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Fisiopatologia da Obesidade 1 Epidemiologia da Obesidade A epidemiologia da obesidade estuda a frequência e distribuição desta doença nas diversas populações, bem como os possíveis fatores que determinam o seu aparecimento ou desenvolvimento. A obesidade é uma realidade que atinge todos os estratos etários da população, daí a ser considerada um dos maiores problemas de saúde pública. As últimas projeções da Organização Mundial de Saúde, feitas para 2005, indicavam prevalência de sobrepeso em aproximadamente 1,6 bilhões de adultos e de obesidade em pelo menos 400 milhões. Calculou-se que em 2015, aproximadamente 2,3 bilhões de adultos apresentariam sobrepeso e 700 milhões seriam obesos. Estimou-se que nos Estados Unidos a prevalência de obesidade seria de 32,2% em homens adultos e 35,5% em mulheres adultas, percentuais esses que se elevaram para 72,3% e 64,1%, respectivamente. A obesidade infantil também vem se tornando uma crise na saúde pública internacional com mais de 22 milhões de crianças abaixo de 5 anos de idade no mundo com sobrepeso. O aumento da prevalência da obesidade em crianças e adolescentes, associada ao conhecimento de que várias comorbidades decorrentes da obesidade têm início na infância, faz com que este assunto seja de grande importância nos serviços de prevenção de saúde. Um fator preocupante com relação ao aumento dessa prevalência é quando o paciente torna-se refratário ao tratamento medicamentoso e às dietas, além de não manter a perda do peso. Dados do Ministério da Saúde informam que a população adulta vem apresentando prevalência de excesso de peso. De acordo com os dados mais recentes, cerca de 32% dos adultos brasileiros têm algum grau de excesso de peso. Destes, 6,8 milhões de indivíduos (8%) apresentam obesidade, com predomínio entre as mulheres (70%). A prevalência ainda se acentua com a idade, atingindo um valor maior na faixa etária de 45–54 anos (37% entre homens e 55% entre mulheres). Definição de excesso de gordura e obesidade Existe uma diferença entre os termos excesso de peso, excesso de gordura e obesidade, que muitas vezes são tratados erroneamente como sinônimos. Em geral, peso e estatura em uma determinada idade proporciona o índice mais conveniente que permite inferir a gordura corporal e os concomitantes riscos à saúde. No contexto apropriado, porém, a condição de peso excessivo se refere simplesmente a um peso corporal que ultrapassa alguma média para estatura e talvez para determinada idade, habitualmente por alguma unidade de desvio-padrão ou percentual. A condição de peso excessivo ou sobrepeso acompanha frequentemente um aumento da gordura corporal, porém nem sempre e, pode ou não, coincidir com comorbidades tipo intolerância à glicose, resistência à insulina, dislipidemia e outros. Quando se dispõe de determinações da gordura corporal (pregas cutâneas, circunferências e outros) torna-se possível enquadrar com maior exatidão o nível de gordura corporal em um indivíduo de baixo a alto independente do peso corporal. Nessas circunstâncias, a adiposidade excessiva se refere a uma condição na qual a gordura corporal ultrapassa, em uma quantidade predeterminada, uma média que seria apropriada para a idade e/ou para o sexo. Na maioria das situações, a adiposidade excessiva representa a expressão correta ao avaliar os níveis de gordura corporal para indivíduos e grupos. O termo obesidade se refere à condição com gordura excessiva que acompanha uma série de comorbidades, incluindo apenas um ou todos os seguintes componentes da síndrome metabólica: intolerância à glicose, resistência à insulina, dislipidemia, hipertensão, entre outros. Fisiopatologia da Obesidade 2 Métodos de diagnóstico No passado, o padrão ouro para avaliar o peso era a pesagem dentro d’àgua (peso submerso ou hidrostático). Mais recentemente, técnicas de imagem tais como ressonância magnética, tomografia computadorizada e absorciometria com raios-X de dupla energia têm sido alternativas, mas o custo e a falta dos equipamentos necessários impedem o uso dessas técnicas na prática clínica. Alternativas como a medida da prega cutânea, ultrassonografia, análise de bioimpedância e espectroscopia por raios infravermelhos são disponíveis e relativamente baratas. Medidas Antropométricas A mais favorável medida de massa corporal tradicionalmente tem sido o peso isolado ou peso ajustado para a estatura. A combinação de massa corporal e distribuição de gordura é, provavelmente, a melhor opção para preencher a necessidade de uma avaliação clínica. Deve ser notado, a princípio, que não há avaliação perfeita para sobrepeso e obesidade. Durante muito tempo, a medicina procurou um padrão de cálculo que pudesse ser utilizado em todo o mundo e que permitisse identificar, da melhor forma possível, o ponto a partir do qual uma pessoa pode ser considerada com sobrepeso ou obesa. Existe uma série de medidas de peso, porém o índice de massa corpórea (IMC), por sua praticidade é hoje aceito como padrão de medida internacional. Sua forma de cálculo é a divisão do peso (kg) da pessoa por sua estatura (metros), elevada ao quadrado. IMC = Peso ÷ (altura x altura) O IMC é um bom indicador, mas não totalmente correlacionado com a gordura corporal. As suas limitações são: Não distingue massa gordurosa de massa magra, podendo ser pouco estimado em indivíduos mais velhos, em decorrência de sua perda de massa magra e diminuição do peso, e superestimado em indivíduos musculosos; Não reflete, necessariamente, a distribuição da gordura corporal. A medida da distribuição de gordura é importante na avaliação de sobrepeso e obesidade porque a gordura visceral (intra-abdominal) é um fator de risco potencial para a doença, independentemente da gordura corporal total. Indivíduos com o mesmo IMC podem ter diferentes níveis de massa gordurosa visceral. Por exemplo: a distribuição de gordura abdominal é claramente influenciada pelo sexo: para algum acúmulo de gordura corporal, o homem tem em média, o dobro da quantidade de gordura abdominal em relação à mulher na pré-menopausa; Não indica necessariamente o mesmo grau de gordura em populações diversas, particularmente por causa das diferentes proporções corporais. Na população brasileira, tem-se utilizado a tabela proposta pela OMS para classificação de sobrepeso e obesidade e seu uso apresenta as mesmas limitações constatadas na literatura. Apresenta, no entanto, semelhante correlação com as comorbidades. A combinação de IMC com medidas da distribuição de gordura pode ajudar a resolver alguns problemas do uso do IMC isolado. Fisiopatologia da Obesidade 3 Tabela 1 – Peso Ideal relacionado com a Idade Idade Faixa de IMC Ideal 20-30 anos IMC de 18 a 19,9 30-40 anos IMC de 20 a 21,9 40-50 anos IMC de22 a 22,9 50-60 anos IMC de 23 a 23,9 60-70 anos IMC de 24 a 24,9 70 anos IMC de 26-27 Tabela 2 – Classificação do peso pelo IMC em adultos Classificação IMC Risco de Comorbidades Baixo peso 18,5 Baixo Peso normal 18,5 – 24,9 Médio Sobrepeso 25 – 25,9 ----- Pré- obeso 26,0 - 29,9 Aumentado Obeso I 30,0 – 34,9 Moderado Obeso II 35,0 – 39,9 Grave Obeso III 40,0 Muito grave Fonte: adaptado de WHO, 1995, WHO, 2000 e WHO 2004. Tabela 3 - IMC para Idosos IMC Classificação < 22 Magreza 22-27 Eutrofia >27 Excesso de peso A OMS estabelece como ponto de corte para risco cardiovascular aumentado a medida de circunferência abdominal igual ou superior a 94 cm em homens e 80 cm em mulheres caucasianos. De acordo com o National Cholesterol Education Program (NCEP) - Adult Treatment Fisiopatologia da Obesidade4 Panel III (ATPIII), o ponto de corte deve ser de 102 cm para homens e 88 cm para mulheres. Entretanto, a relação entre circunferência abdominal e gordura corporal difere segundo a idade e diferentes grupos étnicos. Os pontos de corte para asiáticos e indianos, para o mesmo nível de risco, são menores que os apresentados na tabela 1 por se associarem a aumento de risco para complicações metabólicas. Na população brasileira, utilizaram-se, em alguns estudos, os mesmos pontos de corte propostos pela OMS, indicando também ser bom preditor de risco para doenças metabólicas, principalmente a hipertensão arterial. Sugeriram-se vários locais e padrões para avaliar a circunferência abdominal. Tabela 4 – Circunferência abdominal (cm) e risco de complicações metabólicas associadas com obesidade em homens e mulheres. Risco de complicações metabólicas Homem Mulheres Baixo Risco 94 cm 80 cm Médio Risco 94 a 102 cm 80 a 88 cm Alto Risco 102 cm 88 cm A deposição central de gordura, independentemente do seu armazenamento em outras áreas anatômicas, reflete um perfil metabólico alterado. Acarreta um maior risco de hiperinsulinemia (resistência à insulina) e de tolerância à glicose, diabetes tipo 2, câncer endometrial, hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, um perfil das lipoproteínas alterado negativamente, hipertensão e aterosclerose. Mais especificamente, as relações da circunferência para cintura-quadril que ultrapassam 80 cm para mulheres e 95 cm para homens estão relacionadas ao maior risco de morte, até mesmo após fazer os ajustes para o IMC. Fisiopatologia da Obesidade 5 Massa gordurosa e distribuição de gordura Existem, na atualidade, diversas formas de avaliar a massa gordurosa corporal e sua distribuição: • Medição da espessura das pregas cutâneas Utilizada como indicador de obesidade, pois, existe uma relação entre a gordura localizada nos depósitos debaixo da pele e a gordura interna ou a densidade corporal. Sua reprodutibilidade, entretanto, é uma limitação como método diagnóstico. A medição das pregas cutâneas constitui o meio mais conveniente para estabelecer, indiretamente, massa corpórea de gordura. A medida isolada da prega cutânea do tríceps proporciona uma estimativa das reservas gordurosas do subcutâneo, a qual se relaciona com o volume de gordura do organismo. A prega cutânea deve ser medida com o adipômetro que mantenha pressão constante, não servem, portanto, os que não possuem mecanismos reguladores de pressão. Bioimpedância: Forma portátil disponível para avaliação clínica e tem sido considerada suficientemente válida e segura, em condições constantes. Utiliza a condução de uma corrente elétrica aplicada ao organismo, de baixa intensidade. O exame dispara uma corrente elétrica no organismo imperceptível e como a célula de gordura tem muita resistência à corrente elétrica diferente da célula muscular é possível através de uma fórmula matemática determinar a quantidade de gordura e de musculatura no organismo. Todas as técnicas utilizam 4 elétrodos (2 emissores e 2 receptores da corrente). A diferença de corrente é detectada pelos elétrodos receptores, determinando assim o valor da impedância. É considerado um bom método de estimação da água corporal, atendendo que avalia a Massa Isenta de Gordura, que contém grande parte da água e eletrólitos do organismo. • Ultrassonografia: Técnica que tem sido cada vez mais utilizada e apresenta excelente correlação com a medida de pregas cutâneas. Além da avaliação da espessura do tecido adiposo, avalia também Fisiopatologia da Obesidade 6 tecidos mais profundos nas diferentes regiões corporais. É considerado bom método para quantificar o tecido adiposo intra-abdominal, com a vantagem de ser uma alternativa menos dispendiosa mais precisa que as pregas cutâneas. • Tomografia computadorizada: Método de imagem considerado preciso e confiável para quantificar o tecido adiposo subcutâneo e em especial o intra-abdominal. • Ressonância magnética: Pode ser utilizado para diagnóstico e acompanhamento da gordura visceral em indivíduos com alto risco e que estejam em tratamento para a perda de peso. Seu alto custo, no entanto, não permite a possibilidade de seu uso na rotina. Fisiopatologia da Obesidade 7 Classificação da Obesidade Há diversas maneiras de conceituar e classificar a obesidade. A definição primária de obesidade pode ser de acúmulo de tecido adiposo no organismo. O tecido adiposo é um tipo de tecido conjuntivo especial onde se observa predominância de células adiposas (adipócitos) que podem ser encontradas isoladas ou em pequenos grupos de tecido conjuntivo comum, porém a maioria delas se agrupa no tecido adiposo espalhado pelo corpo. Figura - Tecido Adiposo Localizando-se abaixo da pele, este tecido, além de ser o maior depósito de energia (sob a forma de triglicerídeos) do corpo, exerce várias outras funções, tais como modelagem de superfícies que é parte responsável pelas diferenças de contorno entre o corpo feminino e masculino; forma coxins absorventes de choques, principalmente na planta dos pés e nas palmas das mãos; isolamento térmico, visto que as gorduras são más condutoras de calor; preenchimento de espaços entre tecidos e ainda auxilia na manutenção de certos órgãos em suas posições normais. Em pessoas com peso normal, o tecido adiposo corresponde a 20-25% do peso corporal na mulher e 15-20% no homem. Histologicamente, a obesidade é o aumento excessivo de gordura no tecido adiposo. A obesidade pode ser definida de acordo com alterações ao nível dos adipócitos, que são células armazenadoras de gordura. De acordo com essas alterações, pode-se classificar a obesidade como: a) Hiperplásica – em que há um aumento do número de adipócitos. Esse tipo de obesidade ocorre principalmente no período que vai do fim da infância até o início da vida adulta. O número de adipócitos pode tornar-se até 5 vezes maior que o número encontrado em um adulto com peso normal; b) Hipertrófica – em que há aumento não do número de adipócitos, mas, no tamanho. Logo estes acumulam maior quantidade de gordura. c) Hiperplásico-hipertrófica – pode ser definida como o aumento do volume dos adipócitos, acompanhado por multiplicação das células. O adipócito cresce tanto que estimula os adipoblastos a darem origem a novos adipócitos. Conforme a localização da gordura, existem 2 tipos principais de obesidade: a obesidade androide (ou tipo maçã) e a obesidade ginoide (ou tipo pêra). Na obesidade androide, mais comum nos homens, a gordura fica depositada na região abdominal. Na obesidade ginoide, que é mais comum nas mulheres, a gordura fica depositada em outras regiões do corpo, como a região dos quadris e coxas. Fisiopatologia da Obesidade 8 Estudos têm mostrado que as complicações cardiovasculares são mais comuns entre os obesos do tipo androide, daí o fato de tais complicações serem mais frequentes entre os homens. A obesidade ginoide é menos danosa que a androide, porque na androide, os ácidos graxos da gordura intraabdominal caem no sistema porta e dirigem-se diretamente para o fígado, antes mesmo de circular até os músculos, o que predispõe à síndrome plurimetabólica e à esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado). O termo obesidade mórbida refere-se àquela obesidade que, se não tratada, irá acarretar significativa diminuição da expectativa de vida para o paciente. A obesidade mórbida é definida como IMC > 40. Alguns autores propõem a substituição do termo obesidade mórbida por obesidadeclinicamente significativa, que é o IMC > 40 ou IMC > 35 com comorbidades significativas. A Sociedade Americana de Anestesiologistas inclui na classificação de obesidade mórbida o superobeso cujo IMC é superior a 50 e o super-superobeso cujo IMC é superior a 60. Desenvolvimento da Obesidade O principal mecanismo da obesidade é um desequilíbrio entre a formação e a destruição de células adiposas (de gorduras) no organismo. Todas as calorias que comemos podem ser transformadas e armazenadas sob a forma de células adiposas e, o que gastamos (gasto calórico), favorece a destruição destas células. Portanto, a obesidade em si não significa, obrigatoriamente, que a pessoa coma muito, significa também, que ela gasta pouco do que come. Assim sendo, comumente a obesidade é causada por um desequilíbrio, entre as calorias que são ingeridas, sob a forma de alimentos, e as calorias que são gastas pelo indivíduo para seu organismo funcionar. O excesso de calorias, consequência do balanço positivo (sobra) entre o que é consumido e o que é gasto, acaba sendo armazenado deixando o sujeito obeso. Normalmente a pessoa torna-se obesa em 2 circunstâncias: a) porque come exageradamente mais do que precisa; ou 2) porque gasta poucas calorias. De forma patológica pode tornar-se obeso por ter mais facilidade de produzir gordura, “queimando” gorduras com menor facilidade. Mais de 95% dos obesos estão entre as duas possibilidades mesmo que algumas insistam em dizer que não comem quase nada. Mas a quantidade de calorias que uma pessoa necessita varia de acordo com a idade, sexo e a atividade física. Saber o mecanismo envolvido na obesidade é fundamental para o tratamento adequado do paciente. Para se ter uma ideia, é bom lembrar que 1g de gordura tem 9 calorias enquanto 1g de açúcar tem 4 calorias. O consumo exagerado de carboidratos simples, como Fisiopatologia da Obesidade 9 doces e açúcar também é prejudicial. O excesso é transformado em gorduras, desequilibrando os níveis dos triglicérideos no sangue. Etiologia da Obesidade A relação multifatorial sobre as causas da obesidade não está bem estabelecida. Vários aspectos interagem determinando uma predisposição individual aguardando a relação com outros fatores que funcionam como gatilho no seu aparecimento. a) Fator Genético De acordo com o Consenso Latino Americano em Obesidade, a variedade biológica das pessoas com relação ao armazenamento do excesso de energia ingerida é muito grande. Este fato está estreitamente relacionado com a suscetibilidade individual e seu patrimônio genético. Com base nos estudos de epidemiologia molecular, é possível afirmar que o número de genes associados ou relacionados com a obesidade gire em torno de 205. A função desses genes é orquestrar uma cascata de processos fisiológicos destinados a manter o equilíbrio delicadamente ajustado entre o número de calorias ingeridas e aquelas que serão gastas no dia-a-dia. Em função disso, algumas pessoas nunca chegarão a ter sobrepeso ou obesidade, outras podem aumentar de peso na medida em que aumentam de idade, outras ainda podem iniciar o aumento de peso desde a infância e mantê-lo em idades posteriores. Quando um dos pais é obeso, o filho tem 40% a mais de probabilidade de se tornar gordo. Se tanto o pai quanto a mãe forem obesos, o risco sobe para 70%. Já uma criança com pais sem excesso de peso tem cerca de 9% de chance de desenvolver obesidade. A predisposição genética é tradicionalmente invocada para explicar por que algumas crianças engordam enquanto outras não. Leptina Os estudos realizados em animais fornecem informação fundamental acerca do elo genético entre obesidade e doenças associadas. Por exemplo, a pesquisa com camundongos que alcançavam uma circunferência cinco vezes maior que aquela dos camundongos normais confirma que alguns indivíduos parecem “predestinados” geneticamente a se tornar excessivamente gordos. A mutação do gene denominado obeso, ou simplesmente ob, pode afetar os sinais hormonais que regulam o metabolismo, o armazenamento da gordura e o apetite, o que irá inclinar o equilíbrio energético na direção do acúmulo de gordura corporal. Propõe-se que o gene ob é ativado normalmente no tecido adiposo onde codifica e estimula a produção de uma proteína semelhante aos hormônios que emite sinais referentes à gordura corporal (proteína ob ou leptina) e penetra a seguir na corrente sanguínea. Essa molécula, que modula a saciedade, se dirige ao núcleo ventromedial, a área hipotalâmica que controla o apetite e o metabolismo. Normalmente, a leptina reduz a ânsia de comer quando a ingesta calórica mantém as reservas ideais de gordura. A leptina pode afetar certos neurônios no hipotálamo de forma à: 1) estimular a produção de substâncias químicas que suprimem o apetite e/ou 2) reduzir os níveis de substâncias químicas cerebrais que estimulam o apetite. Esses mecanismos poderiam explicar de que maneira a gordura corporal consegue permanecer intimamente “conectada” ao cérebro através da via fisiológica para que haja a regulação do equilíbrio energético. De certa forma, o adipócito desempenha uma função do tipo endócrina. Fisiopatologia da Obesidade 10 Com um gene defeituoso para a produção de leptina pelo adipócito e/ou sensibilidade do hipotálamo à leptina, o cérebro não consegue avaliar adequadamente o estado do tecido adiposo do corpo. Assim sendo, a ânsia de comer continua sendo constante. Fisiopatologia da Obesidade Gorduras, ou tecidos adiposos, são encontrados em diversos lugares em seu corpo. Geralmente, a gordura encontra-se debaixo de sua pele (gordura subcutânea). Encontra-se também sobre cada um de seus rins. Outras localizações dependem se você é homem ou mulher (obesidade andróide ou ginoide, respectivamente). Essa diferença na localização de gordura decorre da relação entre os hormônios sexuais estrogênio e testosterona. Figura - Corte transversal da pele. A gordura está na camada subcutânea, que é ricamente abastecida pelos vasos sanguíneos. Fisiopatologia da Obesidade 11 Seu corpo contém 2 tipos de tecido adiposo. Gordura branca - importante no metabolismo energético, isolamento térmico e amortecimento mecânico; Gordura marrom - geralmente encontrada em bebês recém-nascidos, entre os ombros; importante para a termogênese (produção de calor). O tecido adiposo é composto por células de gordura. As células de gordura são um tipo único de célula. Você pode pensar que uma célula de gordura é um pequeno saco plástico que segura uma gota de gordura. Células de gordura branca são grandes células que possuem um minúsculo citoplasma, apenas 15% do volume da célula, um pequeno núcleo e uma grande gota de gordura que ocupa 85% do volume da célula; As células de gordura marrom são um pouco menores, possuem muitas mitocôndrias e são compostas de diversas gotas pequenas de gordura. A mitocôndria é capaz de gerar calor. Figura - Células adiposas brancas e marrons As células de gordura são formadas no desenvolvimento do feto durante o terceiro trimestre de gestação e mais tarde no início da puberdade, quando os hormônios sexuais "ganham vida". É durante a puberdade que as diferenças na distribuição de gordura entre homens e mulheres tomam forma. Em adição ao tecido adiposo, algumas gorduras são armazenadas no fígado, e uma quantidade ainda menor nos músculos. As gorduras, também chamadas lipídeos, são substâncias ricas em energia que servem de fonte principal de combustível para os processos metabólicos do organismo. As gorduras obtêm- se dos alimentos ou formam-se no corpo, principalmente no fígado, e podemser armazenadas nas células adiposas para serem usadas a qualquer momento. As células adiposas também isolam o corpo do frio e ajudam a protegê-lo das lesões. As gorduras são componentes essenciais das membranas celulares e das bainhas de mielina que envolvem as células nervosas. As duas principais substâncias gordas presentes no sangue são o colesterol e os triglicerídeos. As gorduras aderem a certas proteínas para se deslocarem com o sangue; à combinação de gorduras com proteínas chamam-se lipoproteínas. As principais lipoproteínas são os quilomícrons, as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL – very low density lipoprotein), as lipoproteínas de baixa densidade (LDL – low density lipoprotein) e as lipoproteínas de alta densidade (HDL – high density lipoprotein). Quando você come um alimento que contém gordura, geralmente triglicerídeos, eles atravessam seu estômago e intestinos. Veja abaixo o que acontece nos intestinos: 1. As grandes gotas de gordura se misturam com os sais biliares da vesícula biliar em um processo chamado emulsificação. A mistura quebra as grandes gotas em várias gotas menores chamadas micelas, diminuindo a área de superfície de gordura; Fisiopatologia da Obesidade 12 2. O pâncreas secreta enzimas chamadas lipases que atacam a superfície de cada micela e quebram as gorduras em partes, glicerol e ácidos graxos; 3. Estas partes são absorvidas nas células internas do intestino; 4. Na célula intestinal, as partes são reunidas em pacotes de moléculas de gordura (triglicerídeos) com uma camada de proteína chamada quilomícrons. A camada de proteína faz com que a gordura se dissolva mais facilmente na água; 5. Os quilomícrons são liberados dentro do sistema linfático, eles não vão diretamente para a corrente sanguínea, pois, são muito grandes para passar pelas paredes dos vasos capilares; 6. O sistema linfático eventualmente se liga com as veias, neste ponto os quilomícrons passam para a corrente sanguínea. Você talvez esteja pensando por que as moléculas de gordura são quebradas em glicerol e ácidos graxos se elas irão se reunir novamente. Isto porque as moléculas de gordura são muito grandes para atravessar as membranas celulares. Então, quando passam do intestino através das células intestinais nas linfas, ou quando atravessam qualquer barreira celular, as gorduras devem ser quebradas. Porém, quando as gorduras são transportadas nas linfas ou no sangue, é preferível que tenham poucas moléculas de gordura grande, pois, as moléculas grandes de gordura não "atraem" tantas moléculas de água em excesso por osmose como muitas moléculas menores fariam. Os quilomícrons não duram muito na corrente sanguínea - apenas cerca de oito minutos - por causa das enzimas chamadas lipases de lipoproteína quebrando as gorduras em ácidos graxos. Lipases de lipoproteína são encontradas nas paredes dos vasos sanguíneos no tecido adiposo, tecido muscular e músculo cardíaco. A atividade das lipases de lipoproteína depende dos níveis de insulina no corpo. Quando a insulina é alta, então as lipases são altamente ativas; se a insulina é baixa, as lipases são inativas. Os ácidos graxos são então absorvidos pelo sangue nas células de gordura, células musculares e células do fígado. Nestas células, sob estímulo da insulina, ácidos graxos são produzidos em moléculas de gordura e são armazenados como gotas de gordura. Isto é possível também, pois, as células de gordura recolhem glicose e aminoácidos que foram absorvidos pela corrente sanguínea depois de uma refeição e os converte em moléculas de gordura. A conversão de carboidratos ou proteína em gordura é 10 vezes menos eficiente do que o simples armazenamento nas células de gordura; porém, o corpo pode fazer isso. Se você tem 100 calorias extras em gordura (aproximadamente 11 gramas) flutuando em sua corrente sanguínea, as células de gordura podem armazená-las usando apenas 2,5 kcal de energia. Em contrapartida, se você tem 100 kcal extras em glicose (aproximadamente 25 gramas) flutuando em sua corrente Fisiopatologia da Obesidade 13 sanguínea, isto exige 23 calorias de energia para converter glicose em gordura e então armazená-la. Dando uma opção, uma célula de gordura irá agarrar a gordura e armazená-la ao invés dos carboidratos, pois, a gordura é muito mais fácil de armazenar. Adipogênese Os adipócitos provem de células-tronco mesenquimais multipotentes no tecido adiposo. Essas células multipotentes tornam-se pré-adipócitos quando perdem a habilidade de se diferenciar em outras linhagens mesenquimais e tornam-se “comprometidas” com a linhagem adipocitária. Essa fase inicial da diferenciação do adipócito, ainda pouco caracterizada, é conhecida como determinação ou comprometimento. A segunda fase da adipogênese é a diferenciação terminal. Os pré-adipócitos adquirem as características de adipócitos maduros, acumulando gotas lipídicas e a habilidade de responder a hormônios como a insulina. O conhecimento sobre a adipogênese aumentou bastante nas últimas duas décadas, com o uso de células clonais e não clonais precursoras de adipócitos provenientes de roedores e humanos. Glicocorticoides, insulina e fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-I) foram identificados como os mais eficientes agentes adipogênicos em experimentos in vivo. Pré-adipócito Adipócito imaturo Adipócito maduro
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