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Literatura Brasileira I

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LITERATURA BRASILEIRA I 
 
ALGEMIRA DE MACEDO MENDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA/PIAUÍ 
2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LITERATURA BRASILEIRA I 
FASCÍCULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA/PIAUI 
2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LITERATURA BRASILEIRA I 
 
ALGEMIRA DE MACEDO MENDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA 
2009 
SUMÁRIO 
APRESENTAÇÃO..................................................................................................... 
UNIDADE I................................................................................................................ 
A Literatura como sistema literário............................................................................ 
Definição de sistema literário................................................................................... 
Quadro evolutivo da poesia brasileira....................................................................... 
UNIDADE II............................................................................................................... 
As Primeiras Manifestações da literatura brasileira.................................................. 
Estudo de autores representativos do Barroco brasileiro......................................... 
Bento Teixeira........................................................................................................... 
Manuel Botelho de Oliveira....................................................................................... 
Gregório de Matos Guerra........................................................................................ 
Pe. Antônio Viera...................................................................................................... 
UNIDADE III.............................................................................................................. 
O Arcadismo............................................................................................................. 
Estudo sobre o Arcadismo brasileiro........................................................................ 
Características e temas do Arcadismo..................................................................... 
Autores representativos da poesia Lírica Árcade..................................................... 
Tomás Antônio Gonzaga.......................................................................................... 
Cláudio Manuel da Costa.......................................................................................... 
Silva Alvarenga......................................................................................................... 
Alvarenga Peixoto..................................................................................................... 
Autores representativos da poesia épica Árcade...................................................... 
Santo Rita Durão....................................................................................................... 
Basílio da Gama........................................................................................................ 
UNIDADE IV............................................................................................................. 
O Romantismo brasileiro........................................................................................... 
Estudo das características e temas.......................................................................... 
Autores representativos da poesia romântica........................................................... 
Gonçalves Magalhães............................................................................................... 
Gonçalves Dias......................................................................................................... 
Álvaro de Azevedo.................................................................................................... 
Castro Alves.............................................................................................................. 
Sousândrade............................................................................................................. 
 
 
 
 
 
PLANO DE DISCIPLINA 
 
 
EMENTA 
 
Estudo da poesia brasileira: das origens até o Romantismo. Características fundamentais 
Contexto sócio-político e cultural da poesia romântica. Estudo dos principais Autores, 
obras e tendências. 
 
OBJETIVOS: 
 
 Caracterizar a poesia brasileira a partir de suas origens até o Romantismo. 
 Ler textos poéticos representativos de autores brasileiros das origens ao 
Romantismo. 
 Identificar tendências estéticas e ideológicas dos poetas que integram o sistema 
literário nos três primeiros séculos. 
 Identificar caracteres no contexto literário que indicam ação criativa e invenções 
estéticas da obra de arte 
 Analisar o processo evolutivo da poesia brasileira, os elementos socioculturais e as 
características estéticas que particularizam cada período literário que fazem da 
Literatura um sistema. 
 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: 
 
UNIDADE I 
 A Literatura como sistema literário 
 Definição de sistema literário 
Quadro evolutivo da poesia brasileira 
 
UNIDADE II 
 Primeiras Manifestações sobre a literatura brasileira 
Estudo de autores representativos do Barroco brasileiro 
Bento Teixeira 
Manuel Botelho de oliveira 
Gregório de Matos Guerra 
Pe. Antônio Vieira 
UNIDADE III 
O Arcadismo 
Estudo sobre o Arcadismo brasileiro 
Características e temas do Arcadismo 
Autores representativos da poesia Lírica Árcade 
Tomás Antônio Gonzaga 
Cláudio Manuel da Costa 
Silva Alvarenga 
Alvarenga Peixoto 
Autores representativos da poesia épica Árcade 
Santo Rita Durão 
Basílio da Gama 
UNIDADE IV 
O Romantismo brasileiro 
Estudo das características e temas 
Autores representativos da poesia romântica 
Gonçalves Magalhães 
Gonçalves Dias 
Álvaro de Azevedo 
Castro Alves 
 
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E AVALIAÇÃO 
Os procedimentos e metodologias a serem adotados nos encaminhamentos dos 
conteúdos e na avaliação de rendimentos do aluno deverão obedecer a orientação da 
Universidade Estadual do Piauí- UESPI, através do núcleo de educação a distância- NEAD. 
As dúvidas e dificuldades no decorrer do processo de interação tutor-aluno, serão 
mediadas pelos meios de comunicação disponíveis para tal finalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
O Presente fascículo integra o material de apoio pedagógico desenvolvido pela 
Universidade Estadual do Piauí - UESPI, correspondente à disciplina Literatura Brasileira 
I, que compõe a estrutura curricular do Curso de Licenciatura plena em Língua 
Espanhola, na modalidade de educação a distância. Este fascículo foi organizado e 
sistematizado com o objetivo de contribuir com os seus estudos e suas reflexões acerca 
da compreensão dos objetivos e da importância dos fatos literários no tocante à Literatura 
brasileira, englobando os conteúdos correspondentes a poesia dentre diferentes estilos de 
épocas, a saber: Barroco, Arcadismo e Romantismo. 
Para melhor operacionalização dos conteúdos programáticos e eficácia nos 
estudos, este fascículo foi estruturado a partir de pressupostos teóricos e formadores da 
história da literatura brasileira que discutem os elementos constituidores dos fatos 
literários. Os conteúdos estão distribuídos em quatro unidades, a saber: a primeira 
unidade denominada: a Literatura como sistema literário, definição de sistema literário 
e um quadro evolutivo da poesia brasileira; a segunda, discuteas primeiras 
manifestações da literatura brasileira, o estudo de autores representativos do Barroco 
brasileiro como: Bento Teixeira Manuel Botelho de Oliveira, Gregório de Matos Guerra e 
Pe.. Antônio Viera. Já a terceira, contempla o Arcadismo e um estudo sobre seus 
temas, características e autores representativos da poesia lírica como: Tomás Antônio 
Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto e os autores 
representativos da poesia épica, Santo Rita Durão e Basílio da Gama. Na quarta e última 
unidade o Romantismo brasileiro com suas características, temas e autores 
representativos da poesia romântica englobando todas as fases. Desde a primeira 
como Gonçalves Magalhães, Gonçalves Dias, Álvaro de Azevedo, a última composta 
principalmente por Castro Alves e Sousândrade. 
Visando a colaborar com a metodologia de estudo, sugerem-se alguns passos tais 
como observar os objetivos de cada unidade e fazer as atividades sugeridas no final de 
cada texto, ações que ajudarão o aluno a aprofundar o assunto; o aluno deve valorizar e 
empenhar-se nos trabalhos de grupo tanto quanto nas reflexões individuais; compartilhar 
ideias; atentar para as referências bibliográficas e, se necessitar, recorrer a elas para 
aprofundar-se nos conteúdos abordados nas disciplinas de seu curso. 
Finalmente, deve-se ler, refletir, analisar criticamente cada ideia e/ou teoria aqui 
apresentada. Suas dúvidas poderão ser colocadas junto ao seu tutor. Aproveite! 
 
Boa leitura. Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
A Literatura como sistema literário 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OBJETIVOS 
 
 Apresentar uma definição da literatura brasileira como sistema, bem como 
os elementos básicos que estão inseridos nesse processo. 
 Identificar as origens e a evolução literária de forma sistêmica. 
 
 
1. A Literatura como sistema literário 
 
Ao longo do século XIX, desde o rompimento do estatuto colonial e do início da 
construção do Estado nacional no Brasil, após a independência política colocou-se a 
necessidade da elaboração de uma historiografia literária, capaz não só de justificar a 
existência de uma literatura brasileira, como de pensar e apontar seus caracteres e 
especificidades. De Ferdinand Denis a Ferdinand Wolf, de Gonçalves Magalhães a 
Joaquim Norberto, passando por Santiago Nunes Ribeiro e Francisco Adolfo de 
Varnhagen dentre outros, concebeu-se uma tradição histórico-literária com importante 
papel ideológico na construção nacional. 
Esse acervo crítico foi reelaborado, nas últimas décadas do século XIX e início do 
século XX, por vários outros intelectuais em seus estudos sobre a história da literatura 
brasileira, entre eles, Sílvio Romero, Araripe Júnior e José Veríssimo. 
No entanto, somente nos anos cinquenta do século XX é que esses referenciais 
foram reelaborados e superados por Antonio Candido, no livro Formação da Literatura 
brasileira, (momentos decisivos), de 1959. Nesse estudo, o autor — partindo da herança 
histórico-crítica precedente e incorporando muitos de seus elementos — repensa os 
marcos cronológicos e culturais do surgimento da literatura no Brasil, ou seja, seus 
momentos decisivos — século XVIII (Arcadismo) e XIX (Romantismo) — conjuntamente 
com o estabelecimento de um sistema literário. 
Nela o autor diz que para compreender em que sentido é tomada a palavra formação, e 
porque se qualificam de decisivos os momentos estudados, convém principiar 
distinguindo manifestações literárias, de literatura propriamente dita, considerada aqui um 
sistema de obras ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as notas 
dominantes duma fase. Estes denominadores são, além das características internas, 
(língua, temas, imagens), certos elementos de natureza social e psíquica, embora 
literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura 
aspecto orgânico da civilização. 
Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto de produtores literários, mais 
ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes 
tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor, (de modo 
geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros. O conjunto dos três 
elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece sob 
este ângulo como sistema simbólico, por meio do qual as veleidades mais profundas do 
indivíduo se transformam em elementos de contacto entre os homens, e de interpretação 
das diferentes esferas da realidade. 
Quando a atividade dos escritores de um dado período se integra em tal sistema, 
ocorre outro elemento decisivo: a formação da continuidade literária, - espécie de 
transmissão da tocha entre corredores, que assegura no tempo o movimento conjunto, 
definindo os lineamentos de um todo. É uma tradição, no sentido completo do termo, isto 
é, transmissão de algo entre os homens, e o conjunto de elementos transmitidos, 
formando padrões que se impõem ao pensamento ou ao comportamento, e aos quais 
somos obrigados a nos referir, para aceitar ou rejeitar. Sem esta tradição não há 
literatura, como fenômeno de civilização. 
Ele acresce que no arsenal da história literária, dispomos, para o nosso caso, de 
conceitos como: período, fase, momento; geração, grupo, corrente; escola, teoria, tema; 
fonte, influência. 
Embora o autor reconheça a importância da noção de período, ele utiliza a 
incidentemente e atendendo à evidência estética e histórica, sem preocupar-se com 
distinções rigorosas. Isso, porque o intuito foi sugerir, tanto quanto possível, a ideia de 
movimento, passagem, comunicação, - entre fases, grupos e obras; sugeriu uma certa 
habilidade que permitisse ao leitor sentir, por exemplo, que a separação evidente, do 
ponto de vista estético, entre as fases neoclássicas e romântica, é contrabalançada, do 
ponto de vista histórico, pela sua unidade profunda. 
À diferença entre estas fases, o autor procurou somar a ideia de sua continuidade, 
no sentido da tomada de consciência literária e da tentativa de construir uma literatura. 
Do mesmo modo, embora os escritores se disponham quase naturalmente por 
gerações, não interessou a ele utilizar o conceito com rigor nem exclusividade. Apesar de 
fecundo, pode facilmente levar a uma visão mecânica, impondo cortes transversais numa 
realidade que se quer apreender em sentido longitudinal, sobretudo. Por isso, sobrepôs 
ao conceito de geração o de tema, procurando apontar não apenas a sua ocorrência, num 
dado momento, mas a sua retomada pelas gerações sucessivas através do tempo. 
Para Cândido, isso conduz ao problema das influências, que vinculam os escritores 
uns aos outros, contribuindo para formar a continuidade no tempo e definir a fisionomia 
própria de cada momento. Embora a tenha utilizado largamente e sem dogmatismo, como 
técnica auxiliar, é preciso reconhecer que talvez seja o instrumento mais delicado, falível 
e perigoso de toda a crítica, pela dificuldade em distinguir coincidência, influência e plágio, 
bem como a impossibilidade de averiguar a parte da deliberação e do inconsciente. Além 
disso, nunca se sabe se as influências apontadas são significativas ou principais, pois há 
sempre as que não se manifestam visivelmente, sem contar as possíveis fontes ignoradas 
(autores desconhecidos, sugestões fugazes), que por vezes sobrelevam as mais 
evidentes. 
 
2. Definição de sistema literário 
 
Antonio Candido, ao analisar a formação da literatura brasileira, procura demarcar 
seus momentos decisivos (Arcadismo eRomantismo), “[...] como síntese de tendências 
universalistas e particularistas [...]” (CANDIDO, 2001, vol. 1, p. 23). Entre o primeiro 
momento (mais cosmopolita) e o segundo (que busca peculiaridades locais), haveria um 
movimento dialético de continuidade e ruptura, mas com o mesmo solidário objetivo: a 
“missão” de criar uma literatura brasileira e de construir uma nação. 
Ao delimitar e qualificar os momentos decisivos, o crítico procura distinguir como já 
se mencionou, manifestações literárias, de literatura propriamente dita, considerada aqui 
como um sistema de obras ligadas por denominadores comuns conforme Candido 
destaca: 
 
[...] são, além das características internas (língua, temas, imagens), certos 
elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente 
organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura 
aspecto orgânico da civilização. Entre eles se distinguem: a existência de 
um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu 
papel; um conjunto de receptores, fornecendo os diferentes tipos de 
público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de 
modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos) que liga uns a outros. O 
conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-
humana, a literatura, que aparece, sob este ângulo como sistema 
simbólico [...] (CANDIDO, 2001, vol. 1, p. 23). 
Essa caracterização da literatura como sistema levaria, por sua vez, à fixação de 
uma tradição, como processo acumulativo, de seguimento de autores e obras, 
possibilitando “a formação da continuidade literária” (CANDIDO, 2001, vol. 1, p. 24). 
Nesse sentido, a noção de sistema permitiria repensar a periodização histórica da 
literatura brasileira. Do século XVI a meados do XVIII, teria havido manifestações literárias 
esparsas, rarefeitas, isoladas e sem continuidade e organicidade, de repercussão local, 
sem conseguir formar tradição. É somente na segunda metade do século XVIII, com as 
academias, que começa a se configurar uma literatura brasileira, “[...] encorpando o 
processo formativo, que vinha de antes e continuou depois [...]” (CANDIDO, 2001, vol. 1, 
p. 16). O Arcadismo teria tido mesmo papel importante, “[...] porque plantou de vez a 
literatura do Ocidente no Brasil [...]” (CANDIDO, 2001, vol. 1, p. 17). 
Sem desconhecer grupos ou linhas temáticas anteriores, nem influências como as 
de Rocha Pita e Itaparica, é com os chamados árcades mineiros, as últimas academias e 
certos intelectuais ilustrados, que surgem homens de letras formando conjuntos orgânicos 
e manifestando em graus variáveis a vontade de fazer literatura brasileira. Tais homens 
foram considerados fundadores pelos que os sucederam, estabelecendo-se deste modo 
uma tradição contínua de estilos, temas, formas e preocupações (CANDIDO, 1971, p. 25). 
O processo formativo ganhou novo impulso nas primeiras décadas do século XIX, 
quando são criadas algumas premissas básicas para a construção da nação propiciadas 
pelo deslocamento do Estado português para a colônia e, posteriormente, para a quebra 
do estatuto colonial. Imprensa, periódicos, escolas superiores, debate intelectual, grandes 
obras públicas, contato livre com o mundo [...] Foi a Época das Luzes, acarretando 
algumas consequencias importantes para o desenvolvimento da cultura intelectual e 
artística, da literatura em particular. Posta a cavaleiro entre um passado tateante e o 
século novo, que se abriria triunfal com a Independência, viu o aparecimento dos 
primeiros públicos consumidores regulares de arte e literatura; a definição social do 
intelectual; a aquisição, por parte dele, de hábitos e características mentais que o 
marcariam até quase os nossos dias (CANDIDO, 2001, vol. 1, p. 227). 
É, no entanto, entre os anos trinta e setenta daquele século que o “sistema literário” 
se consolida. E se consubstancia através do movimento romântico, desencadeado em 
Paris por um grupo liderado por Gonçalves de Magalhães por meio da revista Niterói em 
1836. Seu referencial são as teses elaboradas por Ferdinand Denis em Resumo da 
história literária do Brasil, de 1826, “[...] fundando a teoria de nossa literatura segundo os 
moldes românticos, num sentido que a orientaria por meio século e iria repercutir quase 
até nossos dias” (CANDIDO, 2001, v. 2, p. 323). Inspirado em Schlegel, Madame de Staël 
e Chateaubriand, Denis define o caráter que a literatura deveria assumir na América: teria 
que se diferenciar pela temática local e pela natureza. “Os sentimentos dominantes na 
literatura serão, portanto, o nacionalismo, o indianismo e o cristianismo, pois este foi o 
ideal que dirigiu nossa colonização” (CANDIDO, 2001, v. 2, p. 322). Seus princípios 
fundamentais poderiam, para Antonio Candido, ser sistematizados como segue: 
 
1) O Brasil precisa ter uma literatura independente; 2) esta literatura 
recebe suas características do meio, das raças e dos costumes próprios do 
país; 3) os índios são os brasileiros mais lídimos, devendo-se investigar as 
suas características poéticas e tomá-las como tema; 4) além do índio, são 
critérios de identificação nacional a descrição da natureza e dos costumes; 
5) a religião não é característica nacional, mas é elemento indispensável 
da nossa literatura; 6) é preciso reconhecer a existência de uma literatura 
brasileira no passado e determinar quais os escritores que anunciaram as 
correntes atuais (CANDIDO, 2001, v. 2, p. 329-330). 
 
Tributários do nacionalismo, os intelectuais românticos criaram as bases do que 
seria uma literatura brasileira. Empenhados na “construção da nação”, assumiram mesmo 
um “sentimento de missão” que os levava a “[...] considerar a atividade literária como 
parte do esforço de construção do país livre” (CANDIDO, 2001, v. 1, p. 26). Aliás, o 
próprio autor, Antonio Candido, esclarece que se colocou de maneira deliberada do ponto 
de vista 
 
[...] dos nossos primeiros românticos e dos críticos 
estrangeiros, que antes deles, localizaram na fase arcádica o 
início de nossa verdadeira literatura, graças à manifestação de 
temas, notadamente o Indianismo, que dominarão a produção 
oitocentista. Esses críticos conceberam a literatura do Brasil 
como expressão da realidade local e, ao mesmo tempo, 
elemento positivo na construção nacional (CANDIDO, 2001, v. 
1, p. 25). 
 
Nos anos setenta do século XIX, o sistema literário estaria plenamente configurado, 
a formação da literatura brasileira concluída e seu ponto de chegada seria Machado de 
Assis, que segundo Candido se embebeu meticulosamente da obra dos predecessores. 
A sua linha evolutiva mostra o escritor altamente consciente, que compreendeu o 
que havia de certo, de definitivo, na orientação de Macedo para a descrição dos 
costumes, no realismo sadio e colorido de Manuel Antônio, na vocação analítica de José 
de Alencar. Ele pressupõe a existência de predecessores, e esta é uma das razões de 
sua grandeza [...] aplicou o seu gênio em assimilar, aprofundar, fecundar o legado positivo 
das experiências anteriores [...] Assim, se Swift, Pascal, Schopenhauer, Sterne, a Bíblia 
ou outras fontes que sejam, podem esclarecer sua visão do homem e a sua técnica, só a 
consciência de sua integração na continuidade da ficção romântica esclarece a natureza 
do seu romance. (CANDIDO, 2001, v. 2, p. 117-118). 
 
3. Quadro evolutivo da poesia brasileira: das origens ao Romantismo 
 
Apresenta-se numa visão historiográfica um quadro sucinto da poesia brasileira das 
origens ao Romantismo incluindo os autores principais e suas respectivas obras. 
QUADRO EVOLUTIVO DA POESIA BRASILEIRA-DAS ORIGENS AO ROMANTISMO 
 
ESTILO DE ÉPOCA PRINCIPAIS POETAS PRINCIPAIS OBRAS 
Bento Teixeira Prosopopéia 
 
Gregório de Matos 
PoesiaSacra 
Poesia Lírica 
Poesia Satírica 
Manuel Botelho de Oliveira Musica do parnaso 
 
BARROCO 
Padre Antônio viera Os sermões 
 
Claudio Manuel da Costa 
Obras poéticas 
Vila rica 
Tomás Antônio Gonzaga Marília de Dirceu 
Silvia Alvarenga Glaura 
Basílio da Gama O Uruguai 
 
ARCADISMO 
Santa Rita durão Caramuru 
 
Gonçalves de Magalhães 
Suspiros Poéticos e Saudades 
Gonçalves Dias Primeiros cantos 
Álvaro de Azevedo Liras dos vinte anos 
Casimiro de Abreu Primaveras 
 
Fagundes Varela 
Noturna 
Castro Alves Os escravos 
 
 
ROMANTISMO-Poesia 
(1ª, 2ª e 3ª geração) 
 
Sousândrade Guesa errante 
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM 
 
1. Baseado no nos estudos sobre a formação e conceito do sistema literário 
brasileiro, aponte os elementos mais importantes que serviram como modelo para os 
estudiosos da Literatura formular suas definições. 
 
ATIVIDADES COMPLEMENTARES 
 
Você poderá aprofundar seus estudos sobre o início e formação do sistema literário 
brasileiro pesquisando na bibliografia indicada no final desta unidade e ainda em outras 
fontes como: 
História da literatura brasileira - Romero, Sílvio. História da literatura brasileira. 3. ed: 
Imago. Rio de Janeiro, 2001. v. 5 
O berço do cânone Zilberman, Regina. O berço do cânone. Porto Alegre: Mercado Aberto, 
1998. 351 p. 
www.biblio.com.br/ 
www.dominiopublico.gov.br/pesquisa 
 
 
 
GLOSSÁRIO 
 
SISTEMA vem do grego σύστημα significa - conjunto de 
elementos interconectados, de modo a formar um todo 
organizado, Vindo do grego, o termo "sistema" significa 
"combinar", "ajustar", "formar um conjunto. Podem existir vários 
tipos, desde sistemas de informação e ciência da computação, 
Sistemas em pesquisa operacional e ciência do gerenciamento 
sistemas de referências, Ligações externas, sistemas 
literários, dentre outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE II 
AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA 
LITERATURA BRASILEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OBJETIVOS: 
 
 Caracterizar o contexto sócio-político e cultural da poesia Barroca brasileira. 
 Identificar tendências estéticas e ideológicas dos poetas que integram o Barroco 
brasileiro. 
 Ler e analisar textos poéticos representativos de autores brasileiros do Barroco. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Primeiras manifestações da literatura brasileira 
 
O estudo sobre as origens da literatura brasileira deve ser feito levando-se em 
conta duas vertentes: a histórica e a estética. O ponto de vista histórico orienta no sentido 
de que a literatura brasileira é uma expressão de cultura gerada no seio da literatura 
portuguesa. Como até bem pouco tempo eram muito pequenas as diferenças entre a 
literatura dos dois países, os historiadores acabaram enaltecendo o processo da 
formação literária brasileira, a partir de uma multiplicidade de coincidências formais e 
temáticas. A outra vertente (aquela que salienta a estética como pressuposto para a 
análise literária brasileira) ressalta as divergências que desde o primeiro instante se 
acumularam no comportamento (como nativo e colonizado) do homem americano, 
influindo na composição da obra literária. Em outras palavras, considerando que a 
situação do colono tinha de resultar numa nova concepção da vida e das relações 
humanas, com uma visão própria da realidade, a corrente estética valoriza o esforço pelo 
desenvolvimento das formas literárias no Brasil, em busca de uma expressão própria, 
tanto quanto possível original. 
 
1.1 O Barroco 
 
Igreja de São Francisco em Salvador-BA. 
 
O período Barroco sucedeu o Renascimento, do final do século XVI ao final do 
século XVII, estendendo-se a todas as manifestações culturais e artísticas européias e 
latino-americanas. Iniciado pelo maneirismo e extinto no rococó, considerado um barroco 
exagerado e exuberante, e para alguns, a decadência do movimento. Em sua estética, o 
barroco revela a busca da novidade e da surpresa; o gosto pela dificuldade, pregando a 
ideia de que se nada é estável tudo deve ser decifrado; a tendência ao artifício e ao 
engenho; a noção de que no inacabado reside o ideal supremo de uma obra artística. A 
literatura barroca se caracteriza pelo uso da linguagem dramática expressa no exagero de 
figuras de linguagem, de hipérboles, metáforas, anacolutos e antíteses. O barroco é 
conhecido como "a arte do conflito", pois (por causa do Renascimento) o homem estava 
dividido entre dois valores diferentes (teocentrismo x antropocentrismo). Em vista disso, o 
barroco se divide em duas correntes (uma otimista e uma pessimista). Por causa dessa 
mudança na mentalidade, o homem entra numa grande depressão, pois ele não pode 
mais recorrer a Deus. Esse conflito vai se refletir nas artes da época: relevo na 
arquitetura, movimento na escultura, luz e sombra na pintura, contraponto na música e 
antíteses e paradoxos na literatura. 
O Barroco segundo Afrânio Coutinho (2000) é caracterizado principalmente pelo 
culto exagerado da obra, sobrecarregando a poesia de figuras de linguagem; o dualismo: 
conflito entre o bem e o mal, o Céu e a Terra, Deus e o Diabo, o material e o espiritual, o 
pecado e o perdão; culto do Contraste, onde o poeta se sente dividido e confuso por 
causa do dualismo de ideias; o pessimismo, que era acarretado pela confusão causada 
pelo dualismo. Em outras palavras, o Barroco revela a busca da novidade e da surpresa, 
o gosto da dificuldade, sintetizando o pensamento da escola literária em estudo, pode-se 
dizer que dois modelos teóricos os influenciaram: O cultismo - descrição simples de 
objetos usando uma linguagem rebuscada, culta e extravagante, jogo de palavras, com 
uma influência visível do poeta espanhol Luís de Gongora (daí o estilo ser chamado 
também de Gongorismo). Caracterizado também pelo abuso no emprego de figuras de 
linguagem como metáforas, antíteses, hipérboles, anáforas etc. E o conceptismo - 
marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista e 
que utiliza uma retórica aprimorada. Os conceptistas pesquisavam a essência íntima dos 
objetos, buscando saber o que são, assim, a inteligência, lógica e raciocínio ocupam o 
lugar dos sentidos. Assim, é muito comum a presença de elementos da lógica formal 
como o silogismo e o sofismo. 
O Barroco no Brasil tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema épico 
"Prosopopéia", de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o modelo da poesia 
camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século XVII e início do XVIII, tendo 
sido fundada neste período as Academias . 
Antes do texto de Bento Teixeira, os sinais mais evidentes da influência da poesia barroca 
no Brasil surgiram a partir de 1580 e começaram a crescer nos anos seguintes ao 
domínio espanhol na Península Ibérica, já que é a Espanha a responsável pela unificação 
dos reinos da região, o principal foco irradiador do novo estilo poético. O quadro brasileiro 
se completa no século XVII, com a presença cada vez mais forte dos comerciantes, com 
as transformações ocorridas no Nordeste em consequencia das invasões holandesas e, 
finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar 
 
1.2. Autores e obras representativas do barroco brasileiro 
 
 
Estatua de Bento Teixeira 
Bento Teixeira, como já foi dito, é responsável pela introdução do Barroco no Brasil 
com a obra Prosopopéia. Filho de cristãos-novos, veio com a família para o Brasil por 
volta de 1567, com destino à capitania do Espírito Santo, frequentando o colégio dos 
Jesuítas.Em 1576 foi para o Rio de Janeiro e em 1579, para a Bahia. Em 1583 vai para 
Ilhéus onde se casa com Felipa Raposa, cristã-velha, tendo posteriormente assassinado-
a por ela ter cometido adultério. Sem possibilidade de melhoria financeira, parte em 1584 
para Olinda, abrindo aí a escola. Em 1588 vai para Igaraçu, dedicando-se ao magistério, à 
advocacia e ao comércio. Blasfemou, sendo, em consequencia, levado a auto-de-fé em 
31 de julho de 1589, mas conseguindo a absolvição do ouvidor da Vara Eclesiástica. 
Continuando sob a mira da Inquisição por judaísmo, foi preso em Olinda em 20 de 
agosto de 1595 sendo embarcado para Lisboa, aí chegando em janeiro de 1596. 
Recolhido aos cárceres, negou a crença e práticas judaicas, vindo a confessá-las depois. 
Levado a auto-de-fé em 31 de janeiro de 1599, abjurou o judaísmo, recebeu doutrinação 
católica e obteve liberdade condicional em 30 de outubro. Doente, faleceu na cadeia de 
Lisboa, em fins de julho de 1600. 
A obra Prosopopéia, de Bento Teixeira é um poemeto épico, com 94 estâncias em 
oitava rima e decassílabos heróicos, conforme ensinava Camões nos Lusíadas, gira em 
torno de Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da Capitânia de Pernambuco, e de sue 
irmão, Duarte. O intuito do poeta, declarado logo nos primeiros versos, era enaltecer os 
feitos guerreiros dos heróis, em terras brasílicas e africanas. O narrador do poema é 
prometeu. Sua estrutura é composta de um prólogo, narração e epílogo. Seguem alguns 
trechos do poema: 
 
PRÓLOGO 
Dirigido a Jorge d’Albuquerque Coelho, Capitão e Governador da Capitania de 
Pernambuco, das partes do Brasil da Nova Lusitânia etc. 
Se é verdade o que diz Horácio que Poetas e Pintores estão no mesmo predicamento, e 
estes, para pintarem perfeitamente uma imagem, primeiro na lisa tábua fazem rascunho, 
para depois irem pintando os membros dela extensamente, até realçarem as tintas, e ela 
ficar na fineza de sua perfeição; assim eu, querendo debuxar com obstardo pincel de meu 
engenho a viva imagem da vida e feitos memoráveis de vossa mercê, quis primeiro fazer 
este rascunho, para depois, sendo-me concedido por vossa mercê, ir mui particularmente 
pintando os membros desta imagem, se não me faltar a tinta do favor de vossa mercê, a 
quem peço, humildemente, receba minhas rimas, por serem as primícias com que tento 
servi-lo. E porque entendo que as aceitará com aquela benevolência e brandura natural, 
que costuma, respeitando mais a pureza do ânimo que a vileza do presente, não me fica 
mais que desejar, se não ver a vida de vossa mercê aumentada e estado prosperado, 
como todos os seus súditos desejamos. 
Beija as mãos de vossa mercê: 
(Bento Teixeira) seu vassalo. 
 
 
I 
Cantem poetas o poder romano, 
Sobmetendo nações ao jugo duro; 
O Mantuano pinte o Rei Troiano, 
Descendo à confusão do Reino escuro; 
Que eu canto um Albuquerque soberano, 
Da fé, da cara Pátria firme muro, 
Cujo valor, e ser, que o céu lhe inspira, 
Pode estancar a lácia e grega lira. 
II 
As Délficas irmãs chamar não quero, 
que tal invocação é vão estudo; 
Aquele chamo só, de quem espero 
A vida que se espera em fim de tudo. 
Ele fará meu verso tão sincero, 
Quanto fora sem ele tosco, e rudo, 
Que per razão negar não deve o menos 
Quem deu o mais a míseros terrenos. 
III 
E vós, sublime Jorge, em quem se esmalta 
A Estirpe d'Albuquerques excelente, 
E cujo eco da fama corre e salta 
Do carro glacial à zona ardente, 
Suspendei por agora a mente alta, 
Dos casos vários da olindesa gente, 
E vereis vosso irmão e vós supremo 
No valor, abater Quirino e Remo. 
IV 
Vereis um senil ânimo arriscado 
A trances e conflitos temerosos, 
E seu raro valor executado 
Em corpos luteranos vigorosas. 
Vereis seu Estandarte derribado 
Aos Católicos pés vitoriosos, 
Vereis em fim o garbo, e alto brio, 
Do famoso Albuquerque vosso Tio. 
V 
Mas em quanto Tália no se atreve, 
No Mar do valor vosso, abrir entrada, 
Aspirai com favor a Barca leve 
De minha Musa inculta e mal limada. 
Invocar vossa graça, mais se deve, 
Que toda a dos antigos celebrada, 
Porque ela me fará que participe 
Doutro licor melhor que o de Aganipe. 
........................................................................... 
 
 
NARRAÇÃO 
VII 
A Lâmpada do Sol tinha encoberto, 
Ao mundo, sua luz serena e pura, 
E a irmã dos três nomes descoberto 
A sua tersa e circular figura. 
Lá do portal de Dite, sempre aberto, 
Tinha chegado, com a noite escura, 
Morfeu, que com sutis e lentos passos 
Atar vem dos mortais os membros lassos. 
........................................................................ 
 
MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA 
 
 
O escritor barroco Manuel Botelho de Oliveira nasceu em Salvador - BA, em1636 e 
faleceu em 1711. Contemporâneo de Gregório de Matos, cursou Direito na Universidade 
de Coimbra - Portugal. De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia; também foi 
vereador da Câmara de Salvador - Em 1705 publica em Portugal sua obra, Música do 
Parnaso. Conviveu com Gregório de Matos e versou sobre os temas correntes da poesia 
de seu tempo. 
A obra, Música do parnaso é dividida em quatro coros de rimas portuguesas, 
castelhanas, italianas e latinas, com seu decante cômico reduzido em duas comédias. 
Das rimas portuguesas que englobam 42 sonetos, 23 madrigais, 12 décimas, 3 
redondilhas , 14 romances, 1 panegírico, 1 poema em oitavas, 6 canções e uma silva. 
Para melhor exemplificarmos, seguem trechos da obra. ( MOISÉS, 2006, p. 52-56,). 
 
MÚSICA DO PARNASO 
 
Monte Parnaso na Grécia 
 
 
SONETO VII 
 
Vendo a Anarda depõe o sentimento 
A serpe, que adornando várias cores, 
Com passos mais oblíquos, que serenos, 
Entre belos jardins, prados amenos, 
É maio errante de torcidas flores; 
 
Se quer matar da sede os desfavores, 
Os cristais bebe com a peçonha menos, 
Por que não morra com os mortais venenos, 
Se acaso gosta dos vitais licores. 
 
Assim também meu coração queixoso, 
Na sede ardente do feliz cuidado 
Bebe cos olhos teu cristal formoso; 
 
Pois para não morrer no gosto amado, 
Depõe logo o tormento venenoso, 
Se acaso gosta o cristalino agrado. 
 
SONETO X 
Ponderação do rosto e olhos de anarda 
 
Quando vejo de Anarda o rosto amado, 
Vejo ao céu e ao jardim ser parecido; 
Porque no assombro do primor luzido 
Tem o sol em seus olhos duplicado. 
 
Nas faces considero equivocado 
De açucenas e rosas o vestido; 
Porque se vê nas faces reduzido 
Todo o império de Flora venerado. 
 
Nos olhos e nas faces mais galharda 
Ao céu prefere quando inflama os raios, 
E prefere ao jardim, se as flores guarda: 
 
Enfim dando ao jardim e ao céu desmaios, 
O céu ostenta um sol, dous sóis Anarda, 
Um maio o jardim logra; ela dous maios. 
 
 
Gregório de matos 
 
Gregório de Matos, poeta significativo do Barroco brasileiro, nasceu em Salvador - BA, em 
20/12/1623 e morreu em Recife – PE, em 1696. Foi contemporâneo do Pe. Antônio Vieira. 
Amado e odiado, é conhecido por muitos como "Boca do Inferno", em função de suas 
poesias satíricas, muitas vezes trabalhando o chulo em violentos ataques pessoais. 
Influenciado pela estética, estilo e sintaxe de Gôngora e Quevedo, é considerado o 
verdadeiro iniciador da literatura brasileira. Considerado uma das principais referências do 
barroco brasileiro, Gregório de Matos Guerra cultivou com a mesma beleza tanto o estilo 
cultista quanto o conceptista. O primeiro valoriza o pormenor, enquanto o segundo segue 
um raciocínio lógico, racionalista 
A poesia de Gregório de Matos pode ser classificada como: líricareligiosa e lírica 
amorosa e satírica. Em todos os estilos abusa de figuras de linguagem como se 
demonstrou faz uso do estilo cultista e conceptista, através de jogos de palavras e 
raciocínios sutis. As contradições, próprias, talvez, de sua personalidade instável, são 
uma constante em seus poemas, oscilando entre o sagrado e o profano, o sublime e o 
grotesco, o amor e o pecado, a busca de Deus e os apelos terrenos. 
Na poesia lírica religiosa o poeta se ajoelha diante de Deus, com forte sentimento de 
culpar por haver pecado, e promete redimir-se. São recorrentes nestes poemas imagens: 
do homem ajoelhado implorando perdão por seus erros conforme demonstra a seguir: 
 
A Jesus cristo nosso senhor 
 
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido; 
Porque quanto mais tenho delinquido, 
Os tenho a perdoar mais empenhado. 
 
Se basta a vos irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um só gemido; 
Que a mesma culpa, que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado. 
 
Se uma ovelha perdida e já cobrada 
Glória tal e prazer tão repentino 
Vos deu, como afirmais na sacra história, 
 
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, 
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, 
Perder na vossa ovelha a vossa glória 
No lírico amoroso se define pelo erotismo, revelando uma sensualidade ora grosseira, ora 
rara fineza. Sua visão do amor está fundamentada constantemente na religiosidade da 
contra-reforma. Para ele o tempo elimina as alegrias corpóreas, que a vida e a beleza são 
breves e que se faz, portanto necessário aproveitá-las. São constantes imagens de 
efemeridade, ou seja, brevidade do tempo, como destaca-se no soneto que segue: 
 
Maria dos povos. 
 
Discreta e formosíssima Maria, 
Enquanto estamos vendo a qualquer hora, 
Em tuas faces a rosada Aurora, 
Em teus olhos e boca, o Sol e o dia: 
 
Enquanto com gentil descortesia, 
O Ar, que fresco Adônis te namora, 
Te espalha a rica trança brilhadora 
Quando vem passear-te pela fria. 
 
Goza, goza da flor da mocidade, 
Que o tempo trata, a toda a ligeireza 
E imprime em toda flor sua pisada. 
 
Oh não aguardes que a madura idade 
Te converta essa flor, essa beleza, 
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. 
 
(GONZAGA, 2001, p.19) 
 
Por último, o satírico, estilo que comumente é mais conhecido por sua sátira ferina, azeda 
e mordaz, usando, às vezes, palavras de baixo calão, daí seu epíteto Boca do Inferno. O 
autor critica todos os aspectos da sociedade baiana, ninguém escapa, os nativos, os 
negros e particularmente o clero e o povo português. 
Aos vícios 
Eu sou aquele, que os passados anos 
cantei na minha lira maldizente 
torpezas do Brasil, vícios e enganos. 
 
E bem que eu os descantei bastantemente, 
Canto segunda vez na mesma lira 
O mesmo assunto em plectro diferente. 
 
De que pode servir, calar, quem cala? 
Nunca se há de falar, o que se sente? 
Sempre se há de sentir, o que se fala? ! 
 
Qual homem pode haver tão paciente, 
Que, vendo o triste estado da Bahia, 
Não chore, não suspire, e não lamente? 
 
 
 
 
 
 
 
Outro autor significativo para o Barroco é o Pe. Antônio Vieira, nasceu em 6 de fevereiro 
de 1608, em Lisboa e faleceu em Salvador, em 1697. Foi um dos mais importantes 
oradores de seu século. Seu pai servira a marinha e fora, por dois anos, escrivão da 
Inquisição portuguesa. Seu pai se mudou em 1609 para o Brasil, onde assumiu um cargo 
de escrivão em Salvador; em 1614 trouxe a família para o Brasil quando Antônio tinha 6 
anos de idade. Antônio estudou na única escola de Salvador da época: a dos jesuítas. 
Consta que não era um bom aluno no começo, mas depois se tornou brilhante. Juntou-se 
à Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623. Existem muitas lendas sobre 
Vieira, incluindo que na juventude sua genialidade lhe fora concedida por Nossa Senhora 
e que uma vez um anjo lhe indicou o caminho de volta à escola quando estava perdido. 
Quando em 1624 os holandeses invadiram a Bahia, Vieira se refugiou no interior, onde 
começaram seus impulsos missionários. Um ano depois tomou os votos de castidade, 
pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Não partiu para a vida missionária, no 
entanto. Estudou muito além da teologia: lógica, física, metafísica, matemática e 
economia. Em 1634, após ter sido professor de retórica em Olinda, se ordenou. Em 1638 
já ensinava Teologia. 
Se por um lado, Gregório de Matos mexeu com as estruturas morais e a tolerância de 
muita gente - como o administrador português, o próprio rei, o clero e os costumes da 
própria sociedade baiana do século XVII - por outro, ninguém angariou tantas críticas e 
inimizades quanto o "impiedoso" Padre Antônio Vieira, detentor de um invejável volume 
de obras literárias, inquietantes para os padrões da época, quer seja na Bahia, no 
Maranhão ou em Pernambuco, estados nos quais passou boa parte de sua vida ou 
mesmo em Portugal. 
Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã (por defender o 
capitalismo judaico e os cristãos-novos); os pequenos comerciantes (por defender o 
monopólio comercial); e os administradores e colonos (por defender os índios). Essas 
posições, principalmente a defesa dos cristãos-novos, custaram a Vieira uma condenação 
da Inquisição, ficando preso de 1665 a 1667. 
A obra de Viera consta de cerca de 200 Sermões e mais de 500 cartas entre os quais se 
destacam: Sermão pelo Bonsucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda; 
Sermão da Sexagésima; Sermão de Santo Antônio aos Peixes; Sermão da Primeira 
Dominga da Quaresma; Sermão XIV do Rosário (dedicado aos negros) e muitos outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O trecho que segue é parte do Sermão pregado por Antônio Vieira em 1640 na igreja de 
senhora da ajuda, na Bahia. 
III 
Considerai, Deus meu – e perdoai-me, se falo inconsideradamente – considerai a quem 
tirais as terras do Brasil e a quem as dais. Tirais estas terras aos portugueses a quem nos 
princípios as destes; e bastava dizer a quem as dais, para perigar o crédito de vosso 
nome, que não podem dar nome de liberal mercês com arrependimento. Para que nos 
disse S. Paulo, que vós,Senhor, "quando dais, não vos arrependeis": Sine paenitentia 
enim suntdona Dei? Mas deixado isto à parte: tirais estas terras àqueles mesmos 
portugueses a quem escolhestes entre todas as nações do Mundo para conquistadores 
da vossa Fé, e a quem destes por armas como insígnia e divisa singular 
Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda 
vossas próprias chagas. E será bem, Supremo Senhor e Governador do Universo, que às 
sagradas quinas de Portugal e às armas e chagas de Cristo, sucedam as heréticas listas 
de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus? Será bem que estas se vejam tremular ao vento 
vitoriosas, e aquelas abatidas, arrastadas e ignominiosamente rendidas? Et quid facies 
magno nomini tuo? E que fareis (como dizia Josué) ou que será feito de vosso glorioso 
nome em casos de tanta afronta? 
Tirais também o Brasil aos portugueses, que assim estas terras vastíssimas, como 
as remotíssimas do Oriente, as conquistaram à custa de tantas vidas e tanto sangue, 
mais por dilatar vosso nome e vossa Fé (que esse era o zelo daqueles cristianíssimos 
reis) que por amplificar e estender seu império.Assim fostes servido que entrássemos 
nestes novos mundos, tão honrada e tão gloriosamente, e assim permitis que saiamos 
agora (quem tal ima de vossa bondade!), com tanta afronta e ignomínia! Oh! como receio 
que não falte quem diga o que diziam os egípcios: Callide eduxit eos, utinterficeret et 
deleret e terra. Que a larga mão comque nos destes tantos domínios e reinos não foram 
mercês de vossa liberalidade, senão cautela e dissimulação de vossa ira, para aqui fora e 
longe de nossa Pátria nos matardes,nos destruirdes, nos acabardes de todo. Se esta 
havia de ser a paga e o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o 
servir, para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas? Para que 
abrimos os mares nunca dantes navegados? Para que descobrimos as regiões e os 
climas não conhecidos? Para que contrastamos os ventos e as tempestades com tanto 
arrojo, que apenas há baixio no Oceano, que não esteja infamado com miserabilíssimos 
naufrágios de portugueses? E depois de tantos perigos, depois de tantas desgraças, 
depois de tantas e tão lastimosas mortes, ou nas praias desertas sem sepultura, ou 
sepultados nas entranhas dos alarves, das feras, dos peixes, que as terras que assim 
ganhamos, as hajamos de perder assim? Oh! quanto melhor nos fora nunca conseguir, 
nem intentar tais empresas! 
Mais santo que nós era Josué, menos apurada tinha a paciência, e, contudo, em 
ocasião semelhante, não falou (falando convosco) por diferente linguagem. Depois de os 
filhos de Israel passarem às terras ultramarinas do Jordão, como nós a estas, avançou 
parte do exército a dar assalto à cidade de Hai, a qual nos ecos do nome já parece que 
trazia o prognóstico do infeliz sucesso que os israelitas nela tiveram; porque foram rotos e 
desbaratados,posto que com menos mortos e feridos, do que nós por cá costumamos. E 
que faria Josué à vista desta desgraça? Rasga as vestiduras imperiais, lanças e por terra, 
começa a clamar ao Céu: Heu! Domine Deus, quid voluisti traducerepopulum istum 
Jordanem fluvium, ut traderes nos in manus Amorrhaei?"Deus meu e Senhor meu, que é 
isto? Para que nos mandastes passaro Jordão e nos metestes de posse destas terras, se 
aqui nos haveis de entregar nas mãos dos amorreus e perder-nos?" Utinam mansissemus 
trans Jordanem!"Oh! nunca nós passáramos tal rio!" 
Assim se queixava Josué a Deus, e assim nos podemos nós queixar, e com muito 
maior razão que ele. Se este havia de ser o fim de nossas navegações, se estas fortunas 
nos esperavam nas terras conquistadas: "Oh! Nunca nós passáramos tal rio!". Utinam 
mansissemus trans Jordanem! Prouvera a vossa Divina Majestade que nunca saíramos 
de Portugal, nem nossas vidas às ondas e aos ventos, nem conhecêramos ou puséramos 
os pés em terras estranhas! Ganhá-las para as não lograr, desgraça foi e não 
ventura;possuí- las para as perder, castigo foi de vossa ira, Senhor, e não mercê,nem 
favor de vossa liberalidade. Se determináveis dar estas mesmas terras aos piratas de 
Holanda, por que lhas não destes enquanto eram agrestes e incultas, senão agora? 
Tantos serviços vos tem feito esta gente pervertida e apóstata, que nos mandastes 
primeiro cá por seus aposentadores; para lhe lavrarmos as terras, para lhe edificarmos as 
cidades, e depois de cultivadas e enriquecidas lhas entregardes? Assim se hão de lograr 
os hereges e inimigos da Fé, dos trabalhos portugueses e dos suores católicos? En queis 
consevimus agros! "Eis aqui para quem trabalhamos há tantos anos!" Mas pois vós, 
Senhor, o quereis e ordenais assim, fazei o que for desservido. Entregai aos holandeses o 
Brasil, entregai-lhes as Índias, entrega ilhes as Espanhas (que não são menos perigosas 
as consequencias do Brasil perdido); entregai-lhes quanto temos e possuímos (como já 
lhes entregastes tanta parte); ponde em suas mãos o Mundo; e a nós, aos portugueses e 
espanhóis, deixai-nos, repudiai-nos, desfazei-nos, acabai-nos. Mas só digo e lembro a 
Vossa Majestade, Senhor, que estes mesmos que agora desfavoreceis e lançais de vós, 
pode ser que os queirais algum dia, e que os não tenhais. 
Não me atrevera a falar assim, se não tirara as palavras da boca de Job, que como 
tão lastimado, não é muito entre muitas vezes nesta tragédia. Queixava-se o exemplo da 
paciência a Deus (que nos quer Deus sofridos, mas não insensíveis), queixava-se do e 
são de suas penas demandando e altercando, por que se lhe não havia de remitir e 
afrouxar um pouco o rigor delas; e como a todas as réplicas e instâncias o Senhor se 
mostrasse inexorável,quando já não teve mais que dizer, concluiu assim: Ecce nunc in 
pulvere dormiam, et si mane me qua e sieris, non subsistam. Já que não quereis, Senhor, 
desistir ou moderar o tormento, já que não quereis senão continuaro rigor e chegar com 
ele ao cabo, seja muito embora; matai-me, consumime, enterrai-me: Ecce nunc in pulvere 
dormiam; mas só vos digo e vos lembrouma coisa: que "se me buscardes amanhã, que 
me não haveis de achar":Et si mane me quaesieris, non subsistam. Tereis aos sabeus, 
tereis aos caldeus,que sejam o roubo e o açoite de vossa casa; mas não achareis a um 
Jó que a sirva, não achareis a um Job que a venere, não achareis a um Jó, que ainda 
com suas chagas a não desautorize. O mesmo digo eu, senhor, que não é muito rompa 
nos mesmos afetos, quem se vê no mesmo estado. Abrasai, destruí, consumi-nos a 
todos; mas pode ser que algum dia queirais espanhóis e portugueses, e que os não 
acheis. Holanda vos dará os apostólicos conquistadores, que levem pelo Mundo os 
estandartes da cruz; Holanda vos dará os pregadores evangélicos, que semeiem nas 
terras dos bárbaros a doutrina católica e a reguem com o próprio sangue; Holanda 
defenderá a verdade de vossos Sacramentos e a autoridade da Igreja Romana; Holanda 
edificará templos, Holanda levantará altares, Holanda consagrará sacerdotes e oferecerá 
o sacrifício de vosso Santíssimo Corpo; Holanda, enfim, vos servirá e venerará tão 
religiosamente, como em Amsterdão, Meldeburgo e Flisinga e em todas as outras 
colônias daquele frio e alagado inferno se está fazendo todos os dias. 
 
Agora, de posse dos conhecimentos advindos de sua leitura sobre o Barroco e seus 
principais representes, responda: 
 
1. O que caracterizou o movimento Barroco na Europa e quais as relações com Barroco 
Brasileiro? 
2. Aponte as principais características da literatura Barroca no Brasil. 
3. Pesquise sobre como o Barroco se apresenta nas outras formas de arte do século XVI 
ao século XVIII. 
4. Identifique as características do Barroco a partir dos trechos das obras apresentadas 
no fascículo. 
5. Para complementar o assunto pesquise mais sobre a literatura Barroca. 
Para maior fixação sobre o barroco assistam os seguintes filmes: Antonio Francisco 
Lisboa- o aleijadinho e O nome da rosa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE III 
O Arcadismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OBJETIVOS 
 Ler e analisar textos poéticos representativos de autores do Arcadismo brasileiro. 
 Identificar através dos textos literários as principais características da escola 
literária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.O ARCADISMO 
 
 
Pastores arcades.Óleo sobre a tela. 85x121cm.por Nicolas Poussin,1638. 
 
3.1 ORIGEM/ CONTEXTO HISTÓRICO 
 
O Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo, caracteriza-se pela busca 
de restauração dos ideais de sobriedade e equilíbrio da antiguidade clássica em 
contraposição aos excessos do período anterior, o Barroco. 
O movimento é contemporâneo do Iluminismo, corrente de pensamento racionalista 
que se divulgou pela Europa no século XVIII e que culminou com a Revolução Francesa, 
em 1789. Nesse período foram feitas associações pelos letrados do movimento com a 
Arcádia Romana e, mais tarde, a ArcádiaLusitana representou veículos importantes para 
a propagação do ideário do movimento na Europa. O nome “Arcádia” é inspirado na 
região lendária da Grécia que representa o ideal de comunhão entre homem e natureza, 
daí o Arcadismo ter como tema privilegiado o bucolismo, em que a natureza é vista como 
refúgio último das noções de verdade e beleza. 
A Europa vivia a efervescência do Iluminismo e transformava-se num pólo 
irradiador de ideias libertárias. Ao mesmo tempo, chegavam ao Brasil as primeiras 
notícias sobre a independência dos Estados Unidos, conquistada em 1776. Todos esses 
fatores, associados à insatisfação generalizada com a exploração de Portugal, que se 
traduzia no aumento dos impostos sobre a extração de minérios, culminaram na 
Inconfidência Mineira, preparada por um pequeno grupo de letrados, muitos deles ex-
estudantes da Universidade de Coimbra, onde entraram em contato com as novas ideias 
e doutrinas políticas. Em sua maior parte, esse grupo de oposição política era o mesmo 
que produzia ciência e literatura na época. 
No Brasil, o século XVIII é considerado o século do ouro, graças à intensa atividade 
de extração mineral que se desenvolveu na região de Minas Gerais. A prosperidade 
econômica do período estimulou a organização política, administrativa e dinamizou a vida 
cultural. A maior agilidade na troca de informações favoreceu a formação de uma 
consciência comum, de um sentimento nacional que, na literatura, começa aos poucos a 
substituir o impulso de descrição da natureza e do nativo, dominante até então. Pela 
primeira vez, é possível verificar no país uma relação sistemática, ainda que incipiente, 
entre escritor, obra e público, condição fundamental para a formação de uma literatura, 
conforme ensina o crítico Antonio Candido. O impulso de intelectuais e artistas de se 
reunirem em academias e sociedades literárias contrapõe-se ao isolamento dos períodos 
anteriores, em que os escritores se encontravam dispersos, as obras mal circulavam no 
interior do país, dirigindo-se primordialmente para leitores portugueses. 
Os poetas que melhor representam o movimento Árcade no Brasil são Cláudio 
Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Ambos participaram da Inconfidência 
Mineira, movimento político que visava à emancipação do Brasil em relação a Portugal. 
Outros autores significativos são: Santa Rita Durão, Basílio da Gama e a produção 
poética de Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga também apresentam traços típicos do 
Arcadismo. Para Massaud Moisés (2000) todos esses poetas concentravam-se na cidade 
mineira de Vila Rica, centro da atividade mineradora e mais importante centro urbano do 
país nesse período. No Rio de Janeiro, nos anos de transição entre os séculos XVIII e 
XIX, entre uma série de novidades de ordem política e econômica que começam a 
transformar a fisionomia do país. 
Pode-se dizer que o marco inicial do estilo árcade no Brasil inicia-se com as 
publicações das obras, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. Sob influência de teorias 
francesas e italianas. Os integrantes do movimento empenharam-se em restaurar a 
simplicidade da língua literária, que estaria contaminada por excessos retóricos e por 
formas degeneradas da literatura barroca. Como já foi dito anteriormente o nome 
Arcadismo é uma alusão à Arcádia Lusitana. (associação fundada em 1756 em Portugal 
que congregava os opositores do maneirismo seiscentista, inspirada na Arcádia Romana, 
criada em Roma, em 1690). Ela também remonta ao romance pastoral Arcadia (1504), do 
escritor italiano Jacopo Sannazaro. A obra retrata uma lendária região grega chamada 
Arcádia. Dominada pelo deus Pã, ela seria habitada por pastores cujo modo de vida 
bucólico e devotado à poesia foi transformado pelos neoclássicos em modelo ideal de 
convivência entre o homem e a natureza. Daí o fato de os escritores da época 
denominarem-se pastores e adotarem pseudônimos poéticos, como Glauceste Satúrnio 
(Cláudio Manuel da Costa), Alcindo Palmireno (Silva Alvarenga) e Termindo Sepílio 
(Basílio da Gama). 
 
3.3. ESTILOS/INFLUÊNCIAS/CACTERÍSTICAS 
 
Tida como reduto por excelência do equilíbrio e da sabedoria, a natureza é a 
temática mais frequente do Arcadismo. Em grande medida, é possível dizer que a poesia 
arcádica caracteriza-se por essa busca pelo “natural”, ao qual estavam sempre 
associadas as ideias de verdade e de beleza. 
Apesar de ter sido influenciada pela tradição poética do século XVI, cujo nome 
mais importante é Camões, e de apresentar resquícios do Barroco em certos casos, a 
poesia arcádica é um modelo de simplicidade e objetividade, se comparada com as obras 
do período anterior. Exemplos dessa simplificação da linguagem são a valorização da 
ordem direta, o verso sem rima, a singeleza do vocabulário e a menor incidência de 
comparações e antíteses - todos fatores identificáveis na produção poética do Arcadismo. 
Essa liberdade formal, no entanto, era regida por normas consolidadas e formatos 
fixos que só começariam a afrouxar a partir do Romantismo. O soneto, por exemplo, era 
uma das formas mais empregadas, como se pode perceber pela obra de Cláudio Manuel 
da Costa. Também bastante utilizados eram a de (composição poética dividida em 
estrofes simétricas, para ser cantada), a elegia (poesia sobre tema fúnebre) e a écloga 
(poesia pastoril). 
Sem perder a impregnação religiosa nem o respeito à monarquia, os poetas do 
período abordaram assuntos mais imediatos e concretos do que seus antecessores. 
Fazem parte de seu universo temático o elogio da virtude civil, a crença na melhoria do 
homem pela instrução, a noção de que a harmonia social depende da obediência às leis 
da natureza, e a concepção da felicidade como consequencia da prática do bem e da 
sabedoria. Todas essas ideias, em grande medida derivadas do Iluminismo, encontram 
expressão política na figura do Marquês de Pombal. Associado a isto pode-se perceber 
nas produções árcades do Brasil características como: a introdução de paisagens 
tropicais; história colonial muito valorizada; início do nacionalismo; início da luta pela 
independência, enfim, a colônia é colocada como centro das atenções. Outros aspectos 
que podem ser observados são: as ideias Iluministas; laicismo; liberalismo; fugere urbem; 
bucolismo áurea mediocritas; convencionismo amoroso; idealização do sexo; carpe diem; 
inutilia truncat – (textos mais objetivos, sem exagero); sátira política; linguagem simples; 
uso dos versos decassílabos; sonetos e outras formas clássicas. 
 
3.4. AUTORES REPRESENTATIVOS 
 
3.4.1. Cláudio Manuel da Costa 
 
Cláudio Manuel da Costa nasceu em Vargem do Itacolomi, a 5 de junho de 1729 e 
falece em Vila Rica, 4 de junho de 1789. Filho de João Gonçalves da Costa, português, e 
Teresa Ribeiro de Alvarenga, mineira, nasceu no sítio da Vargem, Ribeirão do Carmo, 
atual cidade de Mariana, em Minas Gerais.Tornou-se conhecido principalmente pela sua 
obra poética e pelo seu envolvimento na inconfidência mineira. Foi também advogado de 
prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e mecenas do 
Aleijadinho. Estudou cânones em Coimbra. 
Com vinte anos embarcou para Portugal, com destino a Coimbra, em cuja 
Universidade se formou em cânones. Entre 1753 e 1754 recolheu ao Brasil, dando-se à 
advocacia em Vila Rica (hoje Ouro Preto), onde também exerceu o importante cargo de 
secretário do Governo. Por sua idade, boa lição clássica, fama de doutor e crédito de 
autor publicado, exerceu Cláudio da Costa ali uma espécie de magistério entre os seus 
confrades em musa, maiores e menores, que todos lhe liam as suas obras e lhe 
escutavam os conselhos. 
Aos sessenta anos foi comprometido na chamada Conjuração Mineira.Preso e, 
para alguns, apavorado com as consequências da tremenda acusação de réu de 
inconfidência, morreu em circunstâncias obscuras, em Vila Rica, no dia 4 de julho de 
1789, quando teria se suicidado na prisão. 
Os clássicos da historiografia da inconfidência mineira são unânimes em valorizar 
sua participação no movimento. Parece que ele era meio descrente com as chances 
militares da conspiração. Mas não deixou de influenciar no lado mais intelectualizado do 
movimento, especialmente no que diz respeito à construção do edifício jurídico projetado 
para a república que pretendiam implantar em Minas Gerais, no final do século XVIII. 
É Patrono da Academia Brasileira de Letras. Glauceste Saturnino, pseudônimo do autor, 
faz parte da transição do Barroco para o Arcadismo. Seus sonetos herdaram a tradição de 
Camões. 
Principais obras: Obras Poéticas, 1768; Vila Rica, 1773; Soneto; Entre o Velho e o Novo 
Mundo. 
Vila Rica, o poema de Cláudio Manuel da Costa, consta de dez cantos em versos 
decassílabos. Percebe-se ainda a influência de Camões, não só nas partes convencionais 
da epopéia renascentista. A proposição está nas quatro primeiras estrofes, onde o poeta 
se propõe cantar a fundação da capital das Minas e exaltar a memória de Antônio de 
Albuquerque Coelho de Carvalho, que vem a ser o herói da narrativa épica. A invocação é 
dirigida ao pátrio ribeirão do Carmo, e a dedicatória é feita ao Conde de Bobadela. Segue-
se a narrativa com uma apresentação do Brasil-Colônia e o descobrimento das minas 
com todas as dificuldades que passaram os heróis da ação épica. O elemento indígena, 
com seus valores e suas tradições, é importante no poema. Duas ações desenvolvem-se 
paralelamente no poema: o propriamente épico, onde se destaca o herói Albuquerque; 
outra de fundamento lírico em torno de um episódio amoroso que envolve índios e outro 
branco colonizador, Garcia Rodrigues Pais. 
 
FRAGMENTOS DE SONETOS DE CLAUDIO MANUEL DA COSTA. 
VIII 
Este é o rio, a montanha é esta, 
Estes os troncos, estes os rochedos; 
São estes inda os mesmos arvoredos; 
Esta é a mesma rústica floresta. 
Tudo cheio de horror se manifesta, 
Rio, montanha, troncos, e penedos; 
Que de amor nos suavíssimos enredos 
Foi cena alegre, e urna é já funesta. 
Oh quão lembrado estou de haver subido 
Aquele monte, e as vezes, que baixando 
Deixei do pranto o vale umedecido! 
Tudo me está a memória retratando; 
Que da mesma saudade o infame ruído 
Vem as mortas espécies despertando. 
 
XIII 
Nise ? Nise ? onde estás ? Aonde espera 
Achar te uma alma, que por ti suspira, 
Se quanto a vista se dilata, e gira, 
Tanto mais de encontrar te desespera! 
Ah se ao menos teu nome ouvir pudera 
Entre esta aura suave, que respira! 
Nise, cuido, que diz; mas é mentira. 
Nise, cuidei que ouvia; e tal não era. 
Grutas, troncos, penhascos da espessura, 
Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde, 
Mostrai, mostrai me a sua formosura 
Nem ao menos o eco me responde! 
Ah como é certa a minha desventura! 
Nise ? Nise ? onde estás ? aonde ? aonde ? 
................................................................................ 
3.4.2. Tomás Antônio Gonzaga 
 
 
Tomás Antônio Gonzaga nascido em Miragaia (freguesia da cidade portuguesa 
do Porto), em 11 de agosto de 1744, faleceu em 1810, em Moçambique. Filho de mãe 
portuguesa e pai brasileiro. Órfão de mãe no primeiro ano de vida mudou-se com o pai, 
magistrado brasileiro para Pernambuco em 1751 depois para a Bahia, onde estudou no 
Colégio dos Jesuítas. Em 1761, voltou a Portugal para cursar Direito na Universidade de 
Coimbra, tornando-se bacharel em Leis em 1768. Com intenção de lecionar naquela 
universidade, escreveu a tese Tratado de Direito Natural, no qual enfocava o tema sob o 
ponto de vista tomista, mas depois trocou as pretensões ao magistério superior pela 
magistratura. Em 1778, exerceu o cargo de juiz, na cidade de Beja, em Portugal. Quando 
voltou ao Brasil, em 1782, foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes da comarca de 
Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, então capital da capitania de Minas Gerais. Um ano 
depois conheceu a adolescente de apenas quinze anos Maria Joaquina Dorotéia de 
Seixas Brandão, a pastora Marília em uma das possíveis interpretações de seus poemas, 
que teria sido imortalizada em sua obra lírica (Marília de Dirceu) - apesar de ser muito 
discutível essa versão, tendo em vista as regras retórico-poéticas que prevaleciam no 
século XVIII, época em que o poema fora escrito. Durante sua permanência em Minas 
Gerais, escreve Cartas Chilenas, poema satírico em forma de epístolas, uma crítica ao 
governo colonial. Promovido a desembargador da relação da Bahia em 1786, resolve 
pedir em casamento Maria Dorotéia dois anos depois. O casamento é marcado para o 
final do mês de maio de 1789. Como era pobre e bem mais velho que ela, sofreu 
oposição da família da noiva. 
Apesar do pequeno papel na Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira é 
acusado de conspiração e preso em 1789, cumprindo sua pena de três anos na Fortaleza 
da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, tendo seus bens confiscados. Foi, portanto, 
separado de sua amada, Maria Dorotéia. Sua implicância na Inconfidência Mineira parece 
ter sido fruto de calúnias arquitetadas por seus adversários. Permanece em reclusão por 
três anos, durante os quais, teria escrito a maior parte das liras atribuídas a ele, pois não 
há registros de assinatura em qualquer uma de suas poesias. Em 1792, sua pena é 
comutada em desterro e o poeta é enviado a costa oriental da África, a fim de cumprir, em 
Moçambique, a sentença de dez anos de degredo. No mesmo ano é lançada em Lisboa a 
primeira parte de Marília de Dirceu, com 33 liras. No país africano trabalha como 
advogado e hospeda-se em casa de abastado comerciante de escravos, vindo a se casar 
em 1793 com a filha dele, Juliana de Sousa Mascarenhas vivendo depois disso, durante 
quinze anos, rico e considerado, até morrer em 1810, acometido por uma grave doença. 
Em 1799, é publicada a segunda parte de Marília de Dirceu, com mais 65 liras. No 
desterro, ocupou os cargos de procurador da Coroa e Fazenda, e o de juiz de Alfândega 
de Moçambique (cargo que exercia quando morreu). Gonzaga foi muito admirado por 
poetas românticos como Casimiro de Abreu e Castro Alves. É patrono da cadeira de 
número 37 da Academia Brasileira de Letras. 
A poesia de Tomás Antonio Gonzaga apresenta as típicas características árcades 
e neoclássicas: o pastoril, o bucólico, a Natureza amena, o equilíbrio, etc. Paralelamente, 
possui características pré-românticas (principalmente na segunda parte de Marília de 
Dirceu, escrita na prisão): confissões de sentimento pessoal, ênfase emotiva estranha aos 
padrões do neoclassicismo, descrição de paisagens brasileiras, etc. 
Tomás Antonio Gonzaga escreve versos marcados por expressão própria, pela 
harmonização dos elementos racionais e afetivos e por um leve toque de sensualidade. 
Segundo Alfredo Bosi(2004), Gonzaga está acima de tudo preocupado em "achar a 
versão literária mais justa dos seus cuidados". Assim, "a figura de Marília, os amores 
ainda não realizados e a mágoa da separação entram apenas como 'ocasiões' no 
cancioneiro de Dirceu", o que diferencia o autor dos seus futuros colegas românticos. 
 
Apollo e Musa-Óleo sobre tela de P. Batoni 
 
 
As liras à sua pastora idealizada refletem a trajetória do poeta, na qual a prisão 
atua como um divisor de águas. Antes do encarceramento, num tom de fidelidade, canta a 
ventura da iniciação amorosa, a satisfação do amante, que, valorizando o momento 
presente, busca a simplicidade do refúgio na natureza amena, que ora é européia,artificial, virgiliana e ora, mineira. Depois da reclusão, num tom trágico de desalento, canta 
o infortúnio, a justiça (ele se considera inocente, portanto, injustiçado), o destino e a 
eterna consolação no amor da figura de Marília. Os versos São compostas em redondilha 
menor ou decassílabos quebrados . Expressam a simplicidade e gracioso lirismo íntimo, 
decorrentes da naturalidade e da singeleza no trato dos sentimentos e da escolha 
linguística. Ao delegar posição poética a um campesino, sob cuja pele se esconde um 
elemento civilizado, Gonzaga demonstra mais uma vez suas diferenças com a filosofia 
romântica, pois segue o descrito nas regras para a confecção de éclogas nos manuais de 
poética da época, que instruem aos poetas que buscam a superação dos antigos, 
imitando-os, a utilizações de eu-líricos que se aproximem as figuras de pastores, 
caçadores, hortelãos, vaqueiros e pescadores, apesar deste último ser questionado por 
outros teóricos. Marília é ora morena, ora loira. O que comprova não ser a pastora, Maria 
Dorotéia na vida real, mas uma figura simbólica que servia à poesia de Tomás Antonio 
Gonzaga. 
É anacronismo destinar ao sentimento existente entre o poeta e Maria Dorotéia a 
motivação para a confecção dos poemas, tendo em vista que esse pensamento só surgiu 
com o pensamento Romântico, no século XIX. É mais cabível a teoria de inspiração no 
ideal de emulação, que configurava o sentimento poético da época, baseado nas filosofias 
retórico-poéticas vigentes, em que o poeta, seguindo inúmeras regras de confecção, 
"imitava" os poetas antigos procurando superá-los. Muitos pouco conhecedores de 
literatura podem achar que o poeta cai em contradições, ora assumindo a postura de 
pastor que cuida de ovelhinhas brancas e vive numa choça no alto do monte, ora a do 
burguês Dr. Tomás Antonio Gonzaga, juiz que lê altos volumes instalados em espaçosa 
mesa, mas estes o fazem por analisar os poemas com critérios anacrônicos à época, 
analisam com pensamentos surgidos após o Romantismo, textos que o precedem. 
É interessante atentar para alguns aspectos dessa obra de Gonzaga. Cada lira é 
um diálogo de Dirceu com sua pastora Marília, mas, embora a obra tenha a estrutura de 
um diálogo, só Dirceu fala (trata-se, na verdade de um monólogo), chamando Marília em 
geral com vocativos. Como bem lembra o crítico Antonio Candido (2000), o melhor título 
para a obra seria Dirceu de Marília, mas o patriarcalismo de Gonzaga nunca lhe permitiria 
colocar-se como a coisa possuída. A obra está dividida em três partes, a seguir a um 
trecho da primeira parte: 
 
 
 
PARTE I 
Lira I 
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, 
Que viva de guardar alheio gado; 
De tosco trato, d’expressões grosseiro, 
Dos frios gelos, e dos sóis queimado. 
Tenho próprio casal, e nele assisto; 
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; 
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, 
E mais as finas lãs, de que me visto. 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
Eu vi o meu semblante numa fonte, 
Dos anos inda não está cortado: 
Os pastores, que habitam este monte, 
Respeitam o poder do meu cajado: 
Com tal destreza toco a sanfoninha, 
Que inveja até me tem o próprio Alceste: 
Ao som dela concerto a voz celeste; 
Nem canto letra, que não seja minha, 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
Mas tendo tantos dotes da ventura, 
Só apreço lhes dou, gentil Pastora, 
Depois que teu afeto me segura, 
Que queres do que tenho ser senhora. 
É bom, minha Marília, é bom ser dono 
De um rebanho, que cubra monte, e prado; 
Porém, gentil Pastora, o teu agrado 
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono. 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
Os teus olhos espalham luz divina, 
A quem a luz do Sol em vão se atreve: 
Papoula, ou rosa delicada, e fina, 
Te cobre as faces, que são cor de neve. 
Os teus cabelos são uns fios d’ouro; 
Teu lindo corpo bálsamos vapora. 
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora, 
Para glória de Amor igual tesouro. 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
Leve-me a sementeira muito embora 
O rio sobre os campos levantado: 
Acabe, acabe a peste matadora, 
Sem deixar uma rês, o nédio gado. 
Já destes bens, Marília, não preciso: 
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta; 
Para viver feliz, Marília, basta 
Que os olhos movas, e me dês um riso. 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
 
Irás a divertir-te na floresta, 
Sustentada, Marília, no meu braço; 
Ali descansarei a quente sesta, 
Dormindo um leve sono em teu regaço: 
Enquanto a luta jogam os Pastores, 
E emparelhados correm nas campinas, 
Toucarei teus cabelos de boninas, 
Nos troncos gravarei os teus louvores. 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
Depois de nos ferir a mão da morte, 
Ou seja neste monte, ou noutra serra, 
Nossos corpos terão, terão a sorte 
De consumir os dois a mesma terra. 
Na campa, rodeada de ciprestes, 
Lerão estas palavras os Pastores: 
“Quem quiser ser feliz nos seus amores, 
Siga os exemplos, que nos deram estes.” 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
 
 
.................................................................................................... 
 
Lira XV 
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro, 
Fui honrado Pastor da tua aldeia; 
Vestia finas lãs, e tinha sempre 
A minha choça do preciso cheia. 
Tiraram-me o casal, e o manso gado, 
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado. 
 
Para ter que te dar, é que eu queria 
De mor rebanho ainda ser o dono; 
Prezava o teu semblante, os teus cabelos 
Ainda muito mais que um grande Trono. 
Agora que te oferte já não vejo 
Além de um puro amor, de um são desejo. 
 
Se o rio levantado me causava, 
Levando a sementeira, prejuízo, 
Eu alegre ficava apenas via 
Na tua breve boca um ar de riso. 
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto 
De ver-te aos menos compassivo o rosto. 
 
Propunha-me dormir no teu regaço 
As quentes horas da comprida sesta, 
Escrever teus louvores nos olmeiros, 
Toucar-te de papoulas na floresta. 
Julgou o justo Céu, que não convinha 
Que a tanto grau subisse a glória minha. 
 
Ah! minha Bela, se a Fortuna volta, 
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo; 
Por essas brancas mãos, por essas faces 
Te juro renascer um homem novo; 
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra, 
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra! 
 
Fiadas comprarei as ovelhinhas, 
Que pagarei dos poucos do meu ganho; 
E dentro em pouco tempo nos veremos 
Senhores outra vez de um bom rebanho. 
Para o contágio lhe não dar, sobeja 
Que as afague Marília, ou só que as veja. 
 
Se não tivermos lãs, e peles finas, 
Podem mui bem cobrir as carnes nossas 
As peles dos cordeiros mal curtidas, 
E os panos feitos com as lãs mais grossas. 
Mas ao menos será o teu vestido 
Por mãos de amor, por minhas mão cosido. 
 
Nós iremos pescar na quente sesta 
Com canas, e com cestos os peixinhos: 
Nós iremos caçar nas manhãs frias 
Com a vara envisgada os passarinhos. 
Para nos divertir faremos quanto 
Reputa o varão sábio, honesto e santo. 
 
Nas noites de serão nos sentaremos 
C’os filhos, se os tivermos, à fogueira; 
Entre as falsas histórias, que contares, 
Lhes contarás a minha verdadeira. 
Pasmados te ouvirão; eu entretanto 
Ainda o rosto banharei de pranto. 
 
Quando passarmos juntos pela rua, 
Nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores; 
Dizendo uns para os outros: “Olha os nosso 
“Exemplos da desgraça, e são amores”. 
Contentes viveremos desta sorte, 
Até que chegue a um dos dois a morte. 
 
 
Lira II 
Em vão do amado

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