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11.Artigo nudez internet suicídio

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Cognitive and Social Development ou Ethics and Phsychology
OS CASOS DE NUDEZ E A INTERNET: PROBLEMAS ÉTICOS, MORAIS E DO DIREITO
Raquel Flores de Lima; Tatiane M. Baccin Ambrós2; Alberto Manuel Quintana3;[1: Psicóloga, aluna do Programa de Pós-graduação em Psicologia - Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: quel_fl@yahoo.com.br;2;Psicóloga, aluna do Programa de Pós-graduação em Psicologia - Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: tatianeambros@yahoo.com.br; 3 Psicólogo, Pós-doutorado em Bioética, Docente da UFSM. E-mail: albertom.quintana@gmail.com; 4 Psicóloga, Doutora em Psicologia, Professora visitante da UFSM. E-mail: eve.goetz35@gmail.com; 5 Psicóloga, Doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP), Docente da UFRGS. E-mail: anacristinagarciadias@gmail.com. 6 Fonoaudióloga, Pós-doutora em Letras. Docente da UFSM. E-mail: ramos1964@uol.com.br.]
Everley R. Goetz4; Ana Cristina Garcia Dias5; Ana Paula Ramos6
Resumo: 
A busca por reconhecimento público é exacerbada na era da Internet. A prática de produzir e distribuir vídeos e fotos íntimas na Internet está sendo uma prática expressiva nos últimos anos, a prova disso está nos canais de comunicação tais como, jornais e revistas, que frequentemente publicam notícias abordando tal questão. Se por um lado, a Internet trouxe inúmeros benefícios à sociedade contemporânea, principalmente pela possibilidade de difusão instantânea de informações; por outro, trouxe problemas como e a difusão da nudez e o cyberbullying, com sérias consequências, em especial para jovens e adolescentes. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, de natureza qualitativa, que foi realizado pela técnica de levantamento documental, cujo principal objetivo consistiu na busca de notícias veiculadas na mídia sobre difusões de imagens íntimas de adolescentes na Internet, cujas consequências culminaram em bullying e/ou suicídio. Observa-se que o espaço virtual pode ser vivenciado pelo adolescente como não-real, até que este se depara consigo desnudo, exposto, tendo sua imagem corporal invadida ou banalizada. A ingenuidade ou a necessidade de autoafirmação, que podem caracterizar essa fase do desenvolvimento, permitem que os adolescentes se engajem em certa exposição íntima sem dimensionar os danos de tal comportamento. Os casos investigados sobre nudez de adolescentes e jovens divulgados na Internet estão associados à ideação, a tentativa ou o ato suicida. Concluiu-se neste estudo, que os suicídios foram consumados pelas adolescentes mais novas, dentre os casos investigadas. Este trabalho indica que na adolescência precoce pode ser difícil elaborar e enfrentar as questões relativas à exposição da própria imagem nua na Internet. 
Palavras-chave: nudez; internet; adolescência, moral; ética.
A busca por reconhecimento público é exacerbada na era da Internet. Na adolescência, essa necessidade de reconhecimento e de aceitação é ampliada. Por meio de testes que põem em questão as aprovações sobre seus comportamentos, opiniões, que muitos jovens vão construindo sua identidade (Papalia, Old e Feldman, 2006). A imagem virtual tem um significado ampliado entre os adolescentes, ganhando até mesmo, em alguns casos, da percepção de si mesmo, sendo amplamente difundida, tornando-se pública.
Muitos aspectos, detalhes, discussões, inter-relações e até questões íntimas, quando não, toda a vida sociorrelacional dos adolescentes passam pela Internet. Muitas vezes, a Internet se torna objeto de negociação entre os pais e os adolescentes, que precisam ter bom rendimento na escola, fazer as tarefas e atender às exigências dos pais, para não perder o acesso ao “mundo virtual”. Em muitos casos, a aceitação e a aprovação no mundo virtual passam a ser mais importantes para o adolescente do que qualquer outro reconhecimento, até mesmo o da família.
A prática de produzir e distribuir vídeos e fotos íntimas na Internet está sendo uma prática expressiva nos últimos anos, a prova disso está nos canais de comunicação tais como, jornais e revistas, que frequentemente publicam notícias abordando tal questão. São formas de expressão e de trocas de informações entre os jovens, mas muitas vezes, sem os devidos critérios de cuidado e de respeito ao outro, visto que, em várias ocasiões se observam problemas éticos, morais e até de direito.
Os casos mais graves em que a nudez de adolescentes é difundida sem cuidados éticos e morais, que inclusive envolvem questões de direito, são por vezes, acompanhadas de suicídio ou da tentativa deste, nos quais os jovens, em maioria adolescentes, deixam registros diretos ou indiretos (frequentemente nas redes sociais) sobre as situações que lhes causaram depreciação, sofrimento, vergonha, culpa, não vendo outras possibilidades que não seja a morte. Atualmente existe um movimento
do direito no sentido de saber como proceder nesses casos mais graves, que já são considerados como cibercrimes.
No dia 15 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou em uma votação praticamente simbólica, o Projeto de Lei 2793/11, que está sendo chamado provisoriamente de “Lei Carolina Dieckmann”, direcionado a quem infringir a lei, com esse tipo de crimes no mundo virtual, que pode enfrentar penas de três meses a dois anos de prisão, além da multa (FONTE, ano).
As adolescentes comumente repassam fotos íntimas a alguém com quem mantém um relacionamento íntimo, pela Internet, por mensagens via celular e principalmente pelas redes sociais tais como: “Facebook”, ou “WhatsApp”, “Instagran” e essa pessoa pode divulgar aos seus contatos de maneira inescrupulosa. Essa prática tem sido bastante observada, noticiada e parece estar associada a uma forma atual que alguns jovens encontram para expressar afeto ou interesse pelos pares, por meio digital, sem, contudo, dimensionar as consequências que isso pode assumir em suas vidas. Em todos os casos noticiados destes jovens, a vergonha, o medo da repressão dos pais e da sociedade aparecem de forma proeminente. Isso se constitui como um problema relacionado ao bullying no espaço virtual, mas que também perpassa por importantes questões éticas, da moral e do direito, atingindo a vida real.
Representação Social
A noção de representação social elaborada por S. Moscovici, em 1961, contempla a apropriação da teoria psicanalítica por parte de diferentes grupos sociais. O referido autor vem estudando a ampliação da perspectiva teórica da representação social, Moscovici (1978) elaborou o conceito de representações sociais a partir dos estudos de Durkheim (1858-1917) sobre o pensamento social. As representações sociais apresentam uma intenção integrativa, com pressupostos que implicam em considerar o comportamento social enquanto um comportamento simbólico, uma vez que se constitui a partir dos processos de comunicação e influência no contexto das relações interpessoais e grupais, além de uma função social e relacional (Moscovici, 2003).
Segundo Jodelet (1986) e Moscovici (1978), as representações sociais são maneiras de conhecimento do mundo, constituídas pelo agrupamento de conjuntos de significados que permitem dar sentido a novos fatos, formando um saber que é funcional e compartilhado, chamado de senso comum. Portanto, as representações sociais se relacionam a um conjunto de conceitos, afirmações e explicações originadas no dia a dia das pessoas em interação, no cotidiano.
Jodelet (2001) afirma que as representações sociais devem ser estudadas pela articulação de diversos elementos, citando dentre estes, os afetivos, os mentais e os sociais, que devem estar integrados à cognição, à linguagem e à comunicação. A autora considera ainda, as relações sociais que afetam as representações e a realidade social, material e ideativa sobre a qual elas têm de intervir.
Além disso, Jodelet e cols. (1982) afirmam que a imagem externa do corpo também fornece indicadores do lugar social onde o sujeito se insere, como um mediador do lugar social, do conhecimento de si e do outro. Assim, as representações assumem um papel importante na elaboração
de maneiras coletivas de ver e viver o corpo, assumindo assim a difusão de modelos de pensamento e de comportamento relacionados ao corpo. Esse papel das representações é preocupante na atualidade, visto que também é determinado pelas difusões midiáticas sobre o corpo, com modelos de pensamento e comportamento nem sempre apropriados. Assim, definiu-se a teoria das Representações Sociais como base teórica para fundamentar este estudo, pois esta tem sido amplamente utilizada para estudar o corpo e as questões que envolvem este objeto (Camargo, 2003; Goetz, 2013; Jodelet, 1994; Novaes & Vilhena, 2003; Serra e Santos 2003; Stenzel e Guareschi, 2002; Swain, 2001; Thomas, Press &Hagard, 2006).
Além disso, Abric (1998) considera que as representações orientam as relações sociais e as ações, determinando assim um sistema de pré-decodificação da realidade que irá determinar um conjunto de antecipações. O autor acrescente que as representações têm um papel importante na dinâmica das relações sociais e nas práticas. Este papel das representações é constituído por quatro funções essenciais: (a) função de saber, que permite que aos atores sociais adquiram conhecimentos e os integrem a um quadro assimilável e compreensível, em coerência com o funcionamento cognitivo e os valores aos quais eles aderem; (b) função identitária, que serve para manter uma imagem positiva do grupo no qual o sujeito está inserido; (c) função de orientação, que serve como uma espécie de guia para ação; (d) a função justificadora, que permite, posteriormente, que o indivíduo justifique as tomadas de posição e dos comportamentos.
Corpo e Mídia
O corpo pode ser conceituado como uma matéria, que se constitui pelos atributos biológicos, sociais, relacionais, nem inteiramente individual, nem estritamente social. Mas que também é definido por aspectos simbólicos e imagéticos, numa construção subjetiva, determinada por percepções e representações individuais e coletivas. Nessa constituição simbólica, estão implicadas ainda questões sexuais, de gênero, de reprodução, de imagem, econômicas, sociais, relacionais, dentre outras muitas determinações e representações da vida cotidiana (Andrieu, 2006).
A Mídia é estudada, pesquisada e desenvolvida pelas Escolas de Comunicação e tem o dever ético, moral de manter a população bem informada com o repasse fidedigno de todas as informações. A comunicação de massa é um tipo especial de comunicação e a televisão, os jornais e as revistas constituem importantes meios desse tipo de difusão maciça (Doise, 2001). A mídia como importante meio de difusão, tem um papel preocupante na sociedade atual, em especial no que tange às questões do corpo. Atualmente é muito difícil uma família que não esteja em contato com a mídia. As crianças, desde pequenas e cada vez mais precocemente assistem televisão, sendo expostas precocemente a muitos conteúdos indevidos ou impróprios à sua idade.
Esses meios de difusão de massa têm evidenciado de maneira preponderante o corpo, associado cada vez mais, a um produto que veicula vendas de todos os tipos, incluindo produtos, recursos técnicos e tecnológicos para o próprio corpo. Como veículo, o corpo passa a ser objetificado por um padrão, que obedece a medidas e modelos rígidos, com ênfase no magro, jovem, branco. Mas além desse padrão difundido, fica muito evidente, que os meios de comunicação de massa, utilizam-se e evidenciam o corpo nu, ou com pouca roupa, num apelo de sedução ao consumo, pelo qual o corpo é tratado como mero objeto (Goetz, 2013).
A adolescência se caracteriza por um período especial e crítico do desenvolvimento humano, no qual os sujeitos não são mais crianças, mas ainda não possuem todas as aquisições da fase adulta (Papalia, Olds e Feldman, 2006). Assim, com o corpo ainda em desenvolvimento, com certas inseguranças típicas da fase, necessidade de identificação com seus pares e de aceitação social, por vezes, colocam-se em situações difíceis, que não sabem como resolver.Assim, a cobrança interna dos jovens para atender estes critérios e conceitos de convivência, faz com que sua moral traga a noção do correto e do errado no campo inter-relacional. Essa noção traz cobranças internas que se devem a suas crenças educacionais, familiares, dentro de sua estrutura moral.
Atualmente, pode-se contar com a ferramenta da Internet, no entanto, fazer uso desse recurso de comunicação exige responsabilidade, ou seja, estar em condições de responder pelos atos praticados, justificando as ações. A responsabilidade pressupõe uma relação entre a pessoa responsável e “algo” pelo qual ela responde. No caso dos adolescentes, muitos não têm total discernimento e juízo crítico para dimensionar as consequências do que uma brincadeira, uma foto ou uma notícia que afetam a moral e os valores podem tomar nas mãos de pessoas mal intencionadas. Com isso, acabam confiando nos seus namorados, pares ou “amigos” e em muitas situações sendo expostos, ridicularizados nas redes sociais. 
Atualmente, é preciso orientar os adolescentes nesse sentido, levando-os a refletir sobre seu corpo, imagem, além de regras sociais, questões morais e éticas relativas ao corpo, principalmente frente às novas tecnologias de difusão de informação. Isso porque, o corpo é cada dia mais evidente e banalizado nesses meios como um objeto. Assim, faz-se necessária uma iniciativa de prevenção em saúde do corpo e da imagem, pois, o que é difundido no mundo virtual ultrapassa as barreiras do real, podendo acarretar em danos expressivos no ciclo desenvolvimental dos indivíduos e de suas famílias e grupos.
O Mundo Virtual e o Cyberbullying 
Desde os primórdios da sociedade o homem sentia a necessidade de interagir com outros seres humanos e, para que o fizesse de maneira bem sucedida, desenvolveu aptidões e técnicas que evoluíram através dos tempos, até culminar na criação da Internet, a maior rede de comunicações que já existiu (Garcia, 2010).
A Internet trouxe inúmeros benefícios à sociedade contemporânea, principalmente pela possibilidade de difusão instantânea de informações, sem limites geográficos como outrora. No entanto, atualmente, as ferramentas disponíveis na Internet também trazem malefícios. Um destes, diz respeito às ferramentas permitirem a propagação de comportamentos inadequados que são difundidos indiscriminadamente, tais como os típicos de bullying: maus tratos, ameaças, chantagens e discriminações, só que, nesse contexto, podem acontecer de forma anônima e não restrita à interação direta e social ou a determinado espaço de tempo (Belsey, 2005; Prados e Fernández, 2007; Neto, 2005).
O cyberbullying caracteriza-se como um tipo de violência que vem sendo observada com significativa frequência em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, devido ao aumento do uso de celulares e Internet por crianças e adolescentes (Lisboa et. al., 2009). A agressão que se dá pelo meio virtual é, na verdade, uma ofensa real; mas as distorções perceptivas e cognitivas e a banalização de julgamento moral podem reforçar o processo de cyberbullying implicar riscos importantes para o desenvolvimento de jovens na contemporaneidade (Faustino et. al., 2008). É possível considerar o cyberbullying como uma forma de violência concretizada pela linguagem praticada nos meios de comunicação virtuais (Lisboa et al., 2009).
O cyberbullying envolve o uso da informação e da comunicação tecnológicas para exercer comportamentos deliberados, repetidos e hostis por um indivíduo ou grupo, com a intenção de prejudicar os outros (Belsey, 2005; Cross et al., 2004). Tratam-se de expressões de bullying que ocorrem por meio da Internet (e-mails, chats, sites de racionamentos, jogos virtuais, facebook, dentre outros) e de telefones celulares (torpedos, ligações, fotos digitais). Esse tipo de recurso digital pode facilitar ainda mais a ocorrência da vitimização, pois o anonimato que a Internet possibilita pode encorajar os agressores a ameaçar, intimidar e humilhar os outros. O aumento desse tipo específico de bullying está relacionado ao crescente
desenvolvimento da tecnologia da informação e da comunicação digital (Belsey, 2005; Cross et al., 2004).
Os jovens veiculam sua imagem nas redes sociais e na Internet. Quanto mais são admiradas por todos, mais populares se tornam. Para o bem ou para o mal. No caso de cyberbullying, chama à atenção a violência dos comentários e a indiferença ao sofrimento do outro. Em geral, jovens que têm um perfil de afastamento social, dificuldades ou inabilidades sociais, falta de contato com o mundo podem ser os mais afetados pelo cyberbullying.
Casos em que os jovens divulgam nas mídias sociais as suas tentativas de suicídio ou se despedem em rede, conseguindo assim uma audiência – atenção – que supõem não terem durante a vida, também vêm aumentando, talvez ampliada pela indiferença ou incentivo ao ato extremo. Muitos jovens afirmam temer sofrer bullying nas redes sociais.
O fato é que, na Internet, quando a liberdade se apresenta sob a dimensão da liberdade de pensamento, de expressão ou de informação, naturalmente entra em conflito com outros princípios fundamentais, eis que é tênue a linha que determina os limites da liberdade em face de princípios como a privacidade, a intimidade, a personalidade, a moral, a propriedade intelectual, a segurança jurídica,a ética, dentre outros (Garcia, 2010).
A privacidade é composta pela intimidade e pela vida privada; enquanto a personalidade, pela honra e pela imagem. No entanto, é incoerente adotar uma dicotomia rigorosa, pois a privacidade e a personalidade estão intimamente ligadas. Por um lado, a preservação da segunda é necessária para a garantia da primeira, ou seja, sem proteção da personalidade não há privacidade. Da mesma forma, o direito à privacidade é uma manifestação do direito à personalidade porque a preservação da privacidade é um modo de proteção da imagem e da honra. Na prática, é muito comum que por meio da violação da privacidade ocorra o desrespeito à imagem ou à honra (Garcia, 2010).
Os sites de relacionamento permitem ao usuário criar páginas de Internet com apenas “um clique”, que podem ser acessadas por todos os membros daquele grupo virtual. Segundo Pinheiro (2009, p. 08), “os sites de relacionamento são fontes ricas para discussões, considerando a reunião de perfis de usuários com interesses comuns, e constituem um meio para prática de crimes pelos usuários, que podem se aproveitar de informações divulgadas na rede”. “O problema da rede é que uma imagem nela divulgada pode parar em mãos erradas” (Pinheiro, 2009, p. 25). Por exemplo, uma foto colocada pelo usuário em seu perfil eletrônico pode ser utilizada por alguém de má-fé para fazer uma montagem ou para divulgar em um ambiente impróprio. 
Ética, Moral, Direito e Internet
	Na Internet surgem com muito mais força as questões da liberdade de expressão e de comunicação, ou seja, a liberdade de manifestar seus pensamentos e crenças e a de ter acesso a todas as informações disponíveis na sociedade. Uma vez existente na Internet, todas as informações estão conectadas e a cada minuto são adicionados novos dados pelos usuários da rede, e assim surge a necessidade de busca de mais informações e de interação com a sociedade (Garcia, 2010).
A sociedade contemporânea vive imersa numa cultura pautada pela ampla circulação de imagens. No entanto, é importante salientar que foi após o surgimento de certos dispositivos, na era moderna, que as imagens começaram a ganhar uma importância cada vez maior. Tais dispositivos, como a fotografia e os jornais, produziram e multiplicaram as imagens corporais; e, desse modo, sedimentaram o domínio da visualidade sobre os demais sentidos (Barreto, 2012).
A tendência é a de que os usuários busquem o exercício de tais liberdades de modo cada vez mais intenso, o que acaba por levar ao conflito com outros direitos e garantias fundamentais. E assim, a origem das condutas delituosas na rede está no falso pressuposto de que ela é um espaço de liberdade irrestrita. Dessa forma, usuários, com fundamento em tal pressuposto, utilizam-se da rede para a prática de condutas abusivas, quando não criminosas (Garcia, 2010).
	Desse modo, a tecnologia expõe, pode transformar as pessoas em coisas, imagens ridicularizadas. E, sob o argumento de liberdade de expressão, abusa-se da exposição da vida das pessoas, expõe-se a privacidade (Asturiano e Reis, 2013). Nesses casos, o Superior Tribunal de Justiça afirma que:
A Internet é o espaço por excelência da liberdade, o que não significa dizer que seja um universo sem lei e infenso à responsabilidade pelos abusos que lá venham a ocorrer. No mundo real, como no virtual, o valor da dignidade da pessoa humana é um só, pois nem o meio em que os agressores transitam nem as ferramentas tecnológicas que utilizam conseguem transmudar ou enfraquecer a natureza de sobre princípio irrenunciável, intransferível e imprescritível que lhe confere o Direito brasileiro (Brasil, 2010).
O fato é que, na Internet, quando a liberdade se apresenta sob a dimensão da liberdade de pensamento, de expressão ou de informação, naturalmente entra em conflito com outros princípios fundamentais. Assim, observa-se que é tênue a linha que determina os limites da liberdade em face de princípios como a privacidade, a intimidade, a personalidade, a propriedade intelectual, a segurança jurídica, dentre outros (Garcia, 2010).
O principal objetivo deste estudo foi o de buscar notícias relacionadas às questões de difusão de imagens íntimas do corpo, especificamente envolvendo nudez de adolescentes, como um subsídio para ilustrar e refletir sobre algumas questões que envolvem ética, direito e moral no espaço virtual, cujas consequências podem ser danosas ao bem-estar humano ou mesmo fatais. Para tanto, foi delineado um método de investigação, considerando-se a difusão de imagens íntimas e ideias pejorativas difundidas e compartilhadas pelos grupos, ou seja, as representações sociais e os significados atribuídos socialmente ao corpo de forma negativa, a partir das novas ferramentas de comunicação possíveis pela Internet.
MÉTODO
Tratou-se de um estudo exploratório-descritivo, de natureza qualitativa, que foi realizado pela técnica de levantamento documental, cujo principal objetivo consistiu na busca de notícias veiculadas na mídia sobre difusões de imagens íntimas de adolescentes na Internet, cujas consequências culminaram em bullying e/ou suicídio.
As pesquisas exploratórias se caracterizam pela flexibilidade em considerar os mais variados aspectos do objeto, visando torná-lo mais conhecido. Conforme Gil (2002), na maioria dos casos, este tipo de pesquisa compreende uma pesquisa bibliográfica prévia ao estudo dos casos. 
As pesquisas descritivas, por sua vez, segundo Gil (2002), servem para a descrição das características da população em estudo ou de um fenômeno, ou ainda as relações que se estabelecem entre variáveis. Por meio deste tipo de pesquisa é possível levantar opiniões, identificar atitudes e crenças das pessoas. 
A natureza qualitativa da pesquisa se justifica quando não se tem uma grande extensão de dados, ou seja, a amostra é considerada reduzida e se quer compreender um fenômeno em profundidade, além de descrever fenômenos como as atitudes, os valores e as representações dos entrevistados ou acerca do material coletado (Gil, 2002).
A técnica de levantamento documental consiste na busca documentos que sirvam como fonte de dados para análise. Os documentos podem ser de tipos diversos: tabelas estatísticas, cartas, pareceres, fotografias, atas, relatórios, mapas, testamentos, inventários, notícias, etc. (Corsetti, 2006). Neste estudo, o levantamento documental foi direcionado à busca e análise de artigos veiculados na mídia impressa sobre bullying ou suicídio de adolescentes em decorrência da divulgação de fotos íntimas do corpo pela Internet. Para o levantamento documental, buscou-se analisar notícias de casos relacionados à nudez na Internet nos últimos dois anos. Pela busca, que se deu em jornais nacionais, foram selecionados artigos dos sehuintes:
“Tudo é notícia”, “G1 São Paulo”, “Folha de São Paulo”, “Jornal Luzilândia”, tendo sidoencontrados quatro casos de maior repercussão que serão relatados no item Resultados, para a análise de conteúdo categorial. 
Para a análise de conteúdo categorial, será utilizada a proposta de Bardin (2012), que sugere alguns procedimentos: leitura flutuante para pré-análise, classificação de unidades de registro (palavras); agrupamento por unidades de contexto, temas e codificação (frases e orações); exploração do material textual; e, inferência e interpretação dos resultados pela síntese de temas em categorias. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela análise de conteúdo proposta por Bardin (2012), obteve-se a partir dos casos investigados, a seguinte síntese de temáticas: 
Caso 1. As temáticas que predominam dizem respeito à nudez (foto íntima), ao descontrole emocional e à morte, especificamente ao suicídio como recurso reparador do dano (idade: 16 anos).
Caso 2. As temáticas são relativas a vídeo, nudez (imagens íntimas), violação da imagem, inconsequência da adolescência (pela fala da mãe), vergonha, pedido de desculpas à mãe, declaração de afeto à mãe, medo, percepção da finitude, suicídio como recurso reparador do dano (idade: 17 anos).
Caso 3. As temáticas dizem respeito à nudez, vídeo, abandono do trabalho, mudança de rotina, recriminação, comentários agressivos e xingamentos, necessidade de mudança na aparência, repercussões na família (idade: 19 anos).
Caso 4. As temáticas encontradas foram sobre nudez, reclusão, pornografia de vingança, dor, alívio, exposição, ideação suicida, defesa na rede (idade: 21 anos).
	Essas temáticas foram agrupadas em categorias principais que se destacaram dentre os artigos difundidos na mídia e que serviram como documentos de análise neste estudo, que são citadas a seguir: (a) difusão de imagens de nudez de adolescentes ou jovens do sexo feminino; (b) sentimentos negativos (de culpa, vergonha e medo) originários da invasão e da exposição da imagem do corpo nu; (c) necessidade de reclusão social ou mudanças (de trabalho, da rotina e da aparência) em função da difusão do corpo nu; (d) ideação suicida ou suicídio.
Ao começar a busca pelas notícias, percebeu-se o quanto é frequente o número de adolescentes e jovens que planejam ou cometem suicídio após terem suas imagens íntimas publicadas na Internet, os exemplos a seguir ilustram tal situação:
A jovem gaúcha Giana Laura Fabi, de 16 anos, foi avisada por uma amiga do colégio que uma foto em que aparece nua, havia sido espalhada pela Internet. Três horas depois, Giana foi encontrada morta em seu quarto, pelo irmão. Segundo a polícia, ela se enforcou com uma corda.
Uma adolescente, de 16 anos, foi encontrada enforcada em Veranópolis (a 176 quilômetros de Porto Alegre-RS). A suspeita da polícia é que Giana Laura Fabi tenha cometido suicídio depois de descobrir que uma foto dela seminua foi publicada na Internet (Caso 1, Tudo é notícia, 09 de janeiro de 2014).
A família relatou à polícia, a possível ligação do suicídio com a foto. A jovem foi achada em casa já morta, no dia 14 de novembro de 2013, enforcada com um cordão de seda. Segundo o delegado Marcelo Ferrugem, um amigo da adolescente repassou a foto em uma mensagem privada numa rede social. Na imagem, Giana mostra os seios. Uma amiga da adolescente, que recebeu a foto, alertou Giana. A colega contou à polícia que a jovem ficou transtornada. Naquela tarde, ainda segundo o delegado, a mesma amiga viu uma mensagem de Giana num microblog em que dizia que daria um fim à própria vida para não ser um estorvo para ninguém. Ela tentou diversas vezes falar com Giana por telefone, mas ninguém atendeu.
Observa-se por meio do relato desse caso, que para a adolescente Giana, o mundo pareceu ter ruído após descobrir que sua foto seminua havia vazado na Internet. Uma espécie de morte simbólica, que para o adolescente envolve a perda de valores, da moral, e possível receio do julgamento familiar e social devem estar subjacentes. A única estratégia de enfrentamento que Giana encontrou foi o suicídio. Para o adolescente, a vergonha e a culpa podem ser demasiadas, sem um recurso interno suficientemente desenvolvido para o enfrentamento e a elaboração da situação, que é vista como irreversível. Assim como também é visto o poder das redes sociais em propagar informações, que é muito alto e pode gerar situações irreversíveis (Morais, 2014).
E isso na maioria dos casos ocorre porque a vítima não tem uma correta orientação prévia do que suas postagens pessoais podem causar e ao se deparar com a realidade, aspectos de suas vidas já estão em evidência, disponíveis na rede, a todas as partes do mundo, gerando uma série de sentimentos como: culpa, arrependimento, vergonha, isolamento social, dentre outros, o que compromete a saúde mental destes indivíduos devido à prática do cyberbullyng (Morais, 2014).
O delegado da cidade ouviu o rapaz de 17 anos, apontado como quem postou as fotos. Ele confirmou que a captação da imagem ocorreu há seis meses, durante uma conversa dele com Giana pelo Skype. Ele pediu a ela que mostrasse os seios e, nesse momento, gravou a imagem em formato de foto. Foi essa foto que repassou a outros quatro amigos, segundo disse em depoimento. 
Observa-se a ingenuidade da adolescente envolvida no caso. Por vezes, os jovens mesmo divulgam aos pares suas fotos íntimas, e não conseguem prever as consequências de seus atos, mas nesse caso, parece que a adolescente não imaginava que a sua imagem seminua havia sido captada pelo rapaz. E o que dizer da postura ética e moral do rapaz?
Percebe-se que com a evolução das tecnologias, novos problemas éticos, morais e de direito surgiram, dentre estes, destaca-se a falta de privacidade, que pode ser vista pela da apropriação indevida que determinadas pessoas fazem dos conteúdos alheios. E como se não bastasse, esse tipo de apropriação, pode vir seguido de ameaças, chantagem emocional, humilhação e intimidações que podem ser usados contra a privacidade das pessoas (Morais, 2014).
Outro caso semelhante, designado pelo número 2, foi o de Júlia Rebeca, adolescente de 17 anos em Parnaíba (PI), a mãe da garota encontrada morta em seu quarto após ter um vídeo íntimo compartilhado na Internet, diz que, a exposição das imagens da filha, configuram uma “violação”. Em entrevista ao Fantástico por telefone, a mãe Ivânia Salia diz que não sabia o que estava acontecendo com a filha. “Ela não demonstrou nada, nada. Todo adolescente tem o direito de ser adolescente. Eles são inconsequentes mesmo. Essa exposição toda, do vídeo, da imagem da minha filha, é uma violação.”
A fala da mãe decodifica a questão da possível inconsequência na atitude da adolescente frente à exposição das próprias imagens, no entanto, ressalta a questão da violação. A violação é do corpo, mas também envolve questões subjetivas, relacionadas a valores, moral, ética e ao direito. 
Júlia Rebeca, que morava em Parnaíba, no litoral do Piauí, gravou um vídeo de sexo com uma garota e um rapaz, ambos menores de idade. As imagens foram distribuídas por celulares na cidade. Envergonhada após o compartilhamento do vídeo, ela se despediu da mãe em uma rede social. “Eu te amo, desculpa-me não ser a filha perfeita, mas eu tentei... desculpa, desculpa, eu te amo muito”, postou a garota. Antes, Julia havia publicado a seguinte mensagem: “É daqui a pouco que tudo acaba”. A última mensagem deixada na rede foi: “Tô com medo, mas acho que é tchau pra sempre”. De acordo com a polícia, a jovem de 17 anos foi encontrada pela tia em seu quarto com o fio da prancha alisadora enrolada em seu pescoço no dia 10 de novembro de 2013 (Fonte: G1 Piauí, 2013).
Novamente questões de vergonha, culpa, que levam o adolescente a atitudes drásticas. Nos casos de suicídio de adolescentes, pode-se compreender o ataque ao corpo sendo vivido como um ataque a algo externo. Neste caso, morrer poderá significar apenas matar o corpo-ameaçador, porém, não necessariamente a morte da mente, levando-se em conta que o adolescente
nestes casos demonstra não possuir um ego tão fortalecido, o que evidencia a forma drástica como reagem a certas situações nas quais buscam como solução a morte do seu “corpo” (Outeiral, 2003).
A inconsequência de atitudes e escolhas também demonstra que o adolescente só dimensiona os danos de sua exposição exagerada, depois que verifica a perda de controle sobre sua própria imagem. Essa questão pode ser compreendida se pensarmos que o adolescente vive contradições sucessivas em todas as suas manifestações de conduta, sendo que o que é bom hoje pode não ser amanhã. É a projeção do mundo externo da ambiguidade, da identidade e do mundo interno do adolescente, que fazem com que eles tenham necessidade de experienciar coisas diferentes, com gostos e desejos, por vezes, imprevisíveis (Outeiral, 2003). 
A inconsequência de atitudes e escolhas também demonstra que o adolescente só dimensiona os danos de sua exposição exagerada, depois que verifica a perda de controle sobre sua própria imagem. A questão do ideal de perfeição atribuído às expectativas maternas é outro aspecto de relevância, por suas próprias características, a puberdade e a adolescência vão colocar em evidência essa problemática de dependência, que tem suas raízes nas relações precoces do bebê com a mãe (Autor, ano?). 
O caso de número 3, ocorrido no final de 2013, foi de Francielly, uma vendedora de 19 anos, de Goiânia, teve um vídeo, em que aparece nua, compartilhado na Internet sem sua autorização. Embora seja vítima, Fran, como ficou conhecida, teve que abandonar o trabalho em uma loja e mudar toda a sua rotina (OABRJ digital, 2014).
A reação daqueles que assistiram ao vídeo, que se tornou viral, foi de recriminar a moça, com comentários agressivos e até xingamentos, e repassar as imagens, tornando a situação insustentável para ela e sua família. Fran deixou o emprego e mudou de aparência para se livrar do excesso de exposição, e ainda denunciou o caso à polícia: o processo deve seguir para julgamento possivelmente este ano.
O receio do julgamento social confirma-se no caso da Francielly, talvez por isso seja tão difícil para o adolescente, ele parece perder a sua imagem ideal, do bom filho, bom funcionário, e a atitude do grupo social, nesse caso, reforça isso. O nu é difundido e melhor aceito para os famosos, mas não para as pessoas comuns, gerando um conflito sociorrelacional intenso no cotidiano. Isso compromete as funções das representações sociais, em especial a justificadora, pela dificuldade de justificativa dos comportamentos.
Não há dúvidas de que o instinto gregário, que impulsiona a existência social no mundo, é o que conduz a fazer parte de experiências associativas e coletivas, movendo os indivíduos, também, a tomar parte das novas formas de sociabilidade que a virtualização da vida oferece e que, muitas vezes, conduz à exposição sem limites, tudo para reforçar os sentirmos de pertencência a determinado grupo. Possuir perfis em sites na Internet, participar de redes sociais, de fóruns, e utilizar aplicativos de comunicação para fazer circular, nesses espaços, dados e informações registradas em fotografias, vídeos e textos, tornou-se o meio para demarcar presença no ciberespaço. É desse modo, que os indivíduos são condicionados a produzir e a compartilhar toda uma documentação sobre si mesmos, cujo alcance pode estar para além daqueles com quem se relacionam efetivamente no mundo real concreto (Da Silva Ferreira, 2014).
E pelo que essa realidade sugere, o conceito de intimidade e de privacidade está se relativizando na sociedade da informação, na medida em que se faz circular, diariamente, grandes volumes de dados e de informações pessoais. Conscientes, ou não, do que isso implica, assumem-se os perigos e os riscos quanto ao modo como esse material pode ser capturado e utilizado por terceiros, contra os próprios indivíduos como forma de violência mediada pelas tecnologias da informação (Da Silva Ferreira, 2014).
Em novembro, outro caso também foi noticiado, como o da aluna da Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo (USP) Thamiris, 21 anos, designado neste estudo como caso 4, que também passou a viver de forma mais reclusa após ter uma foto nua divulgada na rede social. Conforme ilustra o recorte da notícia divulgada: “Uma estudante de Letras da Universidade de São Paulo (USP), vítima de um novo caso de “revengeporn” – pornografia de vingança, decidiu responder ao agressor por meio de um desabafo no Facebook” (G1 São Paulo, 2013).
A postagem de Thamiris Natalie, de 21 anos, já obteve mais de 2 mil compartilhamentos e parece ser uma tentativa da jovem de aliviar a dor causada por se ver exposta na rede mundial de computadores, sem defesa à altura. Na publicação, ela conta que chegou a pensar em suicídio, mas optou por usar as redes sociais e se defender contra as agressões de Kristian Krastanov, 26 anos, seu ex-namorado.
O suicídio novamente aparece como uma opção para a solução, mas o que se observa, é que a jovem Thamiris tomou uma atitude diferente, de autodefesa e de tentativa de enfrentamento para a elaboração do ocorrido. Talvez a idade tenha sido determinante nesse caso, pois, a jovem está numa etapa evolutiva do desenvolvimento diferenciada em relação às dos outros casos, na qual, em geral, observa-se melhor estruturação em função de ter mais maturidade e maior estruturação egóica. Assim, ela consegue suportar a destruição simbólica de sua imagem, e parte para uma tentativa de reconstrução da função identitária de sua representação junto ao grupo.
O modo ingênuo de lidar com o uso das TICs (escrever o significado da sigla), permitindo relações com o(s) outro(s) no ciberespaço, por vezes, expõe demasiadamente, faz parte de um processo recente e longo de aprendizado para se viver em uma sociedade na qual as interações humanas tendem a se virtualizar, o que implica, também, que se aprenda a lidar com os perigos e os riscos envolvidos nesse processo. Inclusive com aqueles que colocam os indivíduos diante de situações potenciais de violência/ ciberviolência (Da Silva Ferreira, 2014).
Maiores de idade que repassam as imagens podem responder pelo crime previsto no Art. 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por divulgar cenas impróprias envolvendo menores de idade. A pena varia de três a seis anos de prisão, pela Lei Carolina Dieckmann. Existe sempre aquela parcela da sociedade que considera que a vítima, ao se expor, estaria 'buscando' por isso. Os autores desse tipo de crime vêm sendo autuados de acordo com a Lei Maria da Penha, por não haver, no Brasil, legislação específica para este tipo de crime praticado no meio digital. Morais (2014, p. 26) pontua que:
[...] a lei que ficou conhecida como Carolina Dieckmann (a atriz teve seu computador invadido por um hacker), a Lei 12.737/12 - que criminaliza "a invasão de computadores para obter vantagem ilícita, como a falsificação de cartões de crédito e a interrupção de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública" - entrou em vigor em abril de 2013. Porém, a proposta não prevê este tipo de conduta criminosa. "Ao contrário do que muitos pensam, essa lei pode até ser aplicada aos casos envolvendo aspectos sexuais, mas não foi elaborada especificamente para isso.”
Apesar das consequências asseguradas em lei para quem pratica este tipo de ação, violando a privacidade e a intimidade das pessoas, os traumas psicológicos acarretados, dificilmente serão apagados das mentes das vítimas, uma vez que as consequências psicológicas e sociais são intensas devido à exposição exacerbada da intimidade destas (Morais, 2014).
Como forma reconfigurada da violência no ciberespaço, entende-se que a ciberviolência existe como realidade obtida a partir do crescimento do desenvolvimento científico e tecnológico, que permitiu (re)produzir questões da vida privada em uma espécie de não lugar, sobre o qual não se tem a propriedade e, ainda assim, procura-se construir nele um mundo para si, onde se possa expressar e
experienciar, com o(s) outro(s), aquilo que se tem de mais íntimo (Da Silva Ferreira, 2014).
Conforme postula Jodelet e cols. (1982), a imagem do corpo como mediadora do lócus social, de conhecimento de si e do outro, acontece com frequência com os adolescentes, que precisam do olhar do outro, da aprovação dos amigos e grupos sociais, também tem uma representação semelhante no ciberespaço. Estas jovens veem suas imagens simbolicamente destruídas pelo outro no espaço virtual, o reconhecimento de si fica comprometido pelo olhar do outro, pela exposição íntima e pela invasão do corpo imagético, comprometendo a função identitária da representação frente ao grupo.
Após a análise destes casos investigados, percebe-se que as vítimas mais novas, com idade entre 16 e 17 anos, recorreram ao suicídio. Isso pode estar associado ao fato de que, nessa etapa evolutiva, ainda não possuam suficiente plasticidade e estruturação egóica, o que dificulta encontrar formas mais equilibradas e saudáveis para enfrentamento da vergonha e culpa de enfrentar o julgamento social, os pais, a sociedade (Outeiral, 2003). Assim, não encontram, muitas vezes, outra forma de lidar com esse sofrimento, a não ser o suicídio.
	Enquanto que, as jovens com idade entre 19 e 21 anos demonstraram que conseguem se “defender” querendo justiça e punições aos culpados como no caso de Thamiris Natalie, de 21 anos, que respondeu ao agressor com um desabafo e denúncias na própria rede; e da jovem Francielly, de 19 anos, que necessitou alterar sua rotina, sua imagem, enfrentando a situação pela mudança de cidade e pela reivindicação de seus direitos judicialmente, depois que as fotos foram divulgadas na Internet. Ou seja, estes casos confirmam, que nessa etapa evolutiva, os jovens podem demonstrar a capacidade mais elaborada e a maior plasticidade egóica para o enfrentamento desse tipo de situação.
	 Os adolescentes precisam constantemente da aprovação do outro, na atualidade, a mídia, por exemplo, torna-se símbolo forte, enquanto um fator cultural influenciador, na construção da identidade dos jovens. A mídia invade o cotidiano das pessoas por meio da televisão, Internet, sites de divulgação, que incrementam a difusão maciça das representações sociais, e acabam levando muitos adolescentes a se comprometerem com o ditame de certos valores que, consequentemente, passam a ser introjetados pelos jovens e contribuem inegavelmente para um aprendizado sobre modos ao qual devem comportar-se, ou mesmo, constituírem-se enquanto sujeitos.
	 A mídia produz “verdades” de modos de existência e de vida, organiza formas sensacionalistas, produz identidades, mas possui prós e contras. Um dos aspectos positivos, refere-se a organizar os múltiplos fluxos de acontecimentos e informações, elencando os mesmos, permitindo o acesso do público ao conhecimento e, portanto, discussões e debates. Mas, por outro lado, no sentido negativo, cristaliza ideias, reduz, condensa ou mesmo distorce o conhecimento que é levado ao público e produz grande influência nas representações sociais, enquanto impõe normas e regras, ícones e heróis, que nem sempre são positivos ou demonstram atitudes saudáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O espaço virtual pode ser vivenciado pelo adolescente como não-real, até que ele se depara consigo desnudo, exposto, tendo sua imagem corporal invadida, banalizada, ou seja, pela ingenuidade ou necessidade de auto afirmação ele permite certa exposição íntima sem dimensionar os danos reais. Como a adolescência é uma fase crítica, quando perde o controle sobre sua própria imagem, isso pode acarretar em consequências desastrosas em sua vida. Percebe-se que a vida das pessoas fica afetada, marcada de maneira traumática, seja dos familiares que tiveram a perda de suas filhas ou dos jovens que de alguma forma tiveram que mudar seus hábitos, aparência, rotinas por causa das exposições.
O olhar alheio que levou ao constrangimento, medo, culpa, julgamento social, nestes casos, foi demasiado relevante para a elaboração da imagem corporal que fora destruída, repercutindo na representação de si e do mundo destas jovens e adolescentes. Então, as novas ferramentas de inter-relação virtuais, podem se constituir como recursos favoráveis à difusão de imagens e de representações sociais do corpo, permitindo a projeção do corpo simbólico, a interação social instantânea e a integração grupal, tão vital na adolescência e juventude. Contudo, no sentido contrário, pode favorecer a propagação de representações negativas, depreciativas, e até criminosas. Como no mundo real, no virtual não se pode garantir que as atitudes dos indivíduos sejam sempre regidas pela moral, ética e valores sociais, até porque neste ambiente o anonimato é favorecido, constituindo-se em campo fértil aos que desejam prejudicar, difamar, destruir simbolicamente o outro. 
	Por meio deste estudo, apesar de suas limitações, levanta-se a hipótese de que quanto mais novas as adolescentes, maior o risco de suicídio e de danos graves ao desenvolvimento, quando são vítimas de crimes virtuais relacionados ao corpo nu ou à sexualidade. Sugere-se que esta hipótese possa ser melhor investigada e os resultados servirem de subsídios a estudos posteriores.
	A banalização e objetificação do corpo e da imagem são cada vez mais frequentes na sociedade contemporânea, e é indiscutível questionar o papel da mídia, em especial pelo papel que exerce sobre o público mais jovem, enquanto vetor de difusão maciça de informações, regras e normas sociais para o corpo, visto que estas, nem sempre estão amparadas em questões éticas e morais. As funções das representações sociais ficam nitidamente comprometidas nos casos discutidos neste estudo, em especial as de identificação com o grupo, pela impossibilidade de manutenção de uma imagem positiva; e a justificadora, quando estas jovens encontram dificuldades ou nem mesmo conseguem justificar suas tomadas de decisão e seus comportamentos. 
Somado a isso, encontra-se a necessidade de um enfoque e de atenção nessa questão relativa à nudez na Internet, sendo este um ambiente de fácil acesso entre os adolescentes e jovens, e com o incremento de facilidade para a efetivação de novos crimes conforme as realidades citadas neste artigo. Dessa maneira, observa-se a necessidade de ações imediatas por meio de campanhas educacionais, criação de estratégias de apoio a vítimas e familiares, e implantação de novas políticas públicas e legislações direcionadas às vítimas a tal problemática social. É perceptível que o diálogo e a informação aparecem como recursos apropriados e imediatos contra esses danos morais, e que podem comprometer a integridade de adolescentes e jovens.
	É hora de se discutir, de aprofundar as reflexões éticas a esse respeito, de interagir e trazer este assunto para as famílias, escolas, igrejas e comunidade. De exigir que se tenham leis específicas e voltadas a esse tipo de crime. Além de dar apoio emocional e psicológico, deve-se priorizar a busca de melhores intervenções para os casos desse tipo, a fim de proteger a vida, a essência de toda a ética e a moral.
Portanto, há necessidade de ampliação de estudos, especialmente abrangendo as áreas da psicologia, da ética, do serviço social e do direito, com levantamentos e análises ampliados para que se possa compreender com mais profundidade a extensão e os possíveis danos ocasionados pelos crimes no âmbito virtual, que podem causar perdas irreparáveis e que precisam ser tratadas com seriedade e competência, pois, o crime virtual extrapola o mundo real do indivíduo, podendo devastá-lo.
REFERÊNCIAS	Comment by Eve Goetz: Conferir se todas as referências do texto estão aqui...
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