Buscar

Geopolítica Regionalização e Integração

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 132 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 132 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 132 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Geopolítica, Regionalização 
e Integração
???
GRADUAÇÃO
 
 
Autor: Prof. Enzo Fiorelli Vasques
Colaboradores: Profa. Claudia Ferretto Palladino
Profa. Raquel Niza Brandão
Prof. Flavio Celso Muller Martin
Geopolítica, Regionalização 
e Integração
Professor conteudista: Enzo Fiorelli Vasques
Enzo Fiorelli Vasques é professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Paulista (UNIP) 
e coautor, entre outras obras, do Manual Prático de Comércio Exterior, publicado pela editora Atlas em 2010. Além 
disso, desenvolve negócios internacionais atuando na inserção de produtos manufaturados brasileiros no mercado 
mundial, principalmente de equipamentos do setor sucroalcooleiro no sudeste asiático, África e América Latina. É 
mestre em educação sociocomunitária com o trabalho O ensino das Relações Internacionais no Brasil e membro da 
National Geographic Society (Washington, District of Columbia).
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Z13 Zacariotto, William Antonio
Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William 
Antonio Zacariotto – São Paulo: Editora Sol.
il.
1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática 
3.Pedagogia I.Título
681.3
?
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Profa. Melissa Larrabure
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Simone Oliveira
Sumário
Geopolítica, Regionalização e Integração
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 FUNDAMENTOS DAS RELAÇõES INTERNACIONAIS PARA A COMPREENSÃO DA 
GEOPOLíTICA ............................................................................................................................................................9
1.1 Caráter e conceito das relações internacionais ..........................................................................9
1.1.1 Precedentes históricos das teorias das relações internacionais ...........................................11
1.1.2 O mundo do século XX e as teorias das relações internacionais ........................................ 16
2 A NOÇÃO DE COOPERAÇÃO NO ENFOQUE DAS PRINCIPAIS TEORIAS DAS RELAÇõES 
INTERNACIONAIS ................................................................................................................................................ 18
2.1 A noção de cooperação para os teóricos idealistas e realistas .......................................... 19
2.2 A noção de cooperação para os teóricos da interdependência ........................................ 22
3 A POLíTICA EXTERNA E OS INTERESSES NACIONAIS: INSTRUMENTOS DA POLíTICA 
ESTATAL E DA GEOPOLíTICA ............................................................................................................................ 26
3.1 Introdução à política externa: conceitos e objetivos ............................................................ 27
3.2 A ação e a interação dos Estados .................................................................................................. 29
4 O SISTEMA INTERNACIONAL ....................................................................................................................... 43
Unidade II
5 A GEOPOLíTICA ................................................................................................................................................. 54
5.1 As relações entre sociedade, Estado, território e poder ....................................................... 54
5.2 Geografia política e geopolítica ..................................................................................................... 57
5.3 A evolução do pensamento em geopolítica .............................................................................. 61
5.4 Geopolítica clássica ............................................................................................................................. 61
5.5 Geopolítica contemporânea ............................................................................................................ 65
6 ASPECTOS DA GEOPOLíTICA ATUAL: FRONTEIRAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS, 
A GUERRA E A PAZ DE ACORDO COM A GEOPOLíTICA, O PODER CENTRAL E O PODER 
LOCAL E POLíTICAS TERRITORIAIS ................................................................................................................ 68
6.1 As fronteiras nacionais e internacionais ..................................................................................... 69
6.2 A guerra e a paz de acordo com a geopolítica..........................................................................71
6.3 O poder central e o poder local ...................................................................................................... 73
6.4 As políticas territoriais ....................................................................................................................... 74
Unidade III
7 A AGENDA DA GEOPOLíTICA MODERNA ............................................................................................... 79
7.1 Comércio internacional e desenvolvimento econômico ...................................................... 79
7.2 Alguns desafios para a inserção positiva dos países em desenvolvimento nas 
relações de comércio internacional ..................................................................................................... 80
7.3 O meio ambiente .................................................................................................................................. 89
8 A REGIONALIZAÇÃO E A INTEGRAÇÃO ................................................................................................... 94
8.1 Aspectos teóricos e históricos de integração regional ......................................................... 94
8.2 Fases da integração ............................................................................................................................. 97
8.3 Principais sistemas de integração regional................................................................................ 98
8.3.1 Mercosul (Mercado Comum do Sul) ............................................................................................... 98
8.3.2 Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) ......................................................108
8.3.3 União Europeia ......................................................................................................................................108
7
APRESENTAÇÃO
A disciplina Geopolítica, regionalização e integração insere-se na formação do profissional como 
umaimportante ferramenta para o entendimento, a compreensão e a análise das novas interações e 
tendências dos países no cenário global.
Ela faz uma abordagem contemporânea da geopolítica e oferece o estudo das macropolíticas e das 
novas fronteiras nacionais, tratando do advento da regionalização e da integração.
Ao abordar os conceitos e objetivos da política externa e a ação e interação dos Estados, a disciplina 
analisa a tendência do fim das fronteiras físicas e o surgimento de novos debates para a compreensão 
das relações de poder, como as que envolvem questões relacionadas ao meio ambiente.
Assim, os objetivos da disciplina são:
•	 analisar	os	fundamentos	das	relações	internacionais;
•	 analisar	as	teorias	das	relações	internacionais;
•	 compreender	as	noções	de	cooperação;
•	 conhecer	os	conceitos	e	objetivos	da	política	externa;
•	 entender	a	evolução	do	pensamento	em	geopolítica;
•	 identificar	as	relações	entre	sociedade,	estado,	território	e	poder;
•	 conhecer	a	agenda	da	geopolítica	moderna;
•	 compreender	os	aspectos	da	integração	regional.
INTRODUÇÃO
As relações internacionais ditas contemporâneas, especialmente no século XX, podem ser entendidas 
pela transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais que ocorreram no mundo 
e, consequentemente, acabaram por tornar indefinidas as fronteiras das políticas interna e externa dos 
Estados.
O conjunto dessas relações vem passando por significativas transformações. O impacto mais 
expressivo desse processo é a elevação sustentada do comércio internacional, percebida a partir da 
última metade do século XX até os dias de hoje. Esse impacto se manifesta por meio de um progressivo 
crescimento do comércio entre países, seguido nas mesmas proporções por um fluxo de capital, de 
informações e de pessoas.
8
Contudo, é evidente que os resultados desse movimento não são percebidos de forma equitativa 
entre os países. O sistema internacional é composto por países heterogêneos, sobretudo no aspecto 
econômico. Logo, é notável que a capacidade de alguns Estados para levar adiante seus interesses é 
diferente da capacidade de outros.
Nota-se, portanto, que a igualdade estabelecida pelo Direito Internacional – todos os Estados são 
iguais entre si – não se aplica a todas as arenas das relações internacionais, o que faz com que, dentro 
das possibilidades e constrangimentos presentes no sistema internacional, cada Estado busque ajustar 
adequada e estrategicamente suas ações.
Diante dessa realidade, colocam-se algumas questões sobre a ação internacional dos Estados:
•	 o	que	são	os	Estados	e	o	sistema	internacional?	É	possível	entendê‑los	a	partir	da	compreensão	
da	organização	interna	de	um	Estado?
•	 como	 os	 Estados	 devem	 reivindicar	 seus	 interesses:	 de	 forma	 individual	 e	 com	 base	 em	 seus	
atributos	de	poder	ou	de	forma	coletiva?
Essas questões só podem ser respondidas a partir da construção de um entendimento amplo do que 
são os Estados (capacidades, estratégias, fraquezas etc.) e o meio no qual atua o sistema internacional 
(constrangimentos, conflitos de interesses, possibilidades etc.).
Ao longo do curso, o estudo da geopolítica será realizado com uma abordagem histórica da 
formação dos Estados e o elemento básico de sua atuação: a política externa. Uma análise do sistema 
internacional e de suas possibilidades de cooperação e conflito será feita à luz das principais teorias das 
relações internacionais.
Além disso, discutiremos também as motivações, dificuldades e experiências da formação dos blocos 
econômicos regionais.
9
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
Unidade I
1 FUNDAmENTOS DAS RElAÇõES INTERNAcIONAIS PARA A cOmPREENSÃO 
DA GEOPOlíTIcA
Introdução
As relações internacionais contemporâneas, especialmente no século XX, podem ser entendidas 
pela transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais, que ocorreu no 
mundo e, consequentemente, tornou indefinidas as fronteiras das políticas interna e externa dos 
Estados.
Em plano equivalente, o fenômeno da diversidade de organizações internacionais adquire grande 
relevância, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, em função de agora existir a necessidade de os 
Estados dimensionarem coletivamente certas competências que antes pertenciam ao absoluto domínio 
nacional. Baseados no multilateralismo e na diplomacia parlamentar, esses organismos representam 
“um esforço civilizatório significativo no contexto das relações internacionais” (SEITENFUS, 1997, p. 21) 
e têm o objetivo de dirimir as relações conflituosas oriundas do maior grau de interdependência das 
relações entre os Estados.
Esse quadro retrata a evolução jurídica que acompanhou as transformações da sociedade internacional 
e as interações nela estabelecidas. Isso significa dizer que as relações internacionais, incluindo-se aqui 
a geopolítica tal como estabelecida atualmente, podem ser consideradas eminentemente modernas.
Nesse sentido, o objetivo desta unidade, num primeiro momento, será o de analisar sucintamente 
e a partir de uma abordagem histórica as bases sob as quais distintos indivíduos, comunidades, 
cidades, cidades-estados e Estados interagiam e estabeleciam suas relações em um período anterior ao 
desenvolvimento das teorias das relações internacionais e da geopolítica moderna.
Em seguida e a partir da consolidação das relações internacionais como campo de estudo 
científico, veremos dentro de que contextos alguns dos principais discursos teóricos dessa nova 
ciência se desenvolveram e, da mesma forma, observaremos como esses discursos abordam as 
possibilidades de cooperação e o papel das organizações internacionais nas relações internacionais 
contemporâneas.
1.1 caráter e conceito das relações internacionais
Como pode ser observado nos veículos de comunicação, na sociedade em geral ou até mesmo nos 
meios acadêmicos, a veiculação e o tratamento empreendidos à expressão relações internacionais 
nem sempre produz um sentido claro ao que tal expressão deseja conferir.
10
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
A dificuldade em empregar um melhor significado à expressão é inerente, em parte, ao próprio termo 
internacional, que, na evolução do modo de organização social, perdeu seu significado. Atualmente, a 
expressão relações internacionais não significa interações entre nações, mas entre Estados, governos 
e outros atores internacionais (GUIMARÃES, 2001).
No trabalho Relações internacionais como campo de estudos, Lytton Guimarães (2001) atribuiu o 
emprego sensato da expressão relações internacionais a pelo menos duas dimensões. Numa primeira 
análise, conferiu a ela um sentido mais amplo e a vinculou ao que “(...) se refere à gama de contatos 
e interações de natureza diplomática, política, econômica, militar, social, cultural, étnica, humanitária, 
que se processam entre atores internacionais, estatais e não estatais” (GUIMARÃES, 2001, p. 9). Numa 
abordagem mais específica, o autor atribui sentido à expressão relações internacionais quando esta:
[...] refere-se ao campo de estudos acadêmicos que enfoca as diversas 
formas de interações anteriormente descritas, assim como outras questões 
e fenômenos considerados relevantes para se compreender e explicar a 
complexidade do cenário internacional (GUIMARÃES, 2001, p. 10).
Esta última atribuição diz respeito à ciência das relações internacionais que “a exemplo de 
outros campos do conhecimento”, como a ciência política, a sociologia e a economia, “refere-se 
a um determinado conjunto de agentes (Estados, organizações internacionais, organizações não 
governamentais, transnacionaisetc.) instituições e processos específicos” (ROCHA, 2002, p. 28).
Ao desconsiderar o que aparentemente já está óbvio, ou seja, a gama de contatos e interações de 
diversas naturezas que envolve tal conjunto de agentes, instituições e processos específicos, a expressão 
relações internacionais pode ser traduzida de modo mais simplista por questões transnacionais. Logo, 
são as questões transnacionais que compõem a ampla agenda internacional que, por sua vez, é o alvo 
das ocupações dos estudiosos de relações internacionais.
Entretanto, por suas complexidades, interações e abrangências, já mencionadas anteriormente, 
não temos a pretensão de analisar as relações internacionais em sua totalidade. Faz-se necessário, tão 
somente, esclarecer para o leitor o que se pode entender ou o que se pode explicar quanto ao emprego 
da expressão relações internacionais dentro de diferentes contextos ou abordagens.
A consolidação das relações internacionais como ciência social é recente. Muito embora haja 
traços na história da humanidade que apontam para uma preocupação com o fundamento político 
de uma ordem social pacífica no mundo desde a Antiguidade1, o estudo das relações internacionais é 
relativamente recente se comparado a outros campos das ciências sociais (CASTRO, 2001).
Numa perspectiva histórica dos fatos que antecedem a política internacional e sua teoria, Marcus Faro 
de Castro argumenta que o estudo acadêmico das relações internacionais ganhou corpo e identidade 
1 A obra A Guerra do Peloponeso, de Túcides (471 a.C.-400 a.C.), “é frequentemente citada como exemplo de 
um dos primeiros esforços no sentido de analisar as relações conflituosas entre duas cidades-nação então poderosas” 
(GUIMARÃES, 2001, p. 20).
11
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
própria somente no século XX, a partir do período entreguerras e com o desenvolvimento da teoria das 
relações internacionais (TRI) (CASTRO, 2001).
Desse modo, podemos admitir que o surgimento dessa ciência tem as preocupações de como 
estabelecer os modos de interação das diferentes sociedades ao longo dos séculos. Isso significa dizer que 
tais interações, dados os interesses particulares de cada parte, geravam e geram situações conflituosas 
ou de cooperação. Assim, será importante entendermos aqui como se organizavam as interações entre 
diferentes sociedades ao longo de alguns séculos, ou seja, precisamos entender os precedentes históricos 
das teorias das relações internacionais.
1.1.1 Precedentes históricos das teorias das relações internacionais
Na história da civilização ocidental, é possível observar que as relações entre comunidades distintas, 
envolvendo o uso da força, existem desde os primórdios entre os diferentes povos e estão nas origens 
política e econômica da sociedade moderna.
Entretanto, referente às relações entre comunidades distintas, tem-se que:
[...] até o século XVII não havia um sistema de entidades políticas (estados) 
exercendo autoridade suprema sobre territórios e detentoras do monopólio 
sobre assuntos de guerra, o exercício da diplomacia e a celebração de 
tratados (CASTRO, 2001, p. 7).
Anterior ao surgimento do Estado nacional, as unidades governamentais existiam em diferentes 
épocas sob a forma de comunas, cidades-estados e feudos, ao passo que “as unidades econômicas 
formaram nesta ordem: a família, o feudo, a comunidade da vila, a cidade e a liga das cidades” (DIAS, 
2004, p. 25).
Até então, a política se estruturava por meios totalmente independentes do território, tais como 
laço sanguíneo e comunhão de valores religiosos, ao passo que, na Idade Média, a presença de uma 
comunidade em um dado território não representava a existência de uma autoridade exercida sobre 
uma área geograficamente circunscrita. À época, não havia a distinção entre as dimensões de autoridade 
interna e externa ou de público e privado. Nesse sentido, o autor Spruyt (1994 apud CASTRO, 2001) 
pondera:
Ocupantes de um território espacial específico estavam sujeitos a uma 
multiplicidade de autoridades superiores. Dada esta lógica ou organização, 
é impossível distinguir entre atores conduzindo relações internacionais 
daqueles envolvidos na política doméstica e operando sob a forma 
hierárquica. Bispos, reis, senhores feudais e cidades assinavam tratados e 
faziam guerra. Não havia um ator ainda com um monopólio sobre os meios 
de coerção pela força. A distinção entre atores privados e públicos estava 
ainda por ser articulada (SPRUYT, 1994 apud CASTRO, 2001, p. 8).
12
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Assim, embora aparentassem, as relações entre imperadores, papas, reis, barões, cidades e outros agentes 
das diferentes comunidades não caracterizavam relações internacionais no sentido moderno, pois elas não 
se davam entre estados soberanos territoriais, se tratava apenas de relações entre pessoas e instituições.
Com efeito, o que antecedeu o estudo das relações internacionais como disciplina orientada para 
determinar o fundamento político das relações entre pessoas de comunidades distintas foi o direto das 
gentes (jus gentium).
Desde a Roma Antiga até o século XVII, os relacionamentos entre os povos eram estabelecidos a 
partir do direito das gentes ou do direito das nações. Esse direito se desenvolveu nesse mesmo período 
e era constituído por um conjunto de práticas e métodos intelectuais que se ocupou em gerar materiais 
constitutivos do exercício da autoridade referente a tais relacionamentos.
Conforme Castro (2001), em Roma o chamado jus civile (direito civil) aplicava-se somente aos romanos, 
não a estrangeiros. Na medida que o Império Romano expandia-se comercial e geograficamente, os 
problemas para solucionar disputas entre estrangeiros e entre estes e os cidadãos romanos surgiam.
Com a finalidade de estabelecer parâmetros de mediação nas regiões sob o auspício de Roma, foi instituído 
em 242 a.C. o praetor peregrinus. Em sua atuação, o praetor peregrinus lançava mão de partes do direito 
romano e de normas estrangeiras (principalmente gregas). Essa fusão foi baseada nos princípios de equidade.
Esse modelo ficou conhecido como jus gentium, ou direito das gentes, pois, em todo o período no qual 
“o direito romano que é apropriado e adaptado, e que se torna dominante, adquire caráter universalista, 
de vocação “supranacional” e associado a valores cristãos, sendo aplicável a toda cristandade” (CASTRO, 
2001, p. 9-10), ele esteve voltado tão somente para as relações entre pessoas, uma vez que não se 
tratava ainda de relações entre estados soberanos.
A partir do direito das gentes, materiais normativos que regulavam os relacionamentos estabelecidos 
entre os distintos povos e sociedades foram desenvolvidos. Esses materiais abordavam tópicos como o uso da 
força, as relações comerciais, entre outros. A respeito do uso da força, Castro (2001) salienta que tais normas:
[...]	 tratavam	das	 formas	de	violências	 legítima	e	 ilegítima;	da	 isenção	da	
violência (formas de iniciar guerras, casos de guerra justa, técnicas de 
combate, isenção de estrangeiros políticos ou comerciantes com relação à 
violência,	 prisioneiros	 de	 guerra	 etc.);	 das	 delegações	 de	 autoridade	 para	
a	conquista	e	dominação	(autorizações	papais);	dos	procedimentos	para	o	
estabelecimento de isenções da violência (formas dos tratados, juramentos 
etc.);	 e	 de	 procedimentos	 arbitrais	 (negociação	 de	 isenções	 da	 violência)	
(CASTRO, 2001, p. 9-10).
Holzgriffe (1989 apud CASTRO, 2001) ainda acrescenta que:
O direito mercantil e marítimo medieval, por exemplo, regulava o 
comportamento de mercadores marítimos individuais, enquanto costumes 
13
Re
visã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
feudais relativos ao desafio formal, ao tratamento de arautos e prisioneiros, à 
captura e resgate de reféns, à intimação de cidades e à observação de tréguas 
aplicavam-se a cavaleiros individuais. O direito eclesiástico sobre a santidade 
dos contratos, a imunidade de agentes diplomáticos, a proibição de armas 
perigosas, o tratamento de prisioneiros cristãos, a guerra justa e a “trégua de 
Deus” aplicava-se a cristãos individuais. As normas baseadas nos preceitos do 
direito romano aplicavam-se aos membros individuais das comunidades que 
as aceitavam (HOLZGRIFFE, 1989 apud CASTRO, 2001, p. 10).
Dentro dessa de organização social, a existência das organizações internacionais não era possível 
pelo fato de sua existência pressupor um acordo entre Estados iguais dispostos a renunciar a alguns 
de seus diretos em prol da organização. Segundo Araújo, isso “era impossível naquela época em que as 
guerras de conquista se sucediam e impérios se formavam e desapareciam na voragem do tempo e ao 
entrechoque das ambições” (ARAÚJO, 2002, p. 5).
Já nos séculos XVI e XVII, começa a tomar corpo uma nova configuração institucional, resultado de 
dinâmicas políticas e econômicas estabelecidas entre grupos sociais na Europa a partir do renascimento 
do comércio no século XI e da competição política e econômica que se estabeleceu desde então entre 
diversas possíveis trajetórias de desenvolvimento institucional, tais como ligas urbanas, cidades-estados 
e estados soberanos.
A partir dessa competição política e econômica das tendências de desenvolvimento institucional, 
consolidou-se uma organização em torno de governos capazes de garantir a vida dos indivíduos de uma 
forma específica: a do Estado territorial soberano como responsável por organizar, regular e constituir 
a vida social entre o conjunto de instituições (sociedade) que habitasse determinado território, sendo 
elas parte de uma mesma nação.
A política passou então a ser determinada pelo território e institucionalizada de forma a ser possível 
distinguir entre o direito interno – unidades políticas nas quais os príncipes adquiriram autonomia 
política para adotar leis, princípios religiosos etc. – e o direito vigente entre unidades políticas distintas.
A exemplo disso, temos que:
[...] Francisco Suárez (1548-1617) já distingue entre dois significados de jus 
gentium: (a) o direito que as diversas cidades ou reinos (civitates vel regna) 
observam em si mesmos (intra se);	e	(b)	o	direito	que	todos	os	povos	e	nações	
observam em suas relações recíprocas (inter se) (CASTRO, 2001, p. 11).
Na segunda metade do século XVII, com a chamada Paz de Westphalia, o direito das gentes se 
modificou para atender as novas realidades correspondentes ao surgimento dos estados territoriais 
soberanos: ele assumiu a condição de direito internacional.
A Paz de Westphalia é resultado de um conjunto de tratados diplomáticos firmados em 1648 entre 
as principais potências europeias, que colocaram fim à Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Esta última 
14
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
consistiu num conflito generalizado entre países europeus (católicos versus protestantes) no qual razões 
de ordem religiosa se misturavam com motivações políticas.
Nas palavras de Vizentini (2002a):
As potências católicas, especialmente a Espanha e a Áustria, governadas 
pela dinastia Habsburgo, apoiavam o Sacro Império (também pertencente 
à dinastia) e tentavam estabelecer uma hegemonia na Europa, criando um 
Império Supranacional. De outro lado, as potências protestantes escandinavas 
apoiavam as cidades comerciais e principados protestantes. Na iminência da 
vitória do campo católico, a França, também católica, mas ferrenha inimiga 
dos Habsburgos, entrou no conflito em apoio aos protestantes, salvando-os 
(VIZENTINI, 2002a).
Os tratados assinados em Westphalia legitimaram o status quo anterior ao conflito, que ainda 
reconhecia uma sociedade de Estados fundada no princípio da soberania territorial, na qual todas as 
formas	de	governo	passaram	a	 ser	 legítimas;	na	não	 intervenção	em	assuntos	 internos	dos	demais,	
respeitando o princípio de tolerância e liberdade religiosa escolhida pelo príncipe (cuius régio, eius 
religio:	 quem	 tem	 a	 região	 tem	 a	 religião);	 e	 na	 independência	 dos	 Estados,	 detentores	 de	 diretos	
jurídicos iguais a serem respeitados pelos demais membros, uma vez que partes com direitos iguais não 
têm capacidade para julgar seus semelhantes.
Como se vê, o modelo estabelecido em Westphalia instaurou condições de autonomia aos Estados 
sem, no entanto, criar obrigações mútuas entre eles, o que motivou, a partir de então, preocupações 
no sentido de gerar “estruturas de cooperação internacional capazes de constituir a base de processos 
políticos mundiais para se atingir a paz duradoura, chamados projetos de paz perpétua” (CASTRO, 2001, 
p. 12).
Entre os projetos mais conhecidos, está o de abbé de Saint-Pierre (1658-1743), que assegurava 
que apenas acordos firmados entre os Estados não seriam capazes de estabelecer a paz. Para isso, era 
necessário que os Estados se unissem em uma confederação, cujo órgão principal seria um Senado 
formado por representantes de todos os Estados. Os conflitos seriam solucionados pela arbitragem e 
sua decisão deveria ser acatada pelos envolvidos sem que recorressem à guerra, pois, se o fizessem, 
estariam sujeitos a sanções decretadas pela organização que, para esse fim, possuiria um exército 
próprio.
Apoiada sobre um direito internacional adaptado do jus gentium, a política internacional passou a 
balizar os relacionamentos interestatais e, por conseguinte, possibilitou que um conjunto de práticas 
diplomáticas “governado por um consenso das elites aristocráticas europeias, em cujas mãos haviam 
permanecido os assuntos de política internacional e, portanto, as decisões, e sobre os objetivos e 
oportunidades do uso da capacidade militar e diplomática das grandes potências” (CASTRO, 2001, p. 13) 
resultasse no que ficou conhecido como concerto europeu, que pressupunha a igualdade entre estados 
que cooperavam sob o direito internacional.
15
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
O instrumento principal dessa aparente solidariedade política entre os Estados soberanos se dava 
pela noção de equilíbrio de poder ou balança de poder, que regia as relações internacionais com o 
objetivo de manter a correlação de forças históricas entre as potências europeias, já que se observava a 
possibilidade de um ou outro Estado se reforçar mais rapidamente ou mesmo fazer anexações territoriais, 
causando, assim, uma percepção de instabilidade de poder aos demais.
Tal como se estabelecia, a política refletia os aspectos descritos por pensadores como Maquiavel 
(1469-1527) e Hobbes (1588-1679).
Realista e pragmático, Maquiavel, ao relatar o caos e a instabilidade política então existentes nos 
conflitos entre as diferentes cidades-estados da Itália, apontava para questões sobre poder, balança de 
poder, formação de alianças e, sobretudo, para a segurança nacional, razão pela qual o príncipe poderia 
perder seu estado caso não se preocupasse com as forças e ameaças internas e externas. O ápice das 
teses de Maquiavel está na defesa do uso de quaisquer recursos ou métodos para que os interesses e a 
segurança do Estado sejam preservados.
Não menos pessimista com relação à natureza humana, Hobbes deixa transparecer em seu livro 
Leviatã que, na ausência de uma autoridade central, haveria uma situação permanentede guerra na 
qual todos lutariam contra todos num estado de total anarquia. Neste, seriam inevitáveis a suspeita, a 
desconfiança, o conflito e a guerra.
Nesse sentido, pode-se atribuir como característica essencial da política internacional do modelo 
westphaliano da segunda metade do século XVII até o início do século XX:
[...] um programa selvagem de exploração colonial e formação de alianças 
secretas e acirradas rivalidades, num complexo jogo de interesses políticos 
e econômicos, frequentemente destrutivo das sociedades colonizadas e 
instigador de tensões políticas entre os países europeus (CASTRO, 2001, p. 
14).
Mesmo gozando de uma relativa paz nesse período, a forma institucional da política internacional 
– eminentemente moderna, apoiada no direito internacional e obtida a partir de Westphalia – não foi 
capaz de evitar a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.
O desastre da Primeira Guerra Mundial, o conflito mais destruidor até então, esboçou mudanças 
na condução da política internacional. Um conjunto de propostas para adoção de várias iniciativas e 
medidas cooperativas destinadas a prevenir a guerra e manter a paz foram apresentadas em 1918 pelo 
presidente estadunidense Woodrow Wilson.
Ao tentarem estabelecer novas bases para a política internacional em busca de um mundo ideal, as 
propostas de Wilson emergem como uma provável saída para as conflituosas e obscuras relações dos 
países europeus. Assim, nascia o idealismo, que mais tarde viria a compor o primeiro grande debate 
das relações internacionais como campo científico, cabendo aqui, portanto, somente mencionar sua 
importância para a evolução das relações internacionais.
16
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
 lembrete
Até o século XVII, não havia um sistema de entidades políticas (estados) 
que exerciam autoridade suprema sobre territórios e eram detentoras 
do monopólio sobre assuntos de guerra, exercícios de diplomacia e 
celebrações de tratados. Nesse período, as dinâmicas políticas e econômicas 
estabelecidas entre as sociedades europeias se davam por meio do direito 
das gentes (direito das nações), que estabeleceu o direito que diversas 
cidades ou reinos observavam em si e em suas relações.
Figura 1 – O presidente americano Woodrow Wilson
 Observação
Woodrow Wilson foi eleito presidente dos Estados Unidos da América 
por dois mandatos seguidos, ficando no cargo de 1912 a 1921. Ele era 
membro do Partido Democrata e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1919.
1.1.2 O mundo do século XX e as teorias das relações internacionais
O século XX foi marcado pelas duas maiores conflagrações mundiais, pelo conflito ideológico 
(capitalismo versus socialismos), por revoluções e crises de todas as ordens, pela extraordinária expansão 
econômica, por profundas transformações sociais, por impérios e hegemonias, entre outros relevantes 
acontecimentos, como o vultuoso desenvolvimento tecnológico percebido desde a Primeira Guerra 
Mundial. Somado ao encurtamento das distâncias2, esse desenvolvimento tecnológico abriu as portas 
2 “[...] qualquer lugar do mundo, atualmente, está a menos de dois dias de distância de qualquer outro, por avião a 
jato, e um míssil teleguiado vence qualquer distância a menos de quarenta minutos” (DEUTSCH, 1982, p. 10).
17
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
para uma crescente transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais que 
ocorreu no mundo e acabou por tornar indefinidas as fronteiras das políticas interna e externa dos 
Estados.
Cada um a seu tempo e já a partir da Primeira Guerra Mundial, esses acontecimentos 
começaram a imprimir uma nova configuração ao sistema internacional moldado no século XVII. 
Além disso, o século XX também é marcado pela evolução da teoria das relações internacionais, 
que se ocupa em analisar com mais clareza o emaranhado conjunto de relações que se processa 
no mundo atual.
O conhecimento acumulado das relações internacionais até o início do século XX deu sustentação 
para que novas proposições, agora com um caráter científico, fossem elaboradas na medida que a 
política internacional dava rumos ao mundo mediante velhos e novos acontecimentos e se exigia, 
portanto, explicações mais consistentes da realidade.
A teoria das relações internacionais se consolida tendo como objeto de estudo a política 
internacional. Esta, por sua vez, se define como um conjunto de práticas que frequentemente 
envolvem o uso da força efetiva ou ameaçada, forças estas por meio das quais os Estados se 
relacionam.
Em relação ao que podemos considerar como política internacional por meio da história, Castro 
(2001) acrescenta que:
[...] é preciso considerar que esta expressão se refere a uma forma específica 
de institucionalização da política, que se tornou preponderante a partir do 
século XVII na Europa, propagando-se para praticamente todo o mundo 
subsequentemente, e que hoje passa por transformações importantes 
(CASTRO, 2001, p. 10).
Guimarães (2001) observa que, em sua fase inicial, os estudos acadêmicos sobre a teoria das 
relações internacionais se ocupavam de questões de “natureza substantiva, como diplomacia, política 
do poder ou problemas da paz e da guerra, alianças e intervenções militares, e refletiam frequentemente 
preocupações prescritivas ou normativas” (GUIMARÃES, 2001, p. 10).
Contudo, a sofisticação teórica e metodológica que foi aos poucos empreendida na construção dos 
estudos permitiu a apreciação de problemas mais analíticos e de relações entre dois ou mais fenômenos 
de ordens diferentes, tais como a relação entre poder e segurança, entre poder econômico e militar, 
entre organizações internacionais e estratégias de governos etc.
Como resultado dessa evolução acadêmica, podemos perceber a definição de algumas subáreas 
de estudo dentro das relações internacionais, como política externa dos Estados, economia política 
internacional, segurança internacional, proliferação e controle de armamentos, regimes e organizações 
internacionais, integração regional, entre outras.
18
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
De modo mais abrangente, é perceptível que essas questões que agora compõem de forma 
segmentada a agenda internacional extrapolem e transcendam o âmbito interno e até mesmo o controle 
de um único Estado. Nesse sentido, Guimarães (2001) pondera que, para essas questões:
[...] o estudo e tratamento exigem cooperação internacional e frequentemente 
multidisciplinar, como é o caso do narcotráfico, da poluição e degradação 
do	meio	ambiente,	questões	amplamente	debatidas	na	Rio	92;	dos	direitos	
humanos,	objetos	da	Convenção	de	Viena	de	1993;	do	papel	da	mulher	(ou	
questão do gênero) no novo cenário internacional, debatido em Pequim em 
1994;	dos	problemas	relacionados	com	a	população,	examinados	no	Cairo	
em	1995;	da	questão	da	habitação,	analisada	em	Copenhague	em	1996,	e	
outros (GUIMARÃES, 2001, p. 10).
No entanto, somente o conjunto de agentes e as questões que compõem a estrutura do estudo de 
relações internacionais abordados até aqui não dão conta de explicar a evolução das teorias das relações 
internacionais. É necessário considerar também que a análise do conjunto de agentes e suas interações 
se processam por meio de teorias.
De acordo com Rocha (2002), as teorias resultam dos esforços intelectuais em produzir interpretações 
científicas da realidade a partir da reflexão sistemática sobre agentes e processos no contexto das 
relações internacionais.
Considerando a complexidade inerente ao sistema internacional,nenhuma teoria interpreta 
individualmente e de forma cabal a realidade internacional, podendo, portanto, as teorias serem 
consideradas “imperfeitas no sentido de que raramente são consideradas, mesmo por seus autores, 
feitas, completas e acabadas” (ROCHA, 2002, p. 40).
Rocha (2002), na medida que reforça um entendimento óbvio nem sempre lembrado de que as 
“teorias são construções humanas” (ROCHA, 2002, p. 40), pontua que o exercício mental de analistas 
para produzir conhecimento sobre um mesmo fenômeno observável na realidade internacional acabou 
por engendrar diferentes discursos teóricos no campo de estudo das relações internacionais.
Dito isso, podemos acrescentar que o campo de estudo das relações internacionais se caracteriza 
por um pluralismo teórico, o que significa dizer que ele aceita a coexistência de vários discursos teóricos 
nem sempre antagônicos, mas em sua grande maioria complementares, nos permitindo, assim, conferir 
análises mais inteligíveis da realidade internacional.
2 A NOÇÃO DE cOOPERAÇÃO NO ENFOqUE DAS PRINcIPAIS TEORIAS DAS 
RElAÇõES INTERNAcIONAIS
Como abordado anteriormente, desde sua consolidação como campo de estudo, o pluralismo teórico 
inerente às relações internacionais possibilitou o desenvolvimento de diferentes estudos e interpretações 
da realidade internacional, dada a percepção dos fatos para cada analista e a dinâmica das relações 
entre os agentes.
19
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
Porém, não discutiremos aqui a validade lógica dos muitos discursos dos quais os analistas lançaram mão para 
conferir sentido à realidade desde a primeira metade do século passado. Desse modo, nos ateremos tão somente 
a identificar a visão de cooperação e de organizações internacionais a partir do prisma de dois importantes 
debates das teorias das relações internacionais: idealismo e realismo e realismo e interdependência.
2.1 A noção de cooperação para os teóricos idealistas e realistas
Os resultados destruidores da Primeira Guerra Mundial, com o número de vítimas civis e militares, o 
nível de violência e a extensão do conflito, impulsionaram o desenvolvimento das relações internacionais 
como campo de estudo científico a partir da percepção de um mundo ideal, da qual pretendeu-se pautar 
as relações internacionais desde então. Essa percepção ficou conhecida como idealismo.
O idealismo é concebido como:
[...] um conjunto de princípios universais que defende a necessidade de 
estruturar o mundo buscando o entendimento, através de condutas pacifistas, 
onde a confiança e a boa vontade sejam os motores que movimentam a 
história (MIYAMOTO et al., 2004, p. 15).
Ao vislumbrar a possibilidade de superação do “estado de natureza” em que se encontravam os 
Estados – conflito armado e hostilidades – e a construção de uma nova ordem jurídica internacional, 
o surgimento do idealismo contemporâneo se materializou por meio de uma espécie de pacto social 
mundial nos famosos 14 pontos de Wilson.
 Observação
Os famosos 14 pontos de Wilson, como ficaram conhecidos, marcam o 
surgimento do idealismo contemporâneo, que vislumbrava a possibilidade 
de superação do “estado de natureza” em que se encontravam os Estados 
– conflito armado e hostilidades – e a construção de uma nova ordem 
jurídica internacional por meio de uma espécie de pacto social mundial.
Na visão idealista, a ordem internacional no período pós Primeira Guerra deveria ser disciplinada 
por organizações internacionais capazes de fazer prevalecer os princípios éticos e os preceitos morais, 
refreando, assim, os nacionalismos exacerbados e a desconfiança generalizada. Por conseguinte, 
“assegurar-se-iam a ordem e a paz entre as nações com a utilização de instrumentos jurídicos para 
dirimir os conflitos de interesses” (BELLI, 1994, p. 14).
O objetivo dos idealistas era:
[...] que a cooperação internacional, através do direito internacional 
repassado de um moralismo idealista, pudesse oferecer os meios para a 
manutenção de uma paz duradoura (CASTRO, 2001, p. 14).
20
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
A Liga das Nações foi criada como uma tradução prática desse ideário. Tratava-se de uma organização 
política interestatal permanente que tinha por intuito oferecer garantias mútuas de independência 
política, integridade territorial e preservação da paz. Entretanto, os fatos que se sucederam pareciam 
contradizer as esperanças idealistas. Tem-se que “a história conturbada [da Liga das Nações] não 
demonstrou outra coisa senão o triunfo da desconfiança recíproca e dos nacionalismos exacerbados 
sobre o idealismo wilsoniano” (BELLI, 1994, p. 15).
Em linhas gerais, as principais preocupações condensadas nos 14 pontos de Wilson passavam pela 
“supressão da diplomacia secreta, liberdade dos mares, limitação dos armamentos, remoção das barreiras 
comerciais, reajustamento dos territórios, fim da exploração colonial e criação de uma Sociedade das 
Nações” (BELLI, 1994, p. 14).
Ao se concretizar algumas das ideias veiculadas nos “projetos de paz perpétua” dos séculos anteriores, 
foi criada a “Liga das Nações”, uma organização política interestatal que oferecia garantias mútuas de 
independência política, integridade territorial e preservação da paz, como mencionado anteriormente.
O idealismo encontra seu momento de maior aceitação no período entreguerras. Importantes 
publicações de autores e estudos contribuíram para o desenvolvimento inicial da obra Relações 
internacionais como campo de estudos, de Lytton L. Guimarães. Identificar as causas da guerra e buscar 
caminhos para a paz eram preocupações iniciais que, posteriormente, estiveram voltadas também para 
questões como os problemas de segurança, os desarmamentos, o imperialismo e suas consequências, a 
negociação diplomática, a balança de poder, a geopolítica etc. (GUIMARÃES, 2001, p. 24).
Mesmo dominando os discursos políticos e acadêmicos nesse período, as propostas idealistas não 
vieram a se concretizar, sendo a evidência fática disso um novo conflito mundial.
O fracasso iminente do idealismo na política internacional veio com a conflagração da Segunda Guerra 
Mundial, em 1939, de proporções ainda maiores do que as da Primeira Guerra Mundial. O idealismo perdeu 
então sua capacidade de persuasão e ficou exposto às críticas de intelectuais realistas. Ele “atingiu o que 
se considerou o caráter ingênuo e normativo do idealismo” (BELLI, 1994, p. 15), sobretudo a partir do 
momento em que foi publicado o livro The Twenty Years’ Crisis, 1919-1939 (1939), de Edward H. Carr.
A partir dessa publicação, a visão teórica realista de política internacional ganhou força. A obra 
de Carr tornou-se referência e iniciou o debate entre as teorias idealista e realista. Conforme ressalta 
Castro (2001), essa obra emblematiza o começo do estudo científico das relações internacionais e marca 
o começo da tradição da teoria das relações internacionais.
A deflagração da Segunda Guerra Mundial contrapôs o argumento realista às propostas idealistas 
de cooperação por meio de instituições calcadas em princípios éticos e morais como base do convívio 
internacional pacífico. O debate entre o idealismo e o realismo ocorreu entre o final da Segunda Guerra 
Mundial e meados dos anos 1950.
Nas raízes remotas do pensamento realista, observam-se as obras já citadas de Maquiavel (O 
Príncipe) e Thomas Hobbes (Leviatã). No entanto, além de Carr, outros autores realistas se destacaram 
21
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
e constituem peças fundamentais para a consolidaçãodo realismo nos anos que se seguiram à guerra, 
como é o caso de Hans J. Morgenthau (1904-1980) (GUIMARÃES, 2001, p. 44).
A visão realista de mundo postula os Estados como os principais agentes do sistema internacional e 
sua interação consiste no mais importante processo em curso nas relações internacionais, o que permite 
que se entenda, por conseguinte, que:
[...] todos os outros processos, assim como o comportamento de todos os 
outros agentes, são influenciados, direta ou indiretamente, em maior ou 
menor grau, pelas relações de poder existentes entre os Estados soberanos 
no plano internacional (ROCHA, 2002, p. 266).
Dessa forma, as organizações internacionais e, consequentemente, a ideia de cooperação no 
contexto realista são de menor de importância em virtude de estarem limitadas aos poderes dos Estados 
e à supremacia da força militar.
O sistema internacional, por sua vez, é entendido como anárquico e conflituoso. Nele, nenhum 
Estado reconhece em outro a capacidade de estabelecer regras e fazê-las cumprir no plano internacional. 
Ademais, o processo político era visto como uma luta pelo poder e pelo uso recorrente da força.
Nesse sentido, se atribuiu aos Estados um comportamento racional, capaz de estabelecer uma 
hierarquia de objetivos coerente com os interesses nacionais. Segundo essa visão, havia uma preocupação 
constante com a preservação da soberania e da segurança em detrimento das relações econômicas e das 
ações de cooperação.
Dessa maneira, o realismo político compreende as relações internacionais como sendo determinadas 
por elementos de segurança e militarização. No entender de Castro (2001), a característica preponderante 
dessa visão é a justificação do uso da força, seja como condição inevitável da vida em sociedade, seja 
como meio de se atingir a paz no mundo.
Em ascensão, o realismo passou a influenciar formuladores de política externa, sobretudo os da 
política externa americana dos anos 1950. Isso se deu à medida que, segundo Belli (1994, p. 17), esse 
realismo “(...) parecia refletir não uma conjuntura passageira ou um momento de tensão, mas toda a 
história da humanidade marcada por conflitos armados e disputas variadas”.
Como se pode verificar, embora os primeiros pressupostos (clássicos) do realismo fossem 
flexibilizados a partir de pensadores como Waltz e, posteriormente, como Gilpin – ambos autores 
de uma linhagem neorrealista da década de 1970 –, com o decorrer do tempo as características 
principais da política internacional defendidas pelo realismo – Estado como agente principal, 
sistema internacional anárquico, processo político de luta pelo poder e uso sistemático da força 
como meio de solução de conflito – começaram a ser questionadas, dando margem para que as 
relações internacionais fossem analisadas como um conjunto mais complexo de novos atores e 
processos.
22
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
 Saiba mais
Para verificar uma discussão sobre o aperfeiçoamento da abordagem 
realista, leia:
BELLI, B. Capítulo 1. In: Interdependência assimétrica e negociações 
multilaterais: o Brasil e o regime internacional de comércio (1985 a 1989). 
Dissertação de Mestrado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 1994.
O realismo se mostra realmente frágil quando manifesta uma vaga noção de natureza humana 
essencialmente egoísta e imutável que, na condição de crença, não se presta à comprovação científica. 
Nesse sentido, refletindo as características fundamentais dos dois debates abordados até aqui, Belli 
(1994) ressalta que:
Se é verdade que o idealismo enfatizou a possibilidade de cooperação e a 
convergência em detrimento da dimensão do conflito, não é menos verdade 
que os teóricos realistas clássicos desprezaram em suas análises a questão 
da cooperação, deixando de lado uma dimensão igualmente importante das 
relações internacionais (BELLI, 1994, p. 18).
Além disso, as transformações no cenário internacional do século XX tornaram inegáveis a 
importância das grandes corporações transnacionais para as economias domésticas e a influência na 
política internacional tanto das organizações internacionais de fórum multilateral como das organizações 
não governamentais. Os Estados deixaram a condição de únicos e mais importantes atores da cena 
internacional e passaram a dividir espaço com novos atores.
Da mesma forma, questões de segurança e militarização, que encabeçavam a agenda da política 
internacional, foram aos poucos perdendo lugar na pauta para questões que ganharam papel de maior 
relevo no cenário internacional contemporâneo, como é o caso das relações econômicas, financeiras, 
sociais e culturais.
2.2 A noção de cooperação para os teóricos da interdependência
A teoria da interdependência surge como uma tentativa de dar respostas mais satisfatórias a uma 
realidade internacional em acelerado processo de transformação. Sem descartar a contribuição realista, os 
precursores da teoria da interdependência, Robert O. Keohane e Joseph S. Nye, construíram um programa 
de pesquisa mais abrangente no início dos anos 1970, com o livro Poder e interdependência (1988 [1977]).
Nesse programa, havia espaço para o desenvolvimento de análises que focalizavam agentes distintos 
do Estado nacional e processos complementares ao problema da segurança, o que estabelecia, assim, 
um contraste com a abordagem realista.
23
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
Para essa análise, os autores partiram do que percebiam como transformações reais da política 
internacional. Tais transformações seriam consequência de medidas adotadas pela política internacional 
desde o período entreguerras. Mesmo antes do fim da Segunda Guerra Mundial, as potências vencedoras, 
imbuídas de esforços de institucionalização da política internacional, desenvolveram uma rede de 
organizações internacionais com vistas a promover a cooperação multilateral em diferentes áreas.
Entre as organizações mais importantes, figurava a Organizações das Nações Unidas (ONU) e outras 
a ela relacionadas, como a FAO, a OIT, a OMS e as agências do chamado sistema Bretton Woods, ou 
seja: o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (Bird) e, por fim, também em instância 
multilateral de cooperação comercial, o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (General Agreement 
on Tariffs and Trade – GATT), substituído em 1995 pela Organização Mundial do Comércio (OMC). 
Desde então, outros complexos acordos foram sendo estabelecidos em áreas específicas de cooperação 
internacional, como parcerias para administração de alta tecnologia e cooperação para uso de diversos 
recursos naturais (CASTRO, 2001).
 Saiba mais
O GATT foi instituído no momento em que o Congresso Americano não 
ratificou a Carta de Havana, que estabeleceria a Organização Internacional 
do Comércio (ITO). Para uma melhor discussão sobre o GATT e a OMC, leia 
a seguinte obra:
RAMOS,	 R.	 J.	 S.	 A	 estrutura	 do	 comércio	 internacional.	 In:	 DIAS,	 R.;	
RODRIGUES, W. (orgs.) Comércio exterior: teoria e gestão. São Paulo: Atlas, 
2004, p. 147-178.
O efeito desse processo foi um intenso fluxo de conhecimentos e informações que, no entender de 
Castro (2001, p. 23), passou “em grande parte a balizar e distribuir autoridade e estruturar instâncias de 
negociação, de maneira a influenciar extensamente o jogo da política e da economia internacionais”.
Da mesma maneira, também alteravam a realidade internacional o gigantesco aumento das 
transações transfronteiriças (fluxo de capitais, bens, pessoas etc.) e a presença de atores não estatais, 
como as transnacionais, as igrejas e as organizações não governamentais(ONGs), que participavam nos 
processos políticos e econômicos internacionais.
Dessa forma, as sociedades criaram canais múltiplos de contato, fazendo com que alguns importantes 
processos em curso nas relações internacionais contemporâneas nem sempre passassem pelo controle 
estatal.
Os pressupostos realistas se revelaram insuficientes para explicar os complexos eventos que 
dominavam a agenda política internacional contemporânea. Ao reconhecer tal insuficiência, mas sem 
descartar totalmente o modelo realista, os autores Keohane e Nye (1988) conceberam uma agenda 
24
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
internacional aberta, complexa e composta por uma ampla variedade de objetivos, sem estar, no entanto, 
subordinada a uma hierarquia temática no sentido de a segurança militar ser vista, a princípio, como 
tema mais relevante.
A agenda internacional é considerada aberta por admitir temas de diversas ordens e interesses e 
complexa por estabelecer conexões variáveis, como entre questões de segurança nacional e econômicas 
ou tecnológicas e entre questões de política interna e externa, podendo ocorrer diferentes coalizões 
dentro e fora de governos ou instituições.
Os teóricos observaram também a existência de múltiplos canais de comunicação e influência entre 
sociedades cujas interações vão desde a informalidade entre autoridade e atores privados até as relações 
interestatais formais.
Desse modo, existe a necessidade de analisar o papel desempenhado por outros agentes que não o 
Estado, por serem considerados determinantes em alguns processos em curso nas relações internacionais. 
Em determinados casos, “dependendo da tecnicidade associada às decisões, tais agentes desempenham 
papel tão relevante quanto o dos Estados” (ROCHA, 2002, p. 273).
Ao mesmo tempo que admite uma nova agenda e novos agentes, a teoria tem por base o conceito de 
interdependência como resultado das transações entre agenda e agentes. A interdependência não se refere 
simplesmente a uma interconexão, mas sim a uma dependência mútua ou a “uma situação em que atores 
são afetados, de formas potencialmente custosas, pelas ações de outros” (KEOHANE, 1992, p. 167).
Dentro dos argumentos de Keohane e Nye (1988), existem duas dimensões da interdependência: a 
sensibilidade e a vulnerabilidade, as quais os agentes ficam sujeitos no que concerne às mudanças.
A sensibilidade à mudança se refere aos ajustes realizados em políticas locais e em reflexos de 
alterações de fatores externos. A vulnerabilidade corresponde a custos impostos por eventos externos 
aos quais os agentes estão sujeitos mesmo depois de ter alterado políticas.
Segundo os autores dessa teoria, isso significa dizer que as relações interdependentes entre dois ou 
mais agentes não necessariamente resultarão em vantagens a todos os envolvidos, uma vez que nada 
assegura que as relações consideradas interdependentes sejam caracterizadas por benefícios mútuos, 
“isso dependerá do peso dos atores e também da natureza da relação (KEOHANE, 1992, p. 167).
Os diferentes agentes não possuem igual capacidade de influenciar a evolução dos acontecimentos 
no plano internacional. Desse modo, a interdependência é essencialmente assimétrica à medida que 
afeta os agentes de formas diferentes por estes não gozarem do “mesmo grau de desenvolvimento 
socioeconômico e não controlarem os mesmos recursos naturais, geográficos, financeiros e militares” 
(DI SENA JUNIOR, 2001, p. 25).
Tais assimetrias geram disputas entre os agentes nos diferentes processos em curso nas relações 
internacionais. Os resultados desses processos não são determinados pelo poder militar e emprego da 
força da visão realista, mas pela manipulação dos próprios fatores de interdependência.
25
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
É a partir dessas assimetrias, ou seja, das sensíveis diferenças entre os agentes nas áreas militar, 
econômica, industrial, entre outras, que Keohane e Nye opõem o conceito de interdependência ao 
conceito realista de “poder”, essencialmente relacionado ao uso da força. Os autores afirmam que:
São “assimetrias” de dependência que mais provavelmente oferecerão 
fontes de influência para os atores nas relações que estabelecem entre 
si. Atores menos dependentes podem muitas vezes utilizar as relações de 
interdependência como uma fonte de poder na negociação relativa a uma 
questão e talvez para exercer influência em outros problemas [...]. Concluímos 
que um início promissor nas análises políticas da interdependência 
internacional pode ser o de conceber as interdependências assimétricas 
como	fontes	de	poder	para	os	atores	(KEOHANE;	NYE,	1977	apud KEOHANE, 
1992, p. 167).
O quadro mais complexo de agentes assimétricos e as novas fontes de poder percebidas pela 
interdependência fazem com que diferentes agentes sejam capazes de controlar a evolução e o resultado 
dos principais processos em curso no plano das relações internacionais.
Assim, em alguns casos, conforme o tema com o qual se estiver negociando, as organizações 
internacionais (governamentais ou não), os agentes sociais e mesmo os representantes do setor privado 
terão maior ou menor capacidade de inserir temas na agenda internacional, interferir na formulação 
de política exterior dos Estados, controlar processos etc. Em outros casos, as decisões mais importantes 
ficam por conta dos Estados.
Esse quadro fortaleceu a atuação de outros agentes nos processos em curso no plano 
internacional, sobretudo dos Estados mais fracos e, principalmente, no âmbito das organizações 
internacionais. Para os interdependentistas, as organizações internacionais estabelecem agendas, 
induzem a formação de coalizões e funcionam como facilitadoras da ação política dos Estados 
fracos.
A capacidade de eleger o foro adequado para um problema e de mobilizar votos é um importante 
resultado político. As regras são negociadas sob a apreciação dos membros e, no processo de aprovação 
e implementação destas, os Estados mais fracos, por meio de colisões, tentam fazer prevalecer seus 
objetivos ou mesmo obter resultados menos custosos.
Por assim dizer, a teoria de interdependência dá melhores explicações à nova realidade internacional 
e aos processos nela observados. Essa teoria nutri-se da:
[...] valorização das organizações internacionais, de atores privados 
participantes em processo de cooperação econômica, técnica ou política 
e de processos políticos domésticos, que passaram a ser vistos como 
relevantes para explicar as mudanças na política internacional (CASTRO, 
2001, p. 24-25).
26
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
É fundamental salientar que o estudo dessa teoria não se limita aos argumentos apresentados, haja 
vista que sua apreciação – que valoriza os atores não estatais, as instituições (governamentais ou não), 
a cooperação entre agentes e uma ampla agenda de relações internacionais – desemboca em outra 
agenda de pesquisa: a dos regimes internacionais, dos quais não nos ocuparemos aqui.
Figura 2 – Presidente Dilma Rousseff durante encontro com o secretário-geral 
das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, na sede da ONU, em 2011
3 A POlíTIcA ExTERNA E OS INTERESSES NAcIONAIS: INSTRUmENTOS DA 
POlíTIcA ESTATAl E DA GEOPOlíTIcA
Assim como o Brasil, outros países, ao estabelecerem suas formas de inserção internacional no 
mundo globalizado, levam em consideração a importância de se definir necessidades e interesses 
próprios atuais, baseando-se na consciência coletiva de se ter uma presença e uma imagem 
internacionais.
Reafirmando o que foi dito anteriormente,o modelo de estado-nação eminentemente moderno, 
fundado no princípio da soberania e forjado em Westphalia, outorga relativa independência na 
formulação da estratégia que orienta a ação estatal no âmbito internacional. É por meio de suas receptivas 
políticas externas e de seus recursos disponíveis que os países têm relativa autonomia para escolher 
seus caminhos, seja para desenvolvimento econômico, capacitação tecnológica, maior participação no 
comércio global, crescimento de índices sociais ideais, busca por poder etc.
Quando se pensa as relações internacionais de comércio como uma saída assertiva para países em 
desenvolvimento, há que se recorrer à teoria de interdependência. Ela ajudará a entender as decisões 
das políticas externas desses Estados, já que eles não gozam do mesmo grau de influência militar e 
tecnológica e não têm o mesmo nível de desenvolvimento econômico. A conformação dos interesses 
nacionais individuais indiscutivelmente geram oportunidades e constrangimentos recíprocos.
Porém, antes de tentar demonstrar que as relações internacionais de comércio podem consubstanciar 
o desenvolvimento das nações, há que se entender o que é e quais são os objetivos da política externa 
no contexto das relações internacionais.
27
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
3.1 Introdução à política externa: conceitos e objetivos
As relações entre Estados, organizações internacionais, partidos políticos, organizações não 
governamentais e outros atores situam-se dentro de uma ordem ou sistema internacional e acabam por 
configurar as relações internacionais. Podemos considerar sistema internacional como um:
[...] meio onde se processam as relações entre os diferentes atores que 
compõem e fazem parte do conjunto das interações sociais que se 
processam na esfera internacional, envolvendo seus atores, acontecimentos 
e fenômenos (MERLE, 1981 apud PECEQUILO, 2004, p. 38).
O sistema internacional contemporâneo compreende uma sucessão de macroestruturas: 
eurocentrismo, transição entreguerras, sucessão da Segunda Guerra Mundial com a Guerra Fria até 
o multipolarismo. Dentre essas marcantes etapas da história contemporânea, houve ainda conflitos 
generalizados, revoluções, flutuações econômicas e outras crises.
A importância de conhecer essas macroestruturas dá-se pelo fato de que cada uma delas corresponde 
a configurações específicas de poder. Contudo, os sistemas internacionais podem ser examinados sob o 
ângulo de subsistemas, podendo ser divididos em ideologia, desenvolvimento, conflito e segurança. 
Analisemos cada um deles:
•	 ideologia: tem irrefutável influência na política internacional e está ligada ao modo de organização 
do	país	no	que	concerne	à	política	externa;
•	 desenvolvimento: o nível de desenvolvimento de um país afeta diretamente sua capacidade de 
ação	internacional;
•	 conflito: situações de tensão aguda ou conflito aberto constituem oportunidades extremamente 
ricas	para	análise	da	realidade	internacional;
•	 segurança: os arranjos internacionais e os meios nacionais são instrumentos de segurança 
externa, porém, não deve-se pensar apenas nos instrumentos militares, mas também nos políticos, 
econômicos e socioculturais.
Definido o ambiente de atuação estatal, o processo de concepção da política externa de um estado 
é tratado pelos analistas das relações internacionais a partir de enfoques diferentes. Entretanto, o 
entendimento geral acerca da política externa segue alguns traços comuns que sempre levam em 
consideração as motivações internas e os constrangimentos externos.
Na definição de Seitenfus (2004, p. 84), a política externa é um “processo de percepção, avaliação, 
decisão, ação e prospecção estatais, inclusive aquelas iniciativas tomadas no âmbito interno que possuam 
uma incidência além-fronteiras”. A política externa é de caráter dinâmico e ajustável, decorrente, 
portanto, da:
[...] confrontação entre, de um lado, as aspirações internas traduzidas pelo 
interesse nacional e os instrumentos de que dispõem para promovê-lo e, de 
28
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
outro, as oportunidades e limitação oferecidas pelo sistema internacional 
(SEITENFUS, 2004, p. 84).
Em outras palavras e seguindo a mesma linha de análise, Larrañaga (2004) define política externa 
como um:
[...] conjunto de parâmetros, instrumentos, limites e procedimentos que 
orientam a tomada de decisões de autoridades de um país, referentes 
às relações desse país com o restante do mundo, quanto à sua inserção 
internacional e em função dos seus interesses (LARRAÑAGA, 2004, p. 198).
Ainda no campo das definições, a análise de Cervo e Bueno (2008) aponta a política exterior como 
um instrumento governamental com o qual um Estado afeta o destino de seu povo, mantendo a paz, 
fazendo guerras e induzindo o crescimento, o desenvolvimento, a riqueza ou o atraso, a dependência e 
a pobreza.
Diante dessas percepções, é possível reconhecer que as diferentes atitudes ou posições de formulação 
das políticas implementadas pelos Estados são reflexos do interesse nacional de cada Nação.
Assim, tem-se que:
[...] o interesse nacional encontra-se no âmago da política externa dos 
estados e, por conseguinte, no centro das relações internacionais, [que por 
meio dele os chefes de estado tomam as decisões quanto] às iniciativas 
diplomáticas, os acordos comerciais, a constituição de blocos econômicos, 
os votos nas instâncias multilaterais, as concessões de favores e a obtenção 
de vantagens entre os Estados (SEITENFUS, 2004, p. 85).
Entretanto, diferentemente das proposições do realismo político, apresentadas anteriormente, muitas 
vezes é um grande desafio delinear objetivos concretos para a política externa. Há que se pesar que o 
conceito de interesse nacional é suscetível a um grande número de variáveis e pode provocar percepções 
distintas e contraditórias. Nesse aspecto, as análises superficiais devem dar lugar ao ceticismo, pois “o 
interesse nacional não existe por si mesmo”, mas existe “uma percepção majoritária dos responsáveis 
pela orientação da política externa dos Estados” (SEITENFUS, 2004, p. 86).
Alguns fatores podem ajudar a estabelecer parâmetros para balizar os contornos da inserção de 
países no cenário internacional:
•	 fatores	estáticos	e	permanentes	(dimensão,	localização	e	população);
•	 situações	estruturais	(regime	político,	sistema	econômico,	relações	políticas	e	econômicas	com	o	
mundo);
•	 comportamentos	conjunturais	(posição	em	debates	e	crises	internacionais).
29
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
O reconhecimento de tais diferenças é objeto de análise da política externa quanto a seus objetivos, 
sua agenda, seus instrumentos e seu estilo de execução. Os objetivos são as metas, anseios ou intuitos 
estratégicos estabelecidos como prioritários pelo governo de determinado país para defender, promover 
e atingir seus interesses.
Para atingir os objetivos nacionais estabelecidos, o mesmo governo concebe um conjunto de 
estratégias: é o que chamamos de agenda. Quanto aos instrumentos, estes compreendem os recursos 
disponíveis e os necessários para implementação das estratégias nacionais estabelecidas. A maneira, a 
forma, o modo, as práticas e os costumes que caracterizam a condução da política exterior determina 
o estilo do governo em questão.
Em relação ao desenvolvimento, a pergunta que se faz é: como fazer das relações internacionais de 
comércio	uma	agenda	de	inserção	positiva?	A	resposta	vem	em	linhas	gerais.	A	inserção	internacionalde um país e sua política externa devem considerar três campos fundamentais de atuação nas relações 
internacionais:
•	 estratégico-militar: no que diz respeito ao risco de guerra ou desejo de paz, o campo 
estratégico-militar representa o que o país significa ou pode vir a significar como aliado, protetor, 
amigo	ou	inimigo;
•	 relações econômicas: indica o que o país representa para a comunidade internacional em termos 
de	mercado	de	fornecimento,	consumo,	alianças,	parcerias	e	similares;
•	 valores: revela o que o país representa como modelo de sociedade (LARRAÑAGA, 2004).
3.2 A ação e a interação dos Estados
Todos os países do mundo possuem uma base territorial, mas, frequentemente, suas fronteiras exatas 
são temas de discussão e até de guerras. A Palestina, por exemplo, não tinha uma base territorial até 
conseguir um controle sobre a margem ocidental e sobre Gaza. Além disso, a Palestina obteve um status 
de observadora no meio internacional.
Segundo Mingst (2009), há casos de comunidades (até nômades) que cruzam fronteiras sem que 
as autoridades das nações percebam. Isso ocorre, por exemplo, com os povos masai do Quênia e da 
Tanzânia. A maioria dos Estados possui alguma estrutura institucional para governança, mas é impossível 
saber se a população a cumpre, principalmente pela ausência de informações. Um Estado necessita que 
a maioria de seu povo reconheça a legitimidade de seu governo e não reconheça somente uma forma 
de governo determinada.
Em 1997, por exemplo, o povo do Zaire (hoje República Democrática do Congo) não reconheceu 
mais a legitimidade de seu governo, liderado por Mobutu Sese Seko. Isso levou o país a uma guerra 
civil.
30
Unidade i
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Para que um Estado seja reconhecido, ele deve cumprir quatro condições essenciais. São elas:
•	 o	Estado	deve	ter	uma	base	territorial	e	uma	fronteira	definida	geograficamente;
•	 uma	população	estável	deve	morar	dentro	de	suas	fronteiras;
•	 deve	existir	um	governo	ao	qual	a	população	respeite;
•	 o	Estado	deve	ser	reconhecido	diplomaticamente	por	outros	Estados.
De acordo com Mingst (2009), na visão liberal o Estado é soberano, porém, ele não é um protagonista 
autônomo. Os liberais enxergam o Estado como uma arena pluralista que possui a função de manter 
as regras básicas do jogo.3 Muitas vezes, esses interesses competem entre si dentro de uma estrutura 
pluralista.4
A	visão	liberal	conceitua	o	Estado	como	sendo:	a)	um	processo	que	envolve	interesses	concorrentes;	
b)	 uma	 reflexão	 dos	 interesses	 governamentais	 e	 da	 sociedade;	 c)	 o	 repertório	 de	 vários	 interesses	
nacionais	que	estão	sempre	mudando;	e	d)	o	possuidor	das	fontes	fungíveis	de	poder.
Muitas pessoas entendem que a definição de Estado é a mesma de nação. Mas isso é um mero 
engano. Uma nação é composta pelo povo, ou seja, um grupo de pessoas que possui um conjunto 
de características comuns. Aqui, leva-se em consideração o conhecimento disseminado por novas 
tecnologias e pela educação. Na Nação, as pessoas devem fidelidade ao seu representante legal, ou seja, 
o Estado. A imprensa é utilizada de maneira a difundir a língua nacional e os meios de transporte podem 
colaborar para que se visualize as similaridades e diferenças entre os povos in loco.
Dinamarca e Itália são exemplos de nações que formaram os próprios Estados. De acordo com Mingst 
(2009), a semelhança entre nação e Estado firma-se como a essência para uma autodeterminação 
nacional na qual o próprio povo define a melhor maneira para sua sobrevivência. Há nações que 
estão	espalhadas	em	mais	de	um	Estado,	como	os	curdos,	que	vivem	no	Iraque,	no	Irã	e	na	Turquia;	
e os somalis, que vivem no Quênia, na Etiópia, em Djibuti e na Somália. Há ainda os casos em que 
um único Estado possui várias nações, como ocorre com a índia, a Rússia e a África do Sul. Nestes, 
nação e Estado não se confundem. Dentro dessa vasta gama, há aqueles povos que querem seus 
próprios Estados (como os curdos) e os que almejam apenas uma representação adequada e justa 
dentro do Estado em que estão (como o povo basco na Espanha e na França). Dessa forma, o Estado 
pós-westphaliano pode assumir diversas formas: a) Estados-nação, em que existe uma harmonia 
entre	eles;	e	b)	Estado	com	várias	nações.
A maior fonte de instabilidade e de conflito existente são as disputas de território por Estados e o 
anseio de algumas nações de criarem seus próprios Estados. O conflito entre judeus e árabes tem sido 
3 Essas regras garantem que vários interesses concorram com imparcialidade e efetividade no jogo da política.
4 Os interesses nacionais dos Estados mudam, o que reflete os interesses e as posições relativas de poder de grupos 
concorrentes internos e, às vezes, também de fora do Estado.
31
Re
vi
sã
o:
 S
im
on
e 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: V
er
ôn
ic
a 
- 
23
-0
2-
20
12
Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
o mais intenso e rude nos últimos tempos.5 Assim, pode-se afirmar que uma nação é mais do que uma 
entidade histórica e o Estado é mais do que uma entidade jurídica.
Diante disso, é possível conceituar o Estado de diversas formas: a) O Estado é uma ordem normativa 
munida	 de	 um	 símbolo	 e	 de	 crenças	 que	 unem	 o	 povo	 que	 vive	 dentro	 dele;	 b)	 é	 a	 entidade	 que	
detém	exclusivamente	poder	para	uso	da	violência	dentro	da	sociedade;	e	c)	além	de	ser	uma	entidade	
funcional, centraliza e unifica várias responsabilidades importantes.
A visão realista do Estado defende uma visão mais estatista, isto é, voltada para o Estado, que 
passa a ser um protagonista autônomo restringido apenas pela monarquia estrutural do sistema 
internacional. O Estado tem o poder para trabalhar com assuntos que se referem a problemas 
internos que afetam sua população, sua forma de governo, sua economia e sua segurança. Ele tem 
um conjunto consistente de metas, definido em termos de poder (poderio militar). Na visão realista, 
o	Estado	é:	a)	um	protagonista	autônomo;	b)	circundado	por	uma	estrutura	de	permanente	conflito	
e	um	sistema	anárquico;	c)	é	soberano;	d)	é	guiado	por	um	interesse	nacional	que	é	definido	em	
termos de poder.
Há ainda aqueles que identificam duas outras visões de Estado direcionadas a enfatizar o 
papel do capitalismo e da classe capitalista em sua formação e funcionamento do Estado. A 
visão marxista instrumental o considera como um agente executor da burguesia.6 A visão 
marxista estrutural, por sua vez, o considera como aquele funciona dentro da estrutura do 
sistema capitalista. Nesta, o Estado é levado a expandir-se por causa dos imperativos do sistema 
em	 questão.	 A	 visão	 radical	 de	 Estado	marca	 que	 este	 é:	 a)	 o	 agente	 executor	 da	 burguesia;	
b)	 influenciado	 por	 pressões	 da	 classe	 capitalista;	 e	 c)	 restringido	 pela	 estrutura	 do	 sistema	
capitalista internacional.
Os construtivistas possuem uma visão diferente, pois estão em constante mudança e evolução no 
que diz respeito a assuntos internos ou internacionais. Para eles, os Estados devem compartilhar diversas 
metas e valores a partir dos quais a socialização lhes é sugerida por organizações não governamentais 
e internacionais. Essas metas e valores podem influenciar e até mudar as preferências estatais. A 
visão	construtivista	de	Estado	indica	que	este	é:	a)	entidade	construída	socialmente;	b)	repositório	de	
interesses	nacionais	que	mudam	ao	 longo	do	tempo;	c)	moldado	por	normas	nacionais	que	mudam	
as	preferências;	d)	influenciado	por	interesses	nacionais	que	estão	sempre	mudando	e	que	modelam	e	
remodelam	as	identidades;	e	e)	socializado	por	OGIs	e	ONGs.
Conforme Mingst (2009), os Estados possuem poder e têm a capacidade de influenciar os outros e 
de controlar resultados. A relação de poder varia

Outros materiais