Buscar

Hermeneutica_Juridica_Unidade_3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 35 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 35 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 35 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Disciplina de Hermenêutica Jurídica
Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
NEAD Núcleo de Educação a Distância
2
Sumário (Unidade 3)
APRESENTAÇÃO SINTÉTICA DA UNIDADE•	
HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA•	
1. Conceito de Hermenêutica Jurídica
2. Objetos da Hermenêutica e da Interpretação Jurídicas
3. Fundamentos da Interpretação
4. Espécies de Interpretação e Sistemas Interpretativos
5. Aplicação e Integração do Direito
6. Aplicação da Hermenêutica na Teoria do Ordenamento Jurídico
6.1 O Problema da Unidade
6.2 O Problema das Antinomias
6.3 O Problema da Completude
6.4 O Problema da Relação com outros Ordenamentos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS•	
NEAD Núcleo de Educação a Distância
3
Apresentação Sintética da Unidade
Em seguida, trataremos dos fundamentos da interpretação, 
abordando os seus aspectos ontológico, axiológico, gnosiológico e 
lógico. Depois passaremos ao estudo da classificação das espécies 
de interpretação e os sistemas interpretativos, considerando as 
suas fontes (autêntica e doutrinária), os recursos utilizados (gra-
matical, histórica, lógica e sistemática) e ainda quanto aos seus 
efeitos (declarativa, restritiva e extensiva).
Por fim, trataremos da aplicação e integração do Direito através 
da atividade interpretativa, destacando as correntes tradicionalis-
tas, baseadas no normativismo, em confronto com as correntes 
contemporâneas, inspiradas no sociologismo. A principal função da 
interpretação jurídica é a de fazer a integração entre as diversas 
normas, realizando a chamada interpretação integradora, que é a 
garantia da plenitude do ordenamento jurídico.
Desse modo, para que você compreenda melhor como ocorrerá 
o nosso estudo, faz-se importante conhecer o objetivo desta uni-
dade. Acompanhe:
Objetivo
Definir a Hermenêutica Jurídica como método científico, • 
identificando suas técnicas e procedimentos.
Olá! Começaremos agora a nossa terceira unidade da disci-
plina de Hermenêutica Jurídica. Nesta unidade, abo rdaremos 
o conceito de hermenêutica jurídica, bem como o seu objeto 
e o objeto da interpretação jurídica, distinguindo as concep-
ções normativista e egológica, subjetivista e objetivista.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
4
Unidade 3: Hermenêutica Jurídica Clássica
TEMA: HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA 
1 CONCEITO DE HERMENÊUTICA JURÍDICA 
Em uma expressão abreviada, a hermenêutica é a teoria da in-
terpretação. No caso do Direito, a hermenêutica jurídica é a te-
oria da interpretação das normas, condutas e práticas jurí-
dicas. Todos os objetos que compõem a ciência do Direito devem, 
necessariamente, ser interpretados, da mesma forma que as nor-
mas e os conteúdos jurídicos não têm sentido e não alcançam seu 
objetivo se permanecerem apenas como documentos escritos, pois 
o essencial do Direito é a aplicação prática. Toda aplicação prática 
de uma norma jurídica implica, obrigatoriamente em uma interpre-
tação, pois o Direito existe para ser interpretado e é impossível por 
em prática um comando jurídico sem sua interpretação. 
Dada essa inevitabilidade da interpretação, enquanto compo-
nente essencial da prática jurídica, a atividade interpretativa pre-
cisa ser regrada, organizada, estabelecida em certos limites, pla-
nejada, articulada, discutida, coordenada, avaliada, referenciada, 
e essa é a tarefa da hermenêutica jurídica. Ao longo da história, 
diversas foram as expressões teóricas da hermenêutica, evoluindo 
conforme a compreensão do próprio conceito de ciência e das suas 
diversas metodologias. Em parte, essa evolução foi apresentada na 
unidade anterior, a respeito da hermenêutica antiga. E a evolução 
das teorias contemporâneas da hermenêutica será estudada na 
próxima unidade. Isso vem demonstrar que não existe um conceito 
de hermenêutica jurídica predeterminado e permanente.
Em cada época, de acordo com as variadas concepções cientí-
ficas e metodológicas, vão se construindo também novos con-
ceitos da hermenêutica, sendo este, portanto, um conceito 
dinâmico e evolutivo. Por essa razão, evitaremos as definições 
clássicas dos renomados mestres do passado, o que não signifi-
ca deixar de reconhecer o esforço e a contribuição destes, mas
...
NEAD Núcleo de Educação a Distância
5
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
...
pelo fato de não serem necessárias a memorização e a simples 
repetição do que outros já disseram, por mais insignes que eles 
tenham sido. Quando isso for pertinente, faremos as devidas 
menções com os respectivos comentários, porque assim é que 
se deve proceder de acordo com a mentalidade científica.
Numa compreensão genérica do termo, podemos afirmar que a 
hermenêutica é o momento teórico que antecede a atividade prá-
tica, e isso ocorre não apenas no Direito, mas em todas as áreas 
do trabalho humano, seja ele muscular ou intelectual, desde que 
a humanidade passou a se orientar pelo modo científico de agir no 
mundo, superando as ações arcaicas realizadas na base do impro-
viso e da necessidade. Toda atividade prática humana necessita de 
um momento prévio de reflexão, planejamento, organização, sem 
o qual a prática ficará desorientada e muitas vezes infrutífera, com 
grande desperdício de materiais e energias.
 
Quando se fala em “momento teórico”, não significa dizer que 
iremos simplesmente conhecer uma variedade de teorias e con-
ceitos já elaborados por outros, isso ocorre apenas em parte. O 
fundamental desse que chamamos “‘momento teórico” é o exercí-
cio de mentalização dos procedimentos que serão, posteriormente, 
adotados no decorrer da atividade prática. Tal como ocorre nos 
Exemplo
Como exemplo, podemos citar o caso dos professores que se 
reúnem previamente para planejarem suas atividades de ensi-
no; os agentes de vendas se reúnem previamente para discu-
tirem e combinarem estratégias de abordagem; os jogadores 
profissionais se reúnem em concentrações com seus técnicos 
para traçarem o planejamento do próximo jogo, enfim, se co-
gitarmos qualquer atividade humana que pretenda ser bem 
conduzida, esta deve ser precedida por um momento teórico 
onde as metodologias serão discutidas, avaliadas e planeja-
das, sob pena de não se alcançarem os objetivos desejados.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
6
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
exemplos referidos acima dos vendedores, dos jogadores, o pla-
nejamento estratégico das ações é indispensável para se alcançar 
as metas e os objetivos. Entendida dessa forma, a hermenêutica, 
enquanto momento teórico prévio da atividade prática, faz parte 
do dia a dia de todos os profissionais e não pode ser desconhecida 
e descartada pelos operadores do Direito. Na atividade profissional 
eficiente, qualquer que seja, o improviso é uma opção descartada 
pelo seu alto risco de insucesso e elevado custo material e pessoal. 
O bom êxito profissional está diretamente ligado ao bom planeja-
mento das ações, e é para isso que estudamos a hermenêutica.
2 OBJETOS DA HERMENÊUTICA E DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICAS
O objeto da hermenêutica jurídica é a interpretação do Direi-
to. Já explicamos anteriormente a diferença entre hermenêutica e 
interpretação. Por sua vez, o objeto da interpretação jurídica é o 
texto legal e a norma jurídica, enquanto portadores de significados 
ou sentidos cuja compreensão se busca através de procedimentos 
específicos, que compõem os métodos e sistemas interpretativos. 
Quando se fala em texto legal e norma jurídica, esses conceitos 
devem ser entendidos dentro de uma acepção bastante ampla, que 
não se restringe ao conceito restrito de lei, pois na verdade todos 
os objetos do Direito são passíveis de interpretação. Essa concep-
ção do direito é a teoria clássica da hermenêutica, também 
chamada de concepção normativa.Os textos, aqui entendidas como as expressões linguísticas 
orais ou escritas, são interpretados tendo em vista os fatos a eles 
relacionados. Por sua vez, os fatos são interpretados em relação 
Assim, a interpretação alcança, além das leis propriamente 
ditas, os diversos decretos e regulamentos, os costumes e 
negócios jurídicos, os tratados e convenções, os acordos e 
manifestações de vontade, os atos administrativos e jurisdi-
cionais, os fatos sociais que são relevantes para o direito, a 
conduta humana em geral, individual ou coletiva.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
7
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
às normas pertinentes; fatos e normas são interpretados tendo em 
vista o contexto social em que se concretizam. Isso significa que 
os fatos recebem uma valoração na sua relação com a norma, em 
atendimento aos fins sociais desta e às exigências do bem comum 
(art. 5º, LICC). Constitui-se assim a célebre fórmula jurídica da 
tridimensionalidade do Direito, criada por Miguel Reale, ou seja, o 
Direito é fato, norma e valor.
Contudo, no século passado, desenvolveu-se uma nova con-
cepção do objeto da interpretação jurídica, concentrado não no 
conjunto de normas, mas na conduta do agente em relação a 
essas normas. Tal concepção, que destaca o aspecto humanista 
das normas jurídicas (as normas são feitas para serem cumpridas 
por pessoas e não apenas para constarem escritas num papel), 
foi desenvolvida por influência das teorias filosóficas de Heidegger 
e Gadamer, que enfatizaram o aspecto histórico e existencial da 
compreensão, refletindo também na interpretação e aplicação das 
normas jurídicas. 
Conhecida como concepção egológica do Direito, foi defen-
dida pelo jurista argentino Carlos Cóssio, cuja teoria se fundamenta 
nos seguintes princípios: a norma jurídica é um meio através do qual 
conhecemos o verdadeiro objeto da interpretação, que é a conduta 
humana regrada pela norma. E o direito é um produto da evolução 
humana e tem por substrato uma determinada conduta, sendo as-
sim um objeto egológico. O Direito não está na norma, e sim na 
conduta, por isso, não se interpreta a norma em si mesma, mas 
a norma enquanto determina a conduta das pessoas, e, assim, a 
hermenêutica é uma ciência existencial. O Direito, portanto, para 
Cóssio, é a conduta humana em interferência subjetiva, ou seja:
Conduta•	 : porque expressa uma experiência de liberdade. 
Interferência•	 : porque se refere a um conjunto de ações possíveis.
Intersubjetiva•	 : porque a ação de alguém que está impedida 
ou permitida por outro resulta em um ato conjunto de ambos. 
Essas duas posições (normativismo e egologismo) conti-
nuam a polarizar os doutrinadores, alinhando-se estes em uma 
ou outra posição. De qualquer modo, a interpretação é o motor 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
8
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
que propulsiona o ordenamento jurídico, tendo como combustível 
as energias mentais do intérprete, que se abastece de conteúdos 
culturais assimilados na sua vivência social e nos ensinamentos 
adquiridos nos cursos de formação. Esta “máquina” interpretativa 
funciona em todos os níveis da ordem jurídico-social.
 
Assim, a interpretação do Direito pode ser entendida como um 
processo de conhecimento e captação do sentido das normas, de 
acordo com os parâmetros recomendados pela hermenêutica jurídica. 
No decorrer da história, essas recomendações hermenêuticas se ex-
pressaram sob a forma de metodologias variadas, as quais podem ser 
agrupadas em duas grandes correntes doutrinárias: a subjetivista 
e a objetivista. Essa dupla perspectiva doutrinária não significa que 
estejam em total oposição, já que apresentam diversos pontos co-
muns, distinguindo-se porém na definição daquilo que é fundamental 
para a construção do sentido mais adequado da norma.
Reflexão
Assim, o Constituinte interpreta os anseios da sociedade ao 
elaborar a Constituição; o Legislador interpreta a Constituição 
ao elaborar leis e normas de caráter geral; os Magistrados e 
Administradores interpretam essas normas gerais ao produzi-
rem normas aplicáveis a casos particulares; os responsáveis 
pela execução desses instrumentos particulares interpretam 
as sentenças, os contratos, os atos administrativos, de modo a 
produzirem, na prática, os resultados jurídicos que eles deter-
minam. A sociedade e os cidadãos, que são os clientes finais 
deste processo escalonado, fazem a sua parte conduzindo as 
suas ações individuais e sociais de acordo com esses parâme-
tros, em vista do bem-estar social e da garantia da ordem e 
da segurança. Todo esse conjunto coordenado de forças movi-
menta o dia a dia da sociedade e constrói o ambiente no qual 
as pessoas exercem suas profissões e executam suas rotinas 
individuais. Em tudo está presente e se manifesta, com maior 
ou menor evidência, o fenômeno da interpretação e assim a 
interpretação funciona como um eficiente instrumento de re-
novação e atualização do ordenamento jurídico.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
9
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
Corrente Subjetivista Corrente Objetivista
Defende que o fundamento • 
básico para a determinação 
do sentido da norma está na 
vontade do legislador (mens 
legislatoris).
A missão do intérprete é descobrir • 
a vontade do legislador contida na 
lei, devendo esta funcionar como o 
parâmetro para a busca do seu sig-
nificado. Sendo a ciência jurídica, 
por essência, uma ciência herme-
nêutica, a interpretação da norma 
não pode desviar-se da vontade ou 
intenção do legislador, sob pena de 
desvirtuamento do seu sentido ori-
ginal e, portanto, de constituir uma 
infidelidade com o seu mentor.
Esta corrente defende ainda que a • 
interpretação deve seguir a regra ex 
tunc, isto é, desde então, desde a 
aprovação da norma, com destaque 
para a compreensão genética da 
norma, ou seja, a compreensão a 
partir da sua gênese, quando foi po-
sitivada pela vontade do legislador.
Defende que a base para a • 
apreensão do sentido da nor-
ma está na vontade da própria 
lei (mens legis).
A missão do intérprete é descobrir a • 
vontade da lei em si mesma, inde-
pendente dos processos psicológicos 
de criação da norma pelo legislador. 
O intérprete deve procurar o sentido 
que foi objetivado pelo legislador no 
texto legal, que após aprovado pas-
sa a ter uma existência autônoma 
em relação ao seu autor. A norma 
positivada tem um sentido próprio, 
determinado por fatores objetivos, 
que não estão necessariamente li-
gados ao sentido original que o le-
gislador pretendeu colocar no texto.
Esta corrente defende ainda a inter-• 
pretação do tipo ex nunc, ou seja, 
desde agora, tendo em vista a situa-
ção concreta na qual a norma é apli-
cada, com destaque para a compre-
ensão dos aspectos estruturais da 
composição do texto, ou seja, a cada 
vez que a norma vai ser aplicada, o 
intérprete vai encontrar nela conteú-
dos específicos, que vão se revelan-
do de acordo com o caso concreto, 
conteúdos esses que podem nem 
ter sido cogitados pelo legislador no 
momento de sua elaboração.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
10
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
O Prof. Cristiano José de Andrade (1992) destaca que, nos dias de 
hoje, essas duas correntes se associaram a uma terceira, o atualismo, 
transformando assim no subjetivismo atualista e no objetivismo atualista. 
Conforme o atualismo, o sentido da lei deve evoluir de acordo com o dina-
mismo e a fluidez da vida humana, na sua evolução histórico-social. 
Conforme o subjetivismo atualista, a interpretação jurídica 
deve procurar descobrir aquilo que a vontade histórica do legisla-
dor projetaria como solução jurídica, nas atuais circunstâncias, caso 
o legisladorfosse aprovar a lei neste momento. Trata-se, pois, de 
uma atualização da vontade do legislador, projetando-a para o caso 
concreto que está em análise. As considerações de caráter histórico, 
que ditaram a gênese da lei, serão levadas em conta para a deter-
minação do seu significado atual. Já de acordo com o objetivismo 
atualista, o significado da lei deve ser buscado de acordo com o di-
namismo da vida e a evolução da sociedade e atentando ainda para 
o fato de que as novas leis introduzidas pelo legislador atual podem 
colocar novos fatores capazes de influenciar a compreensão de leis 
anteriores, de modo a alterar-lhes o sentido original. E conclui o ci-
tado professor (1992, p.23): “[...] Atualmente, a teoria objetivista, 
Depois de observarmos a diferença entre as correntes sub-
jetivista e objetivista, percebemos que se trata de uma po-
lêmica deveras insolúvel. Os objetivistas argumentam contra 
os subjetivistas que a “vontade do legislador” é uma mera 
ficção, pois de um modo geral esse “legislador” não é uma 
pessoa fisicamente identificável, constituindo de fato um ter-
mo genérico e despersonalizado. Os subjetivistas, por sua 
vez, contestam os objetivistas dizendo que estes colocam a 
vontade do intérprete acima da vontade do legislador e, além 
disso, o que fazem é na verdade substituir o legislador pelo in-
térprete, considerando-o mais sábio do que a própria norma. 
Segundo o Prof. Tércio Ferraz (1980), levados ao extremo, 
tanto um como outro, podem conduzir a situações indesejá-
veis. O exagerado subjetivismo favorece o autoritarismo, ao 
privilegiar a figura do legislador; por outro lado, o exagerado 
objetivismo favorece o anarquismo e a insegurança social.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
11
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
com suas diversas variações, é amplamente dominante; integrada 
na ordem social, a lei com ela mutua significados”. 
No entanto, alerta ele, isso não significa dizer que existe um 
método de interpretação que deva ser preferido em relação aos 
demais na apuração do verdadeiro significado das normas, pois a 
melhor interpretação será sempre aquela que atingir uma maior 
convergência dos aspectos sistemático, teleológico e sociológico e, 
para isso, a flexibilidade interpretativa das leis impõe ao intérprete 
uma postura de liberdade, de modo que não fique preso a este ou 
aquele posicionamento doutrinário, sob pena de comprometer a 
legitimidade e autenticidade da sua tarefa. É aquilo que o jurista 
francês Recaséns Siches (apud ANDRADE, 1992) chama de “lógica 
do razoável”, a qual, aplicada ao Direito, vem superar a referida 
pluralidade de métodos, não deixando que a ciência jurídica se 
resolva através da preferência por este ou aquele outro método 
interpretativo. Manifesta-se aqui um terceiro elemento, que é a 
liberdade do intérprete, como outro pressuposto básico da her-
menêutica jurídica, evidenciando assim o seu caráter deontológico, 
além dos aspectos dogmáticos e metodológicos já mencionados.
 
3 FUNDAMENTOS DA INTERPRETAÇÃO
Os fundamentos da interpretação, como os fundamentos de qualquer 
atividade científica, são provenientes da filosofia e se distinguem em 
ontológicos, axiológicos, gnosiológicos e lógicos. Compreenda 
agora como ocorre cada um deles mais especificamente. 
A ontologia é a divisão da filosofia que estuda as essências mais 
profundas de todos os seres existentes, elevando-se até o estudo da 
própria essência do mundo, algo que na visão clássica da filosofia se 
identificava com a divindade e na visão da filosofia contemporânea 
se denomina simplesmente de “ser”. Quando se fala em “ser” en-
tende-se aquilo que é, que existe realmente, não é mera suposição. 
O fundamento ontológico da interpretação significa que a norma e 
a conduta por ela determinada são realidades verdadeiras, algo que 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
12
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
acontece no tempo e no espaço, uma ação humana realizada dentro 
da história e, portanto, sem repetição. Por isso, os fatos jurídicos 
precisam ser provados, não podem se fixar em meras hipóteses pro-
váveis. O juiz não pode julgar uma causa baseado em presunções e 
indícios, por mais veementes que sejam. A verdade jurídica deve ser 
ontológica, isto é, deve fundamentar-se em ocorrências reais. 
A axiologia é a divisão da filosofia que estuda os aspectos valora-
tivos dos objetos. Todos os atos humanos são carregados de valores 
e junto aos valores está associada a intencionalidade. Dizer que um 
fato é valorado significa dizer que a pessoa o faz conscientemente, 
sabendo do que se trata. O valor é a força que induz a conduta. O 
fundamento axiológico da interpretação indica que esta deve procu-
rar descobrir os valores ocultos nos fatos e atos jurídicos. Dois fatos 
podem ser muito semelhantes na sua aparência externa, mas podem 
ter valorações totalmente diferentes, dependendo do contexto em que 
são praticados, por quem e para que são praticados. Toda conduta é 
valorada e toda interpretação deve elucidar os valores nela contidos. 
A gnosiologia é a divisão da filosofia que estuda o conhecimento 
humano, suas fontes, seus métodos, suas condições de veracidade e 
falsidade. O fundamento gnosiológico da interpretação diz respeito 
à necessidade de um máximo aprofundamento cognitivo dos fatos 
jurídicos, que não podem ficar apenas em noções superficiais. A 
instrução processual é o caminho para esta busca mais profunda da 
natureza dos fatos em análise. É ela que vai formar o convencimento 
do juiz. A lei processual e a ética profissional impõem ao magistrado 
a obrigação de esgotar todas as possibilidades envolvidas nos fatos. 
Daí porque se chama de “processo de conhecimento”, o juiz deve 
conhecer plenamente os fatos antes de emitir o seu julgamento. 
A lógica é a divisão da filosofia que estuda as regras do pensar 
correto, a adequação entre os pensamentos e a realidade, entre a 
linguagem e os fatos. A lógica procura esclarecer os mecanismos 
internos do nosso modo de pensar, de maneira a conduzirmos o 
nosso pensamento ao máximo grau de retidão e certeza. O fun-
damento lógico da interpretação exige que esta guarde a devida 
coerência entre os fatos jurídicos, as normas a eles aplicáveis, 
os pedidos das partes e a decisão proferida pelo julgador. Tudo 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
13
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
deve estar em perfeita harmonia e dentro dos respectivos limites. 
Não pode o juiz decidir contrário à prova dos autos; não pode a 
sentença tratar de matéria diversa do pedido; não pode a decisão 
ir além do pedido ou ficar além deste; não pode o juiz agir mo-
tivado por sentimentos de simpatia ou antipatia, preferências ou 
interesses estranhos ao processo. A lógica é sempre o fio condu-
tor do pensamento humano e perpassa também os componentes 
gnosiológico, valorativo e ontológico da interpretação. 
4 ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO E SISTEMAS INTERPRETATIVOS
Mesmo sendo a interpretação um ato único, tradicionalmente, 
adotou-se o costume de distingui-la ou classificá-la, de acordo 
com as suas fontes, com os meios utilizados pelo intérprete 
e ainda com os seus resultados.
Quanto às suas fontes, a interpretação pode ser autêntica ou 
doutrinal. Assim, podemos observar que:
Denomina-se autêntica a interpretação que procede do • 
próprio poder que produziu a norma, cujo sentido e al-
cance ele declara. Assim, só uma Assembleia Constituinte 
pode fornecer a autêntica interpretação da Constituição; 
as Casas Legislativas, das leis que elaboram; o Executivo, 
dos diversos decretos, regulamentos, portarias, etc. Vale 
ressaltar que a interpretação autêntica vincula-se ao juiz.
Denomina-se doutrinal quando provém da livre reflexão • 
dos estudiosos do Direitoem suas obras de doutrina, sen-
do que essa interpretação tem o valor apenas opinativo. 
Reflexão
Vale ressaltar que a interpretação autêntica foi outrora a mais prestigiada de 
todas. Na época do imperador Justiniano, este rejeitava qualquer outra in-
terpretação, que não fosse emanada dele próprio. Na Idade Média, a inter-
pretação autêntica era atribuída ao Monarca, ao Príncipe, ao Senhor Feudal.
...
NEAD Núcleo de Educação a Distância
14
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
 
...
Generalizou-se assim o princípio antigo de que interpretar compete a quem 
compete fazer a lei. Atualmente, esse tipo de interpretação está em franco 
desuso. As Assembleias Constituintes são temporárias e as Casas Legis-
lativas são compostas em sua maioria por políticos profissionais, não por 
jurisconsultos. Daí porque não existe mais uma interpretação autêntica 
nesse sentido histórico, mas prevalecem, em geral, as interpretações dos 
diversos órgãos do Poder Judiciário, em todos os níveis de sua atividade.
Desse modo, a partir do século XX, a interpretação autêntica 
tradicional passou a ser reconhecida segundo duas modalidades: 
a) a • legislativa, quando sobrevém uma lei interpretativa de 
outra anterior, (caso que muitos doutrinadores nem consideram 
assim, mas entendem tratar-se simplesmente de lei nova) ou 
por um decreto que vem regulamentar uma lei; 
b) a • jurisprudencial, que pela reiterada decisão uniforme dos tri-
bunais pode vir a ser sumulada, ou mesmo não sendo sumulada, 
costuma ser adotada pelos órgãos judiciais dos escalões inferiores.
Importante
Importa mencionar ainda que uma interpretação doutrinária 
pode vir a tornar-se judicial, no caso do tribunal adotar, em 
suas decisões, ensinamentos de um doutrinador, conforme 
muitas vezes se observa nos acórdãos publicados. Por isso, 
atualmente o conceito vasto de ordenamento jurídico inclui, 
além da própria legislação, a jurisprudência e a doutrina.
 
Quanto aos meios adotados pelos intérpretes, a interpretação se 
divide tradicionalmente em gramatical, lógica, histórica e sistemáti-
ca. Esta classificação possui variantes, de acordo com as preferências 
doutrinárias, de modo que alguns entendem que o modo gramatical 
abrange também o filológico, o lógico abrange também o sociológico e 
o sistemático se estende para o teleológico. Sem adentrar nessas va-
riações, abordaremos as quatro modalidades clássicas. Acompanhe: 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
15
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
A interpretação gramatical ou literal concentra-se nas pala-
vras da lei, buscando retirar delas o seu significado mais profundo, 
chegando por vezes ao exagero de polemizar por detalhes semânti-
cos, até desvirtuado o próprio conteúdo linguístico do texto. Esta não 
realiza propriamente uma interpretação, mas uma exegese literal, 
na medida em que se preocupa apenas com o texto do dispositivo 
legal. Sua origem vem sobretudo pela influência dos estudos bíblicos 
e do trabalho dos glosadores medievais. No passado, a exegese lite-
ral foi muito apreciada pelos especialistas, contudo, de acordo com 
o Prof. Carlos Maximiliano (2006, p. 92), “[...] fica longe da verdade 
as mais das vezes, por envolver um só elemento de certeza, e preci-
samente o menos seguro.” Cabe ao intérprete ultrapassar esse limite 
para chegar ao campo vizinho, mais vasto e rico de aplicações prá-
ticas. Atualmente, nenhuma corrente da hermenêutica recomenda a 
pura exegese gramatical dos textos, devendo esta ser um ponto de 
partida para a análise dos conteúdos normativos neles contidos. 
A interpretação lógica procura alcançar a coerência e o espí-
rito da norma, em vista da sua aplicação social. Trata-se, portan-
to, de uma interpretação complementar do caráter linguístico do 
texto legal, pois a concatenação do raciocínio e a coordenação das 
ideias contidas na norma devem seguir as regras do pensamento 
coerente. É do caráter lógico da interpretação que se deduzem 
algumas posições doutrinárias clássicas, como por exemplo, a de 
que não há palavras supérfluas na lei, todas elas carregam um 
sentido que deve ser buscado. Ou ainda a de que as palavras de-
vem ser entendidas no seu sentido da linguagem comum ou na-
tural, evitando-se exageros tecnicistas ou artificiais. É igualmente 
lógico que o legislador, ao elaborar a lei, visava ser entendido 
pelas pessoas para as quais a lei se destinava, e portanto serviu-
se de elementos culturais comuns, que assim também devem ser 
entendidos. A lógica deve nos conduzir ao bom senso de entender 
a lei dentro da objetividade que o legislador nela colocou, porque 
nenhuma lei é feita somente para ficar escrita nos livros, senão 
para ser cumprida e bem cumprida. 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
16
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
A interpretação histórica consiste em examinar os anteceden-
tes e os preparativos da lei, as discussões que lhe deram origem, os 
fatos sociais relevantes que determinaram o seu surgimento, para 
que assim possam ser atingidos tanto a mens legislatoris (corrente 
subjetivista) quanto a mens legis (corrente objetivista). Antes da 
aprovação da lei, com certeza muitos debates ocorreram, em vista 
das necessidades sociais emergentes, e nessas discussões são en-
contradas as verdadeiras motivações da lei, que muitas vezes nem 
chegaram a ser colocadas no seu texto. Quanto mais polêmico o 
tema abordado na norma, mais discussões ela suscita e mais tem-
po demora para a sua aprovação. O melhor exemplo que se pode 
dar da interpretação histórica é o da importância do estudo do Di-
reito Romano para uma melhor compreensão do nosso Direito Civil 
contemporâneo. Conhecer a evolução histórica dos diversos institu-
tos jurídicos confere maior segurança e confiabilidade ao intérprete, 
quando se trata de aplicá-los aos fatos atuais.
A interpretação sistemática procura compreender o signifi-
cado das palavras na perspectiva do texto inteiro da lei, bem como 
a compreensão da lei na perspectiva do ordenamento como um 
todo, evitando-se interpretações de palavras ou frases isoladas do 
seu contexto. Um artigo de uma lei tributária deve ser interpreta-
do de acordo com o formalismo próprio das regras referentes ao 
fisco e à administração pública; um artigo de uma lei previden-
ciária deve ser entendido numa perspectiva mais ampla, socioló-
gica, assistencialista; um artigo da Constituição deve ser sempre 
interpretado na perspectiva do contexto sociopolítico, como regra 
macro jurídica que alcança o todo da sociedade. Vale lembrar aqui 
a célebre máxima jurídica do jurista romano Celso: “é contrário 
ao direito tomar uma palavra da lei e interpretá-la sem considerar 
o texto inteiro da mesma lei”1. Em linguagem dos dias atuais, isso 
equivale a dizer: é contrário ao Direito interpretar uma palavra da 
lei sem levar em conta o texto completo da lei, o conjunto norma-
tivo e os dispositivos constitucionais aplicáveis. 
Expressão na língua original: 1. Incivile est, nisi tota lege perspecta, una 
aliqua particula eius proposita judicare vel respondere. (Digesto 50,17,1)
NEAD Núcleo de Educação a Distância
17
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
Convém atentar para o fato de que não se trata de quatro in-
terpretações, mas de quatro modalidades ou aspectos de um 
mesmo ato interpretativo, os quais se comunicam e se com-
pletam entre si. Em épocas históricas diferentes, essas modali-
dades tiveram diferentes destaques. Durante um considerável 
decurso temporal, predominou a interpretação gramatical. A 
preferência demonstrada inicialmente pelos juristas por essa 
modalidade se deve ao uso maciço do direito romano entre os 
povos ocidentais, sobretudo no âmbito do direito civil. Já esta 
preferência pelo direito romano,no caso do Brasil, foi influen-
ciada pelos juristas portugueses, desde o tempo colonial.
Caracteriza-se pelo apego à formalística e pela redução do apli-
cador do direito a uma espécie de autômato, interpretando um texto 
hoje como se vivesse há cem anos, desconhecendo completamente 
as mudanças históricas e a evolução da sociedade. Esta concepção 
de hermenêutica marcou diversas gerações de estudantes de Di-
reito, baseada no método de exegese literal, o qual consistia em 
estudar os Códigos artigo por artigo, metodologia que ainda hoje 
se observa nas aulas de alguns professores e nas obras de certos 
autores da área jurídica. Saber citar de cor os artigos dos códigos 
era sinônimo de invejável conhecimento jurídico.
Curiosidade
Conforme o prof. Carlos Maximiliano (2006), até a segunda meta-
de do século XVIII, não havia em Coimbra, principal centro de es-
tudos jurídicos de Portugal, um curso específico de Direito Civil pá-
trio. Este era ensinado à margem do estudo do Direito Romano. 
Somente em 1772, foi criada a cadeira de Direito Civil português. 
O citado professor, desde o princípio do século XX, já assumia 
uma posição de vanguarda. Dizia ele: mais do que uma interpre-
tação literal, lógica ou sociológica, prevalece hoje a exposição sis-
temática da norma, pela qual o jurista se serve do conjunto das 
disposições no sentido de construir um todo orgânico e metódico.
...
NEAD Núcleo de Educação a Distância
18
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
...
Não basta a elaboração lógica dos materiais jurídicos para que 
se atinja o ideal da justiça baseada nos preceitos codificados. É 
necessário romper com a tradição formalista e engendrar uma 
nova lógica jurídica, baseada na justiça social. Para isso, é 
preciso compreender bem os fatos, mas também ser inspirado 
pelo nobre interesse dos destinos humanos, compenetrar-se 
dos sofrimentos e aspirações das partes no processo e, embo-
ra sem se deixar arrastar pelo sentimento, aplicar a lei à vida 
real e fazer do Direito o que ele deve ser, uma condição da 
coexistência humana, um auxiliar da solidariedade social.
E quanto aos seus resultados ou aos efeitos que provoca, a 
interpretação pode ser declarativa, restritiva ou extensiva.
A interpretação declarativa é aquela em que a compre-
ensão da norma se dá apenas pela literalidade. O texto da lei é 
tão claro que não demanda maior esforço para o seu entendi-
mento. Outrora, existia um brocardo latino que dizia: in claris, 
cessat interpretatio (na clareza da lei, a interpretação é des-
necessária). Atualmente, esse chamado “brocardo da clareza” 
perdeu sua força em vista dos modernos estudos da linguística, 
os quais vieram demonstrar que toda expressão escrita preci-
sa ser interpretada, para que o seu significado se torne mais 
claro. A linguagem jurídica é a linguagem natural, comum da 
sociedade. A linguagem é por natureza ambígua e polissêmi-
ca, devendo-se considerar as nuances regionais e históricas, 
que podem influenciar no significado das palavras. Isso é mais 
exigido quanto maior for a distância temporal entre a época 
em que a lei foi escrita e a época da sua interpretação. Assim 
entendida, a interpretação literal deve ser somente o início 
do processo complexo de busca da compreensão de um texto, 
não se esgotando nela o trabalho interpretativo.
A interpretação é restritiva quando o intérprete reduz o 
alcance das palavras da lei, atentando para o espírito da lei, 
mais do que para o seu texto. É uma regra convencional da in-
terpretação jurídica a que determina que onde não distinguiu o 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
19
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
legislador, não deve distinguir o intérprete. É dessa modalida-
de também o entendimento de que as normas administrativas 
e fiscais devem ser entendidas restritivamente, sempre que 
suscitarem dúvidas. É o caso também quando a lei enumera 
uma série de situações específicas, as quais são entendidas 
como taxativas, se a matéria for penal ou tributária. Da mesma 
forma, as normas constitucionais que restringem os direitos 
e garantias individuais devem ser entendidas restritivamente. 
Trata-se, como se pode deduzir, de uma atividade interpretativa 
extremamente flutuante nas suas determinações, dando mar-
gem a diversos ensinamentos doutrinários e jurisprudenciais.
A interpretação extensiva, ao contrário da restritiva, é 
aquela que amplia o alcance do texto legal, dando-lhe maior 
elasticidade. Nas normas penais, pelo princípio da legalidade, 
evita-se fazer interpretações extensivas. Nas normas civis, já é 
possível aumentar o alcance das normas pelo uso da analogia. 
A interpretação analógica seria, portanto, um exemplo da inter-
pretação extensiva, embora não se confunda com ela. A dife-
rença é tênue e não é bem uniforme na doutrina, nas pode-se 
dizer que a interpretação extensiva ocorre quando o texto da lei 
é imperfeito e compete ao intérprete explicitar o seu conteúdo; 
a interpretação analógica ocorre quando o texto da lei é lacu-
noso e o intérprete faria uma ampliação do seu conteúdo. De 
uma forma ou de outra, a interpretação extensiva se apoia em 
reflexões de ordem teleológica e axiológica. 
Exemplo
Um exemplo dessa interpretação, nos dias atuais, é a aplicação 
de leis civis ou penais aos fatos ilícitos ou delituosos que ocor-
rem no âmbito do mundo virtual, para os quais a legislação ori-
ginária não foi orientada, até porque era impossível prevê-los. 
Outro exemplo elucidativo é o do reconhecimento do estado 
de pobreza, para fins de isenção de custas judiciais, no caso de 
pessoa jurídica pequena ou microempresa, quando a legislação 
explicitamente só prevê esta isenção para pessoas físicas.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
20
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
5 APLICAÇÃO E INTEGRAÇÃO DO DIREITO
A aplicação do Direito é uma continuidade da atividade in-
terpretativa. A interpretação jurídica está direcionada a um fim, 
interpreta-se a norma sempre em vista de sua aplicação. Ao reali-
zar a interpretação, o jurista pode ter em mente duas situações:
um fato concreto, que é analisado e compreendido em • 
função da norma; ou
um fato hipotético que é analisado e apresentado • 
como exemplo.
De uma ou de outra forma, a interpretação sempre é re-
alizada em vista da aplicação daquela norma que está sendo 
interpretada. A interpretação diante do fato concreto, para 
que a norma seja a ele aplicado, é feita pelo juiz, em sentido 
estrito, e em sentido mais amplo, pelos advogados das partes 
no processo. A interpretação diante do fato hipotético, para 
servir de exemplo aplicativo, é feita pelo doutrinador, pelo 
professor, pelo jurista que tem como objetivo uma atividade 
didático-pedagógica, acadêmica ou não. Em qualquer situa-
ção, portanto, a finalidade da interpretação é a aplicação da 
norma, seja no campo fático, seja no campo hipotético.
Este entendimento não é uniforme, contudo, na concepção 
tradicionalista do Direito, afirma-se a possibilidade da interpre-
tação por si mesma, sem visar necessariamente a uma aplica-
ção. Nas concepções mais contemporâneas, por vezes, ocorre 
o inverso disso, ou seja, juristas que defendem um modelo 
sociológico da interpretação jurídica afirmam uma identidade 
entre interpretação e aplicação. Essas duas posições opostas 
correspondem às concepções acima apresentadas sobre o ob-
jeto da hermenêutica: concepção normativista (a primeira) 
e concepção egológica (a segunda). Por uma questão de 
coerência com o modelo jurídico vigente no Brasil, desenvol-
vido após a Constituição de 1988, no qual são enfatizadas as 
dimensões socioculturais do Direito, dizemos que existe uma 
implicação necessária entre interpretação e aplicação. 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
21Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
Uma interpretação pura, abstrata, independente dos fatos concre-
tos ou hipotéticos não tem cabimento dentro dessa visão do Direito. 
Mesmo numa situação fictícia, como, por exemplo, quando os alunos 
participam de um tribunal do júri simulado, a interpretação terá sem-
pre como finalidade a possível aplicação a um fato inventado. Uma 
mera interpretação formal, conceitual e literária, como puro exercício 
mental do doutrinador, levará a uma desvinculação da norma com a 
realidade social. Embora isso tenha sido feito no passado, não é mais 
compatível com os modelos hermenêuticos hoje recomendados.
Ainda de acordo com o tradicionalismo, a aplicação do Direito 
seria uma operação lógica básica, entendida a sentença judicial 
como um silogismo aristotélico, no qual temos uma premissa maior 
(a norma), uma premissa menor (o fato) e uma conclusão (o dis-
positivo). É a chamada concepção silogística da interpretação, 
segundo a qual a aplicação da norma ao fato pelo juiz é uma sim-
ples subsunção lógica, sem qualquer interferência subjetiva. Esta 
concepção jurídica provém dos ensinamentos de Montesquieu, na 
época da Revolução Francesa, quando propôs a divisão dos poderes 
do Estado em três (legislativo, executivo e judiciário) e afirmou que 
o juiz é um mero aplicador da lei, ele apenas executa um comando 
que foi dado pelo legislador. É ele o autor da famosa expressão de 
que o juiz é simplesmente a “boca da lei”, criando aquela figura 
do juiz autômato, como um robô que apenas executa os preceitos 
legais sem interferir neles com o seu entendimento.
Além do desprestígio que essa teoria traz para a personalidade 
do juiz, como se ele fosse um agente comandado pelo legislador, 
existe ainda uma falha imperdoável nela que é o desconhecimento 
de um dos aspectos fundamentais do Direito, que é a dimensão 
valorativa. O intérprete não avalia no texto legal apenas o contexto 
gramatical, mas principalmente o conjunto de significados sociais 
implícito nele. Enquanto produção cultural, o Direito terá sempre 
um componente sociológico axiológico que não pode ser descon-
siderado. A concepção silogística ignora a teoria tridimensional do 
Direito, entendido como fato, norma e valor.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
22
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
De acordo com uma noção mais atual, a aplicação do Direito deve 
ser sempre um ato complexo, no qual, além da lógica do raciocínio, 
devem ser levados em conta os aspectos psicossociais da conduta 
humana, o contexto social da ocorrência do fato, os aspectos signi-
ficativos descobertos pela interpretação, decorrentes de uma análise 
valorativa do conteúdo das ações em julgamento, levando o juiz a 
uma reflexão ponderada, de acordo com a sua percepção dos fatos e 
seguindo o seu convencimento consciente e responsável. Chama-se a 
esta a concepção dialética da aplicação do Direito, elaborada de 
acordo com os novos modelos hermenêuticos que passaram a se de-
senvolver a partir do século XIX e têm a sua formulação mais conhe-
cida nas teorias do jurista argentino Carlos Cóssio (teoria egológica) e 
do jurista brasileiro Miguel Reale (tridimensionalismo concreto). Uma 
aplicação puramente lógica deixa de considerar um dos componentes 
mais defendidos pelas modernas teorias jurídicas, que é a dimensão 
axiológica do Direito, sem a qual é impossível a existência do estado 
democrático de Direito, preconizada na Constituição Federal.
Reflexão
Consideremos agora a seguinte situação. De um lado, a Consti-
tuição Federal de 1988 assegura (art. 5.º, XXXV) que a lei não 
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a di-
reito. De outro lado, o art. 4.º da Lei n.º 4.657/42 (lei de introdu-
ção ao Código Civil de 1916) dispõe que, quando a lei for omissa, 
o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e 
os princípios gerais do direito. O magistrado tem, pois, obrigação 
de conhecer e decidir todos os fatos que lhe forem submetidos e 
se enquadrem no âmbito de sua jurisdição e competência, não 
podendo abster-se de julgar sob o pretexto de ser a lei obscura, 
omissa, ambígua ou por não ter previsto as circunstâncias parti-
culares do caso concreto. Este é, com certeza, o momento mais 
criativo da utilização da hermenêutica jurídica, quando a inter-
pretação proporciona a solução de casos não previstos na lei. 
Ao fazer isso, não estará o juiz substituindo a função do legislador 
criando nova lei, porque cada decisão judicial só tem alcance para 
as partes envolvidas. Mas não poderá escusar-se simplesmente 
...
NEAD Núcleo de Educação a Distância
23
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
A este fenômeno, os doutrinadores chamam de interpretação 
integradora, inspirada no princípio da plenitude do ordenamento 
jurídico. Teoricamente, o conjunto de normas de uma sociedade 
deve atender a todas as demandas que são encaminhadas pelos 
cidadãos ao Poder Judiciário. Se o Direito não pode deixar ne-
nhum litígio sem solução, por outro lado, o legislador não tem 
como prever todas as hipóteses possíveis da conduta humana 
atuais e futuras. Por isso, a integridade lógica da ordem jurídi-
ca não pode ser fundada apenas nas normas positivadas, mas 
compreende também a criatividade interpretativa dos operadores 
do Direito no sentido de tentar fazer o ordenamento atender, ao 
máximo grau possível, às solicitações consideradas legítimas da 
pessoa humana, em seu esforço também legítimo de proporcionar 
a mais saudável convivência na sociedade. 
O prof. Raimundo Falcão assim conceitua a interpretação integradora:
 
[...] Entendemos por interpretação integradora aquela por 
cujo intermédio procuramos dar à linguagem sob que se 
estampa o ordenamento jurídico condições plenas de res-
ponder às inquietudes e necessidades do homem em cada 
tempo (FALCÃO, 2004, p.224).
A interpretação integradora, portanto, ao mesmo tempo que 
aplica a norma ao caso concreto, também completa as lacunas 
do ordenamento, porque o ordenamento jurídico é dotado de 
plenitude, implicando o conceito dinâmico e atual de algo em 
constante fazer-se no acontecer concreto de cada dia. Dessa 
forma, a interpretação integradora proporcionará a plenifica-
...
de decidir invocando a ausência de previsão legal. Na verdade, 
ao apreciar o caso concreto, cabe ao juiz decidir se o silêncio da 
lei é proposital, o que tornaria o autor carecedor da ação, ou se 
é uma deficiência ocasional, porque o legislador não pode prever 
todas as situações possíveis, quando então ele aplicará a analo-
gia, os costumes e os princípios gerais do direito, ou seja, aplica-
rá o direito subsidiário e a equidade para aquele caso específico.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
24
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
ção teórica do ordenamento jurídico, conduzindo os interesses 
individuais em disputa a uma situação de justiça que mante-
nha a justeza do sistema e a dignidade das pessoas.
Importante
A interpretação integradora é, portanto, a um só tempo lógi-
ca e axiológica. É lógica enquanto resguarda a coerência das 
normas e completa as suas deficiências, de tal modo que ne-
nhum fato social possa escapar ao seu alcance. É axiológica 
na medida em que, enquanto interpretação viva e completa, 
procura constantemente encontrar a melhor aplicação das 
normas em vista da verdadeira justiça social. A interpretação 
plena, lógica e axiológica desperta no intérprete a sua respon-
sabilidade perante a sociedade. A interpretação integradora 
convida o intérprete a sair da estrita e direta relação norma-
fato, vista isoladamente, e partir para um alargamento da 
percepção e da sensibilidade, expondo o leque de fatores e 
alternativas a serem considerados na interpretação.Conforme dito anteriormente, a interpretação integradora se 
fundamenta no princípio dogmático da plenitude do ordena-
mento jurídico, entendido como o conjunto normativo formado 
pela Constituição, Legislação ordinária, costumes e jurispru-
dência, dando enfoque ao Direito como um sistema complexo 
e dinâmico. Apesar de multifacetado, o ordenamento jurídico 
é uno e sistemático e assim deve sempre ser considerado.
Nos últimos tempos, o jurista que tratou de forma exemplar so-
bre esta matéria foi Norberto Bobbio, com a sua obra clássica Teo-
ria do Ordenamento Jurídico, da qual abordaremos alguns conceitos 
básicos, a seguir. A reflexão de Bobbio ganha destaque no contexto 
das teorias jurídicas do século XX, porque foi elaborada após as 
profundas mudanças ocorridas na Europa e, em geral, no mundo 
inteiro, após a segunda grande guerra. Ele entende que se, no início 
do século XX, foi necessário eliminar qualquer juízo de valor para 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
25
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
construir uma Teoria Científica do Direito, as novas realidades so-
ciais surgidas após a Segunda Guerra Mundial levaram a concluir 
que a investigação jurídica deve buscar novas dimensões. Foi daí 
que surgiu o conceito de ordenamento jurídico, mais amplo e mais 
dinâmico do que o conceito tradicional de norma jurídica, que era 
o padrão anteriormente adotado. Vejamos os aspectos da teoria de 
Bobbio, que têm importante repercussão para a hermenêutica.
6 APLICAÇÃO DA HERMENÊUTICA NA TEORIA DO ORDENA-
MENTO JURÍDICO
Sendo uma realidade complexa, todo ordenamento jurídico 
enfrenta problemas para manter sua unidade, integridade e coe-
rência. De início, consideremos que, em todo ordenamento, é ne-
cessário que existam, além das normas de conduta propriamente 
ditas, as normas de estrutura ou competência, pois estas indicam 
os caminhos, os procedimentos e as condições que permitem a 
confecção de normas de conduta. Este conjunto de normas não 
pode ser elaborado por um único legislador, mas por delegação 
de competência, e as autoridades de diversos níveis que serão 
responsáveis pela elaboração das normas dentro da sua alçada. 
Disso resulta que todo ordenamento jurídico deve lidar constan-
temente com quatro problemas básicos, os quais são sempre so-
lucionados com a utilização dos procedimentos da hermenêutica.
Os problemas do Ordenamento Jurídico derivam das rela-
ções entre as normas. Em primeiro lugar, formando uma uni-
dade, as normas possuem uma hierarquia dentro deste todo 
que é o Ordenamento e por isso, qualquer incoerência deve ser 
eliminada de imediato. Em segundo lugar, além do problema 
relacionado à formação da unidade, o Ordenamento também 
deve ser um Sistema no qual não podem haver antinomias. 
Normas em conflito comprometem a unidade e a coerência e 
devem ser ajustadas. O terceiro problema refere-se ao Orde-
namento ser ou não completo, isto é, o dogma da comple-
tude, no qual um ordenamento não pode possuir lacunas. 
Caso estas sejam detectadas, precisam ser logo resolvidas. 
Finalmente, um quarto problema é o da influência de um or-
NEAD Núcleo de Educação a Distância
26
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
denamento sobre outro(s). A boa convivência social e a paz 
internacional dependem de um adequado ajuste dos diversos 
normativos. Todos os problemas eventualmente encontrados 
nestes campos mencionados requerem um trabalho herme-
nêutico para a sua solução. 
6.1 O Problema da Unidade
As normas do ordenamento não estão todas num mesmo plano; há 
uma hierarquização normativa, ou seja, há normas inferiores e normas 
superiores, até chegar a uma norma suprema. Essa norma suprema ou 
norma fundamental é o plano unificador das normas num ordenamento ju-
rídico. Todas as fontes de direito devem remontar a essa norma fundamen-
tal. Sem ela, não haveria um “ordenamento”’, mas um “amontoado”’ de 
normas. Uma norma superior (Constitucional) conduz a uma norma inferior 
(Lei Ordinária) que conduz a um ato (ato executivo); e no caminho inverso, 
o ato executa uma norma inferior que executou uma norma superior es-
tabelecendo a hierarquia do ordenamento. O grau executivo máximo (ato) 
não é produtor e o grau produtor máximo não é executivo.
A construção do ordenamento tem uma estrutura piramidal, onde a 
norma fundamental ocupa o ápice e os atos executivos formam a base. 
Vista de cima para baixo, essa pirâmide mostra a escala de produção; vista 
de baixo para cima, a escala de execução. A produção fica designada como 
poder e a execução como dever, sendo estes dois conceitos correlatos den-
tro da relação jurídica. Uma norma que pertence a certo ordenamento, para 
ser válida, é necessário que provenha de um poder legítimo e que poder, em 
última instância, é este senão a Norma Fundamental? Logo, uma norma só 
pode ser declarada válida se puder ser reinserida na Norma Fundamental. 
 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
27
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
A Norma Fundamental corresponde a um postulado científico, 
ou seja, é uma exigência para fundamentar a validade do orde-
namento jurídico, sendo ao mesmo tempo o princípio unificador 
das várias normas que compõem este ordenamento. A Norma 
Fundamental é, portanto, o postulado científico garantidor da 
unidade do ordenamento jurídico, devendo todas as demais 
normas estar alinhadas com ela. O procedimento hermenêuti-
co competente para a depuração do ordenamento, com o ob-
jetivo de manter-lhe a unidade e eliminar aquelas normas que 
se contrapõem à Norma Fundamental é o chamado controle 
da constitucionalidade das leis, que é realizado de modo 
concentrado pelo Tribunal Constitucional e, de modo incidental, 
pelos magistrados nos julgamentos dos casos concretos.
6.2 O Problema das Antinomias
O Ordenamento Jurídico, além de unitário, também se apre-
senta como um sistema, ou seja, como uma totalidade ordenada. 
Para isso, é preciso que as normas que o integram, além de se re-
lacionarem com o todo, relacionem-se também entre si, mantendo 
a coerência nos dois níveis. A antinomia consiste no conflito entre 
normas incompatíveis entre si (uma obriga, outra proíbe; uma obri-
ga, outra permite). Seguindo a tradição romanista, o ordenamento 
jurídico não tolera antinomias, mas entendido como um sistema 
dinâmico, elas podem ocorrer e deve-se usar da interpretação para 
resolvê-las, eliminando-as.
Essa eliminação se dará pela supressão de uma das normas in-
compatíveis, mas é necessário ter critério para essa eliminação e, 
para isso, a jurisprudência tem elaborado, ao longo da história, algu-
mas regras que são geralmente aceitas, embora não resolvam todos 
os casos, pois que nem todas as antinomias são solúveis. As regras 
fundamentais de solução de antinomias são: o critério cronológi-
co, critério hierárquico e critério da especialidade, seguindo a 
regra fundamental de dar a cada qual o que é seu por direito.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
28
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
Os critérios enumerados operam quando as normas são sucessivas 
ou de níveis hierárquicos diferenciados. Mas quando encontramos 
duas normas incompatíveis e contemporâneas, de mesmo nível 
hierárquico ou ambas gerais, como proceder para resolver a anti-
nomia? Para isso, existe um quarto critério, que por ser razoável 
é amplamente utilizado, embora não se possa considerar como o 
mais justo na solução desta incompatibilidade sui generis. É o cri-
tério relativo à forma da norma. Se uma norma é imperativa 
ou proibitiva e outra é permissiva, prevalece a permissiva, dentro 
do entendimento da interpretação mais favorável ser preferível à 
odiosa. Isso, porém, deve ser adotado com parcimónia, porque 
sempre o que é favorável auma parte será odiosa para a outra. 
No caso de nenhuma das normas em conflito serem permissi-
vas, mas uma imperativa e outra proibitiva, a decisão é confiada à 
liberdade do intérprete, que resolverá conforme a oportunidade e 
aplicando o conjunto dos princípios hermenêuticos admitidos. Seja 
ele o juiz ou o jurista, poderá eliminar uma norma, eliminar as 
duas ou conservar as duas (demonstrar a incompatibilidade como 
aparente - interpretação corretiva). Esta última hipótese é a 
mais utilizada pelos intérpretes. 
Importante
E se houver conflito entre os critérios? Sendo um conflito en-
tre o Critério Hierárquico e o Critério Cronológico, prevalece 
Hierárquico ante o Cronológico, porque decidir o contrário 
atentaria contra a organização do sistema. Sendo um confli-
to entre o Critério de Especialidade e o Critério Cronológico, 
deve prevalecer o de Especialidade, porém com bastante cau-
tela, examinando-se a fundo a casuística. Sendo um conflito 
entre o Critério de Especialidade e o Critério Hierárquico, não 
há uma resposta padrão, no caso a decisão ficará a critério 
do intérprete, diante da análise das circunstâncias, posto que 
estão em jogo dois princípios basilares do ordenamento jurí-
dico: a superioridade e a justiça.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
29
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
6.3 O Problema da Completude 
 A Completude do Ordenamento Jurídico consiste na existência 
de normas capazes de regular qualquer conduta humana. A falta de 
uma norma geralmente é considerada uma lacuna no ordenamen-
to. A completude do ordenamento é mais que uma exigência, é uma 
necessidade, a condição indispensável para o seu funcionamento. 
 Nos dias atuais, os juristas entendem a completude do orde-
namento jurídico como um requisito meramente formal, dado que 
sob o aspecto material, sempre vão existir lacunas. O tipo clássico 
da lacuna se dá pela ausência da norma, chamado de lacuna real. 
Mas há outro tipo, aquele que se dá não pela falta de uma norma, 
mas por não haver norma justa a ser aplicada, ou seja, existe uma 
solução prevista, mas esta não é satisfatória. Estas lacunas pro-
vêm da comparação entre o que o ordenamento jurídico é e o que 
ele deveria ser, sendo por isso chamadas de lacunas ideológicas. 
Todo ordenamento jurídico positivo tem essas lacunas ideológicas, 
são inevitáveis. Quando um jurista afirma que um ordenamento 
não tem lacunas, refere-se a lacunas reais, não ideológicas. As la-
cunas reais são aos que efetivamente interessam aos juristas.
 A distinção entre lacuna real e ideológica é frequentemente expos-
ta nos tratados como lacuna própria e imprópria. A lacuna própria se dá 
dentro do sistema, enquanto que a imprópria se dá devido à compa-
ração do sistema com um sistema ideal. As lacunas impróprias só são 
completadas pelo legislador e as lacunas próprias podem ser completa-
das pelo trabalho do intérprete e pela hermenêutica dos aplicadores.
 Para o preenchimento das lacunas, duas regras são comumente adota-
das. Seguindo a terminologia adotada por Carnelutti (apud BOBBIO, 1999), 
chamaremos a esses métodos de heterointegração e autointegração. 
A heterointegração consiste na integração através do • 
recurso a ordenamentos diversos e utilização de fontes 
diversas da que é dominante.
Autointegração é feita dentro do mesmo ordenamento, • 
recorrendo às mesmas fontes. 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
30
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
 A heterointegração tradicional baseava-se no recurso ao Direito Na-
tural para sanar a incompletude do Direito Positivo. Aliás, esta era uma 
função típica reconhecida ao Direito Natural, por ser este considerado 
um sistema jurídico perfeito e aquele sempre imperfeito. Essa doutrina, 
contudo, foi abandonada nas codificações mais recentes, sendo substi-
tuída pelo Costume como fonte subsidiária integradora (consuetudo pra-
eter legem). Outra alternativa seria o recurso ao “poder criativo do juiz”, 
o chamado Direito Judiciário. Esta é uma sugestão polémica, porque 
nem todos os países reconhecem esse “poder criativo do juiz”, sendo 
mais comum nos países anglo-saxões, tendo seu exemplo antológico 
no Código Civil Suíço. Poderia ser ainda o recurso à opinião dos juristas, 
como fonte alternativa à lei e aos costumes, ou seja, o recurso da auto-
ridade no Direito. Seria o Direito Científico, na expressão de Savigny. 
Curiosidade
O Código Civil Suíço estabelece, no art. 1º, que em caso de lacuna da 
lei ou do costume, o juiz pode decidir como se fosse ele o legislador. Na 
prática, porém, constata-se que os juízes raramente utilizam essa prer-
rogativa, o que demonstra o seu apego à tradição da autointegração.
 
Uma das bases da autointegração é a analogia; a outra são os princí-
pios gerais do Direito. Entende-se por “analogia” o procedimento pelo qual 
se atribui a um caso não-regulamentado a mesma disciplina que foi dada a 
um caso regulamentado semelhante. A analogia é considerada o mais típico 
e o mais importante dos procedimentos de interpretação, tendo sido usada 
largamente desde o Digesto e em todos os tempos.2 Essa “semelhança” 
em que se fundamenta a analogia não pode ser uma semelhança qualquer, 
mas uma semelhança relevante, que tenha sido a mesma causa que mo-
tivou a decisão do caso análogo regulamentado, ou seja, a razão suficiente 
pela qual foi atribuída aquela solução ao caso análogo.
Assim preceitua o Digesto (10.1.3): 2. Non possunt omnes articuli singulla-
tim aut legibus aut senatus consultis comprehendi: sed cum in aliqua 
causa sententia eorum manifesta est, is qui jurisdictioni praeest ad similia 
procedere atque ita ius dicere debet. (Não podem todos os artigos isola-
damente ser abrangidos pelas leis e pelos senatusconsultos: mas quando 
em alguma causa a opinião deles é conhecida, aquele que preside a juris-
dição deve seguir por semelhança e do mesmo modo dizer o direito).
NEAD Núcleo de Educação a Distância
31
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
 Esta razão suficiente é o que comumente se chama de ratio 
legis, sendo denominada “analogia legis”. O raciocínio por analogia 
exige que os dois casos (o regulamentado e o não-regulamentado) 
sejam regidos pela mesma ratio legis.
A “analogia legis” difere da “analogia iuris”’, pois a última busca a 
solução para uma lacuna em todo o ordenamento e não apenas em 
parte dele. A expressão “‘princípios gerais do Direito”’ é tradicional-
mente denominada de “analogia iuris”’. Para Bobbio (1999), os Prin-
cípios Gerais do Direito equivalem a normas e podem ser expressos 
ou não expressos. Quando expressos, não se pode falar em lacunas 
do sistema. Só se consideraria lacuna se, para um determinado caso, 
não existisse uma regra expressa, nem específica, nem geral, nem 
generalíssima. Mas há ainda os princípios que podemos considerar 
não-expressos, isto é, os que podem ser deduzidos por abstração 
das normas expressas. São aquelas normas generalíssimas formu-
ladas pelo intérprete, na tentativa de alcançar o que se entende por 
“espírito do sistema”. De um modo ou de outro, o intérprete terá 
sempre uma solução para as lacunas no Ordenamento Jurídico. 
6.4 O Problema da Relação com outros Ordenamentos 
O ordenamento jurídico padrão é o ordenamento estatal. Porém, 
além deste, haveria também os ordenamentos não-estatais, den-
tre os quais podemos distinguir:
Ordenamentos acima do Estado, como o ordenamento inter-1. 
nacional e, segundo algumas doutrinas, o da Igreja Católica.
Ordenamentos abaixo do Estado, como os ordenamentos propriamen-2. 
te sociais, que o Estado reconhece, limitando-os ou absorvendo-os.
Ordenamentos ao lado do Estado, como o da Igreja Católica, 3. 
segundo outras concepções, ou, também, o internacional, 
segundo a concepção chamada dualística.Ordenamentos contra o Estado, como as associações de 4. 
marginais, as seitas secretas, etc.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
32
Hermenêutica Jurídica Unidade III - Hermenêutica Jurídica Clássica
 A mesma imagem da pirâmide das normas pode ser aplicada para a 
formação de uma pirâmide de ordenamentos. Podemos ter, assim, rela-
ções de coordenação ou de subordinação entre os ordenamentos. Rela-
ções de coordenação se dão entre ordenamentos estatais posicionados 
num mesmo plano, isto é, onde haja regras de autolimitação recíproca; 
enquanto relações de subordinação se dão entre ordenamentos posi-
cionados em patamares diferentes, como, por exemplo, entre o ordena-
mento estatal e os sociais (sindicatos, partidos, associações), cujos esta-
tutos, para terem validade, precisam ser reconhecidos pelo Estado.
Importante
No caso, entre o Estado e os Ordenamentos Menores, pode haver uma 
relação de recepção, o que dará ao Ordenamento Estatal um caráter 
de maior complexidade. Às vezes, porém, pode ocorrer o fenômeno 
do reenvio, pelo qual o ordenamento estatal se limita a reconhecer 
a validade do outro menor, no seu próprio âmbito. Exemplos são as 
regras de convivência e de comunicação em certos ambientes ou ativi-
dades, como grupos étnicos. A reação mais frequente do ordenamento 
estatal frente aos ordenamentos menores tem sido a de indiferença, 
não as reconhecendo nem dando proteção, agindo apenas em caso 
de violação das normas gerais positivadas (caso de jogos e atividades 
esportivas). Mas, às vezes, pode ser também de recusa, como é o caso 
do duelo, válido no chamado código cavalheiresco.
 
Por tratar-se de uma complexa diferenciação, os conflitos gerados 
nesta área sempre foram de difícil solução. Os caminhos possíveis são 
os da negociação, da diplomacia, da mediação. Quando esses não são 
viáveis, afastam-se todas as possibilidades jurídicas e a solução será 
buscada na base do confronto direto das forças.
Assim, encerramos nossa terceira unidade. Lembre-se de com-
plementar os seus estudos com a sua web-aula, lá você en-
contra o conteúdo de forma reduzida, com um vídeo que trata 
sobre o ordenamento jurídico, além de um áudio resumo para 
fazer download. Nos encontramos na próxima unidade! Até lá!
NEAD Núcleo de Educação a Distância
33
Referências Bibliográficas
ANDRADE, Cristiano. O problema dos métodos na interpreta-
ção jurídica. São Paulo: RT, 1992.
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. 
Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1999.
FALCÃO, Raimundo Bezerra. Hermenêutica. São Paulo: Editora 
Malheiros, 2004.
FERRAZ JR, Tércio. A ciência do Direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1980.
GIORDANI, F. A.M. P. Estudos sobre a interpretação das leis. 
São Paulo: Ed. Copola, 1997. 
MAGALHÃES, Glauco. Hermenêutica jurídica clássica. Belo Hori-
zonte: Mandamentos, 2003.
MAXIMILIANO, C.. Hermenêutica e aplicação do Direito. 19. ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 2006.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
34
Créditos
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Núcleo de Educação a Distância
Coordenação Geral
Carlos Alberto Batista
Supervisão Administrativa
Graziella Batista de Moura
Supervisão de Desenvolvimento
Liadina Camargo Lima
Produção de Conteúdo Didático
Antônio Carlos Machado
Projeto Instrucional
Andrea Chagas Alves de Almeida
Roteiro de Áudio e Vídeo
Andrea Chagas Alves de Almeida
Produção de Áudio e Vídeo
Régis da Silva Pereira
Sávio Félix Mota
Identidade Visual
Viviane Claudia Paiva Ramos
Programação
Filipe Pinto Cajazeiras
Diagramação de Material Didático
Régis da Silva Pereira
Sávio Félix Mota
Revisão Gramatical
Elane Silva Pereira
NEAD Núcleo de Educação a Distância
35
Anotações

Outros materiais