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CAMBRAIA, César Nardelli - Introdução à Crítica Textual

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I N T R O D U Ç Ã O 
C R Í T I C A T E X T U A L 
■
César Nardelli Cambraia
Martins Fontes
São Paulo 2005
C A P Í T U L O 1 
I N T R O D U Ç Ã O
1.1. DEFINIÇÃO DE CRÍTICA TEXTU AL
U m dado fundam ental para com preender o escopo da crí­
tica textual é o fato de que um texto sofre modificações ao longo 
do processo de sua transmissão.
Para perceber de fo rm a descon traída essa questão , basta 
levar-se em conta a trad icional b rincadeira cham ada telefone- 
sem-fio: ao pé do ou v id o de q uem está ao seu lado, um a pes­
soa passa oralm ente um a m ensagem , a qual é repassada para a 
pessoa seguinte do c írcu lo em que se en co n tram , e assim su­
cessivam ente — mas, c o m o todos sabem , ao re to rn a r ao p r i­
m eiro emissor, a m ensagem nunca chega co m o foi. Pode-se 
dizer que se passa, mutatis mutandi, a m esm a coisa na transm is­
são de textos escritos. A cada cópia que se faz de u m texto, a 
constitu ição deste m uda — seja po r ato invo lun tário , seja po r 
ato vo lun tário de q u e m o copia.
É ju stam en te p o r causa desse fato em p írico incontestável 
que a crítica textual se constituiu: seu objetivo prim ordial é a 
restituição da forma genuína dos textos.
2 ■ I N T R O D U Ç Ã O A C R Í T I C A T E X T U A L
1.2. A MOBILIDADE DOS TEXTOS
As m odificações que os tex tos p o d em sofrer ao longo do 
processo de sua transmissão p o d e m ser d istribuídas em duas 
categorias: exógenas e endógenas.
As modificações exógenas d erivam fu n d am en ta lm en te da 
corrupção do material u tilizado para reg istrar u m tex to : tan to 
da m até ria subjetiva (papiro, perg am in h o , papel, etc.) q u an ­
to da m até ria aparen te (grafite, tin ta , etc.). Isto significa que, 
m esm o que n en h u m a cópia fosse feita de u m registre) o rig i­
nal de p u n h o do p ró p rio autor, ainda assim a transmissão des­
se registro poderia sofrer m odificações, pois furos no suporte 
p o d e m c ria r lacunas que ex ig irão o trabalho do c rítico tex ­
tual para serem preenchidas. A c o rru p ção do m ateria l dá-se 
p o r vários m otivos: um idade, sol, fogo, insetos, vandalism o 
(razão pela qual, aliás, docum en tos originais dem andam co n ­
dições especiais de conservação, de que, via de regra, apenas 
grandes b iblio tecas e arquivos d ispõem ).
N o d o m ín io da língua portuguesa, há casos m u ito cu rio ­
so s relacionados a essa questão da co rrupção do m aterial: p o ­
dem -se citar, em especial, os cham ados Pergaminho Vindel e Per­
gaminho Sharrer.
E m 1914, o livreiro espanhol P edroV indel deu notícia da 
descoberta de u m pergam inho co n te n d o não apenas o téx to 
de sete cantigas de am igo a tribu ídas ao trovado r m edieval 
M artin C o d a x mas tam bém a p a rtitu ra de seis delas (cf. V in ­
del, 1914). Esse pergam inho, datável d o séc. X III, servia até 
então de forro a u m códice do séc. XIV, con tendo um a cópia 
do De Officiis de C ícero . O pergam inho , que se encon tra des­
de 1977 na P ie rp o n t M organ Library de N ova Iorque, to rn o u 
possível, pela p rim eira vez, c o n h e ce r a m úsica de cantigas de 
am igo, pois até en tão só se conhecia a m úsica de cantigas ga- 
lego-portuguesas de caráter religioso — mais especificam ente
i n t r o d u ç A o ■ 3
as famosas Cantigas de Santa M aria, com piladas na co rte de 
A fonso X , o Sábio (1221-1284)'.
Se, p o r u m lado, os furos que existiam no pergam inho 
não im p ed iram de to d o o c o n h e c im e n to do tex to das can ­
tigas pelo fato de elas tam bém se encon trarem registradas no 
Cancioneiro da Biblioteca Nacional (ns. 1278 a 1284) e no Can­
cioneiro da Vaticana (ns. 884 a 890), p o r ou tro , o c o n h e c im e n ­
to da m úsica não escapou à necessidade de conjecturas, pois 
um dos furos encon tra-se ju s ta m e n te na parte final de duas 
pautas da terceira cantiga. A propósito do tex to em si, veja-se, 
na figura 1, co m o o furo na m até ria subjetiva e lim inou par­
te da quin ta cantiga (na prim eira coluna, ao cen tro ).
H istó ria sem elhante acon teceu décadas depois: em 1991, 
o estudioso am ericano H arvey Sharrer no tic iou a descoberta 
de u m perg am in h o que possuía não som en te o tex to de sete 
cantigas de am or de au toria do rei D. D inis (1261-1325) mas 
tam bém a sua partitu ra (cf. Sharrer, 1991). Esse pergam inho , 
datável de fins d o séc. X III o u p rincíp ios do XIV, fazia parte 
da capa de u m livro do C a rtó rio N otaria l de Lisboa copiado 
em 1571. N o v am en te ho u v e u m g rande achado, pois o p e r­
gam inho , q u e se en co n tra n o A rqu ivo N ac io n a l da T orre do 
Tom bo, em Lisboa, revelou pela prim eira vez a m úsica de can­
tigas de am o r (as de C odax e ram de am igo).
T am bém no caso das cantigas de D. D inis, o con h ec im en ­
to do tex to dessas com posições líricas que se tem atualm ente 
é m enos lacunoso do que seria se constassem apenas do refe­
rido p e rgam inho (m uito mais fragm entário que o localizado 
por V indel), pois elas encon tram -se registradas no Cancioneiro
1. A música das Cantigas de Santa Maria recebeu já duas propostas de interpretação 
quanto à partitura original: a de R ibeira (1922) e a de Anglès (1945-1964). A de 
M artin C odax foi estudada por M anuel Pedro Ferreira (1986).
4 ■ I NTRODUÇÃO À CRÍTICA TEXTUAL
F ig u ra 1 - F ó lio 2 r d o Pergaminho Vindel
(Fonte: Ferreira, 1986: 74-5) \
I NT RODUÇÃO ■ 5
da Biblioteca Nacional (ns. 524 a 529 e 520a) e n o Cancio­
neiro da Vaticana (ns. 107 a 113). D e m aneira igual, p o rém , a 
restitu ição das notações m usicais d em an d o u conjecturas.
C o m o se vê, em am bos os casos os estragos no pergam i­
n h o im p ed iram a co n tin u id a d e da transm issão das no tações 
musicais em sua in tegridade. N o que se refere aos textos, em ­
bora haja outros registros das referidas com posições, ainda as­
sim p o d e-se considerar ex istir um a perda, po is, do p o n to de 
vista de autoridade, os dois referidos pergam inhos, porque são 
os registros m ais an tigos, tê m mais valor n o processo de re ­
constitu ição da form a genu ína dos textos do que os dois can­
c ioneiros citados, que parecem datar do séc. X V I.
C ertam en te um caso q u e pode ser considerado exem plar 
em term os de perda p o r co rru p ção do m aterial é o da versão 
m edieval po rtuguesa do Merlim.
E m 1979, o pesquisador catalão A m adeu-J. Soberanas trou­
xe a conhecim en to a descoberta de u m fragm ento do Merlim 
em p o rtu g u ês m edieval (cf. S oberanas^ l979 ). C o m o não se 
sabe de n e n h u m o u tro reg istro em língua po rtu g u esa desse 
texto, sua reconstituição in tegral é sim plesm ente impossível e 
a p ró p ria reconstitu ição apenas do tex to p o rtu g u ê s do frag­
m e n to é c e rtam en te b astan te lim itada. V eja-se abaixo, a tra­
vés de um dos trechos transcritos p o r Soberanas (1979: 191), 
com o o tex to apresenta lacunas ora passíveis de co n jec tu ra 
(en tre colchetes), ora p ra ticam en te irrecuperáveis (três p o n ­
tos en tre colchetes):
Qvãdo eles chegarõ a abadya e os ffrades uirõ os caua[lei]ros 
chagados, fforõ contra eles [...] e ffez[e]rõ [...] a hüa camara e 
[...] ffezerõlhys todo a[quel seruiço] que poderõ. Manhãa [...]oy 
manhaa espediusse a donzela [...] os caualeíros ffolgarõ [...] E 
quando uirõ [...]ryã caualgar [...]es e fforom [...]s come [...] 
(ms. 2434 da Bibl. da Catalunha, fól. 122v.b).
6 ■ I NTRODUÇÃO à c r í t i c a t e x t u a l
N os três exem plos acima citados, um a cópia co m c o rru p ­
ção m ateria l chegou até o presente, en tre tan to ce rtám en te 
m uitas ou trascópias corrom pidas de textos, as quais desapa­
receram n o curso do tem po, terão circulado no passado e ser­
v ido de m o d e lo para outras cópias, o que terá in te rfe rid o na 
transm issão in teg ral de m uitos textos.
Já as m odificações endógenas são aquelas que derivam do 
ato de reprodução do texto em si, ou seja, do processo de reali­
zação de sua cóp ia em u m novo supo rte m aterial. As exóge- 
nas diferem das endógenas p o rque a o rigem destas é in te rna 
ao ato de cóp ia (depende de seu responsável), en q u an to a da­
quelas é ex te rna , na m edida em que não depende do seu rea­
lizador, pois, m esm o que este executasse a cóp ia c o m 100% 
de precisão, o resultado ainda assim estaria com prom etido , p o r 
defeito n o p ró p rio m odelo . As m odificações endógenas Mo­
dern ainda ser subdivididas em duas outras categorias: autorais 
e não-autorais.
As m odificações autorais são realizadas pelo próprio autor in- 
—telectual da obra. D u ran te o processo de preparação da edição 
impressa de um a obra, é co m u m o a u to r receber as provas ti­
pográficas (impressão da prim eira com posição tipográfica fei­
ta a partir de u m original m anuscrito ou datilografado): nesse 
m om en to , sói acon tecer não apenas de o au to r retificar aqui­
lo que o tipógrafo tinha alterado p o r desatenção mas tam bém 
de ele p ró p rio , o autor, fazer novas in tervenções na fo rm a do 
tex to a n te r io rm e n te enviado à ed ito ra. E m u m passado mais 
rem o to era possível ainda que u m a u to r divulgasse sua obra 
através de cópias manuscritas em u m prim eiro m om ento , mas, 
p oste rio rm en te , tendo realizado m odificações na sua obra, d i­
vulgaria novas cópias, já co m alterações de sua au to ria .
U m exem plo de m odificação au to ra l é o que aco n teceu 
com a obra Os Sertões, de Euclides da C u n h a (1866-1909). Se­
gundo esclarece W alnice G alvão (cf. C u n h a , 2003: 520-9),
I NTRODUÇÃO · 7
essa obra foi publicada pela p rim eira vez em 1902 pela ed ito ­
ra Laem m ert, tendo sido reeditada em 1903 e 1905 pela m es­
ma casa ed ito ria l. Foi, po rém , apenas após publicada a 4f ed., 
em 1911, já sob a responsabilidade da editora Francisco Alves, 
que se descobriu um exem plar da 3? ed. com em endas de p ró ­
prio p u n h o do a u to r (cf. figura a seguir), alterações estas que 
foram in tegradas ao tex to apenas a p a rtir da 5? ed ., saída em 
1914. A tu a lm en te o exem plar c o m em endas autografas está, 
no en tan to , desaparecido, mas ainda existe u m exem plar com 
a rep rodução dessas em endas realizada p o r F e rn an d o N e ry 
(depositado na A cadem ia Brasileira de Letras). A pós ter com ­
parado as três p rim eiras ed ições e o exem plar c o m rep ro d u ­
ção apógrafa das em endas euclidianas, G alvão ap u ro u a exis­
tência de nada m enos que em to rn o de 6 .000 variantes (sem 
se inc lu írem nessa cifra as co rreções gráficas e ortográficas).
Ter consciência de que os au to res m odificam suas obras 
de um a edição para ou tra é especialm ente im p o rtan te , pois 
a diversidade fo rm al dos tex tos tem o rig em não apenas em 
lapsos de cópia m as tam b ém na m udança de v on tade do au ­
tor (que dá o rigem às chamadas variantes de autor): a dificulda­
de, entretanto , está ju stam en te em se estabelecer com certeza 
quando se trata de u m caso e q u an d o de ou tro , especialm en­
te em relação a tex tos m u ito antigos.
M odificações não-autorais são as que o co rrem sem a au to ­
rização n e m o c o n h e c im e n to d o au to r, o u seja, são fruto da 
atividade de terceiros. Essas m odificações p o d e m ser subdiv id i­
das em voluntárias e involuntárias.
São m odificações voluntárias aquelas que o c o rre m p o r ato 
deliberado de quem reproduz o texto. A razão p rin c ip a l para esse 
tipo de m odificação costum a ser a d iscordância ideo lóg ica , 
que se m anifesta, via de regra, através de censura (política, re­
ligiosa, etc.).
8 · I NTRODUÇÃO A CRÍTICA TEXTUAL
Figura 2 - P ágina 140 da 3.* ed. d ' O s Sertões co m alterações autografas de 
E uclides da Cunha (Fonte: Cunha, 1946: VI)
K 4
— 140 —
4e berrete Juncar 1 i crffceça. assaltando o visodants retar- 
I— f ditario, nas noites (nrtgnsrwf das sextas-feiras. de parceria com 
® os labiskamens e m ulas tem cabeça noctivagos; tortos os roal-
assombramentos, tortas as unlafO a do maldiclo ou do diabo — 
■ . esse tragieo emissário dos rancores celestó»>eeeH*aie*a4^ na 
J . terra; aa reza» fconeag»»rt«» a 8. Ctmpeiro. canonisado m par-I------ 4 V C I ' * · P — © · — -r -------- — ----- ;
i tibue. ao qual se acceodem vela» pelos campos, para que favo­
reça a descoberta de objectos perdidos; aa ^jqHtfura* 
listless para curar os animaesi, p a r v ^ « w * w » á < > seíSes;
V-H todas as ^ieeef, torta» aa appiriçòee ph*nta»ticaa. todas as pro-
I__1 pbeciaa esdrúxulas de messia» H .u daM ; 9 « romarias pi*-
1 dosas; · as miss6ès; e as penitencia». . . todas aa raanifesta-
çdes comple nas de religiosidade indefinida, s io explicáveis.
Nào seria difficil caracterisal-as como uma mestiçagem de 
crenças. Alli estâo. francos, o anthropismo do selvagem, o 
o/vju*lí M animismo do africano e, o que é mais, o proprio emo­
cional da raça superior, na época do descobrimento e d»
CO lD DÍsaçio.
Este ultimo é um caso notável da atavismo, na hlstoria.
Considerando as agitações religiosas do tertio « oj evao- 
getisadores e messias singulares, que. tatermittentemente.j>
y__ i atravessam, ascetas mortificados de frw n tò " /'. eocalçados sem-
I ' pre pelos sequazes numeroso».que fsnatisapi. que arrastam, que
dominam, que endoudecem — espontaneamente recordamos a 
phase mais critica da alma portuguesa, a partir do final <to 
século XVI, quando, depois de haver por momentos centrali- 
sado a historia, o mais interessante <to» povos eahiu. de subito, 
era decomposiçto rapida disfarçada pela cflrte oriental
de D. Manoel.
O povoamento do Brazil fez-se, intenso, com D. Joio l i t , 
precisamente ao fastigio rte completo desequilíbrio moral, 
quaadu «todos os terrores da Rdade-Media tinham crysutü· 
aado no catbolicisiso peninsular·.
Para exem plificar censura, pode-se m encionar a p rim eira 
edição que A ugusto M agne fez do tex to m edieval po rtuguês 
da Demanda do Santo Graal em 1944. C e rta m en te p o r achar 
que certas passagens do tex to poderiam chocar o público, o
I NT RODUÇÃO ■ 9
ed ito r sup rim iu -as do c o rp o d o texto, transferindo-as para 
um a seção final intitulada aditamento.Tbndo sido criticado p o r 
essa atitude, M agne preparou um a segunda edição, publicada 
em 1955-1970, em que não som ente recolocou no devido lu ­
gar todas as passagens an te r io rm e n te deslocadas mas tam bém 
incluiu reprodução fac-sim ilar do m anuscrito para to rn a r evi­
d en te sua fidelidade a ele. Veja-se, a seguir, a rep ro d u ção de 
um excerto censurado na 1? ed. e de sua fo rm a integral na 2a 
(o excerto , do cap. LII, § 357, narra o en co n tro do jo v em rei 
A rtu r co m um a donzela):
e dês í, foi-se contra a donzela e salvou-a; e ela se ergueu con­
tra èle e salvou-o muito apôsto; e el-rei se assentou e ela ou- 
trossi; e com eçaram a falar de-suü, e achou-a el-rei tam si­
suda e de tam booa palavra, que marivilha era, e foi em tam 
pagado, que a quis levar consigo; e entom aque-vos uü cava­
leiro já quanto de idade, que saiu da foresta assi desarmado 
como rei Artur (Magne, 1944, vol. II: 33, itálicos de Magne).
e dês i, fo[i]-se contra a donzela e salvou-a; e ela se ergueu 
contra êle e salvou-[o] muito apôsto; e el-rei se assentou e^ela 
outrossi; e comcçarom a falai de-suü, e achou-a el-rei tam si­
sudae de tam booa palavra, que marivilha [era], e foi tam pa­
gado, qu ejouve com ela per força. E ela, que era menina ainda nom 
sabia de tal cousa, começou a braadar mentre ele jazia com ela, mais 
nom lhe houve prol, ca toda via fe z el-rei o que quis, e fez entom em 
ela uüfdho. E depois que houve feito seu prazer e a quis levar con­
sigo aque-vos uü cavaleiro já [quanto] de_idade, que saiu da 
foresta assi desarmado com o rei Artur (Magne, 1970: 89, tá- 
lico nosso).
Trata-se obv iam ente de u m a cena forte, pois narra-se um 
estupro. Entretanto , não é possível fazer um a análise adequada 
do tex to po rtuguês da Demanda do Santo Graal levando-se em 
conta a edição com censuras: só se pode ter um a visão global
10 ■ I NTRODUÇÃO À CRÍ TI CA TEXTUAL
e aprofundada do tex to m edieval português considerando to ­
das as suas partes.
C o n s titu e m m odificações involuntárias aquelas que o c o r­
rem por lapso de quem reproduz o texto. Esse dpo de modificação, 
conhecido trad icionalm en te co m o erro de cópia, foi já o b je ­
to de diversos estudos, que p ro cu ra ram descrever e classifi­
car cada ca tego ria : tal e m p e n h o d e c o rre da consciência de 
que a identificação da o rigem de u m erro explica a na tu re­
za da d istorção e evidencia com o deve ser sanada na restitu i­
ção da fo rm a genu ína dos textos. C o m o no cap ítu lo 3 esse 
tem a será abordado detalhadam ente, apresenta-se aqui apenas 
um exem plo: o salto-bordão. Q u a n d o há no m odelo utilizado 
p ira a cópia duas palavras iguais em pontos diferentes de um a 
m esm a página de u m m anuscrito ou impresso, não raram ente 
costum a-se saltar o tex to que há en tre essas duas palavras. Isto 
dá-se p o rq u e o copista não percebe que, ao re to rn ar os olhos 
para o m o d elo , após ter reg istrado na sua cópia a p rim eira 
o c o rrê n c ia da palavra em questão , seus o lhos se fixam em 
um a palavra igual, mas em u m p o n to situado adiante no m o ­
delo. V asconcelos (1949: 97), co m p aran d o dois incunábu los 
coevos da História de Vespasiano - u m com o tex to castelhano 
(Sevilha: P edro B ru n , 1499) e o u tro com o tex to p o rtu g u ês 
(Lisboa: V alentim Fernandes, 1496) - , verificou vários casos 
de sa lto -bordão . C onfira-se abaixo a rep rodução de u m ex ­
ce rto d o cap ítu lo V II em ambas as línguas:
e Gays el senescal se acordo X dixo a Jacob:Yo quero fablar con 
Pilatos»;Jacob le dixo: «Yo jre con vos»; e amos a dos vanse a Pilatos 
X fablaron le delante dei templo de Salamon (Foulché-Del- 
-------bose 1909: 14, itálico de Vasconcelos).
E o mestre-salla acordou-se e disse a Jacob: Eu quero fallar com 
Pilatus... E fallaron lhe diante do templo de Salamom (Perei­
ra, 1905: 47).
I NTRODUÇÃO · 11
Percebe-se que, no texto po rtuguês, houve a supressão da 
seqüência preservada no tex to castelhano (cf. trecho em itá­
lico): essa om issão deu-se ju sta m e n te p o rque a seqüência es­
tava en tre as duas ocorrências do n o m e Pilatos.
E m se tra tando da lírica m edieval, no en tan to , as m odifi­
cações nos textos p o d em ter u m a o rig em mais com plexa do 
que sim plesm ente um lapso. C o m o assinala C unha (1985b: 36), 
as m odificações eram m otivadas ainda p o r dois fatores:
a) a indiferença dos escritores medievais pela propriedade e 
pela originalidade da obra, que estimavam ver alterada ou 
acrescida (...);
b) a transmissão oral, com a “ falsa reiterabilidade” que a ca­
racteriza.
A atuação desses fatores, a que Z u m th o r (1981) cham ou 
de movência, tem naturalm ente im plicações para o processo de 
estabelecim ento de textos dessa época, pois, co m o já alertou 
C u n h a (1985b: 36), é preciso levar em con ta não apenas a 
existência de variantes (im putáveis aos copistas) mas tam bém 
de variação, isto é, m odificações decorren tes das diversas pe r­
fo rm ances de u m a poesia d ifu n d id a p o r um sécu lo e m eio 
sob a fo rm a cantada. S egundo A zevedo F ilho (1998: 268), 
tam bém em tex tos da lírica cam on iana é possível p e rceb er 
casos de “ interferência da m em ó ria em caso possível de trans­
missão o ra l” .
M odificações não-au torais e m u m tex to p o d e m , p o r ve­
zes, im por-se de tal m aneira q u e acabam ob ten d o um a sorte 
mais afortunada do que a da fo rm a genuína. U m caso m uito 
interessante é o do tex to da Carta deAchamento do Brasil, re­
digida p o r PeroV az de C a m in h a e datada de 1500: M attos 
e Silva (1999 :134) cham a a a tenção para o fato de co m o um 
dado trech o da referida Carta, que tem circulado a tu a lm en ­
12 ■ INTRODUÇÃO À CRÍTICA TEXTUAL
te de um a fo rm a quase cristalizada, sim plesm ente não existe 
no orig inal, pelo m enos dessa form a. N ão haverá u m falante 
cu lto de p o rtu g u ês que não co n h eça a expressão “ em se 
p lan tando, tu d o dá” (ou ainda “ aqui tudo , em se p lan tando, 
dá”), trad icionalm en te considerada parte da Carta de C am i­
nha. N o tex to g enu íno (fól. 13v, ls. 19 a 21), p o rém , o que 
há é “ em tal m aneira he graciosa que queren d o a aproueitar 
darsea neela tu d o per bem das agoas que te m ” (C am inha, 
2001: 79). S egundo a referida pesquisadora, é b em provável 
que essa fo rm a derive de algum a leitura atualizada do tex to 
orig inal. D e qua lquer m aneira, não deixa de ser im pressio­
nante' com o esse bordão parafrástico acabou p o r se enraizar 
p ro fundam en te na cultura lusófona.
O s exem plos apresentados acim a poderiam induzir o lei­
to r a achar que as m odificações oco rrem fundam entalm ente 
em relação a textos de épocas m uito pretéritas, mas não é ver­
dade: a m obilidade do texto m anifesta-se em qualquer época. 
Exem plos bastante curiosos da m obilidade do tex to no m u n ­
do m o d ern o são apresentados p o r Garcia (2002: 92-3) no que 
diz respeito à m úsica popular brasileira: flagraram -se já diver­
sos casos em que in térpretes m odificaram o tex to genuíno . 
U m caso m u ito interessante é o relativo à canção Último D e­
sejo, de N o e l R osa: na estrofe “ E às pessoas que eu d e te s to / 
D iga sem pre que eu não p re s to / Q u e o m eu lar é o b o te ­
q u im ” (cf. C hediak , 1991, vol. 2: 124 e 128), m uitos cantores 
alteram a ú ltim a frase para “ Q u e o m eu lar é u m b o teq u im ’ , 
subvertendo o sentido do texto. Se, no tex to orig inal, o can­
to r considera que o seu lar é fora de casa, é o bo tequ im ; já no 
tex to m od ificado a idéia suscitada parece ser a de que o seu 
lar é a sua p róp ria casa, mas ela assem elha-se a um b o tequ im .
Enfim , de diversas ordens são as razões pelas quais os tex ­
tos se m odificam ; e certam ente várias razões en trecruzam -se
I NT RODUÇÃO ■ 13
no processo de transmissão de cada texto. Justam ente p o r isso, 
quan to mais c ien te o crítico tex tual estiver dessas possibilida­
des, tanto mais preparado estará para desvendar os m istérios da 
h istória da transm issão de cada texto .
1.3. CRÍTICA TEXTUA L, ECDÓTICA E FILOLOGIA
Q u a n d o se fala em crítica textual, não raram en te d espon ­
tam dois outros term os: ecdótica e filologia. N ão há atualm ente 
consenso2 sobre o cam po de conhecim en to que cada u m des­
ses três te rm o s designaria: o ra são tratados c o m o sinônim os, 
ora co m o denom inação de cam pos de co nhecim en to d istin­
tos ainda que in tim am en te relacionados.
N o q u e se refere à expressão crítica textual, costum a-se 
em pregá-la em língua portuguesa com o designadora do cam ­
po do c o n h e c im e n to que tra ta basicam ente da restituição da 
forma genuína dos textos, i. é, de sua fixação o u estabelecimento 
(cf. H ouaiss,1967, vol. I: 204; A zevedo Filho, f9 8 7: 15; Spi- 
na, 1994: 82).
Já o te rm o ecdótica3 tem sido utilizado para nom ear o cam ­
po de c o n h e c im e n to que eng loba o estabelecimento de textos 
e a sua apresentação, i. é, sua edição4 (cf. A zevedo Filho, 1987:
2. Este problem a term inológico, de que não padece apenas a língua portuguesa, foi 
ricam ente discutido por Carvalho e Silva (2002: 53-70). Segundo ele p róprio in ­
forma, um a distinção entre crítica textual e ecdótica dataria, pelo m enos, de R e irach 
(1883: 31), onde se lê: “A Crítica dos Textos é a ciência das alterações às quais os 
textos estão sujeitos, dos meios de reconhecê-las e de remediá-las. A Ecdótica é a 
arte de publicar os textos” (tradução nossa).
3. Circula tam bém , apenas em português, a form a edótica, originalm ente utilizada 
por B ueno (1946: 144) e retom ada por Spina (1977, 1994).
4. A rigor, são distintos os term os edição e publicação: enquanto o prim eiro designa o 
estabelecim ento e a apresentação de um texto, o segundo designa sua composição 
tipográfica/eletrônica e impressão.
14 · INTRODUÇÃO Ã CRÍ TICA TEXTUAL
15; Spina, 1994: 82): nessa acepção, o te rm o abarca nSo ape­
nas o p rocesso de restitu ição da fo rm a genu ína de u m tex ­
to mas tam b é m os p ro ced im en to s técn icos para ap resen tar 
o tex to ao público.
Se, para os dois te rm os acim a d iscutidos, há u m ce rto li­
m ite nas oscilações de sua defin ição , pois, ainda q u e even­
tu a lm e n te sejam em pregados c o m o sinôn im os (cf., p. ex., 
H ouaiss, 1967, vol. I: 204), referem -se sem pre ao processo de 
edição de textos; o m esm o não se verifica, porém , em relação 
ao te rm o filologia^paca-o qual circulam definições m u ito dis­
tintas. N o Dicionário Houaiss (2001: verbete filologia) regis- 
tram -se qua tro significados para essa palavra:
1. estudo das sociedades e civilizações antigas através de do­
cumentos e textos legados por elas, privilegiando a língua 
escrita e literária como fonte de estudos
2. estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua 
transmissão, para estabelecer, interpretar e editar esses textos
3. o estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou 
de famílias de línguas, em especial a pesquisa de sua his­
tória morfológica e fonológica baseada em docum entos 
escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas (p. 
ex., filologia latina, filologia germânica etc.); gramática 
histórica
4. estudo científico de textos (não obrigatoriam ente antigos) 
e estabelecimento de sua autenticidade através da compa­
ração de manuscritos e edições, utilizando-se de técnicas 
auxiliares (paleografia, estatística para datação, história lite­
rária, econômica etc.), esp. para a edição de textos
C o m o se pode ver, os conceito s acim a ora apresentam 
g rande afin idade c o m a defin ição de crítica textual adotada 
nesta obra (cf. significados 2 e 4), ora identificam -se ao estudo
I NTRODUÇÃO ■ 15
de h istó ria da língua (cf. significado 3). N u m a con cep ção 
mais abrangente, relacionar-se-ia ainda ao estudo de civiliza­
ções, a partir de textos (cf. significado 1).
A polissem ia do term o filologia não é, po rém , fen ô m en o 
m od ern o , pois, ao que parece, na G récia antiga, p e río d o em 
que teria sido cunhado , já apresentava sentidos diversos.
D o p o n to de vista etim õlóg ico , a palavra filologia o rig in a - 
se, em últim a instância, do vocábulo grego φ ιλ ο λ ο γ ία , c o m ­
posto de u m radical vinculado ao verbo φ ιλειν (“ am ar”) e de 
um radical relacionado do substantivo λόγος (“ palavra”): as­
sim sendo, a idéia básica o rig in a lm en te expressa pelo te rm o 
em questão seria “ am or à palavra” .
Esse valor sem ântico básico não escaparia de sofrer deslo­
cam entos, pois verifica-se o em prego do referido te rm o com 
outros significados já em autores gregos dos sécs. IV—III a.C . 
Bailly (1950: 2076) lista os seguintes: 1. “ desejo de falar, pala­
v ró r io ” em L icônio , A th . 548a ; 2. “ gosto pela d ia lé tica” em 
Platão, Thacet. Í46a\ 3. “gosto pela literatura ou pela e ru d i­
ção” em A ristóteles, Probl. 18, P lu tarco M . 645c - p o r e x ten ­
são, “ dissertação sobre u m assunto literário o u de e ru d iç ão ” 
em Isócrates, Antid. O deslocam ento p o r trás do sentido cons­
tatado em A ristó teles parece ser m eto n ím ico : suporia um 
trajeto com o “palavra” > “sentença” > “discurso” > “ conheci­
m en to ” > “ e ru d ição ” . A idéia de filologia com o “e ru d iç ã o ” 
parece ser a que está na base d o uso que E ratóstenes de C i- 
rene (c. 276-196 a.C.), um dos responsáveis pela B iblioteca da 
A lexandria n o E gito , fez ao se au to -in titu la r filólogo. S egun ­
do o h is to ria d o r rom ano S u e tô n io (c. 6 9 -140 d .C .) , ao tra­
tar de L úcio A teio P retextato no tex to D e Grammaticis et 
Rhetoribus, E ratóstenes teria sido o prim eiro a ado tar a refe­
rida denom inação no m undo helênico, enquan to A teio o te ­
ria feito no m u n d o rom ano:
16 · INTRODUÇÃO A CRÍ TICA TEXTUAL
Phiioiogi adpellationem adsumpsisse videtur, quia sic ut Eratos­
thenes, qui primus hoc cognomen sibi vindicavit, multipli va- 
riaque doctrina censebatur5 (Tranquillus, 1960 [1991]: §10.4-5).
Já no m u n d o m oderno , o te rm o filologia assumiria, acade­
m icam ente , u m significado mais restrito: testem unho disso é 
o fato de o alem ão F ried rich A ugust W o lf ter-se m atricu la ­
do na U n iv e rs id ad e de G ò ttin g e n , em 1777, c o m o títu lo 
Studiosus Philologiae. Segundo H e rre ro (1988: 17), W o lf teria 
de fin id o filologia co m o o “ estudo do que é necessário para 
c o n h e ce r a c o rre ta in te rp re tação de u m tex to l ite rá r io ” .
N o dom ín io lusófono, o term o filologia, ainda no séc. XV III, 
parecia con tinuar polissêmico, pois em Bluteau (1712 [2000], 
t.V I: 482) apresentam -se duas defin ições, um a mais am pla e 
ou tra mais restrita (nas três linhas finais a seguir):
P h i l o l o g i a . He palavra Grega composta de Philos, Amigo, & 
Logos, discurso; & Philologia vai o mesmo que Estudo das le­
tras humanas, começando da Grammatica, (que antigamente 
era a parte principal da Philologia,) & proseguindo com a elo­
quenda Oratoria, & Poetica, com as noticias da Historia an­
tiga, & moderna, com a intelligencia, interpretação, & Critica 
dos Authores, com a erudição sagrada, & profana, & géralmen- 
te com a comprehensaõ, & applicação de todas as cousas, que 
podem ornar o engenho, & discurso humano. Rigorosamente 
fallando, Philologia he a parte das sciencias, que tem por ob­
jecto as palavras, & propriedades dellas.
U m século depois o te rm o não deixaria de designar 
aquele c o n c e ito am plo, re lacionado à in te rp re tação de tex ­
5. “Vê-se [Ateio] ter assumido a denominação de filólogo, porque assim com o Era­
tóstenes, que prim eiro reivindicou este epíteto para si, era estimado por seu co­
nhecim ento m últiplo e variado.”
i n t r o d u ç ã o ■ 17
to. Isto é o q u e se in fere da d e fin ição apresen tada p o r Sil­
va (1813 [1922], t. 2: 446):
PH ILO LO G IA , s.f. A arte, que trata da intelligencia, e interpre­
tação critica grammatical, ou rhetorica dos Autores, das anti­
guidades, historias, &c.
É possível constatar, p o rém , q u e em p rincíp ios do séc. 
X X esse te rm o p o d eria ser u tilizado en focando-se especial­
m en te o estudo da língua, ficando a in terp re tação dos tex ­
tos co m o p arte acessória — isto dep reende-se de com o Lei­
te de V asconcelos (1911 [1959: 9]) definia filologia portuguesa:
(...) o estudo da nossa língua em toda a sua amplitude, no 
telmpo e no espaço, e acessòriamente o da literatura,olhada 
sôbre tudo como docum ento formal da mesma língua.
Essa concepção perduraria a in aa pelo m enos até m èados 
daquele século, pois Silva N e to (1956a: 15) re iterou , décadas 
depois, u m a defin ição de filologia portuguesa, bastante sem e­
lhante àquela, mas apresentada p o r C arolina M ichaêlis em 
suas preleções de 1911/1913 (cf. Vasconcelos, s.d.: 156) [o ex­
certo a seguir aparece de fo rm a idên tica nessâs duas obras]:
(...) o estudo científico, histórico e comparado da língua nacio- 
t tôda a sua amplitude, não só quanto à gramática (foné- 
lorfologia, sintaxe) e quanto à etimologia, semasiologia, 
ias também como órgão da literatura e como manifesta- 
> espírito nacional.
P o r vo lta dessa m esm a épo ca , p o rém , a defin ição de f i ­
lologia c o m o estudo do tex to tam b é m existia, po is M elo 
(1952: 54-5) defendia ser a filologia portuguesa:
(...) o estudo largo e profundo dos textos de nossa língua para atin­
gir em cheio a mensagem intelectual ou artística nêles contida.
,1nal tica, 
etc., li­
ção di
18 a INTRODUÇÃO Ã CRÍ TICA TEXTUAL
A lguns anos antes, no en tan to , tam b ém circulava um a 
defin ição b e m mais am pla de filologia, pois B u e n o (1946 
[1959: 22]) assim a delimitava:
O conhecim ento da civilização de um povo, num dado m o­
m ento da sua história, através dos seus m onum entos literá­
rios (...)
C o n te m p o ra n e a m e n te , o te rm o filologia, c o m o já se viu 
mais acim a p e lo verbe te do Dicionário Houaiss, c o n tin u a a 
ser em p reg ad o de fo rm a polissêm ica, mas há um a te n d ê n ­
cia a se associar esse te rm o ao e s tu d o do tex to , rese rv an d o - 
se o te rm o lingüística para id en tif ica r o estudo c ien tífico da 
linguagem hum ana. Seguindo essa tendência, em prega-se aqui 
o te rm o filologia para designar o estudo global de um texto, ou 
seja, a exp lo ração exaustiva e c o n ju n ta dos mais variados as­
pectos de u m tex to : lingüístico , lite rá rio , c rítico -tex tu a l, só - 
c io -h is tó rico , etc.
Para finalizar esta seção será de g rande proveito conhecíer 
u m pouco mais quais seriam as tarefas do crítico textual. U m a 
visão expandida dessas tarefas foi exposta de fo rm a bastante 
instru tiva p o r C arvalho e Silva (1994: 59-60):
• A definição do conceito, do objeto, do m étodo e das fi­
nalidades da ciência e das diferentes épocas da sua evolução.
• O estudo e classificação dos textos e das edições, e, nos 
casos de dúvida, a averiguação da sua autenticidade e a fun­
damentada identificação de textos apócrifos e de edições frau­
dulentas (contrafações).
• O exame da tradição textual e da fidelidade das transcri-
• A pesquisa da gênese dos textos, sem deixar de lado qual­
quer elem ento (inclusive fragmentos textuais) que possa con­
tribuir para as conclusões sobre o labor autoral.
INTRODUÇÃO ■ 19
• A fixação de princípios que devem orientar o trabalho 
da reprodução e da elaboração de todos os tipos de edições 
de textos.
• A aplicação de tais princípios e normas gerais a diferen­
tes tipos de textos, tendo em vista os contextos histónco-cul- 
turais em que estão integrados.
• O estabelecimento de normas gerais e de normas espe­
cíficas para a conversão dos textos orais em textos escritos.
• A indicação dos pressupostos filológicos para a boa rea­
lização da tradução dos textos.
• A organização dos planos de publicação das obras avulsas 
ou das obras completas de determ inado autor, apoiada em ri­
goroso levantamento de dados histórico-culturais e biobiblio- 
gráficos; e a formulação de normas editoriais para cada caso 
em exame.
• A preparação de edições fidedignas ou de edições críti­
cas, enriquecidas, sempre que recomendável, de estudos pré­
vios, notas explicativas ou exegéticas destinadas a valorizar o 
labor autoral.
1.4. CONTRIBUIÇÕES
C o m certeza a con tribu ição mais evidente e im p o rtan te 
da crítica tex tua l é a recuperação do patrimônio cultural escrito de 
um a dada cu ltura. Assim com o se restauram p in turas, escul­
turas, igrejas e diversos outros bens culturais da h u m an id a ­
de, a fim de que m an tenham a fo rm a dada p o r seu a u to r in ­
telectual, igualm en te restauram -se os livros em te rm o s tan ­
to físicos (recuperação da folha, da encadernação , da capa, 
etc.) q u an to de seu co n teú d o (recuperação dos textos).
C onside rando que, após se te r restitu ído a fo rm a g enu í­
na de u m tex to escrito, ele é, via de regra, pub licado nova­
m ente, co n trib u i-se tam bém , assim, para a transmissão e pre­
servação desse patrimônio: co labora-se para a transm issão dos
20 · INTRODUÇÃO À CRÍTICA TEXTUAL
textos, po rque, ao se publicar u m texto , este to rna -se nova­
m en te acessível ao público le ito r; e con trib u i-se para a sua 
preservação, po rque se assegura sua subsistência através de re­
gistro em novos e m odernos suportes m ateriais, que au m en ­
tarão sua longevidade.
N ão é necessário m uito esforço para se perceber a vasta 
extensão do d o m ín io do co n h ec im en to h u m ano que se b e ­
neficia do exercício da crítica textual: basta dizer sim plesm en­
te que te m impacto sobre toda atividade que se utiliza do texto 
escrito como fonte. Exem plificar cada um a dessas atividades, sa­
lientando a im portância da utilização de textos fidedignos em 
cada caso, é u m a tarefa p ra ticam en te infindável, dada a vas­
tidão dessas atividades. N ão se pode, porém , deixar de m en ­
cionar duas delas: os estudos lingüísticos e literários.
N o d o m ín io dos estudos lingüísticos, os textos escritos, não 
raram ente, são utilizados com o corpus, isto é, fon te de dados 
para o co n h ec im en to da língua. U m a descrição lingüística só 
tem validade se, de fato, os textos adotados com o fonte de da­
dos espelharem o em prego efetivo da língua (ainda que ape­
nas na sua m odalidade escrita): textos com deturpações levam 
u m lingüista a considerar, com o atestação de um a palavra ou 
de um a estru tu ra lingüística, algo que é sim plesm ente erro de 
cópia e que, po rtan to , não reflete o uso real da língua.
U m caso digno de m enção em língua portuguesa é o da 
palavra cofre: M achado (1995, vol. 11:177) registra no verbete 
respectivo a oco rrência dessa palavra já no séc. XfV, mais es­
pecificam ente na Demanda do Santo Graal. E n tre tan to , sabe- 
se, desde a resenha dessa edição feita p o r Piei (1945), que se 
trata de u m erro do editor: assim, em bora ten h a lido em -sua 
p rim eira edição “ Pois assi é, disse Galvam, eu irei buscar, 
p reto o u longe um cofre (...)” (cap. X L I, § 271; M agne, 1944, 
vol. I: 354 , itálico nosso), já na segunda edição leu c o rre ta ­
I NT RODUÇ ÃO ■ 21
m ente “ Pois assi é, disse Galvam , eu irei buscar, p re to o u lo n ­
ge u o soterre ( ...)” (M agne, 1970: 5, itálico nosso). O u seja, 
o que havia sido lido co m o um cofre era, na verdade, u o so­
terre (i. é , “ o n d e o e n te r re ” ), po is o cavaleiro G alvão estava 
p ro cu ran d o lugar para e n te rra r o rei B andem aguz, que aca­
bara de m orrer.
Já n o d o m ín io dos estudos literários, os tex to s escritos 
são ainda m ais essenciais, já q u e são a p rin c ip a l fo rm a de 
expressão da lite ra tu ra — p rin c ip a l, m as c e rta m e n te não a 
ún ica , po is não se p o d e e sq u ec e r da lite ra tu ra oral, em 
que, aliás, se fu n d am e n ta a p ro d u ç ã o p o é tica p rim itiv a não 
apenas g rega na A n tig u id ad e m as tam b ém v e rn acu la r na 
Idade M éd ia . C o n s id e ra n d o , p o ré m , p a rtic u la rm e n te a li­
te ra tu ra escrita , a c o n tr ib u iç ã o da c rítica tex tu a l está em 
assegurar q u e o c rítico literá r io possa exerce r sua função 
c o m base e m u m te s te m u n h o q u e e fe tiv am en te rep ro d u z 
a fo rm a d o tex to q u e o a u to r lhe deu , ou seja, sua fo rm a 
g enu ína .
A inda que se a rgum ente que é leg ítim o realizar um a aná­
lise literária voltada para a fo rm a co m o o p ú b lico -le ito r p e r­
cebe u m dado tex to in d e p e n d e n te m e n te de sua fo rm a ser 
genu ína o u não, tal a rgum en to não invalida o fato de que é 
ig u a lm en te leg ítim o realizar o u tro s tipos de análise, c o m o 
aquelas voltadas para o texto co m o ato de criação literária so- 
c io-h istoricam ente contextualizado, caso em que é fundam en­
tal saber se o tes tem unho do tex to em estudo é o u não fiel à 
form a que o a u to r lhe deu.
C o m o exem plo ilustrativo para essa questão, pode-se citar 
a análise literá ria do poem a “ A p o ro ” , de C arlos D ru m m o n d 
de A ndrade (1902-1987), realizada p o r L im a (1968: 188-9). 
A pós apresen tar u m a transcrição desse poem a, da qual se re ­
p roduz abaixo a p rim eira estrofe
22 ■ I NTRODUÇÃO À CRÍ TI CA TEXTUAL
U m inseto cava 
cava sem alarme 
perfumando a terra 
sem achar escape.
com en ta o crítico: “A escavação do inseto perfum a a terra, 
mas a escava sem perfurar, sem achar escape” (itálico de Lima). 
C onside rando a estrofe tal qual acim a reproduzida, não há 
abso lu tam ente nada que se possa ob jetar em relação ao co ­
m en tá rio do crítico. O problem a está, po rém , n o fato de que 
essa estrofe apresenta um e rro rp o is^ -fe rm a que D ru m m o n d 
(cf. A ndrade, 1945: 54) havia lhe dado, com o se verifica na 
p rim eira ed ição da òbra em q u e veio a lum e (A Rosa do 
Povo), tin h a co m o terceiro verso o trecho “perfu rando a te r­
ra” . C o m o se vê, d ian te do tex to genu íno , o co m en tá rio do 
crítico deixa de te r validade: o c h o q u e de idéias assinalado, 
i. é, “ escava sem perfu rar” , sim plesm ente não existe naquela 
estrofe — há, na verdade, u m reforço, pois o inseto cava e, p o r 
:onseqüência , perfura. C o m o não consta em L im i (1968) a 
edição utilizada com o m odelo para a transcrição q u e reali­
zou , não é possível verificar a o rig e m da fo rm a n ã o -g e n u í- 
na. In d ep en d en tem en te da o rigem , é fato que a fo rm a “p e r- 
T jm ando” não parece ser a tribu ível a D ru m m o n d , o que 
significa q u e não p o d e ser considerada em um a análise de 
abordagem sócio -h istó rica, em q u e se leva em co n ta a v o n ­
tade autoral.
1.5. TRANSDISCIPLINARIDADE
U m a das característiqas mais instigantes da crítica textual 
é sua transdisciplinaridade. Para o efetivo exercício da fixação 
de tex tos é sem pre necessário u m co n ju n to m u ito diversifi­
cado de conhecim en tos, o que obriga o trânsito p o r diversas 
áreas do co n h ec im en to .
INTRODUÇÃO a 23
H á algum as áreas em especial que têm im pacto d ire to so­
bre a atividade d o crítico textual: a paleografia, a diplomática, 
a codicologia, a bibliografia material e a lingüística.
1.5.1. Pa leografia
A paleografia pode ser definida, de um a form a bastante bá­
sica, com o o estudo das escritas antigas. M o d ern am en te , apre­
senta finalidade tan to teórica q u an to pragm ática. A finalida­
de teórica m anifesta-se na preocupação em se en ten d er com o 
se constitu íram sóc io -h is to ricam en te os sistemas de escrita; 
já a finalidade pragm ática evidencia-se na capacitação de lei­
tores m o d e rn o s para avaliarem a a u te n tic id ad e de u m d o ­
cu m en to , c o m base na sua escrita , e de in te rp re ta rem ade­
quadam en te as escritas do passado.
Sua constitu ição com o cam po de co n h ec im en to sistem a­
tizado costum a ser situada no século X V II. E m viagem pela 
Europa, o jesu íta D aniel van P apenb roeck (1628-1714) teria 
constatado a ex istência de m u ito s d o cu m en to s falsos, o que 
o teria levado a escrever a ob ra Propylaeum Antiquarium circa 
Veri ac Falsi Discrimen in Vetustis Membranis (A ntuérpia, 1675), 
onde apresen ta c rité r io s para d iscern ir docum en tos falsos de 
verdadeiros: co m o subsídio a esse ju lg am en to , Papenbroeck 
apresenta u m a classificação das d iferen tes escritas. T en tando 
responder às críticas deste aos docum en tos da Abadia de Saint- 
Denis, o m onge bened itino Jean M abillon (1632-1707) redi­
g iu a ob ra D e R e Diplomatica Libri I V (Paris, 1681), em que 
avança a inda m ais na investigação dos tipos de escrita . O 
te rm o q u e n o m eia esse cam po de estudo só apareceria com 
a obra Palaeographia Graeca Sive de O rtu et Processu Litterarum 
Graecarum (Paris, 1708), escrita pelo tam bém b en ed itin o B er­
nard de M o n tfa u c o n (1655-1741).
A relevância da paleografia para o crítico tex tu a l é bas­
tan te ev iden te : para se fixar a fo rm a genu ína de u m tex to ,
24 ■ INTRODUÇÃO À CRÍ TICA TEXTUAL
é necessário ser capaz de decod ificar a escrita em que seus 
testem unhos estão lavrados. É m u ito com um , aliás, existirem 
edições de tex to que apresentam falhas decorren tes de equ í­
voco na le itu ra do m odelo p o r p a rte do editor.
D ada a im portânc ia das in form ações de natureza paleo - 
gráfica para a com preensão da leitura das fontes realizada pelo 
crítico textual, pode-se incluir em edições de tex to mais e ru ­
ditas um a breve seção dedicada a com entários dessa natureza. 
Nessa seção costum a-se abordar aspectos com o os seguintes:
a) classificação da escrita, localização e datação;
b) descrição sucinta de características da escrita, a saber: 
a morfologia das letras (sua form a), o seu traçado o u ductus (or­
dem de sucessão e sentido dos traços de um a letra), o ângulo 
(relação entre os traços verticais das letras e a pauta horizontal 
da escrita), o módulo (dim ensão das letras em term os de pau ­
ta) e o peso (relação entre traços finos e grossos das letras);
c) descrição sucinta do sistem a de sinais abreviativos em ­
pregado na referida escrita;
d) descrição dos outros e lem en tos não-alfabéticos-exis— 
tentes e de seu valor geral: núm eros, diacríticos, sinais de p o n ­
tuação, separação vocabular in tra linear e translinear, paragra- 
fação, etc.;
e) descrição de pontos de dificuldade na leitura e as so­
luções adotadas.
E m bora haja hoje em dia d isponível no m ercado b ib lio­
grafia in tro d u tó ria em paleografia relativam ente variada (p. 
ex., Batelli, 1999; S tiennon, 1999; C ence tti, 1997; Bischoff, 
1997;Terrero, 1999), obras em língua portuguesa o u voltadas 
para a escrita latina no m undo lusófono são m uito raras: den ­
tre os textos mais gerais, podem -se citar C ruz (1987), Santos 
(1994, 2000) e B erw anger <5c Leal (1995). Sua leitura, porém , 
deve ser com plem entada com a prática efetiva de contato com 
tex tos lavrados nas mais d iferen tes escritas, o que p o d e ser
I NTRODUÇÃO ■ 25
feito u tilizando-se as reproduções fac-sim ilares presentes nos 
álbuns de paleografia6 voltados para docu m en to s p o r tu g u e ­
ses e /o u brasileiros, tais com o B u rn a m (1912-1925); C osta 
(1997);V alente (1983); N unes (1984); Dias, M arques & R o ­
drigues (1987); e A cioli (1994) - in felizm ente quase todos 
esgotados, mas encontráveis em bibliotecas acadêm icas.
1.5.2. D iplom ática
Pode-se defin ir basicam ente a diplomática c o m o o estudo 
-de~dommentos (em especial, os ju ríd ico s). D eve-se en te n d e r 
aqui p o r documento, em um sen tido estrito, toda notícia escrita 
de algum acontecimento.
As origens da diplom ática estão fortem ente entrelaçadas 
com as da paleografia, já que os tratadosmais antigos visavam 
a o rien tar a avaliação da autenticidade de docum entos legais, 
tanto através de sua escrita quando de sua form a e de seu c o n ­
teúdo. Seu estabelecim ento com o cam po de conhecim en to 
sistemadzado rem onta, assim, à já m encionada disputa entre 
Papenbroeck e M abillon (podendo ser atribuída a este, em sua 
já referida obra de 1681, a cunhagem do nom e desse cam po).
O s co n h ec im en to s d ip lom áticos são especialm ente re le - 
vantes para o crítico textual que edita docum entos. A decifra- 
ção e a rep rodução de um d o c u m e n to p o d e m ser realizadas 
com m ais segurança e p rop riedade quando se tem consciên ­
cia de c o m o eram produzidos os d o cu m en to s , em que clas­
ses se d istribu íam e com o se estru tu ravam in te rn am e n te , so­
b re tu d o p o rq u e apresentavam constan tes form ais em term os 
tan to estru tu rais q u an to lingüísticos.
▼ T ▼ ▼ ▼
6. D e m uita utilidade são tam bém os dicionários de abreviaturas: para abreviaturas 
latinas, pode-se consultar Cappelli (1995); e para portuguesas, N unes (1981) e Fle- 
chor (1991).
26 ■ I NTRODUÇÃO À CRÍ TICA TEXTUAL
Tratados in tro d u tó rio s m o d ern o s de d ip lom ática aplica­
dos especificam ente a docum entos portugueses parecem ine- 
xistir, mas p o d em -se o b te r in fo rm ações relevantes em M ar­
ques (1963-1971 , vol. 1: ^23 -8 ), B erw anger & Leal (1995) e 
C ru z (1987); um a visão histórica recen te dessa disciplina em 
P ortugal aparece em C o e lh o (1991). D ada essa escassez no 
d o m ín io lusófono, pode-se reco rre r à leitura de obras basea­
das especialm ente no d om ín io hispânico, o que p e rm ite a in ­
da que se tenha u m a visão ib ero -ro m ân ica do tem a: a tual­
m en te en co n tram -se disponíveis m anuais espanhóis co m o o 
de Tam ayo (1996) e Terrero (1999).
1.5.3. Codicologia
A codicologia consiste basicam ente no estudo da técnica do 
livro manuscrito (i. é, do códice). Esse te rm o , que te m sua pa­
te rn id ad e re iv ind icada p o r D a in (1975: 76), é em p reg ad o 
atualm ente, p o rém , em um sentido mais estrito do que aque­
le postu lado p o r q u em o cu n h o u . D a in (1975: 77) co n sid e ­
rava co m o m issões e d om ín io da codicologia a h istó ria do m a­
nuscrito , a história das coleções de m anuscritos, investigações 
sobre a locaüzação atual dos m anuscritos, problem as de cata­
logação, repertórios de catálogos, o com ércio dos m anuscritos, 
sua utilização, etc., sendo do escopo da paleografia o estudo da 
escrita e da m atéria escriptória, da confecção do livro e de sua 
ilustração, e o exam e de sua “arqu ite tu ra” ; mas obras mais re­
centes ten d em a redistribuir as tarefas dos dois cam pos do co ­
nh ec im en to m encionados: Lem aire (1989:3) postula dever a 
cod ico log ia fixar-se sob re tudo em co m p reen d e r os diversos 
aspectos da confecção m aterial p rim itiva do códice.
Para o c rítico textual, a cod ico log ia é de g rande relevân­
cia, pois fo rnece inform ações que p e rm item com preender al­
gum as das razões pelas quais os tex tos se m odificam n o p ro ­
INTRODUÇÃO · 27
cesso de sua transmissão. Saber, p. ex ., que nos antigos rec in ­
tos em que se realizavam as cópias (cham ados scriptoria) havia 
o háb ito de se desm em brar u m có d ice para que suas partes 
(os cadernos) pudessem ser rep roduzidas s im ultaneam en te 
p o r diferentes copistas perm ite ao crítico textual elaborar h i­
póteses sobre p o r que certas cópias tê m seu tex to em ordem 
diferente de outras: possivelm ente p o rque, ao se rec o m p o r o 
códice u tilizado c o m o m odelo , te r iam o c o rr id o equívocos 
na ordenação de suas partes.
A lém de perm itir um a com preensão mais profunda do 
processo de transmissão dos textos, os conhecim entos cod ico- 
lógicos tam bém são utilizados mais pragm aticam ente na des­
crição de códices, a qual deve constar na edição de textos pre­
servados em m anuscritos. C o m o orien tação para essa descri­
ção cod ico lóg ica , apresenta-se na pág ina seguinte u m guia 
básico7 (outros m odelos p o d e m ser consultados em Bohigas, 
M undó & Soberanas, 1973-1974, e em R uiz , 1988: 316-40).
O guia de descrição apresentado a seguir cobre aspectos es­
senciais de um códice, mas p o d e natu ralm ente ser estendido 
com a inclusão de detalhes que a to rn e m mais abrangente: p o ­
de-se, p. ex ., inclu ir um diagram a c o m a com posição dos ca­
dernos, id en tif ican d o a natu reza das faces dos p e rg am in h o s 
(carne x pêlo), rebarbas de fólios sem sua parte solidária, ir­
regularidades, etc.; podem -se ainda acrescentar o incipit e o 
explicit de cada tex to , aspecto im p o rta n te para tex tos até en ­
tão desconhecidos; e diversos ou tros aspectos. Por ou tro lado, 
é possível, em n o m e da concisão, sup rim ir alguns dados e eli­
m inar os títu los dos itens de descrição , organizando assim as 
in fo rm açõ es e m u m parágrafo b astan te c o m p a c to (sistem a 
c o rre n te em g randes catálogos de m anuscritos).
7. C ertam ente m uitos dos term os empregados neste guia não são de dom ín io geral, 
mas grande parte deles será explicada na seçao 3.2, mais adiante.
28 ■ INTRODUÇÃO A CRÍ TICA TEXTUAL
Guia Básico de D escrição C od icológica
1. Cota: cidade em que se encontra o códice; nome da insti­
tuição; coleção de que faz parte; e número ou sigla de 
identificação.
2. Datação: explícita (transcrever, informando fólio e linha 
em que consta) ou inferida (apresentar justificativa).
3. Lugar de origem : explícito (transcrever, informando fó­
lio e linha em que consta) ou inferido (apresentar justifi­
cativa) .
4. Folha de rosto: transcrição.
5. Colofao: transcrição.
6. Suporte material: papiro (papiráceo), pergaminho (mem- 
bra-náceo) ou papel (cartãceo) — sendo membranáceo, infor­
mar animal, espessura, cor e obediência à Lei de Gregory; 
sendo cartáceo, informar tipo, linhas-d’água (direção e dis­
tância entre pontusais e vergaturas), filigrana (descrição da 
figura).
7. Com posição: número de fólios; número e estrutura dos ca­
dernos (bínio, térnio, quatemo, etc.); formato (in-fólio, in-4?, in-8 o, 
etc.) e dimensão dos fólios (altura x largura, em milímetros).
8. O rganização da página: dimensão da mancha; número 
de colunas; número de linhas; pautado ; numeração (foliação 
[número só no recto do fólio] ou paginação [número no rec­
to e no verso]); reclamos (ausência ou presença, localização 
na página e freqüência); assinaturas (presença ou ausência, 
sistema).
9. Particularidades: miniaturas (capitulares ornamentadas); 
iluminuras; marcas especiais (carimbos, ex-libris, assinaturas 
pessoais, etc.).
10. Encadernação: tipo (original ou não-original); dimensão; 
material; natureza e cor da cobertura; decoração; texto na 
capa; nervos no lombo.
11. C onteúdo: identificação dos textos do códice por fólio(s), 
informando autor e obra.
12. D escr ições prévias: bibliografia.
I NTRODUÇÃO ■ 29
C o m o sugestão b ib liográfica in tro d u tó r ia sobre c o d i­
cologia, p o d e m -se c ita r D ain (1975), P e trucc i (1984), R u iz 
(1988) e L em aire (1989), além dos ricos vocabulários da área 
preparados p o r M uzere lle (1985), em francês, m as já co m 
tradução para o espanhol datada de 1997, e p o r A rnall i Juan 
(2002), em catalão, p o rém c o m ín d ice de c o rre sp o n d ên c ia 
para o espanho l, francês e italiano. N o d o m ín io lusófono, o 
único volum e publicado co in dados afins parece ser o de N as­
cim en to & D io g o (1984).
1.5.4. B ibliografia material
U m cam po de c o n h ec im en to análogo ao da cod ico log ia 
é a bibliografia material, que consisteno estudo da técnica do li­
vro impresso.
E m bora os estudos sobre im prensa em si não sejam tão re­
centes, data de p o u c o a constitu ição de um a abordagem des­
se tem a d ire tam en te ligada aos problem as de transm issão dos 
t e x tQ S . M uito s dos trabalhos que co n trib u íram para essa nova 
abordagem derivam especialm ente da experiência de estudio­
sos de língua inglesa na prática de edição e análise de textos 
literários dos sécs. X V I e X V II. Ó e n tre esses estudos, t e r ta - 
m en te destacam -se trabalhos c o m o G reg (1914), M cK errow 
(1927), B ow ers (1949, 1959, 1964) e Gaskell (1972).
C o m o já disse m eta fo ricam en te G reg (1914 [1967: 47]), 
é apenas através da aplicação de u m m éto d o bibliográfico 
rigoroso q u e a ú ltim a gota de in fo rm ação pode ser extraída 
de u m d o c u m e n to literário. D e n tre os in strum en tos desse
i, in c lu e m -se n a tu ra lm e n te as técnicas de descrição 
•áfica, as quais já foram m in ucio sam en te tratadas p o r 
(1949). E m bora não haja aqui espaço para discutir de- 
n e n te os diversos aspectos a que se deve dar especial
m étodcj
b ibliogr
Bowers
talhadar
3 0 m I NT RODUÇÃO À CRÍTICA TEXTUAL
atenção na investigação do livro impresso, não se p o d e deixar 
d« listar iten s que devem ser observados em sua descrição8:
G uia B ásico de D escrição Bibliográfica
1. Identificação: nome do autor; título da obra; nom e do edi­
tor; local de publicação; nome da editora e data de publicação.
2. Folha de rosto: transcrição.
3. C olofão: transcrição.
4. Suporte material: tipo de papel; linhas-d’água; filigrana.
5. C om posição: números de fólios ou de páginas; número e 
estrutura dos cadernos; formato e dimensão dos fólios.
6. Tipografia: dimensão da mancha; número de colunas; nú­
mero de linhas; espécie e dimensão dos tipos; capitulares; 
numeração; reclamos; assinaturas.
7. Particularidades: decorações; ilustrações; marcas especiais.
8. Encadernação: tipo; dimensão; material; natureza e cor 
da cobertura; decoração; texto na capa; nervos no lombo.
9. C onteúdo: identificação das partes do texto por página.
10. E xem plar exam inado: cota e nome da instituição de­
tentora.
11. D escr ições prévias: bibliografia.
A pesar de o livro m an u scrito se constitu ir p o r u m p ro ­
cesso d istin to do im presso, há inegavelm ente diversos aspec­
tos com uns a am bos, com o se p o d e verificar através aa com ­
paração deste ú ltim o guia e do exposto na seção an terior. Para 
ex em p lo in teressan te de descrição de livro m an u scrito e de 
impresso de um a m esm a trad ição em língua portugviesa, p o - 
de-se consu ltar o p rim eiro vo lum e da edição das Vidas e Ραι-
s. C om o orientação para a realização de um a descrição bibliográfica, podem -se ain­
da consultar Dias (1994) e os dicionários de especialidade de Faria & Pericão (1988) 
e de Sousa (1989).
I NT RODUÇÃO ■ 31
xões dos Apóstolos, de responsabilidade de C epeda (1982-1989): 
com o sua edição se baseia no tex to presente no códice alco- 
bacense C C X X X II /2 8 0 e no im presso de 1505, p recede o 
tex to c rítico um a m inuciosa descrição de am bos.
N a tu ra lm en te um a descrição bibliográfica b e m executa­
da pressupõe fam iliaridade com a sua term inologia, ainda que 
esta não seja to ta lm en te consensual. Para se te r u m a idéia dos 
term os em pregados na iden tificação das partes p rinc ipais de 
u m livro im presso, po d e-se consu ltar a descrição figurativa a 
seguir (figura 3), adaptada para o português p o r N ascim ento 
& D iogo (1984).
As seis obras citadas logo n o in íc io desta seção são sufi­
cientes para su p rir o in teressado de in fo rm ação sobre a b i­
b liografia m ate ria l, m as baseiam -se fu n d am e n ta lm e n te no 
livro im presso em língua inglesa; para os livros im pressos em 
língua po rtuguesa , não parece haver até o m o m e n to n e n h u ­
m a obra in tro d u tó ria que siga a abordagem precon izada po r 
aqueles autores. E xistem , n o en tan to , bons títu los traduzidos 
para o p o rtu g u ês sobre o livro im presso. C f., p. ex ., M cM u r- 
trie (1982) e Febvre & M artin (1992). Especificam ente sobre 
a h is tó ria da im p ren sa em P o rtu g a l,-p o d e-se consu ltar, p. 
ex., A nselm o (1981,1991); e, no Brasil, M artins (1996), Sodré 
(1966), H allew ell (1985) e Paixão (1996).
1.5.5. L ingüística
A lingüística, en ten d id a c o m o estudo científico da linguagem 
humana, tem , de todas as áreas já citadas, a relação mais óbvia 
e essencial c o m a crítica tex tual, pois os textos tê m com o p i­
lar a língua.
C ertam en te o p rim eiro aspecto que deve ficar evidente é 
o fato de que a adoção de u m a m enta lidade p u ris ta ou n o r- 
m ativista q u an to à língua no exercício da crítica tex tual tem
32 ■ I NTRODUÇÃO λ CRÍ TICA TEXTUAL
F ig u ra 3 - P a r te s p r in c ip a is d o liv ro
(Fonte: Nascimento & Diogo, 1984: 98)
Grxvura e descriçío adaptada de JOSÉ MARTÍNEZ DE SOUSA, D iccianario d e 
T/patrafía y d e i L ib ro , Barcelona, 1974.
Partes principais do livro:
1. adorno, graça
2. tranchefila, sobrecabeçada, trin- 
cafio, requife
3. corte de cabeça
4. cantoncira, ponta
5. fólio
6. abertura, frente, goteira
7. anterrosto
8. guarda
9. corte de dianteira, goteira
10. corte de pé
11. meio lombo
12. lombo
13. entre-nervos
14. florão
15. rótulo
16. nervo
17. seixas
18. canto
19. plano (primeiro ou anterior 
?£ segundo ou posterior)
20. charneira, bisagra
21. cartão
22. tela da cobertura
23. marcas de assinatura i escala 
(obtida com filetes na media- 
niz)
24. cadernos 
27. gaza
26. tira de cartolina (falso lombo)
27. tftulo
28. fecho
29. legenda
30. gravura
31. margem interior ou medianiz
32. corandel (não confundir com 
intercolúnio)
33. margem de cabeça
34. coluna de texto
35. branco de separação de texto
36. margem de corte
37. sobrecapa, sobrecoberta, camisa
38. boca
39. margem de pé
efeitos nefastos. A confusão de perspectivas (científica x p u - 
r is ta /no rm ativ ista ) co m p ro m ete se riam en te o resu ltado no 
estabelecim ento da fo rm a genuína de um texto, pois o críti-
I NT RODUÇÃO ■ 33
co incau to acaba p o r fixar u m a fo rm a do tex to e m perfeita 
consonância c o m os padrões p recon izados pelas gram áticas 
norm ativas, mas co m p le tam en te d issonante dos padrões ge­
nu inam en te em pregados pelo a u to r do tex to em edição.
N a realidade, é verificadam ente co m u m esse tipo de adul­
teração de textos no processo de edição, pois co m freqüência 
procura-se fazer co m que o tex to ed itado se encaixe nas n o r­
mas das gram áticas trad icionais. M e lo (1988: 18) c ita co m o 
exem plo de “ co rreção ” de form as genuínas o fato de m uitos 
editores m od ificarem , no tex to de Iracema, de José de A len ­
car, a seqüência g enu ína “ O n d e vai” (no cap. I) p o r “ A onde 
vai” — ce rtam en te para subord inar o uso do advérb io à n o r­
m a trad icional de q u e onde se u tiliza para “situação” e aonde 
para “ d ireção ”9.
D e n tre os vários ram os da lingü ística , p o d e -se d izer que 
aquele q u e te m m ais im pacto sobre a edição de tex tos é a 
lingüística histórica, pois a crítica tex tual debruça-se am iúde so­
bre textos do passado. O desenvolvim ento dos estudos d iacrô- 
nicos te m co n tr ib u íd o para a fo rm ação de um a visão mais 
realista e abrangen te da história das Unguas: a tualm ente os es­
tudos d iacrôn icos dialogam c o m diversas áreas, p e rm itin d e -
um a percepção mais aguçada dos fenôm enos lingüísticos 
com o exem plo , p o d e -se citar a im p o rtân c ia dos estudosso - 
ciolingüísticos na com preensão da variação lingüística e, em 
especial, n o reco n h ec im en to da he te rogene idade co m o ca­
racterística constitu tiva da lin g u ag em (cf., p. ex .,W ein re ich , 
Labov & H erzog , 1968; e Labov, 1972).
E m bora to d o crítico textual deva necessariam ente ter um a 
form ação lingüística am pla e variada, para a edição de textos
9. N orm a, aliás, em desacordo com a própria história do advérbio aonde, que desde 
sua origem no séc. X IV expressaria os valores de “situação” e “direção” (cf. C am ­
braia, 2002a).
34 ■ I NT RODUÇÀO À CRÍ TICA TEXTUAL
do passado deve ainda possuir conhecim en to aprofundado da 
língua da época. A aquisição desse c o n h e c im e n to dá-se efe­
tivam en te , e m especial, pe la le itu ra co n tin u ad a de tex tos da 
época, f id e d ig n a m e n te estabe lec idos. A esse p ro p ó sito , diz 
M elo (1952: 53):
Urge que o filólogo e b lingüista procurem conhecer a língua, 
isto é, os textos, e não os gramáticos, muito menos os gramati- 
queiros: conhecer a língua, estudando-a com olhos de técnico 
e com olhos de artista. Sem dúvida é muito mais facil c<pnhecer 
meia dúzia de compêndios rançosos e sonolentos do que conhe­
cer a língua diretamente, pelos seus documentos e m onumen­
tos, — o que demanda uma vida inteira de devoção, — mas é êste 
o único e verdadeiro caminho do filólogo (itálico de Melo).
E m b o ra não se possa deixar de adm itir que as gram áti­
cas tradicionais sejam relevantes no estudo de lín g u a10 (pois 
reg istram padrões que a tua[ra]m de fo rm a coerc itiva sobre 
ela), não se p o d e pensar que seu co n h ec im en to é suficiente 
para se saber com o a língua efetivam ente foi o u é usada: há, 
na verdade, nessas gram áticas um a mescla de descrição de fa­
tos reais de língua e de padrões preconizados, mas não neces­
sariam ente adotados pelos autores de textos.
M o d ern am en te , no en tan to , além da leitu ra de textos do 
passado, o conhecim en to da língua de épocas pretéritas pode 
er com p lem en tado com a consulta a obras da especialidade, 
c o m o manuais introdutórios (p. ex ., B ueno , 1955; Silva N eto , 
1957b; M e lo , 1971; C âm ara J r., 1976;Teyssier, 1982; F o n ­
seca, 1985; C astro et a l , 1991)" e gramáticas históricas (p. ex.,
▼ ▼ ▼ ▼ ▼
10. Para o conhecim ento de gramáticas da língua portuguesa de 1500 a 1920, pode- 
se consultar a extensa lista preparada por Cardoso (1994: 19-139).
11. Tam bém de interesse são os volumes da História da língua portuguesa, coordena­
dos por Segism undo Spina: Spina (1987), Paiva (1988), M orei P in to (1988), M ar­
tins (1988), P in to (1988) e H auy (1989).
N
Λ
N unes, 1919; Said Ali, 1931; C o u tin h o , 1938; W illiam s, 
1961; H u b er, 1986). Aos títu los listados, p o d e riam ser na tu ­
ralm ente acrescentados não apenas outros relevantes mas tam ­
bém estudos de tem a particu lar, aqui om itidos em n o m e da 
concisão. N ão se pode, no entanto , deixar de fazer m enção aos 
dicionários, instrum entos de grande im portância: há os especi­
ficam ente etim ológicos (p. ex., M achado, 1952; C u n h a , 1982; 
C orom inas Pacual, 1980 -1991) e aqueles não necessaria­
m en te e tim o lóg icos mas de interesse h istó rico (p. ex ., B lu- 
teau, 1712-1721 , 1727-1728; Silva, 1789; V iterbo , 1798; Sil­
va, 1813). C o m o os d icionários têm sem pre suas lim itações, a 
consulta a glossários (que even tualm ente acom panham a edi­
ção de u m texto) costum a ser de grande auxílio: além dos vo­
lumes da coleção Dicionário da Língua Portuguesa: Textos e Voca­
bulários (Berardinelli, 1963; G om es Filho, 1963-1964; Pereira, 
1964; R ossi, M ota , M atos & Sam paio, 1965; Pereira Filho, 
1965; C u n h a , 1966; G rillo , 1966; C u n h a et a l , 1966; e B e­
rardinelli & M enegaz, 1968), há am plos glossários co m o do 
Cancioneiro da A juda (V asconcelos, 1920), das Poesias de Sá 
de M iran d a (C arvalho, 1953), das Cantigas de Santa Maria 
(M ettm an n , 1972), e da Vida e Feitos de Júlio~eésar (M ateus, 
1974--199-2·)-:----------- -
I NT RODUÇÃO ■ 35
I
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