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8.Artigo Bioética. (1)

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PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 9, nº 1, p. 115-120, Jan./Jun. 2008 115
A bioética nas intervenções em psicologia da saúde
Prisla Ucker Calvetti – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Jossiele Fighera – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Marisa Campio Muller – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Resumo
A Psicologia da Saúde, campo de estudo aplicado em relação ao processo saúde-doença, vem desenvolvendo pesquisas 
e intervenções nos serviços de saúde. Entretanto, faz-se necessário a reflexão do psicólogo em relação aos aspectos 
éticos envolvidos na prática da psicoterapia e pesquisa. A atuação do profissional neste contexto caracteriza-se pela 
interdisciplinaridade, e em função disso torna-se relevante a abertura de espaços de discussão nos centros de saúde, no 
intuito de desenvolver a proposta de estudo de casos referentes aos aspectos éticos presentes nas circunstâncias cotidianas 
da prática profissional. Atualmente, a Bioética tem sido foco de atenção de pesquisadores e profissionais, sendo sua 
inserção fundamental na reflexão das questões que envolvem o processo saúde-doença em clínicas, hospitais e unidades 
básicas. Para tanto, este artigo visa discorrer acerca dos princípios éticos implicados na prática da psicoterapia e demais 
intervenções em saúde. 
Palavras-chave: Psicologia da saúde; bioética; ética.
The bioethics at the interventions in health psychology
Abstract
Health Psychology, as an area of applied study in relation to the process health-disease, has developed researches and 
interventions in the health services. However, it is necessary that the psychologist rethinks about the ethical aspects 
involved in the psychotherapy and research practices. The performance of the professional in this context is distinguished 
by its interdisciplinary characteristic and, in consequence, becomes relevant the creation of spaces for debates about 
health services in order to develop the proposal of the studies concerned with the ethical aspects present in the daily 
circumstances during the professional practice. Nowadays, Bioethics is the center of attention of researchers and health 
professionals. Its insertion is fundamental considering questions about the process health-disease in medical centers, 
hospitals and health basic service. Therefore, this paper aims to argue about the ethical principles involved in the 
psychotherapy practice and the interventions in the health services.
Keywords: Health psychology; bioethic; ethics.
La bioética en las intervenciones en psicología de la salud
Resumen
La Psicología de la Salud, campo de estudio aplicado en relación al proceso salud-enfermedad, viene desarrollando 
investigaciones e intervenciones en los servicios de salud. Pese a eso, es necesaria una reflexión por parte del psicólogo 
en relación a los aspectos éticos envueltos en la práctica de la psicoterapia e investigación. La actuación del profesional 
en ese contexto se caracteriza por la inter-disciplinaridad, y en función de eso se torna relevante la abertura de espacios 
de discusión en los centros de salud, con el objetivo de desarrollar una propuesta de estudio de casos referentes a los 
aspectos éticos presentes en las circunstancias cotidianas de la práctica profesional. Actualmente la bioética ha sido foco 
de atención de investigadores y profesionales, siendo su inserción fundamental en la reflexión de las cuestiones que 
envuelven el proceso salud-enfermedad en clínicas, hospitales y unidades básicas. Para eso, este artículo visa discurrir 
sobre los principios éticos implicados en la práctica de la psicoterapia y demás intervenciones en salud. 
Palabras clave: Psicología de la salud; bioética; ética.
Introdução
Durante o século passado, o modelo biomédico 
tornou-se hegemônico e estava presente na maior parte 
das práticas de saúde. No entanto, devido ao crescente 
desenvolvimento tecnológico e mudanças com relação 
aos padrões das doenças, diminuição de doenças infec-
ciosas decorrente de medidas preventivas e aumento 
das denominadas doenças crônicas ou funcionais, nas 
últimas décadas, destaca-se a importância dos aspectos 
Endereço para correspondência: 
Rua Xavier da Cunha, 999 - ap. 228, Cristal, Porto Alegre, RS, 90830-430, E-mail: prisla.calvetti@gmail.com
116 Prisla Ucker Calvetti, Jossiele Fighera, Marisa Campio Muller 
PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 9, nº 1, p. 115-120, Jan./Jun. 2008
psicossociais – por meio dos estilos de vida – com re-
lação às práticas de saúde. Como conseqüência disso, 
surge a relevância da interdisciplinaridade e a inserção 
da psicologia nesse novo contexto (Remor, 1999; 
Traverso-Yépez, 2001; Straub, 2005). Desse modo, o 
presente artigo discute a interface Psicologia da Saúde 
e a Bioética nas intervenções psicológicas. 
Nas últimas décadas, as discussões sobre temas 
relacionados a vida-morte têm suscitado a reflexão 
e discussão sobre os aspectos que se relacionam ao 
avanço tecnológico e a relação profissional-paciente. 
Entre os temas em discussão estão a eutanásia, o aborto 
e os transplantes (Torres, 2003).
Para Gobbetti e Cohen (2005), a bioética propõe 
uma reflexão sobre essas novas descobertas que vêm 
sendo realizadas, principalmente na área das ciências 
biológicas. Isso significa dizer que, junto com todos os 
avanços científicos e benefícios das novas tecnologias, 
existem também sérias questões éticas que devem ser 
pensadas e discutidas. 
O termo bioética foi criado no ano de 1970 pelo 
professor, biólogo e oncologista Van Resselaer Pot-
ter, que tinha como objetivo integrar os diferentes 
aspectos das ciências naturais com as ciências huma-
nas por meio da ética, a fim de discutir as questões 
relacionadas a sobrevivência da humanidade diante 
dos desafios propostos entre os aspectos ecológico 
e tecnológico.
Segundo Clotet (2005), a bioética não possui no-
vos princípios éticos fundamentais. Trata-se da ética 
estudada na história da filosofia, mas aplicada a novas 
situações devido ao progresso científico no âmbito 
da saúde. Faz-se necessário destacar a importância 
do consentimento informado no desenvolvimento de 
pesquisas com seres humanos, apelando para o aper-
feiçoamento deste na teoria e na prática.
No âmbito da saúde, a bioética refere-se às questões 
relacionados a vida, a relação profissional-paciente e 
em relação a pesquisa com seres humanos. Além disso, 
aborda a ética das questões sociais e dos problemas 
ambientais. Desse modo, existem princípios básicos da 
bioética que devem nortear a assistência e a pesquisa 
do profissional da saúde diante das questões da vida 
humana: beneficência, não-maleficência, autonomia e 
justiça (Clotet, Feijó & Oliveira, 2005).
A beneficência é entendida como sendo a oferta da 
melhor assistência ao paciente, como prevenir, remover 
ou evitar o malefício. Avaliam-se vantagens, custos, ris-
cos e benefícios. Já o princípio de não-maleficência sa-
lienta que os atos diagnósticos ou terapêuticos devem, 
além de não causar, evitar o dano em maior medida. O 
princípio da autonomia refere-se ao respeito ao direito 
da pessoa quanto a capacidade de decidir livremente 
sobre o consentimento ou a recusa de tratamento. Esse 
princípio pressupõe a capacidade de entendimento do 
outro e de comunicação do profissional. Já o princípio 
da justiça refere-se ao fato da população assistida não 
adquirir riscos desproporcionais, sendo a assistência 
também direito desta.
No que diz respeito aos aspectos éticos em psiquia-
tria, Pitta (2001) aponta a escuta e a responsabilidade 
como os dois principais pontos. O ato psicológico de 
ouvir o outro e buscar decifrar seus códigos, nem sem-
pre claros, relaciona-se a necessidade de uma escuta 
ativa, de não fazer-se indiferente. Com relação à ética 
da responsabilidade, faz-senecessário o fornecimento 
da assistência tanto do ponto de vista jurídico, técnico 
e administrativo, como a reflexão e discussão das in-
tervenções objetivando seu aprimoramento. 
A Psicologia da Saúde, além da visão interdisci-
plinar, direciona-se para os aspectos de qualidade de 
vida do ser humano no processo saúde-doença. Essa 
preocupação refere-se a um movimento dentro das 
ciências humanas e biológicas no sentido de valorizar 
princípios éticos tanto quanto o controle de sintomas, a 
diminuição da mortalidade ou aumento da expectativa 
de vida (Seidl & Zannon, 2004).
A partir de 1978 a American Psychological As-
sociation (APA) oficializa a nova área da ciência 
psicológica, a Psicologia da Saúde. Para Suls & 
Rothman (2004), esse novo campo de estudo é bas-
tante complexo e necessita acompanhar as evoluções 
tecnológicas e científicas presentes no âmbito da 
saúde, pois as descobertas requerem novas formas de 
intervenção e atuação por parte do psicólogo. Dentre 
essas descobertas, estão a medicação antiretroviral 
para os portadores de HIV, a fertilização assistida, 
os transplantes, entre outras. Estas têm auxiliado na 
melhoria da qualidade de vida dos pacientes e requer 
por parte do psicólogo um entendimento mais abran-
gente dos aspectos biopsicossociais que envolvem o 
processo saúde-doença. 
As descobertas despertam nos profissionais de 
saúde a necessidade de discussão sobre as questões 
éticas que envolvem a vida – nascimento, doença e 
morte – tais como a genética e transplantes de órgãos 
e tecidos. Qual a finalidade da prática de determinado 
procedimento? Quais os benefícios e maleficência 
A Bioética nas intervenções em Psicologia da Saúde 117
PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 9, nº 1, p. 115-120, Jan./Jun. 2008
que essa decisão pode acarretar na vida da pessoa? 
O indivíduo obteve todas as informações necessárias 
para a sua tomada de decisão, como um procedimento 
cirúrgico ou início de um tratamento medicamentoso 
e/ou psicológico? No campo da Psicologia da Saúde, 
o profissional tende a estar implicado no desenvolvi-
mento do conhecimento, o que requer a sua atenção 
para os princípios da Bioética em intervenções (Keefe 
& Blumenthal, 2004; Saab, McCalla, Coons & cols., 
2004).
De um modo geral, pode-se compreender a Psi-
cologia da Saúde como sendo uma prática que atua 
para a integridade da saúde do paciente em todas as 
suas dimensões física, mental e social. Além disso, 
considera a compreensão psicossomática da pessoa na 
intervenção psicológica (Camon, 2000). Esse campo 
visa ao estudo das relações entre comportamento e 
saúde no enfoque da promoção da saúde, prevenção 
e auxílio no tratamento de doenças. É preciso refletir 
acerca da formação profissional, da postura ética e 
do desenvolvimento de pesquisas na área (Miyazaki, 
Domingos, Valerio, Santos & Rosa, 2002).
O interesse na área da saúde ampliou as possibilida-
des de intervenções do psicólogo para além da clínica 
do consultório, direcionando-se para intervenções em 
serviços de saúde privados e públicos. Esse movimento 
sugere a necessidade de uma intervenção interdisci-
plinar e ética com a responsabilidade de auxiliar na 
adesão a tratamentos e redução do impacto da doença 
sobre o funcionamento do indivíduo (Gioia-Martins 
& Rocha, 2001). 
O psicólogo, quando inserido nos serviços de 
saúde, tem sua prática atravessada por vivências de 
grandes significados na vida das pessoas, tais como 
o nascimento, a doença e a morte. A presença destas 
experiências tende a gerar ansiedades, medos, tristeza 
e crises existenciais, já que esses aspectos, muitas 
vezes, impõem ao profissional dúvidas com relação 
a questões éticas implicadas no processo (Medeiros, 
2002). 
São inúmeras as situações em que o psicólogo pre-
cisa refletir sobre até que ponto deve manter o sigilo e 
a privacidade de seus atendimentos perante a família 
e a equipe interdisciplinar. O que deve constar no 
prontuário? Como agir diante de atitudes eticamente 
incorretas de colegas? Quando quebrar o sigilo? Deve-
se quebrar o sigilo em caso de violência a menores? 
E em relação ao diagnóstico do HIV, o (a) parceiro 
(a) tem o direito de saber sobre a soropositividade do 
companheiro (a)? Tendo em vista uma ampla gama de 
questões sobre o sigilo e a privacidade nos contextos 
de saúde, faz-se necessário que o psicólogo discuta e 
reflita acerca dos aspectos éticos referentes a prática 
da psicoterapia e discussão de casos com a equipe nos 
serviços de saúde. 
A interface entre psicologia da saúde e bioética
A formação do psicólogo necessita ampliar-se para 
a discussão das questões éticas relacionadas a saúde e 
integrar-se no posicionamento dos aspectos psicosso-
ciais que envolvem este âmbito (Castro & Bornhold, 
2004). Dessa forma, Gioia-Martins e Rocha (2001) 
salientam a importância do currículo acadêmico do 
psicólogo caminhar rumo à responsabilidade social e 
compromisso com a ética.
Atualmente, observa-se um aumento significativo 
no interesse pela publicação de trabalhos referentes a 
formação, treinamento, prática e ética do psicotera-
peuta. Estudo realizado por Abreu, Piccinini, Cacilhas, 
Thahtman e Thormann (2000), considerando trabalhos 
publicados em relação ao tema da psicoterapia no 
Brasil, no período de 1980 à 1998, indica que, em re-
lação ao tema do exercício profissional, a maioria dos 
artigos objetivaram a questão da ética. Os problemas 
apontados como graves nos estudos foram referentes 
ao aspecto ético da confidencialidade, tais como da-
nos a terceiros ou ao próprio paciente, negligência e 
envolvimento sexual. 
Para Contini (2001), a formação é considerada 
como o período de acesso ao conhecimento teórico 
produzido pela ciência e de desenvolvimento da apren-
dizagem básica sobre o fazer psicológico. O psicólogo 
que trabalha em instituições de saúde, conforme Me-
deiros (2002), deve pautar a sua postura pelo Código 
de Ética Profissional, bem como agir conforme suas 
convicções pessoais, valores e princípios da formação 
pessoal e profissional. Além disso, deve também estar 
atento aos valores éticos que norteiam a comunidade. 
Para tanto, a ética envolve uma postura reflexiva e de 
respeito à pessoa que se direciona para além da atitude 
coercitiva sobre a moral ou do Código de Ética.
No entanto, de acordo com Capitão (2005), os 
códigos de ética não são cristalizações eternas e imu-
táveis. Os códigos nada mais são do que o resultado 
das reflexões sobre a prática profissional, e, conside-
rando a crescente abertura de novos campos de tra-
balho para a atuação do psicólogo, é possível que os 
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PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 9, nº 1, p. 115-120, Jan./Jun. 2008
profissionais se deparem com novas situações-limite 
que criem sérios dilemas éticos a serem discutidos. 
Especialmente o psicólogo que trabalha na área da 
saúde, com pacientes que convivem com importantes 
sofrimentos físicos, deverá estar bem preparado para 
enfrentar situações difíceis sob o ponto de vista ético. 
Além disso, para que nossa prática seja respeitada 
como ciência ante outros profissionais da equipe 
de saúde, deslizes éticos, de qualquer natureza, não 
podem ser cometidos.
De acordo com Goldim (1998), uma formação não 
adequada compromete o atendimento ao paciente, 
sendo a educação continuada e os treinamentos em 
serviço formas eficazes de lidar com esse problema. 
A prática da psicoterapia sugere que o psicólogo deva 
agir buscando a melhora do paciente e priorizando os 
aspectos éticos de privacidade e confidencialidade das 
informações, no intuito de estimular a sua autonomia 
e participação ativa no processo.
Outro aspecto referente à prática da psicoterapia 
nos serviços de saúde é o acesso ao atendimento,destacando-se, nessa circunstância, o princípio da 
justiça. As pessoas com menos disponibilidade de 
recursos financeiros muitas vezes são atendidas por 
profissionais sem qualificação ou supervisão. Essa 
questão sugere a necessidade de reflexão sobre os 
aspectos éticos envolvidos na prática do psicólogo 
(Goldim, 1998). Dessa forma, pode-se refletir a quem 
e para quem o atendimento psicoterapêutico encontra-
se realmente disponível e qual o critério para a oferta 
desse recurso.
 O desenvolvimento da Psicologia da Saúde, assi-
nalada por Gonzales Rey (1997), estimulou o trabalho 
do psicólogo no âmbito da prevenção e da promoção 
da saúde, o que possibilita a oferta de atendimento na 
rede pública. Além disso, amplia a participação desse 
profissional em equipes interdisciplinares, tanto em 
instituições de saúde como no trabalho comunitário.
A inserção do psicólogo na rede pública faz o pro-
fissional se deparar com uma realidade psicossocial 
muito diferente daquela com a qual ele provavelmente 
está acostumado. De acordo com Andrade e Morato 
(2004), em função da diversidade emergente da po-
pulação, a psicologia necessita acolher a diferença 
presente nas comunidades. A postura ética trata-se da 
reflexão advinda do desafio da prática, reconhecen-
do os limites, a efetividade, a responsabilidade e o 
compromisso do psicólogo diante das demandas do 
indivíduo na sociedade.
No que se refere ao trabalho do psicólogo nas ins-
tituições de saúde, um risco para a confidencialidade 
relaciona-se ao registro no prontuário do paciente. É 
dever do profissional manter atualizado o acompanha-
mento do paciente, porém quais as informações que 
necessitam serem registradas e/ou omitidas?
Em relação à ética nos serviços de saúde, a hos-
pitalização e a institucionalização, muitas vezes não 
voluntária, podem restringir a autonomia do paciente. 
Nesses casos, o psicólogo necessita levar em consi-
deração o contexto e a coerência ética integrada ao 
desejo do paciente (Goldim, 1998).
Em relação ao princípio da autonomia, Goldim 
(1998) salienta que o terapeuta necessita estar atento 
no que concerne ao respeito às escolhas do indivíduo 
e a sua liberdade de ação. No entanto, dependendo da 
etapa do ciclo vital do indivíduo, a autonomia pode es-
tar reduzida, como no caso das crianças e adolescentes 
ou em decorrência de doenças orgânicas ou mentais, 
bem como por condições sociais. 
Para tanto, conforme Duarte (2000), é necessá-
rio estar atento às questões éticas em investigação 
psicológica e aos direitos dos indivíduos que par-
ticipam voluntariamente de pesquisas e estudos 
em prol dos interesses, avanços e benefícios do 
conhecimento científico. As considerações e os 
delineamentos éticos da investigação psicológica 
devem ser referência para as decisões metodológicas 
nas pesquisas em saúde. 
Considerações finais
Em termos de perspectivas futuras, a Psicologia da 
Saúde necessita envolver a reflexão ética nas ativida-
des de extensão, ensino e pesquisa. Dessa maneira, 
torna-se fundamental discutir os aspectos relacio-
nados a ética em saúde na formação em psicologia. 
Faz-se necessária uma visão ampliada da clínica e do 
desenvolvimento de atividades em equipes interdisci-
plinares, bem como a implementação do processo de 
psicoterapia nos serviços de saúde. 
Atualmente, o avanço tecnológico da medicina ne-
cessita despertar a área de Psicologia da Saúde para as 
investigações relacionadas a temas de Bioética, como 
os estudos da genética, transplante de células-tronco, 
estudos relacionados à terapia antiretroviral do HIV, 
avanços da cirurgia cardíaca, eutanásia, reprodução 
assistida, embriões, entre tantas outras descobertas. 
Nesse âmbito, o psicólogo tende a desenvolver inter-
A Bioética nas intervenções em Psicologia da Saúde 119
PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 9, nº 1, p. 115-120, Jan./Jun. 2008
venções e pesquisas sobre os aspectos psicossociais 
relacionados a tais repercussões na vida humana. 
É fundamental perceber que o campo de pesquisa 
em psicologia deve seguir de perto os passos e avanços 
da medicina, para que possa beneficiar o indivíduo 
envolvido no processo de saúde-doença. Além disso, 
é preciso compreender os aspectos relacionados a cada 
nova descoberta científica, para que os dados obtidos 
na pesquisa em psicologia possam, de fato, auxiliar a 
equipe e o paciente a lidar da melhor maneira possível 
com as situações cada vez mais complexas.
Para tanto, a bioética necessita estar presente na 
formação e compromisso social do psicólogo da saúde. 
Dessa forma, faz-se necessário a busca da promoção da 
saúde e o fortalecimento do respeito ao indivíduo nas 
intervenções psicológicas e contribuições científicas 
no âmbito da saúde. 
 
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PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 9, nº 1, p. 115-120, Jan./Jun. 2008
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6(2), 49-56.
Recebido em: fevereiro/2007
Revisado em: maio/2008
Aprovado em: junho/2008
Sobre as autoras:
Prisla Ucker Calvetti é psicóloga. Mestre em Psicologia Clínica (CNPq-PUC-RS). Especialista em Saúde Pública (ESP/RS-FIOCRUZ). 
Consultora da Seção de Controle em DST/Aids da Secretaria de Saúde do Estado do RS-UNESCO.
Jossiele Fighera é psicóloga. Mestre em Psicologia Clínica (PUC-RS)
Marisa Campio Muller é psicóloga. Doutora em Psicologia (PUC-SP). Professora Adjunta PUC-RS

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