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Professora Dra. Sheila Maria Rosin PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS PÓS-GRADUAçãO ESPECIALIZAçãO EM DOCêNCIA DO ENSINO SUPERIOR MARINGÁ-PR 2012 Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenação de Marketing: Bruno Jorge Coordenação Comercial: Helder Machado Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação de Curso: Márcia Maria Previato de Souza Assessora Pedagógica: Fabiane Carniel Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Jaime de Marchi Junior, Luiz Fernando Rokubuiti e Thayla Daiany Guimarães Cripaldi Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Gabriela Fonseca Tofanelo, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugi e Maria Fernanda Canova Vasconcelos. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Psicologia da aprendizagem de jovens e adultos / Sheila Maria Rosin - Maringá - PR, 2012. 83 f. “Pós-Graduação em Docência do Ensino Superior - EaD”. 1. Psicologia da aprendizagem. 2. Desenvolvimento cogni- tivo. 3. EaD. I.Título. CDD - 22 ed. 158.2 CIP - NBR 12899 - AACR/2 “As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”. Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - ead@cesumar.br - www.ead.cesumar.br PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS Professora Dra. Sheila Maria Rosin 5PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância APRESENTAçãO DO REITOR Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Professor Wilson de Matos Silva Reitor 6 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido. Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento. Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa. Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária. Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem! Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR 7PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância APRESENTAçãO Livro: PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS Professora Dra. Sheila Maria Rosin Prezado acadêmico, meu nome é Sheila Maria Rosin e sou autora deste livro que traz para você questões oportunas para a compreensão de dois processos humanos muito importantes: ensinar e aprender. Ensinar e aprender são duas atividades inerentes à condição humana. Aprendemos quando mudamos nossa forma de pensar e nos comportar e ensinamos quando dividimos com outro o que sabemos, nossas experiências e vivências. O bebê humano ao nascer é imerso num mundo de aprendizagem: a sua sobrevivência está condicionada a sua capacidade de aprender, de responder aos desafios que o mundo lhe impõe. Assim, respirar, chorar, sugar faz parte do rol de habilidades iniciais que vão se tornando mais numerosas e complexas à medida que a criança cresce e descobre novas coisas a serem aprendidas e apreendidas. Todas as atividades que envolvem o aprender são ensinadas de forma relativamente espontânea e assistemática no início da vida: a mãe não planeja o melhor dia para ensinar seu filho a andar e nem qual é a palavra que irá inserir naquela semana no vocabulário da criança e esta, por sua vez, aprende o que lhe ensinam, intencionalmente ou não, observando, perguntando, imitando ou tentando fazer do seu jeito. Destaforma, podemos definir aprendizagem como sendo “um processo natural inerente à condição de ser vivo e à necessidade de sobrevivência” (SOUSA, 2003, p.30), assim é com a criança (na ontogênese), e assim foi com a humanidade (na filogênese) . Mas o homem não resumiu a sua vida a observar e a imitar, muito pelo contrário: perguntou, pesquisou e refletiu sobre o que, por que e como as coisas eram feitas, se interessou pelo mundo físico e social, construiu um corpo de saberes que tornou-se patrimônio da humanidade, necessitando de formas mais elaboradas de transmissão. Neste contexto, surgem a escola e o professor: “a escola como instituição e espaço privilegiado onde a aprendizagem e apropriação acontecem” e o professor “como adulto socializador, mediador entre o saber e o aprendiz” (SOUSA, 2003, p.42). Segundo Sousa (2003, p.37), quando a arte de ensinar se torna intencional, ela apresenta contornos de complexidade que marcam as concepções que o professor tem sobre o processo de aprender que podem ser reveladas na sua forma de pensar e agir: • O aluno é visto como uma tábula rasa, cujos conhecimentos e experiências anteriores não são consi- derados. A aprendizagem é entendida como um mecanismo de registro e o ensino como transmissão de conhecimento. O aluno deve desenvolver uma atitude de dependência e submissão em relação àquele que sabe: o professor. • O aluno continua a ser visto como alguém que pouco sabe, mas o ensino passa a ser entendido como treino que pode tirá-lo desta condição de “não saber”. Por meio dos reforços e dos incentivos, a aprendizagem estaria garantida. 8 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância • O aluno torna-se o centro das atenções, como um ser autônomo capaz de raciocinar, intuir, descobrir, comparar e selecionar. Os processos de desenvolvimento e aprendizagem se condicionam mutuamen- te, construindo novas estruturas mentais. A Psicologia, por meio da Psicologia Evolutiva, desde sua origem se interessou pelos temas da aprendizagem e desenvolvimento humano. Os primeiros trabalhos que se preocuparam com as questões evolutivas numa perspectiva psicológica datam da segunda metade do século XIX e do início do século XX, pois foi neste período que se publicam as primeiras obras sobre infância, adolescência, idade adulta e velhice. Os referencias teóricos que orientaram a maioria destes trabalhos pautaram-se nos modelos mecanicistas e nos organicistas, os dois modelos situados na tradição do empirismo e do racionalismo, respectivamente (PALÁCIOS, 1995). No modelo mecanicista, afirma o autor, o importante não é o que há dentro das pessoas, mas sim o que vem de fora e as moldam, ou seja, suas experiências e aprendizagens. Já os modelos organicistas, sem negar a experiência, enfatizam “os processos de desenvolvimento que têm caráter universal, ou seja, que ocorrem em todas as pessoas de todas as culturas, porque têm suas raízes em características inatas da natureza humana” (PALÁCIOS, 1995, p.12). Até o final dos anos de 1970, esses dois modelos foram amplamente utilizados como explicativos pela Psicologia Evolutiva. Este quadro começa adquirir uma nova configuração quando um grupo de estudiosos insatisfeitos com as limitações desses dois modelos propõe uma nova forma de entender o desenvolvimento humano, muito mais ampla: o modelo do Ciclo Vital. Nesta nova perspectiva não se considerariam mais apenas o desenvolvimento ocorrido na infância e na adolescência, mas todas as mudanças ocorridas do nascimento até a morte consideradas a partir de seus condicionantes históricos, sociais e econômicos. Objetivamos assim, neste livro, abordar alguns referenciais teóricos “tradicionais” que explicam os processos de desenvolvimento e aprendizagem nos seres humanos e, também, apontar algumas tendências contemporâneas sobre a questão. Desta forma, na unidade I procurei traçar um perfil sobre quem é este jovem adulto que, assumindo o papel de aluno, está ocupando as carteiras do Ensino Superior. Assim, me proponho a definir sua estrutura física e cognitiva, não deixando de abordar também as questões emocionais que envolvem este jovem adulto. Na unidade II, apresentarei duas abordagens teóricas – psicanálise e epistemologia genética, que contribuíram para a compreensão das relações possíveis entre os processos de desenvolvimento e a aprendizagem destacando seus componentes afetivos e cognitivos, respectivamente. Optei por discutir as abordagens por meio de dois de seus nomes mais expoentes, aqueles que estariam ligados ao seu desenvolvimento: psicanálise, por Freud e a epistemologia genética, por Piaget. 9PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Para finalizar, na unidade III, com o objetivo de entender o desenvolvimento humano a partir de quatro planos genéticos que incluem a filogênese, a ontogênese, a sociogênese e a microgênese, apresentaremos alguns pressupostos da abordagem histórico-cultural que teve, como principal precursor, o psicólogo soviético Lev Semyonovich Vygotsky. Desta forma, ressaltamos a nossa satisfação em trabalhar com você destacando a importância da leitura do livro e da realização das atividades propostas para que não só a disciplina, mas para que todo o curso seja realizado com sucesso! Bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I A PSICOLOGIA DE JOVENS E ADULTOS E OS CICLOS DE VIDA VIDA ADULTA: TRAÇANDO PERFIS 15 CATEGORIAS DE MUDANÇAS 18 O JOVEM ADULTO 22 O DESENVOLVIMENTO FÍSICO 24 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO 25 O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO 26 A PROFISSIONALIZAÇÃO DO JOVEM ADULTO 28 LAÇOS FAMILIARES 31 UNIDADE II OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE E DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DESENVOLVIMENTO HUMANO: ALGUNS PRESSUPOSTOS 39 A PSICANÁLISE: SIGMUND FREUD (1856-1939) 40 EPISTEMOLOGIA GENÉTICA: JEAN PIAGET (1896-1980) 53 UNIDADE III A PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL: VYGOTSKY VYGOTSKY: VIDA E OBRA 68 CONCLUSãO 80 REFERêNCIAS 82 UNIDADE I A PSICOLOGIA DE JOVENS E ADULTOS E OS CICLOS DE VIDA Professora Dra. Sheila Maria Rosin Objetivos de aprendizagem • Compreender os processos de desenvolvimento e aprendizagem humana a partir dos conceitos da psicologia evolutiva. • Elencar características físicas, emocionais e cognitivas dos jovens e dos adultos. • Entender os princípios norteadores do modelo Ciclo Vital. Plano de estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Traçar um perfil da vida adulta • O adulto jovem em seus aspectos físicos, cognitivos e emocionais • A profissionalização do jovem adulto 15PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância INTRODUçãO Diante das possibilidades de periodizarmos o desenvolvimento humano, a mais aceita era aquela que o dividia em: infância, adolescência, juventude, maturidade e velhice, sendo que para cada um deles havia um tópico específico. Assim, a infância era vista como um período cujas vivências marcariam indelevelmente toda a vida posterior, a adolescência como uma época de transgressões e mudanças e a maturidade como uma fase da vida com significativa estabilidade e poucas alterações (PALÁCIOS, 1995). Contudo, o trabalho de conceituar cada uma destas fases, detalhando suas peculiaridades, pode se tornar mais complexo à medida que saímos da infância e adentramos à vida adulta. Esta complexidade se deriva de dois motivos principais e interligados: o primeiro é que quanto mais “velhos” ficamos, mais difícil se torna padronizar características e comportamentos, ou seja, é mais fácil definir uma criança de cinco anos em seus aspectos físicos, comportamentais e emocionais, do que definir estes mesmos aspectos em um jovem de vinte anos, por exemplo. E o segundo motivo, provavelmente decorrente deste primeiro,está ligado ao fato de que os teóricos têm se dedicado a estudar muito a infância, um pouco a adolescência e quase nada a vida adulta ou a velhice. Em decorrência disso, temos pouca literatura especializada em desenvolvimento humano que aborda o jovem adulto. Mesmo assim, nesta unidade, nos aventuramos a elencar as características físicas, emocionais e cognitivas dos jovens e dos adultos, propondo uma reflexão que nos possibilite entender este período da vida humana como sendo repleto de acontecimentos e de mudanças significativas que interferem diretamente no estilo de vida de todas as pessoas. VIDA ADULTA: TRAçANDO PERFIS FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M Ao iniciarmos uma conversa sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem do jovem e do adulto, propomos algumas questões norteadoras, como, por exemplo: o que é ser jovem? O que é ser adulto? O que é ser jovem e adulto perante a lei? Quais as principais características dessas etapas 16 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância da vida? O que é ser jovem e adulto no interior de processo educativo? Qual seria o papel dos pais/ professores na educação/orientação do jovem e do adulto? NO DICIONÁRIO: JOVENS – Que é moço, que está em idade juvenil; animal de tenra idade; pessoa moça. ADULTOS – Diz-se do adulto que atingiu o completo desenvolvimento e chegou à idade vigorosa; que atingiu plena maturidade, expressa em termos de adequada integração social e adequado controle das funções intelectuais e emocionais. Fonte: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa Essas perguntas, bem como as possíveis respostas que possam ser dadas a elas, quase sempre pressupõem o entendimento do desenvolvimento humano como as transformações que ocorrem ao longo da vida do sujeito, divididas em fases/períodos/etapas, geralmente definidas como infância, adolescência, juventude, maturidade e velhice. Esta divisão é caracterizada, na maioria das vezes, pelas principais mudanças físicas e psíquicas pelas quais os seres humanos passam em seu processo de desenvolvimento. NA LEI: CONSTITUIçãO FEDERAL (1988): Art. 228 - São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 12 jun. 2009. ECA (1990): Art. 2 º - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa de até doze anos incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde, Ministério da Criança. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, 1991. CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO (2002) Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fi ca habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Fonte: <http://www.jucepa.pa.gov.br/downloads/docs/pdf/Novo_codigo_civil.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2009. 17PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Contudo, apesar dos aspectos físicos e psíquicos serem importantes, eles não são suficientes para explicar o complexo conjunto de fatores que determinam o desenvolvimento humano. Em outras palavras, se é possível, em alguns casos, determinar padrões de desenvolvimento universais, como as transformações físicas, não podemos deixar de considerar que até estas estão sujeitas a outros fatores, como os econômicos e culturais, por exemplo. PARA A EDUCAçãO: O adulto, quando pensamos na educação de jovens e adultos, se restringe ao adulto migrante, das camadas empobrecidas, geralmente analfabetos e/ou com baixo nível de instrução escolar. Deste grupo, assim delimitado, exclui-se o estudante universitário, o profi ssional qualifi cado que frequenta curso de formação continuada ou de especialização. Esta exclusão deve-se, também, à falta de parâmetros metodológicos, didáticos e psicológicos mais precisos. Ou seja, o que temos é a falta de referenciais teóricos, fundamentalmente no campo da Psicologia, que abordem este período da vida como uma fase diferenciada, com características e peculiaridades específi cas. Na maioria das abordagens teóricas tem-se a vida adulta como um desdobramento e como uma continuação de fases an- teriores. Fonte: OLIVEIRA, M. K. de. Ciclos de vida: algumas questões sobre a psicologia do adulto. Educação e Pesqui- sa. São Paulo. v. 30, n.2, maio/ago/2004; pp.211-229. Enfim, queremos ressaltar que, embora os estudos que periodizam o desenvolvimento humano em períodos/fases possibilitem suporte teórico para melhor entendê-lo, uma perspectiva universalizante desse desenvolvimento não representa sua totalidade, como afirma Oliveira (2004, p.214): [...] as transformações mais relevantes para a constituição do desenvolvimento tipicamente humano não estão na biologia do indivíduo, mas na psicologia do sujeito, muito mais referida [...] às circunstâncias histórico-culturais e às peculiaridades da história e das experiências de cada sujeito. FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M 18 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Desta forma, parece claro supor que a vida de uma jovem universitária de 20 anos, recém-ingressa num curso de medicina em uma renomada universidade brasileira, é fundamentalmente diferente da vida de outra jovem da mesma idade, moradora de uma pequena cidade no interior do país, que já cuida de seu segundo filho e trabalha desde criança para sustentar a si e a família. Ou, ainda, a diferença da vida de um jovem brasileiro que concluindo um curso de pós-graduação já se prepara para fazer estágio em outro país e a do rapaz que inicia seu processo de alfabetização em um curso de Educação de Jovens e Adultos. Ou seja, são tantas as possibilidades de comportamentos que se torna difícil estabelecer alguma padronização entre eles. Este preâmbulo introdutório leva a pensar no desenvolvimento humano não apenas como etapas de vida caracterizadas pela padronização de alguns comportamentos, mas como períodos sujeitos a múltiplas determinações. Neste sentido, embora reconheçamos a existência de padronizações no comportamento humano, procuramos, nesta disciplina, promover uma reflexão do desenvolvimento como um processo de mudanças físicas, cognitivas, afetivas e sociais que ocorrem durante toda a vida, desde a concepção até a morte. Lembrando que essas mudanças podem ser influenciadas por aspetos contextuais como os históricos, os culturais, os econômicos entre outros. CATEGORIAS DE MUDANçAS Estudiosos do desenvolvimento humano associam a três categorias básicas as mudanças que ocorrem durante a vida do sujeito (BEE, 1997), sendo estas: 1) mudanças partilhadas; 2) mudanças comuns a um subgrupo em particular e 3) mudanças individuais. 1) Mudanças partilhadas – estas mudanças estão ligadas ao que entendemos comumente como desenvolvimento, são partilhadas com membros da mesma espécie, são geneticamente programadas e estão ligadas à idade do sujeito. Uma das forças que podem produzir este tipo de mudança está nos processos biológicos básicos, comuns a todos os seres humanos. Como exemplos deste tipo de mudança têm-se: • no bebê, o nascimento dos primeiros dentes, a idade com que ele é capaz de dar seus primeiros passos; • na puberdade, o aparecimento dos caracteres sexuais secundários: os pelos pubianos, os seios, a barba; • no adulto, o início do processo de envelhecimento marcado pelo surgimento dos fios de cabelos brancos e as rugas. Contudo, não devemos desconsiderar a infl uência do ambiente mesmo sobre os padrões maturacionais geneti- camente determinados. De acordo com artigo da Revista Veja (Veja, 17 de julho de 1996), publicado na década de 1990, a média de altura da população do Brasil havia, em quinze anos, aumentado 4 cm, principalmente entre 19PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educaçãoa Distância os adolescentes das camadas sociais mais favorecidas. Esses adolescentes estavam pelo menos 2,5 cm acima do esperado pelos especialistas em desenvolvimento, e seguindo a mesma tendência, os pés e as mãos esta- riam maiores, deixando os adolescentes mais desajeitados e desengonçados. Esse fato poderia ser atribuído, principalmente, aos padrões de alimentação e saúde iguais aos do Primeiro Mundo a que esses adolescentes estariam sendo submetidos. Fonte: FRANÇA, Valéria. Geração de mutante. Veja, 17 de julho de 1996, Editora Abril, Ed. 1453. Ano 29, n.29 FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M Além do relógio biológico, existe também, conforme Bee (1997), o relógio social que se refere às experiências culturalmente compartilhadas e ao que é esperado em termos de comportamento em cada faixa etária. Como, por exemplo, a idade em que comumente as crianças vão à escola; a idade da escolha profissional pelos jovens, ou ainda, a saída de casa para constituir famílias e ter filhos. As experiências comuns vivenciadas no interior de um mesmo grupo interferem no desenvolvimento, embora possam não ter a força dos padrões maturacionais. Enfim, a forma com que o sujeito reage às pressões dos relógios sociais e biológicos pode gerar mudanças internas compartilhadas. São as mudanças biológicas e sociais que ocorrem na infância, na adolescência e na vida adulta que possibilitam a formação de um “arcabouço para um conjunto de mudanças previsíveis na personalidade, estilo de pensamento, valores” (BEE, 1997, p.33). 2) Mudanças comuns a um subgrupo – para entendermos o processo de desenvolvimento das pessoas, não podemos nos deter apenas aos aspectos maturacionais, mas devemos também verificar a influência da cultura de uma determinada sociedade e do momento histórico vivido pelo grupo em questão. 20 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Uma interessante matéria exibida pelo Jornal da Globo no ano de 2011 (ver: <http://www.youtube.com/ watch?v=iHso0nBtkbE>), retrata bem as mudanças entre as gerações ocorridas nos últimos 70 anos. Segundo a reportagem, o intervalo entre uma geração e outra fi cou mais curto: uma geração nova aparece a cada 10 anos, o que faz com que pessoas diferentes convivam o tempo todo em casa, nas escolas e no mercado de trabalho. A matéria apresenta a primeira geração como sendo a Baby Boomers, que nasceu no fi m da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, os Baby Boomers eram jovens quando começou a ditadura militar, é uma geração marcada pela luta, pela jovem guarda e pelo rock in roll. Os Baby Boomers tinham como ideal construir uma carreira sólida, fi delização ao trabalho, uma geração preocupada com o dever, com a segurança, em permanecer muito tempo na empresa. São eles que estão hoje, no mercado de trabalho, na posição de chefi a, de presidência, de diretoria. Entre as décadas de 60 e 70 nasceu a geração que fi caria conhecida como a geração X. Esta, jovem na década de 80, assistiu as Diretas Já, conviveu com a AIDS e viu os avanços da tecnologia. No mercado de trabalho é uma geração que quer trabalhar mais, formar reservas, é apegada a títulos, a cargos, tem um pouco mais de resistência à tecnologia e não tem o afã de buscar inovações. A geração seguinte, geração Y, já nasceu num país da abertura política, na era da tecnologia. No âmbito do trabalho é um profi ssional mais voltado para si, para o prazer, que não quer um emprego fechado, mas sim subir na carreira rapidamente, nem que para isso precise mudar várias vezes de empresa. A galerinha que nasceu em meados da década de 1990 e que está chegando ao ensino superior é a geração Z, muito mais impaciente e imediatista que a geração Y. Esta é uma geração cujo ritmo é determinado pela tecnologia, habituada a fazer tudo ao mesmo tempo: MSN, celular, twitter, facebook, es- tão com todos ao mesmo tempo em que estão sozinhos, desta forma o individualismo é uma outra característica desta geração que pode vir a ter difi culdade em trabalhar em equipe no futuro. A convivência de cada uma destas gerações no mercado de trabalho pode ser bastante confl ituosa, pois possuem modelos mentais diferentes, uma educação e uma história também diferente. FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M Pesquisas como estas, que apontam para o novo perfil dos jovens brasileiros, nos permitem conhecer hábitos, costumes e a forma de pensar de quem provavelmente, em pouco tempo, estará sentado nos 21PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância bancos das universidades como nossos alunos e de quem, a longo prazo, estará assumindo funções produtivas importantes e/ou conduzindo o país. Portanto, esses estudos podem ajudar pais e professores a compreenderem melhor o comportamento de seus filhos/alunos pois, segundo Bee (1997, p.36), precisamos entender como “experiências específicas são capazes de levar grupos inteiros de pessoas para caminhos diferentes”. As mudanças individuais, as partilhadas e as comuns a um subgrupo são aquelas que nos mostram como deter- minadas mudanças: culturais, tecnológicas entre outras, podem determinar novos comportamentos que afetam todo um grupo de pessoas que, consciente ou inconscientemente, aderem a elas. Vejam, este é o caso da gera- ção X, da Y e também da Z, como vimos no quadro acima. Bem, muitas vezes, a maior difi culdade do professor universitário é dialogar com gerações que parecem tão distantes da sua, com formas de pensar e se comportar muito particular, gerando dentro da instituição escolar confl itos semelhantes àqueles observados nas empresas. Desta forma, nós devemos, na tentativa de minimizar estes confl itos, estar abertos para as mudanças e para as inovações que cada geração pode trazer para dentro das salas de aula. A convivência pacífi ca entre gerações é possível, desde que cada uma esteja disposta a reconhecer o que cada uma delas tem de melhor! 3) Mudanças individuais – Refere-se ao impacto que as experiências individuais podem ter sobre as pessoas. Conforme Bee (1997), a maneira como as experiências individuais irão afetar o desenvolvimento de alguém depende fundamentalmente do momento em que estas ocorrem. A ideia básica é, segundo a autora, que a experiência vivida no tempo normal e esperado pela cultura irá trazer para a pessoa dificuldades menores do que a experiência vivida fora de época. Por exemplo, qual será o impacto, na vida de uma menina de 5 anos, quando souber o falecimento da mãe? Ou para uma adolescente engravidar aos 15 anos? E o que significa para uma mulher de 50 anos ingressar pela primeira vez num curso universitário? Ou um homem de 35 anos aprender a ler e escrever? Desta forma, toda a pessoa, em qualquer faixa etária, cuja experiência de vida se desvie da trajetória esperada, “pode, de certa forma, ver-se fora do caminho” (BEE, 1997, p.37). 22 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância O JOVEM ADULTO FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M Na vida adulta, as mudanças físicas e cognitivas são marcadas por padrões mais graduais e variáveis de uma pessoa para a outra do que em outras fases da vida, como a infância, por exemplo. Os estudos sobre o desenvolvimento da criança são orientados pelo papel da maturação, pelos acréscimos e pelos aperfeiçoamentos. Já no adulto, se busca determinar as perdas, os declínios (BEE, 1997). Contudo, as definições do que vem a ser a vida adulta e as possíveis periodizações que se pode fazer nesta etapa do desenvolvimento humano sofrem mudanças no decorrer da história e no interior de diferentes culturas. Um exemplo bastante ilustrativo deste fato é o que tem acontecido com a fase/período denominado de velhice/senilidade e, mais recentemente, terceira idade ou melhor idade. O novo perfil que as pessoas com mais de 60 anos vêm assumindo frente àsociedade põe por terra vários estereótipos negativos em relação à população da terceira idade como, por exemplo, a imagem do idoso dependente financeiramente e sem poder de decisão. Um dos dados que chama a atenção é o papel que esta população desempenha na renda familiar, os resultados de pesquisa recém-concluída sobre a terceira idade realizada com 1500 pessoas revelou que esse estrato da população responde, em média, por nada menos do que 71% da renda familiar total e que essa participação aumenta de forma significativa quanto menor a classe econômica. 23PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Terceira idade gasta mais em qualidade de vida Com dinheiro no bolso, tempo livre, autonomia e disposição para gastá-lo, o potencial de consumo dos brasileiros que já passaram dos 60 anos começa a chamar atenção. Pesquisa recém-concluída sobre o mercado da terceira idade, do instituto Somatório, revela que essa faixa etária tem renda mensal total de R$ 7,5 bilhões, responde por 15% dos rendimentos de todos os domicílios [...]. Os resultados da pesquisa revelam: • 93 % dos entrevistados têm renda própria. • 81% se declararam totalmente independentes para suas tarefas cotidianas. • 30% informaram que vão às compras, sendo que destes 36% são mulheres. • 64% declararam que costumam viajar. • 45% declararam praticam algum exercício, seja em alguma academia ou por conta própria. • 56% informaram que leem jornais e revistas. Fonte: <http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=43&id=283131>. Acesso em: 12 abr. 2010. No caso da periodização, embora não haja consenso entre os estudiosos, convencionou dividir a vida adulta em: início da vida adulta – entre 20 a 40 anos; vida adulta intermediária – 40 a 65 anos; e final da vida adulta – dos 65 anos até a morte (BEE, 1997; MOSQUERA, 1983). Neste estudo, baseados em dados obtidos pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), que indicam um aumento considerável de ingressantes nas universidades brasileiras na faixa etária dos 25 aos 29 anos, focaremos principalmente o período compreendido como início da vida adulta. Segundo dados do Inep, o aumento de 61,9% no número de ingressos entre 2000 e 2006 nas Instituições de Ensino Superior (IES) se deveu, principalmente, à faixa etária dos 25 aos 29 anos. No ano 2000, eles represen- tavam 15,9% dos novos estudantes. Em 2006 eram 18,7% do total. Os ingressantes da considerada faixa adulta, acima dos 25 anos, passaram de 35,81% no ano 2000 para 39,73% em 2006. Fonte: <http://revistaensinosuperior.uol.com.br/revista.asp?edicao=Edi%E7%E3o%20115>. Acesso em: 15 jun. 2009. 24 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância O DESENVOLVIMENTO FÍSICO Até o fim da adolescência o desenvolvimento físico encontra-se completo. Um adulto jovem padrão na casa dos 20 a 30 anos – com bons hábitos de vida, higiene, sono, exercícios, alimentação e um nível controlado de stress - possui: mais tecido muscular, um máximo de cálcio nos ossos, mais massa cerebral, melhor visão, audição e olfato, maior capacidade de oxigenação e um sistema imunológico mais eficiente. Ele é mais forte, mais rápido e mais capaz de recuperar-se do exercício ou de adaptar-se às condições do corpo em mudança na temperatura ou em maiores altitudes (BEE, 1997, p.390). Não existe um consenso entre os especialistas sobre a idade que se inicia e que se encerra a adolescência. Cronologicamente, ela é defi nida, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria como a faixa etária de 10 a 19 anos; já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no Artigo segundo, delimita a adolescência entre 12 e 18 anos. Fonte: ROSIN, S. M. Os incríveis anos da adolescência. Psicologia e educação: compartilhando saberes. Ma- ringá: Eduem, 2009, pp. 91-110. Soma-se a uma melhor acuidade visual, a uma maior capacidade aeróbica e um sistema imunológico mais eficiente uma grande capacidade reprodutiva. Os riscos de complicações na gravidez e de abortos são menores aos 20 que aos 30 anos, a fertilidade, entendida como a capacidade de conceber, atinge seu pico no final da adolescência e início dos 20 anos, declinando progressivamente. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos na década de 1980 revelou que “apenas 7% das mulheres entre 20 e 24 anos eram inférteis, comparadas a 15% daquelas entre 30 e 34 anos e 28% das mulheres entre 35 e 39 anos” (BEE, 1997, p.392). 25PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Existe uma crença bastante arraigada de que a capacidade cognitiva na infância e na adolescência é maior do que na maturidade e de que esta capacidade tende a declinar com o passar dos anos. Pesquisas desenvolvidas tendem a corroborar com a ideia de que as habilidades cognitivas diminuem com a idade. Se tomarmos grupos de pessoas com idades diferenciadas entre 20 a 80 anos, por exemplo, e pedirmos para que respondam num curto espaço de tempo as seguintes questões: quais os números que faltam na sequência 1 3 9 _ _ 81 243; ou, qual letra se seguiria a esta série J, F, M, A, M, J; ou ainda, qual é o objeto que se pode ler nas letras misturadas R R R R F G I A E E O D, provavelmente teríamos que as pessoas mais jovens se sairiam melhor nas respostas. O teste completo pode ser encontrado em: <http://veja.abril.com.br/270601/teste.html>. Mas será que estes resultados apontariam para uma deterioração inevitável da inteligência? Segundo Palácios (1995), a resposta é não. O que aponta o autor em tela é para a necessidade de se buscar as origens de tais diferenças que, segundo ele, podem ser compreendidas a partir das seguintes hipóteses: • Problema de projeto de investigação: esse problema consiste nas pessoas estudadas terem idades diferentes no mesmo momento da investigação. Isto pode signifi car, por exemplo, que os sujeitos mais jovens, na casa dos 20 anos, tenham maior tempo de escolarização do que os mais velhos. Para Palácios (1995), seria difícil determinar qual porcentagem das diferenças se deve à capacidade inte- lectual, a diferenças de geração ou, ainda, ao local de onde foram recrutados os sujeitos: os jovens nas universidades? Os anciões nos asilos? • Problema da familiaridade com as tarefas – As pessoas mais jovens podem, segundo afi rma Pa- lácios (1995), estarem mais familiarizadas com as tarefas que lhe exijam lembrança, memorização e escolhas rápidas, tarefas que podem ser pouco frequentes aos adultos e muito raras aos mais velhos. • Problema de velocidade – As transformações no sistema nervoso dos mais velhos podem difi cultar a resolução de problemas que exigem velocidade na execução, como no caso dos problemas propos- tos. • Tendência à cautela – Existe, em consonância com Palácios (1995), uma tendência das pessoas mais velhas serem mais cautelosas, seus erros ocorrem porque preferem não responder quando não têm certeza do que responder erradamente, ao contrário dos mais jovens, que mesmo sem terem certeza respondem, às vezes, equivocadamente. • Problemas motivacionais – As pessoas mais velhas podem estar menos motivadas que as mais jovens a resolver problemas como estes. 26 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Enfim, conclui Palácios (1995), os decréscimos da capacidade intelectual tendem a ser menor quando: • a investigação se propõe a acompanhar o sujeito ao longo de um período maior de tempo; • as situações-problemas se referem à vida real, com as quais as pessoas mais velhas estão mais familiarizadas e para as quais estão mais motivadas; • a velocidade da resposta deixa de ser determinante, não importando um minuto a mais ou a menos. PERFIL DO UNIVERSITÁRIO BRASILEIRO Segundo dados do INEP coletados entre os anos2000 e 2006: • 39,73% dos alunos que entram no ensino superior têm mais de 25 anos. • 53,6% estudam em universidades. • 55,7% do total de estudantes é do sexo feminino. • 53,7% declararam trabalhar ou já ter trabalhado em tempo integral. • 87% das famílias dos alunos das instituições públicas estão na classe C ou acima. • 73% da renda familiar mensal dos estudantes do ensino superior não ultrapassam dez salários mínimos. • 39% dos estudantes do ensino a distância trabalham e ajudam a sustentar a família e 43% têm renda familiar de até três salários mínimos. Fonte: <http://revistaensinosuperior.uol.com.br/revista.asp?edicao=Edi%E7%E3o%20115>. Acesso em: 15 jun. 2009. Para o autor, as possíveis conquistas ou perdas que se dão no âmbito cognitivo se devem a um conjunto de fatores, e não apenas à idade cronológica. Dentre esses fatores estão: a saúde, a educação, a cultura, as experiências pessoais e profissionais. Afirma Palácios (1995, p.312): “É esse conjunto de fatores e não a idade cronológica per se, o que determina boa parte das probabilidades de êxito que as pessoas apresentam, ao enfrentar as diversas demandas de natureza cognitiva”. O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M 27PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Convencionou-se, em teorias psicologias mais tradicionais, apresentar a idade adulta como um período de poucas mudanças e de estabilidade psicológica. Mosquera (1983) apresenta, em uma rápida revisão de literatura sobre o assunto, algumas teorias interessantes. Hubert (1965 apud MOSQUERA, 1983) assevera que o início da vida adulta e o fim da adolescência são marcados pelo equilíbrio mental. Para Remplein (1971 apud MOSQUERA, 1983), o desenvolvimento termina com o fim da adolescência, contudo, continua ocorrendo mudanças tanto no corpo quanto no “espírito” dos jovens. Este autor assinala que a idade adulta inicial, entre 20 e 30 anos, é marcada ainda por comportamentos caracterizados como adolescentes. As características gerais do jovem adulto seriam: vitalidade, valorização da individualidade e otimismo. Lowe (1974 apud MOSQUERA, 1983), afirma que as maiores dificuldades da idade adulta estariam relacionadas às pressões advindas das expectativas sociais, como a definição profissional, a independência financeira e a escolha de um companheiro/companheira. Para Pedrosa (1976 apud MOSQUERA, 1983), haveria dificuldade em se precisar uma idade para se chamar de vida adulta, pois, necessariamente, o início da maturidade não coincide com o início cronológico da vida adulta. Desta forma, afirma o autor, na impossibilidade de enquadrar o adulto na universalidade, restariam apenas alguns traços genéricos entre os quais poderíamos incluir: independência familiar e econômica, profissionalização, casamento e paternidade. Frente às representações possíveis da idade adulta, podemos afirmar, em consonância com Palácios (1995, p.22), que em virtude de todas as coisas importantes que ocorrem neste período da vida, descrever o jovem adulto como alguém “impassível diante de tais mudanças, não influenciado por elas em suas habilidade e capacidades, em sua auto-imagem, em suas relações interpessoais, etc. carece de realismo psicológico” (grifo nosso). A genética determina o nosso comportamento? Não. O nosso DNA possibilita e favorece determinados tipos de comportamentos, mas não determina nada. Se- gundo Matt Ridley, autor do livro O que nos faz humanos “Os genes não restringem a liberdade humana – eles a possibilitam”. Para André Ramos, diretor do Laboratório de genética do Comportamento da Universidade Federal de Santa Catarina, “A genética não é um destino, não determina o que você vai ser. Ela oferece predisposições. Todos estão sujeitos a infl uências ambientais que podem, sim, mudar a expressão dos genes e fazer com que eles simplesmente não se manisfestem”. O GORDINHO ENGRAÇADO A criança busca chamar atenção dos pais, dos familiares, dos amigos da escola e da professora. Se não é a mais bonita ou a mais forte do grupo, pode chamar a atenção de outro jeito: contando piadas, por exemplo. A BONITA E BURRA A menina que nasce mais bonita que a média, pode ter mais atenção dos pais e dos amigos, ser mais facilmente aceita no grupo. Mas esta herança pode ter seu lado negativo, por ser o centro das atenções por causa da bele- za, ela, talvez, não desenvolva outras formas de se destacar, como a intelectual, por exemplo, correndo o risco 28 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância de fi car vazia e desinteressante. TÍMIDO E INTELIGENTE As pessoas tímidas e inteligentes, em contrastes com as abertas e sociáveis, podem ser assim porque aprende- ram com seus pais a serem frias e distantes. Fonte: SGARIONI, M e NARLOCH, L. O que faz de você, você? Super interessante. ed. 248, Jan/2008. A PROFISSIONALIZAçãO DO JOVEM ADULTO FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M Embora pouco abordado ou abordado de forma equivocada, o tema profissionalização deveria ser melhor compreendido por pais e educadores, uma vez que a profissão tem um papel importante na vida do ser humano, influenciando decisivamente na formação da personalidade do indivíduo. Desta forma, uma das melhores maneiras de se investigar este tema é se questionando sobre as escolhas profissionais feitas: o que leva os indivíduos a escolherem determinada profissão? Segundo Palácios (1995), não existem muitos dados conclusivos a respeito do que levaria as pessoas a escolherem esta ou aquela profissão. O autor cita duas óticas diferentes a partir das quais foram analisados os motivos pelos quais as pessoas escolhem uma ou outra ocupação laborial: a ótica sociológica e a ótica psicológica. 29PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância ÓTICA SOCIOLÓGICA ÓTICA PSICOLÓGICA Sob esta perspectiva estaria uma espécie de “heran- ça ocupacional”, manifestada na transmissão de pro- fi ssões de pais para fi lhos ou nas oportunidades que a situação sócio-econômica de determinados pais abre para a escolha profi ssional dos fi lhos. Sob esta ótica a escolha profi ssional estaria ligada a determinados traços de personalidade. O que tor- na provável que pessoas com maior capacidade de liderança façam escolhas diferentes das mais intro- vertidas. Fonte: PALÁCIOS, J. O desenvolvimento após a adolescência. In: COOL, C, PALÁCIOS, J, MARCHESI, A. De- senvolvimento psicológico e educação – psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes médicas, 1995, v. 1, p. 318. A influência da família e os aspectos referentes à personalidade também são destacados por Bee (1997) ao referir-se sobre a escolha profissional. Segundo a autora, jovens da classe média, por influência dos pais, são mais inclinados a se qualificarem para empregos da classe média, os quais, em sua maioria, exigem uma formação universitária. Os valores familiares também interferem na escolha profissional e, independentemente da classe social, pais que valorizam conquistas acadêmicas e profissionais incentivam seus filhos a frequentarem a universidade. Segundo Bee (1997), a personalidade também é um fator que deve ser considerado na escolha profissional. Para ela pessoas cuja personalidade combina com o seu trabalho são mais propensas a se sentirem satisfeitas com a profissão. A autora apresenta seis tipos básicos de personalidade e seis ambientes paralelos de trabalho. TIPO PERSONALIDADE AMBIENTE ADEQUADO DE TRABALHO Artístico Prefere atividade individual, não-estruturada; associal. Atividades livres, não sistematizadas para produzir arte ou performance. Empresarial Gosta de organizar e dirigir os outros; comumente bastante falante e dominador, persuasivo e com grande liderança. Manipulação dos outros, tal como ocorre em vendas. Convencional Gostade orientações claras, atividades estruturadas e papéis de subordinação; preciso e minucioso. Manipulação ordenada, precisa e sistemática de dados; arquivos, registros, contabilidade e organização. 30 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Social Gosta de trabalhar com as pessoas e não gosta de atividades intelectuais ou altamente organizadas; necessita de atenção. Atendimento, treinamento, prestação de serviços, esclarecimento aos outros. Pesquisador Gosta de tarefas ambíguas e desafiadoras que envolvam o pensamento abstrato, o planejamento, a organização; comumente possui habilidades sociais insuficientes. Pesquisa criativa ou observação de fenômenos físicos, biológicos ou culturais. Realista Gosta de atividades mecânicas e de uso de ferramentas; agressiva, masculina, fisicamente forte; costuma apresentar habilidades verbais ou interpessoais insuficientes. Manipulação sistemática de ferramentas, máquinas ou animais. Fonte: HOLLAND, J, 1973, apud BEE, H. Desenvolvimento social e da personalidade no início da vida adulta. In: BEE, H. O ciclo vital. São Paulo: Artmed, 1997, p.430. Contudo, pesquisas apontadas pela autora demonstram que o sucesso profissional não depende da combinação trabalho e personalidade, entretanto, conclui Bee (1997), pessoas cujas escolhas profissionais não combinem com sua personalidade podem até obterem sucesso, mas isso não garante que se sentirão felizes com a profissão. Assevera Palácios (1997) que existe uma variabilidade muito grande de motivos que levam os jovens a fazerem escolhas profissionais, além dos sociológicos e psicológicos. Desta forma, não podemos deixar de mencionar os fatores econômicos, pois, muito jovens, elevados precocemente à categoria de “arrimo de família”, são lançados ao mercado de trabalho sem preparação profissional suficiente e/ou adequada. A necessidade de sobrevier sobrepõe-se a questões como vocação, desejo, afinidade, personalidade e, os jovens, compulsoriamente, exercem profissões que estão longe de afinar-se com o seu perfil psicológico e de lhes dar qualquer satisfação pessoal. A insatisfação com a profissão, escolhida ou não, somada a outros fatores como competição, cobranças, altos níveis de expectativas externas e internas, responsabilidade e o medo do desemprego levaram ao desenvolvimento de doenças próprias do mundo contemporâneo, capitalista e industrializado como, por exemplo, a síndrome de Burnout. 31PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância A síndrome de Burnout, da língua inglesa ‘’to burn out’’, que signifi ca queimar por completo, também chamada de síndrome do esgotamento profi ssional, foi assim denominada pelo psicanalista nova-iorquino, Freudenber- ger, após constatá-la em si mesmo, no início dos anos de 1970. A síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profi ssionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando estas atividades são consideradas de ajuda e relacionadas a um con- tacto interpessoal mais exigente, tais como médicos, psicólogos, carcereiros, assistentes sociais, comerciários, professores, atendentes públicos, enfermeiros, funcionários de departamento pessoal. FATORES Entre os fatores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome de ‘’Burnout’’ está a pouca auto- nomia no desempenho profi ssional, problemas de relacionamento com as chefi as, problemas de relacionamento com colegas ou clientes, confl ito entre trabalho e família, sentimento de desqualifi cação e falta de cooperação da equipe. SINTOMAS Os sintomas são inúmeros, entre eles: fortes dores de cabeça, tonturas, oscilações de humor, distúrbios do sono, difi culdade de concentração, problemas digestivos. Embora haja certa difi culdade em diagnosticar a síndrome uma vez que os sintomas se confundem, atualmente muitos pacientes são diagnosticados com a síndrome do esgotamento profi ssional. Fonte: <pt.wikipedia.org/wiki/Síndrome_de_Burnout>. Acesso em: 8 abr. 2012. LAçOS FAMILIARES FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M A configuração de novos papéis, como os profissionais e os familiares, parece se constituir na tônica do início da idade adulta. A idade para isso acontecer pode variar de cultura para cultura, de grupo social para 32 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância grupo social, mas o certo é que mais cedo o mais tarde “precisamos deixar de lado nossa preocupação com a definição de nós mesmos e assumir uma série de papéis que envolvem relações intricadas com outras pessoas” (BEE, 1997, p.413). Nesse assumir novos papéis, a saída da casa dos pais pode representar um momento importante. No Brasil, ainda é comum que os filhos saiam de casa apenas com o casamento. Mas este cenário está se reconfigurando, muitos jovens mudam-se da casa dos pais para estudarem fora, para trabalharem em outras cidades ou até mesmo para iniciarem uma vida independente. Em consonância com Bee (1997, p.413), deixar a casa dos pais “envolve também um processo de emancipação psicológica importante em que o jovem se distancia, emocionalmente, dos pais, no mínimo em certo grau”. É importante frisar que esta emancipação é feita gradualmente e que o apego aos pais, característico da infância, aos poucos se estende aos amigos, na adolescência, e na vida adulta, a um companheiro (BEE, 1997). Em relação ao casamento e a constituições de novas relações familiares, não devemos esquecer os aspectos históricos e culturais que influenciam nossas representações sobre eles. Por exemplo, o casamento baseado na monogamia e na afetividade faz parte do contexto histórico atual, muito embora casamentos alicerçados em interesses econômicos e casamentos poligâmicos continuem a existir. Palácios (1995) apresenta algumas questões consideradas por pesquisadores nas investigações sobre o relacionamento entre casais, tanto em casamentos tradicionais, civis e religiosos, quanto em suas novas configurações como as uniões estáveis, por exemplo, entre eles abordaremos: os motivos da escolha do cônjuge e o grau de satisfação com a vida de casado e os fatores com as quais está relacionada. Em relação à primeira questão, segundo o autor, a literatura vigente aponta para o princípio de semelhança, ou seja, as pessoas escolhem para companheiros os mais parecidos quanto: à idade, ao nível educativo, lugar de residência, atitudes e crenças. Embora haja casos nos quais as diferenças prevaleçam, o que ainda predomina é o princípio de semelhança, também denominado de homogamia ou acasalamento por ajuste (PALÁCIO, 1995; BEE, 1997). 33PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Filtros aplicados na escolha do companheiro: 1- Características externas: será que esta pessoa combina com você na qualidade da aparência, na classe social aparente ou em suas maneiras? 2- Atitudes e crenças: há uma combinação de suas ideias em áreas básicas, como sexo, religião ou política? 3 - Adequação de papéis: as ideias dessa pessoa sobre relacionamento combinam com as suas? Você possui ideias similares sobre papéis sexuais adequados? Você é sexualmente compatível? Fonte: MURSTEIN, B. (1970, 1976, 1989) apud BEE, H. Desenvolvimento social e da personalidade no início da vida adulta. In: BEE, H. O ciclo vital. São Paulo: Artmed, 1997, p.415. A felicidade do casal e as circunstâncias com as quais esta está relacionada dependem, segundo as pesquisas, pouco de fatores como tempo de união ou situação financeira e, muito mais, “de fatores intra e interpessoais do tipo maturidade emocional, nível de auto-estima, capacidade de adaptação pessoal em relação ao outro, capacidade de expressar e receber afeto, nível de comunicação, satisfação com a relação sexual [...]”(PALÁCIOS, 1995, p.316). Segundo o autor, outros fatores são apontados, pelas pesquisas, como responsáveis pelo grau de satisfação do casal, entre eles: fidelidade conjugal, apreço e respeito mútuos, compreensão e tolerância, interesses e gostos em comum, relacionamento sexual satisfatório. A presença de sentimentos comuns nas relações como ansiedade, desconfiança, ciúmes, insatisfação ou felicidade, confiança e satisfação, pode estar relacionada a apegos desenvolvidos na infância, principalmente nas relações com os pais. Contudo, afirma Bee (1997), adultos com histórias de apego inseguro podem avaliar e aceitar suas relações na infância e criarem um novo modelo interno. CONSIDERAçÕES FINAIS Independente da modalidade abordada, educação infantil, ensino fundamental, ensino médio ou superior, as reclamações dos professores são muito parecidas: a falta de interesse dos alunos pelas aulas, pelo conteúdo escolar e pelas atividades propostas, de forma geral. É lógico que generalizações são arriscadas e que também devemos guardar as devidas diferenças uma vez que estamos falando de períodos de vida muito diferenciados entre si e, portanto, com características físicas, emocionais e cognitivas bastante peculiares. Mas o fato é que um comportamento que já notamos nos alunos da educação infantil tende a se intensificar com o passar dos anos: a motivação para aprender quase sempre ocorre a partir de interesses externos e, raramente, pelo próprio prazer em conhecer. Desta forma, as perguntas do professor seriam: como vencer a ansiedade e o aborrecimento do aluno? 34 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Como fazê-lo perceber a importância do conteúdo trabalhado para o cumprimento das atividades próprias da profissão escolhida? Como fazê-lo cooperar, participar e dividir? De fato, os alunos são muito diferentes entre si, suas histórias de vida, suas motivações pessoais e suas metas a médio e longo prazo podem não coincidir, o que dificulta sobremaneira o trabalho escolar (TAPIA; MONTEIRO, 2004). Pesquisas sobre motivação, realizadas por Tapia (1997 apud TAPIA; MONTEIRO, 2004), demonstraram que alunos se dedicam aos trabalhos escolares com mais ou menos interesse e esforço em decorrência de três fatores: • O significado que tem para eles aprender o que está sendo ensinado, significado este que depende de metas ou objetivos que pretendam alcançar. • As possibilidades que julgam ter para vencer as dificuldades e alcançar as aprendizagens propostas. • O custo, em termos de tempo e esforço, que representará a aquisição das aprendizagens propostas. O significado de toda a situação de aprendizagem deveria ser, segundo Tapia e Monteiro (2004), o de incrementar as capacidades dos alunos. Desta forma, assevera os autores, resta ao professor saber que características devem reunir o modo de propor o ensino para que o aluno entenda a aprendizagem de forma significativa e positiva. • O valor do trabalho pode depender da percepção da utilidade da aprendizagem: O esforço para aprender pode ser mais ou menos intenso dependendo da “utilidade” que o aluno vê naquela aprendizagem. Embora a utilidade de um determinado conteúdo possa ser relativo, afirmam Tapia e Monteiro (2004, p.179) que o interesse e o esforço em determinadas aprendizagens podem diminuir à medida que o aluno se pergunta para que serve aquele conhecimento: “Ao contrário, à medida que se percebe as múltiplas utilidades – a curto e a longo prazos – que pode ter aprender algo, aumenta a probabilidade de que o interesse e o esforço aumentem”. • O valor do trabalho pode depender de incentivos externos à sua realização: A ausência de incentivos externos para a realização de uma tarefa pode ser a causa da falta de motivação do aluno. Entretanto, a utilização de incentivos externos, como prêmios e castigos, para levar o aluno a realizar uma aprendizagem, é assunto bastante controverso. Incentivar os alunos extrinsecamente pode levá-los a acreditarem que só se deve fazer o que será recompensado, tal fato pode ser comprovado por meio da pergunta: vai valer nota, professor? Ou seja, se não ganhar alguma coisa externa, não valerá o esforço de realizar a tarefa. Desta forma, as estratégias de ensino utilizadas pelo professor só seriam válidas à medida que incentivassem as motivações intrínsecas (TAPIA; MONTEIRO, 2007, p.180). • O significado do trabalho escolar pode depender das notas: A utilização das notas como vetor de motivação pode funcionar do mesmo modo que o emprego de prêmios e castigos, ou seja, mais negativa do que positivamente. O aluno motivado pela avaliação pode 35PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância estudar para “tirar nota” e não para aprender, o que leva a uma aprendizagem mecânica, permeada pelo famoso “decoreba”. O professor, muitas vezes, incentivado pela pressão que as notas exercem no imaginário de seus alunos, lembra-os, várias vezes, durante a aula, do dia da prova. • O significado do trabalho escolar depende de suas implicações para a autoestima. As atividades propostas, especialmente as avaliativas, podem afetar a autoestima do aluno. Evidentemente, as avaliações negativas tendem a diminuí-la, influenciando a forma com que o aluno enfrenta as atividades escolares e repercutindo negativamente em seu processo de aprendizagem e em seu desenvolvimento pessoal (TAPIA; MONTEIRO, 2004). Desta forma, cabe ao professor reavaliar suas linhas de atuações e, modificar aquelas que interferem negativamente sobre a autoestima dos alunos. • O valor do trabalho depende do respeito ao desejo de autonomia: A organização escolar em si não contribui para o desenvolvimento pessoal do aluno. A escola impõe quase tudo: horários, conteúdos, atividades, formas de avaliação, os grupos da sala... cabe ao professor, segundo Tapia e Monteiro (2004, p.181), oferecer ao aluno um contexto que estimule a criatividade e a curiosidade, no qual o aluno possa se sentir participante, possa perceber o valor da aprendizagem para atingir suas metas e seu crescimento pessoal e “sobretudo, de que seu trabalho está sendo útil porque lhe permite progredir”. • O valor do trabalho depende da apreciação do aluno por professores e colegas: Como a atividade acadêmica é social, sentir-se aceito é uma necessidade experimentada por professores e alunos. Alunos que sentem a rejeição por parte do grupo ou do professor ou, ainda, a preferência deste por outros alunos tenderão a se isolar ou evitar atividades coletivas. Deste modo, afirmam Tapia e Monteiro (2004), o professor deve rever sua linha de atuação optando por trabalhos que incentivam a solidariedade e a cooperação, que tendem a ser mais eficientes e produtivos do que aqueles realizados individualmente ou que incentivem a competição. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1) Aponte três características de comportamento que indicam a entrada do adolescente no mundo adultos. 2) Explique o que é o modelo do Ciclo Vital e em que ele se diferencia dos modelos explicativos do desenvolvimento humano da Psicologia tradicional. 3) Quais aspectos motivacionais o professor deveria observar no seu trabalho pedagógico com alunos jovens e adultos? UNIDADE II OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE E DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA Objetivos de aprendizagem • Compreender os principais conceitos da abordagem psicanalítica e da teoria piagetiana. • Entender como se dá a atuação dos mecanismos de defesa. • Conhecer as características inerentes a cada fase do desenvolvimento psicossexual e cognitivo. • Refletir sobre o desenvolvimento mental a partir dos pressupostos da epistemologia genética. • Perceber quais são as contribuições da teoria de Piaget e da teoria de Freud para a educação. Plano de estudo A seguir, apresentam-se os tópicosque você estudará nesta unidade: • FREUD: vida e obra • PIAGET: vida e obra • Principais conceitos da teoria psicanalítica • Consciente, pré-consciente e inconsciente • Id, Ego e Superego • Mecanismos de defesa • Fases do desenvolvimento psicossexual • Principais conceitos da teoria piagetiana • Os estágios de desenvolvimento cognitivo • Implicações educacionais 39PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância INTRODUçãO Sobre os processos de desenvolvimento e de aprendizagem, existem inúmeras teorias que os definem de forma particular, podendo, ou não, estabelecer relações entre eles. Contudo, já afirmava Vygotsky (1991), nenhuma análise do ensino que se pretendesse séria poderia se eximir de reconhecer esta relação e de procurar entender como ela se efetivaria. Para tanto, apresentaremos, ao longo desta unidade e da outra que se seguirá, algumas abordagens teóricas – psicanálise, epistemologia genética e histórico-cultual que contribuíram para o entendimento das questões educacionais e, particularmente, para a compreensão das relações possíveis entre o desenvolvimento e a aprendizagem. Optamos por discutir as abordagens por meio de de seus nomes mais expoentes, aqueles que estariam ligados ao seu desenvolvimento: psicanálise por Freud, epistemologia genética por Piaget, e a abordagem histórico-cultural por Vygotsky. DESENVOLVIMENTO HUMANO: ALGUNS PRESSUPOSTOS A Psicologia Evolutiva, responsável pela condução dos estudos sobre o desenvolvimento humano, tem uma história recente: os primeiros autores que se preocuparam com questões evolutivas sob uma perspectiva psicológica datam das últimas décadas do século XIX e das primeiras do século XX (PALÁCIOS, 1995). Contudo, as orientações teóricas que têm servido de base para a Psicologia Evolutiva surgem com os filósofos nos séculos XVII e XVIII. Entre estes, podemos citar J. Locke (1632-1704) e J. J. Rousseau (1712- 1778). Locke, cujos princípios filosóficos são conhecidos como empirismo, acredita que a mente humana poderia ser comparada, no nascimento, a uma tábula rasa. Desta forma, seriam as experiências vividas, os estímulos do meio, que determinariam os conteúdos do psiquismo humano, ou seja, não haveria nada na inteligência que não houvesse passado pelos sentidos. Dois séculos depois, encontramos na Psicologia os modelos mecanicistas do desenvolvimento, defendendo que a história psíquica do indivíduo seria determinada pelas suas experiências e aprendizagens (PALÁCIOS, 1995). Rousseau, por sua vez, defende a ideia da existência de categorias inatas de pensamento como, por exemplo, a bondade natural da criança. Duzentos anos mais tarde, esta tradição filosófica aparece na Psicologia Evolutiva denominada como naturalista e/ou idealista (PALÁCIOS, 1995). Para os psicólogos evolutivos defensores desta abordagem teórica, “o desenvolvimento psicológico não ocorre de qualquer maneira, não é um processo indeterminado que cada indivíduo vivencia de maneira completamente diferente do outro” (PALÁCIOS, 1995, p.13), mas, ao contrário, o processo evolutivo segue uma determinada direção universal orientado “a atingir uma determinada meta, considerado algo semelhante ao ápice do desenvolvimento” (PALÁCIOS, 1995, p.13). 40 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Segundo Palácios (1995, p.13), Piaget e Freud são dois grandes expoentes destes pontos de vista, pois apesar dos seus pressupostos teóricos terem diferenças importantes, ambos defendem o desenvolvimento humano a partir de estágios/fases [...] cuja sequência evolutiva pressupõem ser invariável de um indivíduo para outro, com a convicção no papel determinante que as experiências da infância têm no desenvolvimento psicológico posterior, à referência a processos e conteúdos não quantificáveis nem diretamente observáveis [...] e à descrição do desenvolvimento como um processo orientado a uma meta [...] Nesta unidade, iremos compreender os principais conceitos da abordagem psicanalítica. Vamos entender como se dá a atuação dos mecanismos de defesa e conhecer as características inerentes a cada fase do desenvolvimento psicossexual. Ao final da unidade, perceberemos quais são as contribuições da abordagem psicanalítica para a educação. Procuraremos também compreender os principais conceitos da teoria piagetiana e refletir sobre o desenvolvimento mental a partir dos pressupostos da epistemologia genética. Também, vamos perceber quais são as contribuições da teoria de Piaget à educação. A PSICANÁLISE: SIGMUND FREUD (1856-1939) Freud: vida e obra Freud nasceu em 6 de maio de 1856, na pequena cidade de Freiberg, na Moravia. Aos 4 anos muda- se, com a família, para Viena, onde permanece até os 82 anos, mudando-se, depois para Londres, por ocasião da ocupação dos alemães na Áustria, onde veio a falecer, no dia 23 de setembro de 1939. Filho de uma família numerosa, Freud foi o primogênito do segundo casamento de seu pai e, por ser um excelente aluno, possuía uma posição bastante privilegiada em relação aos seus outros irmãos e irmãs. Apesar da situação econômica desfavorável de sua família, que os obrigava a viver num ambiente apertado, Freud tinha seu próprio quarto e uma lamparina de óleo de azeite, para estudar, enquanto os outros integrantes da família possuíam apenas velas. 41PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud>. Ingressou no curso de medicina na Universidade de Viena, em 1873, onde permaneceu até 1881. Por ocasião de sua formatura e de seu casamento, passa a dedicar-se à clínica médica, mas continua a realizar suas pesquisas na área da neurologia, interessando-se pelo caráter psicológico das neuroses. Em 1885, muda-se para Paris e vai trabalhar com Charcot, proeminente nome na área da neuropatologia, que acreditava na possibilidade de se induzir ou aliviar sintomas histéricos por meio da “sugestão hipnótica”. Aprofunda o método hipnótico no trabalho que realiza com Joseph Breuer, de quem foi um dos principais colaboradores, desenvolvendo o chamado Método Catártico, por meio do qual se acreditava que a revivescência de fatos traumáticos descarregava as emoções que ali estavam contidas, libertando o paciente dos sintomas. Porém, Freud conclui que a hipnose estabelecia uma relação de dependência entre o médico e o paciente e que a melhora era pouco duradoura. Freud abandona a hipnose e passa a utilizar-se do método da Livre Associação, por meio do qual o paciente era encorajado a falar, até vir à tona o trauma responsável pela sua perturbação nervosa. Por meio da técnica da livre associação, as recordações pareciam invariavelmente recuar cada vez mais, até as experiências da infância, e Freud verificou que muitas dessas lembranças reprimidas envolviam questões sexuais. Ao afirmar a existência de sexualidade na infância, ao reconhecer a existência de processos inconscientes e propor uma técnica para a sua exploração, Freud diverge de todo o saber instituído até então, entrando em contradição com a própria psicologia. Segundo Mezan (1985), a psicanálise teve, a princípio, grande dificuldade em fazer suas afirmações, pois, além de ser difícil prová-las empiricamente, elas se chocavam nitidamente com a moral vitoriana da época, que não reconhecia a sexualidade feminina fora do casamento. Freud constatou os efeitos devastadores dessa moral sobre suas pacientes histéricas. 42 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância A teoria de Freud é construída e explicada em muitas de suas obras, entre elas: A interpretação dos sonhos (1899/1900), Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901); Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905); Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905); Fragmento da análisede um caso de histeria (“Dora”); Cinco lições de psicanálise (1910); Totem e tabu (1913); Sobre o narcisismo (1914); O inconsciente (1915); As pulsões e seus destinos (1915); Conferências introdutórias sobre a psicanálise (1915-1917); Além do princípio do prazer (1920); O id e o ego e a organização genital infantil (1923); O futuro de uma ilusão (1927); O mal-estar da civili- zação (1929/1930); Novas conferências sobre a psicanálise (1933) e Moisés e o Monoteísmo (1939). Fonte: ALMEIDA, S. F. C, de. O arqueólogo do inconsciente. In: Freud pensa a educação, Revista educação especial: biblioteca do professor, n. 1. Freud teve grande dificuldade para impor suas ideias e à medida que suas teorias se tornavam conhecidas, mais aumentavam as críticas. Em 1933, seus livros foram queimados em praça pública pelos nazistas. Em seus últimos anos de vida, Freud teve que conviver com um câncer na boca e na mandíbula que o submeteu a trinta e três procedimentos cirúrgicos. Quando os nazistas ocuparam a Áustria, Freud se refugiou em Londres, onde morreu um ano depois, em 1939. CRONOLOGIA DA VIDA DE FREUD 1856 - Nasceu em 6 de maio, em Freiberg – Moravia. 1860 - Muda-se para Viena, onde vive até os 82 anos. 1873 - Ingressa na Universidade de Medicina de Viena. 1881 - Forma-se em Medicina e dedica-se à neurologia. 1884 - Inicia seus trabalhos com Josef Breuer, aplicando a hipnose em pacientes histéricos. 1885 - Viaja a Paris para fazer um curso com o eminente psicólogo, Charcot. 1895 - Escreve seu livro “Estudos sobre histeria”. 1896 - Usa, pela primeira vez, o termo Psicanálise. 1900 - Escreve seu primeiro livro realmente psicanalítico “A interpretação dos sonhos”. 1910 - Fundação do IPA (Fundação Psicanalítica Internacional) 1923 - Descobre que tem câncer na boca. 1933 - Suas obras são queimadas pelos nazistas. 1938 - Muda-se para a Inglaterra, onde morre um ano depois. 43PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Principais conceitos Consciente, pré-consciente e inconsciente Segundo D’andréa (1996), as atividades mentais do indivíduo podem se manifestar em diversos planos, o que, para Freud, constitui a hipótese topográfica do aparelho psíquico, composto pelo consciente, pelo pré-consciente e pelo inconsciente. Segundo Schultz (1975), o consciente seria uma parte pequena da vida psíquica, baseada na percepção imediata do mundo exterior ou nas sensações do mundo interior. O pré-consciente seria uma parte do inconsciente, mas que poderia se tornar consciente com facilidade. O conteúdo do pré-consciente seriam os processos latentes – lembranças e recordações – ou seja, as partes da memória acessíveis ao sujeito. O inconsciente seria a área psíquica na qual estariam os impulsos primitivos que influenciariam o comportamento, mas dos quais o sujeito não teria consciência, ou, ainda, um grupo de ideias que já foram conscientes e, por possuírem aspectos intoleráveis, não poderiam ser acessadas voluntariamente. O conteúdo do inconsciente só viria à consciência revestido por simbolismos. FO NT E: S HU TT ER ST OC K. CO M A figura do iceberg poderia ser utilizada para representar a hipótese topográfica do aparelho psíquico (D’ANDREA, 1996). 44 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância GLOSSÁRIO DA PSICANÁLISE Inconsciente – Pilar mestre da psicanálise. É o lugar do psiquismo em que se encontram as representações recalcadas. Antes era considerado um depósito de traumas e desejos reprimidos na infância, depois passou a ter uma dimensão maior. Subconsciente ou pré-consciente – Não confundir com inconsciente. É onde se encontram todas as represen- tações que podem ter acesso rápido à consciência. Id – Tradução do grego “Isso”. Polo inconsciente da personalidade, em parte inato e em parte recalcado e adqui- rido. É a origem de todas as pulsões. Ego – O chamado Eu. O que o sujeito imagina que é a partir de suas identifi cações. O que a pessoa acha de si mesma. É também administrador de confl itos, tentando satisfazer o id e o superego. Superego – É a polícia interna do indivíduo. Juiz ou censor do ego. Desenvolvido pela cultura para evitar que os desejos ultrapassem os limites, com prejuízo para a sociedade. Freud vê na consciência moral e na auto- -observação funções do superego. Complexo de Édipo – Conjunto organizado de desejos amorosos ou hostis que a criança, nos primeiros anos de vida, experimenta em relação aos pais. Um amor pela mãe e um ciúme confl itante do pai. Representa um papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo. Segundo Freud, culmina nos meninos com a angústia da castração e nas meninas com a inveja do pênis. Ato falho – Um gesto estranho, falha de palavra, da memória ou da ação que são manifestações do inconsciente no dia a dia. Libido – energia sexual. Sexualidade infantil – Um dos conceitos freudianos que mais causam resistência até hoje. Para Freud, é um ser sexuado que passa pela fase oral e anal antes de chegar na genital, podendo mesmo se fi xar numa delas. Fonte: VITÓRIA, Gisele, Isto é, n.1356 em: 27/9/1995. Id, Ego e Superego No decorrer de suas pesquisas, Freud propõe a estruturação do aparelho psíquico por meio de três componentes básicos: id, ego e superego. O Id poderia ser definido como a parte original do aparelho psíquico, seria herdado, já estaria na criança desde seu nascimento. Segundo Estevam (1992), o que orientaria o comportamento do Id seria o princípio de prazer, e não o princípio da realidade e das convenções sociais. A procura incessante da satisfação de suas necessidades imediatas, orgânicas e psicológicas, seria o maior objetivo. Por meio do Id, se daria a estruturação das outras duas partes: Ego e Superego. Em contato como o meio, o indivíduo precisa redirecionar os impulsos do Id, o princípio deixa de ser o do prazer e passa a ser o da realidade. O princípio de realidade seria o princípio de prazer modificado pelo desenvolvimento da razão – o indivíduo suportaria uma dor, para depois obter um prazer, ou evitaria um prazer que, posteriormente, lhe causaria dor. 45PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS| Educação a Distância Inicia-se, assim, a ação do Ego, instância adaptativa que se desenvolve a partir do Id, com a função de atender às intensas demandas deste e aplacá-las. O Ego seria o responsável por detectar os perigos reais e psicológicos que ameaçariam a integridade do indivíduo. O Superego se refere à herança sociocultural do sujeito, seria a instância que determinaria o “certo” e o “errado”, dentro dos padrões de moralidade e valores. O Superego é formado pelos hábitos e costumes que a sociedade – pais, professores, parentes, amigos - inculca na criança, desde seu nascimento, por meio da educação, possibilitando o armazenamento de normas e regras, fazendo com que esta se torne um ser social e cultural. Alfabetização, ética, formação de professores entre outros, são temas de discussão no site <www.revistaeduca- cao.uol.com.br>. Sobre a psicanálise e a educação a revista editou um número especial, que faz parte da coleção Biblioteca do Professor. Conforme D’andréa (1996), o Id e o Superego não são racionais, pois agem de forma imediata e irrefletida, cabendo ao Ego – parte racional – realizar uma transação realista considerando os aspectos próprios do indivíduo e do meio em que ele está inserido, ou seja, a relação entre estes três componentes da personalidade seria dinâmica e o Ego atuaria como mediador entre os impulsos do Id e as demandas do Superego. INTEGRADOR ID EGO SUPEREGO Realidade INTERDEPENDENTES Mecanismos de defesa Aos conflitos que, consequentemente, possam se formar a partir desta relação que se estabelece entre Id, Ego e Superego, desenvolvem-se os mecanismos de defesa, destinados a proteger os indivíduos dos impulsos
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