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Fisiopatologia da Obesidade

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Fisiopatologia da Obesidade 
 
1 
 
 
 Epidemiologia da Obesidade 
A epidemiologia da obesidade estuda a frequência e distribuição desta doença nas diversas 
populações, bem como os possíveis fatores que determinam o seu aparecimento ou 
desenvolvimento. A obesidade é uma realidade que atinge todos os estratos etários da 
população, daí a ser considerada um dos maiores problemas de saúde pública. 
As últimas projeções da Organização Mundial de Saúde, feitas para 2005, indicavam 
prevalência de sobrepeso em aproximadamente 1,6 bilhões de adultos e de obesidade em pelo 
menos 400 milhões. Calculou-se que em 2015, aproximadamente 2,3 bilhões de adultos 
apresentariam sobrepeso e 700 milhões seriam obesos. Estimou-se que nos Estados Unidos a 
prevalência de obesidade seria de 32,2% em homens adultos e 35,5% em mulheres adultas, 
percentuais esses que se elevaram para 72,3% e 64,1%, respectivamente. 
A obesidade infantil também vem se tornando uma crise na saúde pública internacional com 
mais de 22 milhões de crianças abaixo de 5 anos de idade no mundo com sobrepeso. O aumento 
da prevalência da obesidade em crianças e adolescentes, associada ao conhecimento de que 
várias comorbidades decorrentes da obesidade têm início na infância, faz com que este assunto 
seja de grande importância nos serviços de prevenção de saúde. Um fator preocupante com 
relação ao aumento dessa prevalência é quando o paciente torna-se refratário ao tratamento 
medicamentoso e às dietas, além de não manter a perda do peso. 
Dados do Ministério da Saúde informam que a população adulta vem apresentando 
prevalência de excesso de peso. De acordo com os dados mais recentes, cerca de 32% dos 
adultos brasileiros têm algum grau de excesso de peso. Destes, 6,8 milhões de indivíduos (8%) 
apresentam obesidade, com predomínio entre as mulheres (70%). A prevalência ainda se 
acentua com a idade, atingindo um valor maior na faixa etária de 45–54 anos (37% entre homens 
e 55% entre mulheres). 
 
 Definição de excesso de gordura e obesidade 
Existe uma diferença entre os termos excesso de peso, excesso de gordura e obesidade, 
que muitas vezes são tratados erroneamente como sinônimos. 
Em geral, peso e estatura em uma determinada idade proporciona o índice mais 
conveniente que permite inferir a gordura corporal e os concomitantes riscos à saúde. No 
contexto apropriado, porém, a condição de peso excessivo se refere simplesmente a um peso 
corporal que ultrapassa alguma média para estatura e talvez para determinada idade, 
habitualmente por alguma unidade de desvio-padrão ou percentual. A condição de peso 
excessivo ou sobrepeso acompanha frequentemente um aumento da gordura corporal, porém 
nem sempre e, pode ou não, coincidir com comorbidades tipo intolerância à glicose, resistência à 
insulina, dislipidemia e outros. 
Quando se dispõe de determinações da gordura corporal (pregas cutâneas, circunferências 
e outros) torna-se possível enquadrar com maior exatidão o nível de gordura corporal em um 
indivíduo de baixo a alto independente do peso corporal. Nessas circunstâncias, a adiposidade 
excessiva se refere a uma condição na qual a gordura corporal ultrapassa, em uma quantidade 
predeterminada, uma média que seria apropriada para a idade e/ou para o sexo. Na maioria das 
situações, a adiposidade excessiva representa a expressão correta ao avaliar os níveis de 
gordura corporal para indivíduos e grupos. 
O termo obesidade se refere à condição com gordura excessiva que acompanha uma série 
de comorbidades, incluindo apenas um ou todos os seguintes componentes da síndrome 
metabólica: intolerância à glicose, resistência à insulina, dislipidemia, hipertensão, entre outros. 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
2 
 
 
 Métodos de diagnóstico 
No passado, o padrão ouro para avaliar o peso era a pesagem dentro d’àgua (peso 
submerso ou hidrostático). Mais recentemente, técnicas de imagem tais como ressonância 
magnética, tomografia computadorizada e absorciometria com raios-X de dupla energia têm sido 
alternativas, mas o custo e a falta dos equipamentos necessários impedem o uso dessas técnicas 
na prática clínica. Alternativas como a medida da prega cutânea, ultrassonografia, análise de 
bioimpedância e espectroscopia por raios infravermelhos são disponíveis e relativamente baratas. 
 
 Medidas Antropométricas 
 
A mais favorável medida de massa corporal tradicionalmente tem sido o peso isolado ou 
peso ajustado para a estatura. A combinação de massa corporal e distribuição de gordura é, 
provavelmente, a melhor opção para preencher a necessidade de uma avaliação clínica. Deve ser 
notado, a princípio, que não há avaliação perfeita para sobrepeso e obesidade. 
Durante muito tempo, a medicina procurou um padrão de cálculo que pudesse ser utilizado 
em todo o mundo e que permitisse identificar, da melhor forma possível, o ponto a partir do qual 
uma pessoa pode ser considerada com sobrepeso ou obesa. Existe uma série de medidas de 
peso, porém o índice de massa corpórea (IMC), por sua praticidade é hoje aceito como padrão de 
medida internacional. Sua forma de cálculo é a divisão do peso (kg) da pessoa por sua estatura 
(metros), elevada ao quadrado. 
 
IMC = Peso ÷ (altura x altura) 
O IMC é um bom indicador, mas não totalmente correlacionado com a gordura corporal. As 
suas limitações são: 
 Não distingue massa gordurosa de massa magra, podendo ser pouco estimado em 
indivíduos mais velhos, em decorrência de sua perda de massa magra e diminuição do 
peso, e superestimado em indivíduos musculosos; 
 Não reflete, necessariamente, a distribuição da gordura corporal. A medida da distribuição 
de gordura é importante na avaliação de sobrepeso e obesidade porque a gordura visceral 
(intra-abdominal) é um fator de risco potencial para a doença, independentemente da 
gordura corporal total. Indivíduos com o mesmo IMC podem ter diferentes níveis de massa 
gordurosa visceral. Por exemplo: a distribuição de gordura abdominal é claramente 
influenciada pelo sexo: para algum acúmulo de gordura corporal, o homem tem em média, 
o dobro da quantidade de gordura abdominal em relação à mulher na pré-menopausa; 
 Não indica necessariamente o mesmo grau de gordura em populações diversas, 
particularmente por causa das diferentes proporções corporais. Na população brasileira, 
tem-se utilizado a tabela proposta pela OMS para classificação de sobrepeso e obesidade 
e seu uso apresenta as mesmas limitações constatadas na literatura. Apresenta, no 
entanto, semelhante correlação com as comorbidades. 
A combinação de IMC com medidas da distribuição de gordura pode ajudar a resolver 
alguns problemas do uso do IMC isolado. 
 
 
 
 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
3 
 
Tabela 1 – Peso Ideal relacionado com a Idade 
Idade Faixa de IMC Ideal 
 
20-30 anos IMC de 18 a 19,9 
30-40 anos IMC de 20 a 21,9 
40-50 anos IMC de22 a 22,9 
50-60 anos IMC de 23 a 23,9 
60-70 anos IMC de 24 a 24,9 
 70 anos IMC de 26-27 
 
Tabela 2 – Classificação do peso pelo IMC em adultos 
Classificação IMC Risco de 
Comorbidades 
 
Baixo peso 18,5 Baixo 
 
Peso normal 18,5 – 24,9 Médio 
Sobrepeso 25 – 25,9 ----- 
 
Pré- obeso 26,0 - 29,9 Aumentado 
 
Obeso I 30,0 – 34,9 Moderado 
 
Obeso II 35,0 – 39,9 Grave 
 
Obeso III 40,0 Muito grave 
 
Fonte: adaptado de WHO, 1995, WHO, 2000 e WHO 2004. 
Tabela 3 - IMC para Idosos 
IMC Classificação 
< 22 Magreza 
22-27 Eutrofia 
>27 Excesso de peso 
 
A OMS estabelece como ponto de corte para risco cardiovascular aumentado a medida de 
circunferência abdominal igual ou superior a 94 cm em homens e 80 cm em mulheres 
caucasianos. De acordo com o National Cholesterol Education Program (NCEP) - Adult Treatment 
Fisiopatologia da Obesidade4 
 
Panel III (ATPIII), o ponto de corte deve ser de 102 cm para homens e 88 cm para mulheres. 
Entretanto, a relação entre circunferência abdominal e gordura corporal difere segundo a idade e 
diferentes grupos étnicos. Os pontos de corte para asiáticos e indianos, para o mesmo nível de 
risco, são menores que os apresentados na tabela 1 por se associarem a aumento de risco para 
complicações metabólicas. 
Na população brasileira, utilizaram-se, em alguns estudos, os mesmos pontos de corte 
propostos pela OMS, indicando também ser bom preditor de risco para doenças metabólicas, 
principalmente a hipertensão arterial. Sugeriram-se vários locais e padrões para avaliar a 
circunferência abdominal. 
 
Tabela 4 – Circunferência abdominal (cm) e risco de complicações metabólicas associadas 
com obesidade em homens e mulheres. 
Risco de complicações metabólicas Homem Mulheres 
Baixo Risco 94 cm 80 cm 
Médio Risco 94 a 102 cm 80 a 88 cm 
Alto Risco 102 cm 88 cm 
 
A deposição central de gordura, independentemente do seu armazenamento em outras 
áreas anatômicas, reflete um perfil metabólico alterado. Acarreta um maior risco de 
hiperinsulinemia (resistência à insulina) e de tolerância à glicose, diabetes tipo 2, câncer 
endometrial, hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, um perfil das lipoproteínas alterado 
negativamente, hipertensão e aterosclerose. Mais especificamente, as relações da circunferência 
para cintura-quadril que ultrapassam 80 cm para mulheres e 95 cm para homens estão 
relacionadas ao maior risco de morte, até mesmo após fazer os ajustes para o IMC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
5 
 
 Massa gordurosa e distribuição de gordura 
 
Existem, na atualidade, diversas formas de avaliar a massa gordurosa corporal e sua 
distribuição: 
 
• Medição da espessura das pregas cutâneas 
Utilizada como indicador de obesidade, pois, existe uma relação entre a gordura localizada 
nos depósitos debaixo da pele e a gordura interna ou a densidade corporal. Sua reprodutibilidade, 
entretanto, é uma limitação como método diagnóstico. A medição das pregas cutâneas constitui o 
meio mais conveniente para estabelecer, indiretamente, massa corpórea de gordura. A medida 
isolada da prega cutânea do tríceps proporciona uma estimativa das reservas gordurosas do 
subcutâneo, a qual se relaciona com o volume de gordura do organismo. A prega cutânea deve 
ser medida com o adipômetro que mantenha pressão constante, não servem, portanto, os que 
não possuem mecanismos reguladores de pressão. 
 
 
 Bioimpedância: 
Forma portátil disponível para avaliação clínica e tem sido considerada suficientemente 
válida e segura, em condições constantes. Utiliza a condução de uma corrente elétrica 
aplicada ao organismo, de baixa intensidade. O exame dispara uma corrente elétrica no 
organismo imperceptível e como a célula de gordura tem muita resistência à corrente elétrica 
diferente da célula muscular é possível através de uma fórmula matemática determinar a 
quantidade de gordura e de musculatura no organismo. Todas as técnicas utilizam 4 elétrodos 
(2 emissores e 2 receptores da corrente). A diferença de corrente é detectada pelos elétrodos 
receptores, determinando assim o valor da impedância. É considerado um bom método de 
estimação da água corporal, atendendo que avalia a Massa Isenta de Gordura, que contém 
grande parte da água e eletrólitos do organismo. 
 
 
 
• Ultrassonografia: 
Técnica que tem sido cada vez mais utilizada e apresenta excelente correlação com a 
medida de pregas cutâneas. Além da avaliação da espessura do tecido adiposo, avalia também 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
6 
 
tecidos mais profundos nas diferentes regiões corporais. É considerado bom método para 
quantificar o tecido adiposo intra-abdominal, com a vantagem de ser uma alternativa menos 
dispendiosa mais precisa que as pregas cutâneas. 
 
 
 
• Tomografia computadorizada: 
Método de imagem considerado preciso e confiável para quantificar o tecido adiposo 
subcutâneo e em especial o intra-abdominal. 
 
 
 
• Ressonância magnética: 
Pode ser utilizado para diagnóstico e acompanhamento da gordura visceral em indivíduos 
com alto risco e que estejam em tratamento para a perda de peso. Seu alto custo, no entanto, 
não permite a possibilidade de seu uso na rotina. 
 
 
 
 
 
 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
7 
 
 Classificação da Obesidade 
 
Há diversas maneiras de conceituar e classificar a obesidade. A definição primária de 
obesidade pode ser de acúmulo de tecido adiposo no organismo. O tecido adiposo é um tipo de 
tecido conjuntivo especial onde se observa predominância de células adiposas (adipócitos) que 
podem ser encontradas isoladas ou em pequenos grupos de tecido conjuntivo comum, porém a 
maioria delas se agrupa no tecido adiposo espalhado pelo corpo. 
 
 
Figura - Tecido Adiposo 
 
Localizando-se abaixo da pele, este tecido, além de ser o maior depósito de energia (sob a 
forma de triglicerídeos) do corpo, exerce várias outras funções, tais como modelagem de 
superfícies que é parte responsável pelas diferenças de contorno entre o corpo feminino e 
masculino; forma coxins absorventes de choques, principalmente na planta dos pés e nas palmas 
das mãos; isolamento térmico, visto que as gorduras são más condutoras de calor; 
preenchimento de espaços entre tecidos e ainda auxilia na manutenção de certos órgãos em 
suas posições normais. Em pessoas com peso normal, o tecido adiposo corresponde a 20-25% 
do peso corporal na mulher e 15-20% no homem. 
Histologicamente, a obesidade é o aumento excessivo de gordura no tecido adiposo. A 
obesidade pode ser definida de acordo com alterações ao nível dos adipócitos, que são células 
armazenadoras de gordura. De acordo com essas alterações, pode-se classificar a obesidade 
como: 
a) Hiperplásica – em que há um aumento do número de adipócitos. Esse tipo de obesidade 
ocorre principalmente no período que vai do fim da infância até o início da vida adulta. O 
número de adipócitos pode tornar-se até 5 vezes maior que o número encontrado em um 
adulto com peso normal; 
b) Hipertrófica – em que há aumento não do número de adipócitos, mas, no tamanho. Logo 
estes acumulam maior quantidade de gordura. 
c) Hiperplásico-hipertrófica – pode ser definida como o aumento do volume dos adipócitos, 
acompanhado por multiplicação das células. O adipócito cresce tanto que estimula os 
adipoblastos a darem origem a novos adipócitos. 
Conforme a localização da gordura, existem 2 tipos principais de obesidade: a obesidade 
androide (ou tipo maçã) e a obesidade ginoide (ou tipo pêra). Na obesidade androide, mais 
comum nos homens, a gordura fica depositada na região abdominal. Na obesidade ginoide, que é 
mais comum nas mulheres, a gordura fica depositada em outras regiões do corpo, como a região 
dos quadris e coxas. 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
8 
 
 
Estudos têm mostrado que as complicações cardiovasculares são mais comuns entre os 
obesos do tipo androide, daí o fato de tais complicações serem mais frequentes entre os homens. 
A obesidade ginoide é menos danosa que a androide, porque na androide, os ácidos graxos da 
gordura intraabdominal caem no sistema porta e dirigem-se diretamente para o fígado, antes 
mesmo de circular até os músculos, o que predispõe à síndrome plurimetabólica e à esteatose 
hepática (acúmulo de gordura no fígado). 
O termo obesidade mórbida refere-se àquela obesidade que, se não tratada, irá acarretar 
significativa diminuição da expectativa de vida para o paciente. A obesidade mórbida é definida 
como IMC > 40. Alguns autores propõem a substituição do termo obesidade mórbida por 
obesidadeclinicamente significativa, que é o IMC > 40 ou IMC > 35 com comorbidades 
significativas. A Sociedade Americana de Anestesiologistas inclui na classificação de obesidade 
mórbida o superobeso cujo IMC é superior a 50 e o super-superobeso cujo IMC é superior a 
60. 
 Desenvolvimento da Obesidade 
O principal mecanismo da obesidade é um desequilíbrio entre a formação e a destruição de 
células adiposas (de gorduras) no organismo. Todas as calorias que comemos podem ser 
transformadas e armazenadas sob a forma de células adiposas e, o que gastamos (gasto 
calórico), favorece a destruição destas células. Portanto, a obesidade em si não significa, 
obrigatoriamente, que a pessoa coma muito, significa também, que ela gasta pouco do que come. 
Assim sendo, comumente a obesidade é causada por um desequilíbrio, entre as calorias que são 
ingeridas, sob a forma de alimentos, e as calorias que são gastas pelo indivíduo para seu 
organismo funcionar. O excesso de calorias, consequência do balanço positivo (sobra) entre o 
que é consumido e o que é gasto, acaba sendo armazenado deixando o sujeito obeso. 
Normalmente a pessoa torna-se obesa em 2 circunstâncias: a) porque come exageradamente 
mais do que precisa; ou 2) porque gasta poucas calorias. 
 De forma patológica pode tornar-se obeso por ter mais facilidade de produzir gordura, 
“queimando” gorduras com menor facilidade. Mais de 95% dos obesos estão entre as duas 
possibilidades mesmo que algumas insistam em dizer que não comem quase nada. Mas a 
quantidade de calorias que uma pessoa necessita varia de acordo com a idade, sexo e a 
atividade física. Saber o mecanismo envolvido na obesidade é fundamental para o tratamento 
adequado do paciente. Para se ter uma ideia, é bom lembrar que 1g de gordura tem 9 calorias 
enquanto 1g de açúcar tem 4 calorias. O consumo exagerado de carboidratos simples, como 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
9 
 
doces e açúcar também é prejudicial. O excesso é transformado em gorduras, desequilibrando os 
níveis dos triglicérideos no sangue. 
 Etiologia da Obesidade 
A relação multifatorial sobre as causas da obesidade não está bem estabelecida. Vários 
aspectos interagem determinando uma predisposição individual aguardando a relação com outros 
fatores que funcionam como gatilho no seu aparecimento. 
a) Fator Genético 
De acordo com o Consenso Latino Americano em Obesidade, a variedade biológica das 
pessoas com relação ao armazenamento do excesso de energia ingerida é muito grande. Este 
fato está estreitamente relacionado com a suscetibilidade individual e seu patrimônio genético. 
Com base nos estudos de epidemiologia molecular, é possível afirmar que o número de genes 
associados ou relacionados com a obesidade gire em torno de 205. A função desses genes é 
orquestrar uma cascata de processos fisiológicos destinados a manter o equilíbrio delicadamente 
ajustado entre o número de calorias ingeridas e aquelas que serão gastas no dia-a-dia. Em 
função disso, algumas pessoas nunca chegarão a ter sobrepeso ou obesidade, outras podem 
aumentar de peso na medida em que aumentam de idade, outras ainda podem iniciar o aumento 
de peso desde a infância e mantê-lo em idades posteriores. Quando um dos pais é obeso, o filho 
tem 40% a mais de probabilidade de se tornar gordo. Se tanto o pai quanto a mãe forem obesos, 
o risco sobe para 70%. Já uma criança com pais sem excesso de peso tem cerca de 9% de 
chance de desenvolver obesidade. A predisposição genética é tradicionalmente invocada para 
explicar por que algumas crianças engordam enquanto outras não. 
Leptina 
Os estudos realizados em animais fornecem informação fundamental acerca do elo genético 
entre obesidade e doenças associadas. Por exemplo, a pesquisa com camundongos que 
alcançavam uma circunferência cinco vezes maior que aquela dos camundongos normais 
confirma que alguns indivíduos parecem “predestinados” geneticamente a se tornar 
excessivamente gordos. A mutação do gene denominado obeso, ou simplesmente ob, pode 
afetar os sinais hormonais que regulam o metabolismo, o armazenamento da gordura e o apetite, 
o que irá inclinar o equilíbrio energético na direção do acúmulo de gordura corporal. 
 Propõe-se que o gene ob é ativado normalmente no tecido adiposo onde codifica e 
estimula a produção de uma proteína semelhante aos hormônios que emite sinais referentes à 
gordura corporal (proteína ob ou leptina) e penetra a seguir na corrente sanguínea. Essa 
molécula, que modula a saciedade, se dirige ao núcleo ventromedial, a área hipotalâmica que 
controla o apetite e o metabolismo. Normalmente, a leptina reduz a ânsia de comer quando a 
ingesta calórica mantém as reservas ideais de gordura. A leptina pode afetar certos neurônios no 
hipotálamo de forma à: 1) estimular a produção de substâncias químicas que suprimem o apetite 
e/ou 2) reduzir os níveis de substâncias químicas cerebrais que estimulam o apetite. Esses 
mecanismos poderiam explicar de que maneira a gordura corporal consegue permanecer 
intimamente “conectada” ao cérebro através da via fisiológica para que haja a regulação do 
equilíbrio energético. De certa forma, o adipócito desempenha uma função do tipo endócrina. 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
10 
 
Com um gene defeituoso para a produção de leptina pelo adipócito e/ou sensibilidade do 
hipotálamo à leptina, o cérebro não consegue avaliar adequadamente o estado do tecido adiposo 
do corpo. Assim sendo, a ânsia de comer continua sendo constante. 
 
 
 
 Fisiopatologia da Obesidade 
Gorduras, ou tecidos adiposos, são encontrados em diversos lugares em seu corpo. 
Geralmente, a gordura encontra-se debaixo de sua pele (gordura subcutânea). Encontra-se 
também sobre cada um de seus rins. Outras localizações dependem se você é homem ou mulher 
(obesidade andróide ou ginoide, respectivamente). Essa diferença na localização de 
gordura decorre da relação entre os hormônios sexuais estrogênio e testosterona. 
 
 
Figura - Corte transversal da pele. 
A gordura está na camada subcutânea, que é ricamente abastecida pelos vasos sanguíneos. 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
11 
 
Seu corpo contém 2 tipos de tecido adiposo. 
 Gordura branca - importante no metabolismo energético, isolamento térmico e 
amortecimento mecânico; 
 Gordura marrom - geralmente encontrada em bebês recém-nascidos, entre os ombros; 
importante para a termogênese (produção de calor). 
O tecido adiposo é composto por células de gordura. As células de gordura são um tipo 
único de célula. Você pode pensar que uma célula de gordura é um pequeno saco plástico que 
segura uma gota de gordura. 
 Células de gordura branca são grandes células que possuem um minúsculo citoplasma, 
apenas 15% do volume da célula, um pequeno núcleo e uma grande gota de gordura 
que ocupa 85% do volume da célula; 
 As células de gordura marrom são um pouco menores, possuem muitas mitocôndrias e 
são compostas de diversas gotas pequenas de gordura. A mitocôndria é capaz de gerar 
calor. 
 
 
Figura - Células adiposas brancas e marrons 
As células de gordura são formadas no desenvolvimento do feto durante o terceiro trimestre 
de gestação e mais tarde no início da puberdade, quando os hormônios sexuais "ganham vida". É 
durante a puberdade que as diferenças na distribuição de gordura entre homens e mulheres 
tomam forma. Em adição ao tecido adiposo, algumas gorduras são armazenadas no fígado, e 
uma quantidade ainda menor nos músculos. 
As gorduras, também chamadas lipídeos, são substâncias ricas em energia que servem de 
fonte principal de combustível para os processos metabólicos do organismo. As gorduras obtêm-
se dos alimentos ou formam-se no corpo, principalmente no fígado, e podemser armazenadas 
nas células adiposas para serem usadas a qualquer momento. As células adiposas também 
isolam o corpo do frio e ajudam a protegê-lo das lesões. As gorduras são componentes 
essenciais das membranas celulares e das bainhas de mielina que envolvem as células nervosas. 
As duas principais substâncias gordas presentes no sangue são o colesterol e os 
triglicerídeos. As gorduras aderem a certas proteínas para se deslocarem com o sangue; à 
combinação de gorduras com proteínas chamam-se lipoproteínas. As principais lipoproteínas 
são os quilomícrons, as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL – very low density 
lipoprotein), as lipoproteínas de baixa densidade (LDL – low density lipoprotein) e as lipoproteínas 
de alta densidade (HDL – high density lipoprotein). 
 Quando você come um alimento que contém gordura, geralmente triglicerídeos, eles 
atravessam seu estômago e intestinos. Veja abaixo o que acontece nos intestinos: 
1. As grandes gotas de gordura se misturam com os sais biliares da vesícula biliar em um 
processo chamado emulsificação. A mistura quebra as grandes gotas em várias gotas 
menores chamadas micelas, diminuindo a área de superfície de gordura; 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
12 
 
2. O pâncreas secreta enzimas chamadas lipases que atacam a superfície de cada micela e 
quebram as gorduras em partes, glicerol e ácidos graxos; 
3. Estas partes são absorvidas nas células internas do intestino; 
4. Na célula intestinal, as partes são reunidas em pacotes de moléculas de gordura 
(triglicerídeos) com uma camada de proteína chamada quilomícrons. A camada de proteína 
faz com que a gordura se dissolva mais facilmente na água; 
5. Os quilomícrons são liberados dentro do sistema linfático, eles não vão diretamente para a 
corrente sanguínea, pois, são muito grandes para passar pelas paredes dos vasos capilares; 
6. O sistema linfático eventualmente se liga com as veias, neste ponto os quilomícrons passam 
para a corrente sanguínea. 
Você talvez esteja pensando por que as moléculas de gordura são quebradas em glicerol e 
ácidos graxos se elas irão se reunir novamente. Isto porque as moléculas de gordura são muito 
grandes para atravessar as membranas celulares. Então, quando passam do intestino através 
das células intestinais nas linfas, ou quando atravessam qualquer barreira celular, as gorduras 
devem ser quebradas. Porém, quando as gorduras são transportadas nas linfas ou no sangue, é 
preferível que tenham poucas moléculas de gordura grande, pois, as moléculas grandes de 
gordura não "atraem" tantas moléculas de água em excesso por osmose como muitas moléculas 
menores fariam. 
Os quilomícrons não duram muito na corrente sanguínea - apenas cerca de oito minutos - 
por causa das enzimas chamadas lipases de lipoproteína quebrando as gorduras em ácidos 
graxos. Lipases de lipoproteína são encontradas nas paredes dos vasos sanguíneos no tecido 
adiposo, tecido muscular e músculo cardíaco. 
 
A atividade das lipases de lipoproteína depende dos níveis de insulina no corpo. Quando a 
insulina é alta, então as lipases são altamente ativas; se a insulina é baixa, as lipases são 
inativas. 
 Os ácidos graxos são então absorvidos pelo sangue nas células de gordura, células 
musculares e células do fígado. Nestas células, sob estímulo da insulina, ácidos graxos são 
produzidos em moléculas de gordura e são armazenados como gotas de gordura. Isto é possível 
também, pois, as células de gordura recolhem glicose e aminoácidos que foram absorvidos pela 
corrente sanguínea depois de uma refeição e os converte em moléculas de gordura. A conversão 
de carboidratos ou proteína em gordura é 10 vezes menos eficiente do que o simples 
armazenamento nas células de gordura; porém, o corpo pode fazer isso. Se você tem 100 
calorias extras em gordura (aproximadamente 11 gramas) flutuando em sua corrente sanguínea, 
as células de gordura podem armazená-las usando apenas 2,5 kcal de energia. Em contrapartida, 
se você tem 100 kcal extras em glicose (aproximadamente 25 gramas) flutuando em sua corrente 
Fisiopatologia da Obesidade 
 
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sanguínea, isto exige 23 calorias de energia para converter glicose em gordura e então 
armazená-la. Dando uma opção, uma célula de gordura irá agarrar a gordura e armazená-la ao 
invés dos carboidratos, pois, a gordura é muito mais fácil de armazenar. 
 
 Adipogênese 
 
Os adipócitos provem de células-tronco mesenquimais multipotentes no tecido adiposo. 
Essas células multipotentes tornam-se pré-adipócitos quando perdem a habilidade de se 
diferenciar em outras linhagens mesenquimais e tornam-se “comprometidas” com a linhagem 
adipocitária. Essa fase inicial da diferenciação do adipócito, ainda pouco caracterizada, é 
conhecida como determinação ou comprometimento. 
A segunda fase da adipogênese é a diferenciação terminal. Os pré-adipócitos adquirem as 
características de adipócitos maduros, acumulando gotas lipídicas e a habilidade de responder a 
hormônios como a insulina. O conhecimento sobre a adipogênese aumentou bastante nas últimas 
duas décadas, com o uso de células clonais e não clonais precursoras de adipócitos provenientes 
de roedores e humanos. Glicocorticoides, insulina e fator de crescimento semelhante à insulina 
(IGF-I) foram identificados como os mais eficientes agentes adipogênicos em experimentos in 
vivo. 
 
 
 Pré-adipócito Adipócito imaturo Adipócito maduro

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