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A fidedignidade dos textos no livros didáticos de comunicação e expressão no Brasil

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• A FIDEDIGNIDADE DOS TEXTOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE COMUNICAÇÃO E 
 
EXPRESSÃO NO BRASIL . 
 
 
Marlene Gomes Mendes 
 
 
 Das atividades de extensão desenvolvidas pelo Departamento de Linguística e Filologia da 
Universidade Federal Fluminense, uma delas, o treinamento de professores de Comunicação e 
Expressão de 1º e 2º graus, ensejou o aparecimento deste trabalho, quando participamos do projeto, 
fazendo uma palestra sobre a importância da fidedignidade dos textos. 
 Para complementar a exposição que faríamos, além dos exemplos da deturpação de textos 
colhidos em várias edições de obras de Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos e outros, 
de que nos servimos em nossas aulas de Filologia, no Instituto de Letras, ocorreu-nos verificar - uma vez 
que não tínhamos ideia do que iríamos encontrar - como eram tratados os textos transcritos pelos autores 
de livros didáticos de Comunicação e Expressão. Fizemos então um levantamento dos livros utilizados 
pelos professores em suas escolas e trabalhamos com 17 autores e 36 livros. Destes, retiramos, 
aleatoriamente, alguns textos que se constituíram no "corpus" da nossa pesquisa (51 textos em verso e 
99 em prosa). 
 Tentaremos mostrar neste trabalho aspectos que consideramos pertinentes à Crítica Textual, no 
que se refere à transcrição de textos nos livros didáticos. 
 Para não sobrecarregar o texto a todo momento com os nomes dos autores e livros pesquisados, 
remetemos à relação no final do trabalho, através da indicação do livro (em algarismo romano) e da 
página (em arábico). 
 Observamos, inicialmente, um fato comum a quase todos: não se costuma indícar que se trata de 
fragmento, quando um texto não foi integralmente transcrito. O mesmo ocorre quando o texto é 
interrompido e retomado adiante. Por vezes, as supressões de trechos nos dão a impressão de que isto se 
dá em função do espaço, ou seja, sacrifica-se a unidade do texto, para que se encaixe num pedaço do 
papel que a ele foi destinádo, depois de feitas as ilustrações. 
 No caso de poemas, o desrespeito ao texto está frequentemente associado a problemas de 
disposição gráfica dos mesmos. Por isso, suprimem-se versos, dois ou três versos se reduzem a um, ou 
vice-versa, um verso se desdobra em dois ou três. Exemplifiquemos: o poema A bailarina, de Cecília 
Meireles, aparece no livro Português dinâmico, para a 2a série do 1º grau (p. 28), de Antônio de 
Siqueira Silva e Rafael Bertolin, com os versos 14, 15 e 16 reduzidos a um só: "Esta menina / tão 
pequenina / quer ser bailarina". O mesmo poema é transcrito pelos mesmos autores em seu livro para a 
3a série (p. 97), com esta falha corrigida, mas, desta vez, com os versos 6 e 7 suprimidos: "Não conhece 
nem mi nem fá / mas inclina o corpo para cá e para lá". Nesta mesma página, em outro poema de Cecília 
Meireles, "O menino azul", os versos 7 e 8: "que saiba dizer / o nome dos rios" se reduzem a um. Ainda 
dos mesmos autores, no livro para a 7a série (p. 76), encontramos o poema "Soldados verdes", de 
Cassiano Ricardo, com os versos 4 e 5 também reduzidos a um único. 
 Mais alguns exemplos de aumento ou diminuição do texto, pelo acréscimo ou supressão de 
versos, para que o texto caiba na "moldura" para ele preparada: o poema Trem de ferro, de Manuel 
Bandeira, teve o verso "Virge Maria que foi isto maquinista?" desdobrado em três (II, p. 85). Também 
no poema O girassol, de Vinícius de Moraes, os versos 12, 17, 19 e 20, por não caberem no espaço, 
foram, cada um deles, desdobrados em dois, resultando daí o aumento de 4 versos no poema (IV, p. 
234). O poema de Cassiano Ricardo, "Futebol", ganhou um verso (inventado), introduzido entre o 28º e 
o 29º: "que tem uma bola branca cor de opala" (XVIII, p. 110). 
 Os textos em verso são ainda objeto de inúmeras alterações na estrofação original. Os 
preparadores dos livros didáticos juntam ou separam estrofes, num total desprezo à vontade do autor, 
desde que isto seja necessário para que o texto fique - repito o termo - na sua "moldura". Alguns 
exemplos: "Leilão de jardim", de Cecília Meireles (III, p. 13). "Martim Cererê, jogador de futebol", de 
Cassiano Ricardo, passa de quatro para três estrofes (VII, p. 4). Do mesmo autor, "Reis magos", 
originalmente com quatro estrofes (três dísticos e um terceto), fica reduzido a uma única estrofe de nove 
versos (XVII, p. 175). Acreditamos que seria exaustivo enumerar aqui todos os casos encontrados; basta 
dizer que em 16 dos 51 poemas pesquisados (cerca de 31%) a estrofação original foi alterada. 
 Quanto aos textos em prosa, consideramos falha grave o fato de os autores não indicarem quando 
os textos transcritos constituem um fragmento. Consequentemente, ficamos sem saber se se trata de 
trecho retirado do início, do meio ou do final de uma parte ou de um capítulo, dependendo de como foi 
estruturada a obra. 
 Geralmente não são usados os sinais convencionais (linha pontilhada ou pontos) para indicar a 
supressão de trechos, quer sejam palavras, linhas ou parágrafos. Em alguns casos, a transcrição tem 
início no meio de um parágrafo, o que muito dificultou nosso trabalho de encontrar o fragmento 
transcrito, para proceder ao confronto. 
 Exemplos: Fuga, um trecho retirado de um capítulo de Vidas secas, de Graciliano Ramos, é 
completamente desfigurado, tais as supressões, que chegam a ser de páginas... E a transcríção termina 
bruscamente, no meio de úm parágrafo (VII, p. 38). 
 Na transcrição de parte de uma crônica de Drummond, a supressão de um trecho trouxe como 
consequência a mudança do título: Um escritor nasce e morre passou a ser Um escritor nasce (XXVII, p. 
16). O mesmo ocorre com a crônica Duas histórias para o Flávio (ambas de onça), de Rachel de 
Queiroz: transcreveu-se a crônica a partir de um parágrafo, cujo primeiro período, suprimido, é "A outra 
história se deu no Amazonas", além do corte do período, importante para que o leitor possa situar a cena, 
o título também toi alterado para "História de caçador", uma vez que só uma das duas histórias foi 
contada (XXX, p. 22). 
 Como já se pôde notar pelos exemplos citados, inúmeros títulos são alterados, ou mesmo 
inventados. Vejamos alguns: Trem de ferro, de Bandeira, é A voz da locomotiva (II, p. 85); O burro 
sábio, de Monteiro Lobato, passa a O burro e o elefante (III, p. 18); no mesmo livro, à p. 142, um trecho 
retirado do capítulo Entre os adjetivos, de Emília no país da gramática, toma o nome de Artigos; um 
outro capítulo, da mesma obra de Lobato, Exame e pontuação, passa a chamar-se O bazar da pontuação 
(IV, p. 53). Fazenda abandonada é o título que toma o trecho transcrito do capítulo Mudança, de Vidas 
secas, de Graciliano Ramos (IX, p. 132). O poema Futebol, de Cassiano Rícardo, é Jogador de futebol 
(XVIII, p. 110). A fábula de Monteiro Lobato, A rã e o boi aparece como A rã e a perereca (XXVII, p. 
138). A velha casa é o título dado à crônica de Drummond: Vende a casa (XXXII, p. 7). No mesmo 
livro, à pág. 70, ao trecho retirado de O cortiço, de Aluízio Azevedo, foi dado o título de O domingo no 
cortiço. Meu amor foi o título inventado para um fragmento de João Ternura, de Aníbal Machado, livro 
estruturado em partes, sem nenhum título (XXXV, p. 76). Lisetts é como se chama o texto de Clarice 
Lispector, Macacos (XXXVI, p. 37); no mesmo livro, trecho retirado de Alexandre e outros heróis, de 
Gracíliano Ramos, Pequena história da República chama-se O Brasil dos fins do século passado (p. 
155). 
 Trataremos agora da parte destinada à referência bibliográfica nos livros pesquisados que, de 
modo geral, é muito falha. As normas da ABNT são totalmente desconhecidas dos autores dos livros 
didáticos. Geralmente, as referências, quando existem, são incompletas. Hátextos que só trazem o nome 
do autor. É o que ocorre, por exemplo, em textos dos livros da 1a a 4a séries de Joanita Souza; em 
Português dinâmico, de Antônio de Siqueira e Silva e Rafael Bertolin, para a 2a, 3a, 6a e 7a séries; em A 
mágica da comunicação, de Yolanda Marques, para a 2a e 3a séries e outros (X, p. 21, 57, 72; XXVII, p. 
140). 
 Às vezes não há nenhuma indicação, nem mesmo o nome do autor (I, p. 59, III, p. 28 e 181; V, p. 
56 e 73; VI, p. 79; VIII, p. 72; X, p. 13, 30 e 39; XVI, p. 33; XIX, p. 12). 
 Nos casos de adaptação e tradução, geralmente não são indicados os responsáveis e, às vezes, 
nem mesmo se faz referência às fontes de onde foram retirados os textos. 
 Há muitos textos transcritos de revistas e, nestes casos, é comum se fazer referência unicamente 
à revista, como se esta fosse o autor. Por exemplo: "Da Revista Pedagógica" (XIX, p. 105) ou "Da 
Revista Comunicação" (XVIII, p. 156}, ou ainda, "Da Revista Bem-te-vi" (VI,p.28). 
 Encontramos dois casos de referência errada: o poema Martim Cererê jogador de futebol (VII, 
p. 4) traz a indicação de ter sido transcrito da 11a edição (1962) de Martim Cererê, de Cassiano Ricardo. 
No entanto, este poema só aparece na 1a edição do livro, de 1928, à p. 98! O outro caso encontra-se no 
livro Estudos de linguagem, de Lydia Bechara et alii, 8a série, p. 87: atribui-se à Editora José Olympio a 
publicação de Poesia completa e prosa, de Manuel Bandeira, o que foi feito pela Aguilar. 
 Na maioria dos casos, as referências são incompletas: ora são indicados autor e obra, ora autor e 
editora, ora somente editora, como o texto O sabe-tudo, que traz como única indicação: Editora Abril! 
(II, p. 70). 
 Chegamos agora ao problema que nos parece ser o mais grave: a adulteração dos textos. 
Considerando o número de textos que confrontamos (51 em versos e 99 em prosa), não poderíamos 
transcrever todos os erros encontrados. Por isso, limitar-nos-emos a uma amostragem, que julgamos 
bastante representativa. 
 Os textos de Monteiro Lobato, por serem dos mais utilizados, são também os que sofrem as 
maiores mutilações. Além das mudanças de títulos, já referidas anteriormente, a paragrafação é 
desobedecida, trechos inteiros são suprimidos, principalmente quando se trata de fragmentos de Emília 
no país da gramática, porque os autores, segundo nos parece, não acreditam na capacidade do professor 
de mostrar aos alunos a mudança de nomenclatura. É o que ocorre, por exemplo, com trechos dos 
capítulos Entre os adjetivos, ou Artigos, como foi rebatizdo (III, p. 142), e Exame e pontuação, alterado 
para O bazar da pontuação (IV, p. 53): no § 2 do trecho transcrito, encontramos: "Lá moram o A, o O, o 
UM, o UMA, umas pulgas de palavrinhas, mas que apesar disso são utilíssimas. A gente não dá um 
passo sem usá-las. São os artigos." Na realidade, o que Monteiro Lobato escreveu foi: "- Olhem onde 
moram o A, o O e o UM - umas pulgas de palavrinhas, mas que apesar disso são utilíssimas. A gente 
não dá um passo sem usá-las. Mas isto, senhor rinoceronte, não é o que antigamente se chamava 
Artigo?" E mais adiante, onde Lobato fala em "adjetivo articular UM", lê-se: "artigo um" (§5). 
 O segundo exemplo trata do uso da vírgula e está assim redigido: - Essas vírgulas servem para 
separar as Orações, as Palavras e os Números explicou ele. - Servem sempre para indicar uma pausa 
na frente." Vejamos como o autor se expressou: "- Essas vírgulas servem para separar as Orações 
Independentes das Subordinadas - explicou ele - e para mais uma porção de coisas. Servem sempre 
para indicar uma pausa na frase. (Sublinhamos as divergências). 
 Outras vezes, são totalmente inexplicáveis as alterações, como no caso da fábula A coruja e a 
águia (IV, p, 29), em que aparece a forma "mostrengo", mudada para "monstrengo". No final da fábula, 
Lobato aproveita para, através de d. Benta, ensinar que, apesar de os gramáticos insistirem em que a 
forma correta é "mostrengo - coisa de mostrar", o povo acabará por impor a sua vontade, continuando a 
dizer "monstrengo" - coisa monstruosa". Ao modificar o texto e suprimir o comentário final, perdeu-se 
uma excelente oportunidade, aliás oferecida por Monteiro Lobato, de ensinar ao aluno a não rigidez dos 
conceitos de certo e errado em língua. 
 Às vezes as modificações chegam a tornar cômico o texto. É o que acontece, por exemplo, com a 
transcrição da fábula O reformador do mundo (IV, p. 61). No final, onde Lobato escreveu: "uma 
jabuticaba cai do galho e lhe acerta em cheio no nariz", lê-se: "uma jabuticaba que cai e lhe esborracha o 
nariz". Como se fosse possível a essa frutinha, por maior que seja, esborrachar o nariz de alguém! No 
mesmo trecho, há uma mudança de pessoa gramatical, da 3a para a 2a pessoa do singular: "Não tenho 
razão?" passa a: "Não achas que tenho razão?" 
 Um texto muito apreciado pelos autores dos livros didáticos é o poema "Trem de ferro", de 
Manuel Bandeira. Mas, geralmente, a transcrição não é fidedigna. Por exemplo: no verso 4, "Virge 
Maria que foi isto maquinista?" a forma popular Virge, usada pelo poeta, foi "corrigida" para Virgem 
em dois livros (II, p. 85 e XV, p, 104). Criou-se um novo verso para o poema: "Piuí. .. Piuí. .. Piuí", que, 
por sinal, aparece duas vezes, a segunda finalizando a poesia. Em vez de "Que eu preciso", lê-se "Que é 
preciso"; "ingazeira" passa a "ingazeiro"; os versos "Passa poste / Passa pasto" são: "Passa poste / Passa 
poste". E há ainda a omissão da 5a estrofe do poema, que se compõe de16 versos (XV, p. 104). 
 Trechos clássicos de nossa literatura, como Canção do exílio e o início do capítulo II de Iracema, 
são alterados sem a menor consideração com o estilo do autor: "Nossas várzeas" passa a "Nossa várzea"; 
os versos "Que tais não encontro eu cá" e "Que não encontro por cá", respectivamente 14º e 22º do 
poema, foram trocados (XIII, p. 48). A musicalidade do trecho em que Alencar descreve Iracema, a 
"virgem dos lábios de mel", foi prejudicada, quando "a asa da graúna" aparece como "as asas da 
graúna"; "o favo da jati" é "o favo de jati"; e há, ainda, a supressão do adjetivo grande em "da grande 
nação tabajara" (XXIX, 12). 
 Exemplos de alterações que mudam o sentido do texto são: no poema Natal, de Vinícius de 
Moraes, os versos 18, 19 e 20, respectivamente: " - Cruz credo! Cruz credo! / Brava / A arara a gritar 
começa:" transforma-se nos 2 versos seguintes: "- Cruz credo! Brava. Cruz credo! / A arara a gritar 
começa" (XI, p.,201). 
 Na crônica Pecado e virtude, de Paulo Mendes Campos, na qual o autor rememora fatos do 
colégio onde estudara e faz referência ao diretor, dizendo que os alunos o chamavam "em razão de seu 
vício de prosódia e leit-motiv disciplinar, de 'boa-oldem' ", o texto fica totalmente sem sentido, quando 
se "corrige" "boa-oldem" para "boa-ordem" (XXVI, p.77). 
 O belíssimo Soneto de fidelidade, de Vinícius de Moraes, tem o seu 11º verso completamente 
desvirtuado, pela inclusão do pronome átono a antes do verbo ama: "E assim, quando mais tarde me 
procure / Quem sabe a morte, angústia de quem vive / Quem sabe a solidão, fim de quem ama", este 
último mudado para "Quem sabe a solidão, fim de quem a ama" (XXX, p. 41). 
 "Soa nos vales" é "Soa nos morros", no poema Soldados verdes, de Cassiano Ricardo (VIII, p. 
76). Toto, nome de um garoto de uma crônica de Drummond, é Totó (XXV, p. 41). 
 No conhecido conto de Machado de Assis, Noite de almirante, no parágrafo 18 há um trecho em 
que o autor usa o pronome elas, que se refere a ideias, sujeito do período anterior: "As ideias 
marinhavam-Ihe no cérebro, como em hora de temporal, no meio de uma confusão de ventos e apitos. 
Entre elas rutilou a faca de bordo... ". O pronome, que passou de elas para eles,mudou o sentido do 
texto, levando o leitor a atribuir-lhe como antecedente ventos e apitos, e não ideias (XXX, p. 72). 
 Muitas vezes a troca de palavras, além do desrespeito que constitui à obra do autor, traz, como 
consequência, um empobrecimento do vocabulário. É o que acontece em: objetou substituído por disse 
(III, p. 142); sustendo, por sustentando (IV, p. 61); aeroplano, por avião (XXV, p. 26); babujava, por 
bajulava (XXX, p. 72). 
 São exemplos de abrandamento vocabular, a troca de caceteação por chateação (XXVII, p. 20) 
e diabo por diacho (XXXII, p. 26). 
 A supressão e a substituição de palavras trazem, por vezes, uma certa mutilação da 
expressividade, como se verifica na troca de o leite por as estórias em: "espremer tia Nastácia para tirar 
o leite do folclore" (III, p. 215). 
 Na crônica de Paulo Mendes Campos, O pombo enigmático, no trecho "a pomba, quando 
distinguia, indignada, o pombo que chegava, o pombo que chegava caminhando...", na repetição de o 
pombo que chegava centra-se toda a ideia de lentidão que o autor quis imprimir à cena, ideia esta que 
se perde com a supressão do segmento, como ocorreu (IX, p. 69). 
 Mudança de pessoa e tempos verbais é fato comum e, geralmente inexplicável, como nos 
exemplos que se seguem: "Imaginem" para "Imagine" (XXV, p. 26); "Lá vai ele" passa a "Lá ia ele"; 
"Concorda que" é "Concordava que"; "E, levantando-se, abriu" é "E levantou-se, abriu", todos estes 
exemplos retirados de 2 parágrafos de um mesmo texto (XXX, p. 72). 
 No conto O plebiscito, de Artur Azevedo, em vez de "confessasse francamente que não sabia o 
que é plebiscito", "confessasse francamente que não sabe o que é plebiscito" (XXXV, p. 94). 
 A preocupação com a gramática oficial, anulando, muitas vezes, a expressividade de formas e 
construções sentidas como incorretas, pode ser vista em casos como: "têm que seguir", mudado para 
"têm de seguir" (IX, p. 42); "grandessíssimo", para "grandíssimo" (XXVII, p. 20); "catinga" para 
"caatinga" (VII, p. 38); "o assunto era sempre as peraltagens", para o assunto eram sempre as 
peraltagens", e "falta só vinte", que passa a "faltam só vinte"(XXXII, p. 27 e 79). 
 Os casos de pontuação alterada — substituída, suprimida ou acrescentada — são tantos e tão 
frequentes que ficamos sem saber quais escolher para exemplificar. Apenas diremos que de todos os 
textos pesquisados não houve um só que não tivesse, pelo menos uma vez, um caso de pontuação 
modificada. 
 Muitas vezes, diante das deturpações textuais, questionamo-nos sobre a origem dessas falhas: 
consequência da falta de bons revisores? ou da falta de critério na escolha das edições de que se 
utilizaram os autores? ou se trata da "perpetuação" de erros, através de transcrições? De qualquer forma, 
a responsabilidade maior será sempre daqueles que preparam os livros didáticos. 
 Para proceder ao confronto dos textos, utilizamos, sempre que havia referência bibliográfica, as 
edições citadas, desde que, de acordo com os critérios adotados pela crítica textual, pudéssemos 
considerá-los fidedignos ou fiéis. Em caso contrário, ou na falta de referência bibliográfica, comparamos 
com as edições referenciadas no final do trabalho, selecionadas, evidentemente, acordo com os mesmos 
critérios. 
 Finalizando, gostaríamos de tocar em alguns pontos que complementam o que foi dito nesta 
comunicação. 
 Em novembro de 83, quando tínhamos procedido à colação dos textos, e nos horrorizávamos 
com a infidedignidade dos mesmos, nos livros didáticos, lemos na revista Veja, nº 795, de 30 de 
novembro, à p. 68, o artigo intitulado "Joanita de tal - Procura-se o autor de best-seller didático", que 
transcrevemos, dada a importância do fato que denuncia: 
 
"O Ministério da Educação e Cultura aplicou neste ano 167 milhões de 
cruzeiros na compra de 602.397 livros didáticos para o ensino fundamental de autoria de Joanita 
Souza, da Editora do Brasil. Mas Joanita Souza não poderá alegrar-se com o aval oferecido pelo MEC 
à sua obra, nem com a grande tiragem, muito menos com cheques de direitos autorais. É que a 
escritora não existe. "Trata-se uma das mais bem montadas mentiras editoriais dos últimos tempos", 
acusa Nelson de Luca Pretto, 29 anos, professor da Universidade Federal da Bahia, que fez a 
descoberta quando recolhia material para sua tese de mestrado em Educação." 
"Após tentar, durante meses, localizar a autora de Brincando com as 
palavras, Brincando com os números e Ainda brincando, Pretto foi informado por outros autores de 
livros didáticos que a busca era inútil - seriam obras de uma equipe de redatores náo qualificados da 
editora. Depois de muitas evasivas, Carlos Costa, diretor-geral da editora em São Paulo, disse ao 
professor que Joanita estava morando em Paris e só concedia entrevista por escrito, 'dada a freqüência 
com que os diálogos se prestam à transmissão defeituosa de pronunciamentos". Na semana passada, 
uma consulta à Receita Federal, em Brasllia, revelou que a contribuinte Joanita Souza não existe - ou, 
se existir, jamais pagou Impostos." 
"Critérios frágeis - É até possivel que se trate de pseudônimo, o que não 
representa crime algum, mas, segundo o advogado paulista Eduardo José Vieira Manso, especializado 
em direitos autorais, 'configura sem dúvida uma fraude intelectual'. De fato, ao ocultar com essa 
marca-fantasia o nome dos verdadeiros autores dos livros, a editora libera interpretações pouco 
lisonjeiras - por exemplo, a de que seriam desqualificados para produzir tais obras. Segundo Pretto, 
são mesmo. Na opinião do professor, a coleção de Joanita Souza, que versa sobre Estudos Sociais, 
Ciências, Comunicação e Expressão, apresenta um grande vazio de informações." 
"Pretto ataca com aspereza a esmagadora maioria dos livros didáticos 
editados no pais. 'São calcados na repetição de poucas informações e na solicitação de memoriallzação 
de frases', sustenta. 'Só assumem o papel de carro-chefe da educação porque os professores se apegam 
ao que já vem pronto: A critica atinge o MEC, encarregado de zelar pela instrução de 25 milhões de 
brasileiros, e compromete os critérios de seleção dos livros adquiridos pela Fundação de Assistência 
ao Estudante (FAE): as obras são escolhidas não em função das necessidades do ensino, mas a partir 
da oferta das editoras que podem oferecer bons produtos ou, como no caso da Editora do Brasil, 
trabalhos de autoria desconhecida." (Veja. São Paulo, Ed. Abril, n2 795, p. 68-9, nov. 1983). 
 
 Reunidos em Congresso de Literatura Infantil e Infanto-Juvenil, que se realizou na Universidade 
Federal Fluminense, autores de obras cujos textos são utilizados em livros didáticos se pronunciaram, 
em mesa-redonda, sobre o tratamento dispensado a seus textos quando transcritos nos referidos livros. 
Denunciaram que só por acaso ficam sabendo das mutilações de que são vítimas suas obras, pois nem 
eles nem as respectivas editoras são consultados a propósito das transcrições. 
 Dentre as dificuldades maiores que encontramos, citamos a precariedade das referências 
bibliográficas que, como já dissemos, tornam às vezes impossível encontrar o texto, e o acesso às fontes, 
uma vez que as bibliotecas são, em geral, muito pobres. A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que 
deveria ter em seu acervo todas as obras editadas no país, nem sempre as tem e, além dessa falha, não é 
permitido entrar em suas dependências portando livros, o que impede sejam feitos confrontos dos textos. 
 Achamos que não poderíamos perder a oportunidade que este Encontro de Crítica Textual nos 
proporciona para denunciar a grave deturpação que os textos selecionados por muitos livros didáticos de 
Comunicação e Expressão estão sofrendo. Quando se enfatiza tanto que o ensino dalíngua deve ser 
centrado em textos, é mister que nos mobilizemos para defender a fidedignidade dos mesmos, como, 
primeiro passo para um ensino que se pretende sério. 
 
Relação dos livros pesquisados 
 
I. SOUZA, Joanita. Brincando com as palavras; comunicação e expressão. 1a série, 1º grau. Ed. atual. 
 São Paulo, Ed. Nacional,1978. 
II. __________. ________. 2a série, ________ . 
III. __________. ________. 3a série, ________ . 
IV. __________. ________. 4a série, ________ . 
V. SILVA, Antônio de Siqueira & BERTOLlN, Rafael. Português dinâmico; comunicação e expressão. 
 2a série. São Paulo, Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, s.d. 
VI. __________. ________. 3a série, _______. 
VII. __________. ________. 6 série, ________ . 
VIII. __________. ________. 7a série, _______. 
IX. RIBEIRO, Lourival Regis et alii. Comunicação em língua portuguesa. 6a série. São Paulo, FTD, 
 s.d. 
X. PEREIRA, Terezinha de. Melo. Isto é aprender; comunicação e expressão. 2a série, 1º grau. São 
 Paulo, Ed. do Brasil, 1981. 
XI. MARQUES, Yolanda. A mágica da comunicação. 4. São Paulo, Ed. Nacional, s.d. 
1XII. FERREIRA, Reinaldo Mathias. Estudo dirigido de português. 17. ed. 4a série, lº grau. São Paulo, 
 Ática, 1980. 
XIII. MARTOS, Cloder Rivas & MESQUITA, Roberto Melo. PAI Processo auto-instrutivo; 
 comunicação e expressão. 4a série, 1º grau. São Paulo, Saraiva, 1981. 
XIV. MORAES, Lídia Maria de & ANDRADE, Mariana. Mundo mágico; comunicação e expressão. 
 Livro 2, primeiro grau. 4. ed. São Paulo, Ática, 1983 . 
XV. __________. ________. Livro 3, primeiro grau, 6. ed. _________. 
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