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REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 PROBIÓTICOS E AÇÃO NA SAÚDE DO CONSUMIDOR Camila Flávia Pugliesi Letícia de Souza Silva Raphaela Roberta Cristina da Silva Rafaela Martins de Oliviera Renata Pereira da Silva Tâmara Kelly de Castro Gomes RESUMO O papel de uma alimentação saudável na manutenção da saúde tem despertado interesse dos consumidores e da comunidade cientifica, o que vem estimulando inúmeros estudos com o objetivo de atestar os efeitos a atuação de componentes bioativos na redução de riscos de certas doenças. Os alimentos funcionais devem produzir benefícios específicos a saúde, reduzindo o risco de diversas doenças, conduzindo ao bem estar físico e mental. Assim sendo, tem ocorrido um grande avanço no desenvolvimento dos chamados produtos probioticos. O emprego de culturas probióticas como agentes multifuncionais promotores de saúde e bem-estar tem aumentado em virtude dos estudos científicos comprovando a sua eficácia terapêutica. Paralelamente, existe um novo enfoque sobre a função da microbiota intestinal, atualmente reconhecido pelo seu papel fundamental na resposta imunitária. Esta revisão aborda os principais benefícios à saúde conferidos pelo consumo regular de produtos que contenham linhagens microbianas reconhecidamente probióticas. Dentre as evidências científicas de que promove a saúde são destacados: equilíbrio da microbiota intestinal, alívio da constipação, imunomodulação, prevenção do câncer de cólon, melhor digestão da lactose, prevenção de eczemas atópicos, atividade supressiva contra patógenos gastrintestinais PALAVRAS-CHAVES: Alimentos funcionais. Probióticos. Microbiota Intestinal. Lactobacillus.Bifidobacterium. REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 INTRODUÇÃO Os benefícios proporcionados por determinados tipos de alimentos sobre a saúde humana são conhecidos há muito tempo. Entretanto, o interesse acerca o estudo dos alimentos, de seus compostos bioativos e do impacto do consumo na saúde tornou-se intenso apenas nos últimos anos. (OLIVEIRA et al., 2010) Neste contexto, o conceito de alimentos funcionais, proposto inicialmente no Japão na década de 1980, refere-se aos alimentos usados como parte de uma dieta normal que demonstram benefícios fisiológicos e/ou reduzem o risco de doenças crônicas, além de suas funções básicas nutricionais (COSTA E ROSA, 2010). Os alimentos funcionais possuem potencial para promover a saúde por meio de mecanismos não previstos pela nutrição convencional A legislação brasileira traz o conceito de alimento funcional. Define alegação de propriedade funcional e alegação de propriedade de saúde e estabelece as diretrizes para sua utilização, bem como as condições de registro para os alimentos com alegação de propriedade funcional e, ou, de saúde (CANDIDO, 2005). Dentre as diretrizes para esse tipo de alimento, são permitidas alegações funcionais relacionadas com o papel fisiológico no crescimento, desenvolvimento e funções normais do organismo e, ou, ainda alegações sobre a manutenção geral da saúde e a redução do risco de doenças, em caráter opcional (STRINGHETA et al., 2007). Entre os alimentos considerados funcionais, destacam-se os chamados probióticos, definidos como microrganismos vivos capazes de melhorar o equilíbrio microbiano intestinal produzindo efeitos benéficos à saúde do indivíduo (BRASIL, 2002). Um microrganismo probiótico deve necessariamente sobreviver às condições adversas do estômago e colonizar o intestino, mesmo que temporariamente, por meio da adesão ao epitélio intestinal (DE MORAIS MB, 2006). As principais cepas utilizadas como probióticos são as pertencentes aos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium e o uso da terapia com probióticos, até o momento, tem como principal vantagem a inexistência de efeitos secundários (BADARÓ et al. 2008) . REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 A definição de um produto como probiótico exige que sua segurança e eficácia sejam cientificamente comprovadas para cada cepa e produto. Esta demonstração de benefícios inclui pesquisas sobre mecanismos de ação e estudos clínicos em humanos (SALMIEN, 1999). O uso dos probióticos como alternativa a formulações farmacêuticas na prática clínica vem aumentando, devido principalmente ao aumento de evidências científicas mostrando eficácia de algumas estirpes probióticas (COSTA E ROSA, 2010). A literatura disponível mostra que os probióticos apresentam fundamentação teórica lógica quanto ao seu mecanismo de ação. Por sua vez, atribui-se enorme potencial de aplicação dos probióticos em vários campos da saúde humana, incluindo infecções, alergias, inflamações e neoplasias (SANDERS, 2003) MÉTODOS Foi realizada uma revisão da literatura, entre os meses de fevereiro e maio de 2014, através de pesquisa nos bancos de dados MEDLINE/PubMed e Lilacs/SciELO, utilizando os termos “probiótico, lactobacilos, bifidobactérias, alimentos funcionais”. Foram avaliadas revisões sistemáticas, ensaios clínicos, e outros trabalhos clássicos sobre o assunto. O objetivo deste artigo foi revisar a literatura buscando informações sobre os probióticos, investigar sua eficácia, seus mecanismos de ação e seus efeitos na saúde do consumidor. PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL NA SAÚDE DO HOSPEDEIRO O indivíduo e sua microbiota intestinal têm estabelecido ao longo do seu desenvolvimento uma parceria conjunta simbiótica que lhes permitiu alcançar a estabilidade funcional. A microbiota intestinal realiza ou complementa uma série de funções metabólicas necessárias desenvolvimento do organismo. Entre elas, a microbiota está envolvida na recuperação de parte da energia da dieta através da utilização de compostos não-digeríveis, na síntese de vitaminas essenciais, na absorção de micronutrientes, na biotransformação de xenobióticos, na estimulação do sistema imunológico e na resistência aos patógenos (RODRÍGUEZ et al,. 2013). REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 A microbiota intestinal humana é dominada por Firmicutes, Bacterióides e em menor extensão, actinobactérias e proteobactérias. A diferenciação da composição da microbiota intestinal e a sua funcionalidade parece estar associada à dieta. Estudos mostram que o tipo de alimentação, aleitamento natural ou artificial, é muito importante na definição da microbiota intestinal do lactente. Quando a criança encontra-se em aleitamento materno natural, mais de 90% de sua microbiota intestinal é constituída por bifidobactérias e lactobacilos, enquanto que entre os lactentes que recebem aleitamento artificial, essas bactérias correspondem a 40 a 60% da microbiota, onde se encontram também bactérias dos gêneros do clostrídio, estafilococo e bacterióides (RODRÍGUEZ et al,. 2013; CHEN, 2005). O sistema imunológico desempenha um papel significativo na modulação da microbiota intestinal, tanto para a proteção contra patógenos como na preservação da simbiose entre hospedeiro e microbiota. A relação de equilíbrio entre a microbiota e a mucosa intestinal, no decorrer da vida, mantém um estado fisiológico de ativação do sistema inumológico associado ao intestino, o que pode favorecer os mecanismos de defesa precoce contra infecções intestinais (COSTA E ROSA, 2010) O desequilíbrio da microbiota intestinal, que ocorre como consequênciada diminuição de microrganismos benéficos e o aumento dos patogênicos, é definido como disbiose. A disbiose pode ocorrer por diversos fatores endógenos e exógenos, tais como composição da dieta (rica em gordura e pobre em fibras) estilo de vida, envelhecimento, desordens peristálticas, câncer, cirurgias, doenças hepáticas ou renais, anemia perniciosa, síndrome da alça cega, radioterapia, estresse emocional, desordens do sistema imunológico, antibioticoterapia, entre outros. A ingestão de probióticos pode favorecer o reequilíbrio da microbiota intestinal em casos de disbiose (ANTUNES et al, 2007). PROBIÓTICOS SUA AÇÃO NA SAÚDE DO CONSUMIDOR De acordo com a definição proposta pela Food and Agriculture Organization of the United Nations / World Health Organization (FAO/WHO, 2002), “probióticos são microrganismos vivos que quando administrados em quantidades adequadas conferem benefícios à saúde do hospedeiro”. Esta definição certamente necessita ser revista, visto que estudos recentes indicam que produtos bacterianos, e mesmo REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 o DNA bacteriano, podem apresentar efeitos benéficos à saúde em situações específicas. Novas pesquisas em relação a esse ponto devem ser desenvolvidas e, na medida em que demonstrarem evidências científicas comprovadas, poderão induzir uma adaptação da definição atual (DE MORAIS MB, 2006). A indústria alimentícia elevou seu interesse em utilizar culturas probióticas no desenvolvimento de alimentos com propriedades funcionais. Leites fermentados e iogurtes contendo probióticos são os principais produtos comercializados no mundo com alegação de promover a saúde, mas há também sobremesas à base de leite, leites em pó destinados a recém-nascidos, sorvetes, manteiga, maionese, diversos tipos de queijos, produtos em cápsulas ou em pó para serem dissolvidos em bebidas frias e alimentos de origem vegetal fermentados (SAAD, 2006). Para serem usados em alimentos, os probióticos devem sobreviver à passagem pelo trato digestivo e também precisam ter a capacidade de se proliferarem no intestino ou ser consumido a fim de permitir sua sobrevivência durante essa passagem (OLIVEIRA, 2007). Uma questão ainda em estudo é a quantidade e freqüência de consumo de probióticos necessária para assegurar os benefícios funcionais a eles atribuídos (GILLILAND, 2001). Alguns autores sugerem que, para garantir benefícios à saúde, os probióticos devem ser ingeridos diariamente (RODRÍGUEZ et al,. 2013). Alterações favoráveis na composição da microbiota intestinal foram observadas com doses de 100g de produto alimentício contendo 109 Unidades Formadoras de colônias (UFC) de microrganismos probióticos, geralmente com a administração durante o período de 15 dias. Assim sendo, para serem de importância fisiológica ao consumidor, os probióticos devem alcançar populações acima de 106 a 107 UFC/g ou mL de bioproduto (CARVALHO et al, 2012). Para que um efeito benéfico seja conferido ao indivíduo, as bactérias probióticas devem estar presentes em quantidades viáveis ao serem consumidas. Ainda que o nível ainda não esteja bem estabelecido, deve variar de acordo com a espécie e cepas utilizadas. De acordo com a ANVISA, a recomendação é com base na porção diária de microrganismos viáveis que devem ser ingeridos, sendo o mínimo estipulado de 108 a 109 UFC/dia (BRASIL, 2007). Antunes et al (2007) sugerem consumo semanal de 400 a 500g de produtos contendo probióticos. As embalagens de leites fermentados comercializados no REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 Brasil apresentam geralmente 80mL de produto e o seu consumo diário, no período de uma semana, totalizaria 560mL. Os principais microorganismos bacterianos considerados como probióticos são aqueles dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium, além de Escherichia, Enterococcus e Bacillus. O fungo Saccaromyces boulardii também tem sido considerado como probiótico. Os mecanismos de ação dos probióticos ainda não estão completamente elucidados. Para manter a sua atividade, ao serem ingeridos, os probióticos precisam resistir à ação do suco gástrico e pancreático, além de aderirem à mucosa intestinal, para desenvolverem suas funções. Desta forma, os probióticos poderão competir com agentes patogênicos e modular as respostas inflamatórias e imunológicas do hospedeiro, proporcionando alterações favoráveis à flora intestinal, inibindo o crescimento de bactérias patogênicas, promovendo uma digestão adequada, estimulando a função imunológica local e aumentando a resistência à infecção. (DE MORAIS MB e JACOB CMA, 2006; OLIVEIRA, 2007). Em relação aos mecanismos de ação dos probióticos destaca-se a “exclusão competitiva”, através da qual as bactérias probióticas impedem a colonização da mucosa por microrganismos potencialmente patogênicos, por meio de competição por sítios de adesão na mucosa, competição por nutrientes, e através da produção de compostos antimicrobianos (GUARNIER; MALAGELADA, 2003). Dentre os efeitos positivos proporcionados pelo consumo de alimentos probióticos, sobretudo com o produtos lácteos para crianças e outros grupos especiais, evidências indicam possíveis efeitos benéficos de culturas probióticas sobre a saúde do hospedeiro. Entre esses efeitos benéficos, merecem destaque o controle das infecções intestinais, o estímulo da motilidade intestinal, com conseqüente alívio da constipação intestinal, a melhor absorção de determinados nutrientes, a melhor utilização de lactose e o alívio dos sintomas de intolerância a esse açúcar, a diminuição dos níveis de colesterol, o efeito anticarcinogênico e o estímulo do sistema imunológico, pelo estímulo da produção de anticorpos e da atividade fagocítica contra patógenos no intestino e em outros tecidos do hospedeiro, além da exclusão competitiva e da produção de compostos antimicrobianos (OLIVEIRA, 2007; DE MORAIS MB e JACOB CMA, 2006; OLIVEIRA et al, 2002) REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 CONSIDERAÇÕES FINAIS As evidências atuais apontam que a ingestão de probióticos, em conjunto com uma dieta equilibrada, podem exercer benefícios para saúde, por promoverem ação anti-microbiana e imunomoduladora. No entanto, mais estudos para averiguar os mecanismos, a dose / duração ideal e a segurança a longo prazo para a intervenção em diferentes faixas etárias também são necessários, a fim de garantir a eficácia e a cão terapêutica esperada com o uso dos probióticos. REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 REFERÊNCIAS ANTUNES, A. E. C.; SILVA, E.R.A.; MARASCA, E.T.G.; MORENO, I.; LERAYER, A. L. S. Probióticos: agentes promotores de saúde. Nutrire: Revista da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, v. 32, n. 3, p. 103-122, 2007. BADARÓ, A. C. L.; GUTTIERRES, A. P. M.; REZENDE, A. C. V.; STRINGHETA, P. C. Alimentos probióticos: aplicações como promotores da saúde humana – parte 1. Nutrir Gerais – Revista Digital de Nutrição, v. 2, n. 3, p. 1-20, 2008. BRASIL. ANVISA - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Alimentos com alegações de propriedades funcionais e ou de saúde, novos alimentos/ingredientes, substâncias bioativas e probióticos. 2007. 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