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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.4, p.389-396, 2012 389 ISSN 1517-8595 CERA DE CANA-DE-AÇUCAR (Saccharum officinarum L.) NA FORMULAÇÃO DE UM BRILHO LABIAL A PARTIR DE EXTRAÇÃO SIMPLES E POR BIOETANOL Carina Nazato1; Suellen Catarina Urias Ferraz1, Franz Zirena Vilca2, Nádia Hortense Torres2, Daniela Ferraz de Campos Silva1, Marcia Nalesso Costa Harder1 RESUMO As ceras podem ser classificadas em: naturais, animais ou sintéticas, onde estão contidas em diversos produtos cosméticos, como o brilho labial, que é considerado um símbolo da sensualidade feminina, ocupando o primeiro lugar na preferência delas. No entanto, na fabricação deste, são utilizados compostos sintéticos que poderiam ser substituídos por materiais vegetais, como a cera de cana-de-açúcar, uma vez que a cera está concentrada na torta de filtro, sendo uma opção tecnológica à um produto utilizado como fertilizante. Assim, objetivou-se agregar valor a um subproduto da indústria sucroalcooleira, empregando-o como substituinte natural ao material sintético (a vaselina líquida e sólida) utilizando uma metodologia “controle” cedida por uma farmácia de manipulação. Foram preparadas três formulações distintas, onde F1 foi o controle; F2 substituiu a vaselina líquida pela cera obtida por extração simples e o aromatizante artificial de morango por açaí em pó natural e F3 substituindo a vaselina sólida e líquida por cera bruta extraída da torta de filtro com biotetanol e aromatizante alimentício de morango. Foram avaliados os parâmetros físico-químicos (pH, umidade e cinzas) e sensorial (aparência e odor). O pH das amostras de brilho labial não variou, permanecendo a 5,5. F2 apresentou o maior teor médio de umidade na ordem de 3,7 %. O índice de cinzas foi mais significante na formulação F3, com 1,6 % de matéria inorgânica. Já na análise sensorial, foram avaliados de maneira quantitativa pelo teste Tukey 5% de significância por meio do programa SAS. A maior aceitabilidade na análise sensorial foi com a formulação controle, indicando que são necessários tratamentos posteriores à extração a fim de adequá-la para redução de umidade, caracterização dos componentes das cinzas e atribuição de parâmetros organolépticos desejáveis. Palavras chave: antioxidante, torta de filtro, vaselina CERAMIDES SUGAR CANE (Saccharum officinarum L.) IN FORMULATION OF A GLOSS FOR SIMPLE EXTRACTION AND BY BIOETHANOL ABSTRACT The ceramides can be classified as: vegetal, animal or synthetic, which are contained in many cosmetic products like lip gloss, which is considered a symbol of female sensuality, ranking first in their preference. However in its production are used synthetic compounds that could be replaced by plant materials such as wax, sugar cane, since the wax is concentrated in the filter cake and that can be a technology option to a product that is used as a fertilizer. Thus the objective was to add value to a by-product of sugar industry employing it as a substitute natural to the synthetic material (vaseline) using a methodology "control" courtesy of a compounding pharmacy. Three different formulations were prepared, which was the control F1, F2 replaced by liquid petrolatum wax obtained by simple extraction and artificial strawberry flavoring by natural “açaí” Protocolo 1 Curso de graduação em Tecnologia de Biocombustíveis. Faculdade de Tecnologia de São Paulo – Piracicaba - 13414-141- Piracicaba - SP - Brasil. E-mail: cnazato@gmail.com; suellen_ferraz@yahoo.com.br; mnharder@terra.com.br 2 Departamento de Ecotoxicologia. Centro de Energia Nuclear na Agricultura – Piracicaba - 13400 – 970 – Piracicaba – SP – Brasil. E-mail: franz-cena.usp@hotmail.com; nhtorres@cena.usp.br 390 Cera de cana-de-açucar na formulação de um brilho labial a partir de extração simples e por bioetanol Ferraz et al. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.4, p.389-396, 2012 powder and F3 replacing petroleum jelly and liquid wax extracted from crude filter cake with biotetanol and strawberry flavoring food. We evaluated the physical and chemical parameters (pH, humidity and ash) and sensory analysis (appearance and smell). The pH of the samples of lip gloss did not change, remaining at 5.5. F2 had the highest average content of humidity in the order of 3.7%. The ash content was more significant in the F3 formulation with 1.6% of inorganic matter. In the sensory analysis, were assessed quantitatively by Tukey test 5% significance level using the SAS program. The greater acceptability in the sensory analysis was with the control formulation, indicating that they needed further treatment to extraction in order to adapt it to reduce humidity, ash characterization of components and assignment of desirable organoleptic parameters. Keywords: antioxidant, filter cake, vaseline INTRODUÇÃO Com a incessante busca por produtos de melhores qualidades, como por exemplo, o açúcar desprovido de impurezas e com cristais uniformes, obtém-se uma diversificação de descartes agroindustriais (Cortez et al, 1992), os quais uma vez processados corretamente, podem atuar como matéria-prima em diferentes situações, como o bagaço, a vinhaça, a levedura e a torta de filtro. Na torta de filtro é observada uma ordem média de cera bruta e lipídios entre 5 a 14% sob base seca, havendo diferentes propostas para a sua utilização porém, elas quase sempre são enviadas aos campos como fertilizantes nas 6 semanas que antecedem o plantio da gramínea (Paturau, 1969). Durante o processo de moagem da cana, cerca de 40% do material lipídico é disperso no caldo como material suspenso, enquanto que o restante é retido no bagaço após a moagem. Em seguida, no processo de calagem, os íons orgânicos e inorgânicos contidos no caldo são precipitados na forma de sais de cálcio e estes ocluem os materiais ceroso e graxos presentes no caldo e, em decorrência, a cera é concentrada na torta (Paturau, 1969). De acordo com Adamenas (1982) sob a torta de filtro seca são encontrados de 5 a 17% de cera e uma usina com capacidade de moagem 4000 toneladas diárias perde em torno de 4 t de cera no período da safra. Nas plantas elas atuam como proteção à perda de água pela superfície, pela evapotranspiração e aos ataques microbiológicos, as quais podem ser classificadas de acordo com sua procedência: naturais (animais e vegetais) ou sintéticas (petróleo) (Li & Parish, 1998). Assim, junto à superfície das plantas, as ceras atuam como uma camada de material fino ceroso, formando a interface entre a planta e a atmosfera, onde pode controlar os compostos voláteis que possam atrair pragas e insetos polinizadores, evitando o desenvolvimento de doenças, além de promoverem resistência à seca (Christie, 2003). A cera bruta de cana-de-açúcar é um sólido ceroso mole de cor escura, constituída por 45% de cera, 35% de matéria graxa e 20% de resina, sendo a cera refinada a fração mais valiosa por conter 55% de ésteres; 8% de ácidos livres; 10% de alcoóis livres; 25% de aldeídos e cetonas e 2% de hidrocarbonetos, segundo Frutuoso (1989) citado por Gandra (2006) O óleo da cera bruta é encaminhado para o preparo de ração animal, utilizado na obtenção de fitoesteróis e anti-espumante, na fabricação de extintores de pó, entre outros usos. Já a cera refinada pode ser utilizada em emulsões de revestimentos de frutas,polidores de chão; tintas e cosméticos, ao passo que a resina possui opções mais restritas para industrialização, sendo usada em aditivo plastificante e pneus (Taupier, 1988). Em Cuba a cera de cana-de-açúcar é produzida em larga escala, sendo encontradas diversas patentes de seus derivados no país (Adamenas, 1982; Vieira, 2003), a exemplo do policosanol, um produto derivado da cera de cana-de-açúcar eficaz na prevenção de doenças cerebrais vasculares, comercializado para mais de 30 países como Austrália, México, Argentina, Noruega e Canadá, segundo Porto Com Cuba (PCC, 2004). Cera de cana-de-açucar na formulação de um brilho labial a partir de extração simples e por bioetanol Ferraz et al. 391 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.4, p.389-396, 2012 Para Adamenas (1982), a maior qualidade da cera natural é evidente quando se comparada às ceras sintéticas, muitas vezes também, insubstituíveis em determinados processos, além de os preços serem inferiores e a auto-suficiência na obtenção revelarem uma conveniência especial para o mercado nacional das ceras naturais. Sendo assim, o brilho labial é formado por cinco propriedades: Corpo branco (cera; corpos graxos pastosos e corpos graxos líquidos); corantes; fragrância; antioxidantes; princípios ativos Pruniéras (1994). Portanto, o objetivo deste trabalho foi agregar valor à cera bruta de cana-de-açúcar, empregando-a como substituinte natural ao material sintético (a vaselina líquida e sólida) que são utilizadas em uma formulação de brilho labial. MATERIAIS E MÉTODOS Foram preparadas 3 formulações distintas, das quais a formulação 1 (F1) foi o controle, na formulação 2 (F2) foi utilizado o extrato com ceroso substituindo a vaselina sólida e flavorizante natural de açaí substituindo a essência de morango. Já na formulação 3 (F3) foi utilizada a cera bruta substituindo as vaselinas sólida e líquida. Os ativos utilizados na formulação controle do brilho labial foram adquiridos em uma farmácia de manipulação, os quais seguem: cera abelha, vaselina sólida, vaselina liquida, manteiga de cacau, vitamina e, phenobem, BHT. Tanto o açaí em pó natural quanto o aromatizante artificial alimentício de morango foram utilizados para atribuir aroma às formulações. Obtenção simples do extrato ceroso da cera a partir do caldo de cana-de-açúcar O extrato com cera da cana-de-açúcar destinado à formulação F2 e foi obtido a partir da cocção do caldo de cana3, onde o composto sobrenadante foi retirado e armazenado em 3 Cana cultivada em sistema tradicional na FATEC, Piracicaba - SP e colhida manualmente. bequer a 4ºC em geladeira para posterior utilização. Extração da cera a partir de torta de filtro do caldo de cana-de-açúcar A torta de filtro utilizada para extração da cera bruta utilizada em “F3” foi cedida pela Usina Pederneiras (município de Tietê,SP), do processamento de cana-de-açúcar4 da safra de 2010/2011. Para a obtenção da cera de cana-de- açúcar, utilizada em F3, seguiu-se os métodos descritos em Vieira (2003), com algumas adaptações. Para a extração foram organizados cartuchos de papel de filtro com 140 g de torta de filtro os quais foram submetidos à extração em Soxhlet por aproximadamente 2 horas em cada batelada. Após este processo, os balões seguiram para a eliminação do solvente por aquecimento em banho-maria a 90ºC, gerando o analito concentrado. Formulação controle do brilho labial sólido A formulação do brilho labial foi fundamentada na metodologia utilizada na farmácia de manipulação, a qual refere um produto com a massa final de 8g. Nesse sentido, foram preparadas (a) uma amostra com a formulação original (F1); (b) uma amostra substituindo totalmente a vaselina sólida pelo composto ceroso do caldo de cana por extração simples e a essência por um flavorizante natural de açaí (F2) e (c) uma amostra substituindo tanto a vaselina sólida, quanto a vaselina líquida pela cera bruta da cana extraída com bioetanol (F3), destacado na Tabela 1. Tabela 1. Componentes e concentração das matérias-primas (%) Matérias Primas Função F1 F2 F3 Cera Abelha Umectante 11 11 11 Cera de cana Umectante _ 35 40 Vaselina sólida Emoliente 35 _ _ Vaselina liquida Emoliente 5 5 _ Manteiga de cacau Emoliente 41 41 41 Vitamina E Antioxidante 0,5 0,5 0,5 Phenobem Conservante 0,1 0,1 0,1 BHT Antioxidante 0,05 0,05 0,05 Essência de morango Aromatizante 10 gotas _ _ Açaí Flavorizante _ 7,35 _ 4 Cana cultivada em sistema tradicional e colhida mecanicamente. 392 Cera de cana-de-açucar na formulação de um brilho labial a partir de extração simples e por bioetanol Ferraz et al. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.4, p.389-396, 2012 1º Tratamento: Preparo do brilho labial controle Em um béquer de 250 mL previamente tarado, pesou-se todos os ativos, exceto o aromatizante. Em seguida fundiu em banho- maria a 70ºC, homogeneizando com um bastão de vidro. Retirou-se do aquecimento e adicionou-se o aromatizante e homogeneizou- se, o extrato foi acondicionado em geladeira a 4ºC para as posteriores análises. Após isto, as amostras foram retiradas do aquecimento para a adição do aromatizante e, posteriormente distribuídas em copos plásticos vedados com plástico filme. 2º Tratamento: Preparo do brilho labial substituindo a vaselina sólida pela cera Nesta formulação, o composto com cera estava reservado na geladeira de forma totalmente sólida, o qual foi submetido a aquecimento em banho-maria a 70ºC, obtendo- se uma consistência semi-sólida e esfarelada (para facilitar sua manipulação). Feito isso, pesou-se tal quantidade em um béquer de 200 mL e reservou-a. Conforme baseado na metodologia fornecida pela farmácia pesou-se as respectivas frações dos ativos para a formulação 2 e os colocou em aquecimento em banho-maria. Após a fundição, o extrato foi retirado do banho, ao qual foi adicionado o flavorizante natural de açaí. 3º Tratamento: Preparo do brilho labial substituindo a vaselina sólida e líquida pela cera de cana-de-açúcar Na terceira formulação, partiu-se de 140 g de torta de filtro submetida ao processo de extração em Soxhlet pelo período de refluxo de 2 horas. Ao final da operação, foram obtidos 4,242 g de extrato de cera bruta. Para a obtenção do extrato de cera, seguiu-se a metodologia padrão da formulação do brilho labial, substituindo as vaselinas pelo extrato de cera e eliminado o aromatizante, nos quais todos os ativos foram para aquecimento em banho-maria e, após a fundição foram acondicionados em geladeira. pH O pH das amostragens foi verificado por meio de fitas medidoras de pH da Merck®. Umidade Para a determinação do teor de umidade das amostras utilizou-se o método direto, por analisador infravermelho, onde a água foi retirada por aquecimento e o teor de umidade é obtido pela diferença de peso das amostras de início e final expressos em porcentagem, assim como descrito por Park e Antônio (2006). Programou-se o analisador infravermelho, (temperatura de fundição foi igual a 155ºC), onde, foram colocadas frações das amostras com massas menores que 1g para a leiturade umidade total. Cinzas No presente ensaio, as massas dos cadinhos foram taradas e após, as amostras foram pesadas. Feito isso, os cadinhos seguiram para incineração em mufla a ±450ºC, nos quais permaneceram até a carbonização total dos compostos. Ao término desta etapa, as cinzas seguiram para arrefecer em dessecador. E então os cadinhos foram pesados novamente para a determinação do teor de cinzas contido nos brilhos labiais. Análise sensorial Todos os procedimentos utilizados foram solicitados ao parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba. Para tanto foram empregados testes de aceitabilidade de escala hedônica, uma vez que é indispensável reconhecer o “status afetivo” dos consumidores a respeito do produto, entendendo sua preferência (Ferreira, 2000). A análise sensorial ocorreu pela avaliação dos atributos referentes ao brilho labial, como aroma, brilho e textura visual, onde foram necessários 40 voluntários (por não serem profissionais treinados) com a idade Cera de cana-de-açucar na formulação de um brilho labial a partir de extração simples e por bioetanol Ferraz et al. 393 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.4, p.389-396, 2012 média de 20 anos. Foi organizado um formulário apresentado a cada provador, com o intuito de expressarem suas preferências mediante os produtos (FERREIRA, 2000). Cada voluntário avaliou cada uma das três amostras de brilho labial, utilizando os sentidos olfativos e visuais, quanto aos atributos aroma, brilho e textura, isento do contado direto com as amostras, por precaução, já que não foi possível determinar sua segurança, caso fossem minimamente ingeridos. A análise ocorreu no laboratório de operações unitárias onde as amostras foram dispostas sobre o papel vegetal branco na bancada. RESULTADOS E DISCUSSÃO Formulação do brilho labial A formulação controle (F1) foi facilmente incorporada à temperatura de 55ºC, constituindo uma miscelânea com aroma de artificial de morango, cuja coloração clara, uniforme, de consistência sólida e de textura gordurosa, em razão da presença das vaselinas sólida e líquida. Todavia, em F2, com decorrer do aquecimento em banho-maria, o extrato que continha a cera ficou denso e não apresentou em uma mistura homogênea, decantou no fundo do béquer em uma consistência pastosa e densa. Em F3, o produto final incorporou-se em um material homogêneo, com coloração verde escura, porém menos oleoso, do qual um odor forte podendo ser atribuído à possível presença de acroleína. A Figura 1 demonstra as três formulações: Figura 1. Brilho labial controle (F1), brilho labial com extrato com cera + açaí (F2) e brilho labial com cera bruta (F3). A formulação de produtos cosméticos devem respeitar a integridade da pele, mantendo o pH fisiológico (entre 4 a 6,5), ser bastante tolerada e de inocuidade toxicológica e microbiana, além da textura agradável e de fácil emprego (Peyferitte, 1986). Deste modo, o pH médio dos três tratamentos mantiveram-se a 5,5, obedecendo a margem de tolerância. Em relação à umidade de produtos labiais, não foram encontrados parâmetros na literatura para avaliação com os dados obtidos. No entanto, pode-se observar que F1 não apresentou teor de umidade significativo, o que pode corresponder ao caráter lipofílico das matérias-primas utilizadas, não indicando a presença de água ligada, nem atividade de água. O tratamento F2 demonstrou a presença porcentual de umidade em relação a F1 quase o triplo, por conta do extrato de cera não ter sido extraído com solvente seletivo e coletando, portanto, a água presente no caldo de cana, além do açaí natural adicionado e açúcares, sais, ácidos orgânicos e albuminóides contidos no caldo de cana (Meade e Chen, 1977), que também pode ter contribuído para a heterogeneidade do produto final, tendo maior suscetibilidade à contaminação microbiana, segundo Yamamoto et al (2004), a contaminação patogênica pode comprometer a instabilidade, modificar as características físicas e inativação dos princípios ativos . Já F3 apresentou uma taxa de umidade levemente superior ao controle, onde todas as matérias-primas empregadas possuíam caráter lipídico, porém é possível ter ocorrido a não separação de todo o etanol utilizado na extração da cera, e sendo o mesmo da ordem de 96 ºGL e uma pequena quantidade de água pode ter permanecido, além de seu caráter higroscópico sendo possível ter absorvido a umidade atmosférica à formulação. F3 F1 F2 394 Cera de cana-de-açucar na formulação de um brilho labial a partir de extração simples e por bioetanol Ferraz et al. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.4, p.389-396, 2012 Tabela 2. Análise de pH e teor percentual de umidade e cinzas de F2 comparadas ao controle. Formulações pH UMIDADE (%) CINZA ( %) F1 (5,5 ± 0)1 (0,57 ± 0,4) (0,7 ± 0,08) F2 (5,5 ± 0) (3,7 ± 4,1) (0,7 ± 0,35) 1Média ± Desvio padrão Tabela 3. Análise de pH e teor percentual de umidade e cinzas de F3 comparadas ao controle. Formulações pH UMIDADE (%) CINZA (%) F1 (5,5 ± 0) 1 (0,57 ± 0,4) (0,7 ± 0,08) F3 (5,5 ± 0) (0,75 ± 0,31) (1,6 ± 0,11) 1Média ± Desvio padrão Tratando-se do material inorgânico presente nas formulações, não foram constatados parâmetros na literatura referentes ao brilho labial e, segundo Atz (2008) não existe legislação específica em relação aos resíduos de elementos tóxicos como As, Cd, Co, Cr, Cu, Ni, Pb e Hg. Segundo as pesquisas do mesmo autor para a concentrações destes elementos tóxicos em amostras de batom de cor prata, foram obtidos um teor médio total de 4, 225 µg g-1. Foi possível observar com os dados obtidos que F1 apresentou uma quantidade menor de material inorgânico comparado à F2 e F3, atribuindo ao fato de a vaselina sólida e líquida serem compostas majoritariamente por hidrocarbonetos (e em menor proporção por material inorgânico, já que a diferença básica entre as formulações foi a substituição da vaselina e do aromatizante artificial). O tratamento F2 representou uma quantidade maior das cinzas comparado ao controle, já que no composto de cera obtido por extração simples pode conter fosfatídeos e ácidos inorgânicos. O terceiro tratamento apresentou o maior teor de cinzas, o que pode ser atribuído pela questão de o extrato de cera bruta utilizado concentrar matéria inorgânica, como os fitoesteróis, iodo, ácidos orgânicos e inorgâncos (Taupier et al, 1988), fósforo, ácido octacosanóico, oléico e palmítico (VIEIRA, 2003). Já a análise sensorial (Tabela 5), observou-se que a substituição do aroma padrão de morango pelo flavorizante natural de açaí em F2, pode ter sido confundido com os ativos utilizados, dos quais não foram homogeneizados. A isenção de cheiro em F3 diminuiu a intensidade de aprovação alterando significativamente (p<5%) em relação à F1. Porém, F2 não constatou diferenças mínimas significativas comparadas a F1. Já com F3 houve menor aceitabilidade comparada ao controle sendo, portanto, alteradamente significantes a (p<5%). Correlacionando a textura visual dos três tratamentos com o aspecto macroscópico homogêneo e com a coloração amarela clara, F1 expressoua mesma aceitabilidade à heterogeneidade de F2. Contudo, F3, de coloração marrom-esverdeada intensa foi estatisticamente inferior ao controle. A Tabela 4 faz referência à análise estatística do teste F de Tukey a 5% de significância e demonstra a avaliação das três formulações de brilho labial. Cera de cana-de-açucar na formulação de um brilho labial a partir de extração simples e por bioetanol Ferraz et al. 395 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.4, p.389-396, 2012 Tabela 4. Média dos atributos sensoriais das formulações de brilho labial1 e 2. Atributos Formulações Aroma Brilho Textura F1 7,88 ± 1,7 a 7,35 ± 1,4 a 7,3 ± 1,8 a F2 5,63 ± 2,7 b 6,57 ± 1,9 ab 7,01 ± 2,4 ab F3 5,31 ± 2,7 b 6,32 ± 1,8 b 6,06 ± 2,3 b DMS3 1,04 0,92 1,07 1 Média ± Desvio padrão 2 Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (<5%). 3 DMS: Diferença mínima de significativa do teste de Tukey ao nível de significância 5%. Perspectivas Na indústria farmacológica, a cera tem possibilidade de substituir o material sintético do produto e atribuir particularidades anti- radicais livres e baixo aspecto gorduroso, sendo necessários tratamentos posteriores à extração para a redução de umidade, parâmetros organolépticos desejáveis. Para a utilização do F2 é necessária uma metodologia do brilho labial que veicule todos os compostos contidos no caldo de cana que foram carregados com a cera, com os ativos da formulação, inclusive o carboidrato e os sais, de modo a não ocorrer à separação de fases. Necessita de análise que comprove a composição da cera bruta, já que HPA podem ter sido arrastados na extração com etanol. Como a cera bruta de cana-de-açúcar foi incorporada à formulação do cosmético sem a formação de dupla fase, existe a necessidade de remoção do odor intenso da cera e incluir processos que lhe atribuam satisfatoriamente o brilho e textura convencional. Além disso, análises quanto às de atribuições do iodo e o fósforo contidos no cosmético com a utilização da cera bruta, e também de estudos que determinem a disponibilidade do policosanol, a influência e seu respectivo efeito no referido cosmético. CONCLUSÕES Pode-se concluir que a aceitabilidade geral dos produtos foi maior em F1, seguida por F2 e F3. F1 apresentou maior textura gordurosa já F2, por apresentar maior teor de umidade, ficou mais suscetível à instabilidade física, contaminação microbiana e degradação por hidrólise. Apesar de F3 ter apresentado menor escala na preferência em brilho, aroma e textura, ela apresentou uma resistência física elevada sob temperatura ambiente ao final da análise sensorial Portanto, a partir dos dados deste trabalho, concluiu-se que a cera bruta de cana-de-açúcar tem potencial para o emprego no brilho labial. AGRADECIMENTOS À Escola Superior Luiz de Queiroz (ESALQ) e ao professor Dr. Claudio Lima de Aquiar por disponibilizar a utilização do equipamento Sohxlet. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Adamenas, J. O negócio é fazer cera. Química e derivados. São Paulo, n. 192, ago. 1982. Atz, V. L. Desenvolvimento de métodos para a determinação de elementos traço em sombra para área dos olhos e batom. 2008. Instituto de Química. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, (Dissertação de Mestre em Química). 396 Cera de cana-de-açucar na formulação de um brilho labial a partir de extração simples e por bioetanol Ferraz et al. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.4, p.389-396, 2012 Christie, W. W. Waxes: structure, composition, occurrence and analysis. Dunde: Scottish Crop Research Institute, 2003. Cortez, L.; Magalhãe, P.; Happi, J. Principais sub-produtos da agroindústria canavieira e sua valorização. Revista Brasileira de Energia, Itajubá, v. 2, nº 2, p. 1-17, 1992. Gandra, K. M. Obtenção e caracterização de cera de cana-de-açúcar e suas frações. Dissertação: (Mestre em Tecnologia dos alimentos) – Departamento de tecnologia dos alimentos. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2006. Ferreira, V. L. P. Análise sensorial: testes discriminativos e afetivos. Campinas: SBCTA, 2000. 127 p. Li, S.; Parish, J.; Boos, T. L. The chemistry of waxes and sterols. In: AKOH, C.; MIN, D. B. Food Lipids – Chemistry, Nutrition and Biotechnology. New York: Marcel Dekker, 1998. Chap. 4, pg. 89 – 114. Meade, G.P.; Chen, J.C.P. 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