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Apostila Termodinâmica Engenharias 2017.2 Termodinâmica 2 Prefácio Prezados alunos, Esta apostila de Termodinâmica destina-se a facilitar a introdução de alguns conceitos de maneira utilitária, não devendo ser a única fonte de estudo de nosso curso. Paralelamente, peço que acompanhem a teoria aplicada em sala, na literatura indicada no Plano de Ensino da disciplina. Na elaboração desta foram utilizados os livros: Fundamentos da Termodinâmica - 7ª. Ed. - Van Wylen e Thermodynamics: An Engineering Approach, 5th ed. - Y. A. Çengel and M. A. Boles,. Notas de aulas de períodos anteriores e arquivos diversos baixados na Internet, também foram utilizados. Bons estudos. Paulo Henrique de Lima Silva Termodinâmica 3 1. Conceitos e Definições Básicas Termodinâmica é a ciência da energia. Também conhecida como a ciência que trata do calor, do trabalho e das propriedades relacionadas às substâncias ligadas ao trabalho e ao calor. O nome Termodinâmica é resultado da união das palavras gregas Therme (calor) e Dynamis (poder), que descreve os esforços iniciais de conversão de calor em trabalho. Atualmente incluem-se os aspectos de transformações de energia e a própria energia, incluindo sua geração, a refrigeração e as relações entre as propriedades da matéria. 1.1 Pontos de Vista Uma investigação pode ser realizada sob dois pontos de vista: macroscópico e microscópico. Para fins de nossos estudos, será adotado o ponto de vista macroscópico, ou seja, vamos nos preocupar apenas com os efeitos totais ou médios de muitas moléculas. Ainda podemos medir tais efeitos, enquanto no ponto de vista microscópico, mas seria necessário acompanhar os efeitos em cada molécula em particular, tornando inviável qualquer análise dessa magnitude para os nossos estudos. Figura 1 – (1) Visão macroscópica da barra de ferro. Não se enxerga os movimentos das moléculas constituintes da substância ferro. (2) Visão microscópica. Mostrando a disposição dos átomos de ferro que se agitam dentro de um reticulado cristalino. 1.2 Unidades Uma vez definido o ponto de vista macroscópico, estamos lidando com quantidades mensuráveis e contadas direta ou indiretamente. Assim, a observância das unidades deve ser considerada. As quantidades físicas são caracterizadas por dimensões, as magnitudes atribuídas as tais dimensões são chamadas Unidades. Termodinâmica 4 Algumas dimensões básicas: Massa m Tempo t Comprimento L Temperatura T Enquanto outras, tais como Velocidade (V) e Volume (Ʉ) são expressos em termos das dimensões primárias e são chamadas de dimensões secundárias: 𝑉 = ∆𝑆 ∆𝑡 = 𝐿1 − 𝐿0 𝑡1 − 𝑡0 São sete as dimensões primárias e suas unidades no S.I.: Tabela 1 – Dimensões e unidades Dimensão Primária Unidade Comprimento Metro (m) Massa Quilograma (Kg) Tempo Segundo (s) Temperatura Kelvin (K) Corrente elétrica Ampere (A) Quantidade de luz Candela (Col) Quantidade de matéria Mol (mol) Exemplos: Obtenha as dimensões das grandezas físicas abaixo a partir das dimensões primárias: a) Densidade (ρ) b) Força (F) c) Pressão (P) d) Aceleração (a) Termodinâmica 5 1.3 Sistema e Volume de Controle Um Sistema é definido como uma quantidade de matéria, ou uma região no espaço, escolhida para estudo. A massa ou região fora do sistema é chamada de Ambiente. A superfície real ou imaginária que separa o sistema do ambiente é chamada de fronteira. Figura 2 – Sistema *Obs.: a massa do sistema não varia. A fronteira de um sistema pode ser fixa ou móvel. Figura 3 – fronteira móvel de um sistema Considere gás no interior do cilindro como um sistema. Se colocarmos uma fonte de calor abaixo do cilindro a temperatura do gás aumentará e o êmbolo levantará. Quando o êmbolo se eleva a fronteira do sistema se move. Podemos notar que a chama transfere calor para o sistema, logo calor pode atravessar as fronteiras do sistema. Um sistema isolado é aquele que não é influenciado pelo meio, ou seja, calor e trabalho não cruzam suas fronteiras. A análise termodinâmica de equipamentos é muito usual na engenharia. Tais problemas envolvem um fluxo de massa pelo equipamento. Observe a seguir um exemplo de Volume de controle. Termodinâmica 6 Figura 4 – exemplo de volume de controle. Na bomba da Fig. 4 uma quantidade de água entra pela linha de aspiração, um trabalho é fornecido à bomba e então a água é transferida para a linha de recalque. Note que o foco do estudo foi apenas a bomba, uma fronteira foi passada ao redor do equipamento, e através desta houve entrada e saída de uma quantidade de água, portanto, a fronteira passada é definida como volume de controle. 1.4 Estado e Propriedades de uma Substância Uma massa de água pode se apresentar sob várias formas (fases): sólida, líquida ou vapor. Uma fase é definida como uma quantidade de matéria totalmente homogênea. Quando mais de uma fase existir, elas se separam por meio de fronteiras. Figura 5 – fases em coexistência. Termodinâmica 7 Em cada fase a substância pode existir a várias temperaturas, sendo assim, uma mesma fase possui vários estados. Uma analogia com a Fig.5, podemos dizer que a água na fase líquida está num determinado estado, enquanto o gelo (água na fase sólida) está em outro estado. Um estado pode ser descrito por certas propriedades macroscópicas, as mais comuns são: temperatura, pressão, massa específica, entre outras. Cada uma das propriedades tem sempre o mesmo valor para um dado estado. Portanto, o estado é especificado por suas propriedades. As propriedades podem ser extensivas ou intensivas. Extensivas – dependem da massa (extensão do sistema). Ex.: massa e volume. Intensivas – independem da massa. Ex.: temperatura e pressão. Exemplo: Dadas as propriedades listadas abaixo, coloque E para extensiva e I para intensiva: Pressão ( ) Calor ( ) Massa ( ) Energia ( ) Densidade ( ) Resistência elétrica ( ) Comumente, quando nos referimos às propriedades de uma substância, também estamos nos referindo a todo o sistema, ou seja, o valor da propriedade tem significância para todo o sistema, o que por sua vez implica no que é chamado de equilíbrio. 1.5 Processo e Ciclo Processo é definido como uma sucessão de estados através do quais o sistema percorre. Alguns processos possuem denominação própria pelo fato de que uma de suas propriedades se mantém constante. São eles: Processo Isotérmico – processo a temperatura constante. Processo Isobárico – processo a pressão constante. Processo Isocórico – processo a volume constante. Quando um sistema, a partir de certo estado inicial, passa por várias mudanças de estado, ou processos, e retorna a sua condição inicial, dizemos que o mesmo executou um ciclo. Termodinâmica 8 1.6 Energia O conceito de energia para termodinâmica é tão importante quanto o de força e massa para dinâmica, e apresenta uma dificuldade em ser compreendido, pois não existe uma definição precisa. “Energia é a capacidade de produzir um efeito”. O importante é notar que, energia pode ser acumulada num sistema e pode ser transferida de um sistema para o outro, sob a forma de calor e/ou trabalho, por exemplo. Figura 6 – transferência de calor para a água A Fig. 6 mostra um conjunto êmbolo-cilindro que está sendo aquecido (calor é transferido para água). Enquanto houvera transferência de calor, a temperatura do líquido aumentará (mantendo o êmbolo parado), até o líquido ser transformado em vapor, deslocando o êmbolo. O nosso objeto de estudo será limitado apenas com a quantidade de calor que foi transferida no processo descrito anteriormente. 1.7 Volume específico e Massa específica O volume específico é definido como a razão entre o volume ocupado pela unidade de massa, e sua simbologia é v. A massa específica de uma substância é definida como a razão entre a massa associada a unidade de volume, e sua simbologia é ρ. Termodinâmica 9 Fórmulas: 𝜌 = 𝑚 Ʉ 𝑣 = Ʉ 𝑚 Exemplo: Um recipiente com volume de 1m3, contém 0,12m3 de granito, 0,15m3 de areia e 0,2m3 de água líquida a 25oC, o restante do volume está ocupado por ar, cuja massa específica é igual a 1,15 Kg/m3. Determine a massa específica e o volume específico total. Dados: ρgranito = 2750 Kg/m3; ρareia = 1500 Kg/m3 e ρágua = 997 Kg/m3. 1.8 Pressão Pressão é um conceito mais comum relacionado a líquidos e gases. Por definição, pressão de um fluido em repouso é igual em todas as direções e pode ser determinada como a componente normal da força por unidade de área. 𝑃 = lim 𝛿𝐹ே 𝛿𝐴 Unidade: Pascal – [Pa] 1 Pa = 1N/m3 Onde: m – massa Ʉ - volume Termodinâmica 10 Exemplo: A figura abaixo mostra um conjunto êmbolo-cilindro utilizado num determinado sistema em equilíbrio. O diâmetro do cilindro é igual a 0,1m e a massa total do conjunto êmbolo-haste é 25 Kg. O diâmetro da haste é de 0,01m e a pressão atmosférica (Po) é 101 KPa. Sabendo que todo o conjunto está em equilíbrio e que a pressão interna do fluido é de 250 KPa, determine o módulo da força que é exercida, na direção vertical e no sentido descendente, sobre a haste (g=9,81 m/s2). - Pressão Manométrica e Absoluta Termodinâmica 11 1.9 Processo em Regime Permanente e Transiente Os termos constantes e uniformes são usados com frequência em engenharia e, logo, é importante ter uma compreensão clara de seus significados. O termo constante implica em nenhuma mudança com o tempo. O oposto de constante é variável. O termo uniforme implica em nenhuma mudança em relação à localização em questão. Um grande número de dispositivos em engenharia opera por longos períodos de tempo sob as mesmas condições, e eles são classificados como dispositivos de fluxo permanente. No regime permanente todas as propriedades são mantidas constantes, mesmo tais propriedades podendo variar em pontos do volume de controle. Caso as propriedades variem com o decorrer do tempo, podemos dizer que o processo está sob condições de um regime transiente, isto é, houve alguma mudança de estado. 1.10 Igualdade de temperatura e Lei Zero da Termodinâmica Temperatura é algo muito familiar em nossas vidas. Contudo, é difícil encontrar uma definição exata para ela. A sensação de quente ou frio é um aprendizado comum quando tocamos num objeto. Além disso, se um corpo quente entrar em contato com um corpo frio, o copo quente esfria e o corpo frio esquenta, ou seja, quando dois corpos de temperaturas diferentes entram em contato o calor é transferido do copo quente para o corpo frio até que os dois entrem em equilíbrio térmico, com a mesma temperatura. A Lei Zero da Termodinâmica afirma que, se dois corpos estão em equilíbrio térmico com um terceiro corpo, eles também estão em equilíbrio térmico entre si. Parece óbvio este fato, mas é algo que não se conclui a partir de outras leis da termodinâmica. Ao substituir o terceiro corpo por um termômetro, a Lei Zero da Termodinâmica pode ser representada como: dois corpos estão em equilíbrio térmico se ambos têm a mesma leitura, mesmo que eles não estejam em contato. Termodinâmica 12 2. Propriedades de uma Substância Pura O conhecimento do comportamento das substâncias, por meio de suas propriedades, é fundamental na análise de processos e sistemas termodinâmicos. 2.1 Substância Pura Uma substância que possui uma composição química fixa (invariável) e homogênea é chamada de substância pura. Água, nitrogênio, hélio, dióxido de carbono, por exemplo, são substâncias puras. Da mesma forma água líquida, água numa mistura de fases liquida e vapor, líquida e gelo são todas substâncias puras, pois as fases têm a mesma composição química. Às vezes, uma mistura de gases, como o ar, é considerada como substância pura desde que não haja mudança de fase, pois a composição do ar líquido é diferente do ar gasoso. Ar gasoso N2 78% O2 21% Gases Nobres 0,9% Outros 0,1% 2.2 Equilíbrio de fases de uma Substância Pura Todos sabem por experiência própria que as substâncias existem em diferentes fases. Em temperatura e pressão ambiente o cobre é sólido, o mercúrio é líquido e o nitrogênio é um gás. Contudo, em condições diferentes, cada um pode aparecer de uma forma distinta de fase. Na Fig. 7 temos um conjunto êmbolo-cilindro. Suponha que a massa de água seja igual a 1 Kg, a temperatura inicial de 20oC. Despreze, por enquanto, a pressão exercida pelo peso do êmbolo. A medida que é transferido calor à água, a temperatura amenta, a pressão permanece constante e o volume específico aumenta ligeiramente. Quando a temperatura atinge aproximadamente 99,60oC, qualquer transferência de calor adicional implica numa mudança de fase, isto é, parte do líquido se transforma em vapor e, durante esse processo a pressão e Ar líquido N2 78% O2 22% Termodinâmica 13 temperatura ficam constantes, porém o volume específico aumenta consideravelmente. Quando a água vaporizar por completo, uma transferência de calor resulta num aumento da temperatura e do volume específico. Figura 7 – mudança de fase da água a pressão constante. 2.3 Diagrama T x v Na Fig.7 o Estado Inicial (1) onde temos 20oC na pressão atmosférica (desprezando o peso do êmbolo), existindo apenas a fase líquida é chamada de Líquido Comprimido ou Subresfriado. Calor foi transferido ao sistema até atingir uma temperatura de 99,60oC. Neste ponto a água permanece na fase líquida, mas qualquer adição de calor provocará alguma evaporação (2) e (3). Um líquido que está prestes a vaporizar é chamado de Líquido Saturado. O calor continua a ser transferido ao sistema, a temperatura permanece em 99,60oC e a pressão atmosférica até a última gota vaporizar, a única propriedade a variar é o volume específico, neste estado em que a última gota evapora (4) é chamado de Vapor Saturado. Se o calor continuar a ser transferido ao sistema a temperatura irá subir, bem como o seu volume específico, a este estado chamamos de Vapor Superaquecido (5). Temperatura e Pressão de Saturação – não é surpresa nenhuma a água iniciar a ebulição a ± 100oC, contudo, falar “a água ferve a 100oC” está incompleto. A afirmação correta seria “a água ferve a 100oC a 1 atm de pressão”. A uma dada pressão, a temperatura a qual a substância pura muda de fase é chamada de Temperatura de Saturação (TSAT). Do mesmo modo, a uma dada temperatura, a pressão a qual a substância pura muda de fase é chamada de Pressão de Saturação (PSAT). Termodinâmica 14 Figura 8 – Diagrama T x v Ainda para o exemplo da Fig. 7 (pressão constante), podemos relacionar os pontos A, B, C e D da seguinte maneira: Ponto A – Temperatura: 20oC Pressão: 1 atm (101 KPa) Líquido Comprimido Ponto C – Temperatura: 99,6oC Pressão: 1 atm (101 KPa) Vapor Saturado Ponto Crítico - neste ponto os estados de líquido saturado e vapor saturado são osmesmos. A temperatura, pressão e volume específico são chamados: temperatura crítica, pressão crítica e volume crítico. Ponto B – Temperatura: 99,6oC Pressão: 1 atm (101 KPa) Líquido Saturado Ponto D – Temperatura: 150oC Pressão: 1 atm (101 KPa) Vapor Superaquecido Termodinâmica 15 2.4 Diagrama P x v O formato do diagrama P x v de uma substância pura é muito parecido com o diagrama T x v, contudo, a temperatura é constante. Considere um sistema pistão-cilindro contendo água a 1 Mpa e 150oC. Nessas condições a água está no estado de líquido comprimido. O pistão tinha uns pesos sobre ele que mantinha tal pressão. Ao remover os pesos um a um, a pressão vai diminuindo lentamente. A água não troca calor com o meio, tendo seu valor constante. A pressão cai, a temperatura permanece constante, logo o volume cresce. Quando a pressão atingir 476 KPa, o sistema atinge a pressão de saturação e a água começa a ferver. Durante o processo de vaporização a temperatura e pressão permanecem constantes, mas o volume específico aumenta. Após a evaporação da última gota, qualquer redução na pressão resulta num aumento do volume específico. Figura 9 – Diagrama P x v 2.5 Título (x) Observe o diagrama T x v abaixo. Note que na região AB há mais de uma fase presente, líquido e gás. Termodinâmica 16 Figura 10 – representação gráfica do titulo Portanto, durante o processo de vaporização, a substância existe parte líquida e parte vapor, é uma mistura de líquido saturado e vapor saturado. Para análise desta mistura, precisamos saber a proporção de líquido e vapor na mistura. Isso é feito definindo uma nova propriedade chamada de Título (x), que é a razão entre a massa de vapor sobre o total da massa da substância: 𝑥 = 𝑚௩/𝑚௧௧ Onde: mtotal = mvapor + mlíquido Por outro lado: Ʉtotal = Ʉvapor + Ʉlíquido = mvapor vv+ mlíquido vl mt.vt = mv.vv + ml.vl mt.vt = mv.vv + (mt – mv).vl vt = mv/mt . vv + (mt-mv/mt).vl vt = x.vv + (1-x) vl De outra forma: v = vl + x.vlv (vlv = vv – vl) Termodinâmica 17 2.6 Ponto Triplo As três fases da matéria (sólida, líquida e gasosa), podem existir em equilíbrio num sistema, em determinadas condições de temperatura e pressão. O encontro destas 3 fases simultaneamente numa mesma substância recebe o nome de Ponto Triplo. Cada substância tem seu ponto triplo e para atingi-lo são necessárias condições muito específicas de pressão e temperatura. No caso de substâncias puras, o ponto triplo é uma propriedade física constante. A água, por exemplo, alcança seu ponto triplo a uma temperatura de 0,01oC (273,16 K) e pressão de 611 Pa. Figura 11 – Ponto Triplo 2.7 Tabelas de Propriedades Termodinâmicas Existem Tabelas de Propriedades Termodinâmicas para muitas substâncias, e de forma geral, elas são apresentadas da mesma forma. As Tabelas de água são muito utilizadas, pois a água é largamente empregada em instalações geradora e processos industriais. Como exemplo de utilização das Tabelas de Propriedades Termodinâmicas, complete as informações abaixo para a água: T (oC) P (KPa) v (m3/Kg) Fase Descrita 50 4,16 200 Vapor Saturado 250 400 110 600 Termodinâmica 18 2.8 Equação de Estado para Gás Ideal Gás ideal ou perfeito é um modelo idealizado para um comportamento de um gás. É um gás teórico, composto de um conjunto de partículas movimentando-se aleatoriamente e não interagindo. Esse conceito é útil porque tal gás obedece a Lei dos Gases Ideais, uma equação bem simplificada. Equação de Estado dos Gases Ideais: PɄ = n 𝑅തT Observe que n pode ser escrito por: n = m/M Onde: P – pressão Ʉ - volume n – no de mols 𝑅ത – constante universal dos gases (8,3145 KJ/Kmol.K) T - temperatura m – massa M – massa molar Termodinâmica 19 Substituindo na equação de Estado: PɄ = m/M 𝑅തT PɄ = mRT Pv = RT Exemplo: Qual a massa de ar contida dentro de uma sala de 6m x 10m x 4m, quando a pressão for 100 KPa e a temperatura 25oC? Obs.: Equações de Estado são equações que relacionam pressão, temperatura e volume. Algumas podem ser simples e outras bem complexas Uma relação muito utilizada em problemas envolvendo gases perfeitos é a relação que envolve o mesmo gás em estados termodinâmicos diferente, como mostrado a seguir: Estado 1: P1Ʉ1 = mRT1 Estado 2: P2Ʉ2= mRT2 Isolando mR no Estado 1, chega-se a expressão: P1Ʉ1 / T1 = mR Substituindo mR no Estado 2 e rearmando-se: 𝑃1Ʉ1 𝑇1 = 𝑃2Ʉ2 𝑇2 *Obs.: a equação acima é aplicável a sistemas. Onde: R – constante particular para cada gás v – volume específico Termodinâmica 20 2.9 Fator de Compressibilidade (Z) Na prática, os gases não se comportam de acordo com a equação de Estado apresentada, tendo seu comportamento, em certos casos, muito distante do calculado. Para expressar de maneira mais real a relação entre as variáveis P, Ʉ e T, um fator de correção, denominado Fator de Compressibilidade do Gás, Z, é introduzido na referida equação: PɄ = ZmRT ou Pv = ZRT Onde, para gás ideal Z = 1. 3. Trabalho e Calor Trabalho e Calor são formas de transferência de energia de um sistema para o outro, logo, são importantes na análise de sistemas e equipamentos termodinâmicos. Para analisar tais sistemas, precisamos modelar o Calor e o Trabalho como funções das propriedades e parâmetros característicos dos sistemas. 3.1 Definição de Trabalho Trabalho é usualmente definido como uma força F agindo ao longo de um deslocamento x, sendo esse deslocamento na direção da força, isto é: 𝑊 = න 𝐹. 𝑑𝑥 ଶ ଵ Entretanto, tratando do ponto de vista termodinâmico, é vantajoso relacionar a definição de trabalho com os conceitos de sistemas, propriedades e processos. Unidade de Trabalho: W = [J] *Obs.: potência é o trabalho realizado por unidade de tempo e é designada pelo símbolo �̇�, assim: Termodinâmica 21 �̇� = డௐ డ௧ [Watts – W] Muitas vezes é conveniente falar de trabalho por unidade de massa do sistema, denominado trabalho específico. Essa quantidade é designada por w e é definida por: 𝑤 = ௐ [J/Kg] Uma forma de trabalho mecânico frequentemente encontrado na prática está associada com a expansão ou compressão de um gás em um dispositivo êmbolo – cilindro. Durante esse processo, parte do contorno (a face interior do êmbolo) se move para cima ou para baixo, assim, esse tipo de trabalho é chamado de trabalho de fronteira. Figura 12 – sistema êmbolo-cilindro com fronteira móvel Vamos considerar que um sistema êmbolo – cilindro contenha certa massa de gás ideal e pequenos pesos estão localizados sobre o êmbolo como abaixo. Termodinâmica 22 Figura 13 – sistema êmbolo-cilindro com pequenos pesos Ao retirar um dos pesos o êmbolo se movimentará para cima por uma distância dL. Assim, podemos calcular o trabalho W realizado pelo sistema durante esse processo. A força total sobre o êmbolo é a P.A, em que P é a pressão do gás e A é a área do êmbolo. Logo, o trabalho 𝜕𝑊 é: 𝜕𝑊 = 𝑃. 𝐴. 𝑑𝐿 Entretanto, A.dL = dɄ, é a variação do volume do gás. Assim: 𝜕𝑊 = 𝑃. 𝑑Ʉ Integrando-se a equação acima, tem-se W: 1𝑊ଶ = ∫ 𝑃. 𝑑Ʉ ଶ ଵ Graficamente o trabalho pode ser obtido pelo diagrama P x Ʉ ou P x v, pois ∫ 𝑃. 𝑑Ʉଶଵ , representa a área sob a curva1 -2. Termodinâmica 23 Figura 14 – uso do diagrama PxɄ para calcular o trabalho Obs.: 1. Note que no caso da Fig. 14, há um processo de compressão do gás (VA < VB), portanto o trabalho realizado sobre o sistema é negativo, assim sendo, no caso do trabalho de um processo de expansão do gás, o trabalho realizado pelo sistema é positivo. 2. Outra consideração sobre o diagrama PxV, é o fato de ser possível ir do Estado B para o Estado A por diferentes caminhos. Como o trabalho é representado pela área abaixo do gráfico, é evidente que o trabalho envolvido em cada caso não é função apenas dos Estados B e A, mas também depende do caminho que se percorre ao ir de m Estado ao outro. Por essa razão, o trabalho é chamado de função de linha, ou em linguagem matemática, 𝜕𝑊 é uma diferencial inexata. Exemplo: Um dispositivo êmbolo-cilindro contém inicialmente ar a 100 KPa a 80oC ocupando 0,4m3. O ar é comprimido até 0,1 m3 num processo a temperatura constante. Determine o trabalho realizado durante esse processo. Termodinâmica 24 3.2 Processo Politrópico Durante os processos de expansão e compressão de gases reais, a pressão e o volume estão muitas vezes relacionados por P.Ʉn = c, em que n e c são constantes. Um processo desse tipo é chamado de Processo Politrópico. Abaixo está o desenvolvimento de uma expressão geral para o trabalho realizado durante um processo Politrópico. P.Ʉn = c => P = c/ Ʉn = c. Ʉ-n Substituindo na equação do trabalho: 1𝑊ଶ = ∫ 𝑃. 𝑑Ʉ ଶ ଵ = ∫ c. Ʉ ି୬. 𝑑Ʉଶଵ = c.[ (Ʉ2 -n+1 - Ʉ1-n+1 )/ -n + 1] = c.Ʉ2-n+1 – c.Ʉ1-n+1 )/ -n + 1 Contudo, c pode ser expresso por: c = P1.Ʉ1n = P2.Ʉ2n Voltando a expressão do trabalho e substituindo c: 1𝑊ଶ = (P2.Ʉ2n .Ʉ2-n+1 - P1.Ʉ1n . Ʉ1-n+1 )/ 1-n = మ.Ʉమ షುభ.Ʉభ ଵି (n≠1) Essa equação também pode ser escrita como: P2.Ʉ2 = m.R.T2 P1.Ʉ1 = m.R.T1 1𝑊ଶ = ୫.ୖ.ଶ ି ୫.ୖ.ଵ ଵି = ୫.ୖ.(ଶିଵ) ଵି Exemplo: Um sistema êmbolo-cilindro com propano a 100 KPa e 300 K, ocupa um volume de 0,2 m3. O gás é comprimido lentamente de acordo com a relação P.Ʉ1,1 = constante, até a temperatura final de 340 K. Calcule a pressão final e o trabalho realizado durante o processo. Termodinâmica 25 3.3 Definição de Calor Calor em termodinâmica é um tanto diferente da interpretação comum da palavra. Calor é definido como sendo a forma de transferência de energia através da fronteira de um sistema, numa dada temperatura, a outro sistema (ou ambiente), que representa uma temperatura inferior, em virtude da diferença de temperatura. Logo, pode-se concluir que: I. Um corpo não contém calor; II. Calor só pode ser identificado quando atravessa a fronteira; III. Calor é um fenômeno transitório. Calor e trabalho são formas de transferência de energia para ou de um sistema (ou volume de controle). Portanto, as unidades de calor são as mesmas das de trabalho ou, pelo menos, são diretamente proporcionais a elas. Considera-se positivo o calor transferido para um sistema (ou volume de controle), logo, o calor transferido de um sistema (ou volume de controle) é negativo. Símbolo: Q. Unidade: Joule – [J] �̇� = డொ డ௧ [W] q = Q/m [J//Kg] Termodinâmica 26 4. Primeira Lei da Termodinâmica A Equação da Energia para qualquer sistema submetido a qualquer forma de processo pode ser expressa como: ΔEsistema = Eentra – Esai Para um sistema isolado, passando por um ciclo, os estados final e inicial são idênticos, e assim: ΔEsistema = 0 => Eentra = Esai Portanto, para sistemas isolados, o balanço (variação) de energia pode ser expresso em termos de calo e trabalho: ΔEsistema = Qsistema – Wsistema Qsistema = Wsistema Onde: Qsistema = Qentra – Qsai Wsistema = Wsai – Wentra Obs.: 1. ΔE → 3 formas de energia a considerar: ΔU – variação de energia interna ΔEc - variação de energia cinética ΔEp - variação de energia potencial 2. Para a maioria dos problemas aplicados não vamos considerar ΔEc e ΔEp. 3. Conclui-se que: ΔE = ΔU = ΔQ – ΔW 4.1 Energia Interna (U) A Energia Interna (U) é uma propriedade termodinâmica extensiva (depende da massa). Termodinâmica 27 Símbolo: U. Unidade: J. A energia interna específica (u), passa a ser uma propriedade independente da massa, podendo ser tabelada. Tal conceito pode ser estendido ao título: u = x.uv + (1-x)ul 4.2 Entalpia (H) Ao analisarem-se tipos específicos de processos, certas combinações de propriedades termodinâmicas são encontradas. Por exemplo, ao se fazer uma análise de um sistema que passa por um processo a pressão constante, e que o único trabalho associado seja o movimento de fronteira, pode-se aplicar a 1ª Lei: U2 – U1 = 1Q2 - 1W2 Mas: 1𝑊ଶ = ∫ 𝑃. 𝑑Ʉ ଶ ଵ = P (Ʉ2 - Ʉ1) Logo: U2 – U1 = 1Q2 - P (Ʉ2 - Ʉ1) 1Q2 = U2 + PɄ2 – (U1 + PɄ1) Note que a transferência de calo durante o processo é igual a variação da quantidade U+ PɄ , entre os estados final e inicial. Como todos os elementos dessa expressão são propriedades termodinâmicas, função apenas dos estados do sistema, a combinação também deve apresentar essa característica. Pode-se definir uma nova propriedade extensiva chamada de Entalpia. H≡ U + PɄ Ou, por unidade de massa: h = u + Pv Termodinâmica 28 4.3 Calores Específicos a Volume e a Pressão Constantes Calor Específico de uma substância de composição homogênea e que apresenta uma fase homogênea , é a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura em um grau dada uma unidade de massa. Para gases ideais: 1. Pv = RT 2. u = u(T) – energia interna específica é apenas função da temperatura Usando a definição de entalpia: 1. h = u + Pv 2. Pv = RT Vimos na 1ª lei: dU = 𝜕𝑄 − 𝜕𝑊 → 𝜕𝑄 = 𝑑𝑈 + 𝜕𝑊 = 𝑑𝑈 + 𝑃𝑑∀ Se o volume é constante, calor específico a volume constante é: cv = ଵ ቀడொ డ் ቁ = ଵ ቀడ డ் ቁ = డ௨ డ் No caso da Pressão constante: cp = ଵ ቀడொ డ் ቁ = ଵ ቀడு డ் ቁ = ଵ (డ డ் ) Desta forma, podem-se obter as seguintes expressões: Δu = cv.ΔT Δh = cp.ΔT No caso de sólidos e líquidos, essas duas fases são praticamente incompressíveis, além do fato de que o volume específico é muito pequeno, reduzimos a expressão: dh = du + dPv => dh = du + vdP dh ≅ du Para: dh ≅ du ≅ C.dT - Onde C é calor específico a pressão constante ou volume constante. h2 – h1 ≅ u2 – u1 ≅ C.(T2 – T1) h = u + RT, logo h = h (T) Termodinâmica 29 Exemplo: Um cilindro provido de pistão apresenta volume inicial de 0,1 m3 e contém nitrogênio a 1500 KPa e 25oC. Comprime-se o nitrogênio, movimentando-se o pistão, até que a temperatura e a pressão se tornem iguais a 1 Mpa e 150oC. Durante esse processo calor é transferido do nitrogênio e o trabalho realizado sobre o mesmo é 20 KJ. Determine o calor transferido no processo. 5. Primeira Lei da Termodinâmica aplicada a Volumes de Controle O Volume de Controle é um volume no espaço que nos interessa para estudo, ou análise, de um processo. A superfície que envolve esse volume é chamada Superfície de Controle. O tamanho e a forma do volume de controle são arbitrários e podem ser definidos de modo que a análise a ser feita seja a mais simples possível. Massa, calor e trabalho podem atravessar a superfície de controle, e a massa contida no volume de controle, bem como suas propriedades podem variarao longo do tempo. Se a massa em um volume de controle muda com o tempo, a seguinte equação estabelece essa dependência com o tempo: ௗೡ ௗ௧ = ∑ �̇�௧ - ∑ �̇�௦ Termodinâmica 30 A Equação acima é normalmente chamada de equação da continuidade, leva em consideração que a massa total contida no volume de controle é igual ao somatório de fluxo de massa que entra menos o somatório do fluxo de massa que sai do volume de controle. 5.1 A 1ª Lei da Termodinâmica para um Volume de Controle A 1ª Lei da Termodinâmica aplicada em um sistema fechado, que possui uma quantidade fixa de massa, pode ser escrita como: E2 – E1 = 1Q2 – 1W2 Reescrevendo em termos de taxas, ou seja: ௗாೞೞೌ ௗ௧ = �̇�- �̇� Como discutido anteriormente, a energia total em um sistema, por unidade de massa, é dada pela expressão: e = u + ec + ep = u + మ ଶ + gz Em um volume de controle massa entra e sai, logo, esse fluxo de massa carrega uma quantidade de energia para dentro e para fora do volume de controle, assim, a equação anterior deve ser reescrita para: e = u + మ ଶ + gz + Pv Onde: u + Pv = h, chegasse a equação: e = h + మ ଶ + gz A entalpia é usada na equação ao invés da energia interna para representar a energia de um fluido em movimento. A energia para “empurrar” um fluido para dentro e para fora de um volume de controle é automaticamente representada pela entalpia. Quando se pode desprezar as parcelas das energias potencial e cinética, a equação da energia se reduz a: e = h m.e = m.h �̇�.e = �̇�.h ௗா ௗ௧ =�̇�.h Termodinâmica 31 Voltando a equação da 1ª Lei em termos de taxas, aplicada a volume de controle: ௗாೡ ௗ௧ = 𝑄௩̇ - 𝑊௩̇ + 𝑚̇ ee - 𝑚௦̇ es + �̇�fluxo Onde �̇�fluxo = P.v.�̇� ௗாೡ ௗ௧ = 𝑄௩̇ - 𝑊௩̇ + 𝑚̇ (ee +Pe.ve) - 𝑚௦̇ (es + Ps.vs) ௗாೡ ௗ௧ = 𝑄௩̇ - 𝑊௩̇ + 𝑚̇ (he + మ ଶ + gze) - 𝑚௦̇ (hs + మೞ ଶ + gzs) 5.2 O processo em Regime Permanente Consideremos um conjunto de hipóteses adicionais para o caso de regime permanente: 1. O volume de controle não se move em relação ao conjunto de coordenadas; 2. O estado da substância, em cada ponto do volume de controle, não varia com o tempo; 3. O fluxo de massa e o estado dessa massa em cada área discreta de escoamento na superfície de controle não variam com o tempo. As taxas com as quais o calor e o trabalho cruzam a superfície de controle permanecem constantes. Interpretação das Hipóteses: 1. Se o volume de controle não se move em relação ao sistema de coordenadas, não há trabalho associado com a aceleração do volume de controle. 𝑑𝑚௩ 𝑑𝑡 = 0 𝑒 𝑑𝐸௩ 𝑑𝑡 = 0 2. Equação da continuidade: ∑ 𝑚̇ = ∑ 𝑚௦̇ 1ª Lei: 𝑄௩̇ + 𝑚̇ (he + మ ଶ + gze +Pe.ve) = 𝑚௦̇ (hs + మೞ ଶ + gzs + Ps.vs) + 𝑊௩̇ 3. Equação da continuidade: 𝑚̇ = 𝑚௦̇ = �̇� 1ª Lei: 𝑄௩̇ + 𝑚 ̇ (he + మ ଶ + gze +Pe.ve) = �̇�(hs + మೞ ଶ + gzs + Ps.vs) + 𝑊௩̇ Termodinâmica 32 q + he + మ ଶ + gze = hs + మೞ ଶ + gzs + w Sabendo que: q = ொೡ ̇ ̇ e w = ௐೡ ̇ ̇ Exemplo: Trocador de calor - Um trocador de calor, resfriado a água, de um sistema de grande porte que utiliza R-134a como fluido refrigerante. O refrigerante entra no condensador a 60oC e 1 Mpa e deixa como líquido a 0,95 Mpa e 35oC. A água de resfriamento entra no condensador a 10oC e sai a 20oC em pressão ambiente. Sabendo que a vazão do refrigerante é igual a 0,2 Kg/s, determine a vazão de água de resfriamento do condensador. Termodinâmica 33 6. Segunda Lei da Termodinâmica A 1ª Lei da Termodinâmica não impõe nenhuma restrição quanto às direções dos fluxos de calor e trabalho, apenas afirma que, para um sistema isolado, a integral cíclica do trabalho é igual a integral cíclica do calor. Um ciclo em que determinada quantidade de calor é recebida pelo sistema e uma quantidade de trabalho é cedida, satisfaz a 1ª Lei. Todavia, nem sempre essa condição é válida para que tal ciclo ocorra. Um ciclo somente ocorrerá, de fato, se tanto a 1ª Lei quanto a 2ª Lei da Termodinâmica forem satisfeitas. Em um sentido amplo, a 2ª Lei indica que todos os processos conhecidos ocorrem num certo sentido e não no oposto. Uma xícara de café quente esfria em virtude da transferência de calor para o ambiente, porém calor não será transferido do ambiente, que apresenta temperatura mais baixa que o café, para a xícara. 6.1 Motor Térmico e Refrigerador (Bomba de Calor) Um Motor Térmico é um dispositivo que, operando num ciclo termodinâmico, realiza um trabalho líquido positivo à custa da transferência de calor de um corpo a temperatura elevada para um corpo a temperatura baixa. Geralmente, também pode ser designado como um dispositivo que produz trabalho por meio da transferência de calor ou combustão. O motor de combustão interna e a turbina a gás são exemplos desse tipo de dispositivo. Figura 15 – Motor térmico Uma instalação motora a vapor simples é um exemplo de motor térmico no sentido restrito. Cada componente dessa instalação pode ser analisado separadamente, associado a cada um deles um processo em regime permanente, mas se a instalação como um todo, ela poderá ser tratada como um motor térmico no qual a água é o fluido de trabalho. Uma quantidade de Termodinâmica 34 calor, QH, é transferida à caldeira, a turbina produz trabalho. A quantidade de calor QL é transferida a um corpo (ou sistema) a baixa temperatura. Ao utilizarmos os símbolos QH e QL afastamo-nos da nossa convenção de sinal para o calor porque, para um motor térmico e quando se considera o fluido de trabalho do sistema, QL deve ser negativo. Outro conceito importante é o de eficiência térmica para um motor térmico. Em geral, eficiência é a razão entre o que é produzido (energia pretendida) e o que é usado (energia gasta). Simplificadamente, podemos dizer que a energia pretendida num motor elétrico é o trabalho e a energia gasta é o calor transferido da fonte a alta temperatura. Assim, a expressão do rendimento térmico é: 𝜂௧é = 𝑊 𝑄ு = 𝑄ு − 𝑄 𝑄ு = 1 − 𝑄 𝑄ு Refrigerador ou Bomba de Calor é um dispositivo que opera segundo um ciclo e que necessita de trabalho para que se obtenha a transferência de calor de um corpo a baixa temperatura para outro a alta temperatura. Figura 16 – Bomba de Calor O trabalho é fornecido ao refrigerador na forma de energia elétrica, o calor é transferido do espaço refrigerado para a junção fria (QL) e da junção quente (QH) para o ambiente. A eficiência de um refrigerador é expressa em termos do Coeficiente de Performance (COP) que Termodinâmica 35 é designado pela letra grega β. No caso de um refrigerador, o objetivo é QL e a energia gasta é W. βRef = ொಽ ௐ = ொಽ ொಹି ொಽ todavia, existem aparelhos que também aquecem o ambiente, nesses casos o objetivo é QH, e a energia gasta é o W, assim surge um coeficiente de aquecimento expresso na seguinte forma: βaque = ொಹ ௐ = ொಹ ொಹି ொಽ Exemplos: 1. A potência consumida no acionamento de um refrigerador doméstico é 150 W e o equipamento transfere 400 W para o ambiente. Determine a taxa de transferência de calor no espaço refrigerado e o coeficiente de performance (desempenho) do refrigerador. 2. Calor é transferido para um motor térmico a uma taxa de 80 MW. Se a taxa de rejeição de calor para um rio próximo é de 50 MW,determinar a potência útil e a eficiência térmica para este motor térmico. Termodinâmica 36 6.2 Segunda Lei da Termodinâmica Existem dois enunciados clássicos da 2ª Lei, conhecidos como: Enunciado de Kelvin – Planck e Enunciado de Clausius. Enunciado de Kelvin – Planck: “É impossível construir um dispositivo que opere num ciclo termodinâmico e que não produza outros efeitos além do levantamento de um peso e troca de calor com um único reservatório térmico.”. Figura 17 - Enunciado de Kelvin – Planck Enunciado de Clausius: “É impossível construir um dispositivo que opere segundo um ciclo termodinâmico e não produza outros efeitos, além da transferência de calor de um corpo frio para um corpo quente.”. Figura 18 - Enunciado de Clausius ηtémico = 100% (impossível) Impossível um dispositivo transformar todo o calor recebido de uma única fonte térmica (fonte quente) e transformá-lo em trabalho. É impossível construir-se uma bomba de calor que opere sem receber trabalho. β < ∞ βref = ொಽ̇ ௐ̇ → ∞ Termodinâmica 37 Algumas observações importantes podem ser obtidas dos dois enunciados: Ambos são negativos; Baseados em evidências experimentais; Os dois enunciados são equivalentes. Se um dos enunciados for violado, o outro é automaticamente violado. Figura 19 – equivalência dos enunciados da 2ª Lei 6.3 Processo Reversível Na prática não podemos construir um motor térmico com rendimento igual a 100%, ou uma bomba de calor com coeficiente de performance infinito. Contudo, fica a pergunta: “Qual seria a máxima eficiência que se pode alcançar?”. Para a resposta da pergunta é necessário algumas considerações. A primeira é o entendimento do conceito de Processo Reversível. Um Processo Reversível, para um sistema, é definido como aquele que, tendo ocorrido, pode ser invertido e depois de realizada a inversão, não se notará algum vestígio no sistema e nas vizinhanças. Fatores que tornam irreversíveis um processo: atrito, expansão não resistida, transferência de calor com diferença finita de temperatura, mistura de duas substâncias diferentes, entre outros. Assim, vê-se que na realidade todos os processos são irreversíveis. Termodinâmica 38 6.4 Ciclo de Carnot Tendo visto o conceito de processo reversível e conhecidos alguns fatores que tornam os processos irreversíveis, podemos voltar à questão do rendimento máximo. Vamos adotar um determinado motor térmico, onde tal motor opera entre dois reservatórios térmicos conhecidos, funcione segundo um ciclo no qual todos os processos são reversíveis. Se cada processo é reversível, o ciclo também é reversível e, se o ciclo for invertido, o motor térmico se transforma em um refrigerador. Esse ciclo descrito é conhecido como Ciclo de Carnot. O Ciclo de Carnot permitiu o advento de dois teoremas relativos ao rendimento térmico do próprio Ciclo: 1º Teorema – é impossível construir um motor térmico que opere entre dois reservatórios térmicos e que seja mais eficiente que um motor reversível operando entre os mesmos dois reservatórios. 2º Teorema – todos os motores que operam segundo um ciclo de Carnot e entre dois reservatórios térmicos apresentam o mesmo rendimento térmico. Assim, podemos determinar um rendimento máximo baseado em Carnot como: ηCarnot = ்ಹି ்ಽ ்ಹ = 1 − ்ಽ ்ಹ 7. Entropia O estudo de ciclos termodinâmicos é importante a análise da 2ª Lei, contudo, em alguns casos o interesse se concentra na análise de processos, alguns bem comuns, como no caso do resfriamento do café ou na combustão no motor de um automóvel. No estudo da 1ª Lei foi definida uma propriedade importante que permitiu um cálculo quantitativo, a energia interna, em processos. Analogamente, vamos introduzir uma nova propriedade que permitirá calcular quantitativamente a aplicação da 2ª Lei em Termodinâmica 39 processos, a Entropia. Energia e Entropia são conceitos abstratos que foram idealizados para auxiliar a descrição de determinadas observações experimentais. 7.1 Definição de Entropia Em termodinâmica, entropia é a medida de desordem das partículas em um sistema físico. Utiliza-se a letra S para representar esta grandeza. As partículas, como sabemos, ao sofrerem mudança de temperatura, os corpos alteram o estado de agitação de suas moléculas. Então ao considerarmos esta agitação como a desordem do sistema, podemos concluir que: quando um sistema recebe calor Q>0, sua entropia aumenta; quando um sistema cede calor Q<0, sua entropia diminui; se o sistema não troca calor Q=0, sua entropia permanece constante. Segundo Rudolf Clausius, que utilizou a ideia de entropia pela primeira vez em 1865, para o estudo da entropia como grandeza física é mais útil conhecer sua variação do que seu valor absoluto. Assim, Clausius definiu que a variação de entropia (ΔS) em um sistema como: ∆𝑆 = 𝑄 𝑇 Para processos onde as temperaturas absolutas (T) são constantes. Para o caso onde a temperatura absoluta se altera durante este processo, o cálculo da variação de entropia envolve cálculo integral, sendo que sua resolução é dada por: Observando a natureza como um sistema, podemos dizer que o Universo está constantemente recebendo energia, mas não tem capacidade de cedê-la, concluindo então que a entropia do Universo está aumentando com o passar do tempo. 7.2 Variação de Entropia num Sólido ou Líquido Lembrando a fórmula: H = U + PɄ Termodinâmica 40 Derivando a mesma: dH = dU + d(PɄ) dH = dU + PdɄ + ɄdP Isolando dU, temos: dU = dH - PdɄ - ɄdP Mas, temos as relações abaixo: 𝜕𝑄 = 𝜕𝑈 + 𝜕𝑊 𝜕𝑄 = 𝑇. 𝑑𝑆 𝜕𝑊 = 𝑃. 𝑑Ʉ Assim, usando essas relações: T.dS = dU + P.dɄ T.dS = dH - PdɄ - ɄdP + P.dɄ T.dS = dH - ɄdP Essa equação também pode ser reescrita por unidade de massa: T.ds = dh - vdP No caso de sólidos e líquidos (dh≅ 𝒅𝒖), essas duas fases são praticamente incompressíveis, além do fato de que o volume específico é muito pequeno, reduzimos a expressão: T.ds = dh => ds = ௗ௨ ் =C ௗ் ் Integrando a equação, finalmente: s2 – s1 = C . ln( మ் భ் ) Exemplo: um quilograma de água líquida é aquecido de 20oC a 90oC. Calcule a varação de entropia, admitindo que o calor específico seja constante e compare este resultado com o obtido utilizando as tabelas de vapor.
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