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O juizo de realidade e suas alteracoes

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O juízo de realidade e suas alterações (o delírio)
Disciplina: Processos Psicológicos II
Psicologia
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Definições Psicológicas: 
Produzir juízos é uma atividade humana por excelência.
Ajuizar quer dizer julgar.
O julgamento é parte individual e parte social.
 
 
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Alterações do juízo de realidade são alterações do pensamento.
Juízos falsos podem ser produzidos de inúmeras formas, podendo ser patológicos ou não.
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Distinção fundamental: erro simples x delírio
Origina da ignorância, do julgar apressado e com base em premissas falsas 
Tem como característica fundamental a incompreensibilidade. 
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O erro ocorre no julgar quando:
Tomam-se coisas parecidas ou semelhantes por iguais ou idênticas, isto é, confusão de coisas semelhantes.
 
Um camelo ser considerado um cavalo (são um tanto semelhantes, mas de fato diferentes).
 
Exemplo: 
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 2. Atribui-se, a coincidências ocasionais ou fortuitas, a força de relações consistentes de causa-efeito:
 
 3. Aceitar ingenuamente as impressões de nossos sentidos como verdades indiscutíveis (erros por enganos dos sentidos):
 
Exemplo: 
“Sempre que me cair um dente alguém conhecido irá morrer” 
Exemplo: 
“
“O sol gira em torno da terra”.
 
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Erros comuns não determinados por doença mental:
Preconceito
Crenças
Juízo a priori, sem reflexão, um ajuizamento apressado com base em premissas falsas, “uma opinião 
 
Descritas como partilhadas por um grupo cultural (religioso, político, étnico, grupo de jovens, grupo místico ou outro agrupamento social).
 
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Superstição
 Está associada à suposição de que alguma força sobrenatural, que pode inclusive ser de origem religiosa, agiu para promover a suposta causalidade.
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ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DO JUÍZO
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2 Tipos:
 Ideias prevalentes ou sobrevaloradas (ideia errôneas por superestimação afetiva) alterações patológicas e não patológicas
 Delírios.
 
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Ideias Prevalentes: 
Ideia que, por conta da importância afetiva que têm para o indivíduo, adquirem predominância enorme sobre os demais pensamentos, conservando-se obstinadamente em sua mente: 
 
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“Não consigo pensar em outra coisa”
Exemplo: 
As pessoas que têm ideia prevalentes ou sobrevaloradas identificam-se plenamente com elas e colocam a sua personalidade totalmente a seu serviço. 
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Algumas ideia sobrevaloradas ou prevalentes não têm significado claramente patológico (podendo ser consideradas patológicas apenas a partir do contexto específico do paciente e de sua personalidade).
 
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Exemplo: 
Uma mãe se preocupa excessivamente com o filho ausente e acredita que ele sempre está em perigo;
O amante inseguro não pára de pensar se sua amada realmente o ama, buscando, em cada detalhe, provas contra esse amor; 
 
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Outras ideias prevalentes já têm sentido claramente patológico, sendo observadas em algumas situações clínicas como as apresentadas a seguir:
 
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Delírio: 
Para Jaspers, as ideias delirantes ou delírios são juízos patologicamente falseados. Desta forma o delírio é um erro do ajuizar, que tem origem na doença mental.
Sua base é mórbida, é motivado por fatores patológicos. 
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3 características do delírio para Jaspers:
 1. O doente apresenta uma convicção extraordinária, uma certeza subjetiva praticamente absoluta . A sua crença é total; a seu ver, não se pode colocar em dúvida a veracidade de seu delírio. 
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 2. É impossível a modificação do delírio pela experiência objetiva, por provas explícitas da realidade, por argumentos lógicos, plausíveis e aparentemente convincentes. 
 O delírio é irremovível, mesmo pela prova de realidade mais cabal, ele não é passível de ser influenciado externamente por pessoas que queiram demover o delirante de suas crenças. 
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 3. Quase sempre, é um juízo falso; o seu conteúdo é impossível. Embora este seja o aspecto mais evidente do delírio, mais fácil de caracterizar, é, também, o aspecto, do ponto de vista psicopatológico, mais frágil. 
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 Sabe-se que alguns doentes podem eventualmente delirar e seu delírio ser verídico. O fato que o paciente relata pode ocorrer realmente (Bastos,1986).
 
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4 característica que diferencia o delírio de determinadas crenças culturais: 
 4. O delírio é uma produção associal, que não é peculiar ao grupo cultural do doente. Geralmente se trata de uma convicção de um só homem. O delírio, no mais das vezes, não é nem produzido, nem compartilhado ou sancionado por um grupo religioso, político ou de outra natureza.
 
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Dimensões do Delírio: 
 Appelbaum, Robbins e Roth (1999) estudaram as dimensões do delírio nos diferentes transtornos mentais. 
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Delírio primário ou ideias delirantes verdadeiras:
Segundo Jaspers (1979), o verdadeiro delírio é um fenômeno primário. 
Sendo um fenômeno primário, é psicologicamente incompreensível, não tem raízes na experiência psíquica do homem normal;
 
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É impenetrável, incapaz de ser atingido pela relação intersubjetiva, pelo contato empático entre entrevistador e entrevistado.
Trata-se de algo inteiramente novo, que se insere, em determinado instante, na curva vital do indivíduo. 
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Delírio secundário ou ideias deliróides: 
Parecido com o delírio primário, diferindo deste por não se originar de alteração primária do pensamento, do ajuizar, mas de alterações profundas em outras áreas da atividade mental (afetividade, consciência, etc.), que indiretamente fazem com que se produzam juízos falsos.
 
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Exemplo:
O delírio de ruína ou culpa do indivíduo com depressão grave é compreensível e derivável psicologicamente de estado de humor alterado; constitui mais um aspecto, mais uma dimensão que o humor depressivo adquire.
 
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Delírios compartilhados (loucura a dois ou folie á deux): 
Um paciente psicótico, com esquizofrenia ou transtorno delirante, por exemplo, que apresenta delírio primário e, ao interagir intimamente com outra pessoa influenciável (ou com mais pessoas; folie à trois, à quatre, etc.), acaba por gerar o delírio em tal pessoa (delírio secundário).
 
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Estruturas dos Delírios: 
Simples (monotemáticos);
Complexos (pluritemáticos);
Não-sistematizados;
Sistematizados. 
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1. Delírios Simples: 
 Constituem-se de ideias que se desenvolvem em torno de um só conteúdo, de um tema único, geralmente de um único tipo (apenas um tema religioso, ou persecutório). 
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2. Delírios Complexos: 
 São os que englobam vários temas ao mesmo tempo, com múltiplas facetas, envolvendo conteúdos de perseguição, místico-religiosos, de ciúme, de reinvidicação, etc. 
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3. Delírios não-sistematizados: 
Neste caso, são delírios sem concatenação consistente. 
Os conteúdos e os detalhes variam de momento para momento e costumam ser encontrados em indivíduos com baixo nível intelectual, deficientes mentais ou em pacientes com quadros demenciais. 
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4. Delírios Sistematizados: 
São os delírios bem-organizados, com histórias ricas, consistentes e bem concatenadas, que mantêm, ao longo do tempo, os mesmos conteúdos, com riquezas de detalhes. 
 
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Ocorrem mais em indivíduos intelectualmente desenvolvidos e nos chamados transtornos delirantes (o termo clássico de Kraepelin é paranóia).
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Surgimento e evolução do delírio: estados pré-delirantes: 
Surgem após período pré-delirante, denominado humor delirante (Jaspers, 1979)
O paciente experimenta:
 Aflição e ansiedade intensas;
 Sente como se algo terrível estivesse por acontecer, mas não sabe exatamente o quê...
 
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Predominam aqui grande perplexidade, sensação de fim do mundo, de estranheza radical.
Esse estado pode durar horas ou dias. 
O humor delirante cessa quando
o paciente configura o delírio, isto é, quando descobre, como se fosse por uma revelação inexplicável, o que está de fato acontecendo: 
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“Ah, então é isso, os vizinhos organizaram um grande complô para me matar” 
Após a revelação do delírio, o paciente muitas vezes se acalma, como se tivesse encontrado explicação plausível para a perplexidade anteriormente inexplicável. 
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Os mecanismos constitutivos do delírio: 
Deve-se pensar o delírio como uma construção. Tal construção está inserida em um processo de tentativa de reorganização do funcionamento mental. 
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Interpretação;
Intuição;
Imaginação;
Afetividade;
 
Memória;
Alteração da consciência;
Alterações sensoperceptivas.
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1. Interpretação: 
Delírio interpretativo (ou interpretação delirante);
A atividade interpretativa é um mecanismo que, está na base constituinte de todos os delírios.
 
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Em alguns delírios a sua formação deve-se quase que exclusivamente a uma distorção radical na interpretação de fatos e vivências; tecendo o indivíduo, a partir de múltiplas interpretações dos fatos da vida, um delírio mais ou menos complexo.
 
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Respeita determinada lógica, produzindo histórias que, embora delirantes, guardam verossimilhança.
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2. Intuição: 
Delírio intuitivo (ocorrência ou intuição delirante);
O indivíduo intui o delírio de repente, pois capta de forma imediata novo sentido nas coisas, percebe nova realidade totalmente convincente e irredutível. 
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O delirante não sente qualquer necessidade de fundamentar o delírio em possibilidades plausíveis e verossímeis: 
não busca provas que certifiquem a verdade de seu delírio;
 ele simplesmente sabe, simplesmente intui a revelação delirante.
 
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3. Imaginação:
Delírio imaginativo;
Presente na constituição da maior parte dos delírios, acompanhando a atividade interpretativa lado a lado.
 O indivíduo imagina determinado episódio ou acontecimento e, a partir disso, pela interpretação, vai construindo o delírio. 
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4. Afetividade: 
Delírio catatímico;
Em estados afetivos intensos, como nas depressões graves e nos quadros de mania, o indivíduo passa a viver em um mundo fortemente marcado por esse estado afetivo (catatimia). 
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Na depressão, o sujeito reorganiza o mundo e o seu eu com delírio de conteúdo depressivo; 
O maníaco cria, a partir de seu estado afetivo de euforia e exaltação, um delírio de grandeza, coerente com tal estado. 
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5. Memória: 
Delírio Mnêmico;
O delírio é construído por recordações e elementos da memória (verdadeiros ou falsos) que ganham dimensão delirante. 
O indivíduo utiliza tanto recordações verdadeiras quanto falsificações da memória, como as alucinações ou ilusões mnêmicas, para construir seu delírio. 
 
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Exemplo:
O paciente afirma que foi raptado quando era criança, que foi criado por pais milionários, e que, por isso, é herdeiro de grande fortuna, etc. 
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6. Alteração da consciência:
Delírio onírico;
 São os delírios associados a quadros de turvação da consciência, ricos em vivências oníricas com alucinações cênicas, ansiedade intensa e certa confusão do pensamento.
 
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O delírio desenvolve-se devido principalmente à crítica insuficiente relacionada às vivências oníricas. 
Os delírios podem ocorrer durante ou após a turvação da consciência.
 
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7. Alterações sensoperceptivas:
Delírio alucinatório;
O delírio é construído a partir de experiências alucinatórias ou pseudo-alucinatórias intensas, como alucinações auditivas de conteúdo persecutório ou alucinações visuais muito vívidas. 
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A experiência alucinatória é tão marcante e penetrante que não lhe resta outra alternativa a não ser integrá-la em sua vida por meio do delírio.
O delírio alucinatório também é, em certo sentido, um delírio interpretativo.
 
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Percepção delirante:
A percepção delirante é um tipo especialmente importante de delírio. O delírio surge a partir de uma percepção normal que recebe, imediatamente ao ato perceptivo, significação delirante.
 
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Exemplo:
Ao entrar na sala, o indivíduo vê um lenço amarelo sobre a mesa (uma percepção real); ao vê-lo, logo entende que se trata de conspiração contra ele, que querem matá-lo (atribuição de um significado delirante à percepção normal). 
 
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Mecanismos de manutenção do delírio:
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Os tipos de delírio segundo seus conteúdos:
Delírio persecutório ou de perseguição;
Delírio de referência;
Delírio de relação;
Delírio de influência ou controle;
Delírio de grandeza;
Delírio místico ou religioso;
Delírio de ciúme e delírio de infidelidade;
Delírio erótico;
Delírios de conteúdo depressivo (ruína, culpa, negação de órgãos, hipocondríacos);
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1. Delírio persecutório ou de perseguição:
O indivíduo acredita que é vítima de um complô e está sendo perseguido por pessoas conhecidas ou desconhecidas, tais como máfias, vizinhos, polícia, pais, esposa ou marido, chefe ou colegas do trabalho (ou do ambiente estudantil). 
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A pessoa pensa que querem:
Envenená-lo;
Prendê-lo;
Matá-lo;
Prejudicá-lo no trabalho ou na escola;
Desmoralizá-lo;
Expô-lo ao ridículo ou mesmo enlouquecê-lo... 
É o tema mais freqüente dos delírios.
 
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2. Delírio de Referência:
De alusão ou auto-referência;
O indivíduo apresenta a tendência dominante a experimentar fatos cotidianos fortuitos, objetivamente sem maiores implicações, como referentes à sua pessoa. 
Diz ser alvo freqüente ou constante de referências depreciativas, caluniosas.
 
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Exemplo:
Ao passar diante de um bar e observar as pessoas conversando e rindo, entende que estão falando dele, rindo dele, dizendo que ele é ladrão ou homossexual, tudo, enfim, se refere a ele. 
Geralmente ocorre em associação com a temática de perseguição. 
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3. Delírio de Relação:
O indivíduo delirante constrói conexões significativas (delirantes) entre os fatos normalmente percebidos. Essas conexões novas surgem geralmente sem motivação compreensível. 
 
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Exemplo:
O paciente agora sabe que tudo faz sentido, os fatos se relacionam (as chuvas do verão passado, o inverno atual mais frio, etc.), indicando “que realmente a guerra dos seres alienígenas irá começar”. 
Tal tipo de delírio também apresenta colorido persecutório. 
 
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4. Delírio de influência ou controle:
Também denominado vivências de influência;
O indivíduo vivencia intensamente o fato de estar sendo controlado, comandado ou influenciado por força, pessoa ou entidade externa. 
Tal tipo de delírio também apresenta colorido persecutório.
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Exemplos:
Há, por exemplo, uma máquina (antena, computador, aparelho eletrônico) que envia raios que controlam seus pensamentos e seus sentimentos. 
Um ser extraterrestre, um demônio ou entidade paranormal controla seus sentimentos, suas funções corporais.
 
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5. Delírio de Grandeza:
O indivíduo acredita ser extremamente especial, dotado de capacidades e poderes. Acredita ter um destino espetacular, assim como sua origem e seus antecedentes indicam que ele é um ser superior. 
Dominado por idéias de poder e riqueza. 
A auto-estima pode estar extremamente aumentada. 
 
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Exemplo:
O sujeito pensa que pode tudo, que tem poderes mentais, místicos ou religiosos, além de conhecimentos superiores ou especiais. 
 
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6. Delírio místico ou religioso:
O indivíduo afirma ser (ou estar em comunhão permanente com, receber mensagens ou ordens de) um novo messias, um Deus, Jesus, um santo poderoso ou, até, um demônio.
Temáticas delirantes freqüentes em nosso meio. 
Freqüentemente apresentam aspecto grandioso, enfatizando a própria importância do sujeito que delira.
 
 
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Exemplo: 
O paciente sente que tem poderes místicos, que entrou em contato com Nossa Senhora,
com o Espírito Santo ou com o demônio, que tem missão mística ou religiosa importante neste mundo, que é portador de uma mensagem religiosa fundamental. 
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Sims (1995):
Afirma que o delírio religioso não é causado por crenças religiosas excessivas nem por interpretação de atos supostamente pecaminosos praticados no passado pelo paciente.
 
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7. Delírio de ciúme e infidelidade:
O indivíduo acometido pelo delírio de ciúmes é extremamente ligado e emocionalmente dependente do ser amado.
 O sentimento de ciúmes intenso e desproporcional em indivíduos muito possessivos e inseguros pode eventualmente ser difícil de diferenciar do delírio de ciúmes. 
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O ciúmes patológico, nesse sentido, pode ser tanto um verdadeiro delírio ou, em muitos casos, apenas uma idéia prevalente (superestimação afetiva) com temática de ciúmes.
Pacientes com intensa atividade delirante do tipo ciúmes não raramente cometem violência física ou mesmo homicídio contra o(a) suposto(a) “traidor(a)”. 
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Exemplo: 
O indivíduo percebe-se traído pelo cônjuge de forma vil e cruel; afirma que ela(e) tem centenas de amantes, que o(a) trai com parentes, etc. 
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8. Delírio erótico:
Aqui o indivíduo afirma que uma pessoa, geralmente de destaque social (um artista ou cantor famoso, um milionário, etc.) ou de grande importância para o paciente, está totalmente apaixonada por ele e irá abandonar tudo para que possam se casar.
 
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Ocorre mais entre as mulheres, e a pessoa amada geralmente é mais rica, mais velha, de status social mais alto que o da paciente. 
É relativamente freqüente que a pessoa “escolhida” seja o médico ou a médica do indivíduo. 
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Delírios de conteúdo depressivos:
São aqueles que têm temática de colorido marcadamente triste, como ruína ou miséria, culpa ou autoacusação, doenças e mesmo o desaparecimento de partes do corpo.
Intimamente associados a estados depressivos profundos. 
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Tipos mais comuns:
Ruína;
Culpa e de auto-acusação;
Negação de órgãos;
Hipocondríacos. 
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9. Ruína:
Neste caso, o indivíduo vive em um mundo repleto de desgraças, está condenado à miséria, ele e sua família irão passar fome, o futuro lhe reserva apenas sofrimentos e fracassos. 
Em alguns casos, o paciente acredita estar morto ou que o mundo inteiro está destruído e todos estão mortos 
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10. Culpa e de auto-acusação:
O indivíduo afirma, sem base real para isso, ser culpado por tudo de ruim que acontece no mundo e na vida das pessoas que o cercam, ter cometido um grave crime, ser uma pessoa indigna, pecaminosa, suja, irresponsável, que deve ser punida por seus pecados. 
É bastante característico das formas graves de depressão. 
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11. Negação de órgãos:
O indivíduo experimenta profundas alterações corporais.
 Relata que seu corpo está destruído ou morto, que não tem mais um ou vários órgãos, como o coração, o fígado ou o cérebro, suas veias “estão secas”, não tem mais nem uma gota de sangue, seu corpo secou ou apodreceu, seus braços e pernas estão se “esfarelando”. 
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Síndrome ou Delírio de Cottard:
Quando o delírio de negação de órgãos vem acompanhado de delírio de imortalidade e de enormidade. 
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Exemplos:
“Não vou morrer nunca mais, vou sofrer para o resto da eternidade”;
O paciente vivencia o corpo se expandindo, tomando conta de todo o quarto, crescendo até proporções gigantescas.
 
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12. Delírio Hipocondríaco:
O indivíduo crê com convicção extrema que tem uma doença grave, incurável, que está contaminado pelo vírus da AIDS, que irá morrer brevemente em decorrência do câncer.
Difícil de ser diferenciado das idéias hipocondríacas não-delirantes. 
 
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O que diferencia o delírio hipocondríaco da idéia hipocondríaca é a intensidade da crença, assim como a total ausência de crítica do paciente e seu envolvimento com as preocupações hipocondríacas.
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Delírios menos frequentes:
Delírio de reinvidicação (querelância);
Delírio de invenção ou descoberta;
Delírio de reforma (ou salvacionismo);
Delírio cenestopático;
Delírio de infestação (Síndrome de Ekbom);
Delírio fantástico ou mitomaníaco;
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1. Delírio de reinvidicação (ou querelância)
O indivíduo, de forma completamente desproporcional em relação à realidade, afirma ser vítima de terríveis injustiças e discriminações e, em conseqüência disso, envolve-se em intermináveis disputas legais, querelas familiares, processos trabalhistas, etc. 
Associados a questões de herança e trabalhistas (aposentadorias, direitos não-recebidos, etc.). 
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2. Delírio de invenção ou descoberta:
O indivíduo, mesmo completamente leigo na ciência ou na área tecnológica em questão, revela ter descoberto a cura de uma doença grave (da AIDS, do câncer, etc.), ou ter desenvolvido um aparelho moderno fantástico; enfim, descobertas ou invenções que irão mudar o mundo.
 
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3. Delírio de reforma (salvacionismo)
Ocorre entre indivíduos que se sentem destinados a salvar, reformar, revolucionar ou redimir o mundo ou a sua sociedade. 
Tal plano revolucionário ou salvacionista está muitas vezes fundamentado em dogma ou sistema religioso ou político, desenvolvido pelo próprio delírio. 
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4. Delírio cenestopático:
O indivíduo afirma que existem animais (cobra, rato, etc.) ou objetos dentro de seu corpo.
 Esse tipo de delírio baseia-se na interpretação delirante de sensações corporais vivenciadas pelo paciente, mas sem a temática de doença. 
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5. Delírio de infestação (Síndrome de Ekbon)
O indivíduo acredita que seu corpo (principalmente sua pele e/ou seus cabelos) está infestado por pequenos (mas macroscópicos) organismos.
 
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Relata, no mais das vezes, que há “bichinhos sob a pele”, insetos nos cabelos, vermezinhos, aranhas, etc. 
Acompanhando o delírio, podem ocorrer alucinações táteis (correspondentes aos “pequenos insetos”). 
 
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6. Delírio fantástico ou mitomaníaco:
O indivíduo descreve histórias fantásticas com convicção plena, sem qualquer crítica. 
É notável pelas histórias e narrativas fabulosas, totalmente irreais, descrições que se assemelham a contos fantásticos, ricos em detalhes e francamente inverossímeis.
 
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Referências bibliográficas:
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Psiquiátricos. Artmed. Porto Alegre, 2000. Capítulo 19.

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