuítas. Por seu grande preparo intelectual, os jesuítas tornaram-se muito respeitados como educadores, especialmente em instituições de nível superior. A Ordem de Santa Úrsula surgiu pouco depois para dedicar-se à educação feminina na Europa onde as irmãs ursulinas fundaram muitas escolas. Outra reforma religiosa ocorreu na Inglaterra com Henrique VIII, que ao pretender divorciar- se da primeira esposa, Catarina de Aragão, entrou em choque com o papa Clemente VII, que se recusou a anular o matrimônio (1527). Assim, em 1534, Henrique VIII consumou a separação, criando a Igreja Inglesa ou Anglicana, que tornava o rei da Inglaterra o chefe supremo da religião no país. Em 1536 ordenou o confisco de todos os bens da Igreja Católica e expulsou seus religiosos da Inglaterra. A expulsão dos religiosos desencadeou uma grande e prolongada crise nos hospitais e abrigos de pobres, doentes e órfãos, que eram por eles cuidados. A saída dos religiosos ocorreu sem ter quem os substituísse. A solução encontrada foi o recrutamento de mulheres nas ruas e em prisões, em sua maioria, mulheres analfabetas e inescrupulosas. Essa crise ficou conhecida como o período negro da enfermagem. A partir dos séculos XIV e XV, outro movimento começou a surgir na Itália e se expandiu para o restante da Europa Ocidental. Era um movimentointelectual, artístico e científico inspirada na civilização clássica grega e romana, conhecido como Renascimento ou Renascença. Buscava resgatar o patrimônio cultural das artes, da filosofia e do conhecimento. A Renascença promoveu uma explosão de conhecimentos e pensamentos criativos nos centro de aprendizagem, isto é, nas universidades. A educação médica encontrou seu rumo no ambiente universitário, mas a educação em enfermagem não teve a mesma sorte. A expansão comercial acarretou uma nova forma de organização econômica, que por sua vez fizeram melhorar os sistemas viários, de transporte e até de renovação tecnológica. A descoberta da imprensa por Gutenberg possibilitou outra revolução, pois a facilidade de divulgação de informações fluiu no modo de pensar e interpretar fenômenos. Para as mulheres também houve algumas transformações, pois se antes elas ocupavam papeis passivos e de reclusão imposto pela própria sociedade, os novos ares trouxeram para as que pertenciam à nobreza a oportunidade de receber instruções em casa. Para as mulheres de classe média ou baixa, os mosteiros ofereciam a possibilidade de estudar e mesmo de seguir carreira, com vistas a aspirações intelectuais e espirituais. O impacto das reformas no cuidar A divisão do cristianismo em católicos e protestantes não trouxe grandes conseqüências para a enfermagem, pois ambos consideravam a prestação de cuidados a doentes como exercício do espírito cristão e da prática da caridade, que era exercida pelas mulheres da alta sociedade e da burguesia. Como vimos, durante a Idade Média, era exercida por grupos religiosos ou por militares. Os monges assistiam os homens, as monjas, as mulheres. A função não era propriamente conhecida como enfermagem, os cuidados eram prestados sem preparo algum, ou ainda, por membros da família. Foi a evolução da medicina, da cirurgia e da saúde pública que demandou muitos procedimentos, que passaram a ser executados por pessoas diferentes dos médicos, mas devidamente treinadas, com conhecimentos dos princípios científicos. Tal evolução fez com que esses dois profissionais – médicos e enfermeiras – se aproximassem e trabalhassem em conjunto. Outro ingrediente que figurou como fator essencial na trajetória da enfermagem profissional foi a emancipação feminina. Com efeito, esse novo status da mulher possibilitou a ela o desenvolvimento de atividades sociais, educacionais, políticas e de interesse da coletividade. Aliás, “o simples fato de as mulheres poderem demonstrar que eram capazes, por elas mesmas, de desenvolver tal profissão exerceu significativa influência em sua luta para fortalecer ainda mais a liberdade que almejava” (Griffin & Griffin). Historicamente, pois a enfermagem como profissão está vinculada ao progresso e prática da medicina, à evolução dos hospitais e, indiretamente, à ocorrência da Revolução Industrial e da emancipação feminina. Cabe estabelecer uma diferença entre a enfermagem propriamente dita e a enfermagem profissional. A primeira, entendida no sentido de cuidar de pessoas doentes no seio da família ou no círculo de amigos, remota à era pré-histórica. Já a segunda, reflete a evolução de um grupo que se organizou dentro da sociedade e que, tendo recebido preparação adequada para o seu exercício, dedica a maior parte do tempo e o esforço no cuidado de doentes, pelo que recebe uma remuneração, a exemplo de qualquer outra profissão. Praticamente não se encontra menção da enfermagem exercida como ocupação na Antiguidade. Algumas atividades realizadas que se identificam com a enfermagem eram as que cercavam o nascimento e o cuidado com crianças. No primeiro milênio do cristianismo não houve tentativa de organizar a enfermagem. Apenas as Cruzadas militares e as ordens religiosas prosperaram influenciando todas as atividades do período medieval. A enfermagem nessa época consistia em atender as necessidades fisiológicas dos doentes, ministrar medicamentos, fazer curativos e cuidar da higiene. Todavia, tais práticas se baseavam em conceitos bem diferentes dos que se conhecem hoje. A medicina na Europa era praticada sob duas vertentes: a medicina laica e a medicina eclesiástica. O estabelecimento da escola de medicina de Salerno, na Itália, no século IX foi um grande evento pelo fato de ter sido um centro de ensino médico até o século XIV. No século XV foi organizada a primeira escola médica da Grã-Bretanha. Com a invenção da imprensa foi possível aumentar o número de livros e de novas escolas. Considerações finais Somente quando os homens deixaram de ser nômades é que teve início o cultivo da terra e a domesticação de animais. Civilizações mais antigas desenvolveram normas interessantes como o Código de Hamurabi, os Dez Mandamentos e o Código Mosaico. Embora coubesse à mulher cuidar dos doentes e feridos, em geral havia um pajé, feiticeiro ou sacerdote que misturava misticismo com danças e beberagens e algum conhecimento para assumir essa função, o que lhe conferia poder dentro do grupo. Aos poucos essa figura do médico transformou-se no que é hoje o médico. O cristianismo exerceu enorme influência na ação de cuidar, pois fez com que pessoas da nobreza se despojassem de seus bens para se dedicar à caridade ou transformassem seus palácios em abrigos para os menos favorecidos. A queda do Império Romano, em 476, foi seguida por um grande caos, e a igreja teve dificuldade em organizar-se, mas conseguiu fazê-lo em três frentes: a luta pelo poder; o desenvolvimento da vida monástica como alternativa para dar proteção a homens e mulheres nos mosteiros; e a organização e patrocínio das Cruzadas. Para cuidar dos cruzados e peregrinos feridos, surgiram ordens militares, muitas delas formadas por monges enfermeiros. O cuidado era prestado basicamente por homens que, por pertencer à vida religiosa e a uma ordem militar conheciam bem regras de disciplina, hierarquia e obediência. Assim, a enfermagem era uma atividade masculina e havia entre eles muitas regras rígidas de hierarquia e obediência, que podem ter sido transferidas para a vida secular quando a enfermagem passou a ser uma profissão, com direito à remuneração e não mais uma obra de caridade.
Compartilhar