Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ASPECTOS RECENTES DA DINÂMICA POPULACIONAL PARAIBANA Ivan Targino * Adriana Borges dos Santos ** I Introdução O trabalho traça uma visão geral da dinâmica da população paraibana durante a década de 2000. A dinâmica de uma população tem três elementos básicos: natalidade, mortalidade e mobilidade. Isto é o ritmo de crescimento de uma população depende dos nascimentos, das mortes e do movimento de entrada e de saída de pessoas em uma determinada área, isto é da migração. Estes três fatores, contudo, dependem do desenvolvimento socioeconômico da área que se estude. Isto é, o nascer, o morrer e o migrar estão intimamente relacionados com a dinâmica econômica e social do espaço que se analise. Assim, procura-se relacionar a evolução da população estadual com a evolução da estrutura econômica e social da Paraíba. Entende-se que o estudo das principais variáveis demográficas (fecundidade, natalidade, mortalidade e mobilidade) só pode ser realizado no contexto do processo de transformações sociais e econômicas, na medida em que existe uma interrelação entre a dinâmica demográfica e a socioeconômica (SZMRECSÁNYI, 1997). Para realizar este estudo foram utilizadas informações colhidas tanto na bibliografia sobre a evolução econômica do Estado quanto nas principais instituições de produção e de tratamento de estatísticas; a saber: IBGE, IPEA, IDEME e DATASUS. Os dados foram tratados com base na estatística descritiva. As principais variáveis pesquisadas foram: natalidade, mortalidade, migração, composição da população (raça, sexo e idade) e distribuição espacial da população. Além dessa introdução, o artigo compreende mais três sessões. A segunda trata da evolução histórica da população paraibana. A terceira apresenta a evolução das variáveis básicas da dinâmica demográfica estadual (natalidade, mortalidade e mobilidade), bem como a composição e distribuição espacial da população. A última sessão contempla a conclusão do trabalho. 2 Evolução histórica da população paraibana Antes da criação da Capitania Real da Paraíba, que ocorreu em Janeiro de 1574, o território paraibano era habitado por vários povos indígenas (PINTO, L. 1973, p. 27, 34, 35). O litoral Paraibano era povoado ao sul do rio Paraíba pelos Tabajaras e ao norte pelos potiguaras, ambas as tribos eram descendentes da raça Tupi. Já pelo sertão e serra da Borborema habitavam os Cariris descendentes da raça Tapuia. (MARIZ, 1922, p. 17). A relação entre os brancos colonizadores e os povos indígenas caracterizou-se fundamentalmente pelo conflito, levando-se em consideração que a relação desses dois grupos com o território obedecia a lógicas diferentes: enquanto para os índios o território era o lugar da vida, isto é da produção de valores de uso que garantiam a sobrevivência, para o branco colonizador o território era um lugar de exploração, tendo em vista a produção de um excedente colonial. Inevitavelmente, a relação teria que ser * Professor do Departamento de Economia da UFPB ** Aluna do Curso de Ciências Econômicas e bolsista PIBIC/UFPB pautada pelo conflito. Esse conflito foi marcado inicialmente pela tentativa de escravização do índio. Na sequência, foi marcado pela eliminação física de tribos inteiras para a apropriação do território. A expressão maior desse processo foi a chamada “guerra dos bárbaros”, que resultou em grande carnificina dos indígenas (TARGINO, 2013). O povoamento da Paraíba pelo colonizador ficou, inicialmente, restrito ao litoral, onde foram fundados os engenhos de açúcar. Só no século XVII, é que esse povoamento se estende para o interior, comandado pela criação de gado (TARGINO, 2013), caracterizado por ser um povoamento disperso e rarefeito em conformidade com a exploração pecuária ultraextensiva. No início do século XVIII, não se tem uma estimativa segura da população que habitava na Paraíba 1 . Um dos primeiros dados estatísticos para o estado da Paraíba é verificado a partir de 1774, estimando uma população total em torno de 30.305 habitantes, destacando-se o litoral e o sertão como os principais núcleos de maior concentração populacional, enquanto o agreste apresentava-se ainda como uma área despovoada. (PINTO, I. 1977, vol. I, p. 165, 166). O século XIX apresentou um ritmo de crescimento ainda maior da massa demográfica paraibana. Com efeito, a população que era de 30.305 habitantes, no ano de 1774, aumentou 12 vezes mais, segundo os dados do censo de 1872, passando para 376.226 habitantes. Esse crescimento só não foi maior em virtude da ocorrência de secas e de pestes. Grandes secas assolaram o sertão paraibano durante esse período 2 . Via de regra, às secas estavam associadas à ocorrência de pestes e epidemias de varíola, febre amarela e cólera que se faziam mortíferas em virtude do estado de desnutrição da população (PINTO, 1977, vol. II, p. 137, 197, 215, 219). Outro ponto que merece destaque na história da demografia paraibana é o crescimento populacional que ocorreu no Agreste durante o século XIX. Em 1782, a população do Agreste era de 7.914 habitantes, representando apenas 15% do total da população paraibana que era de 52.463 habitantes. Por volta de 1851, a população do Agreste aumentou para 111.777 habitantes, representando 53% da população total que era de 208.952 habitantes. (TARGINO, 1989, p. 4). Este aumento substancial da população do Agreste paraibano pode ser explicado pelas condições naturais favoráveis que influenciava o aumento da imigração sertaneja, pelo aumento do cultivo do algodão nessa área e pelo fim das rivalidades com os índios cariris, possibilitando a ocupação dessa porção do Estado. A partir de 1872 há uma maior precisão dos dados sobre a população da Paraíba, em virtude da realização dos censos demográficos desde aquela data. A tabela 1 mostra os dados da população brasileira e da paraibana desde o primeiro recenseamento geral realizado no Brasil, no final do século XIX. Analisando-se a evolução da participação da população paraibana no total da população brasileira, permite-se identificar quatro períodos distintos, a saber: a) Primeiro período de declínio (1872-1900): por ocasião do primeiro recenseamento geral, a população paraibana representava 3,8% da população brasileira. Ao final das três décadas em foco, essa participação cai, praticamente, um ponto 1 Até a realização do primeiro censo demográfico brasileiro, realizado em 1872, as estimativas da população eram feitas a partir das anotações paroquiais ou de levantamentos parciais ordenados pela coroa portuguesa. 2 Durante esse período ocorreram as seguintes secas: 1776/1778; 1782; 1790/1793; 1808/1809; 1824/1825; 1831; 1833/1835; 1844/1846 (TARGINO e MOREIRA, 2006). percentual. A população brasileira cresceu 75%, enquanto que a paraibana aumentou apenas 33%. Alguns fatores podem ser arrolados como causas explicativas para esse declínio: i) em primeiro lugar, a produção agrícola estadual entra em crise, para isso concorreu, de um lado, o fechamento do mercado externo ao açúcar brasileiro em resposta à expansão do açúcar de beterraba europeu e, de outro lado, a retração da cultura do algodão decorrente do fim da guerra da secessão (MARIZ, 1978, p. 21-22); ii) em segundo lugar, nesse período, ocorreu a grande seca de 1877-79; ela foi responsável não só pela desorganização do setor agrícola como também pela mortalidade de uma parcela significativa da população; segundo Mariz “ foi a seca mais mortífera e desorganizadora da nossa história ... não há descrição bastante vivazpara a fome, o êxodo e consequente morticínio que se produziram.” (MARIZ, 1978, p. 22); iii) em terceiro lugar, o boom da borracha tornou a Amazônia um polo de atração para as populações dos estados nordestinos, castigadas tanto pelas secas quanto pela desorganização da atividade agrícola regional; iv) em quarto lugar, embora com poder explicativo bem mais atenuado deve-se lembrar a venda de escravos para os cafezais paulistas e fluminenses, com efeitos nocivos sobre o produto agrícola paraibano; já em 1855, o Presidente Paes Barreto assim se exprimia: “A falta de braços que todos os dias vai se tornando mais sensível, pela grande quantidade de escravos que são exportados para o Sul; ... são outros entre tantos embaraços com que luta a lavoura da Paraíba.” (PINTO, 1977, v. 2, p. 229); v) em quinto lugar, nesse período, verifica-se o incremento dos fluxos imigratórios externos que se dirigiam principalmente para a região produtora do café. Este último fator ampliou o denominador da fração, ao passo que os demais concorreram para reduzir o numerador, resultando, obviamente, no declínio da contribuição da Paraíba para a formação da população brasileira. Tabela 1 – População residente no Brasil e na Paraíba (1872-2010) Fonte: IBGE. Censos demográficos b) Período de aumento da participação (1900-1940): Nessa fase, registra-se uma ligeira retomada do crescimento da participação paraibana no total da população brasileira, ainda que sem atingir o nível de 1872. Nesse período, são encontradas as maiores taxas de crescimento da população estadual (3,4% a.a entre 1900 e 1920 e 1,9% a.a entre 1920 e 1940). Como é pouco provável que tenha havido uma mudança nos padrões de mortalidade e mortalidade da Paraíba em relação ao Brasil durante aqueles anos, só resta a hipótese de uma forte redução da emigração estadual como explicação para a elevação da taxa de crescimento da população, uma vez que a imigração foi ANOS BRASIL (1) PARAÍBA (2) 100* (2/1) 1872 9.930.478 376.226 3,79 1890 14.333.915 457.232 3,19 1900 17.438.434 490.784 2,81 1920 30.635.605 961.106 3,14 1940 41.236.315 1.422.282 3,45 1950 51.944.397 1.713.259 3,30 1960 70.992.343 2.018.023 2,84 1970 94.508.583 2.445.419 2,59 1980 121.150.573 2.810.032 2,32 1991 146.917.459 3.200.677 2,18 2000 169.799.170 3.443.825 2,03 2010 190.732.694 3.766.834 1,97 insignificante. Alguns fatores de ordem econômica podem ter contribuído para aumentar a “capacidade estadual de retenção” de população, como se verá a seguir: i) com o declínio do ciclo da borracha diminui o poder de atração da região Norte sobre os fluxos migratórios procedentes do Nordeste; por outro lado, não havia ainda se constituído outro polo alternativo para onde se dirigisse os possíveis fluxos emigratórios estaduais; o crescimento da economia cafeeira e a expansão da economia urbana industrial do Sudeste ainda não tinham tornado essa região em polo de atração para os migrantes paraibanos, em virtude de uma série de fatores, dentre os quais pode-se apontar a existência de mão de obra disponível em áreas mais próximas (Bahia, Minas e Espírito Santo) e as deficiências dos meios de comunicação; ii) internamente, assiste-se a um revigoramento da atividade agrícola, destacando-se, em particular, o da cana-de- açúcar e o do algodão; a exportação da cana-de-açúcar situava-se em um patamar de três mil toneladas na primeira década, passa para 7 mil toneladas na década de 1930 (ANDRADE, 1987, p. 28); a agroindústria canavieira passa por sérias modificações tanto no processo produtivo (instalação de usinas) quanto na organização do mercado (criação do Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA); estas alterações ao mesmo tempo que impulsionaram a atividade açucareira, contribuíram também para reduzir as oscilações que a caracterizam; ocorre igualmente um novo surto algodoeiro, motivado pela elevação do seu preço; o valor das exportações de algodão que era da ordem de 6,8 milhões de cruzeiros, em 1913, eleva-se no quinquênio 1933/37 para 553,3 milhões (MARIZ, 1978, p. 38-46); o crescimento do valor nominal das exportações nesse período está bem acima do nível de variação de preços no período (PELAEZ e SIZIGAN, 1981, p.180); vale lembrar que as lavouras de cana-de-açúcar e do algodão deixam de depender unicamente do mercado externo; o crescimento industrial sobretudo dos setores têxtil e alimentar, assim como o aumento da população do Sudeste foram fatores que concorreram para a formação do mercado interno para esses produtos, embora a produção sudestina desses produtos já começassem a concorrer com a nordestina; iii) verifica-se, também, no Estado, o crescimento das atividades urbanas e do aumento das unidades industriais, sobretudo daquelas ligadas ao aos ramos de alimentos e têxtil (TARGINO, 2011); vale ressaltar a importância das atividades de beneficiamento e comercialização do algodão; com efeito, durante os primeiros quarenta anos do século XX, não só cresceu o número das descaroçadoras, cerca de 800 em todo Estado, (MARIZ, 1977, p. 121)), como também das pequenas e médias indústrias de beneficiamento que foram sendo instaladas nas principais cidades do Estado; o dinamismo das atividades de beneficiamento e comercialização do algodão foi um fator decisivo no crescimento urbano e na demanda de trabalhadores, isso apesar da presença das fábricas e usinas terem um efeito destruidor sobre as pequenas unidades de beneficiamento. A esse respeito afirma Celso Mariz: “ Deu-se com a indústria do algodão o mesmo fenômeno que se produziu com a do açúcar ...A cada chaminé de Anderson Clayton, da SANBRA e do grupo moderno que se aparelhou ao aparecimento destes, paravam 50 ´vapores´ em torno.” (MARIZ, 1977, p. 122) c) Segundo período de declínio (1940-1980): a partir de 1940, os dados censitários acusam um decréscimo da participação da população paraibana em relação à brasileira: 3,4%, em 1940, contra 2,32%, em 1980. Esse declínio pode ser atribuído a um conjunto de fatores relacionados tanto à dinâmica econômica estadual quanto à nacional. No tocante à dinâmica da economia paraibana, podem ser sublinhados: i) após a forte expansão das culturas do sisal e do algodão, ocorrida nas décadas de 50 e 60, essas culturas passam a sofrer a concorrência das fibras sintéticas e do aumento da oferta internacional desses produtos; ii) a lavoura canavieira também passa a sofrer a concorrência mais aguçada da produção do Sudeste, tendo sido revitalizada com a implantação do Proalcool, a partir de 1975; iii) a modernização agrícola e a expansão da pecuária passam a expulsar grande número de trabalhadores rurais, que se veem obrigados a migrar. No que diz respeito à dinâmica econômica nacional, convém ressaltar aspectos que fortaleceram o poder de atração sobre os fluxos emigratórios paraibanos: i) concentração das atividades urbano-industriais no eixo Rio - São Paulo, que se transformou no centro hegemônico da economia nacional; ii) a construção de Brasília, que passou a demandar um grande número de trabalhadores sem maiores requerimentos de qualificação; a expansão da fronteira agrícola nas regiões Norte e Centro-Oeste atraiu um fluxo expressivo de migrantes; iii) a integração do espaço nacional pela construção dos grandes eixos rodoviários que passaram a ligar as diferentes áreas do país, quebrando o sistema “arquipélago” que comandava a estruturação do espaço econômico nacional. d) Período de redução da intensidade do declínio da participação (1980-2010): nesse período, embora tenha continuado a declinar a participação, reduziu-se bastante a intensidade do seu ritmo: apenas 0,35 pontos percentuais. Dentre as principaisexplicações para esse fenômeno estão: i) a retração da atividade econômica durante as décadas de 1980 e 1990 afetou mais profundamente o centro hegemônico da economia brasileira, com uma forte elevação do nível de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo, reduzindo o seu poder de atração sobre os fluxos emigratórios paraibanos; ii) o processo de globalização e de abertura comercial provocaram uma redistribuição das atividades industriais, forçando as indústrias intensivas em mão de obra a buscarem se localizar em áreas onde fossem menores os custos com a mão de obra, favorecendo o crescimento do emprego industrial no Nordeste; iii) essa redistribuição espacial foi reforçada através da “guerra fiscal”, tendo a Paraíba oferecido vantagens e incentivos fiscais para atrair, particularmente, unidades da indústria têxtil e coureiro-calçadista; iv) intensificação do processo de urbanização aliado ao crescimento do setor terciário, de modo que os maiores centros urbanos estaduais passaram a reter os fluxos migratórios; v) retorno de migrantes que anteriormente tinham se dirigido para os principais polos nacionais, que passaram a ter dificuldades de se inserirem no mercado de trabalho dada a elevação da taxa de desemprego nesses centros. Importa sublinhar que o subperíodo 1991-2010, registra um declínio mais lento da participação (1991-2010): A partir de 1991 os dados censitários apontam para um período de decréscimo mais atenuado da participação da população paraibana em relação à população brasileira. No ano de 1991 a população paraibana representava 2,1% em relação ao total da população brasileira, reduzindo este percentual para 1,9% em 2010. Esta tendência de um declínio mais lento se explica pela queda na taxa de crescimento anual da população em decorrência, principalmente da retração nos índices de fertilidade e natalidade, e pela atenuação da emigração e o crescimento da migração de retorno. Convém lembrar que a participação da população estadual na brasileira continuou a decrescer apesar da população paraibana ter apresentado um ligeiro aumento no seu ritmo de crescimento na última década (0,9% a.a) quando comparado ao registrado na década de 1990 (0,82% a.a). A seguir discute-se o comportamento das variáveis demográficas durante a década de 2000. 3 Evolução das variáveis demográficas Segundo o censo demográfico, a população da Paraíba, em 2010, era de 3.766.834 habitantes. Durante o último período censitário, a população estadual cresceu 323 mil, o que equivale a uma taxa de crescimento da ordem de 9,3%, ou uma taxa média geométrica anual da ordem de 0,9%. Chama-se atenção para o fato desta ser uma taxa inferior à taxa que garante a reposição da população, vale dizer, continuando essa tendência, a população paraibana tende a diminuir. Que fatores podem explicar esse desempenho? A seguir será discutida a evolução dos fatores que condicionam esse ritmo de crescimento. 3.1 Fecundidade e natalidade A taxa de fecundidade indica o desempenho reprodutivo que uma mulher ou um grupo de mulheres teria ao fim de seu período reprodutivo. Ou seja, o índice de fecundidade mede o número médio de filhos por mulher em idade de procriar, de 15 a 45 anos. A tabela 2 mostra a taxa de fecundidade do Brasil, do Nordeste e da Paraíba nas duas últimas décadas. Tabela 2 – Brasil, Nordeste e Paraiba: Taxa de fecundidade total (1991/2000 e 2000/2009) LUGAR 1991 - 2000 2000 - 2009 Brasil 2.36 1.94 Nordeste 2.69 2.04 Paraíba 2.53 2.25 Fonte: IBGE - Síntese de Indicadores Sociais Tal como ocorreu no Brasil e no Nordeste, observa-se também na Paraíba, uma redução do número de filhos tidos por mulher na comparação das duas décadas. No entanto, em nível estadual, a redução foi menor do que a registrada em nível regional e nacional. A queda na média de filhos tidos por mulher na Paraíba foi de 0,28, contra 0,65 no Nordeste e 0,42 no Brasil. Isto fez com que a média paraibana tenha se situado acima da média regional, sendo a Paraíba o terceiro estado do Nordeste em quantidade de filhos por mulher, sendo menor que o Maranhão (2,31) e Alagoas (2,29). As explicações para a queda da taxa de fecundidade são estabelecidas em dois níveis: o das determinações próximas e o das gerais. Em relação aos determinantes gerais, Francisco de Oliveira lembra que a variação no padrão de fecundidade ocorre não de acordo com as flutuações cíclicas da economia, mas conforme o rebaixamento da possibilidade de “gasto de trabalho no seio da unidade familiar orientada para a produção de valores de uso”. (Oliveira, 1980, 141-5). Assim, a crescente inserção da mulher na força de trabalho influencia no declínio da taxa de fecundidade. É importante lembrar que o aumento do nível de escolaridade das mulheres também contribui para esse resultado. Embora em declínio, o índice de fecundidade total para o Estado teve um declínio menos acentuado do que o brasileiro e o nordestino, de modo que aumentou a diferença entre as médias estadual e nacional de 0,17 para 0,31. A diminuição da taxa de fecundidade mantém relação estreita com o desempenho da taxa bruta de natalidade, que mede o número de crianças que nascem anualmente por cada mil habitantes, numa determinada área, permitindo analisar a intensidade de expansão populacional. Este indicador é importante na formulação de políticas, pois estabelece parâmetros para o dimensionamento da população futura, consumidora de bens e serviços, e dos públicos- alvo das políticas sociais. Na tabela 3 estão apresentadas as taxas brutas de natalidade do Nordeste e da Paraíba. Como se pode observar, a taxa bruta de natalidade da Paraíba também teve um desempenho decrescente nas duas últimas décadas: passa de 22,7 nascimentos por mil habitantes, na década de 90, para 17,7 nascimentos por mil habitantes n década de 2000. Tabela 3 – Nordeste e Paraíba: Taxa bruta de natalidade (1991/2000 – 2000/2010) Lugar 1991 - 2000 2000 - 2008 Nordeste 24.6 19.3 Paraíba 22.7 17.7 Fonte: IBGE - Síntese de Indicadores Sociais A diminuição das taxas de fecundidade e a postergação da maternidade, em especial no caso de mulheres com maior escolaridade, são elementos que explicam a redução absoluta e relativa dos nascimentos. Convém lembrar que a redução da taxa de natalidade na Paraíba deu-se na mesma magnitude que no Nordeste, assim, a taxa estadual continua abaixo da nordestina, mas mantendo o mesmo diferencial que na década passada. 3.2 Mortalidade Ao analisar a mortalidade não se pode perder de vista que, se por um lado a morte encarada como um fenômeno individual depende de fatores biológicos, quando vista sob o ângulo de um fenômeno coletivo está afetada pelo contexto social em que os indivíduos realizam suas trajetórias de vida. Ou seja, o processo saúde/doença não se limita ao estreitamento biológico. O morrer não é o resultado puro e simples de uma deterioração biológica “natural” (LAURELL, 1982). O trabalhador sofre, também, as consequências do desgaste sofrido pelo consumo de sua força de trabalho no processo produtivo. Neste sentido, a mortalidade é função do “consumo” da força de trabalho. Seus níveis, taxas, coeficientes gerais e específicos dependem, em ultima instância, dos níveis de exploração da força de trabalho, da intensidade de exploração, da brutalidade da exploração (Oliveira, 1980: 140). As condições de vida precárias da população e a intensidade da exploração da força de trabalho no estado da Paraíba são refletidas em uma esperança de vida ao nascer abaixo da média regional e da brasileira. A esperança de vida ao nascer indica o número médio de anos de vida esperado para um recém-nascido, considerando oconjunto das taxas de mortalidade vigente num período determinado. No contexto nacional, a Paraíba ocupa o quinto pior lugar em relação à esperança de vida, com a estimativa de 69,5 anos. Santa Catarina é o estado que tem a maior esperança de vida do país, com 75,5 anos, ficando acima da média do Brasil que é de 73 anos. Os números apontam que a Bahia (72) lidera no Nordeste, seguida de Sergipe (70,9), Rio Grande do Norte (70,4) e Ceará (70,3). No panorama regional, a Paraíba fica a frente dos estados de Alagoas (67,2), Maranhão (68), Pernambuco (68,7) e Piauí (69,3). Quanto à evolução da esperança de vida, observa-se que na Paraíba ela variou de 3,1 anos em termos absolutos, durante o período de 2000 a 2008, variação esta superior tanto à variação da média regional (2,9 anos) quanto à nacional (2,6 anos), diminuindo os diferenciais em relação ao Nordeste e ao Brasil. Tabela 4 – Brasil, Nordeste e Paraíba: Esperança de vida ao nascer (1991/2000 – 2000/2008) Lugar 1991 - 2000 2000 - 2008 Variação Brasil 70.4 73.0 2.6 Nordeste 67.2 70.1 2.9 Paraíba 66.4 69.5 3.1 Fonte: IBGE - Síntese de Indicadores Sociais A elevação da esperança de vida ao nascer pode representar uma postergação da morte, sem implicar em uma melhoria real da qualidade de saúde da população, o que exige uma análise cuidadosa desta variável. A maior difusão dos serviços de saúde, sobretudo no quadro de precariedade em que se situam estes serviços no Brasil, adia o desfecho do processo morbi-mortalidade sem necessariamente melhorar o padrão de saúde que depende em instância do nível de renda, matriz de reposição da força de trabalho. O comportamento desse indicador é fortemente influenciado pela taxa de mortalidade infantil. A taxa de mortalidade infantil da Paraíba sofre uma redução no período que vai de 2000 a 2008, em comparação com a década anterior. No período de 1991/2000, o percentual de mortes de crianças com menos de um ano de idade para cada mil nascidos vivos no ano era de 44,8%o, declinando para 36,5%o no período seguinte (veja Tabela 5). O diferencial entre a Paraíba e o Nordeste foi reduzido em 1,1 pontos percentuais, durante o período em foco. Tabela 5 – Nordeste e Paraíba: Taxa de mortalidade infantil (1991/2000 e 2000/2008) Lugar 1991 - 2000 2000 - 2008 Nordeste (2) 41,6 34,4 Paraíba (1) 44,8 36,5 1/2 1,08 1,06 Fonte: IBGE - Síntese de Indicadores Sociais A retração da taxa de mortalidade infantil no Estado é explicada pelo desenvolvimento de políticas públicas que promovem o bem-estar e a qualidade de vida da população. A combinação de investimentos em infraestrutura (principalmente em saneamento básico e disponibilidade de água potável), suplementação alimentar e saúde são três fatores decisivos na redução dos índices de mortalidade infantil. No entanto, apesar da redução do índice de mortalidade infantil, a Paraíba ainda apresenta números altos em relação aos dados regionais e nacionais, situando-se cerca de 2,1% acima da média regional, fazendo com que o estado tenha a quarta pior taxa de mortalidade infantil do país. A Paraíba está inserida no panorama dos sete estados do país, situados no Nordeste, que registraram os maiores índices de mortalidade infantil no ano de 2008, ficando abaixo de Alagoas (48,2), Maranhão (37,9), Pernambuco (37,1); e acima do Rio Grande do Norte (33,5), Sergipe (32,6) e Bahia (32,4). A taxa bruta de mortalidade, também apresenta uma tendência ao declínio, durante o período de 2000 a 2008. Na década de 1990, a taxa bruta de mortalidade era de 8,2 mortes por mil habitantes, passando para 7,4, na década seguinte (Veja Tabela 6). Esta taxa situa-se acima da média regional (6,6). Durante este período, o declínio da taxa foi um pouco maior na Paraíba (0,8) do que no Nordeste (0,6), não sendo suficiente, no entanto, para alterar a relação do valor da taxa entre as duas unidades espaciais. Tabela 6 – Nordeste e Paraíba: Taxa bruta de mortalidade (1991/2000 e 2000/2008) Lugar 1991 - 2000 2000 - 2008 Nordeste (2) 7,2 6,6 Paraíba (1) 8,2 7,4 1/2 1,1 1,1 Fonte: IBGE - Síntese de Indicadores Sociais 3.3 Crescimento Vegetativo O crescimento vegetativo ou natural de uma população é determinado pela diferença entre a taxa bruta de natalidade e a taxa bruta de mortalidade. No Estado da Paraíba, é possível observar que nos últimos anos, a população paraibana apresentou um decréscimo no seu ritmo de crescimento vegetativo. Na década de noventa, a taxa de crescimento vegetativo da Paraíba era da ordem de 1,45%, passando para 1,03 % na década seguinte. Assim, o diferencial do ritmo de crescimento vegetativo entre a Paraíba e o Nordeste decresceu de 2,9 na década de noventa para 2,4 na década de 2000. Tabela 7 – Nordeste e Paraíba: Taxa de crescimento vegetativo (1991/2000 e 2000/2008) Fonte: IBGE - Síntese de Indicadores Sociais 3.4 Mobilidade Espacial Os movimentos migratórios, ou seja, o deslocamento de população de um determinado espaço para outro, distinguem-se dos demais componentes da dinâmica populacional pelo menos sob dois aspectos: a) pelo fato de não apresentarem, como aqueles componentes, uma dimensão biológica; e b), pelo fato de, através da redistribuição espacial da população, atenuarem ou reforçarem os efeitos decorrentes da magnitude das taxas de fecundidade e mortalidade encontradas numa dada população, (SANTOS, LEVY e SZMRECSANYI; 1980). O estudo da mobilidade espacial procura detectar os fluxos migratórios e estudar qual a sua evolução. No Brasil, houve um forte crescimento das migrações interestaduais no período compreendido entre 1950 e 1980, correspondente ao processo de urbanização. Foram particularmente intensos os fluxos migratórios procedentes dos estados do Nordeste (TARGINO, 1987). Serão discutidos três aspectos da mobilidade espacial da população paraibana: o êxodo rural, a migração interestadual e a migração para áreas urbanas. Lugar 1991 - 2000 2000 - 2008 Nordeste 17,4 12,7 Paraíba 14,5 10,3 3.4.1 Êxodo rural Entende-se por êxodo rural a saída da população da área rural 3 . À medida que uma sociedade organizada sob o modo de produção capitalista se desenvolve, há uma tendência para a concentração da população nos espaços urbanos, em virtude das maiores oportunidades de inserção no mercado de trabalho aí registradas. No caso da Paraíba, esse fenômeno tem se acentuado a partir da segunda metade do século XX. Esse deslocamento tem sido responsável pelo crescimento dos núcleos urbanos estaduais como será visto adiante. Em 2000, a população rural do Estado era da ordem de 995.754 habitantes, declinando para 927.850, em 2010, havendo uma redução da ordem de 6,8% no contingente da população rural do Estado (veja Tabela 7). Portanto, ainda está em curso o êxodo rural, continuando a provocar uma redução da população rural. Caso a população rural tivesse crescido á mesma taxa do crescimento vegetativo da Paraíba (1,03% a.a.), a população rural paraibana deveria ter sido de 1.106.483. Como só foram recenseadas 927.850 pessoas na área rural, tem-se, portanto, um êxodo rural estimado da ordem 178.633 mil pessoas, o equivalente a 19,2% da população rural de 2010. Tabela 7 – Paraíba: População rural e estimativa do êxodo rural (2000-2010) Anos População rural 2000 995 754 2010 927 850 Êxodo estimado 178.633 Fonte: IBGE – Censo Demográfico Além do poder de atração que exercem as cidades, em virtude das melhores oportunidades do mercado de trabalho e da maior disponibilidade de serviços sociais (educação, saúde, lazer, cultura, etc.) e de infraestrutura 4 , estão presentesno campo fatores que contribuem para a expulsão de sua população tais como: avanço da pecuária; agravamento das condições edafoclimáticas, fragilidade da organização econômica das pequenas propriedades rurais que não encontraram ainda uma cultura comercial que substituísse o algodão, etc. Avalia-se que o êxodo só não foi mais intenso em razão da implantação dos projetos de assentamento para fins de reforma agrária, efetivada pelo governo federal. 3.4.2 Migrações interestaduais O estado da Paraíba tem se caracterizado como estado emissor de fluxos migratórios importantes para os demais estados brasileiros. Os dados da Tab. 8 confirmam isto com muita nitidez. Como pode ser observado na tabela 8, em 1950, a relação entre emigrantes e população residente na Paraíba era da ordem de 14,4%. Em 1980, essa relação saltou para 34,2%, evidenciando que o crescimento dos fluxos emigratórios foi mais de duas vezes superior ao crescimento da população residente do Estado. Chama-se atenção para o fato de nos dois primeiros anos (1950 e 1960), a saída dos paraibanos era principalmente para os outros estados do Nordeste. A partir de 1970, essa situação se 3 Entende-se por área rural aquela definida pelo IBGE para fins de recenseamento. 4 A política habitacional do governo federal, ao promover a construção de conjuntos habitacionais tem estimulado ainda mais a saída da população da área rural. inverte. A região Sudeste passa a ser o lugar de destino preferido, certamente, em virtude do maior dinamismo do seu mercado de trabalho. Tabela 8 – Paraíba: Fluxos emigratórios interestaduais de paraibanos (1950 -1980) Destino 1950 1960 1970 1980 Norte 8.981 8.199 7.197 14.746 Nordeste 194.411 230.366 268.832 341.424 Sudeste 40.693 142.721 278.741 508.984 Sul 1.509 14.684 19.101 15.148 Centro-Oeste 1.176 23.106 48.420 80.440 Total 246.770 419.070 622.291 960.742 Intensidade emigratória 14,4 20,7 25,4 34,2 Fonte: IBGE – Censos demográficos Nas últimas décadas esse perfil migratório estadual tem se alterado. Os dados da Tab. 9 mostram que tem havido uma redução nas saídas de migrantes paraibanos. No período de 1985/1991, o total de saída de paraibanos do estado foi da ordem de 174 mil pessoas. No último período, esse número declinou para 71 mil. Tabela 9 – Paraíba: Fluxos migratórios1 (1985-2009) Mobilidade 1985/91 2 1995/2000 2 2000/2004 3 2005/2009 3 Entrada 88.902 102.005 138.328 74.291 Saída 174.058 163.485 95.857 70.917 Saldo Migratório -85.156 -61.480 42.471 3.374 Troca migratória 4 1,96 1,60 0,69 0,95 Fonte: IBGE: Censo Demográfico (*) e PNAD (**) Notas: (1) migrantes com data fixa - migrantes com até cinco anos de residência no lugar de destino; (2) dados dos censos demográficos; (2) dados das PNADs; (4) índice de troca migratória é a relação entre a emigração e a imigração. Chama a atenção na Tab. 9 o crescimento da entrada de migrantes na Paraíba. De 88 mil imigrantes, entre 1985 e 1991, para 138 mil no período de 2000 a 2004. Esse fato está fortemente influenciado pela migração de retorno, em virtude da crise que passou o mercado de trabalho no Sudeste, particularmente, em São Paulo. Observe-se que de um saldo migratório negativo, a Paraíba passou a ter um saldo positivo. Destaca- se, no entanto, que na segunda metade da década de 2000 houve uma expressiva redução desse saldo. Com a retomada do crescimento, reduziu-se de forma expressiva a imigração para a Paraíba. 3.4.3 A migração de destino urbano No ano de 1991, o índice de urbanização da Paraíba era de 64,1%, passando para 71,06% em 2000 e para 75,3% no ano de 2010 (veja Tabela 10). Durante a década de 2000, foi observada no Estado que a tendência da população sair da zona rural para a zona urbana continuou. O destino privilegiado desses fluxos passou a ser as cidades de porte médio e, principalmente, as cidades de Campina Grande e João Pessoa. Tabela 10 – Paraíba: Evolução da população residente segundo situação domiciliar (1991-2010) Fonte: IBGE, Censos demográficos Para esse crescimento urbano, o êxodo rural tem desempenhado um papel importante, pois uma parte desse êxodo tem se dirigido para as cidades próximas e para as cidades mais importantes do Estado (TARGINO e MOREIRA, 2000). 4 Distribuição e composição da população paraibana Este tópico tem como objetivo específico estudar a distribuição espacial da população paraibana e alguns aspectos da sua composição: gênero, raça e idade. 4.1 Distribuição espacial da população De acordo com os dados da Tab. 10, tem-se que a população paraibana encontra- se distribuída desigualmente entre o espaço urbano e o rural. Há uma tendência de concentração da população nas áreas urbanas, como mostra a elevação do grau de urbanização. Tabela 11 – Paraíba: Grau de urbanização da população, segundo as microrregiões (2000 e 2010) Fonte: IBGE: Censos Demográficos Situação do domicílio 1991 2000 2010 Total 3,201,114 3,443,825 3,766,834 Urbana 2,052,066 2,447,212 2,839,002 Rural 1,149,048 996,613 927,832 Grau de urbanização 64,10 71,06 75,37 Microrregiões 2000 2010 Variação Catolé do Rocha 62,59 70,14 7,55 Cajazeiras 54,86 61,11 6,25 Sousa 61,87 66,77 4,90 Patos 82,82 85,62 2,80 Piancó 56,67 64,17 7,50 Itaporanga 54,54 61,91 7,38 Serra do Teixeira 44,95 52,95 8,00 Seridó Ocidental 69,71 75,11 5,41 Seridó Oriental 52,18 58,06 5,88 Cariri Ocidental 56,99 62,58 5,59 Cariri Oriental 41,70 46,28 4,58 Curimataú Ocidental 61,40 65,17 3,77 Curimataú Oriental 48,02 56,01 7,99 Esperança 58,04 63,52 5,48 Brejo Paraibano 46,91 53,06 6,15 Guarabira 67,63 72,06 4,43 Campina Grande 81,94 83,75 1,82 Itabaiana 56,98 60,47 3,50 Umbuzeiro 27,72 36,92 9,20 Litoral Norte 59,98 61,58 1,61 Sapé 64,88 66,15 1,28 João Pessoa 97,32 97,22 -0,09 Litoral Sul 57,59 67,26 9,67 A população urbana estadual aumentou de 2.447.212, em 2000, para 2.839.002 no ano de 2010. Com isto o grau de urbanização da população paraibana aumentou em 4,24 pontos percentuais. O processo de urbanização, contudo não ocorre de forma homogênea. Verifica-se uma desigual taxa de urbanização entre as diversas microrregiões do Estado, como se pode constatar pelos dados da tabela 11. Com efeito, as microrregiões que sediam as maiores cidades são aquelas onde, grosso modo, se encontram os maiores graus de urbanização, a saber: João Pessoa (97,22%), Campina Grande (83,75%), Patos (85,62%), Guarabira (72,06%). Os menores graus de urbanização são detectados nas microrregiões de Umbuzeiro (36,92%) e Cariri Oriental (46,28%) A redistribuição espacial da população da Paraíba entre a área rural e a urbana é uma consequência das transformações que vêem ocorrendo tanto na forma de organização da agricultura estadual (TARGINO e MOREIRA, 2006), quanto na economia urbana com o forte crescimento das atividades terciárias e a retomada do crescimento do emprego industrial. 4.2 Composição da População A composição da população é analisada neste texto, a partir de três variáveis: cor, sexo e idade, 4.2.1 Composição segundo a cor A composição da população paraibana por cor ou raça reflete o processo de miscigenação ocorrido no Brasil desde o início da colonização portuguesa. Deve-se chamar a atenção que esses dados resultam de uma autoclassificação por parte da pessoa recenseada, de modo que o crescimento da consciência étnica tem colaborado para os resultadosregistrados pelos censos. Esse último aspecto pode ser percebido através do crescimento do contingente de pessoas que se declaram pretas e pardas por ocasião do último recenseamento (veja Tabela 12). Ao comparar a distribuição por cor ou raça da população com base nos resultados dos censos demográficos de 1991, 2000 e 2010, verifica-se uma mudança na composição étnica da população. Os dados mostram três aspectos importantes, a saber: a) o crescimento dos pretos; b) o crescimento dos pardos, cuja participação no total da população paraibana era de 52% no ano de 2000 e passou para 52,9% em 2010; e c) o crescimento da população indígena. Tanto o forte crescimento da população negra quanto da indígena podem estar resultando do processo de valorização social dessas duas raças. Tabela 12 – Paraíba: Composição da população residente segundo a cor (1991, 2000 e 2010) Fonte: IBGE – Censos Demográficos. Cor ou raça Ano 1991 2000 2010 Branca 1.165.165 1.467.260 1.494.248 Preta 104.316 136.577 211.359 Parda 1.917.843 1.801.161 46.631 Amarela 1.278 2.439 1.994.319 Indígena 3.783 10.088 19.490 Sem declaração 8.939 27.269 482 Total 3.201.324 3.444.794 3.766.528 4.2.2 Composição segundo a idade A estrutura etária da população da Paraíba tem apresentado mudanças significativas, decorrentes do comportamento das três variáveis, anteriormente analisadas, responsáveis pela dinâmica populacional do estado: natalidade, mortalidade e migração. Essas mudanças podem ser apreendidas a partir dos dados da tabela 13. Dentre essas mudanças, podem ser sublinhadas: Tabela 13 – Paraíba: Distribuição etária da população segundo grupos de idade (2000 e 2010) Fonte: IBGE – Censos Demográficos - 2000 e 2010, a) Redução da participação da população infantil e dos jovens no conjunto da população estadual. Essa realidade é um resultado nítido do declínio da taxa de natalidade, conforme discutido anteriormente. A população com até 14 anos de idade (1.083.610 crianças) participava do contingente populacional com 31,46%, em 2000, declinando essa participação para 25,3%, em 2010. Em relação à população juvenil, também registrou-se um declínio, embora mais atenuado: 20,6%, em 2000, contra 18,5%, em 2010. IDADE 2000 2010 F. Absoluta F. Relativa (%) F. Absoluta F. Relativa (%) 0 a 4 338.321 9,82 290.101 7,70 5 a 9 355.392 10,32 314.087 8,34 10 a 14 389.897 11,32 348.693 9,26 15 a 19 388.789 11,29 352.977 9,37 20 a 24 323.117 9,38 346.501 9,20 25 a 29 260.762 7,57 327.530 8,70 30 a 34 242.115 7,03 297.746 7,91 35 a 39 219.270 6,37 260.266 6,91 40 a 44 176.721 5,13 243.774 6,47 45 a 49 151.282 4,39 214.396 5,69 50 a 54 136.115 3,95 172.194 4,57 55 a 59 111.478 3,24 146.878 3,90 60 a 64 102.377 2,97 129.767 3,45 65 a 69 74.317 2,16 101.341 2,69 70 a 74 65.700 1,91 85.415 2,27 75 a 79 50.245 1,46 55.005 1,46 80 a 84 32.561 0,95 40.849 1,08 85 a 89 17.584 0,51 23.935 0,64 90 a 94 5.622 0,16 10.749 0,29 95 a 99 1.632 0,05 3.567 0,09 100 ou + 528 0,02 757 0,02 TOTAL 3.443.825 100,00 3.766.528 100,00 b) Aumento da participação da população adulta e da população idosa. Esse último grupo, embora ainda seja numericamente pequeno tem aumentado de forma importante a sua participação relativa. Em 2000, a população com mais de 65 anos (775.661 pessoas) representava 7,22% da população estadual, enquanto que, em 2010, esse contingente somava 1.077861 habitantes, contribuindo com 8,53% para a população do Estado. c) Outro aspecto que pode ser realçado na evolução recente da distribuição etária da população paraibana é o crescimento da participação dos grupos etários entre 20 e 50 anos de idade. Esse crescimento pode ser atribuído ao maior poder de retenção do mercado de trabalho, de um lado, e ao crescimento da migração de retorno, por outro lado, que têm contribuído para a redução dos fluxos migratórios interestaduais, conforme foi discutido anteriormente. Essas diversas considerações podem ser visualizadas através da comparação das pirâmides etárias da população paraibana de 2000 e de 2010 (veja Gráficos 1 e 2) Gráfico 1 – Paraíba: Pirâmide etárias, 2000. Fonte: IBGE – Censo demográfico de 2000. Pirâmide Etária - 2000 -250000 -200000 -150000 -100000 -50000 0 50000 100000 150000 200000 250000 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos 45 a 49 anos 50 a 54 anos 55 a 59 anos 60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos 80 a 84 anos 85 a 89 anos 90 a 94 anos 95 a 99 anos 100 anos ou mais HOMEM MULHER Gráfico 2 – Paraíba: Pirâmide etárias, 20100. Fonte: IBGE – Censo demográfico de 20100. 4.2.3 Composição da população segundo o sexo A composição da população segundo o sexo é analisada com base na “razão de sexo”. Este índice é obtido dividindo-se a população masculina pela feminina, multiplicando-se o resultado por cem. Neste caso, tem-se o índice de masculinidade. Se o cálculo for feito pela divisão entre mulheres e homens, tem-se o índice de feminilidade. A tabela 14 apresenta os valores do índice de masculinidade da população paraibana, segundo as faixas etárias. Da observação dessa tabela podem ser feitas as seguintes constatações: a) Há uma predominância da população feminina sobre a masculina, como revela o índice de masculinidade inferior a 100. Durante a década, essa superioridade número das mulheres aumentou. Tal resultado pode ser conseqüência de fatores tais como: i) emigração de longa distância dos homens; ii) aumento da violência urbana que afeta mais a população masculina do que a feminina; e iii) melhoria dos serviços de saúde materna, que tem contribuído para reduzir a mortalidade de mulheres por ocasião do parto. Pirâmide Etária - 2010 -200000 -150000 -100000 -50000 0 50000 100000 150000 200000 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos 45 a 49 anos 50 a 54 anos 55 a 59 anos 60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos 80 a 84 anos 85 a 89 anos 90 a 94 anos 95 a 99 anos 100 anos ou mais HOMEM MULHER b) Nas faixas etárias mais jovens (até 19 anos) há predominância da população masculina, o que pode refletir o maior nascimento de crianças do sexo masculino; c) De um modo geral, a taxa de masculinidade guarda uma relação negativa com a faixa etária, refletindo os fatores lembrados no item a. Tabela 14 – Paraíba: Índice de masculinidade, segundo as faixas etárias (2000 e 2010) Fonte: IBGE – Censo Demográfico 4 Conclusão Com base no estudo realizado podem ser elencadas as seguintes constatações a respeito da dinâmica demográfica da Paraíba na última década: a) A participação da população paraibana no contexto nacional continua declinando, refletindo a fragilidade da economia estadual que se mostra incapaz de oferecer oportunidades de ocupação para a sua mão de obra; b) observa-se o declínio tanto da taxa de natalidade, influenciada seja pela disseminação dos métodos anticonceptivos, seja pela maior participação da mulher no mercado de trabalho; c) igualmente tem declinado a taxa de mortalidade, em decorrência da maior oferta dos serviços de saúde e da melhoria do IDADE 2000 2010 0 a 4 102,93 103,77 5 a 9 102,58 104,14 10 a 14 101,97 103,34 15 a 19 102,04 101,43 20 a 24 97,42 97,88 25 a 29 93,12 96,17 30a 34 90,96 94,26 35 a 39 92,03 92,36 40 a 44 89,10 90,85 45 a 49 85,74 90,82 50 a 54 85,65 86,81 55 a 59 80,96 82,78 60 a 64 78,46 81,49 65 a 69 77,56 79,25 70 a 74 80,15 74,92 75 a 79 86,30 72,20 80 a 84 83,43 70,37 85 a 89 81,60 72,22 90 a 94 71,87 66,39 95 a 99 54,99 57,62 100 ou+ 72,55 44,74 TOTAL 94,36 93,94 padrão de remuneração dos trabalhadores; d) crescimento da esperança de vida ao nascer, embora o Estado detenha um dos mais baixos valores deste indicador entre as unidades federativas; d) a taxa de crescimento vegetativo da população paraibana está muito abaixo da taxa de reposição da população; e) a Paraíba continua sendo um estado emissor de fluxos migratórios, embora tenha reduzido a magnitude desses fluxos nas duas últimas décadas; f) destaca-se a importância das migrações de retorno; g) a população é desigualmente distribuída, com forte predominância da população urbana, que se concentra nos maiores polos, particularmente em João Pessoa e Campina Grande; h) há predominância da população parda e de mulheres; i) está em curso uma forte mudança na composição etária da população, com um estreitamento progressivo e significativo da base da pirâmide. Todas essas modificações na dinâmica demográfica estadual guardam uma estreita ligação com as transformações que têm afetado a estruturas sociais, econômicas, culturais e políticas da sociedade paraibana, conforme estabelecido pela abordagem teórica que orientou essa investigação. Referênciass IBGE. Censo demográfico. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em:<ftp://ftp,ibge,gov,br/Censos/Censo_Demografico_2000/migracao/UFs/> Acessado em 25 jullho de 2011, IBGE. Censo demográfico. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível <http://http//www,ibge,gov,br/home/estatistica/populacao/censo2010/populacao_por_municipio ,shtm> Acessado em 15 maio de 2011 IBGE. Indicadores sõcio econômicos. Rio de Janeiro, IBGE. Disponível em: <http://www,ibge,gov,br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sintes eindicsociais2008/indic_sociais2008,pdf> Acessado em 19 junho de 20111 LAURELL, A, C, La salud-enfermedad como proceso social, In Revista Latinoamericana de Salud, México, 2, 1982, pp, 7-25, OLIVEIRA, F, A economia da dependência imperfeita, Rio de Janeiro, Edições da Graal, 1980, GTDN - Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste. Uma Política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 2006. SOUSA, I. Migrações Internas no Brasil, Natal (RN): Fundação José Augusto, 1980, SZMRECSÁNYI, Tomás. Crescimento populacional e desenvolvimento econômico. In Associação Brasileira de Escolas Médicas: Anais do Seminário sobre o Ensaio da Proteção á Saúde Materna e Infantil em função das necessidades da comunidade. Salvador, nov, 1997 a, TARGINO, I. Evolução recente da população paraibana, João Pessoa, CME-UFPB, Texto para Discussão nº 64, 1989. TARGINO, Ivan. . Dependência econômica regional e mobilidade interregional do trabalho: o caso do Nordeste.In Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 18, p. 405-425, 1987. TARGINO, Ivan; MOREIRA, E. Êxodo rural na Paraíba: análise do período 1991/96. In SANTOS, T. F. (ORG). Dinâmica populacional das regiões Norte e Nordeste: questões atuais e emergentes. Recife: Ed. Massangana, 2000.
Compartilhar