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Conteúdo de Antropologia Jurídica

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CONTEÚDO N1 - ANTROPOLOGIA JURÍDICA 
 
1. CONCEITO E OBJETIVO DA ANTROPOLOGIA. 
 
1.1. O QUE É A ANTROPOLOGIA? 
 
Na definição mais geral e clássica a antropologia é entendida como o estudo do homem. 
Contudo, considerando que a psicologia, a medicina, e todas as ciências humanas têm como 
objetivo o estudo do homem, de algum ponto de vista específico, qual o objeto e especificidade da 
antropologia? Até porque o estudo do homem envolve a antropologia física, como a genética, a 
fisiologia e a biologia. A arqueologia que pesquisa além da evolução física a evolução social, a 
linguística antropológica que estuda as línguas, etc. 
O estudo do homem pode ser algo tão genérico e envolver tantas áreas do conhecimento, 
que nem mesmo entre os antropólogos existe um consenso sobre sua definição. 
A Antropologia, mais que o estudo do homem, é o estudo do outro e da sua cultura. A 
Antropologia sempre busca um retorno reflexivo, um entendimento de como as diversas culturas 
e etnias percebem o mundo, qual a visão do mundo desse outro para compreendê-lo e até mesmo 
para aprender alguma coisa de nossa própria cultura com outro. 
A percepção que temos de nós mesmo é mudada quando nos percebemos em relação aos 
outros; quando ao observar que os outros podem fazer as mesmas coisas, mas de forma diferente, 
nos indagamos sobre as nossas próprias maneiras. 
Afinal o que é natural? Comer de garfo e faca? Dormir em camas? Escovar os dentes? Fazer 
fila? 
Antropologia é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano. É 
um termo de origem grega, formado por “anthropos” (homem, ser humano) e “logos” (conhecimento, 
estudo). 
Assim, a Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural ou ainda 
como o estudo do homem e seus trabalhos através do tempo de espaço.. 
Por isso é importante a noção de pensar o “outro”. A Antropologia deve ser entendida 
como a resposta para conhecermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”. 
Muito associada ao estudo do outro “diferente”, ao estudo de sociedades distantes e 
intocáveis, cada vez mais a Antropologia se propõe a estudar a nossa sociedade, voltando-
se cada vez mais para uma auto-reflexão do seu papel político e social. 
Assim, Antropologia é o estudo do outro de forma reflexiva. Mas, quando se estuda a 
Antropologia é necessário ter o entendimento de cultura, pois o foco desta formação é o estudo 
dos agrupamentos humanos e das diversas culturas por eles construídas ao longo da história e nas 
sociedades atuais. O conhecimento antropológico de nossa cultura passa pelo conhecimento 
das outras culturas. 
 
1.2. BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA. 
 
Alguns afirmam que Heródoto, chamado pai de História e da Geografia teria sido um dos 
percursores a estudar os costumes dos povos exóticos, ou seja, aqueles povos que não eram 
gregos, mas tratava-se de uma população que divida o mundo em gregos e não gregos, que depois 
na Idade Média será alterada para os estudos sobre cristãos e não-cristãos – discurso sobre o não 
europeu. 
Contudo, é a descoberta do Novo Mundo que marca como gênese da reflexão antropológica. 
É no século XVI que tem inícios os primeiros contornos empíricos de uma análise sistemática das 
sociedades não europeias mediante relato dos viajantes e dos missionários. Assim, nos seus 
primeiros momentos a antropologia vai eleger como objeto de estudo as sociedades primitivas, 
marcado pelo aparecimento de duas ideologias: (i) o fascínio pelo estranho: enaltecendo a cultura 
das sociedades primitivas. Exemplo: Las Casas, Américo Vespucio e o próprio Colombo. (ii) a 
recusa do estranho: censurando e excluindo tudo o que não seja compatível com a cultura 
europeia. Exemplo: Sepulveda, Gomara, Oviedo,etc... E assim nascem as conexões entre 
antropologia e direito para a América Latina. 
Só mais tarde com a união do trabalho de campo (pesquisa da natureza) com a interpretação 
teórica é que a Antropologia adquire a sua originalidade. No século XX a Antropologia é qualificada 
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como ciência moderna, como disciplina universitária e profissão, no estudo do homem inteiro, das 
suas culturas em todas as suas dimensões. A antropologia considera, portanto, todos os aspectos 
da existência humana. 
 
1.3. CLASSIFICAÇÃO DA ANTROPOLOGIA 
 
A Antropologia é, por natureza, uma ciência fundamentada na abertura de conhecimento, 
razão pela qual a sua conjectura interna revela uma permeabilidade entre as suas muitas disciplinas 
objetivas. 
Tanto é, que não há um curso denominado Antropologia. A Antropologia, regra geral, é uma 
habilitação do curso de Ciências Sociais. Este curso oferta três habilitações: Ciências Políticas, 
Sociologia e Antropologia. 
Atualmente existem cursos de Antropologia nas Universidade de Brasília, Universidades 
Federal de Santa Catarina, Minas Gerais, Amazonas, Fluminense, Pelotas, Paraíba, Oeste do Pará, 
Roraima entre outras e no ramo privado apenas a PUC de Goiás. 
Muitos são resistentes à classificação radical, mas podemos dividi-la inicialmente em: 
 
1.3.1. ANTROPOLOGIA FÍSICA/BIOLÓGICA: Foco no homem em sua evolução física. O homem 
é analisado como “herdeiro biológico”. 
 
(i) Paleontologia humana: voltada ao estudo da origem e do processo evolutivo da espécie 
humana, especialmente por meio do exame de fósseis de hominídeos. Estuda as variações dos 
caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. Forte ligação com a genética, a biologia. 
 
(ii) Somatologia: dedicada ao exame da constituição física e catalogação das diferenças entre 
os biótipos (ou somatótipos) humanos. 
 
(iii) Antropometria: conjunto de técnicas voltados para medição do corpo humano e 
consequentemente tabulação dos dados para subsidiar investigações, até estudos comparativos de 
crescimento. 
 
1.3.2. ARQUEOLOGIA : voltada ao estudo das culturas e civilizações antigas, remotas, vinculada 
com a pré-história, o estudo o homem por meio dos seus vestígios materiais, visando a reconstituir 
as sociedades desaparecidas em seu aspecto material e social. 
 
1.3.3. ANTROPOLOGIA LINGUÍSTICA: Estuda a complexidade das relações de linguagens entre 
os povos. Ramo autônomo da Antropologia, mas interligado porque a linguagem é um elemento 
cultural de um povo, que mediante o estudo da língua reproduz seus valores, preocupações e 
pensamentos. 
 
1.3.4. ANTROPOLOGIA CULTURAL OU SOCIAL: Foco voltado para o homem em sua evolução 
cultural. Consiste no estudo de tudo que constitui as sociedades humanas. Seus modos de 
produção econômica, suas descobertas e invenções, suas técnicas, sua organização política e 
jurídica, seus sistemas de parentesco, de conhecimento. O homem considerado no âmbito de sua 
ação sobre o mundo, seja natural (domesticação que impusemos ao nosso ambiente natural), por 
meio de artefatos como ferramentas, moradias, meio de transporte, seja o mundo social em que 
veiculamos nossas crenças, valores, comportamentos e normas. 
 
(i) Etnografia: é a disciplina que recolhe dados sobre a descrição dos povos, língua, raça, 
religião, instituições e manifestações materiais. Voltada ao registro e à descrição das sociedades 
humanas consideradas primitivas, isto é, com nível organizacional menos complexo do que o da 
nossa sociedade e frequentemente ágrafas (sem escrita, baseadas na tradição oral). Etnografia é 
inerente a qualquer aspecto da Antropologia Cultural, que estuda os processos da interação social: 
os conhecimentos, as ideias, técnicas, habilidades, normas de comportamento e hábitos adquiridos 
na vida social de um povo. 
 
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(ii) Etnologia: sintetiza, compara, unifica teórica e metodologicamente a realidade humana. 
Levantamento de dados numa pesquisa analítica e comparativa entre duas ou mais culturas. 
 
(iii) Antropologia Social: Relação estreita com a Sociologia. Campo do conhecimento que estudo 
a sociedade e suas
instituições do ponto de vista dos agrupamentos humanos e culturas atuantes 
sobre as relações sociais que as constituem. 
 
1.4. DIFERENÇA ENTRE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA 
 
Enquanto a antropologia, nos seus primeiros momentos (século XIX), interessava-se pelo 
estudo das populações mais arcaicas do mundo, as sociedades primitivas, a sociologia sempre se 
interessou pelas sociedades contemporâneas. Acontece que nos últimos tempos a antropologia 
também. 
Foi sob forte influência do positivismo no século XIX que surgiram ciências como a 
Antropologia e a Sociologia, como resposta e como produtos de uma emergente sociedade 
ocidental. 
A Sociologia logos e propôs a estudar a sociedade, enquanto a Antropologia se especializou 
na pré-modernidade. 
Sociologia é a ciência que estuda as relações entre as pessoas que pertencem a uma 
comunidade ou aos diferentes grupos que formam a sociedade – fatos sociais. 
Curiosamente a Antropologia surge para estudar esse outro primitivo no preciso momento 
em que o projeto expansionista ocidental o condenava a extinção, enquanto a Sociologia atingia 
seu ápice com as transformações do capitalismo moderno de racionalização, secularização, 
industrialização, burocratização, comercialização, etc.. 
A Sociologia traçará o seu percurso por meio da observação direta e situacional desses 
processos ocorridos no mundo ocidental, enquanto a Antropologia operará essa análise em função 
de um mundo em extinção, um mundo que esse outro selvagem se esfuma e desaparece. 
Por isso que no Brasil a formação do Antropólogo se inicia na Graduação no curso de 
Ciências Sociais que se divide em três áreas Sociologia, Antropologia e Ciência Política, porque ele 
precisa definir e compreender teoricamente a interrelação dessas três áreas do conhecimento: 
a sociedade, o homem e a política. 
O “sociólogo” nascente pensará a sociedade em que está inserido e o “antropólogo” é o 
sujeito que vai querer saber dos outros mundos. 
É na pós-graduação que os antropólogos vão se profissionalizar mediante o 
desenvolvimento da pesquisa na área, geralmente em torno de três eixos temáticos fundamentais: 
a etnologia indígena, o estudo das populações negras e o mundo da cultura nos grandes centros 
urbanos. 
Além disso, os antropólogos estão contribuindo para a reflexão sobre os problemas 
da sociedade brasileira e têm atuado diretamente em diversos segmentos quanto a questões 
fundiárias, à defesa dos direitos das minorias, populações específicas, movimentos sociais 
e ONGs. 
 
1.5. O QUE É CULTURA? A CULTURA COMO OBJETO DA ANTROPOLOGIA: 
 
 O termo cultura é dotado de imensa ambiguidade, possui centenas de definições e múltiplos 
sentidos. Como a cultura é objeto de estudo da antropologia os antropólogos costumam se 
preocupar muito com a sua delimitação conceitual para não adentrar no ramo da sociologia ou 
mesmo da psicologia. 
 Assim, a cultura inicialmente possui dois conceitos básicos: (i) formação individual da pessoa 
humana (ii) conjunto de obras humanas, ou seja, conjunto dos modos de vidas criados, adquiridos 
e transmitidos de uma geração para a outra entre os membros de determinada comunidade ou 
sociedade – formação coletiva tanto mais progressistas ou mais rústicas. 
Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Cultura possui muitas definições. 
Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, 
a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente 
em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é. 
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Somente no século XIX Edward Tylor deu origem a palavra cultura, sintetizando dois antigos 
conceitos (Civilization de origem francesa que se referia a realizações materiais de uma comunidade 
e outra de origem germânica kultur abrangendo aspectos culturais de um povo). 
CULTURE ficou sendo “todas as possibilidades de realização humana”, ou seja, um 
“complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra 
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. 
“É a cultura que distingue os homens de outros animais, por isso se diz que os animais são 
seres naturais; os humanos seres culturais.” Assis, Olney Queiroz, 2011. O surgimento da cultura e 
dessa diferenciação é atribuída por alguns antropólogos no momento em que os humanos inventam 
uma lei que, quando transgredida, implicará a pena de morte de seu transgressor, exigida pela 
comunidade: a lei da proibição do incesto e outra lei que se transgredida causa a ruína da 
comunidade e do indivíduo: a lei que separa o cru do cozido, ou ainda na forma de comunicação 
através de troca de símbolos, todas leis e práticas desconhecidas dos animais. 
Para conhecer a cultura de um povo é fundamental conhecer sua história, sua evolução 
cultural, ou seja, suas tradições e as transformações que construíram e ainda constituem a cultura 
particular de cada tribo ou qualquer organização social. 
A partir dos estudos de Antropologia pode-se afirmar que a cultura está inserida no processo 
de socialização de cada ser, que se constitui no convício comunitário, no qual são assimiladas as 
normas, a conduta, a religião, a língua, enfim, o conjunto que compõe o estilo de vida – seus 
padrões de valores. 
“É por meio da cultura que um povo constrói a sua identidade e mantém viva a sua 
história e sua etnia”. RATTNER, 2005. Antropologia Jurídica. 
Por conta dessa interligação entre a cultura e a antropologia, Robert Lowie 1 chegou a 
declarar que cultura é o único assunto da antropologia. Seja pelo estudo da antropologia ou da 
evolução humana, a antropologia é uma ciência que se interessa por ideias, valores, símbolos, 
normas, costumes, crenças, ambientes, etc... e por conta disto é intimamente associada a outra 
ciências e poucos reconhecem sua autonomia. E neste cenário que encontramos dificuldades em 
definir Antropologia e ela está intimamente ligada com a cultura e consequentemente a sua 
pluralidade (todas as atividades e interesses característicos de um povo). 
 
1.5.1. ACULTURAÇÃO: processo de incorporação de itens culturais de uma cultura por outra. Por 
exemplo: as mudanças culturais que operam nas sociedades indígenas ou nos imigrantes em seus 
novos países, uma espécie de integração desse povo a uma entidade política maior, ou uma nação 
Estado. Pode ocorrer de forma forçada ou não. Neste último caso pode ocorrer por carência de 
referencial cultural ou força ideológica (superioridade Econômica e globalização). Exemplo: filmes 
de Holywood ou o uso de sal e açúcar pelos índios. 
 
1.5.2 APROPRIAÇÃO CULTURAL: definida amplamente como o uso de símbolos, artefatos, 
estilos, rituais, ou tecnologias de uma cultura por membros de outra cultura, é inevitável quando 
culturas entram em contato, incluindo contato virtual ou representativo. Apropriação cultural é 
também inevitavelmente interligada com a política cultural. É envolvida na assimilação e exploração 
de culturas colonizadas e marginalizadas, nas culturas subordinadas e sobreviventes e suas 
resistências para com a cultura dominante. 
Portanto, grosso modo, podemos dizer que apropriação cultural é quando um grupo marginalizado 
e excluído tem sua cultura assimilada e explorada (economicamente) por uma cultura dominante 
na sociedade em que eles vivem. 
O conceito consiste em três partes: 1) Apropriação e assimilação do símbolo, 2) Exploração, 3) 
Opressão daqueles que tiveram sua cultura apropriada. Como se vê, os itens 2 e 3 não tem 
nenhuma relação com culturas propriamente ditas, mas com o sistema em que vivemos. O termo 
apropriação cultural transfere [relaciona, de certo modo] um problema da ordem social para algo no 
campo cultura, o que gera uma enorme confusão. “A cultura negra é popular, pessoas negras não são” 
B. Easy
1 Robert Harry Lowie (1883 -1957) foi um austríaco especialista em índios norte-americanos, ele foi fundamental para 
o desenvolvimento da antropologia moderna. 
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1.5.3 INTERCÂMBIO CULTURAL: acontece quando pessoas de culturas diferentes compartilham 
aspectos de sua cultura, porque aqui o elemento de dominação não existe. Desta forma, ao se 
produzir um contato entre duas culturas, se estabelece um intercâmbio de traços associados que 
foram tomados na qualidade de “empréstimo”, mas que passam a formar parte da cultura. 
Conceito de empréstimo cultural: É a transposição de elementos culturais através de um processo 
seletivo em que os traços que mais se adaptam à cultura são assimilados de tal modo que se 
transformam, incluindo em sua função. 
1.5.4 MULTICULTURALISMO: Uma sociedade multicultural é aquela que, em um mesmo território, 
abriga povos de origens culturais distintas entre si. As relações entre esses grupos podem ser 
aceitação e tolerância ou de conflito e rejeição. Isso vai depender da história da sociedade em 
questão, das políticas públicas propostas pelo Estado e, principalmente, do modo específico como 
a cultura dominante do território é imposta ou se impõem para todas as outras. A convivência entre 
culturas diferentes não é uma questão nova, mas que se se intensificou nos últimos anos devido a 
acontecimentos marcantes com o advento dos processos migratórios e globalização. 
 
1.6. ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E SEUS CAMPOS DE ESTUDO. 
 
As escolas antropológicas são visões diversas do modo de explicar a humanidade. São 
considerados temas recorrentes de todas as escolas: a) estudo das sociedades simples ou 
primitivas e das sociedades antigas; b) estudo da religião; c) estudo da relação de parentesco. 
 
1.6.1. A ESCOLA EVOLUCIONISTA 
 
A escola EVOLUCIONISTA é a primeira escola antropológica moderna (século XIX), ela é 
marcada pelo darwinismo social , situava a sociedade europeia no topo da evolução social, em 
contraposição às demais, que eram vistas como sociedades de seres primitivos. Na verdade era 
uma explicação científica que agradava ao homem europeu e ajuda a justificar a imposição da sua 
cultura sobre as outras, assim como justificar o domínio territorial. 
“Portanto, a Antropologia científica passa a se interessar pelo diferente na ânsia de entender 
o homem civilizado, industrial, moderno e burguês. E, nesse sentido, se, por um lado, não tem a 
função de ajudar a colonizar e explorar de forma mercantil esses povos, por outro, tende a ver o 
homem moderno como continuidade desses povos considerados mais atrasados.” (Rocha, p.22) 
Representante dessa escola: Edward Burnet Tylor, James Frazer, Lewis Henry Morgan. 
Vamos estudar mais adiante com os sistemas de parentesco e religião. 
 
CRÍTICA AO EVOLUCIONISMO 
 
Não é possível estabelecer uma continuidade progressiva das culturas. Evolução e 
progresso exprimem uma crença na superioridade do presente em relação ao passado e do futuro 
em relação ao presente. O que existe é uma pluralidade de culturas diferentes, e cada uma dela 
inventa o seu modo de relacionar-se com o tempo, seu modo próprio de organizar o poder e de 
produzir seus valores. O diferente é inferior? 
 
 
1.6.2. A ESCOLA DIFUSIONISTA 
 
A escola DIFUSIONISTA se opõe à escola evolucionista, porém, mantém a mesma linha 
técnica de seus estudos. A difusão cultural se dá pelo contato entre culturas, nesse sentido, há a 
evolução cultural. 
Principais representantes: Franz Boas ( ) Graebner (1877-1942), Smith (1864- 1922), Rivers 
(1864-1922). 
Suas principais características são: 
 
(i) Reação ao evolucionismo: O difusionismo é conceitualmente uma reação às ideias 
evolucionistas de unilateralidade, isto é, ao evolucionismo universal de acordo as leis determinadas. 
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Os estudos desta escola se concentraram nas semelhanças de objetos pertencentes a diferentes 
culturas, bem como especulações sobre a difusão destes objetos entre culturas. Assim, um objeto 
foi inventado uma só vez em uma sociedade em particular e a partir dali se expandia através de 
diferentes povos. 
 
(ii) Interesse pelos traços culturais semelhantes: Ao contrário do evolucionismo que postula 
um desenvolvimento paralelo entre civilizações, o difusionismo enfatiza o contato cultural e o 
intercâmbio, de tal maneira que o progresso cultural mesmo é compreendido como uma 
conseqüência do intercâmbio. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo 
fundamental de evolução cultural. 
Desta forma, ao se produzir um contato entre duas culturas, se estabelece um intercâmbio 
de traços associados que foram tomados na qualidade de “empréstimo”, mas que passam a formar 
parte da cultura. 
Conceito de empréstimo cultural: É a transposição de elementos culturais através de um 
processo seletivo em que os traços que mais se adaptam à cultura são assimilados de tal modo que 
se transformam, incluindo em sua função. 
 
(iii) Rigor metodológico e desenvolvimento de técnicas de pesquisa: São considerados 
aportes do difusionismo a importância outorgada à interrelação entre os fenômenos culturais, a 
notável acumulação de informação etnográfica e a insistência nos trabalhos de campo (pesquisas 
de campo). Para alguns era urgente coletar dados e informações sobre povos primitivos antes que 
eles fossem absorvidos pela civilização; em virtude disso a coleta de dados tornou-se mais 
importante do que a explicação do fenômeno cultural. 
O difusionismo tem respaldo científico, a partir do momento que suas inferências são 
baseadas em achados arqueológicos e pesquisas etnográficas. 
 
(iv) Interesse pelas culturas particulares: Além de imprimir uma nova interpretação ao 
fenômeno cultural, passou a se concentrar no estudo de culturas particulares, delimitando o campo 
de estudo. Surge então a escola norte-americana com Franz Boas. 
 
DIFUSIONISMO NORTE-AMERICANO. 
 
Representante dessa escola: Franz Boas (1858-1881). 
 
Franz Boas foi o grande percursor da ida dos antropólogos a pesquisa de campo, que antes 
se atinham a interpretar as informações. Ele contribuiu para a exigência da união do teórico e do 
observador, impulsionando a ideia de que os antropólogos deviam dominar as línguas dos povos 
estudados, com o objetivo de conhecer o mapa da organização básica do intelecto humano. Ele 
mesmo dedicou-se aos estudos dos índios americanos. 
Boas entendia que havia muita dificuldade em estabelecer um padrão universal, por isso o 
estudo antropológico deveria concentrar-se na abordagem de culturas particulares. Para Boas, a 
tarefa do antropólogo era investigar as tribos primitivas que careciam de história escrita, descobrir 
restos pré-históricos, estudar tipos humanos e a linguagem. Cada cultura teria a sua própria história. 
Para compreender a cultura teríamos que reconstruir a história de cada cultura. 
Franz Boas marcou linhas básicas de orientação que anteciparam o funcionalismo. A ideia 
central era considerar a cultura como uma totalidade, um conjunto de elementos integrados. A 
metodologia buscava provas concretas do contato cultural e a comparação de traços que existem 
contextualmente. Por outro lado, enfatizava evitar a limitação de apenas semelhanças para buscar 
também as diferenças. 
Boas “emprestou” de Wissler, a noção de área cultural, conceito que descreve um núcleo de 
influência, isto é uma zona ampla de onde se observa como um traço cultural deixa seu rastro em 
diferentes culturas, incorporando assim elementos psicológicos universais da cultura. 
Defendeu que não há culturas superiores nem inferiores (relativismo cultural). Os sistemas 
de valores devem compreender-se dentro do contexto de cada cultura e não de acordo com os 
padrões da cultura do antropólogo. 
 
 
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DIFUSIONISMO E O DIREITO 
 
Como visto, a teoria difusionista preocupa-se em compreender o processo de transmissão
dos elementos de uma cultura para outra, portanto, reconhece que qualquer agrupamento social, 
com raríssimas exceções, jamais está absolutamente isolado. Os grupos sociais entram em relação 
com grupos vizinhos, ou mesmo afastados, geralmente em razão de necessidades econômicas ou 
culturais a que não podem atender com seus próprios recursos. Esses contatos às vezes ocorrem 
de modo pacífico mediante trocas comerciais, às vezes resultam de guerras e conquistas. De 
qualquer modo, quando os grupos sociais entram em contato, ocorre o processo de difusão de 
cultura. 
O Direito é, indubitavelmente, um dos aspectos da cultura de um grupo social, motivo pelo 
qual também está submetido a esse processo de difusão cultural. Roma foi, sem dúvida, o grande 
centro de difusão da cultura jurídica na Antiguidade. Mesmo após o desaparecimento do Império, o 
Direito Romano continuou a ser objeto de estudo por parte dos juristas medievais. Esse estudo se 
intensificou a partir do século XI com os glosadores e depois se alastrou por toda a Europa. 
Nessa trilha, o Direito Romano acabou influenciando toda a construção do edifício jurídico 
da modernidade, ou seja, a cultura jurídica moderna, principalmente com o renascimento da 
atividade comercial e o advento dos grandes Estados nacionais, constituiu-se com base no direito 
romano. 
Enfim, a cultura jurídica das sociedades ocidentais modernas resultou, em grande parte, de 
difusão ou empréstimos da jurisprudência romana. Aliás, os alemães fizeram do direito romano o 
seu direito até o final do século XIX. Não deixa de ser surpreendente o fato de uma cultura de uma 
sociedade extinta ressurgir com tanta força e vigor, influenciando o pensamento jurídico e a 
organização social de toda a Europa continental e suas colônias. 
O estilo dos jurisconsultos e os conceitos por eles elaborados influenciam até hoje a 
tecnologia jurídica e as decisões dos Tribunais. O estilo dos jurisconsultos romanos não foi 
superado, pelo contrário, tem sido constantemente renovado e retorna com todo vigor nos tempos 
atuais, constituindo uma alternativa para superar os limites impostos pelo positivismo jurídico. 
 A cultura jurídica europeia, com suas bases gregas e romanas, difundiu-se para as colônias, 
motivo pelo qual a cultura jurídica brasileira tem sido construída conforme os parâmetros 
estabelecidos no direito europeu. É preciso lembrar também a difusão da cultura jurídica norte-
americana, especialmente no âmbito do direito comercial. Essa difusão é evidente na própria 
nomenclatura das novas figuras contratuais que emergem do direito empresarial brasileiro: leasing, 
factoring, franchising, software, know-how etc. 
 
CRÍTICA AO DIFUSIONISMO 
 
Apesar da sua grande importância na recolhimento de dados, salientou demasiado a forma 
(unicamente uma dimensão das características culturais), em detrimento do significado que cada 
característica tem para os membros de cada cultura em particular. Ignorou também as relações com 
outras características. 
 
1.6.3 A ESCOLA FUNCIONALISTA 
 
A escola FUNCIONALISTA compara a cultura a um organismo. As unidades de uma cultura 
apresentam uma função dentro do contexto cultural. Ênfase à funcionalidade. Para essa escola o 
desenvolvimento de grupos humanos está permeado por valores, que constituem uma cultura 
própria e diversificada. A partir dessas funções das instituições culturais como as diversas formas 
de parentesco e das funções da família é que grupos humanos vão desenvolver suas estratégias 
de vida e sobrevivência material, acima da economia, política e a produção material. 
“Em outras palavras, pode ser que determinados grupos humanos isolados, por suas 
tradições culturais, não tenham imaginado interesse algum em se desenvolverem do ponto de vista 
econômico e tecnológico, portanto não existe uma relação de inferior e superior, mas e opções 
diferentes de sobrevivência a partir de fatores essencialmente humanos, como por exemplo, as 
relações familiares e de casamento.” (Rocha, p. 24) 
Assim, não existe superioridade, apenas diferença cultural. 
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A Escola Funcionalista se contrapõe: à teoria evolucionista, porque não distingue os estágios 
de desenvolvimento das sociedades mais simples para mais complexas, e a teoria difusionista 
porque não acredita em um centro de difusão de cultura que se transmite por empréstimo. 
Sabe-se que existem requisitos prévios o uma série de condições necessárias para a 
sobrevivência de uma sociedade ou a manutenção de uma estrutura. Assim, de acordo com a teoria 
funcionalista, certas formas culturais ou sociais são indispensáveis para que algumas funções 
possam desempenhar-se. 
 
Principais representantes: Bronislaw Malinowski (1884-1943), Radcliffe-Brown (1881-1955). 
 
Criou um a verdadeira revolução na investigação antropológica. O centro de referencia do 
investigador é sempre a sociedade estudada. O ponto focal não é mais a Europa e seus costumes. 
Isto é, não mais a sociedade do observador, situada na mais alta escala civilizatória. 
Malinoswski criou a metodologia da investigação participante, ensinou a olhar o “outro”, deu 
exemplo do que deve ser a pesquisa decampo. 
O funcionalismo enfatizava a interconexão orgânica de todas as partes de uma cultura pondo 
em primeiro plano a ideia de totalidade. Desta maneira, postulava uma universidade funcional que 
se opõe ao difusionismo. 
Análise funcional é uma explicação de fatos antropológicos em todos os níveis de 
desenvolvimento de acordo com o papel que jogam dentro do sistema total da cultura, de modo que 
estão interrelacionados com o interior do sistema e pela forma que o sistema se vincula ao meio 
físico. O conceito de função, de acordo com Malinowski se refere ao papel que joga um aspecto em 
relação ao resto da cultura e em última instância, orientado sempre a satisfação das necessidades 
humanas, isto é, a sobrevivência. 
Para ele a cultura deve ser encarada como uma totalidade coerente, e todos os aspectos 
que apresenta: parentesco, economia, política, religião, direito, etc, não podem, de maneira alguma, 
ser interpretados separadamente. Malinowski estabelece a noção segundo a qual é possível 
mostrar a totalidade de uma cultura, a partir da análise de um único costume (fato-totalidade). 
Malinowski defendia que as instituições desempenham funções específicas e, assim, 
contribuem para sustentar a ordem social. Ele afirma que as necessidades do organismo individual 
ou da espécie (abrigo, calor, liberdade de movimento) são diferentes das necessidades da 
sociedade (instituições sociais como a família ou o matrimónio são dispositivos sociais que atendem 
as necessidades sociais). Para tanto, ele rompe os contatos com o mundo europeu, passa a viver 
com as populações as quais estuda e a recolher seus materiais de seus idiomas. Origem da 
observação-participante e aculturação do observador. 
Será um passo adiante na linha de trabalho de Radcliffe-Brown, que encampou o conceito 
de estrutura social. Com efeito, para este autor não há função sem estrutura. Por estrutura se 
entende uma série de relações unificadas, na qual a continuidade se conservaria através de um 
processo vital composto pelas atividades das unidades constitutivas. 
O sistema de parentesco era um dos elementos fundamentais de sua análise. Considerava-
o, mesmo, o elemento fundamental para compreensão da organização social em sociedades de 
pequena escala, já que expressava um sistema jurídico de normas e regras que impõem direitos e 
deveres. A busca de princípios comuns, comparando as diferentes sociedades, tornou-se objeto de 
suas preocupações. 
Radcliffe-Brown vincula o seu trabalho um grande valor prático, porque podia ser útil para a 
administração colonial britânica, ao proporcionar uma base científica para o controlo e a educação 
dos povos colonizados. 
 
A ESCOLA FUNCIONALISTA E O DIREITO
Interesse por instituições e suas funções para a manutenção de totalidades culturais. 
A própria concepção de função básica de família analisada acima é atrelada a questões 
jurídicas como reconhecimento de paternidade, pensão alimentícia, regime de bens, divórcio, linha 
de sucessão, educação, etc. 
Distinção entre costume e Direito. 
Após os estudos de Malinowski, a antropologia passou a reconhecer o direito como uma 
instituição por si mesma, diferenciada dos costumes. 
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Fugindo da visão etnocêntrica da cultura europeia que vê a si mesmo como evoluída, 
enquanto a cultura jurídica das sociedades primitivas é tida como impregnada de religião, 
Malinowski irá afirmar que há nas sociedades primitivas certo conjunto de regras costumeiras que 
se distinguem de outros conjuntos, porque um conjunto estabelece obrigações para uma pessoa e 
outro conjunto estabelece direitos. Malinowsky também observou que no direito primitivo ou tribal 
existe uma separação entre lei civil e lei penal. No direito civil, a lei (obedecida) consiste em um 
conjunto de obrigações forçadas e consideradas como justas por uns e reconhecidas como um 
dever por outros. No direito penal, a lei (desrespeitada) é definida como regras fundamentais que 
salvaguardam a vida, a propriedade e a personalidade. 
Função e instituição: 
As noções de função e instituição da teoria funcionalista também aparecem de forma 
acentuada em algumas teorias jurídicas. Instituições são os modos estabelecidos que permitem a 
determinada sociedade cuidar de seus assuntos, de lidar com seus problemas sociais. De modo 
geral as sociedades desenvolvem instituições: (a) judiciais e políticas para ajudar a manter a paz 
entre os atores, proteger a propriedade e decidir conflitos; (b) de parentesco para socializar e regular 
as relações sexuais; (c) e econômicas para incentivar o trabalho, produzir e distribuir bens e até 
mesmo em manter a desigualdade entre classes. 
As instituições exercem o controle social sobre os indivíduos e garantem as condições de 
lidar eficazmente com os problemas sociais. Então o Direito é uma instituição? 
No campo jurídico, para alguns teóricos o Direito é uma instituição, para outros é um conjunto 
de normas. Norberto Bobbio faz uma tentativa de conciliar essas duas posições. 
Aos que defendem que o Direito é uma instituição 
 
CRÍTICA AO FUNCIONALISMO 
 
Criaram os conceitos de aculturação e choque cultural. Ao estudar o intercâmbio de traços 
culturais das diversas culturas, deixaram de revelar as desigualdades que existiam nesse contato, 
especificamente as da política colonialista. Não deu importância aos conflitos sociais 
A crítica que se faz à Escola Funcionalista, é que, ao privilegiar as funções das instituições 
sócio-culturais, de forma idealista se deu uma autonomia e preponderância desses sub-sistemas 
“particulares” (parentesco, religião, economia) sobre as condições concretas de existência em que 
repousam as particularidades em que tais sub-sistemas executam suas funções e quais as 
modificações que ao longo do tempo essas instituições apresentam. Não se pode partir do 
imaginário valorativo de uma comunidade sem que se entenda qual a relação desse imaginário com 
as contradições internas dessa comunidade, seja em relação à natureza ou aos outros homens. 
Assim, a evolução humana, na visão funcionalista, parecia ter explicação apenas em uma porção 
de contingências e acidentes procurados externamente à determinação valorativa e funcional das 
suas instituições sociais, pois em seu interior as comunidades parecem harmoniosas e incapazes 
de produzirem litígios, delitos e punições cabíveis. 
 
1.6.4. A ESCOLA ESTRUTURALISTA 
 
A escola ESTRUTURALISTA apresenta as mesmas características da escola funcionalista, 
porém, é considerada uma versão melhorada, visto que alarga seu campo de abrangência para a 
mente humana, a subjetividade, o chamado inconsciente. 
Entende-se por estruturalismo o método ou processo de pesquisa em cuja base encontra-
se o conceito de estrutura com o significado de sistema. 
O que o observador vê de imediato é apenas a superficialidade. Mas existe uma estrutura 
de relações e afinidades que compõem um sistema de organização social. 
Um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interrelacionados que 
interagem no desempenho de uma função. É uma definição tão abrangente que pode ser usada em 
uma grande variedade de contextos como sistema econômico, sistema nervoso, etc... 
Uma estrutura é uma disposição e organização dos elementos essenciais que compõem um 
todo, quer material (de um edifício, do corpo humano), quer, por analogia, de uma realidade imaterial 
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(de uma obra literária, da consciência). Uma disposição ou organização na qual as partes são 
dependentes do todo e, por conseguinte, solidárias umas das outras. 
Assim, na Antropologia, o sistema deve ser encarado como regra de disposição sistemática 
de elementos, um sistema de relações hierarquicamente ordenado. A estrutura, portanto, não é 
constituída simplesmente por um conjunto de elementos relacionados, mas por uma ordem 
hierárquica que tem o objetivo de garantir o êxito de sua função e sua própria conservação. 
O termo estrutura tem o significado genérico de sistema quando se fala de estrutura como 
um conjunto de elementos submetidos a determinadas relações. 
ESTRUTURA: conjunto de relações sociais específicas de uma organização. 
 
Princípios metodológicos da Escola Estruturalista 
 
Estes princípios estruturais explicam o dinamismo e múltipla determinação no desenvolvimento dos 
grupos humanos. 
 
 Relação de e religiosidade e produção material 
 Parentesco 
 
 
Estrutura de uma ordenação mental coletiva 
 
1. Toda estrutura é um conjunto determinado de relações, ligadas umas às outras segunda leis 
internas que apresentam transformações constantes. 
2. Toda estrutura combina elementos específicos que a compõem e por este motivo, é impossível 
“reduzir” uma estrutura a outra ou “deduzir” uma estrutura de outra. 
3. Estruturas se unem formando sistemas sociais complexos (parentesco + magia e liderança + 
produção), através de leis de compatibilidade, mas que não têm uma origem única e definida. 
 
Representante dessa escola: Claude Lévi-Strauss.(1908-2009) 
 
Lévi Strauss merece uma atenção especial. 
 
Até a década de 1930, poucos pesquisadores dedicavam-se a estudar as populações 
indígenas brasileiras de forma sistemática. Naquela época, os estudiosos costumavam voltar às 
atenções para analisar as comunidades africanas, asiáticas e norte-americanas, pois eram mais 
tradicionais nas academias europeias. Foi então que o antropólogo e filósofo belga Claude Lévi-
Strauss veio ao Brasil e passou um tempo vivendo junto aos bororos e nambiquaras, no Mato 
Grosso, e os kadiveus, na fronteira com o Paraguai. As ideias e métodos de análise Lévi-Strauss 
mudaram para sempre os rumos da antropologia e dos estudos de mitologia, religião e parentescos. 
O pensador, nascido em Bruxelas, na Bélgica, morreu em 2009, um mês antes de completar 
101 anos, mas, mesmo em vida, já era uma das maiores referências na sua área de estudo. 
Qualquer curso de Ciências Sociais e Antropologia, por exemplo, possui disciplinas voltadas a 
estudar suas teorias estruturalistas - uma das principais correntes do pensamento antropológico. 
Lévi-Strauss estudou Direito e Filosofia na França, dedicando boa parte de sua vida às aulas 
em cursos superiores. Ele, aliás, foi um dos primeiros docentes do curso de Ciências Sociais da 
recém-criada Universidade de São Paulo (USP), entre 1935 e 1938, quando viveu no Brasil e 
realizou importantes estudos de campo com etnias locais. 
Lévi-Strauss integrou o segundo grupo de professores franceses contratados para lecionar 
na USP, como o Fernan Braudel (economista) e Raymond Aros
(filósofo), que eram todos 
professores de Sobourne na França. A universidade havia sido inaugurada há pouco tempo, em 
1932, e buscava docentes qualificados para que a instituição pudesse se transformar em um dos 
maiores centros de ensino superior da América Latina. 
O principal mérito atribuído à obra de Lévi-Strauss é que ele nunca aceitou as teorias de que 
a cultura e a civilização ocidentais eram superiores ao resto do mundo. Ao contrapor-se a esse 
eurocentrismo, o pensador deu um novo enfoque aos estudos dos chamados povos primitivos, 
principalmente os das Américas. 
 
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Ao conviver com os bororos, os nhambiquaras e outras etnias, Lévi-Strauss chegou a uma 
conclusão inovadora. O modo de pensar dos índios é absolutamente idêntico ao nosso e o que o 
Lévi-Strauss vai mostrar é essa universalidade do pensamento humano, seja o pensamento dos 
ditos povos selvagens, seja o pensamento dos ditos povos civilizados. A importância disso é mostrar 
que, na verdade, não se pode hierarquizar povos, não se pode hierarquizar culturas, como se alguns 
fossem superiores a outros. Foi Lévi-Strauss quem mostrou que as sociedades podiam andar por 
caminhos diferentes. Por isso, o encontro com os índios foi decisivo e provocou nele uma defesa 
que ele vai levar até o resto da vida dele pela diversidade cultural, pela necessidade da existência 
de povos diferentes. 
As ideias de Lévi-Strauss tiveram um forte impacto no pensamento moderno, principalmente 
em um momento muito importante do século XX. Foi depois da Segunda Guerra Mundial, depois 
das atrocidades cometidas pelo nazismo, que propagava a superioridade de uma raça em relação 
às outras. Lévi-Strauss aproveitou a experiência que teve com os índios brasileiros para combater 
todas as teorias racistas. 
Para que serve o estudo das sociedades primitivas? Um duplo sentido. (i) retrospectiva: pois 
os gêneros de vida primitivos estão em vias de desaparecimento, motivo pelo qual é necessário 
recolher o mais rápido possível todas as lições que essas sociedades podem oferecer. (ii) 
prospectiva: na medida em que, tomando consciência de uma evolução cujo ritmo se precipita, 
sentimo-nos desde já os “primitivos” das gerações futuras, e na medida em procuramos provar 
nossa validade aproximando-nos daqueles que foram – e ainda são, por pouco tempo – tais como 
uma parte de nós persiste em permanecer. 
“Nesse sentido o pensamento dele é absolutamente atual, se a gente se lembra da 
dificuldade que a Europa enfrenta hoje em relação aos imigrantes e a discriminação de todos os 
imigrantes. O Lévi-Strauss vai mostrar exatamente que a discriminação não tem nenhuma 
justificativa científica”, explica a antropóloga Sylvia Caiuby. 
 
Veja o filme sobre Levi Strauss no link: 
 
http://www.cineconhecimento.com/2013/01/levi-strauss-saudades-do-brasil/ 
 
 
 
ESTRUTURALISMO E O DIREITO 
 
Várias teorias jurídicas usam as noções de sistema e estrutura, e por essa razão, são 
classificadas como estruturalismo jurídico. Exemplo são os positivistas Hans Kelsen com a Teoria 
Pura do Direito e Norberto Bobbio. 
De acordo com essa orientação teórica, o sistema jurídico é, fundamentalmente, um conjunto 
de normas jurídicas válidas, dispostas numa estrutura hierarquizada. Norma jurídica válida é aquela 
emanada de uma autoridade que possui competência para editar as normas. A competência da 
autoridade é determinada pelas própria normas jurídicas . Hierarquia é conjunto de relações 
estabelecidas conforme regras de subordinação e coordenação. Essas regras não são normas 
jurídicas, isto é, não fazem parte do repertório, mas da estrutura do sistema. São regras estruturais: 
a) o principio da lei superior: regra segundo a qual a norma prevalece sobre estas; b) o principio da 
lei posterior: regra segunda a qual, havendo normas contraditórias, desde que do mesmo nível 
hierárquico, prevalece a que no tempo aparecer por último; c) o principio da lei especial: regra 
segundo a qual a norma especial revogada a geral no que dispõe especificamente. 
Para o positivismo jurídico, é preciso supor que as normas do ordenamento jurídico estão 
dispostas numa ordem sistemáticas. O sentido de uma norma não está, portanto, somente nos 
termos que expressam sua articulação sintática, mas também em sua relação com outras normas 
do ordenamento. Em outras palavras, entende-se que o direito é composto pelo conjunto organizado 
de regras diretoras (denominadas princípios) que presidem o sistema e regras simples que 
perfazem o todo sistemático. O direito, portanto, caracteriza-se pela disposição organizada e 
hierárquica de princípios e normas. 
 
Estrutura e hierarquia 
 
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O positivismo jurídico concebe o ordenamento jurídico como uma estrutura de normas. A 
imagem da pirâmide ajuda a compreender essa concepção: no ápice da pirâmide normativa 
estariam situadas as normas superiores, tidas como fundamento de validade das normas 
imediatamente inferiores. Com esse escopo pode-se dizer pode-se dizer que no texto constitucional 
brasileiro estão as normas jurídicas do mais alto grau. Isso porque a Constituição Federal é o marco 
inicial de todo o motivo pelo qual adquire posição fundamental porque funda a ordem jurídica e 
adquire posição fundamental porque funda a ordem jurídica e adquire posição suprema; porque as 
normas constitucionais sobrepõem-se a todas as demais que integram o ordenamento jurídico. 
As normas constitucionais, além de orientar a atividade interpretativa do profissional do 
direito, orientam a produção e aplicação das normas pelos órgãos jurisdicionais (Legislativo e 
Judiciário). Desse modo, a validade da norma só pode ser julgada por sua relação com outras 
normas; isto é, as normas jurídicas encontram sempre seu fundamento de validade em outras 
normas ganham uma posição de superioridade, de preeminência, visto que as normas subordinadas 
não podem contrariar as normas de hierarquia superior. 
Alguns teóricos entendem que é possível estabelecer uma hierarquia entra as normas 
constitucionais; isto é, as normas que compõem o texto constitucional não possuem todas a mesma 
relevância. Algumas veiculam simples regras, outras são verdadeiros princípios. Entende que o 
sistema é um conjunto de normas inter-relacionadas em torno de princípios fundamentais que 
fecham o sistema como um todo unitário. Assim, os princípios assumem o sentido de elementos 
principais e fundamentais do sistema, razão pela qual são considerados normas com âmbito de 
abrangência mais amplo que vinculam as demais normas do universo sistemático. 
Nessa trajetória, o interprete, ao examinar o sistema normativo, deve, em primeiro lugar, 
identificar os princípios e, a partir deles, caminhar em direção às normas jurídicas inferiores. A 
norma que se apresenta vaga e ambígua deve ser interpretada e aplicada em sintonia com os 
princípios que a Constituição acolhe. Os princípios constitucionais, por serem normas qualificadas, 
são considerados vetores para soluções interpretativas. 
Essa modelo, segundo os seus teóricos, pode ser aplicado no estudo e compreensão do 
direito de qualquer sociedade politicamente organizada. 
 
 
2. OS SISTEMAS DE PARENTESCO 
 
Outro grande antropólogo da escola evolucionista, que também foi jurista, é o norte-
americano Henry Lewis Morgan (evolucionista 1818-1881) que elaborou um modelo de 
desenvolvimento da humanidade pelo sistema de parentesco para explicar a organização social, 
segundo qual o desenvolvimento transcorria os três níveis: - selvageria – barbárie – civilização. 
A selvageria caracteriza-se pelo matrimônio por grupos e apropriação dos produtos da 
natureza, a barbárie pelo matrimônio cercado pela monogamia apenas a para a mulher e a 
agricultura e a civilização pelo matrimônio monogâmico e a indústria. 
Os fatores que influenciam a vida social, provando-lhe mutações, vão produzir igual efeito
no setor jurídico, determinando alterações no direito positivo. A evolução do direito está subordinada 
à realidade social. Esses fatores sociais e jurídicos induzem a transformações no Direito. Exemplo 
disso são as consequência dos estudos antropológico sobre os sistemas de parentesco dentro da 
escola Evolucionista. 
A antropologia sociocultural tem considerado durante muito tempo o estudo da família e do 
parentesco como o seu património indiscutível. A família é considerada em geral o fundamento 
universal das sociedades. O parentesco é uma relação humana universal com base biológica e com 
variações nos significados socioculturais particulares. Ele pode ser visto como uma referência para 
o posicionamento social, pois em todas as sociedades humanas os indivíduos adquirem os 
primeiros elementos do seu estatuto e da sua identidade social através do parentesco. 
É este um tema clássico em antropologia, o parentesco é de grande importância na vida 
quotidiana. Questões como o divórcio, que nos parece tão moderna, são muito antiga noutras 
culturas (concedido a petição dos dois), ou também o aborto, que noutras culturas é admitido como 
algo normal. Também o tema das relações sexuais fora do matrimónio, que apenas são proibidas 
num 5% das culturas, e noutras é permitido, mas com certas condições. 
O parentesco é o sentido sociocultural dos laços de sangue, tem uma base biológica, mas 
precisa de uma interpretação e reconhecimento social (ex.: o caso dos pais adotivos). O parentesco 
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é um tipo de relação social pautada. As funções que satisfaz o parentesco são: económicas 
(subsistência e controlo do sistema de reprodução), psicológicas (seguridade emocional), sociais e 
econômicas (regulamentar as formas de intercâmbio, organizar os casamentos). 
Nesta década presenciamos uma alteração nesta definição biológica de sistema de 
parentesco e reiteradamente reconhecidos pelo Estado/Tribunais. São os novos arranjos familiares, 
ou por relações de afetividade, de orientação sexual ou de transgêneros. Tema em alto crescimento 
e impacto nos Tribunais. Exemplo de alteração de registro civil, desafios da biomedicina,linha de 
sucessão, partilha de bens etc... 
Os sistemas de parentesco são, do ponto de vista antropológico, considerados como 
estruturas formais, que resultam da combinação de três tipos de relações básicas: a) a 
relação de descendência, que é a relação entre pai e filho e mãe e filho. Exemplos: investigação 
de paternidade, pensão alimentícia, herança, adoção; b) a relação de consangüinidade, que é a 
relação entre irmãos. Exemplo: herança, proibição de casamento e c) a relação de afinidade ou 
seja, a que se dá através do casamento, pela aliança. Exemplo: divórcio, proibição de casamento 
entre genro e sogra ou sogro e nora, etc... Essas três relações são básicas e o estudo do parentesco 
é o estudo da sua combinação. Essas relações são a estrutura formal universal. Qualquer sociedade 
forma-se pela combinação dessas três relações. A variabilidade está em como se faz essa 
combinação. 
Para Malinowski (funcionalista) a função básica da família encontrados em todos os 
agrupamentos humanos, são as de: (a) reprodução: legitimidade de reprodução, pois mesmo 
em sociedades em que há liberdade sexual, a procriação raramente é aprovada fora da família (b) 
sexual: atender as necessidades sexuais permitidas pela institucionalização da união ou 
casamento. (c) econômica: assegurar o sustento e a proteção da prole, com obrigação estendida 
aos parentes. (d) educacional: transmitir à prole a herança cultural e social. 
 
Vejam que elas são retratadas em nossa legislação: 
 
Art. 226 CF. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. 
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como 
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento) 
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus 
descendentes. 
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela 
mulher. 
§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano 
nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, 
de 2010) 
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento 
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o 
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 
Regulamento 
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando 
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 
 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. 
 
O parentesco por afinidade é civil e não se extingue mesmo com o fim da relação que o originou. 
Por isso, sogro/sogra não pode se casar com a nora/genro, mesmo que ele seja divorciado e ela já 
tenha rompido a relação com o ex-companheiro. 
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Art. 227 § 6º CF - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos 
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação 
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de 
ascendentes e descendentes. 
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um 
só tronco, sem descenderem uma da outra. 
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem. 
Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, 
também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar 
o outro parente. 
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade. 
§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou 
companheiro. 
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável. 
 
 
 
2.1 O TABU DO INCESTO 
 
Qual a origem da proibição de relacionamento entre ascendente e descente, e entre irmãos? 
Degeneração biológica? Teoria da reciprocidade? Consciência e senso moral? 
Como essa aversão é plenamente compartilhada, ela torna-se alvo de uma desaprovação 
moral e, portanto, se submete a leis proibitivas: vira tabu. 
Debruçando-se sobre o tabu do incesto, Edward Westermarck (1892-1939 sociólogo), não 
o vê como resultado puramente de educação ou convenção social. Baseando-se na evidência de 
que alguns animais selvagens também tinham a propensão de evitar o endocruzamento (fato 
confirmado por estudos etológicos), Westermarck via a aversão ao incesto como algo natural, 
anterior à estruturação dos valores sociais humanos. De maneira sucinta, a teoria westermarckiana 
para explicar o tabu do incesto pode ser descrita sob três hipóteses: 1º) a “hipótese da aversão” diz 
que uma aversão inata à relação sexual é
desenvolvida entre pessoas que conviveram muito 
próximas nos primeiros anos da infância 2º) a “hipótese da adaptação” propõe que essa aversão é 
uma adaptação evolutiva, um comportamento fixado por seleção natural desfavorecendo o 
endocruzamento e, portanto, as suas consequências deletérias (degenerações físicas). 3º) a 
“hipótese da expressão” afirma que a aversão leva a desaprovação moral e a costumes e leis 
proibitivas. 
Sigmund Freud (1856-1939 médico criador da psicnálise) rejeitava suas teorias. Freud 
acreditava que os valores morais surgem exclusivamente para suprimir os instintos individualistas 
e agressivos humanos. O tabu do incesto, portanto, seria o exemplo primordial dessa negação 
cultural de uma natureza animal inata ao homem. Freud então propõe que a repressão desses 
impulsos incestuosos levaria a uma neurose própria a todos os seres humanos, ao tão conhecido 
complexo de Édipo. 
Esse debate, no contexto de muitas escolas antropológicas contemporâneas (como é o caso 
das brasileiras), é tido como resolvido por Claude Lévi-Strauss (estruturalista 1908 – 2009 
antropólogo) , na sua obra as estruturas Elementares do Parentesco, o autor propõe que um dos 
grandes desafios da antropologia está em saber qual a natureza (biológica ou cultural) da origem 
dos diferentes comportamentos humanos. Para ele, tudo que é universal no ser humano está ligado 
à sua biologia e tudo que é normativo, à sua sociologia. 
Para Lévi Strauss a vida social constitui um fenômeno que implica um movimento de trocas 
perpétuas através do qual as palavras, os bens, as mulheres circulam entre os indivíduos e entre 
os grupos. A sociedade, portanto, funda-se sobre a troca e só existe através da combinação de 
todos os tipos de troca: (i) de mulheres: relação de parentesco (terminológico e de atitude) (ii) de 
bens: economia (iii) de palavras e de representação: linguagem e cultura. 
O casamento, para Lévi-Strauss, envolve três sujeitos, é uma relação a três, uma mulher e 
dois homens, um que dá essa mulher, e o outro que a recebe. É uma forma de comunicação entre 
tribos que de outra forma estariam em antagonismo. O tabu do incesto, assim como o casamento, 
estabelece o social. O casamento estabelece a norma em relação à legitimidade dos filhos e o tabu 
do incesto cria a norma em relação ao fato biológico das relações sexuais. 
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Os elementos que definem a família em Antropologia têm um caráter positivo e negativo: 
definindo o tabu do incesto, define-se o que pode e o que não pode ser feito. Define-se o legítimo e 
o proibido. O mesmo se passa com a divisão sexual do trabalho, outro princípio fundamental na 
constituição da família: estabelece o que os homens e as mulheres podem e não podem fazer, 
instituindo a reciprocidade. 
Nesse ponto chega-se à questão do incesto. O tabu quanto a essa prática varia muito de 
sociedade para sociedade, estando ligado a diferentes normas em cada uma delas, porém, é o 
único costume que pode ser encontrado, sem exceção, em todas, ressaltando o seu caráter 
universal. É essa observação que leva Lévi-Strauss a fazer o seu questionamento: qual é então a 
origem do tabu do incesto, natural ou social? Para ele não há dúvidas: a resposta está na aliança, 
o tabu do incesto é resultado mais de uma convenção social do que de uma desaprovação moral, 
ao contrário do que postulava a hipótese da expressão de Westermarck. 
Assim, o tabu do incesto para antropologia é interpretado como um princípio de 
organização social é uma forma de estabelecer aliança entre os grupos. Essa interpretação 
introduz uma dimensão política. É através da proibição da relação com as pessoas do próprio grupo, 
que se introduz a necessidade de se comunicar com outro grupo, através do casamento. O 
evolucionista, Edward Tylor que também estudou o parentesco, dizia que os povos se defrontaram 
com a seguinte escolha: casar fora ou ser morto fora. A questão era essa: sair do isolamento da 
consangüinidade, para a expansão através da aliança (o casamento). A aliança através do 
casamento era a forma de evitar o confronto entre tribos. 
Persite alguns questionamentos dos antropólogos biológicos se a possibilidade de tal 
“repugnância instintiva” existir é tão absurda como postula Lévi-Strauss. Não existiriam talvez, boas 
razões biológicas para que a natureza direcionasse a escolha dos parceiros sexuais? 
 
 
 
3. RELIGIÃO 
 
 
Se Deus existe ou não é questão que a Antropologia não ousa enfrentar, quanto mais 
responder. A Antropologia acolhe todos os sentimentos e visões da religião. “Toda religião é 
verdadeira” Durkheim. Parte da visão de que a religião está em todas as culturas. O que é sagrado 
e o que é profano? Para Durkheim o sagrado é aquilo que a cultura, como coletividade, reconhece 
como merecedor de respeito e reverência porque toca a todos. A religião possui uma origem social 
no sentimento religioso...sensação poética ou sagrada diante de um nascer do sol?. Assim, a 
religião deriva antes de tudo de um sentimento de pertencimento do indivíduo a coletividade. A 
religião é uma instituição cultural, um conjunto de crenças em torno do sagrado. 
“Religião é uma crença no sobrenatural”, afirma Tylor (evolucionista). Todas as religiões 
possuem esses dois elementos: (i) crença: que é antes de tudo um ato de fé, de confiança, de 
respeito e reconhecimento pelo sistema de mitos que representam a religião. (ii) o sobrenatural: que 
é o objeto da fé, portanto, tudo aquilo que escapa ao entendimento humano. 
No século XIX, Frazer (evolucionista) criou modelo de desenvolvimento da humanidade na 
religião, dividindo-os nas fases da - magia, - religião - ciência. 
Foram os primeiros a realizar estudos sobre magia e religião dos povos antigos e primitivos 
e sua influência não só na evolução das religiões mundiais, mas também na construção das 
instituições e do direito. E isto porque é certo que as crenças dos antigos gregos e romanos 
persistiram durante muito tempo e exerceram grande influência na construção e solidificação da 
religião, das instituições e do direito que moldam a sociedade contemporânea. 
Possui três atributos: 1. Um discurso, isto é, uma justificativa que lhe dá sentido e finalidade. 
2. Participantes ou membros que se agregam 3. Comportamentos específicos, incluindo rituais. Item 
extra é a eficácia – dar sentido e ser verdadeira, produzir resultados. 
A religião tem uma relação toda especial com o ser humano, bem diferente de outros 
fenômenos antropológicos. Ela, por exemplo, está na raiz de muitas normas e valores da nossa 
sociedade; influi na compreensão que os seres humanos têm de si mesmos e na identidade de 
muitos povos e nações. 
A Antropologia da Religião, partindo de uma reflexão sobre a humanidade e sobre a cultura 
como realidades complexas, busca compreender como o ser humano foi e continua sendo visto por 
16 
 
ele mesmo e por uma das suas mais significativas e originais manifestações, a religião. Não se trata 
de fazer uma análise de cada uma das religiões, mesmo aquelas mais conhecidas. Na Antropologia 
da Religião faz-se uma análise científica do fenômeno religioso, enquanto experiência 
antropológica, isto é, do ser humano. E ao se fazer isso podemos nos reportar a manifestações 
culturais e religiosas do mundo, particularmente as mais conhecidas e as que mais influenciam a 
vida das sociedades. 
Aliás, a aproximação entre religião e direito é constatada através do casamento religioso que 
é equiparado ao civil. 
 
Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, 
equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua 
celebração. 
 
Pode ser qualquer religião? Não há qualquer restrição jurídica. A Constituição Federal não 
define o conceito de religião, nem autoriza o legislador ordinário a defini-lo
porque é um conceito 
antropológico. Não há como escolher melhores ou selecionar que tipo de casamento religioso 
equipara civilmente. Claro que usualmente é o casamento na Igreja Católica, mas proteção 
constitucional deve alcançar todas elas. 
 
At. 5º. VI CF - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício 
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 
 
Art. 226 § 2º CF - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
 
 
 
4. ANTROPOLOGIA NA ATUALIDADE: a identificação com o Direito 
 
O antropólogo possui uma responsabilidade social e política muito grande, e por 
consequência o operador do Direito também! Não pode ser um agente de alienação cultural, da voz 
de quem sempre se cala, mas um instrumento no diálogo entre culturas diferentes. 
Alguns antropólogos entendem que a característica mais significativa da cultura são os seus 
valores. Miguel Reale também entende que o valor é fundamental para compreender o fenômeno 
jurídico, porque defende que o direito é fruto da experiência e portanto possui uma dimensão 
valorativa que não pode ser desprezada ( elementos constitutivos da experiência jurídica : fato – 
valor e norma – teoria tridimensional. Fato tende a realizar o valor mediante a norma) 
Assim, as conexões do direito com a antropologia são evidentes, e torna o direito um sistema 
aberto, dependente de outros, visto que o ser humano é o valor fonte de todos os valores e por 
consequência constitui objeto central da Antropologia. Temas como igualdade e diferença são, ao 
mesmo tempo, jurídicos e antropológicos. 
Além disso, o Direito é um aspecto da cultura que constitui objeto específico da antropologia 
cultural. 
A Antropologia tal como o Direito também se interessas pelos conflitos sociais, 
principalmente no que diz respeito à intervenção normativa na decisão jurídica desses conflitos, 
bem como desdobramento da ordem jurídica e diante das transformações culturais, sociais e 
políticas e econômicas. 
Há tópicos em antropologia que são importantes aos profissionais do direito, como também 
há tópicos do direito que servem ao antropólogo. Algumas dessas noções comuns são os conceitos 
de pluralidade jurídica, direito socioambiental, etnicidade, dinâmicas de poder, sanções informais, 
mediação de comunidades de direito informal, relações estado-indivíduo, direitos humanos, 
responsabilidade social corporativa, direito comparado, liberdade religiosa, liberdade de consciência 
em tratamento médicos. 
No entanto, por si só esses tópicos não formam a disciplina de antropologia jurídica. É a 
teoria da antropologia jurídica que os articulam. 
EXEMPLO: Eis um exemplo do modo de trabalho da antropologia jurídica. O antropólogo e 
sociólogo Bruno Latour passou meses assistindo sessões de um tribunal superior francês para 
17 
 
entender a produção da justiça pelos profissionais da lei. Se ele não lançasse mão da teoria, os 
dados coletados seriam meras descrições. 
Na formulação da teoria, a antropologia jurídica pode abordar os tópicos que mencionei e 
também outras disciplinas, como psicologia, sociologia, criminalística, história, geografia, e claro, o 
direito. 
Outro exemplo da prática da antropologia jurídica no Brasil, os poucos antropólogos do 
Ministério Público passam tempos tentando examinar e mediar entre interesses de partes distintas. 
Tipicamente trabalham com causas indígenas, mas poderiam bem servir em direito de família ou 
do trabalho. Sem método ou teoria antropológica, a atuação deles seria semelhante de assistentes 
sociais, porém sem tomar responsabilidade pelos seus assistidos. 
Por essa razão, o testemunho de um antropólogo para ter validade jurídica não pode se 
basear a uma entrevista e uma visita. Requer um contato intenso e prolongado com as comunidades 
envolvidas. 
Atualmente a Antropologia possui três eixos temáticos centrais: (i) etnologia indígena 
(ii) estudo das populações negras (iii) mundo da cultura nos grandes centros urbanos 
(movimentos sociais). 
São assuntos com amplo envolvimento e identificação com o Direito, quer seja através da 
proteção jurídica das minorias ou da definição de políticas públicas. 
 
 
4.1 O OBJETO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA 
 
Dedica-se ao estudo do Direito das sociedades “simples”, das Instituições do Direito da 
sociedade contemporânea, do Direito Comparado e do pluralismo jurídico (multiplicidade de práticas 
jurídicas). 
Da Antropologia Jurídica clássica é o Direito das sociedades simples, sem escrita e sem 
Estado – ou distante dele. Pelo estudo do Direito de outras sociedades a Antropologia Jurídica nos 
permite compreender melhor o sistema jurídico da nossa própria sociedade. 
Mas pensar em Antropologia Jurídica é se desvincular do Direito do Estado. Para 
Antropologia um povo pode criar mecanismos de organização e controle social sem 
necessidade de formalização de regras e sem a intervenção de um único poder centralizado 
e burocratizado. 
O indivíduo não é escravizado pelas normas reguladoras, nem ameaçado pelas sanções 
coercitivas, mas é socializado em decorrência da sua dependência do grupo. 
Ex: das instituições culturais, familiares, chefes. 
Não existe universalidade jurídica nas sociedades humanas e tampouco existem leis inúteis 
ou nocivas nas sociedades primitivas. Um retrata a experiência e a relação de sobrevivência de um 
grupo diante da natureza, outro de uma refinada e complexa lógica jurídica (sociedades com 
Estado). 
A ANTROPOLOGIA JURÍDICA estuda as restrições socioculturais que possuam sanções 
executáveis pela sociedade. Abrange desde a descrição das normas, elaboração das leis, análise 
da coexistência de sistemas jurídicos formais e informais, pesquisa do desvio das normas legais, 
perícia, mediação e resolução de conflitos, além da correção e readaptação dos desviantes. No 
campo teórico a antropologia jurídica examina os fatores culturais e sociais envolvidas nos processo 
legais. 
 
 
 
5. A ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL 
 
A Constituição de 1988 reconheceu a pluralidade da nossa sociedade ao reconhecer os 
direitos de algumas minorias, como os índios e os negros. Fez-se necessário refletir sobre situações 
concretas da nossa sociedade heterógena, pluriétnica e multicultural. 
A antropologia jurídica ainda engatinha no Brasil. Aqui estão alguns objetos de estudos e 
áreas de urgente carência de pesquisa e aplicação da antropologia jurídica no país: 
(i) Pluralismo Jurídico: é o estudo da coexistência de vários sistemas jurídicos em uma 
mesma sociedade. Geralmente não é bem aceito a concorrência de outros sistemas jurídicas onde 
18 
 
vigora o direito positivistas típicos dos países baseados em códigos legais de tradição romano-
germânica. Há uma recente tendência de valorizar e aceitar a validade mediação privada de uma 
determinada comunidade. Isto é, deixar que os grupos étnicos, organizações religiosas, 
associações de bairro e juntas comerciais mediem as causas de seus membros. Porém, se há 
aceitação do Estado das mediações intra-comunitárias, ainda há pouca discussão de resoluções 
de conflitos jurídicos inter-comunidades. Um exemplo dessa falha são os conflitos entre fazendeiros 
e indígenas no Brasil. 
(ii) Direito dos Povos Indígenas: os povos indígenas e tribais possuem seus direitos 
garantidos pela resolução da Organização Mundial do Trabalho 169, entre eles o direito de auto-
definição, preservação de território e cultura. Ainda não há cursos públicos para formar juristas 
dentro dos direito das diversas etnias no Brasil. 
(iii) Direito das Comunidades Quilombolas: a Antropologia atribui especial atenção 
àqueles em condições de vulnerabilidade e exclusão social, como é o caso das comunidades 
remanescentes de quilombos. 
(iv) Direito e Desenvolvimento: o antropólogo atua desde
delimitar territórios étnicos em 
áreas rurais até mitigar interesses de partes (stakeholders) em um plano diretor urbano. 
(v) Direito Socioambiental: avalia e media os interesses e direitos de diferentes 
comunidades e aderência às legislações sociais e ambientais. Também julga disputas, fiscaliza o 
cumprimento e provê remédios em processos de certificações sociais e ambientais. Já é um tanto 
comum antropólogos participarem de EIA (Estudo de Impacto Ambiental). Além de avaliar, o 
antropólogo também tem o papel legal de negociar com as comunidades e facilitar a realização de 
audiências públicas para discutir um consentimento informado em termos significantes e 
compreensíveis entre partes. 
(vi) Criação de leis, políticas e diretrizes. O antropólogo pode sondar a população, 
ouvindo-a e observado suas necessidades que precisam ser traduzidas em leis. Atividade ausente 
no Brasil. 
(vii) Estudo dos desvios das normas legais: nesse campo, a antropologia jurídica 
sobrepõe a outras disciplinas como a criminologia, a sociologia jurídica e a psiquiatria forense. A 
antropologia forense brasileira teve um nascimento abortivo na “escola Nina Rodrigues”, inexistindo 
antropólogos legistas e mesmo antropólogos forenses socioculturais em orgãos atuação policial ou 
penal. 
(viii) Estudo das instituições para entender a constituição e reprodução do saber jurídico, 
o problema do acesso ao Direito. 
 
 
 
6. RESPEITO A DIFERENÇA: O Direito das Minorias – o direito de ser igual e diferente. 
 
 A CF garante o direito de ser igual no caput de art. 5º e o direito de ser diferente em vários 
outros incisos do mesmo artigo, como o VI e X. Esse direito de ser diferente, envolve o direito das 
minorias. 
 
Igualdade – cidadania (esfera pública) 
 
Intimidade – diferença (esfera privada) 
 
 Minorias são grupos numericamente inferiores ao resto da população de um Estado e numa 
posição não dominante num país, mas que possuem objetivamente características étnicas, 
religiosas ou linguísticas distintas do resto da população, e que subjetivamente desejam preservar 
a sua intimidade, opção, condição, cultura, as suas tradições, a sua religião, a sua língua. 
 
6.1. ESTIGMAS: São ideias e visões preconcebidas com o intuito de diminuir, inferiorizar, marcar o 
diferente. Originado pela questão do etnocentrismo, que buscava tornar a identidade europeia, seus 
valores étnicos como o centro de todas as coisas, como a cultura verdadeira e correta. O outro é 
diminuído, inferiorizado. 
 
 
19 
 
6.2. ETNICIDADE: 
 
Etnia – Definição de um povo, marcado por traços culturais que lhe dão identidade própria. 
Conjunto de fatores materiais, subjetivos e simbólicos que dão identidade própria para determinado 
grupo social. Muito além de traços físicos. Os contornos da etnia são essencialmente cultural. 
O que define um povo é sua etnia. Para além das características físicas, o que 
fundamentalmente individualiza um agrupamento humano é sua cultura construída em comum. 
O conceito de raças como critério reducionista está superado desde 1950 quando a Unesco 
recomendou o critério de raça humana! 
Lembre-se : - etnologia é o estudo das identidades étnicas - etnografia descrição gráfica 
dos comportamentos étnicos. 
A cultura é constituída por todas as ações humanas, sejam físicas (artefatos, construções, 
bens, etc.) ou mentais (crenças, valores, conhecimentos, etc.). A junção desses itens formará a 
identidade de um povo, o que marcará sua etnia. Essa identidade é reconhecida por meio das 
diferenças entre os variados grupos, e a comparação de diferentes identidades é denominada de 
IDENTIDADE CONTRASTIVA (Relação identidade-diferença. Para perceber os limites da minha 
identidade preciso comparar com a identidade do outro). 
 
 
6.3. FRICÇÃO INTERÉTNICA. O processo de encontro entre duas identidades diferentes (não raro 
violento) é chamado de fricção interétnica. A agressão ocorre pela tendência que os grupos 
possuem de imaginar o “outro” como sendo inferior, o que acarreta no intolerante processo de 
exclusão do agrupamento subjugado. 
 
Fricção interétnica: processo de “encontro” entre duas ou mais culturas → quando identidades 
diferentes se encontram. Violência física e simbólica. Tema atual dos hispânicos e negros nos EUA, 
na Europa com os imigrantes e logo no Brasil. 
 
Essa fricção interétnica gera o processo de exclusão; 
 
6.4. EXCLUSÃO: Prática de intolerância. O não reconhecimento das diferenças gera intolerância. 
 
Qual a origem disso? O etnocentrismo. A crença na superioridade do povo a que se 
pertence, seguida de um sentimento de menosprezo pela cultura que se afasta da posição cultural 
do observador. 
 
Quando esse menosprezo transforma-se em genocídio, tem-se o genocídio cultural, 
conhecido como etnocídio. Ele caracteriza-se pela aculturação de um grupo de indivíduos por outro, 
com sérios prejuízos aos valores tradicionais da sociedade dominada. Como aconteceu no Brasil 
no aculturamento pela evangelização. 
Etnocídio – previsto na Declaração de San Jose da Costa Rica. Negar a um povo o direito 
de desfrutar, desenvolver e transmitir sua própria cultura. 
 
6.5. TOLERÂNCIA apresenta-se como sendo o oposto dos regimes de exclusão étnica. Ela se 
baseia no reconhecimento da importância da diferença como instrumento de uma sociedade mais 
íntegra, fomentando o conhecimento mútuo entre as variadas etnias e apreciando a diversidade 
cultural. 
É a tolerância que fundamenta a democracia pluralista, a qual vê os diversos atores sociais como 
essenciais para a formação de um patamar civilizatório aceitável. 
Aceitar a existência do outro, o respeito e valorização dos traços singulares do outro. 
 
 
6.6. ALTERIDADE: "é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus 
direitos e, sobretudo, da sua diferença". "O estabelecimento de uma relação de paz com os 
diferentes. A capacidade de conviver bem com a diferença da qual o outro é portador". 
 
20 
 
- Caráter ou estado do que é diferente; que é outro; que se opõe a identidade. Encontro das 
diferenças. Respeitar a especificidade étnico-cultural, garantindo a ele o direito de ser e permanecer 
o que é. 
 
Se faltar alteridade nas relações interpessoais a tendência é a de que ocorram conflitos; pois 
o homem - colonizador por natureza, tende a achar que sabe mais e melhor do que seu semelhante, 
que suas ideias são sempre as melhores, que seu padrão de comportamento é o correto; ou seja, 
o que diferir dos modelos genéricos é errado, sujo e incorreto 
 
Descoberta da alteridade é descobrir relação que nos permite deixar de identificar nossa 
pequena província de humanidade como a humanidade e assim deixar de rejeitar o presumido 
“selvagem” fora de nós. 
 
A experiência e elaboração da alteridade levam a ver aquilo que nem se consegue imaginar 
devido à dificuldade em prestar atenção ao que é habitual, familiar, cotidiano e considerado 
evidente. 
 
Através da experiência da “diferença” passa-se a notar que o menos dos comportamentos 
não é natural, causando surpresa sobre nós mesmos. 
 
Qual o desafio? Relativizar ou existe algo para universalizar?

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