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Igor Augusto de Melo Dias Gestão e Empreendedorismo Igor Augusto de Melo Dias GESTÃO E EMPREENDEDORISMO Belo Horizonte Janeiro de 2016 COPYRIGHT © 2016 GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO Todos os direitos reservados ao: Grupo Ănima Educação Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. Edição Grupo Ănima Educação Vice Presidência Arthur Sperandeo de Macedo Coordenação de Produção Gislene Garcia Nora de Oliveira Ilustração e Capa Alexandre de Souza Paz Monsserrate Leonardo Antonio Aguiar Equipe EaD Conheça o Autor Igor Augusto de Melo Dias leciona, desde 2009, as disciplinas Teorias da Administração, Gestão de Pessoas e Gestão de Processos. Ele é graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário UNA, especialista em Gestão Estratégica de Negócios (UNA) e em Gestão Pública (UEMG) e mestre em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro. Atuou, durante oito anos, no setor privado, em empresas como Vale, Oi e Unimed- BH. Atualmente, além da docência, ele exerce o cargo de Analista em Planejamento e Gestão no governo federal. A disciplina “Gestão e Empreendedorismo” compõe a área de gestão e convida a uma reflexão sobre o processo empreendedor que parte do princípio de que o ato de empreender não se limita à criação de uma empresa. Todas as vezes que criamos algo novo, inusitado, ou provocamos uma inovação em algo já existente, estamos empreendendo. Portanto, o processo empreendedor requer do indivíduo um comportamento diferenciado que ultrapasse as técnicas gerenciais. Pensando nesse aspecto, a disciplina propõe uma reflexão sobre o desafio deste século que é conciliar a capacidade produtiva e lucrativa com a gestão ambiental e social. Aponta-se que o mercado não é mais complacente com empresas que não preveem em suas práticas organizacionais uma gestão responsável. Refletimos, portanto, sobre um futuro que já bate à nossa porta. A disciplina também propõe que o ato de empreender depende da capacidade do indivíduo em reconhecer oportunidades e, partir disso, se empenhar em concretizá-las por meio de metodologias que permitem organizar as ideias, tais como o modelo de negócios Canvas e o plano de negócio. A inovação é matéria-prima do empreendedor, entretanto, para concretizá-la, é preciso angariar recursos financeiros e uma certa assessoria. Logo, a disciplina também aborda aspectos relacionados à aquisição de recursos financeiros, bem como aos tipos de assessoria as quais o empreendedor pode buscar auxílio durante a árdua tarefa de sobreviver no mercado. Por fim, a disciplina discute conceito essenciais do gerenciamento de uma empresa, por meio dos conceitos de estratégia, gestão de projetos e liderança transformadora, sempre com foco na área de saúde. Bons estudos! Apresentação da disciplina UNIDADE 1 002 Introdução ao Empreendedorismo 003 Inspiração Empreendedora 006 Empreendedorismo: Conceitos Básicos 011 A Importância do Empreendedorismo para o Desenvolvimento Econômico 015 Perfil Empreendedor 020 Revisão 027 UNIDADE 2 029 Os Desafios da Inovação 030 O que é Inovação? 033 As Diferenças entre Imitação, Inovação e Invenção 038 Características e Tipos de Inovação 042 As Vantagens Competitivas da Inovação 047 Revisão 048 UNIDADE 3 051 Mapeando Oportunidades 052 Oportunidades Pessoais – Descobrindo a Si Mesmo 053 Ideia x Oportunidade 057 Critérios para Análise de Oportunidades 062 Revisão 069 UNIDADE 4 072 Metodologias empreendedoras 073 Design Thinking 077 Modelo de Negócio Canvas 081 Estrutura do Plano de Negócio 091 Análise de Mercado 095 Revisão 104 UNIDADE 5 106 Marketing para Empreendedores 107 Conceitos de Marketing 110 A Importância do marketing 110 Redes de relação 114 Mercados e Orientações da Empresa com Relação ao Mercado 118 Segmentação de Mercados (Clientes) 122 Composto de Marketing: Produto, Preço, Praça e Promoção - Atualização dos 4Ps 124 Marketing Digital 127 Entendendo o Consumidor On-line 128 Revisão 134 REFERÊNCIAS 197 UNIDADE 6 137 Formas de assessoria e financiamento para novos empreendimentos 138 Fontes de assessoria para o empreendimento 140 Como financiar seus empreendimentos 148 Programas do governo brasileiro 166 Revisão 169 UNIDADE 7 170 Arranjos empresariais e startups 171 Clusters de inovação e arranjos produtivos locais 173 Empresas de base tecnológica 180 Startup: desenvolvimento e características 182 Revisão 195 UNIDADE 8 197 Gestão de Organizações Ligadas Direta ou Indiretamente à Área da Saúde 198 Conceito de Planejamento Estratégico 200 Controle Estratégico 215 Gestão de Projetos 216 A liderança Transformadora 220 Revisão 227 Introdução A História de Lisabeth Braun e criação da Dermage Em 1978, incomodada com o trabalho em um laboratório de análises clínicas, a recém-formada farmacêutica Lisabeth (Lisa) Braun, 53 anos, resolveu arriscar criando a “Dermatus”, a primeira farmácia de manipulação no Rio de Janeiro. Percebendo na época que se tratava de uma grande oportunidade graças as suas viagens por outros países, e contrariando todos os fortes preconceitos da época sobre uma mulher no mercado de trabalho, principalmente como empreendedora, vendeu seu carro e junto com uma sócia, criou seu primeiro negócio em uma pequena sala comercial no tradicional bairro de Copacabana. A Dermatus chegou a ter 4 lojas, mas por divergências de visão de futuro do negócio, Lisa se separou da antiga sócia em 1990 para então criar a Dermage, contando com seu marido, o engenheiro- civil e administrador Walter Braun, com então 57 anos, como sócio e diretor administrativo-financeiro, e sua filha Ilana Braun, 29 anos, advogada e economista que atua desde 2005 como diretora comercial. Hoje, a Dermatus possui 5 lojas no Rio de Janeiro e a marca “Dermage 28”, entre lojas próprias e franquias. O Brasil é um dos países que mais consomem cosméticos no mundo. A classe média, cujo poder aquisitivo tem aumentado nos últimos anos, lidera o uso de produtos de beleza, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. A cada 100 brasileiros que compram cremes corporais, Introdução ao Empreendedorismo • Inspiração Empreendedora • Empreendedorismo: Conceitos Básicos • A Importância do Empreendedorismo para o DesenvolvimentoEconômico • Perfil Empreendedor • Revisão por exemplo, 53 pertencem a essa faixa de renda. A Dermage, empresa carioca que atua no desenvolvimento, na produção e venda de dermocosméticos, é uma das companhias que mais podem se beneficiar com esse cenário - afinal, seu público-alvo são mulheres das classes A e B, com 20 a 55 anos, preocupadas com beleza e saúde. A Dermage surgiu da união de dois mundos: cada unidade era, ao mesmo tempo, uma farmácia de manipulação e uma loja de dermocosméticos. Graças ao relacionamento que Lisa desenvolveu com dermatologistas, alergistas e cirurgiões plásticos ao longo de doze anos, a linha Dermage logo foi ganhando a preferência deles, que, em vez de receitarem as fórmulas, passaram a recomendar os produtos prontos aos pacientes. Hoje, a companhia tem uma base de seis mil médicos cadastrados e tem investido maciçamente para se tornar a marca de dermocosméticos que mais entende da pele e do clima dos brasileiros. Hoje, a empresa é multicanal, presente em todo o território nacional, com 35 lojas entre próprias e franquias, e 80 pontos de revenda multimarcas e nas principais redes de drogaria do Rio de Janeiro e São Paulo. A linha Dermage possui mais de 100 produtos para rosto, corpo e cabelos, além de protetores solares e maquiagem - todos produzidos em laboratórios próprios, com tecnologia de ponta e matéria-prima de última geração e com foco em cuidar da pele dos brasileiros. O caso apresentado no começo desta unidade é apenas um dentre vários exemplos que iremos estudar ao longo da nossa disciplina. A história da Lisabeth Braun nos ajuda a compreender diversos conceitos que iremos estudar a partir de agora. Você sabe qual o significado da palavra “empreendedorismo”? Quais são os impactos que os empreendedores podem gerar no desenvolvimento econômico de um país? Você sabe o que é atitude empreendedora? Esta unidade tem a finalidade de responder a essas e outras questões. O empreendedor é um agente de transformação que carrega consigo um perfil específico, com características como criatividade, inovação, persistência, dentre outras. Sendo assim, é imprescindível saber mais sobre o perfil do empreendedor e entender que existem diferenças entre empreendedores e administradores. Em meio às discussões propostas, são introduzidos dois conceitos, um relacionado às motivações empreendedoras: empreendedorismo por necessidade (executado em função de uma necessidade pessoal) x empreendedorismo por oportunidade (executado em função de uma oportunidade vislumbrada) e outro relacionado ao intraempreendedorismo (funcionários com espírito empreendedor). GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 7 Inspiração Empreendedora A revelação do comportamento empreendedor exige uma reflexão inicial: quem somos? De onde vem a inspiração empreendedora? Em algum momento, nos vemos como um modelo de negócio? Ou será que estamos no mundo como um barco à deriva? Pesce (2016) e Clark et al. (2013) tratam a questão empreendedora de uma forma abrangente, para além da abertura de um negócio. Esses autores ajudam a conhecer e encontrar as competências e habilidades, uma forma de inovar. De acordo com eles, pode-se, a partir de autoconhecimento e do planejamento, construir o próprio modelo de negócios. Para tanto, temos que estar preparados para nos reinventar e desenvolver o comportamento empreendedor. Pesce (2016), em seu livro “Procuram-se super-heróis”, esclarece que pessoas empreendedoras carregam grandes habilidades. Ela define essas pessoas como: [...] pessoas que têm superpoderes e mais superpoderes, e muitas vezes nem sabem disso. Pessoas que fazem os outros se sentirem queridos, úteis e importantes. Pessoas que dão bons exemplos. Pessoas que escutam e falam com entusiasmo. Pessoas que sabem criar ambientes de trabalho que permitem a outros fazerem o melhor trabalho de suas vidas. Pessoas que pedem desculpas e perdoam. Pessoas que fazem boas perguntas. Pessoas que não julgam nem têm inveja ou preconceito. Pessoas que veem as coisas pelo lado positivo. Pessoas que criam situações em que todo mundo ganha. Pessoas que querem se conhecer melhor (PESCE, 2016, p.10). De acordo coma autora, conhecer-se melhor é um bom caminho para um comportamento empreendedor. A relação entre comportamento empreendedor e autoconhecimento não é assunto novo na psicologia. Skinner, pai do behaviorismo Pesce (2016) e Clark et al. (2013) tratam a questão empreendedora de uma forma abrangente, para além da abertura de um negócio. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 8 radical, na década de 70, já apontava o significado do autoconhecimento para o indivíduo: [...] o autoconhecimento tem um valor especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa que se ‘tornou consciente de si mesma’ por meio de perguntas que lhe foram feitas está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento (SKINNER, 1974, p. 31). A novidade está, portanto, em usar o autoconhecimento como forma de identificar aquilo que te faz feliz e, ao mesmo tempo, faz de você uma pessoa inovadora. De acordo com Barbieri (1997), a inovação é a capacidade de colocar soluções criativas para os problemas e as oportunidades, como o objetivo de melhorar e enriquecer a vida das pessoas. Não basta ter novas ideias, é preciso transformá-las em um produto tangível, torná-las um empreendimento, serviço ou negócio. O empreendedor tem um papel fundamental dentro desse prisma: reformar ou revolucionar o padrão de produção, explorando uma invenção ou, de modo geral, um método tecnológico não experimentado para produzir um novo bem, ou um bem antigo de maneira nova. A atitude empreendedora leva o indivíduo a providenciar soluções viáveis para as necessidades das pessoas. Esse processo de tradução de uma ideia ou invenção em um bem ou serviço é que cria valor aos anseios e atende às expectativas dos consumidores que, certamente, pagarão por aquilo que necessitam. Essas ideias passam por uma seleção com o objetivo de chegar a um modelo que esteja em sintonia com o investimento e com o tempo para o seu desenvolvimento, e que, ao mesmo tempo, seja inovadora. A atualidade apresenta vários exemplos de pessoas que resolveram inovar dando uma guinada em sua vida a partir da identificação A atitude empreendedora leva o indivíduo a providenciar soluções viáveis para as necessidades das pessoas. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 9 das suas competências e habilidades que se tornaram grandes inspirações empreendedoras. Exemplo disso é o caso do Edgar Corona, fundador da Smart Fit, formado em Engenharia Química, ele começou a empreender ainda durante a faculdade, montando uma confecção com alguns colegas. Depois de formado, atuou em uma usina de açúcar da família, contudo, em virtude de conflitos entre os membros da família, Corona conta que colocaram ele para fora do negócio. Foi aí que ele resolveu montar o seu próprio negócio. O ramo escolhido foi totalmente diferente dos outros dois: uma academia de ginástica. Mas, ao contrário do sucesso das redes “Bio Ritmo” e “Smart Fit”, a primeira unidade foi um fracasso. “Montamos tudo errado: endereço errado, arquiteto errado, e o negócio não deu certo”, diz. Prestes a falir, Corona teve a chance de recomeçar com uma nova unidade na Avenida Paulista, em São Paulo. “Tentamos mirar um pouco no cliente e fizemos diferente, com uma arquitetura legal, mudando conceitos da academia com foco na experiência do cliente”, diz. Da iluminação aos vestiários, tudo foi pensado para conquistar o exercício(Reportagem da PEGN -16 abr. /2016). Hoje, a Smart Fit é a maior rede de academias do Brasil, do México e da América Latina, com 320 unidades. A história de Edgar Corona mostra que ser um empreendedor de sucesso exige postura positiva diante das dificuldades, criatividade na sua superação e persistência em relação aos objetivos, dentre outras importantes características. Para dar suporte ao desenvolvimento empreendedor, existem instrumentos que podem e devem ser utilizados. De acordo com Degen (2009), há duas frases conhecidas para ilustrar os motivos pelos quais o empreendedor deve utilizar essas ferramentas. A primeira é do filosofo e professor chinês Confúcio (c. 551-479 a. C.): “os cautelosos raramente erram”, e a segunda Da iluminação aos vestiários, tudo foi pensado para conquistar o exercício (Reportagem da PEGN -16 abr. /2016). GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 10 do fabulista grego Esopo (c. 620-560 a. C.): “pense antes de agir”: as duas remetem à ideia de não ser aventureiro sem mapa e sem objetivo. Os instrumentos empreendedores são necessários para a redução dos riscos no empreendedorismo. É importante salientar que se pode criar o próprio plano, mesmo que a intenção não seja abrir um negócio. Pode-se, por exemplo, desejar atuar na comunidade em que se vive ou implementar as suas habilidades em prol da sociedade. Uma das formas de fazer isso é por meio do empreendedorismo social e sustentável. Segundo Melo e Froes (2002), o empreendedorismo social é uma das formas mais tangíveis de inovação dentre os tipos de empreendedorismo. O empreendedor social não produz bens e serviços para vender, mas para solucionar problemas sociais. Não é direcionado para mercados, mas para segmentos populacionais em situações de risco social (exclusão social, pobreza, miséria, risco de vida). Um exemplo de empreendedor social é o da Dona Geralda, fundadora da ASMARE (Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Outros). A ASMARE é conhecida por gerar emprego e renda para dezenas de pessoas na grande Belo Horizonte, além de contribuir de forma definitiva para conscientização da população sobre o reaproveitamento de materiais. Uma das formas de fomentar o empreendedorismo social são as incubadoras voltadas para a área social, como a Ashoka, por exemplo, cuja missão é: Dar suporte a empreendedores sociais que estão apoiando e colaborando com a nossa visão, com uma equipe multidisciplinar e integrada (Team of Teams), que entende a fluidez de uma sociedade em rápida evolução. A Ashoka acredita que todas as pessoas podem aprender e aplicar as habilidades de empatia, trabalho em equipe, liderança colaborativa e postura ativa de transformação. Dessa forma, serão cidadãos bem-sucedidos no mundo moderno, capazes de promover mudanças em seu entorno (ASHOKA BRASIL, 2016). Um exemplo de empreendedor social é o da Dona Geralda, fundadora da ASMARE. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 11 Já na área de desenvolvimento de empresas, existem as incubadoras de base tecnológica que, segundo Dornelas (2008, p. 14), tem como objetivo: “a produção de empresas de sucesso, em constante desenvolvimento, financeiramente viáveis e competitivas, em seu mercado, mesmo após deixarem a incubadora, geralmente em um prazo de 2 a 4 anos”. Além das incubadoras, os parques tecnológicos também são bastante úteis ao empreendedorismo. Exemplo disso é o Vale do Silício, que contribuiu para o surgimento de uma grande variedade de startups de tecnologia (empresas jovens e extremamente inovadoras em qualquer área ou ramo de atividade que procuram desenvolver um modelo de negócio escalável e repetível), muitas em mercado de alto potencial (PESCE, 2016). Além de pensar a respeito das formas de assessoria para um negócio, como as incubadoras, o empreendedor também deve se preocupar com as fontes de financiamento. O caminho do empreendedor é uma jornada de construção do futuro. No início, há uma inquietação de criar algo novo, produtivo, que transforme a realidade, uma ideia. O final, aparentemente, é ver a ideia concretizada por meio de uma empresa, de uma ação social, de uma mudança na organização de atuação do empreendedor. No entanto, não é bem assim, pois, parodiando um dito popular, “uma vez empreendedor, sempre empreendedor”. Isto é, quando se começa a desenvolver ideias e a realizá-las não se para mais, quer sempre fazer, construir e realizar mais. O mundo é sempre dinâmico, vive-se no meio de uma rede empreendedora e, por isso, é necessário um desenvolvimento constante de novas características e comportamentos empreendedores. A personalidade empreendedora transforma a condição mais insignificante em uma excepcional oportunidade. O empreendedor é o visionário dentro de nós. O sonhador. A energia por trás de todas as atividades humanas. A imaginação que acende o fogo do futuro. O catalizador das mudanças (GERBER, 1996, p.31). Quando se começa a desenvolver ideias e a realizá-las não se para mais, quer sempre fazer, construir e realizar mais. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 12 Empreendedorismo: Conceitos Básicos Conta a história que dois monges, um sábio e um aprendiz, foram visitar um sítio onde morava uma família muito pobre. Rapidamente notaram que a única fonte de renda da família era uma vaca magra que, de acordo com o pai, era suficiente para lhes dar o sustento. Ao terminar a visita, os dois monges iam se retirando do sítio, quando o monge sábio pediu ao aprendiz que jogasse a vaca no precipício. O aprendiz ficou muito incomodado com o pedido, mas resolveu atendê-lo. Tempos depois, o monge aprendiz, inconformado com o que tinha feito, resolveu voltar ao sítio. Chegando lá, o aprendiz viu um cenário muito diferente do que encontrara na vez anterior. Agora o sítio estava cheio de plantação e de animais, inclusive de várias vaquinhas. O aprendiz, então, perguntou ao proprietário o que havia acontecido. Então, ele lhe respondeu: “algum tempo atrás, logo que vocês nos visitaram a nossa velha vaquinha caiu no precipício, achamos que seria o fim do mundo. Entretanto, isso nos deu coragem para mudar, desenvolver em nós habilidades e competências para descobrir novas oportunidades que antes não víamos por estarmos acomodados com a vaquinha”. Essa história mostra que todos precisam se desvincular da “vaquinha”, de ideias ultrapassadas e abrir a mente para novos comportamentos. É esse o convite que o empreendedorismo faz. Certamente, nos últimos tempos, de alguma forma, já ouviu sobre este termo, “empreendedorismo”, certo? Seja na TV, no rádio e em programas do governo, essa palavra tem sido bastante veiculada e, quase sempre, ligada à inovação. Embora tenha ganhado vigor somente a partir da década de 90, o termo “empreendedorismo” existe há mais de 800 anos. Segundo Dolabela (2006, p. 29) “empreendedorismo não é um tema novo ou modismo: existe desde sempre, desde a primeira ação humana inovadora, com o objetivo de melhorar as relações do homem com os outros e com a natureza”. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 13 O “empreendedorismo” é uma palavra derivada do verbo francês entreprende (empreender) que é usada para designar o ato de “fazer algo”. Quem é que nunca “fez algo” novo? Quem é que nunca criou, reinventou ou inovou? Todo ser humano, em algum momento da vida, já utilizou essas habilidades, afinal, a criatividade é aspecto inerente à condição humana. Desde a criação da roda até os mais modernos aparelhos eletrônicos da atualidade, deparamo-nos com uma série de invenções que transformaram a vida humana. Um dosmais marcantes empreendedores da história foi Marco Polo, homem de muitas facetas, que atuou como explorador, embaixador e mercador. Como explorador, Marco Polo tentou estabelecer uma rota comercial para o oriente e, como empreendedor, assinou um contrato com um homem rico na promessa de vender suas mercadorias. Dornelas (2008) explica que o termo “empreendedorismo”, durante a história, foi utilizado de várias maneiras para designar indivíduos que se diferenciaram dos demais, devido as suas características, tais como: criatividade, coragem e poder de transformação. Na Idade Média, o termo era usado para identificar indivíduos que assumiam grandes riscos ao gerenciar projetos de produção cujos recursos eram oriundos dos governos dos países. Já no século XVII, Dornelas (2008) explica que eram considerados empreendedores aqueles que firmavam contratos com o governo a fim de fornecer algum produto ou serviço. O termo “empreendedorismo”, durante a história, foi utilizado de várias maneiras para designar indivíduos que se diferenciaram dos demais GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 14 FIGURA 1- Thomas Edison: o valor das ideias1 1Tradução: O valor de uma ideia reside na utilização da mesma. Fonte: Site “Startup Quote” Thomas Edison. No século XVIII, a palavra ganhou outro viés, vindo a ser usada para identificar pesquisadores como Thomas Edison e outros estudiosos da eletricidade e da química. Ao final do século XIX e início do século XX, Dornelas (2008) afirma que os empreendedores passaram a ser frequentemente confundidos com administradores. Foi somente em 1945 que o termo “empreendedorismo” ganhou contornos próprios. Um dos mais importantes economistas, Joseph Schumpeter, debruçou-se sobre esse tema, tornando-se um dos grandes responsáveis pelos estudos a respeito do empreendedorismo. Schumpeter (1982), ao desenvolver sua Teoria da Destruição Criativa, dissertou sobre o impacto da criação de novos produtos na destruição de empresas e modelos de negócios que não inserem a inovação em suas práticas organizacionais. Nesse contexto, o autor apresenta o “empreendedorismo” como o principal elemento para o desenvolvimento da economia e aponta o empreendedor como um GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 15 agente de mudança, responsável pela inovação. Esta, por sua vez, como a grande responsável pelo constante progresso econômico. Assim, Schumpeter define o empreendedor como: [...] uma pessoa que deseja e é capaz de converter uma nova ideia ou invenção em uma inovação bem sucedida e sua principal tarefa é a “destruição criativa”, a qual se dá por meio da mudança, ou seja, por meio da introdução de novos produtos ou serviços em substituição aos que eram utilizados (SCHUMPETER, 1982, p. 26). A partir da concepção trazida por Schumpeter (1982), vários estudiosos deram sua contribuição na definição de “empreendedorismo”. De acordo com Wildauer (2010, p. 25), “empreendedorismo” é a “capacidade que uma pessoa possui de formular uma ideia sobre um determinado produto ou serviço em um mercado, seja essa ideia nova ou não”. Já Birley e Muzika (2005) defendem que, independentemente dos recursos que o empreendedor possui, a capacidade empreendedora está ligada às oportunidades vislumbradas por ele. Dornelas também traz sua contribuição a essa discussão, ao afirmar que: “o empreendedorismo envolve o processo de criação de algo novo, de valor [...] requer a devoção, o comprometimento de tempo e o esforço necessário para fazer a empresa crescer” (DORNELAS, 2008, p. 23). Seguindo essa linha, é possível compreender o empreendedor como aquele que tem capacidade de reconhecer situações que possam ser consideradas oportunidades. Isso significa que ação empreendedora implica a criação de produtos ou acesso a mercados ainda inexploradas por meio de novas empresas ou organizações já em funcionamento (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014). É possível compreender o empreendedor como aquele que tem capacidade de reconhecer situações que possam ser consideradas oportunidades. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 16 Por meio da contribuição trazida pelos autores, fica fácil compreender que o empreendedorismo está ligado a um comportamento inovador, que pode ou não se concretizar por meio da abertura de uma empresa. Em outras palavras, empreender não se limita a criar uma empresa. O comportamento empreendedor vai além desse aspecto e anda de mãos dadas com qualquer tipo de inovação. E você? Será que você possui um comportamento empreendedor? Faça o teste disponível no tópico “Aplicação na Prática” desta unidade e tire suas conclusões. Apesar das várias definições existentes para o termo “empreendedorismo”, os autores concordam com a premissa desenvolvida por Schumpeter (1982), de que o empreendedorismo, por meio da inovação, propulsiona o desenvolvimento econômico. A Importância do Empreendedorismo para o Desenvolvimento Econômico “Parabéns! Você está empregado!” Até a década de 70, essa era a frase que milhares de graduados costumavam ouvir assim que se formavam. Grandes empresas nacionais e multinacionais, ou órgãos públicos absorviam grande parte da mão de obra que se formava naquela época. Os salários eram convidativos nas empresas privadas e a estabilidade oferecida pelas repartições públicas era o sonho de muita gente. Frente a essa realidade, o ensino superior era voltado para os aspectos específicos da profissão, não havia o interesse em discutir o empreendedorismo. Até mesmo os cursos de administração ou de gestão tinham como foco a gerência de uma empresa, deixando de lado aspectos relacionados ao comportamento empreendedor. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 17 Contudo, esse cenário mudou. Na década de 90, pôde-se observar o aumento do número de desempregados (gráfico 1). A mudança foi movida pelo contexto econômico e pela aceleração de abertura de instituições de ensino superior no Brasil. Assim, o aumento do número de instituições de ensino superior provocou, por consequência, um número cada vez maior de profissionais no mercado, intensificando a concorrência entre eles. Com um mercado profissional extremamente competitivo, foi preciso que o indivíduo revisasse sua renda, buscando alternativas. O caminho encontrado para isso foi o empreendedorismo. GRÁFICO 1 - Porcentagem de desocupados na PEA (População Economicamente Ativa) Fonte: ECONOMIA e SOCIEDADE, 2003, p.115. Então, na década de 90, o Brasil voltou o seu olhar para o que estava acontecendo no mundo e percebeu que essa necessidade de adequação, frente às transformações que estavam ocorrendo, GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 18 não era exclusivamente sua. O empreendedorismo estava se apresentando para o mundo todo como a alternativa mais promissora diante dos problemas econômicos. Os seus benefícios eram evidentes em países como os Estados Unidos, que na década de 90, vivenciou a redução da inflação e das taxas de desemprego ocasionada pelas políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento do empreendedorismo. Dornelas (2008) exemplifica algumas dessas políticas públicas, como: programas de incubação de empresas e parques tecnológicos; programas de incentivos governamentais para a promoção da inovação; subsídios governamentais para a criação de novas empresas, entre outros. Além dessas ações de estímulo ao empreendedorismo, pôde- se ver todo um movimento mundial voltado para educação empreendedora. Notou-se o desenvolvimento de currículos integrados às práticas empreendedoras em todos os níveis, no educação fundamentalaté o ensino superior. Dornelas (2008) aborda alguns desses programas desenvolvidos no mundo, tais como: • Cap’tem (Bélgica): inserção de práticas empreendedoras no currículo da educação infantil, com a finalidade de desenvolver nas crianças, desde cedo, as habilidades da criação e da inovação; • Boule and Bill Createna Enterprise (Luxemburgo): programa voltado para as crianças. O programa baseia-se em histórias em quadrinhos que estimula crianças a agirem de forma empreendedora; • NetWork For Training Entrepreneurship: programa que teve origem nos Estados Unidos e foi replicado em outras regiões do mundo. Consiste em ensinar o empreendedorismo para jovens em situação de risco social. Todo esse esforço realizado no mundo, em prol do empreendedorismo, deve-se, segundo Dornelas (2008), a O empreendedorismo estava se apresentando para o mundo todo como a alternativa mais promissora diante dos problemas econômicos. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 19 um consenso geral a respeito dos benefícios das ações empreendedoras para o desenvolvimento econômico. Para Dornelas (2008, p. 9), “o Empreendedorismo é o combustível para o crescimento econômico, criando emprego e prosperidade”. David (2004) reforça os argumentos de Dornelas ao explicar a razão pela qual o empreendedorismo ganhou espaço nas escolas de gestão: [...] qual a razão de tanto interesse no Empreendedorismo? Simples: o empreendedor é identificado como um dos fatores de crescimento e desenvolvimento econômico da sociedade, pois é ele quem gera riquezas, implementando inovações de todos os tipos nas organizações contemporâneas (DAVID, 2004, p.15). Para estudar todo esse movimento e seus benefícios, em 1997 um grupo de pesquisadores organizou o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), cujo objetivo é mensurar a capacidade empreendedora de um país e sua relação com o crescimento econômico. O programa GEM, de acordo com o IBQP – Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade - é o maior estudo anual sobre a dinâmica empreendedora e conta com a participação de mais de 60 países. No Brasil, o órgão responsável pela pesquisa é o IBPQ e o seu parceiro SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que fornece apoio técnico e financeiro à pesquisa. Os resultados do GEM 2012 são animadores para o país. A pesquisa apontou que o número de empreendedores no Brasil, passou de 20,9% em 2002 para 30,2% em 2012, o que indica que cerca de 36 milhões de brasileiros estão envolvidos com atividades empreendedoras. E, mais do que isso, o resultado do PIB do Brasil, nesse mesmo período, cresceu, indicando uma relação entre a atividade empreendedora e o desenvolvimento da economia brasileira. De acordo com o SEBRAE: [...] a evolução da taxa de Empreendedorismo é compatível com o desenvolvimento da economia, cujo Produto Interno Bruto, PIB, cresceu em média 4% no período. Existe ainda uma tendência de expansão No Brasil, o órgão responsável pela pesquisa é o IBPQ e o seu parceiro SEBRAE. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 20 dessa taxa devido ao ambiente de negócios (Lei Geral, Super Simples e Empreendedor Individual); ao aumento da escolaridade e da renda da população (SEBRAE, 2013). Acredita-se que essa evolução deve-se, entre outros fatores, aos programas desenvolvidos pelo Brasil para o incentivo ao empreendedorismo. São exemplos disso os programas Softex (Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro) e Genesis (Geração de Novas Empresas de Software, Informação e Serviço); Programa Empretec (Metodologia da Organização das Nações Unidas – ONU), este desenvolvido pelo SEBRAE. O Empretec é um programa voltado para o desenvolvimento de características de comportamento empreendedor e para a identificação de novas oportunidades de negócios, além do oferecimento de cursos e programas sobre empreendedorismo por universidades brasileiras em todo o país, entre outras atividades. Apesar de todas as previsões otimistas e das evidências de que o empreendedorismo é uma força motriz para a economia, vale ressaltar que a criação de uma empresa por si só não gera desenvolvimento econômico. Em outras palavras, não basta simplesmente criar uma empresa. Esse empreendimento tem que estar baseado em uma oportunidade real e deve ser bem planejado para que sobreviva aos primeiros anos e, dessa forma, gere os benefícios sociais e econômicos esperados. Assim, é necessário evitar as práticas empreendedoras desorganizadas e intempestivas, realizadas por uma necessidade de sobrevivência do empreendedor, e otimizar o empreendedorismo por oportunidade, que é o que, de fato, um país precisa para crescer de maneira saudável. O empreendedorismo por oportunidade é um tipo de motivação empreendedora que se defronta com o empreendedorismo por necessidade. Em outras palavras, não basta simplesmente criar uma empresa. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 21 Perfil Empreendedor O que caracteriza um empreendedor? Para responder a essa questão, é necessário compreender que um empreendedor possui os atributos de um administrador. Então, pode-se dizer que os termos “empreendedor” e “administrador” são sinônimos? Não, certamente que não. O indivíduo pode ser um administrador, mas não carregar consigo as características de um empreendedor. Dornelas (2008) explica essa diferença ao afirmar que “o empreendedor de sucesso possui características extras, além dos atributos do administrador, e alguns atributos pessoais que, somados a características sociológicas e ambientais, permitem o nascimento de uma nova empresa”, (DORNLEAS, 2008, p. 17). Um dos fatores que mais marca a diferença entre o empreendedor e o administrador é que os empreendedores são visionários e planejam com base na visão de futuro. Além disso, os empreendedores conhecem muito bem o negócio onde atuam, ou, pelo menos, cercam-se de pessoas experientes que possam lhes transferir conhecimento. O empreendedor também busca por soluções novas, é ousado, corre riscos calculados, é criativo e inovador. Filion (1999) resume as características principais do empreendedor ao dizer que este é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos. Além de manter um alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades de negócios. Um empreendedor que continue a aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões, moderadamente arriscadas, que objetivam a inovação, continuará a desempenhar um papel empreendedor. Resumindo nos aspectos essenciais: “um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões” (FILION, 1999, p.19). Já Dornelas (2008) chama a atenção para alguns erros que são comumente cometidos quando o assunto são as características dos empreendedores. De acordo com esse autor, há mitos que devem ser Os empreendedores conhecem muito bem o negócio onde atuam, ou, pelo menos, cercam-se de pessoas experientes que possam lhes transferir conhecimento. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 22 vencidos, tais como: considerar que os empreendedores são natos, que assumem riscos altíssimos e que possuem dificuldade com o trabalho em equipe. O autor afirma ainda que a realidade mostra justamente o contrário. Se considerar que empreendedores são natos, de que adiantariam tantos programas de educação empreendedora? É certo que não se pode negar que algumas pessoas nascem com um conjunto de habilidades que favorecem um comportamento empreendedor, mas isso nãosignifica que o empreendedorismo não possa ser aprendido por meio do desenvolvimento de algumas características. Quem acredita nesse mito fica imobilizado, fadado ao insucesso. Os empreendedores natos existem e vão continuar nascendo, mas isso não invalida, de forma alguma, o processo de ensino das habilidades empreendedoras. Dornelas concorda com essa afirmação ao dizer que: A essência do Empreendedorismo hoje em dia é a busca de oportunidades inovadoras. Para isso, as pessoas não precisam ter um dom especial, como se pensava no passado. Pelo contrário, qualquer pessoa pode aprender o que é ser um empreendedor de sucesso (DORNELAS, 2005, p. 20). Acreditar que os empreendedores correm riscos altíssimos, como loucos, também é um mito grave. Os empreendedores correm riscos, porém, estes são cuidadosamente calculados e planejados. Os empreendedores evitam riscos desnecessários. Outro aspecto importante a considerar é que os empreendedores são excelentes líderes, possuem um ótimo relacionamento com sua equipe. Delegam atividades, valorizam quem está ao seu lado, integram pessoas e conhecimentos. Atuam como facilitadores, conciliando diversas partes: fornecedores, funcionários, clientes, etc. (DOLABELA, 1999). Enfim, pode-se afirmar que o que torna o indivíduo empreendedor é o fato de ele ser visionário, de saber tomar decisões, de fazer a diferença. O empreendedor é alguém que explora ao máximo as oportunidades. De acordo com Dornelas (2008), os empreendedores são determinados e dinâmicos, dedicados, são otimistas e Os empreendedores correm riscos, porém, estes são cuidadosamente calculados e planejados. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 23 apaixonados pelo que fazem. São indivíduos que constroem o próprio destino, são independentes, organizados, bem relacionados, possuem conhecimento, planejam, criam valor para a sociedade e normalmente ficam ricos. Dolabella (1999, p. 12) completa Dornelas (2008), ao afirmar que o comportamento empreendedor inclui “aprender a pensar e agir por conta própria, com criatividade, liderança e visão de futuro, para inovar e ocupar o seu espaço no mercado, transformando esse ato também em prazer e emoção”. Filion (1999) também contribui para essa discussão ao mencionar que o indivíduo precisa de visão, energia, liderança e relações para se tornar um empreendedor. É importante ressaltar que, embora a maioria das definições considere o empreendedor como alguém que crie um novo negócio ou produto, ele pode ser também alguém que inove em negócios já existentes ou em produtos e/ou serviços que já existem. Indivíduos com esse tipo de comportamento são conhecidos como “intraempreendedores”. O intraempreendedor é uma pessoa que empreende em empresas já existentes, por meio de um comportamento inovador. Em outras palavras, é um funcionário diferenciado. A globalização e a crescente competitividade das empresas fizeram o mundo voltar os olhos para esse tipo de indivíduo que agrega muito valor às empresas e as tornam mais competitivas no mercado. Esse indivíduo é um tipo de empreendedor que não tem como objetivo a criação de empresas. Há indivíduos que possuem todas as características empreendedoras, mas que preferem desenvolvê-las nas empresas onde trabalham. De acordo com Filion: Intraempreendedores são pessoas que desempenham um papel empreendedor dentro das organizações. São semelhantes aos empreendedores, salvo que o risco que enfrentam é muito mais baixo, porque estão usando o dinheiro e os recursos da empresa, ao invés dos seus. Se forem bem-sucedidos, serão beneficiados pelo seu sucesso. Trabalham em sistemas organizacionais nos quais têm menos poder Esse indivíduo é um tipo de empreendedor que não tem como objetivo a criação de empresas. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 24 que os empreendedores porque, como eles não são proprietários, tem que seguir regras e diretrizes sobre as quais não tem controle (FILION, 2004, p. 74). Não é difícil compreender que o estudo do intraempreendedorismo tem ganhado espaço nas discussões sobre gestão. Afinal, ter um empreendedor dentro das organizações confere a elas vantagens competitivas. As organizações estão inseridas em um ambiente efervescente de tecnologias, contingências e competidores. Se não criarem um ambiente propício para o aparecimento de inovações, elas perderão espaço no mercado. Teste: Você possui perfil empreendedor? Será que você tem o perfil empreendedor? Faça o teste elaborado pela ACEB e descubra se você possui características empreendedoras. 1 – Ao realizar trabalhos em grupo, você: a) sempre dá ideias e gosta de participar do processo de elaboração do trabalho; b) nunca participa efetivamente e gosta que os outros façam tudo por você; c) dá boas ideias e colabora, mas só quando pedem sua ajuda. 2 – Ao terminar os estudos, qual foi a sua reação? a) Ficou extremamente inseguro, porque não tinha noção do que faria dali pra frente e por isso demorou a decidir que carreira seguir; b) Apesar do medo, decidiu ir à luta e traçar metas profissionais; c) Sentiu-se contente e confiante em enfrentar os desafios que a vida iria lhe proporcionar. 3 – No início de sua carreira profissional, você: a) tentava adquirir conhecimentos e experiência com os demais GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 25 funcionários, mas nunca acreditou que isto o levaria a crescer profissionalmente; b) sempre observava os profissionais à sua volta, principalmente os mais experientes, a fim de acumular conhecimentos que o fizessem crescer; c) não dava a mínima para o que os outros estavam fazendo, o importante era cumprir as suas tarefas. 4 – Em sua vida profissional, quando surgem outras oportunidades de emprego você: a) nunca as aceita, por mais positivas que elas sejam. A ideia de encarar um novo desafio o deixa muito inseguro; b) fica extremamente contente por ter surgido a oportunidade de ascender profissionalmente em um ambiente novo e na companhia de outros profissionais; c) analisa durante dias se esta será a melhor escolha e, se chegar à conclusão de que não tem nada a perder, aceita o desafio. 5 – Em qual dos perfis abaixo você melhor se encaixa? a) O líder; b) O observador; c) O flexível. 6 – Com que frequência você se informa sobre economia e o mundo dos negócios? a) Pelo menos três vezes por semana; b) Todos os dias, de preferência de manhã e à noite; c) Nunca. Fica sabendo das novidades somente quando alguém o informa. 7 – Como você toma decisões importantes na sua vida profissional ou pessoal? a) Consulta a opinião de amigos e parentes, mas a decisão final sempre é sua; GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 26 b) Sempre coloca a opinião das pessoas próximas a você em primeiro lugar, afinal, elas gostam de você e só querem o seu bem; c) Não escuta a opinião de terceiros. Você é a pessoa mais indicada para tomar suas próprias decisões e traçar o seu caminho. 8 – Se algo der errado em algum projeto profissional, você: a) não se deixa abalar, afinal, para que as coisas sejam resolvidas, é necessário manter a calma; b) acredita que tudo irá se resolver da melhor maneira, mas que é preciso trabalhar para que a melhora aconteça; c) acha que o mundo está desabando e que, por mais que você se esforce, nada poderá ajudá-lo a resolver o problema. 9 – Você se considera criativo? a) Sim. Sempre procuro transformar ideias simples em negócios efetivos; b) Não. Por mais que eu me esforce para ter ideias, nada me vem à cabeça; c) Às vezes. Em dias de muita inspiração consigo ter ideias. 10 – Como você projeta sua vida para daqui5 anos? a) Procuro não pensar no futuro, pois meu sucesso depende muito da oportunidade dada por outras pessoas; b) Tenho vários planos, entre eles o de montar meu próprio negócio. Porém, não tenho muita certeza de que dará certo, pois muitas empresas fecham logo no início de sua existência; c) Imagino-me um empreendedor de sucesso, com meu próprio negócio concretizado e bastante competitivo no mercado. Tenho este anseio e só depende de mim alcançá-lo. Agora, veja os pontos correspondentes às suas respostas, conforme a tabela abaixo, e some para ver o resultado. Questões A B C 1° 2 0 1 GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 27 2° 0 1 2 3° 1 2 0 4° 0 2 1 5° 2 1 0 6° 1 2 0 7° 1 0 2 8° 1 2 0 9° 2 0 1 10° 0 1 2 De 0 a 6 pontos: você não possui o perfil empreendedor. Se o seu grande objetivo profissional é constituir seu próprio negócio, é necessário que você mude diversas características se quiser obter sucesso. Comece se informando mais sobre o ramo em que quer atuar, procure ser mais otimista, ativo e mais seguro no momento de tomar decisões. Porém, não é interessante forçar a barra. Se você não nasceu para ser empresário, com certeza encontrará sua aptidão e obterá sucesso no que se propor a fazer. De 7 a 14 pontos: se sua intenção é investir em um empreendimento, ainda faltam alguns passos importantes para que você consiga êxito. Você pode ser criativo, mas tem dificuldades em administrar uma equipe. Ou gosta de enfrentar desafios, mas sente-se inseguro no momento de tomar decisões importantes... Administrar uma empresa é uma tarefa difícil e requer bastante preparação. Portanto, você precisa se aperfeiçoar, e somente após se sentir seguro deve aceitar este desafio. De 15 a 21 pontos: você nasceu para o empreendedorismo, pois possui as principais características que um empresário necessita ter: é otimista, criativo, independente e tem espírito de liderança. Você sente-se à vontade para tomar decisões difíceis, adora encarar desafios e sabe aproveitar as oportunidades. Portanto, se você sempre objetivou ter seu próprio negócio, agora mais do que nunca você sabe que tem grandes chances de montá- lo, administrá-lo com excelência e caminhar rumo ao sucesso! GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 28 Para ajudá-lo a desenvolver o seu perfil empreendedor, recorra às associações comerciais e empresariais que oferecem cursos e palestras, além de consultoria jurídica e contábil, tudo para auxiliá-lo a desenvolver seu talento e tomar as decisões corretas. Fonte: FAÇA o teste: você possui perfil empreendedor? Administradores. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/noticias/negocios/ faca-o-teste-voce-possui-perfil-empreendedor/16260//>. Acesso em: 03 ago. 2016. Revisão Esta unidade abordou o conceito de “empreendedorismo” e como sua definição foi mudando no decorrer da história, sem perder a sua essência: a inovação. Também abordou a importância do “empreendedorismo” para o desenvolvimento econômico, ressaltando que o ato de empreender de forma estruturada, o chamado “empreendedorismo por oportunidade”, pode contribuir para o crescimento de um país. Também foi traçado o perfil do empreendedor e as diferenças entre o empreendedor e um simples administrador. Basicamente, um administrador conhece as técnicas de gerir um negócio, mas faltam-lhe características que são próprias do empreendedor, tais como: criatividade, ousadia, capacidade de correr riscos calculados, entre outras. Por fim, a unidade salientou a existência de um tipo de empreendedor: o “intraempreendedor”, indivíduo que empreende em organizações já consolidadas, mencionando que essa discussão será retomada em outras partes do nosso material. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 1 29 conta a história verídica de Preston Tucker, um homem que conta com características empreendedoras e que fez inovações na indústria automobilística dos anos 40. TUCKER – UM homem e seu sonho. Filme. Direção: Francis Ford Copolla. Produção: Fred Fuchs, Fred Roos, George Lucas. EUA. 1998. DVD (110 min.). Há também artigos interessantes que falam a respeito do comportamento empreendedor e da sua importância pra a economia, tais como: FONTENELE, Raimundo Eduardo Silveira et al. Empreendedorismo, Crescimento Econômico e Competividade dos BRICS: uma Análise Empírica a partir dos Dados do GEM e GCI. In: EnANPAD, 35., 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: EnANPAD, 2011. p. 1-17. Disponível em: <http://www. anpad.org.br/admin/pdf/ESO2080.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2016. PEDROSO, José Pedro Penteado; MASSUKADO, Marcia S. A relação entre o jeitinho brasileiro e o perfil empreendedor: interfaces no contexto da atividade empreendedora no Brasil. In: EGEPE, 5., 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: EGEPE, 2008. p. 1-14. Disponível em: <http://www.anegepe.org. br/edicoesanteriores/saopaulo/87_trabalho.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2016. SCHMIDT, Serje; BOHNENBERGER, Maria Cristina. Perfil empreendedor e desempenho organizacional. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 13, p. 450-467, n. 3 jul./ago. 2009. Você pode refletir a respeito dos conceitos aprendidos nessa unidade assistindo ao filme “Tucker - um homem e seu sonho”. Esse filme GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 30 Os Desafios da Inovação Introdução Biólogo cria sistema de armadilhas e controle do mosquito da dengue O biólogo Álvaro Eduardo Eiras acredita que a beleza da tecnologia está na simplicidade. Ele aprendeu a lição durante um bate- papo com Bill Gates, o fundador da Microsoft, que lhe entregou o prêmio “Inovação Tecnológica em Benefício da Humanidade Tech Museum Awards” em 2006, nos Estados Unidos. Eiras, 50 anos, é pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e aplicou a simplicidade em seu invento premiado, o MI Dengue. Feito para monitorar a incidência do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, já é usado por 35 municípios brasileiros, pelo governo de Cingapura e pela cidade de Cairns, na Austrália. “Decidi ver como era o monitoramento feito pelo Ministério da Saúde. Descobri que os métodos usados são da década de 20”. O MI Dengue inclui o MosquiTrap, uma armadilha para a fêmea (com odor criado por Eiras, chamado sugestivamente de “AtrAedes”) que atrai e cola o bichinho em um cartão adesivo. Depois, é usado um sistema on-line, com GPS nas armadilhas, que ajuda a acompanhar os focos da doença. A contagem dos mosquitos é enviada pelo celular e processada por um software que auxilia a traçar o mapa da dengue. O MI Dengue é vendido pela Ecovec, empresa de biotecnologia, em parceria com o Instituto Inovação, e dispõe o produto para cidades por cerca de R$ 1 anual por habitante - 2% do faturamento vai para a UFMG. Para se ter uma ideia, um paciente internado com dengue custa ao SUS cerca de R$ 3,5 mil por dia. • O que é Inovação? • As Diferenças entre Imitação, Inovação e Invenção • Características e Tipos de Inovação • As Vantagens Competitivas da Inovação • Revisão Em 2010, o Ministério da Saúde registrou um milhão de casos da doença no país, mas ainda não adotou a armadilha. Ela está em avaliação, mas o processo pode levar dois anos. Para saber mais, acesse os seguintes links: <https://www.youtube.com/watch?v=Njef3vaFI7Y>. <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI213795- 17933,00-TERRIVEL+CONTRA+OS+INSETOS.html>. Após conhecermosa história do MI-Dengue, que foi desenvolvido pelo professor e pesquisador Álvaro Eiras, será mais fácil compreender os conceitos relacionados à inovação, bem como os caminhos trilhados para o desenvolvimento de novos produtos. A inovação é a chave para as empresas expandirem muito mais em um mundo em constante mudança. Qualquer empresa, organização ou pessoa, a título particular, pode ser inovadora. A inovação não está ligada somente às grandes organizações ou às grandes empresas industriais do planeta que oferecem grandes tecnologias para o mundo, mas também a qualquer pequeno negócio. Qualquer empresas ou pessoa pode e deve ser inovadora, pois a inovação não é exclusividade das grandes organizações. O objetivo principal da unidade é apresentar os quatro tipos de inovação: produto, processo, posição e paradigma, destacando, principalmente, a inovação de produto e processo. A inovação de processo consiste na implementação de métodos de produção inovadores, novos ou com melhorias. Portanto, a inovação é um processo contínuo, no qual uma nova ideia é criada e transformada em um conceito para implantar um produto ou serviço novo, com o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Em destaque está o esforço para conhecer os quatro tipos de inovação estratégica: a incremental, disruptiva, radical e aberta. Pense que a inovação é uma exigência dos tempos modernos e que somos terreno fértil de inovação continuada, chamados para produzir produtos e serviços renovadores a todo instante. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 34 O que é Inovação? Agora que você já conhece os princípios do empreendedorismo e suas vertentes, vamos debater um tema imprescindível para os tempos modernos e que demanda que pessoas, organizações e o mundo de forma geral se movimentem: a inovação, uma questão fundamental para as organizações modernas. As novas ideias e a criatividade podem gerar oportunidades e dezenas de novos empregos. O tema “inovação” está em todas as rodas de discussões dos executivos, na sala de reunião das grandes empresas, na roda de amigos e alunos de uma faculdade. Existem várias vertentes para explicar o significado do termo “inovação”, mas, dentro dos objetivos traçados nesta unidade, vamos procurar uma linguagem que o torne mais compreensível. A inovação é a chave para ajudar as empresas a crescerem e a expandirem em um mundo de acelerada mudança. Está intimamente relacionada ao desempenho financeiro, já que uma inovação bem-sucedida pode reduzir os custos de produção de artefatos ou serviços, criar nichos de mercado, introduzir novos artigos ou serviços que, por sua vez, é claro, farão com que a empresa se torne cada vez mais rentável e atraente. Porém, é importante ressaltar que qualquer organização ou pessoa, a título individual, pode ser inovadora. Inovar não significa o condicionamento aos grandes negócios do emprego de recursos exorbitantes, da contratação de um gestor de inovação ou outro profissional altamente treinado e qualificado, com pós-graduação na área. As microempresas, por exemplo, com pequenas ideias empreendedoras, constituem um terreno fértil para inovação. Muitas necessidades do consumidor nasceram de pessoas criativas, com espírito inovador, que tiveram a ousadia de montar seu próprio negócio, ainda que pequeno, utilizando estratégias A inovação é a chave para ajudar as empresas a crescerem e a expandirem em um mundo de acelerada mudança. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 35 que pudessem atrair os diversos desejos dos clientes, exigentes e minuciosos. A falta de profissionais da saúde é um fator preocupante em muitos países em desenvolvimento. Na esperança de ajudar a melhorar este cenário, a startup norte-americana Sense.ly lançou um dispositivo que promete auxiliar pacientes a continuar recebendo os cuidados médicos longe do hospital. A empresa criou a enfermeira virtual Molly, que oferece atendimento de qualidade aos pacientes e consultas sobre determinados temas. O serviço está disponível para pacientes que sofrem de doenças crônicas como insuficiência cardíaca e diabetes. Para saber mais, acesse o site: http://sense.ly/. Lembre-se, a inovação é de importância vital para as pequenas empresas. É o sangue, assim dizendo, de qualquer pequena empresa próspera, que lhe ajudará a florescer e a ter sucesso. Porque a inovação exige tanta atenção em nossos dias? A resposta é simples e imediata: porque o ritmo de mudança é muito rápido. Vejam os celulares, os computadores, as câmeras fotográficas e tantos outros equipamentos oferecidos pela moderna tecnologia. As alterações ocorrem em uma velocidade incrível. Porém, é necessário observar que as mudanças atendem às exigências de um mundo contemporâneo. Estamos passando da era industrial para a era do conhecimento. Alguns estudiosos têm insistido em afirmar que quanto mais conhecimento agregado temos, maior será a nossa oportunidade de empregabilidade. Em uma atmosfera global de inovação contínua, a vantagem estratégica pode apenas advir daqueles que são líderes e não apenas de meros seguidores da mudança. A única forma de se tornar um verdadeiro líder da mudança pode ser alcançada através da inovação. É necessário observar que as mudanças atendem às exigências de um mundo contemporâneo. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 36 Todas as empresas precisam ser inovadoras. A realidade, contudo, é que a maior parte delas, particularmente as pequenas e médias, encontram dificuldades em compreender o conceito de inovação. Não sabem bem como usar os seus conceitos, imaginando que ela só se aplica às indústrias de alta tecnologia. É importante ressaltar que existem muitas teorias acerca da inovação: qual a sua definição? Quais as suas principais características e seus diversos tipos? Como implementá-la? A sociedade, até hoje, não conseguiu estabelecer um consenso (e possivelmente nunca alcançará) sobre uma teoria única de inovação. No dia a dia, a inovação é compreendida como criar algo que culmine no resultado desejado (SAKAR, 2007). A partir dessa afirmativa, há uma pluralidade de compreensão sobre esse procedimento. A palavra “inovar” deriva do latim in+novare, que significa “fazer novo”, renovar ou alterar. De forma simples, inovação significa ter uma nova ideia ou, por vezes, aplicar as ideias de outras pessoas em novidade ou de forma nova (SAKAR, 2007, p. 115). Dito isso, pode-se esclarecer melhor que “inovação” significa o envolvimento da criatividade, de adaptação, de ideias novas com possibilidade de implementação e que gerem impacto. Na visão de Bessant e Tidd, no primeiro capítulo do livro “Inovação e Empreendedorismo” (2009), há o registro da fala de profissionais da GE, Microsoft e Apple sobre inovação: Estamos avaliando as lideranças da GE em relação a sua capacidade de Criação. Líderes criativos são os que têm coragem de financiar novas ideias. Liderar equipes para encontrar as melhores ideias e pessoas para assumir riscos com maior preparo e método (J. Immelt, presidente e Diretor-executivo da General Eletric). (...) Sempre dizemos a nós mesmos: temos que inovar. Precisamos ser os Primeiros a nos superar (Bill Gates, Microsoft) (...) A inovação é o divisor de águas entre um líder e um seguidor (Steve Jobs, Apple) (BESSANT; TIDD, 2009, p. 20). A sociedade, até hoje, não conseguiu estabelecer um consenso sobre uma teoria única de inovação. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 37 Para o “Manual Oslo” (OCDE, 2005, p. 14), inovação é: Uma implementação de um produto (bem ou serviço) novoou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Essa definição é bem vasta e abrange o bem ou serviço que a empresa faz, sua forma de fazer (processo), sua forma de planejar e organizar o seu mercado, e até mesmo sua forma de cuidar da gestão. Outro ponto importante a observar na definição do “Manual Oslo” é que a inovação é uma implementação de algo novo ou melhorado. Isto é, não importa se é bem, serviço, processo ou método. Se ele não for novo, significativamente melhorado, não for implementado, não é inovação. “Significativamente melhorado” quer dizer que a mudança deixou o produto melhor, como exemplos, temos: bicicletas feitas de alumínio e celulares cada vez menores. Outra questão importante a destacar na definição estabelecida no manual é que se fala de implementação, não só a definição teórica no papel, mas a sua realização de fato. Se a ideia que você teve foi implementada e está funcionado, ou seja, se está dando certo. Portanto, inovação é uma ideia que deu certo. O aparelho de DVD foi uma ideia que deu certo e gerou resultado, pois esses aparelhos são encontrados nas residências nos dias de hoje. Na visão de Simantob e Lipp (2003), existem vários conceitos de inovação, segundo vários estudiosos. Sublinhamos dois teóricos muito conhecidos que podem ser muito úteis em nossa tarefa. O primeiro, Peter Drucker, da Universidade de Claremont, em seu livro, “Inovação e Espírito Empreendedor”, propõe que inovação é: o ato que contempla os recursos com a nova capacidade de criar riquezas, sendo que não existe algo chamado de recurso até que o homem encontre uso para alguma coisa na natureza, e assim o dote de valor econômico (DRUCKER, 1987, p. 39). O aparelho de DVD foi uma ideia que deu certo e gerou resultado, pois esses aparelhos são encontrados nas residências nos dias de hoje. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 38 Na visão de Giovanni Dosi (Universidade de Pisa), inovação é a busca, a descoberta, a experimentação, o desenvolvimento, a imitação e a adoção de novos produtos, novos processos e novas técnicas organizacionais. Entretanto, nota-se que, depois de Joseph Schumpeter, o primeiro economista a falar de inovação na última década do século XX, a inovação passou a ser reconhecida como um fator essencial para a competitividade das empresas. A inovação está relacionada ao desenvolvimento econômico, sendo impulsionada pela criatividade quando há uma perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente. Isso se chama destruição criativa (SCHUMPETER,1984 citado por BARBIEIRI, 2005, p. 14). A “destruição criativa” gera movimento e crescimento na economia e altera o estado de ânimo do empreendedor criativo e inovador. Pode-se, então, dizer que a inovação surgiu de um processo evolutivo dos meios econômicos, sendo Joseph Schumpeter considerado o pai da inovação. Os investimentos das combinações de produtos e processos produtivos de uma organização influenciam diretamente no desempenho financeiro, de modo que o moderno empresário deve ocupar, simultaneamente, dois papéis de liderança: econômica e tecnológica. Quantos produtos você conhece que poderiam ser considerados “inovadores”? Quer saber mais sobre isso? Recomenda-se a consulta ao “Manual de Oslo”, fonte muito rica de informações referentes ao tema desta unidade. Ele está disponível para download em: <http://download. finep.gov.br/imprensa/manual_de_oslo.pdf>. A “destruição criativa” gera movimento e crescimento na economia e altera o estado de ânimo do empreendedor criativo e inovador. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 39 As Diferenças entre Imitação, Inovação e Invenção Como se pode perceber, a inovação consiste em colocar as ideias em prática, gerando novos produtos ou serviços. Melhorando processos ou criando novos modelos de negócio que levem ofertas de valor ao mercado com sucesso. Porém, não podemos confundir o conceito de “inovação” de Schumpeter com “invenção”. São dois conceitos, ao mesmo tempo, complementares e diferentes. Há uma relação entre eles, distinções e desafios. Nem toda invenção transforma-se em inovação, e nem toda inovação é proveniente de uma invenção. A inovação refere-se a uma ideia, método ou objeto que é criado, que pouco se parece com padrões anteriores. Há uma ruptura, pois algo novo surgirá e modificará antigos padrões. Na visão de Cerqueira (1989), temos a melhor definição de invenção. A invenção, de modo geral, consiste na criação de uma coisa até então inexistente, a descoberta é a revelação de uma coisa existente na natureza. Descobrir é o ato de anunciar ou revelar um princípio científico desconhecido, mas preexistente na ordem natural, e inventar é dar aplicação prática ou técnica ao princípio científico, no sentido de criar algo novo, aplicável no aperfeiçoamento ou na criação industrial (CERQUEIRA, 2007 citado por REQUIÃO, 1989, p. 223). A invenção é um ato de criar uma nova tecnologia, processo ou objeto. Está muito ligada ao protótipo, modelos, fórmulas e outros meios de registrar ideias. O ato de inventar, necessariamente, não responde ao conceito de inovar. Na visão de Dosi (1988), “inovação refere-se essencialmente à procura, à descoberta, à experimentação, ao desenvolvimento, à imitação e à adoção de novos produtos, aos novos processos de A invenção é um ato de criar uma nova tecnologia, processo ou objeto. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 40 produção e às novas formas de organizações” (DOSI, 1988, p. 222). Observamos que, segundo Dosi, a inovação deve estar revestida de requisito de novidade e envolve a concepção de uma ideia direcionada para economia. Podemos dizer que o processo de inovação demanda um elevado comprometimento das pessoas que estão envolvidas com o processo de mudanças, e busca contextos que proporcionem novas realidades, resultados e experiências. Observe a figura 1 seguinte na qual se pode identificar a diferenciação entre inovação e invenção. FIGURA 1 - Os traços da inovação Fonte: Elaborado pelo autor. Como é possível perceber, a diferença entre “invenção” e “inovação” está justamente no fato de que, se a ideia implementada resulta em um negócio que dará retorno ao seu idealizador, ela é uma inovação. Michael Porter, uma das maiores referências no estudo da competitividade, propõe que a inovação pode ocorrer a partir do momento em que a invenção chega ao mercado, passando a gerar lucro e dividendos quando o novo conhecimento é colocado em prática, criando novos produtos, serviços e processos, permitindo que a empresa cresça e se expanda. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 41 Segundo o dicionário Michaelis (2012), imitação vem do latim e significa o ato ou efeito de imitar e representação ou reprodução de uma coisa, fazendo-a semelhante a outra. Nas figuras a seguir, temos um exemplo de imitação que gera, sem dúvida, prejuízos ao idealizador, no caso a Apple. FIGURA 2 - Hiphone Fonte: Adaptado de Jordão (2016). GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 42 FIGURA 3 - Goophone i5 Fonte: Adaptado de Jordão (2016). Olhando rapidamente para a figura 2, qual é o celular verdadeiro? E se você olhar para a figura 3, você conseguiria ver com clareza a distinção entre eles? Criatividade, ideia, imitação, invenção e inovação não são as mesmas coisas, mas sim etapas diferentes de um processo. A criatividade promoverá o desenvolvimento de várias ideias. É um ato no qual oser humano promove a descoberta de novas ideias e conceitos. Muitas delas serão descartadas, sejam por motivos técnicos, econômicos e/ ou financeiros. Caso uma dessas ideias seja implementada e tenha sucesso, ela poderá se tornar uma inovação. Caso isso não aconteça, essa ideia terá se tornado uma invenção. Um exemplo é o celular. Quando apareceu, era grande, pesado, sendo até necessária uma maleta para carregar a bateria de energia. Tratava-se de uma boa invenção, apesar de não ter sido um sucesso logo de início. Com o andar da carruagem, com os avanços tecnológicos, ele tornou-se um dos produtos mais inovadores, sempre entregando ao usuário uma nova possibilidade, cada vez mais imprescindível. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 43 Características e Tipos de Inovação FIGURA 4 - A inovação e sua classificação Fonte: Elaborado pelo autor. Bessant, Tidd e Pavvit (2008) classificam a inovação em quatro grupos: 1. inovação de produto: representada pela mudança de produtos e serviços que a empresa oferece aos consumidores; 2. inovação em processo: mudanças na forma em que os produtos/serviços são criados e entregues; inclui mudanças significativas nas tecnologias, equipamentos e logística; 3. inovação de posição: constituída por mudanças no contexto em que produtos e serviços são introduzidos; 4. inovação de paradigma: deriva de mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam o que a empresa faz. Na figura 4, é possível observar as relações entre as classificações de inovação apresentadas por Besssant, Tidd e Pavitt. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 44 Um exemplo de inovação de produto é a introdução de travas ABS, expressão alemã “Antiblockiersystem”, que é um dispositivo de segurança que não permite que as rodas travem em frenagens de emergência. Outro exemplo é o sistema de navegação nos carros de GPS (Sistema de Posicionamento Global), e outros sistemas melhorados. Outro exemplo é um restaurante que vai até a sua residência e faz todo o cardápio para servir aos seus convidados. É um serviço novo que atende aos consumidores independentemente da sede da empresa. Assim como uma empresa que compra uma máquina para preencher um cheque com mais rapidez, facilitando a vida do cliente. Ou incorpora uma balança eletrônica que facilita a visualização do seu cliente. Já na inovação de posição, que outros autores chamam de “mercadológica”, agrega-se valor ao produto por meio de uma embalagem totalmente nova. Um exemplo é uma embalagem que não suja as mãos ao carregar uma pizza. A elaboração de um cadastro eletrônico e digital dos consumidores também pode facilitar a identificação e a empatia, gerando valor e lucro para o negócio. No quarto tipo de inovação, “paradigma” ou “inovação organizacional”, trata-se uma técnica nova. É sempre a primeira vez. Um exemplo são as nossas ginásticas laborais. Toda vez que ela é implementada provoca qualidade de vida e melhoria no local de trabalho dos funcionários. Segundo o professor Clayton Christensem (2011), da Harvard Business School, existem quatro tipos de inovação por estratégia. A figura 5 demonstra os quatro tipos de inovação por estratégia. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 45 FIGURA 5 - Tipos de inovação por estratégia Fonte: Elaborado pelo autor. A inovação incremental é a que predomina na maioria das empresas. São pequenas, mas importantes mudanças que podem ser aplicadas em modelos de negócios, produtos e/ou serviços. Tem como objetivo modernizar um produto já existente e que já tem aceitação do mercado. O seu propósito é garantir o consumo já existente do produto, atrair novos consumidores, gerar lucro e garantir aos clientes, que já são consumidores do produto, conveniência e fidelização. Como exemplo de inovação incremental, têm-se as indústrias de carros, que mantêm por anos uma marca no mercado. Entretanto, elas atualizam, anualmente, o produto com as tendências do momento. Para os pesquisadores Davila, Epstein, Shelton (2007, p. 61), as inovações incrementais “são uma maneira de extrair o máximo valor possível de serviços e produtos existentes sem a necessidade de fazer mudanças radicais e grandes investimentos financeiros”. Visa, pois, atender, através de melhorias, as necessidades dos clientes e aprimorar os processos e produtos atuais. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 46 A inovação disruptiva tem como objetivo substituir o produto existente por outro mais moderno e atualizado. As empresas que ditam as tendências de diversos segmentos são exemplo de inovação disruptiva. Um exemplo clássico de inovação disruptiva é a empresa de linhas áreas GOL. Entrou no mercado oferecendo serviços mais simples do que seus concorrentes, poucas rotas, baixa flexibilidade de alterações, barras de cereais, mas com uma contrapartida de preço que permitia a diversos consumidores o conforto de viajar de avião. Isso gerou até uma possibilidade de concorrência com as empresas de ônibus. Nesse caso, a GOL representava algo de inédito, um serviço inteiramente novo ao consumidor. A inovação radical visa criar um novo conceito, com novos mercados e paradigmas. Segundo Davila, Epstein, Sheltpn (2007, p. 71), “inovações radicais são, pela própria natureza, investimentos de pouca probabilidade de retorno”. Porém, é primordial uma avaliação detalhada e bem planejada de um investimento nesse tipo de inovação, pois os riscos são maiores do que na inovação incremental. Um exemplo típico de inovação radical são os bancos − organizações financeiras. Eles têm passado por uma metamorfose ao longo dos anos utilizando máquinas de multibanco, isto é, fundos acessíveis em qualquer parte do mundo com a utilização do cartão de plástico apropriado. A inovação aberta está ligada àquelas empresas que compram ou licenciam processos de inovação (patentes) no lugar de criar seus próprios produtos inovadores. Aqui, é preciso cultivar uma rede de inovação, além dos limites da organização. Esse tipo de inovação busca encontrar as pessoas certas, bem como integrar descobertas científicas de forma inovadora. O seu É preciso cultivar uma rede de inovação, além dos limites da organização. GESTÃO E EMPREENDEDORISMO unidade 2 47 papel fundamental é fomentar o trabalho colaborativo entre todas as partes envolvidas no processo. Um exemplo de inovação aberta colaborativa é a Brasil Foods, maior exportadora de carne de frango, que se preocupa com a gestão do conhecimento para fazer funcionar toda cadeia de desenvolvimento e tecnologia da empresa. As parcerias com as academias e programas de computador ou atividades gerenciais que permitem identificar possíveis nichos de pesquisa é uma constante na organização. Todas as áreas trabalham juntas com um único objetivo: competitividade do produto. Na visão de Chesbrough (2003), o modelo de inovação aberta consiste: No conjunto de estratégias pelas quais as empresas podem adquirir tecnologia que necessitam de outras empresas assim como adquirir as patentes de tecnologia que tenham desenvolvido, mas que não pretendam utilizar. Numa inovação aberta, as empresas obtêm a sua tecnologia de múltiplas fontes. As estratégias abertas de inovação procuram a eficiência através de parcerias de negócio efetivas (CHESBROUGH, 2003, p. 237). A inovação aberta é altamente colaborativa, pressupõe que o conhecimento para “inovar” se encontra em qualquer lugar da rede de colaboradores de empresas e no mundo globalizado. Aqui, tem- se um diálogo de escuta e atenção com todos os “stakeholders”, isto é, os públicos interessados no negócio da organização. Existe
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