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Geografia Urbana, 2005 1 OS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO URBANO Marcelo Lopes de Souza, em seu livro “O abc do desenvolvimento urbano, de 2003, faz a seguinte colocação: “Entender corretamente a cidade e as causas de seus problemas é uma condição prévia indispensável à tarefa de se delinearem estratégias e instrumentos adequados para a superação desses problemas”. (p.22) De acordo com Corrêa (1995), o espaço urbano é fragmentado, pois possui diferentes tipos de uso - áreas comerciais, industriais, residenciais ou de expansão urbana. No entanto, essas diversas áreas encontram-se articuladas através dos chamados fluxos, ou seja, pela circulação de pessoas, de mercadorias, de investimentos ou de decisões. Para esse autor, “O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas – é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem o espaço”.(p.11) Para Carlos (1990), a cidade é produto das contradições de classe e envolve interesses e necessidades diversas. Assim, o espaço é produzido através das lutas que ocorrem na cidade. Nesse contexto, Corrêa (1995) identifica como agentes sociais envolvidos na produção do espaço urbano: os proprietários fundiários e dos meios de produção, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos. Segundo o mesmo autor, os dois primeiros agentes possuem interesses conflitantes, pois os proprietários dos meios de produção necessitam de terrenos Geografia Urbana, 2005 2 amplos e baratos, não estando interessados na especulação fundiária. Já os proprietários fundiários vêem na retenção de terras uma possibilidade de ampliar seus lucros, pois ao criar uma escassez de oferta haverá um aumento de preço. Com relação à atuação dos promotores imobiliários - conjunto de agentes que realizam, parcial ou totalmente, as seguintes operações: incorporação , financiamento, construção e comercialização do imóvel, o autor afirma que esta ocorre de modo desigual. Seus investimentos são voltados principalmente para a construção de imóveis para atender às classes mais favorecidas, criando e reforçando a segregação residencial que caracteriza a cidade capitalista. Por fim, Corrêa conclui que ao produzirem favelas, invadindo terrenos públicos ou privados, os grupos sociais excluídos tornam-se, efetivamente, agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço. Com relação ao capital imobiliário, David Harvey (1980) afirma: “Há numerosos e diversos atores no mercado de moradia, e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca”. (p. 139) Cabe ressaltar que, para Harvey, na economia capitalista, o solo e suas benfeitorias são mercadorias e, como qualquer outra mercadoria, possuem um valor composto por duas dimensões: o valor de uso (utilidade que determinado objeto possui) e o valor de troca (poder de compra que a posse de um objeto transmite). Com relação ao mercado imobiliário, o autor, na mesma obra, identifica os seguintes grupos nele atuantes: os usuários de moradia, os corretores de imóveis, os proprietários, os incorporadores e construtores, as instituições financeiras e as instituições governamentais. Para ele: Geografia Urbana, 2005 3 - os usuários de moradias encontram-se divididos em dois grupos: os locatários e os proprietários. O primeiro grupo encontra-se interessado no valor de uso da moradia, enquanto o segundo grupo, pode buscar o valor de troca, ao comprar ou reformar sua casa, por exemplo; - os corretores de imóveis operam no mercado de moradia para obter valor de troca, obtendo lucro através de compra e venda ou através de cobrança de custos de transação para seus serviços intermediários; - os incorporadores e a indústria da construção de moradias estão envolvidos no processo de criar novos valores de uso para outros, a fim de realizar valores de troca para si próprios; - as instituições financeiras estão interessadas, fundamentalmente, em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criação ou aquisição de valores de uso; - as instituições governamentais freqüentemente interferem no mercado de moradia, seja através da construção de habitações, no auxílio a instituições financeiras, aos incorporadores ou da indústria de construção, bem como impondo restrições através de leis de zoneamento. Em seu estudo sobre o processo de verticalização em São Paulo, Maria Adélia Aparecida de Souza (1994), comenta, no Brasil, existem pelo menos três tipos de agentes produtores do espaço urbano: os incorporadores, os construtores e os vendedores. No entanto, como afirma a autora, identificá-los não é tarefa simples, pois: “(...) o mesmo agente pode assumir os três tipos ou um ou dois deles. O que ainda se deve comprovar é que eles (os tipos) podem agregar-se ou desagregar-se, neste ou naquele empreendimento, assumindo, portanto, papéis e figuras jurídicas que variam com o tempo”. (p.189) Geografia Urbana, 2005 4 Exemplos das Transformações Espaciais induzidas pelo setor Imobiliário 16 de novembro de 1947 -Correio Joseense Vale Paraibano, 1985 Geografia Urbana, 2005 5 Jardim Aquarius – area de interesse dos investidores imobiliários – em: (a) 1988, (b) 2000 e (c) 2003 (a) (b) (c)
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