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Livro POSSE E PROPRIEDADE

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1
Renata Helena Paganoto Moura 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DAS COISAS 
 
POSSE E PROPRIEDADE 
 
V. 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editoria FACCAMP 
 2
Renata Helena Paganoto Moura 
Professora de Direito Civil, Processo Civil e Prática Jurídica 
Extrajudicial da Faccamp, Professora da Especialização em Processo 
Civil da PUC-SP, Advogada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DAS COISAS 
POSSE E PROPRIEDADE 
 
V. 1 
1ª edição 
 
 
 
2007 
Editoria Faccamp 
 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus alunos, 
com quem sempre aprendo mais do que ensino, 
o carinho desta professora. 
 4
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10 
1.0 Apresentação .................................................................................................................................... 10 
2.0 Objeto do direito das coisas ............................................................................................................. 12 
3.0 Diferença entre o direito real e o direito pessoal ........................................................................... 13 
4.0 Características do direito real ......................................................................................................... 14 
PRIMEIRA PARTE ................................................................................................ 20 
I POSSE ........................................................................................................... 20 
1.0 Considerações gerais ................................................................................................................................ 20 
1.1 Conceito – teorias da posse ................................................................................................................. 20 
1.2 Objeto da posse ......................................................................................................................................... 23 
II CLASSIFICAÇÃO DA POSSE ...................................................................... 25 
2.0 Apresentação ............................................................................................................................................. 25 
2.1 Posse direta e indireta .............................................................................................................................. 25 
2.2 Posse Justa e Injusta ........................................................................................................................ 27 
2.3 Posse de Boa-fé e de Má-fé .............................................................................................................. 28 
2.4 Posse e Detenção ............................................................................................................................... 30 
2.5 Outras classificações da posse: ........................................................................................................ 33 
2.5.1 Posse ad interdicta e posse ad usucapionem ............................................................................... 33 
2.5.2 Posse nova e posse velha ............................................................................................................. 33 
2.5.3 Jus possidendi e Jus possessionis ................................................................................................ 34 
III AQUISIÇÃO DA POSSE ............................................................................ 37 
3.0 Aquisição da posse ........................................................................................................................... 37 
3.1 Aquisição ficta da posse ........................................................................................................................... 38 
3.1.1 Constituto possessório ou Cláusula constituti ........................................................................... 38 
3.1.2 Sucessão ........................................................................................................................................ 39 
 5
3.2 Transmissão da posse ............................................................................................................................... 41 
3.3 Extensão da posse ..................................................................................................................................... 42 
3.4 Legitimidade para aquisição da posse (quem pode adquirir a posse?) ....................................... 43 
IV EFEITOS DA POSSE .................................................................................... 44 
4.0 Efeitos da posse ................................................................................................................................. 44 
4.1 A faculdade de invocar os interditos............................................................................................... 45 
4.1.1 Ação de manutenção de posse .......................................................................................................... 45 
4.1.2 Ação de reintegração de posse (ação de força nova espoliativa, ou interdito recuperatório ou 
ação de esbulho). ........................................................................................................................................ 47 
4.1.3 Interdito proibitório (preceito cominatório ou ação de força iminente ou embargos à primeira).
 ..................................................................................................................................................................... 48 
4.2 Percepção dos frutos ........................................................................................................................ 49 
4.3 Indenização das benfeitorias e direito de retenção ........................................................................ 51 
4.3.1 Direito à indenização pelas benfeitorias .................................................................................... 52 
4.3.1.1 Obras e despesas: significado ............................................................................................ 53 
4.3.1.2 Benfeitoria, acessão e pertença: diferença ....................................................................... 54 
4.3.1.3 Valor das benfeitorias e compensação com os danos ...................................................... 55 
4.3.2 Direito de retenção ............................................................................................................................ 55 
4.3.2.1 Exercício processual do direito de indenização e retenção .................................................... 56 
4.3.2.2 Aplica-se às acessões e pertenças o direito à indenização e retenção? .................................. 60 
4.4 Responsabilidade pela deterioração e perda da coisa ................................................................... 61 
4.5 Usucapião .......................................................................................................................................... 62 
4.6 Ônus da prova e posição mais favorável do possuidor ................................................................. 63 
4.7 Alegação de domínio ou outro direito (juízo possessório x juízo petitório) ................................. 63 
V PERDA DA POSSE ....................................................................................... 67 
5.0 Considerações iniciais ......................................................................................................................67 
5.1 Abandono .......................................................................................................................................... 67 
5.2 Tradição ............................................................................................................................................ 69 
5.3 Perda da coisa, Destruição dela ou Por ser posta fora de comércio ............................................. 70 
5.4 Posse de outrem ................................................................................................................................ 72 
5.5 Constituto possessório ...................................................................................................................... 73 
VI DEFESA DA POSSE ..................................................................................... 74 
6.0 Defesa da posse ................................................................................................................................. 74 
 6
6.1 Legítima defesa x Desforço imediato .............................................................................................. 74 
6.2 Ações possessórias típicas: Manutenção de posse; Reintegração de posse e Interdito 
proibitório: ...................................................................................................................................................... 76 
6.2.1 Características das ações possessórias: ...................................................................................... 77 
6.2.1.1 Fungibilidade ...................................................................................................................... 77 
6.2.1.2 Cumulação de pedidos ....................................................................................................... 78 
6.2.1.3 Natureza dúplice ................................................................................................................ 78 
6.2.1.4 Exceção de domínio ........................................................................................................... 79 
6.2.2 Procedimento da ação de manutenção e reintegração de posse .............................................. 80 
6.2.3 Procedimento do interdito proibitório ....................................................................................... 82 
6.3 Outras ações em que se discute a posse (Ações possessórias atípicas) ......................................... 84 
6.3.1 Nunciação de obra nova .............................................................................................................. 85 
6.3.2 Ação de dano infecto ................................................................................................................... 91 
6.3.3 Ação de imissão de posse ............................................................................................................. 92 
6.3.4 Embargos de terceiro senhor e possuidor ................................................................................. 94 
SEGUNDA PARTE ............................................................................................... 99 
I PROPRIEDADE ............................................................................................. 99 
1.0 Considerações gerais ........................................................................................................................ 99 
1.1 Disciplina jurídica da propriedade no CC ................................................................................... 101 
1.2 Características ................................................................................................................................ 102 
1.3 A propriedade na CF ..................................................................................................................... 103 
1.4 A nova propriedade civil ............................................................................................................... 104 
II DA PROPRIEDADE EM GERAL ................................................................. 106 
2.1 Abuso de direito ............................................................................................................................. 106 
2.2 Descoberta....................................................................................................................................... 108 
III AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL ................................................. 110 
3.0 Considerações gerais ...................................................................................................................... 110 
3.1 Registro ........................................................................................................................................... 111 
3.1.1 Atributos do Registro: ............................................................................................................... 112 
� Publicidade ..................................................................................................................................... 112 
� Força Probante ............................................................................................................................... 112 
� Legalidade ....................................................................................................................................... 112 
� Obrigatoriedade ............................................................................................................................. 113 
� Continuidade .................................................................................................................................. 113 
� Territorialidade .............................................................................................................................. 114 
� Prioridade ....................................................................................................................................... 114 
� Especialidade .................................................................................................................................. 115 
� Instância .......................................................................................................................................... 115 
3.1.2 Lei dos Registros Públicos ........................................................................................................ 115 
 7
3.2 Usucapião ........................................................................................................................................ 117 
3.2.1 Usucapião e prescrição .............................................................................................................. 117 
3.2.2 Requisitos ................................................................................................................................... 117 
3.2.2.1 Requisitos Gerais ............................................................................................................. 118 
� ‘Animus domini’ ........................................................................................................................ 119 
� Posse mansa e pacífica .............................................................................................................. 119 
� Posse contínua ............................................................................................................................ 120 
� Posse pública .............................................................................................................................. 120 
� Posse incontestada ..................................................................................................................... 121 
� Tempo .........................................................................................................................................121 
� Bem público ............................................................................................................................... 121 
� Bem de família ........................................................................................................................... 122 
� Bem gravado com cláusula de inalienabilidade ...................................................................... 122 
� Bem de sociedade de economia mista ...................................................................................... 123 
3.2.3 Espécies ...................................................................................................................................... 123 
3.2.3.1 Usucapião extraordinário ................................................................................................ 124 
3.2.3.2 Forma especial do extraordinário (§único, 1.238) ......................................................... 125 
3.2.3.3 Usucapião ordinário ........................................................................................................ 125 
3.2.3.4 Forma especial do ordinário ........................................................................................... 126 
3.2.3.5 Usucapião especial rural.................................................................................................. 126 
3.2.3.6 Usucapião especial urbano .............................................................................................. 127 
3.2.3.7 §4° e §5°do art. 1.228 do CC ........................................................................................... 128 
3.2.3.8 Usucapião especial coletivo do Estatuto da Cidade (art. 10, L. 10.257/01) ................. 130 
3.2.3.9 Usucapião índigena .......................................................................................................... 132 
3.2.4 Usucapião de direitos reais sobre coisas alheias ..................................................................... 133 
3.2.5 Acessio Possessionis ................................................................................................................... 135 
3.2.6 Causas obstativas, suspensivas e interruptivas da prescrição aquisitiva .............................. 138 
3.2.7 Ação de Usucapião..................................................................................................................... 139 
3.2.8 Direito intertemporal ................................................................................................................ 143 
3.3 Acessão ............................................................................................................................................ 144 
3.3.1 Pela formação de ilhas .............................................................................................................. 144 
3.3.2 Aluvião ....................................................................................................................................... 145 
3.3.3 Avulsão ....................................................................................................................................... 146 
3.3.4 Álveo abandonado ..................................................................................................................... 146 
3.3.5 Construções e plantações .......................................................................................................... 147 
� CONSTRUÇÃO OU PLANTAÇÃO EM TERRENO PRÓPRIO COM MATERIAL ALHEIO.... 147 
� CONSTRUÇÃO OU PLANTAÇÃO EM TERRENO ALHEIO COM MATERIAL PRÓPRIO.... 148 
� CONSTRUÇÃO OU PLANTAÇÃO EM TERRENO ALHEIO COM MATERIAL ALHEIO...... 149 
� CONSTRUÇÃO EM ZONA LINDEIRA ........................................................................................ 149 
IV AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL .................................................. 151 
4.0 Considerações gerais ...................................................................................................................... 151 
4.1 Usucapião ........................................................................................................................................ 151 
4.2 Ocupação ........................................................................................................................................ 153 
4.3 Achado do tesouro .......................................................................................................................... 154 
4.4 Tradição .......................................................................................................................................... 155 
4.5 Especificação ................................................................................................................................... 157 
4.6 Confusão, comistão e adjunção ..................................................................................................... 158 
 8
V PERDA DA PROPRIEDADE ....................................................................... 159 
5.0 Perda da propriedade ............................................................................................................................. 159 
5.1 Alienação ................................................................................................................................................. 160 
5.2 Renúncia .................................................................................................................................................. 161 
5.3 Abandono ................................................................................................................................................ 163 
5.3.1 Abandono do bem imóvel ............................................................................................................... 163 
5.3.2 Arrecadação do bem abandonado ................................................................................................. 164 
5.3.3 Procedimento da arrecadação de bem vago ................................................................................. 165 
5.3.4 Abandono do bem móvel ................................................................................................................ 166 
5.3.5 É possível adquirir um carro abandonado? ................................................................................. 167 
5.3.5 O pagamento de tributos no abandono e renúncia dos bens: quem deve? ................................ 168 
5.4 Perecimento da coisa .............................................................................................................................. 169 
5.5 Desapropriação ....................................................................................................................................... 169 
5.5.1 Espécies de desapropriação ............................................................................................................ 170 
5.5.2 Legitimidade para desapropriar (quem pode desapropriar?) .................................................... 171 
5.5.3 Legitimidade para ser desapropriado (quem pode ser desapropriado?) ................................... 172 
5.5.4 Objeto da desapropriação .............................................................................................................. 173 
5.5.5 Retrocessão ...................................................................................................................................... 173 
5.5.6 Processo Expropriatório................................................................................................................. 177 
5.5.7 Desapropriação e função social da propriedade (Desapropriação sancionatória) .................... 178 
VI DEFESA DA PROPRIEDADE ..................................................................... 181 
6.0 Considerações gerais ..............................................................................................................................181 
6.1 Ação Reivindicatória .............................................................................................................................. 181 
6.1.1 Processo e procedimento da ação reivindicatória ........................................................................ 183 
VII CONDOMÍNIO .......................................................................................... 187 
7.0 Condomínio..................................................................................................................................... 187 
7.1 Classificação ................................................................................................................................... 188 
7.2 Condomínio Geral .......................................................................................................................... 189 
7.2.1 Condomínio Voluntário ............................................................................................................ 189 
7.2.1.1 Direitos e deveres dos condôminos ................................................................................. 190 
7.2.1.2 Extinção do condomínio .................................................................................................. 192 
7.2.1.2.1 Divisão da coisa divisível ............................................................................................ 193 
7.2.1.2.2 Alienação da coisa indivisível ..................................................................................... 193 
7.2.1.3 Administração do condomínio ........................................................................................ 194 
7.2.1.4 Renúncia ........................................................................................................................... 195 
7.2.2 Condomínio Necessário ............................................................................................................. 195 
7.3 Condomínio Edilício....................................................................................................................... 196 
7.3.1 Natureza jurídica do condomínio edilício ............................................................................... 197 
7.3.2 Instituição, Constituição e Regulamento do Condomínio ...................................................... 198 
7.3.3 Direitos e deveres dos condôminos ........................................................................................... 201 
7.3.3.1 Direitos dos condôminos (art. 1.335) .............................................................................. 201 
 9
� Usar, fruir e livremente dispor de suas unidades: .................................................................. 201 
� Usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a utilização 
dos demais possuidores: ..................................................................................................................... 202 
� Votar nas deliberações da assembléia e delas participar, estando quite. .............................. 202 
7.3.3.2 Deveres dos condôminos .................................................................................................. 202 
� Contribuir para as despesas do condomínio, na proporção de suas frações ideais, salvo 
disposição em contrário na convenção: ............................................................................................. 202 
� Proibição de o condômino realizar obras que possam comprometer a segurança da 
edificação: ............................................................................................................................................ 204 
� Não modificar a forma nem a cor da fachada das partes e esquadrias externas: ................ 204 
� Dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira 
prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes:............ 204 
� Sanções pelo descumprimento dos deveres ............................................................................. 205 
7.3.4 Da administração do condomínio ............................................................................................. 206 
VOTO ................................................................................................................................................... 207 
OBJETO DA DELIBERAÇÃO ............................................................................................................ 207 
7.3.5 Extinção do condomínio ............................................................................................................ 208 
VIII PROPRIEDADE RESOLÚVEL E PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA ............ 210 
8.0 Considerações gerais ...................................................................................................................... 210 
8.1 Propriedade resolúvel .................................................................................................................... 211 
8.1.1 Advento da condição ou termo ................................................................................................. 212 
8.1.2 Advento da causa superveniente .............................................................................................. 212 
8.2 Propriedade Fiduciária .................................................................................................................. 213 
8.2.1 Procedimento da ação de busca e apreensão (Decreto-lei 911/69) ........................................ 217 
IX LIMITAÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE ........................................ 219 
9.0 A limitação ao direito de propriedade .......................................................................................... 219 
9.1 As principais limitações ao direito de propriedade ..................................................................... 221 
9.1.1 Limitações do direito de vizinhança......................................................................................... 222 
9.1.1.1 Uso anormal da propriedade .......................................................................................... 222 
9.1.1.2 Árvores limítrofes; Passagem de cabos e tubulações; Limites entre prédios e o direito 
de tapagem ........................................................................................................................................... 224 
9.1.1.3 Passagem forçada ............................................................................................................. 225 
9.1.1.4 Águas ................................................................................................................................. 227 
9.1.1.5 Direito de construir .......................................................................................................... 228 
9.1.2 Limitações por tombamento ..................................................................................................... 229 
9.1.3 Limitações voluntárias .............................................................................................................. 233 
9.1.3.1 Limitações convencionais ................................................................................................ 233 
9.1.3.2 Limitações reais................................................................................................................ 236 
9.1.4 Limitações pela preservação do meio-ambiente ..................................................................... 238 
9.2 Função social da propriedade ....................................................................................................... 239 
9.2.1 Usucapião e desapropriação: instrumentos da função social da propriedade ..................... 241 
BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................... 244 
 
 10INTRODUÇÃO 
 
SUMÁRIO: 1.0 Apresentação; 2.0 Objeto do direito das coisas; 3.0 Diferença entre o 
direito real e o pessoal; 4.0 Características do direito real 
 
1.0 Apresentação 
O Código Civil, como se sabe, é dividido em duas partes, a geral e a especial. E essas, por 
sua vez, são divididas em livros. A parte geral é dividida em 3 livros, que tratam das 
pessoas, dos bens e dos fatos jurídicos. A parte especial é dividida em 5 livros, referentes 
aos grandes institutos jurídicos, o direito das obrigações, o dir. da empresa (trazido pelo CC 
2002) o dir. das coisas, o dir. de família e o direito das sucessões. 
A parte geral, que vai do art. 1º ao 232, trata de todos os conceitos gerais que serão 
estudados ao longo do Código, é como uma apresentação da obra em que se procuram 
definir conceitos e classifica-los. É aqui que o Código dirá o que se deve entender por 
determinado termo jurídico, quais são as suas classificações. Fiquemos com o exemplo das 
benfeitorias: na parte geral encontra-se a sua classificação e as suas definições (art. 96), na 
parte especial, ao se referir às benfeitorias, o código apenas as cita, mas não mais as 
conceitua, levando em consideração que todos esses termos foram explicados na parte 
geral. 
É como essas obras que necessitam de uma outra para explicá-la, um manual de como ler e 
entender a obra. A parte geral também tem essa função. 
A parte especial, que é toda a restante do CC, vai do art. 233 ao 2.046, dividida naqueles 
livros acima referidos (obrigações, empresa, coisas , família e sucessões). 
O curso de Direito Civil, nas faculdades, também é dividido conforme essa disposição 
legal. Assim, têm-se a primeira disciplina de Civil, que costuma-se enumerá-la como Civil 
I, como o estudo da parte geral, Civil II, com o estudo das obrigações e assim 
sucessivamente. 
Ao chegar-se aqui no direito das coisas, já se estudou a parte geral, as obrigações e os 
contratos, e em algumas faculdades até o direito de empresa. 
 11
Na definição de Clóvis Bevilácqua, direito das coisas é o complexo das normas reguladoras 
das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem. 
Mas aqui também cabe outra explicação, pois afinal o que vem a ser COISA? 
Vejam que o próprio conceito do jurista traz uma limitação ao termo coisa, pois afinal se 
diz “coisas que são suscetíveis de apropriação pelo homem”. 
Mas, se são somente as coisas suscetíveis de apropriação pelo homem, então existem coisas 
que não são suscetíveis de apropriação pelo homem? Sim, como bem explica o prof. 
Washington de Barros Monteiro, o sentido dessa expressão – ser suscetível de apropriação 
pelo homem – quer significar a apreensão exclusiva pelo homem, pois aqueles bens 
inesgotáveis, de uso comum da humanidade, ar, luz, não interessam ao direito das coisas.1 
Nesse sentido, coisas se referem aos bens que têm valor econômico, aqueles, como se disse 
acima, que podem ser apreendidos exclusivamente pelo homem. Mas todos os bens que têm 
valor econômico são coisas? Até mesmo os bens imateriais (como os direitos autorais e os 
direitos)? 
Para o nosso atual legislador, não. A expressão coisas refere-se não só aos bens que têm 
valor econômico como também aos bens corpóreos, entendendo-se aqui aqueles dotados de 
existência física, que têm lugar no espaço. 
O antigo legislador do Código trazia neste livro também os direitos autorais, causando uma 
grande crítica da doutrina, que entendia que o termo não permitia essa extensão. 
Mas, apesar da retirada dos direitos autorais deste livro, a denominação ainda sofre severa 
crítica daqueles que vêem no termo um caráter restritivo porque o termo ‘coisas’ 
expressaria apenas uma das espécies de bens (gênero) da vida, enquanto o Livro II trata 
também de relações fáticas, como a posse, sugerindo a denominação “Da posse e dos 
direitos reais”.2 
 
1
 Curso de Direito Civil, p. 1. 
 
2
 Maria Helena Diniz, citando Ricardo Fiúza, p. 3. 
 
 12
Pois, como muito bem observado pelo prof. Fábio Ulhoa Coelho, ora coisa é gênero, do 
qual os bens são espécies (nesse caso são as coisas que têm valor econômico) ora bens é 
gênero, do qual as coisas são espécies (nesse caso, as corpóreas).3 
 
2.0 Objeto do direito das coisas 
Sendo o objeto deste livro as coisas corpóreas, trata o direito das coisas de uma espécie de 
direitos, os direitos reais. 
Mas, como vimos, não somente dos direitos reais, mas também da posse. 
Tem por objeto o direito das coisas a posse e os direitos reais. 
A posse é tratada nos arts.1.196 a 1.224 e os direitos reais são enumerados no art. 1.225. 
O Código Civil enumera dez direitos reais: a propriedade, a superfície, as servidões, o 
usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente comprador do imóvel, o penhor, a 
hipoteca e a anticrese. 
Destes, somente a propriedade representa um direito pleno; todos os demais são direitos 
reais sobre coisas alheias. 
Recebem esta denominação porque pressupõem a propriedade, são exercidos sobre a 
propriedade alheia. Tenha-se o usufruto como exemplo, se é usufrutuário de um imóvel, 
assim temos o proprietário e a sua propriedade e o usufrutuário e o direito de usufruto que é 
exercido sobre aquela propriedade. E é assim com todos os demais, tem-se a servidão sobre 
uma propriedade alheia, tem-se o direito de superfície de uma propriedade alheia, etc. 
Os três últimos direitos, penhor, hipoteca e anticrese, ainda são direitos reais de garantia. 
 Dentre os direitos reais enumerados pelo Código, dois são novos: a superfície e o direito 
do promitente comprador do imóvel. Foi retirada do Código a enfiteuse, instituto da 
legislação anterior e que agora consta somente das disposições finais. 
Esses são os direitos reais enumerados no Código Civil e objeto deste livro. A enumeração 
do legislador é taxativa: são direitos reais esses trazidos no art. 1.225, não sendo permitido 
aos sujeitos de direito a criação de direitos reais, e aqui já se encontra uma das principais 
diferenças entre os direitos reais e os direitos pessoais, que abordaremos a seguir. 
 
3
 Curso de Direito Civil, p. 4. 
 13
 
3.0 Diferença entre o direito real e o direito pessoal 
Direitos reais e direitos pessoais são uma das classificações que temos dos direitos 
subjetivos. 
Esse, por sua vez, é o poder que a ordem jurídica confere a alguém de agir e de exigir de 
outrem determinado comportamento.4 
Quando se classifica o direito subjetivo tendo como referência o bem protegido ou o fim a 
que se destinam, este é dividido em direitos da personalidade, direitos de família e direitos 
patrimoniais. Compreende os direitos patrimoniais, os direitos reais, os direitos de crédito e 
os direitos intelectuais.5 
É famosa e criticável uma explicação dos direitos reais que diz serem estes a relação entre 
uma pessoa e a coisa, e os direitos obrigacionais (ou de crédito) a relação entre pessoas. 
É criticável porque não podemos ter como sujeito de uma relação jurídica uma coisa. 
Assim, dizem, o sujeito passivo desta relação é uma universalidade, são todos, pois todos 
têm o dever jurídico de observar/respeitar esse direito. 
E, ao falar nesse dever jurídico a que todos estão sujeitos, estamos diante de uma outra 
classificação dos direitos subjetivos que, com base em sua eficácia, distinguem-os em 
absolutos e relativos. 
São absolutos porque devem ser respeitados por todos; são relativos porque devem ser 
respeitados apenas por algumas pessoas. 
Os direitos reais são absolutos porque impõem um dever jurídico a todos. Todos devem 
respeitar o direito de propriedade, ninguém deve prejudicar o exercício do direito de 
propriedade, logo esse dever de observar tal comportamento (“não prejudicar o exercício do 
direito”)é dirigido a todos. Assim também é nos direitos de personalidade, em que todos 
devem respeitar a intimidade, a liberdade, a vida, a honra alheia. 
Mas, assim não são nos direitos obrigacionais, cujo dever jurídico é dirigido somente à 
pessoa vinculada pela relação jurídica. Se devo, devo a alguém, e é a esse alguém que devo 
 
4
 Definição do prof. Francisco Amaral em sua obra, Direito Civil, p. 183. 
 
5
 Amaral, p. 194 
 
 14
observar o direito de pagar. Logo, o comportamento que o titular do direito subjetivo pode 
exigir é dirigido somente ao seu devedor, ou seus devedores.6 Por isso ele é relativo. 
Essa é também uma das características dos direitos reais que veremos a seguir. 
Mas não é só, os direitos reais são exercidos sobre bens e a relação que se dá entre os 
sujeitos de direito envolve bens. Ao contrário do direito obrigacional cujo objeto é a 
prestação do outro. O que se quer é uma prestação do outro, de dar, fazer e não fazer. Não 
que a prestação não possa envolver um bem, por exemplo: a entrega de um carro (obrigação 
de dar). Mas aqui não se litiga sobre o bem em si, mas sim sobre o cumprimento da 
prestação. É diferente se pensarmos num litígio envolvendo a discussão sobre a propriedade 
do bem. No primeiro caso, eu quero o carro porque paguei, no segundo, eu quero porque 
sou dona. 
 
4.0 Características do direito real 
Apresenta o direito real algumas características próprias que servem para distingui-lo dos 
direitos obrigacionais/pessoais, como também para compreendê-lo em seus principais 
aspectos7: 
a) oponibilidade erga omnes: 
Como vimos acima a oponibilidade erga omnes é uma característica dos direitos reais. 
Assim, diz-se que o direito real é oponível erga omnes pois todos estão obrigados a 
observá-lo. O seu sujeito passivo – antes de um conflito – é universal: todos devem 
respeitar o direito de propriedade alheio. 
Numa relação pessoal, só quem está obrigado a observá-lo é o outro sujeito da relação, pois 
só dele o credor pode exigir um comportamento, só a ele o devedor está obrigado. 
Pensemos no exemplo da propriedade: a propriedade impõe um comportamento passivo de 
todos: não se deve entrar nela sem permissão, não se deve prejudicar o uso da propriedade 
pelo seu morador etc, mas com relação à obrigação estabelecida entre as partes, só estas 
 
6
 Francisco Amaral define dever jurídico como a necessidade de se observar certo comportamento, positivo 
ou negativo, a que tem direito o titular do direito subjetivo, p. 196. 
 
7
 Utilizamos a enumeração de Washington de Barros Monteiro, acrescentando a oponibilidade erga omnes 
não citada pelo autor, Curso de Direito Civil, p. 14. 
 15
estão obrigadas a observar um comportamento em relação a ela, os outros nada têm a ver 
com esta relação ou mesmo têm o dever de agirem de determinada forma em virtude dessa 
obrigação. 
b) adere imediatamente à coisa, sujeitando-se diretamente ao titular – aderência: 
Apontam os autores a aderência como uma segunda característica dos direitos reais. Uma 
vez estabelecido o direito real em favor de alguém sobre certa coisa, tal direito se liga ao 
objeto, adere a ele de maneira integral e completa, como afirma Sílvio Rodrigues.8 
Como se trata, como vimos, de uma relação da pessoa sobre a coisa, representa dizer que ao 
ser estabelecido cria-se esse liame jurídico do bem com a pessoa titular do direito. Assim, 
adquirida a propriedade de um imóvel, constitui-se agora uma relação de direito do titular 
da propriedade – proprietário - sobre o bem, podendo este opor esse direito a todos e 
valendo-se de todas as prerrogativas que a propriedade lhe confere. 
c) segue seu objeto onde quer que se encontre – direito de seqüela: 
O direito de seqüela é uma conseqüência imediata das duas últimas características. Se o 
direito real adere imediatamente à coisa atribuindo ao seu titular, como uma de suas 
prerrogativas, a oponibilidade erga omnes, esta só se completa pelo direito de seqüela, que 
permitirá ao titular do direito real buscá-lo com quem quer que se encontre. 
Imaginemos o exemplo da hipoteca: trata-se esta de um direito real de garantia, conforme 
estabelecido no art. 1.225, IX. Ao ser estabelecida, vincula o bem à garantia do pagamento 
do crédito pelo devedor. Então, pergunta-se: pode o devedor – que estabeleceu a hipoteca 
sobre seu bem, vendê-lo? A resposta é positiva. Pode vendê-lo. E, como ficará o credor 
hipotecário, ficará sem garantia? Não, para o credor nada mudará, pois, como é titular de 
um direito real, esse segue o bem onde quer que se encontre, e mesmo que esteja agora na 
propriedade de outro, ao não ser paga a dívida pelo devedor, exercerá a sua garantia e 
buscará o bem com quem quer que se encontre, para sobre ele exercer o seu direito real, 
nesse caso, executando a hipoteca. 
d) não é possível instalar-se direito real onde outro já exista – é exclusivo: 
 
8
 Direito Civil, p. 4. 
 
 16
Diz-se, conforme Sílvio Rodrigues, ser característica do direito real a exclusividade, no 
sentido de que não se podem conceber dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma 
coisa.9 
A princípio, para facilitar a compreensão, pensemos que não podem existir dois direitos 
reais sobre o mesmo bem, por exemplo, não podem existir duas propriedades sobre o 
mesmo bem, dois usufrutos sobre a mesma coisa. 
Mas, percebamos que na excelente definição do prof. Sílvio Rodrigues, se diz direitos de 
igual conteúdo, logo, podemos imaginar, sim, dois usufrutos sobre a mesma coisa, porém 
não com o mesmo conteúdo: pode-se ser usufrutuário com uso limitado à plantação e pode-
se ser usufrutuário com uso limitado à moradia. 
Assim, também como pode haver duas hipotecas incidindo sobre o mesmo bem. Porém a 
primeira tem preferência sobre a segunda, e não sendo a dívida paga pelo devedor, os 
credores exigirão os seus direitos, mas ao ser executada a hipoteca, da sua arrecadação 
primeiro se pagará ao primeiro credor hipotecário, para só após pagar ao segundo. Logo, 
apesar de haverem duas hipotecas sobre o bem elas não tem o mesmo conteúdo. 
e) é provido de ação real, que prevalece contra qualquer detentor da coisa, razão pela 
qual muitos o denominam de absoluto: 
A ação conferida ao titular do direito real é ação real. E é real porque o seu direito incide 
diretamente sobre o bem corpóreo e daí decorre que a ação pode ser endereçada a qualquer 
pessoa que detenha o objeto do direito real.10 
No Código Civil anterior ainda havia uma diferença com relação à prescrição destas ações: 
as ações pessoais prescreviam em 10 anos e as ações reais em 15 e 20. O Código Civil atual 
acabou com esta distinção e estabeleceu um prazo único de prescrição de 10 anos. 
Fica como diferença a estabelecida acima, de que esta é endereçada a quem detenha o bem 
objeto do direito real. 
E aqui temos uma grande diferença do direito pessoal, pois a sua ação é endereçada ao 
sujeito com quem se estabeleceu essa relação. Dirige-se a ação de cobrança contra o 
devedor, com quem o credor estabeleceu uma relação de crédito. Por outro lado, em se 
 
9
 Op. Cit, p. 7. 
 
10
 Definição do prof. Sílvio Rodrigues, op.cit., p. 7. 
 17
tratando de direito real, a ação reivindicatória da propriedade é dirigida contra quem 
detenha o bem, mesmo desconhecendo quem seja, mesmo não tendo nunca estabelecido 
qualquer relação de direito com ele. A ação vai ao encontro do bem e da pessoa que sobre 
ele está exercendo algum ato jurídico (posse, detenção...). 
f) seu número é bastante limitado em contraposição aos direitos pessoais que são 
infinitos: 
Traz essa característica uma indagação: são direitos reaisapenas os enumerados na lei? 
Os direitos pessoais, por sua vez, não sofrem desta indagação, pois seu número é livre, a 
autonomia privada dos sujeitos permite uma liberdade na sua criação. 
E os direitos reais? Também podem ser criados pelas partes? Podem estas estabelecer 
direito real sobre um direito? 
Sobre esta questão há uma forte divergência em nossa doutrina: de um lado, os que 
admitem essa criação, pela lei e pelas partes; de outro, os que não admitem essa criação 
pelas partes, apenas pela lei. 
A segunda corrente, da não admissibilidade da criação de direitos reais, prende-se ao fato 
de que não poderiam as partes estabelecer direitos reais, pois as conseqüências destes são 
próprias deste direito e possuem características importantes, como a seqüela e a 
oponibilidade erga omnes. Como permitir, por exemplo, ao credor, estabelecer de uma 
obrigação um direito real, obrigando agora todos a observá-lo, tendo ação contra quem quer 
que esteja detendo o direito? E ainda observam esses autores que uma importante 
característica dos direitos reais é o registro, mas este só é permitido por lei especial que o 
autoriza (Lei 6.014/73), como então registrar um direito não autorizado?11 
Por outro lado, tem-se entendimento como o do prof. Washington de Barros Monteiro, que 
aceita a criação de direitos reais pelas partes. 12 
A ponderar com a nossa jurisprudência, teremos que concordar com o memorável civilista. 
A promessa de compra e venda hoje incluída no rol dos direitos reais, pelo inciso VII do 
art. 1.225, conquistou essa característica muito antes pela nossa jurisprudência. Os nossos 
 
11
 São estas observações do prof. Sílvio Rodrigues, que entende não ser possível, fora da lei, a criação de 
direitos reais, p. 9. 
 
12
 “Outros direitos reais poderão ser ainda criados pelo legislador, ou pelas próprias partes”, Curso, p. 12. 
 18
tribunais tinham o entendimento quase pacífico de que, desde que registrado e com cláusula 
de não-arrependimento, o compromissário adquiria um direito à aquisição do bem, podendo 
valê-lo contra terceiros que eventualmente tenham adquirido do promitente o bem. O CC 
atual elencando no seu rol a promessa de compra e venda fez somente incorporar algo que 
na prática já existia, o direito real do promitente comprador de imóvel. 
Comentaremos mais na oportunidade própria, mas, diga-se de antemão, que se não fosse – 
antes do CC 2002 – um direito real a única conseqüência pela não entrega do bem pelo 
promitente comprador seriam as perdas e danos ao contrário do que ocorria, a busca do bem 
com quem quer que ele se encontrasse e a efetiva transferência da propriedade. 
Um outro direito real existente na prática e ainda não constante do rol do 1.225 é a locação 
de imóveis com eficácia real ao se registrar o referido contrato. Caso isso ocorra (o 
registro), esta valerá mesmo com a venda do bem e o adquirente terá que respeitar a 
locação estabelecida. 
Sendo assim, temos que concordar com o prof. Washington de Barros Monteiro: apesar de 
terem um número bastante limitado, frente aos direitos pessoais, também podem os direitos 
reais ser estabelecidos pelas partes. 
g) só os direitos reais são suscetíveis de posse (tese que comporta divergências 
doutrinárias): 
A posse é um direito real ou pessoal? Esta indagação, em que se controverteram juristas de 
ontem e hoje, é que implica o entendimento desta última característica. 
Mas, neste caso, remetemos ou pedimos ao leitor para aguardar o trato desta matéria no 
capítulo em que cuidaremos da posse. 
 
Além destas características, aponta Caio Mário mais quatro, que, pela sua importância no 
entendimento da matéria, citaremos:13 
1- O direito real se adquire por usucapião, ao passo que os direitos de crédito não suportam 
este modo de aquisição: trata-se de uma conseqüência da última característica – só os 
direitos reais são suscetíveis de posse – pois os requisitos do usucapião são posse + tempo; 
 
13
 Instituições, p. 10. 
 19
2- Os direitos de crédito se extinguem pela inércia do sujeito, ao passo que os reais 
conservam-se, não obstante a falta de exercício, até que se constitua uma situação contrária, 
em proveito de outro titular. Apesar desta afirmação ser uma verdade com relação à 
propriedade, já não é, por exemplo, com a servidão, que se extingue pelo não uso, conforme 
art. 1.389, III, CC; 
3- O titular do direito real tem a faculdade de receber privilegiadamente em caso de 
falência ou concurso creditório, sem se sujeitar ao rateio, cabendo-lhe, dentro dos limites de 
seu crédito, embolsar o produto da venda da coisa gravada (preferência): outros direitos 
também gozam desta preferência, como o alimentar, trabalhista, fiscal, levando hoje o 
crédito real a uma posição não tão prestigiada como a de antes; 
4- O titular de um direito real que não possa mais suportar seus encargos tem a faculdade 
de abandoná-lo, o que não cabe no tocante aos direitos de crédito: o abandono é uma das 
causas de perda da propriedade (art. 1.275, III). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 20
PRIMEIRA PARTE 
 
I POSSE 
 
SUMÁRIO: 1.0 Considerações gerais; 1.1 Conceito – teorias da posse; 1.2 Objeto da 
posse. 
 
1.0 Considerações gerais 
Não se trata de tema fácil a posse, pois quase tudo que a envolve foi ou é objeto de imenso 
debate: trata-se de um direito ou de um fato, é direito real ou pessoal, tem por objeto 
somente bens corpóreos ou também incorpóreos, pode ter por objeto também direitos, e até 
qual a sua origem, é tema de eterna divergência. 
Mas, como aqueles temas historicamente debatidos que acabam sendo superados seja pela 
sua descrição legislativa, seja por um consenso na busca de ponto comum que importa à 
discussão, quanto à posse também podemos dizer que muito dessa discussão se superou. 
Se é fato ou se é direito, o certo é que o Código a regula, e o faz abrindo o livro III, antes de 
tratar da propriedade, o que, sem sombra de dúvidas, demonstra a sua importância na 
disciplina do direito das coisas. 
Mas, mesmo que em grande parte esta discussão esteja superada é necessário que 
conheçamos seus principais elementos, principalmente as duas teorias em que divergiram 
os juristas na elaboração da compreensão jurídica da posse. 
 
1.1 Conceito – teorias da posse 
O CC, em seu art. 1.196, define a posse como o exercício de fato de um ou mais poderes 
característicos do direito de propriedade. E com essa definição aceita-se que o legislador – 
mesmo o do código de 1916, pois o artigo aqui foi reproduzido – reconheceu a teoria de 
Jhering. 
À teoria de Jhering – chamada de objetiva – é oposta a teoria de Savigny – chamada de 
subjetiva. 
 21
Para Savigny, primeiro a escrever sobre a posse, esta é o poder que tem a pessoa de dispor 
fisicamente de uma coisa, com intenção de tê-la para si e de defendê-la contra a intervenção 
de outrem.14 
São dois, na sua teoria, os elementos constitutivos da posse: corpus + animus domini. 
O corpus é o elemento material, mas não é a coisa em si e sim o poder físico da pessoa 
sobre a coisa. 
O animus domini pode ser definido como a intenção de ter a coisa como sua e por isso 
constitui o elemento subjetivo, eis porque a sua teoria é designada TEORIA SUBJETIVA 
DA POSSE. 
Logo, na teoria de Savigny, para ser possuidor é necessário a relação entre a pessoa e o bem 
(corpus), é necessário que haja um comportamento de proprietário sobre o bem (affectio 
tenendi) e é necessário que haja a intenção de ter o bem para si (animus dominus). 
A essa teoria se contrapôs Jhering, para quem a posse é a exteriorização do domínio. Para 
ser possuidor basta comportar-se com o bem como se comporta o proprietário. Não há na 
sua teoria o elementosubjetivo da intenção de ser dono, por isso é esta designada como 
TEORIA OBJETIVA DA POSSE. 
Por isso, quando o CC define o possuidor como aquele que exerce de fato um ou mais 
poderes inerentes ao proprietário, estamos diante da aplicação da teoria objetiva, pois não 
se exige a intenção de ser dono, mas simplesmente o comportamento como se dono fosse, 
ou seja, a visibilidade do domínio. 
A teoria objetiva explica melhor outras relações jurídicas como a do locatário, comodatário, 
usufrutuário, que são, nesta teoria possuidores; mas, pela subjetiva não seriam, pois lhes 
faltam o elemento subjetivo, animus domini. 
Aplicando-se a teoria em termos práticos a diferença é que, ao serem definidos como 
possuidores, podem o locatário, o comodatário, o usufrutuário se valerem de um dos 
principais efeitos da posse que é a sua defesa, que pode ser dirigida contra terceiros, e até 
mesmo contra o proprietário. Mas, no sentido inverso, caso se entenda que estes não são 
possuidores, não poderão se valer dessas defesas. 
 
14
 Apud Washington de Barros Monteiro, p. 16. 
 22
Divergem também estas teorias no entendimento do que seja detenção, e, mais uma vez, 
deixa claro o nosso legislador a adoção da teoria objetiva, mas cuidaremos desse tema na 
classificação da posse. 
Por último, um elemento que marca a divergência entre esses dois juristas é a explicação do 
corpus. Se para Savigny este representa o poder físico sobre o bem, para Jhering não há 
necessidade deste poder físico, mas apenas a relação entre a pessoa e coisa, de forma a ver 
nele a exteriorização do proprietário. 
Não havendo necessidade de ter a coisa sobre seu poder, pode-se perfeitamente está 
distante dela e mesmo assim ser possuidor, e isto se deve principalmente a um outro 
elemento da teoria objetiva que é a utilização econômica do bem. É necessário que o 
comportamento da pessoa com o bem esteja dentro de uma relação econômica exercida 
pelo bem. Por exemplo: sou possuidor de um terreno, porque mesmo não sendo 
proprietário, dele cuido e planto, mas não estou presente nele a todo momento; às vezes, 
viajo e em outras estou no local que resido e mesmo nestas ausência se é possuidor, pois a 
relação da pessoa com a coisa subsiste e a utilização dada por ela ao bem exterioriza a 
propriedade. 
Isso não ocorre quando, mesmo sendo proprietário, por exemplo, de uma casa, deixa-a sem 
cuidados. Ao vislumbrá-la, dirão todos: “está abandonada”, porque nela não se têm atos que 
permitam dizer que está exercendo a sua função econômica (a função de uma casa não é 
estar abandonada, caindo aos pedaços). 
Esse conceito de Jhering também nos faz entender o abandono, instituto que leva à perda da 
propriedade e que estudaremos no capítulo sob esse título. 
 
Estabelece-se, no quadro abaixo, a diferença da posse para as duas teorias em seus 
elementos e também nas principais colocações, conforme as duas teorias: 
 
 
 ELEMENTOS 
DA POSSE 
LOCATÁRIO/ 
USUFRUTUÁRIO/ 
COMODATÁRIO 
DETENÇÃO ABANDONO POSSE 
DIRETA/ 
 23
INDIRETA 
SAVIGNY Corpus + 
animus domini 
Não são 
possuidores (pois 
lhes faltam o 
animus domini) 
Não são 
possuidores 
pois lhes 
faltam o 
animus 
domini 
Diz-se que a 
coisa está 
abandonada 
quando 
Não considera 
este 
desdobramento 
da posse, logo 
não há nesta 
teoria a posse 
direta e 
indireta. O 
possuidor 
direto seria um 
detentor. 
IHERING Corpus 
(affectio 
tenendi) 
São possuidores Não são 
possuidores, 
pois a lei 
exclui a 
posse, apesar 
de terem o 
corpus 
Diz-se que a 
coisa está 
abandonada 
quando está 
fora de uma 
relação 
econômica 
Para a teoria 
objetiva a 
posse 
desdobra-se 
em direta e 
indireta. 
 
 
1.2 Objeto da posse 
Qual pode ser o objeto da posse? Todas as coisas corpóreas e incorpóreas? Todos os 
direitos pessoais e reais? 
Aqui também se encontra uma outra grande polêmica da posse, mas que, podemos afirmar, 
está, assim como a outra, também superada. 
Para o nosso legislador, só são objeto de posse as coisas corpóreas, ou seja, só se tem posse 
sobre coisas corpóreas e, conseqüentemente, só há posse nos direitos reais. 
A tese da posse dos direitos pessoais já foi bravamente defendida entre nós por Ruy 
Barbosa. Mas, sabe-se que toda a sua construção jurídica deveu-se ao fato de não termos 
 24
naquele momento um instrumento jurídico eficaz para proteção dos direitos públicos 
subjetivos. Hoje, com o mandado de segurança, esta discussão ficou superada.15 
A tese se baseou em dois grandes pressupostos: primeiro, se no direito romano a posse só 
abrangia os direitos reais, o mesmo não ocorreu no direito medieval, em que, a posse 
abrangia todos os direitos, e, segundo, a redação do art. 485 do CC (que é a mesma do atual 
1.197) considerava possuidor todo aquele que tivesse de fato o exercício, pleno ou não, de 
alguns dos poderes inerentes à propriedade – e se a propriedade também abrangia direitos 
incorpóreos, logo, também se poderia ter posse sobre esses direitos (argumentavam que se 
não fosse intenção do legislador ampliar a posse aos direitos pessoais, teria dito 
simplesmente: considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou 
não, de algum dos poderes inerentes ao domínio16). 
Hoje, com o CC, esse último argumento não prospera, pois retirou-se do elenco do direito 
das coisas a disciplina sobre os direitos autorais, reduzindo esse debate, pois, pelo menos 
para o direito das coisas, a propriedade abrange somente as coisas corpóreas. 
Dizer que somente há posse sobre direitos reais é também dizer que somente estes podem 
se valer de efeitos desses direitos, como o da utilização das ações possessórias, usucapião 
etc 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15
 Essa tese é mais do advogado do que do jurista, pois defendeu Ruy Barbosa, em 1896, ação de manutenção 
de posse em favor dos lentes da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, que sofreram suspensão por 3 meses, 
para mantê-los no emprego,defendendo que tinham eles a posse do cargo público. Daí até hoje a expressão 
tomar posse no emprego público. 
 
16
 Washington de Barros Monteiro, Curso, p. 23. 
 
 25
II CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 
 
SUMÁRIO: 2.0 Apresentação; 2.1 Posse direta e indireta; 2.2 Posse justa e injusta; 2.3 
Posse de boa-fé e de má-fé; 2.4 Posse e detenção; 2.5 Outras classificações da posse; 
2.5.1 Posse ad interdicta e posse ad usucapionem; 2.5.2 Posse nova e posse velha; 2.5.3 
Jus possidendi e jus possessionis. 
 
2.0 Apresentação 
Classificaremos nesse capítulo a posse em: posse direta e indireta; posse justa e 
injusta; posse de boa e de má-fé; posse e detenção. 
 
2.1 Posse direta e indireta 
Estabelece o art. 1.197 que a posse direta, de pessoas que, temporariamente, têm a 
coisa em seu poder, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem 
aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. 
Trata-se aqui do desdobramento da relação possessória. 
Todas as vezes em que a posse couber a outra pessoa que não seja o proprietário, há 
um desdobramento da posse que se apresenta sob duas faces, direta, para o que detém 
materialmente a coisa, e indireta para o proprietário, para o que concedeu ao primeiro o 
direito de possuir.17 
Nesta classificação se percebe uma das principais divergências entre Savigny e 
Ihering, pois para o primeiro não existe esse desdobramento, já que não podemos falar em 
animus domini para o possuidor direto; para o segundo, essa classificação é perfeitamente 
possível, pois, como vimos, para ser possuidor basta se comportar como se proprietário 
fosse. 
A posse direta ainda guarda uma outra característica em nossa norma, é temporária(Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em 
virtude de direito pessoal, ou real...). 
 
17
 Washington de Barros Monteiro, in Curso, p. 26. 
 26
Isso quer dizer que a relação do possuidor direto com o bem é temporária. Não pode 
ser estabelecida uma posse direta de duração eterna, ou seja, não pode haver uma relação 
sem fim entre o possuidor direto e o indireto, o que nos indica que, para o legislador, ideal é 
a posse plena na figura do proprietário, mostrando traços da teoria de Ihering, para quem 
esta relação dissociada do possuidor e do proprietário não é a regra.18 
Mas também não deixa de sofrer críticas esse desdobramento, pois a posse indireta 
em certo sentido não deixa de ser uma ficção jurídica, se a posse é o poder de fato, não 
existe então uma posse indireta.19 
Para nós, essa classificação é extremamente útil pois permite uma série de relações 
que só se tornam protegidas por essa divisão, como a do locador e do locatário, do 
comodante e do comodatário, do arrendante e do arrendatário. 
E um dos principais elementos desta proteção, sob o ponto de vista do possuidor 
direto, é que este pode proteger a sua posse inclusive do possuidor indireto (art. 1.197: 
...podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto e art. 1210, §2º: Não 
obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro 
direito sobre a coisa); e do ponto de vista do possuidor indireto, este não perde a posse 
através deste desdobramento o que lhe permite enquanto possuidor a utilizar-se das ações 
possessórias (por exemplo contra terceiros, e também contra o possuidor direto, quando 
este permaneça na posse por tempo superior ao permitido, ou abuse do direito concedido. 
E, talvez como uma das principais e mais importantes conseqüências, impede a usucapião 
pelo possuidor direto, pois para ocorrer é necessário uma posse exclusiva). 
O desdobramento da posse – posse direta e indireta, não implica que o possuidor 
indireto seja sempre o proprietário. Imaginemos o exemplo da locação com sublocação: 
PROPRIETÁRIO______ LOCATÁRIO______ SUB-LOCATÁRIO 
 (locador/p.i) (locatário/p.d/locador/p.i) (locatário/p.d) 
 
 
18
 “Em geral o possuidor de uma coisa é ao mesmo tempo o seu proprietário”, afirma Ihering em sua Teoria 
simplificada da Posse, para mais à frente dizer “O conflito será sempre entre o não-proprietário que possui e o 
proprietário que não possui”, p. 67-68. 
 
19
 O professor Washington de Barros Monteiro cita o prof. Gondim Neto, que afirma, criticando tal 
classificação, que a posse indireta constitui mera ficção, cuja importância não vai além da possibilidade de 
recorrer seu titular às ações possessórias para reprimir atos atentatórios da posse do verdadeiro possuidor. 
 27
O proprietário, em sua relação como o locatário é possuidor indireto. O locatário, por sua 
vez, em relação com o locador é possuidor direto, mas na sua relação com o sub-locatário é 
locador e possuidor indireto, o sub-locatário em sua relação com o locatário é possuidor 
direto. 
O possuidor direto pode defender a sua posse inclusive do possuidor indireto, como 
afirmamos, mas de qual ação ele se utilizará? Deverá se utilizar de uma ação possessória. 
E o possuidor indireto, tem ação contra o possuidor direto? Sim, também tem. Mas 
aqui cabe fazer uma ponderação. Se o desdobramento da posse – direta e indireta – ocorreu 
por meio de uma locação, esta regulada pela Lei 8.245/91 determina em seu art. 5º, que seja 
qual for o término da locação, a ação do locador é a ação de despejo. Mas se tratando de 
outra relação jurídica, que não a locação, a ação do possuidor indireto contra o possuidor 
direto, por exemplo, comodante x comodatário, será também uma ação possessória. 
 
2.2 Posse Justa e Injusta 
Preceitua o art. 1.200 que é justa a posse que não for violenta, clandestina ou 
precária. 
Define, a contrário sensu, a posse injusta que é aquela violenta, clandestina ou 
precária. 
Posse violenta é a que se adquire por ato de força, seja ela natural ou física, seja 
moral ou resultante de ameaças que incutam na vítima sério receio (vi). O contrário da 
posse violenta é a posse mansa, pacífica. 
Posse clandestina é a que se adquire por via de um processo de ocultamento, em 
relação àquele contra quem é praticado o apossamento (clam). O seu oposto é a posse 
pública. 
Posse precária é a do fâmulo na posse, isto é, daquele que recebe a coisa com a 
obrigação de restituir, e arroga-se a qualidade de possuidor, abusando da confiança, ou 
deixando de devolve-la ao proprietário, ou ao legítimo possuidor. (precario)20 
 
20
 São estas definições de Caio Mário em suas Instituições, p. 30. 
 28
Estabelece o art. 1.208 do CC, segunda parte, que não autorizam a aquisição da 
posse os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessadas a violência ou a 
clandestinidade. Como podemos interpretar este artigo? O possuidor injusto não adquire a 
posse do bem injustamente possuído (...não autorizam a aquisição da posse...)? A 
interpretação que deve ser feita deste artigo é que, enquanto subsistem os atos de violência 
ou de clandestinidade, não há posse, porém, após cessarem esses atos, tendo este possuidor 
tomado a posse, por esses atos, se torna possuidor; injusto, mas possuidor. 
Veja que o artigo não trata da posse precária que, para alguns autores, por se tratar 
de um vício absoluto (a violência e a clandestinidade seriam relativos), não convalesce. Ou 
seja, a precariedade persiste impedindo a produção de efeitos nesta posse, como a 
usucapião. 
A posse injusta não é desprotegida pela ordem jurídica. Ao possuidor injusto se 
atribuem os efeitos da posse, podendo valer-se de ações possessórias contra terceiros que 
lhe queiram o bem e, pelo decurso autorizado do tempo, podendo usucapir. 
A questão que se coloca é se o possuidor injusto pode defender a sua posse daquele 
de quem tirou? E a resposta é negativa, pois, contra este, não tem legitimidade para 
defendê-la. 
Enfrentaremos mais algumas questões da posse justa e injusta a seguir na análise da 
posse de boa e de má-fé. 
 
2.3 Posse de Boa-fé e de Má-fé 
Estabelece o art. 1.201 que é de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o 
obstáculo que impede a aquisição da coisa. 
Isso quer dizer que a posse de má-fé está eivada de alguns dos vícios conduzidos na 
aquisição da posse (vi, clam aut precario). Pois, como afirma Washington de Barros 
Monteiro, só é possuidor de boa-fé aquele que possui ignorando prejudicar o direito de 
outrem.21 
 
21
 Apud Casati-Russo, Curso, p. 30. 
 
 29
Esta classificação é de extrema importância, pois repercute – em relação à 
indenização por benfeitorias – aos frutos, ao exercício do direito de retenção e à aquisição 
por usucapião. 
Também é de boa-fé o possuidor que possui justo título, sendo este o título hábil a 
transferir o domínio e que realmente o transferiria, se emanado do verdadeiro proprietário,22 
assim estabelece o art. 1.202. 
Exemplifiquemos então: imagine um proprietário que, ao tomar posse do bem 
adquirido, acredita ser um quando na realidade é outro. Está de boa-fé, porém invadiu uma 
propriedade alheia. 
Porque a boa-fé, para o direito das coisas, é sempre a boa-fé subjetiva, o 
desconhecimento do vício, a ignorância da situação que impedia o fato. 
Num outro exemplo, imaginemos esse mesmo proprietário: agora ele adquire um 
imóvel, por escritura e registro, toma posse do bem e depois vem a saber que se tratava de 
um loteamento clandestino. Está de boa-fé, pois possui justo título, o que lhe vale a 
presunçãolegal. 
Interessante e até um pouco complicada é a relação da posse justa/injusta com a 
posse de boa-fé e de má-fé. Podemos, por exemplo, afirmar que todo possuidor de má-fé é 
injusto? E que todo possuidor de boa-fé é justo? E o contrário? Pode haver posse de boa-fé 
injusta? E posse de má-fé justa? 
Nem todo possuidor de má-fé é injusto, pois conhecendo o vício, pode ocupar um 
bem sem nenhuma prática injusta (violência, clandestina ou precária), assim como nem 
todo possuidor de boa-fé é justo, pois pode haver uma situação em que acreditando-se 
legítimo proprietário de um bem, retire de lá a força o verdadeiro proprietário, nesse caso o 
ato de violência vicia a sua posse tornando-a injusta, mas não lhe retira a boa-fé, pois 
acreditava estar no exercício legal de seu direito. E com isso respondemos as outras 
proposições: pode haver posse de boa-fé injusta assim como posse de má-fé justa. 
Questão interessante nesta posse é a possibilidade de alteração da causa 
possessionis: pode a posse de boa-fé transmutar-se para má-fé? 
 
22Washington de Barros Monteiro, p. 29. 
 30
Diz-se que sim, desde que o possuidor altere o título de sua posse: é possuidor de 
má-fé, pois ocupa uma propriedade sabendo não ser sua, mas depois adquire-a do legítimo 
proprietário. Como a causa de sua posse foi alterada, não é mais a ocupação e sim a compra 
e venda, também nesse caso se altera a posse. 
Surge diante disto a pergunta: a citação ao possuidor dando-lhe ciência dos vícios de 
sua posse poderia alterar a qualidade de sua posse? Imagine um possuidor que até este 
momento acredita exercer legitimamente a posse de um bem, pois adquiriu este em compra 
e venda devidamente registrada. Caso venha a receber uma citação para responder a um 
processo ajuizado por quem se afirma o verdadeiro proprietário, perderia neste momento ( o 
da citação, que implicaria o conhecimento do vício) a boa-fé e se transmudaria em 
possuidor de má-fé. 
Esta é a opinião da maioria dos autores: a citação é o elemento caracterizador do 
conhecimento da situação viciada. 
Não é assim que pensamos, por entender que somente a sentença pode, neste caso, 
alterar essa posse. Pois pode-se estar na posse de um bem que se adquiriu por registro e, ao 
ser citado, não abalar esta convicção. Somente a sentença conferiria uma certeza maior do 
que a do possuidor sobre a sua situação. 
Trata-se de assunto bastante importante o da possibilidade de alteração da causa 
possessionis, pois, de acordo com a regra do art. 1.203, entende-se manter a posse o mesmo 
caráter com que foi adquirida: logo, se foi adquirida de má-fé, permanecerá de má-fé. Mas, 
sobre a sucessão da posse analisaremos mais adiante. 
 
2.4 Posse e Detenção 
A detenção é tratada em dois momentos no Código. No art. 1.198, ao considerar 
detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a 
posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. E no art. 1.208, 1ª 
parte, quando estabelece que não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância. 
Diga-se desde logo que o detentor não é possuidor. 
Os dois artigos expressam isso de maneira antagônica. O primeiro descreve o 
comportamento que implica em detenção, e o segundo descreve o comportamento que não 
 31
é posse, logo que é detenção. A primeira é considerada uma detenção dependente, pois o 
detentor age no interesse do possuidor; a segunda por sua vez é considerada uma detenção 
interessada, pois o detentor agirá em seu próprio interesse.23 
Enquanto nas classificações anteriores (direta/indireta; justa/injusta; boa-fé/má-fé) 
procurava-se estabelecer qual a característica da posse na relação entre a pessoa e a coisa, 
aqui desqualifica-se essa relação para dizer que não há posse. 
Para as duas teorias da posse, objetiva e subjetiva, o detentor não é possuidor, 
divergindo porém nos motivos.24 Para a teoria subjetiva, o detentor não é possuidor porque 
lhe falta animus domini; já para a teoria objetiva, o detentor não é possuidor porque a lei 
não quis, porque a norma desqualificou aquela situação como de posse. 
Nosso código mais uma vez adotou a teoria objetiva, aqui na definição de detenção. 
Para Ihering a detenção é a posse juridicamente desqualificada, e assim o fez o 
nosso legislador “desqualificando” as situações descritas nos arts. 1.198 e 1.208 como 
posse. Ou seja, empiricamente é posse, pois através desta pessoa se tem a visibilidade do 
domínio, comporta-se este frente ao bem como proprietário, mas juridicamente não há 
posse, pois o legislador não atribuiu esse caráter a essas situações. 
E quais são essas situações, a primeira descrita no art. 1.198 é a do empregado, 
aquele que conserva a posse em nome de outrem; a segunda, como atos de mera permissão 
ou tolerância, encontramos o amigo, o parente que reside em imóvel do proprietário. 
O que implica dizer que, nesses casos, não há posse e sim detenção? Implica dizer 
que para as pessoas que se encontram nesta situação não há que se falar na utilização de 
ações possessórias, da percepção de frutos, na possibilidade de retenção e, principalmente, 
na aquisição por usucapião. Pois, todos esses, como veremos, são efeitos da posse, e que, 
logicamente, são atribuídas ao possuidor. 
 
23
 Conceitos trazidos pelo prof. Arruda Alvim em seu texto Algumas notas sobre a distinção entre posse e 
detenção. 
 
24
 “O que se verifica é que a situação do detentor explicável, pelas duas teorias a que se alude, de uma forma 
diferente”, Arruda Alvim, p. 84. 
 
 32
Outra situação de detenção trazida pelo legislador é a segunda parte do art. 1.208: 
...assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão 
depois de cessar a violência ou a clandestinidade. 
Mas aqui nos encontramos diante de uma detenção ilícita. Aquele que agindo com 
violência ou clandestinamente tenta adquirir posse, enquanto durarem os atos de violência 
ou de clandestinidade haverá detenção, se conseguir, por esses atos, adquiri-la, haverá, já 
dissemos, posse injusta.25 
É uma redação bastante complicada, devemos concordar, mas não deve ser 
interpretada de outra forma, como fazem alguns autores, ora entendendo que após cessada a 
violência ou a clandestinidade, a situação se legitima em posse justa,26 ora como outros, 
que não haverá posse mesmo após a cessação da violência e da clandestinidade. 
Por último, quanto à detenção há um aspecto processual de bastante relevância, que 
é a citação do detentor para responder ação sobre a propriedade que detém. Como esse 
exteriormente tem a visibilidade do proprietário, pode acontecer de a ação que seria dirigida 
ao proprietário ser dirigida a ele. O que deve então fazer? Deve realizar a nomeação à 
autoria do proprietário ou do possuidor. Assim, se o vizinho acreditando ser o caseiro o 
proprietário da fazenda, ajuíza uma ação indenizatória contra este, pelo dano que aquele 
gado tem causado em sua propriedade, ao receber a citação, conforme regra processual, 
deve nomear à autoria o proprietário, pois como detentor não tem legitimidade para 
responder a este processo. 
Porém, questão interessante trazida pelo novo Código é a redação do art. 1.228 que 
incluiu a expressão detenha onde antes só havia possua: O proprietário tem a faculdade de 
usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que 
injustamente a possua ou detenha. 
Logo com esta redação o detentor é legítimo passa a ser legítimo para responder à 
ação reivindicatória? 
 
25
 “O interregno temporal de disputa da posse, enquanto essa disputa durar, implica que a detenção não seja 
transformada em posse, e, se vier a preponderar o poder de fato do que foi

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