Buscar

INT. AO DIREITO 2ª AULA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

AULA 2
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO
1. Das várias definições de Direito
Existem inúmeras definições de direito desde a antiguidade aos nossos dias. Mencionaremos algumas com objetivo de melhor compreensão do tema.
a) Platão, filósofo grego, em duas obras: a República (375 a.C) e As Leis (350 a.C) apresentou a seguinte definição: o direito consiste na busca da justiça, em outras palavras, deve indicar o que é justo. E o princípio fundamental da justiça está em dar a cada um aquilo que lhe é devido, cabendo ao Estado garantir esse princípio.
Esta definição de direito gera uma pergunta: como saber o que cada um merece? Segundo Platão o Estado deveria estruturar-se segundo os três tipos da natureza humana; uma caracterizada pelo desejo, a outra pela coragem e, por fim, a que se caracteriza pela razão. O desejo caracteriza o “povo” que trabalha e se situa no escalão inferior; depois no escalão intermediário aparecem os militares que se caracterizam pela coragem; no topo da pirâmide social estão os filósofos que possuem o dom da razão e devem governar a sociedade. Então direito significa “dar a cada um aquilo que corresponde à sua natureza e função na sociedade.”�
b) Aristóteles, outro filósofo grego, também definiu direito em duas obras: Ética a Nicômacos (330 a.C.) e Política (336 a.C.). Segundo o filósofo cabe ao Estado dizer o que é o direito, devendo observar o critério da justiça. O direito para ser justo deve atender aos interesses gerais da sociedade e tratar de maneira igual as pessoas que se encontram em situação igual.
Aristóteles aponta duas formas de igualdade a aritmética (que aponta para a justiça comutativa) e a geométrica (que aponta para a justiça distributiva).
A justiça comutativa (baseada na igualdade aritmética do “um por um”) deve ser aplicada aos contratos e aos danos, isto é, todos devem cumprir o que contrataram ou indenizar os danos que causaram.
A justiça distributiva é a forma mais elevada de justiça, pois está baseada na proporcionalidade e aplica-se quando se distribuem honrarias ou ofícios. Esta justiça objetiva determinar a posição social das pessoas considerando o valor pessoal de cada um e o seu resultado é a desigualdade social, pois como as pessoas são desiguais, cada uma delas terá uma posição social de acordo com o seu mérito e valor.
c) Ulpiano, jurisconsulto romano, apontou várias definições de direito. A primeira era a do direito natural que a natureza ensina a todos os animais, incluindo os seres humanos. Assim, o direito é o mesmo para todos. Definiu também o “direito das gentes” aplicável especificamente aos seres humanos. Este “direito das gentes”, ao contrário do direito natural que trata a todos os seres humanos da mesma forma, pode dar tratamento diferenciado a determinados grupos de pessoas, distinguindo-os segundo a origem e condição social. Aí a razão da distinção entre homens livres e escravos. Finalmente, definiu o direito civil como aquele que era composto pelas normas específicas de determinada sociedade.� 
d) Celso, outro jurisconsulto romano, definiu o direito “como a arte do bem e do justo.” É a mais famosa definição de direito porque combina dois elementos que até hoje entram em qualquer definição de direito: a) o direito está vinculado à busca da justiça; e b) ao apontar o direito com”arte” nos dá a noção de que o direito não tem respostas claras e definitivas, pois se é “arte” admite várias soluções ”dependendo do momento, das pessoas envolvidas, da situação social e política e das opiniões dos juízes”.� O direito é construído e, por isso, é uma “arte” em contínua transformação.
e) Tomás de Aquino, o maior filósofo da Igreja Católica, definia direito como “mandamentos da boa razão, formulados e impostos por aquele que cuida do bem da comunidade, isto é, pelo monarca”. Trata-se do direito positivo, escrito, mas o príncipe não tem liberdade total para criar esse direito. De fato, deve respeitar os mandamentos divinos, que constituem a lei eterna e se encontra nos ensinamentos da Igreja Católica e inclui o direito natural.�
Para Tomás de Aquino se a lei criada pelo príncipe for corrupta, tirânica ou perversa os súditos do monarca estão liberados de lhe dever obediência. Esses casos , no entanto, são raros, pois o príncipe sempre respeita a lei divina e cuida do bem comum. O único senão na definição de Tomás de Aquino é ser condescendente com os governantes e com as más leis a ponto de justificar a escravidão.
f) Thomas Hobbes autor do Leviatã, (1651). Afirma o filósofo que o direito é imposto pelo Estado, pois o homem com base no seu direito natural faz aquilo que lhe convêm e, com isso gera conflitos e guerras, miséria e destruição mútua. Para evitar isso, os homens abdicam do seu direito natural e entregam todo o poder ao Estado. Cria-se um contrato social em que todos se submetem à autoridade do Estado. Em face desse pacto cabe ao Estado distribuir direitos e obrigações, garantindo seu respeito mediante a ameaça de sanções. Só assim, com a imposição do direito positivo estatal, é que o homem pode viver decentemente, podendo, pelo menos andar na rua sem ser morto em cada esquina.�
Para Thomas Hobbes o direito positivo, imposto pelo Estado, é superior ao direito natural. As suas regras são respeitadas não porque sejam justas ou corretas, mas porque o Estado tem o poder de constranger o cidadão a cumpri-las. Em outras palavras, mesmo se o direito imposto pelo Estado não for justo os homens devem lhe obedecer, porque só assim estará garantida a segurança e prosperidade social a todos.
g) Jean-jacques Rousseau, filósofo nascido em Genebra, autor do Contrato Social, publicado em 1762. Rejeita a visão autoritária de Hobbes que criou um pacto de sujeição ao Estado. Para Rousseau o pacto social deve permitir que o povo, diretamente, elabore as leis sem se submeter à vontade dos poderosos. O direito deve expressar a soberania do próprio povo e garantir a ordem e segurança sem abolir a liberdade dos membros da sociedade. Os homens que são desiguais por natureza, com alguns explorando os outros, podem tornar-se iguais graças à criação de um direito igualitário e democrático, evitando que os ricos possam dominar e até”comprar” os pobres.
h) Immanuel Kant, filósofo alemão, escreveu a Metafísica dos Costumes (1797). Para Kant o direito é um produto da sociedade e expressão de obrigações morais dos indivíduos. Para o filósofo o direito deve expressar uma regra básica: devemos atuar de tal maneira que a nossa conduta possa valer como regra geral, isto é, não devemos fazer aquilo que não gostaríamos que os outros fizessem.
Este é o imperativo categórico “a regra de ouro” que impõe limites aos indivíduos. A saber: queres que os outros te roubem? Não! Então também tu não podes roubar. Daqui resulta que a regra geral é impor o mandamento “não roubarás”. Para Kant direito é o conjunto de regras estabelecidas pelo Estado para garantir a liberdade de todos os indivíduos e não somente sua sobrevivência, como dizia Hobbes. Assim, o direito não é apenas o útil, mas o certo. O Direito positivo só é aceitável quando respeita a regra de ouro e preserva a liberdade de todos.
i) Friedrick Carl von Savigny, jurista alemão (1779-1861). Para Savigny o direito estatal não é a única forma de manifestação política e jurídica de uma nação. O direito, diz o jurista, é “um produto histórico decorrente da consciência coletiva de cada povo, que se manifesta em suas tradições e costumes.” O legislador estatal pode também ser um dos veículos de expressão do direito do povo, mas não pode ser o único. �
j) Hans Kelsen, jurista austríaco, autor da Teoria pura do direito (1934). Foi partidário do positivismo jurídico. Kelsen define o direito “como organização da força ou ordem de coação. As normas jurídicas são obrigatórias e aplicam-se mesmo contra a vontade dos destinatários por meio do emprego da força física. O direito vigora em determinado território porque consegue ser politicamente imposto e reconhecido pela maioria da população.”Kelsen adota o entendimento de que o direito deve ser estudado pelos juristas sem interferência de outras disciplinas, como a sociologia, a história, ciência política, psicologia, teologia ou filosofia. Estas disciplinas são úteis para entender o direito, mas não devem intervir no seu estudo que deve ser puro, pois a validade de uma norma jurídica não é devida a fatos políticos ou sociais. Fundamenta-se sempre em uma norma superior, como a constituição por exemplo.�
l) Robert Alexy, professor de filosofia do direito, alemão, escreveu Conceito e validade do direito (1992). Alexy ensina que para reconhecer a “validade de uma norma jurídica não basta que ela tenha sido criada pela autoridade competente, conforme a Constituição e que o ordenamento jurídico seja globalmente aceito pela sociedade.” 
Para o filósofo a norma jurídica está estritamente vinculada aos preceitos morais vigentes em determinada sociedade e é a obediência a esses preceitos que lhe dá legitimidade. Isso significa que as normas extremamente injustas não são válidas mesmo que impostas pela autoridade estatal. Em outras palavras, o legislador deve elaborar a norma jurídica de forma razoável e adequada aos preceitos morais vigentes na sociedade, respeitando os mandamentos da justiça.�
Apesar de tantas definições de direito podemos apontar em todas elas alguns pontos em comum.
Em primeiro lugar, relatividade histórica do direito. Da leitura das várias definições apresentadas podemos concluir que o Direito não é um fenômeno universal, isto é, nem sempre existiu como o conhecemos hoje. Realmente, o direito muda constantemente e tem as características dos valores sociais de cada época. Cada período histórico da humanidade tem a sua lógica e estrutura e, portanto, uma concepção própria de direito. O direito como o conhecemos hoje só surgiu no final do século XVIII com o surgimento das primeiras codificações e das Constituições e está de acordo com os valores das sociedades capitalistas.
Em segundo lugar, o direito é um fenômeno e um dever social. O direito é composto por normas de conduta que servem para reger o comportamento das pessoas na sociedade. O direito impõe a todos os integrantes da sociedade aquilo que se deve ou não fazer, isto é, o direito estabelece sempre um dever ser. Realmente a norma jurídica não estuda aquilo que “é” a realidade, mas descreve aquilo que deve acontecer ou aquilo que “deve ser”.
Em terceiro lugar, o direito impõe uma coerção para quem descumpre a norma jurídica. O direito é um dever ser forte e ameaçador. A sua aplicação não só pode ser exigida, mas também imposta mediante a ameaça de aplicação de penalidade que pode ser até de violência física.
Mas se há convergências também existem divergências entre as várias definições de direito. Com efeito, as divergências existem e se devem sobretudo à relatividade histórica das experiências jurídicas. Lado outro, as diferenças ocorrem também devido à carga emotiva que possui o termo direito. Assim, as várias opções ideológicas geram a divergência. Por exemplo, Kelsen tenta explicar o direito fora das forças sociais e outros autores dizem o oposto.
� DIMOULIS, Dimitri, op. cit. p 23-24..
� DIMOULIS, Dimitri, op. cit. p 25.
� Idem, ibidem.
� DIMOULIS, Dimitri, op. cit. p 26.
� DIMOULIS, Dimitri, op. cit. p 27.
� DIMOULIS, Dimitri, op. cit. p 30-31.
� DIMOULIS, Dimitri, op. cit. p 32-33
� DIMOULIS, Dimitri, op. cit. p 34.

Outros materiais