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ACURÁCIA E EFICÁCIA Bioestatística FAZER RESUMO CRÍTICO

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sábado, 28 de maio de 2011
Luis Cláudio Correia
Professor Livre Docente em Cardiologia; Doutor em Medicina e Saúde; Professor Adjunto da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública; Coordenador Científico do Hospital São Rafael.
O que é Acurácia?
Na interpretação de evidências científicas, percebo que os equívocos são mais freqüentes quando se trata de métodos diagnósticos do que quando o assunto se refere a métodos terapêuticos. Na mente médica, a análise crítica da eficácia de uma terapia está mais desenvolvida do que a análise da adequação de um método diagnóstico. Desta forma, vemos métodos de nenhum valor clínico sendo utilizados sob falsas premissas de acurácia. Vemos autores de artigos concluindo pelo valor do método avaliado, quando o próprio trabalho mostra o contário. Chega a ser algo caótico.
Portanto, precisamos discutir em detalhe métodos diagnósticos sob o paradigma da medicina baseada em evidências. Diferentes perguntas devem ser feitas quando analisamos este tipo de evidência: (1) o método é acurado? (2) o método é preciso? (3) Em sendo acurado e preciso, o método é útil clinicamente.
Nessa postagem vamos começar pelo básico, ou seja, pelo primeiro item. O que é acurácia?
Respondendo de forma simples, acurácia é a capacidade do método de acertar o diagnóstico.
Quando estamos diante de um diagnóstico dicotômico (presença ou ausência de doença), os componentes da acurácia são sensibilidade e especificidade. Devemos nos lembrar que um método precisa ter um equilíbrio desses dois parâmetros. Sensibilidade é a capacidade do método em reconhecer os doentes, enquanto especificidade é a capacidade do método em reconhecer os saudáveis. Precisamos discriminar os doentes e saudáveis, portanto precisamos tanto de sensibilidade como de especificidade. É fácil simular a invenção de um método 100% sensível: é só dizer que toda a população é doente. Porém nesse caso teremos 0% de especificidade, ou seja, nenhum saudável será reconhecido como tal. Esse método não serve para nada. Não discrimina nada. Daí surge a importância de pensar sempre nos dois parâmetros conjuntamente.
Para isso existem as razões de probabilidade, que são parâmetros que combinam sensibilidade e especificidade.
1. Razão de probabilidade positiva (sensibilidade / (1 – especificidade) é um número que representa o quanto um método de resultado positivo aumenta a chance de um indivíduo ser doente. Quando mais alto este número, melhor, ou seja: RP positiva: > 10 (acurácia ótima); 5-10 (acurácia moderada); 2-5 (acurácia pequena); 1-2 (acurácia nula).
2. Razão de probabilidade negativa (1 – sensibilidade / especificidade) representa o quanto um método de resultado negativo influencia a chance de um indivíduo ser saudável. Quanto mais próximo de zero, melhor: RP negativa: < 0.1 (acurácia ótima); 0.1-0.2 (acurácia moderada); 0.2-0.5 (acurácia pequena); 0.5-1.0 (acurácia nula).
Seguindo esses números, teremos a noção exata da acurácia de um exame, ou seja, da capacidade do teste em influênciar corretamente nosso pensamento a respeito da presença ou ausência de doença.
Devemos evitar um equívoco grave, porém muito frequente: argumentação de acurácia baseada em valor preditivo, pois este não é uma propriedade intrínseca do método, depende da probabilidade pré-teste da doença. Valor preditivo positivo é a probabilidade de uma pessoa ser doente se o resultado do exame for positivo. Valor preditivo negativo é a probabilidade de a pessoa ser saudável se o teste for negativo. Desta forma, valor preditivo é uma propriedade do indivíduo submetido ao exame, não do exame em si.
Se a probabilidade de doença é muito baixa, qualquer método terá um bom valor preditivo negativo e ruim valor preditivo positivo. Se a probabilidade de doença for muito alta, qualquer método terá ruim valor preditivo negativo e bom valor preditivo positivo.
Por exemplo, um método muito ruim pode ter um excelente valor preditivo negativo se quase ninguém tiver a doença. Em 2009, foi publicado um artigo nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia que sugeria ser a cintilografia miocárdica realizada durante dor precordial um bom método para ser usado em pacientes com dor torácica aguda. O argumento era baseado em um bom valor preditivo negativo. Porém as razões de probabilidade eram muito ruins (RP positiva = 1.6 e RP negativa = 0.3), pois a especificidade era ruim (46%) com sensibilidade de 86%. Mas mesmo assim, o valor preditivo negativo foi 98%. Baseado nisso, o autor concluiu que o método teria valor, porém esse valor preditivo se deveu basicamente à probabilidade pré-teste baixa (6% apenas). Ou seja, mesmo que o método seja péssimo, sendo a probabilidade de doença muito baixa, é só dizer que o resultado é negativo que teremos boa possibilidade de acertar.
O mesmo ocorre com o exame de sangue oculto nas fezes como pesquisa de câncer do colon. Um estudo publicado em 2005 no Annals of Internal Medicine mostrou sensibilidade mínima (5%) e especificidade excelente (97%). Mesmo com essa especificidade, devido à baixa sensibilidade, o método não tem valor nenhum. RP positiva = 1.7e RP negativa = 0.98. Ou seja, o resultado do método não muda em nada a chance do paciente ser doente. Mesmo assim, o valor preditivo negativo do método foi 90%. Isso porque a prevalência de câncer era 10%, ou seja, 90% dos pacientes não eram doentes. Ou seja, de acordo com esse artigo de boa qualidade metodológica, a pesquisa de sangue oculto nas fezes não tem valor nenhum. Então porque esse exame existe? Deve ser porque as pessoas não têm o hábito de procurar as evidências de acurácia e mesmo se procuram há grande confusão em relação ao que significa cada um desses parâmetros de acurácia.
Percebam bem como nós aprendemos medicina na faculdade: partindo de um quadro clínico, surge uma suspeita diagnóstica. Para cada suspeita aprendemos os exames que devem ser pedidos para confirmar ou afastar a suspeita. Pronto. Pouco se discute qual a acurácia dos métodos, muitas vezes isso nem está escrito nos livros. Devemos criar o hábito de procurar essas evidências, procurar saber quais as razões de probabilidade, pois este conhecimento vai melhorar tanto a utilização dos exames, como a interpretação de seus resultados.
Em postagem futura, apresentaremos um roteiro de avaliação crítica das evidências relativas a acurácia. Precisamos analisar criticamente os trabalhos que nos trazem essas informações.
* Essa postagem representa o início da série "Análise Crítica de Métodos Diagnósticos".
O Que Significa Odds Ratio ?
Neste dia de eleição, me parece uma boa oportunidade para discutir o significado do Odds Ratio, uma medida de associação algumas vezes mal compreendida. Odds Ratio pode ser traduzido como razão de chances. Desta forma, para entender esta medida, temos que entender o significado da palavra chance (odds).
Primeiro, temos que lembrar que chance (odds) é diferente de probabilidade (risco), embora tenhamos o hábito de usar estas palavras como se significassem a mesma coisa. Por exemplo, qual a probabilidade (risco) de morte no caso de uma doença em que ocorrem 60 mortes a cada 100 pacientes, durante o seguimento de 1 ano? Claro, 60% (60 / 100), isso é intuitivo. Agora, qual a chance de morte? A chance é 1.5, que pode ser expresso também como 1.5 / 1 (1.5 para 1). Isso quer dizer que para cada 1 pessoa que sobrevive, ocorrem 1.5 mortes. Ou melhor, para cada 2 pacientes que sobrevivem, 3 pacientes morrem.
Chance = probabilidade / 1 – probabilidade; ou
Chance = probabilidade / complemento da probabilidade; ou
Probabilidade de morrer / probabilidade de não morrer = 60% / (1 – 60%) = 60% / 40% = 1.5
Vamos agora à eleição presidencial. Imaginem que um eleitor entra em sua sessão para votar. Qual a probabilidade de que ele vote em Dilma? Qual a chance de que ele vote em Dilma?
De acordo com as últimas pesquisas, Dilma tem 50% dos votos (0.5). Neste caso, sua probabilidade de receber o voto deste eleitor é 50%. Mas sua chance de receber o voto é 1.Ou seja, a cada eleitor que entra para votar, Dilma tem 0.5 de probabilidade de receber um voto e 1 – 0.5 de probabilidade de não receber um voto. Desta forma, a chance de Dilma é 1.
1 = 0.5 / (1 – 0.5) = 0.5 / 0.5 = 1 / 1 = 1.
Ou seja, para cada 1 voto contra, ela ganha 1 voto a favor.
Se Serra tem 27% dos votos, sua probabilidade (risco) de receber o voto é 27%. Mas sua chance de receber o voto é 0.37
0.37 = 0.27 / (1 – 0.27) = 0.27 / 0.73 = 0.37 / 1.
Ou seja, a cada 1 voto contra, ele ganha 0.37 voto. Ou sendo mais prático, aproximadamente a cada 3 votos contra, ele ganhará 1 voto a favor.
Agora, se dividirmos a chance de Dilma pela chance de Serra, obteremos o Odds Ratio (razão de chances) de Dilma em relação a Serra.
Odds de Dilma = 1 / Odds de Serra = 0.37 = 1 / 0.37 = 2.7.
Então o Odds Ratio de Dilma é 2.7 - Como interpretar? Dilma tem 2.7 vezes mais chance de receber um voto deste eleitor do que Serra.
Percebam que isso é diferente de probabilidade. Ou seja, a probabilidade (risco) de Dilma ganhar é 50%, comparado a 27% de Serra. Desta forma, o risco relativo de Dilma em relação a Serra é 50%/27% = 1.9. Ou seja, o risco relativonão é o mesmo que odds ratio.
Odds Ratio é uma medida mais intuitiva quando nós pensamos em apostas. Por exemplo, se fôssemos apostar dinheiro no BAVI. Precisaremos saber qual o odds do Bahia ganhar. Digamos que historicamente esse odds é 2, ou seja, 2/1. Isso que dizer que a cada 3 jogos, o Bahia ganha 2 e o Vitória ganha 1. Então se nós apostarmos no Bahia em 3 BAVIs consecutivos, vamos ganhar dinheiro em 2 BAVIs e perder em apenas 1 BAVI. Ou seja, sairemos ganhando. Desta forma, fica fácil entender o motivo da existência desta medida, nos dá uma boa noção de quantas vezes vamos ganhar em um total de vezes em que apostamos. Para isso existe o odds = chance.
No entanto, em estudos médicos sobre marcadores de risco ou terapias cujo intuito é reduzir o risco, a medida de riscotem mais importância do que a medida de chance. Por isso se prefere falar em risco. Mas então porque vemos a utilização de odds ratio em alguns trabalhos?
Isso ocorre quando é impossível calcular o risco. Risco é probabilidade de uma coisa vir a acontecer. Ou seja, para termos esta informação, precisamos de uma amostra onde o desfecho ainda não ocorreu e vamos ver qual a proporção da amostra em que o desfecho ocorrerá (futuro). Precisa-se então de um estudo prospectivo. Quando o estudo é caso-controle, onde casos (desfecho já ocorreu) são selecionados no início do estudo de forma arbitrária, não dá para calcular a proporção de pacientes que virão a ter o desfecho. Ou eles já tiveram o desfecho (casos) ou eles não tiveram o desfecho (controle). Neste caso, como não dá para calcular probabilidade do evento ocorrer, se usa odds (chance).
Por exemplo, o INTERHEART é um estudo caso-controle que selecionou 15000 pacientes com história de infarto e 15000 sem história de infarto. Não podemos calcular a incidência de infarto (risco), pois estes já ocorreram e o número de infartados foi artificialmente planejado para ser igual ao número de não infartados. Neste estudo, não podemos saber o risco relativo do dislipidêmico ter infarto (risco dislipidêmico / risco não dislipidêmico). O que podemos calcular é o odds ratio do dislipidêmico. Ou seja, calculamos o odds do dislipidêmico ser do grupo infarto e o odds do não dislipidêmico ser do grupo infarto. Dividindo as duas odds, o estudo relatou um odds ratio de 3.8. Significa que um dislipidêmico tem uma chance 3.8 vezes maior de ser infartado do que um não dislipidêmico.
O segundo motivo do uso de odds ratio é quando este é derivado de análise multivariada de regressão logística. Por motivos matemáticos que fogem ao escopo deste Blog, a análise de regressão logística utiliza o conceito de odds.
Um erro freqüente é a leitura do odds como se fosse risco. Odds ratio de 3.8 não quer dizer risco 3.8 vezes maior. Isso não é risco, pelos motivos já expostos. No entanto, quando o desfecho é raro, com uma freqüência menor que 10%, as medidas do odds ratio e do risco relativo se aproximam. Mas em um desfecho freqüente, embora as duas medidas indiquem um fenômeno na mesma direção, o odds ratio tende a superestimar a força de associação, quando comparado ao risco relativo.
Voltando à eleição de hoje, o odds ratio de Dilma em relação a Serra é 2.7. Se é maior que 1, podemos dizer que a chance dela ganhar é maior do que a chance dele ganhar. Numericamente, em cada quatro eleições Dilma ganharia 3 (2.7) e Serra ganharia uma.
Isso se a eleição se tratasse de um jogo de azar, ou seja, se dependesse do acaso. Mas essa não é a realidade, sabemos que em cada quatro eleições Dilma ganharia todas as quatro. Não por causa de sua pessoa, mas devido ao intenso apoio que esta recebeu do atual presidente da república. Nada disso é uma questão de chance ou probabilidade. Só usei esse exemplo por motivos didáticos.
Postado por Luis Cláudio Correia às 18:14

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