Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
ESPECIAL Por Marília Amantes Economia verde em colha e v '»r .-nn 'v»P 'W Ampliar escala, reduzir preços é conquistar a confiança do consumidor ainda são desafios a serem enfrentados pelas empresas na nova economia. Porém, quem semeia com seriedade já colhe os frutos maduros da economia verde. E, sim, eles dão lucros Ideia Susteíttáve! $4Ânço zoll B%. H a chamada economia verde. li '-Êà, 1:1 não existem mãos invisíveis. Ü %.. ll Temponemsempreédinheiro (:b..ÊI nem o PIB representa a mais ,3.. '\l;;! completa tradução da riqueza de uma nação. Transparência é a primeira regra de um jogo em que fins e meios justificam um resultado comum: minar o carbono, vilão do aquecimento global. Essa verdadeira revolu ção requer investimentos, mas só dinheiro não resolve. Os conceitos de valor e prog resto, agora, adquirem outros sentidos. Todavia, iniciativas sustentáveis com vistas ao retorno financeiro podem significar um pontapé inicial. Em janeiro deste ano, o economista brita naco Sír Nícholas Stern -- autor do famoso rela- tório que, em 2006, denunciou pela primeira vez os impactos da ação humana como responsá- veis pelas mudanças climáticas -- declarou, no Fórum Económico Mundial em Davos (Suíça): Subestímamos riscos e efeitos do aquecimento global. Precisamos encontrar formas sustentá- veis para incentivar o crescimento económico. A boa notícia é que acreditamos que elas exís tam'l Stern mirava uma elite que propaga a sus- tentabilidade como um nova mantra, mas nem sempre encontra tempo para meditar. Uma coisa. no entanto, é certa: o setor pri- vado, em peso, está interessado em participar dessa corrida. conforme se verificou na Rio+20. Ao inserir suas ações de sustentabilidade no core bus/ness, as empresas buscam, afinal, a sobrevi vência no mercado. Para Isso, no entanto, é pre caso inovar. E atingira inovação não é fácil. Frente aos desafios sobretudo financeiros -- muitas empresas reivindicam suporte das governos e da sociedade, a fim de superar seus impasses coti- dianos. Entre eles, soluções para ampliar a escala de produtos mais sustentáveis e a conscienti- zação dos consumidores de que, num primeiro momento, talvez seja preciso pagar mais por eles. O desafio desta reportagem foi justamente mostrar que tem sido possível não apenas sobre- viver como também crescer nessa nova eco- nomia. E muitas empresas jó colhem os frutos maduros da economia verde. Assim como Sir Stern, elas enxergaram luz no fim do túnel -- e, muito provavelmente, a lâmpada é LEDA \. humanidade tem sido retornar a níveis aceitá- veis as emissões de GEE (gases de efeito estufa) na atmosfera. Por meio de convençõe.s interna- cionais, resumiu-se o problema ao dióxido de carbono (CO2). No entanto, um acordo para pre- cificá lo como commod/ty ainda parece longe de se tornar realidade. Ao mesmo tempo em que, na Austrália, a taxa foi estabelecida em 23 dólares australianos por tonelada métrica para o emis- sor. no mercado global e em instituições como a Bolsa Europeia do Clima as negociações vêm perdendo força. Divergências carbónicas à parte, a diversifica- ção financeira em produtos "do bem" impregnou os mercados com um ambiente favorável ao sur- gimento de novos fundos de investimentos e car- teiras sustentáveis. Primeiro indicador de desem- penho corporativo nessa linha, o Dow Jades Susto/r7abf//fy /ndex, lançado em 1999 na Bolsa de Nova porque, segue cada vez mais firme como referência para investidores do mundo todo. A.ss\m como os Ethical índices FTSE- G00D, da Bolsa de Valores de Londíes. Afinal, desde a crise financeira mundial, em 2008, a antiga rela ção entre ética e confiança tem sido restabele- cida por interessados avessos à economia do tipo 'cassíno'; na qual apostavam-se todas as fichas no lucro a qualquer preço. Outro indicativo de que os investidores estão valorizando a chamada nova economia é o sucesso do pacto pelos Prfnc@/os para /nvesf/ menfos Responsáveis (PRI), incentivado desde 2003 pela Organização das Nações Unidas (ONU), que conta atualmente com 1.175 signatá- rios em todo o mundo -- entre investidores insti- tucionais, gestores de investimentos e provedo- res de serviços. Juntos, eles administram um total de cerca de 30 trilhões de dólares em ativos de investimentos sustentáveis. No Brasil, as ações de empresas listadas no ISE(índice de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBovespa valorizaram-se 20,5% em 2012, enquanto o lbovespa índice tradicional que ícone 80% das empresas com maior liquidez da Bolsa de São Paulo -- subiu 7.4%. Compa rativamente, a valorização acumulada do ISE, de 2005 (ano inaugural) a 2013, foi de 143,28%. No mesmo período, o lbovespa obteve alta de 79.92%. In\errar o IC02 (Índice Carbono Eficiente). outra iniciativa da Bolsa de São Paulo na qual as ações de 30 empresas subiram 16,3% em 2012. também significa, literalmente. estar na vitrine IDEALISTAS CQM OS PES NO CHÃO Em tempos de aquecimento global, o obje [ívo primordial das empresas -- e também da MARÇO 2013 Ideia Sustentável 21 investidores, as ações flutuam menos e valori- zam-se mais no tempo. Além disso, o processo de seleção fica mais criterioso a cada ano, o que tanto serve para conquistarmos reputação como aferirmos se estamos no caminho certo'l diz Jorge Solo, diretor de Desenvolvimento Sus- tentável da Braskem. No início dos anos 2000, década do zoom sucroalcooleiro, a empresa desenvolveu o polie- tileno verde, um plástico derivado do etanol de cana de açúcar -- hoje líder no mercado enter nacional na categoria dos biopolímeros produ zldos a partir de fontes renováveis. E a empresa contínua apostando na inovação para diver sificar seus produtos. "Investimos 55 milhões de reais, só- em 2012. Com a empresa Pacifíl, criamos os 'silos-bolsa; espécie de tubos de polietileno para armazenagem de grãos, fer tilizantes e subprodutos da cadeia agroíndus- trial, que diminuem o desperdício e barateiam o processo agrícola. Em brevél lançaremos o pg! pr92jlgrlo .ySlgg, revela Solo. Segundo ele, os produtos verdes ainda estão longe de poder competir com a indústria tradi cional: em virtude da pequena escala, tornãm- -se naturalmente mais caros. Mesmo assim, a Braskem mantém a meta de alcançar a lide- rança da química sustentável, até 2020. "No iní- cio, a transição de escala é muito cara; pre- cisam-se amortizar custos com tecnologia. enquanto testam-se os produtos no mercado No entanto, acredito que os preços altos serão temporários, logo estarão equivalentes aos da velha economia. Felizmente. existem clien tes dispostos a pagar pela contribuição à sus rentabilidade. No entanto, temos uma carência REHFELD GERENTE DE DESENVOWIMENTO SUSTENTÁVEL DA UNIDADE DE NEGÓCIO NÍQUEL DA ANGLO AMERICAN pa!!e$!ma. }l:i8'w de autoDeças © eleüodomcsücGS "0s investidores querem saber sobre ab incidências ambientais e os cuidados da empresa com o desenvolvimento local. Esse interesse representa o dos acionistas que, cada vez mais, levam as questões da sustentabilidade para a presidência da Anglo Amerícan." da nova economia, já que transparência tornou .se critério básico. Ajudar as empresas nessa tarefa, aliás, tem sido o desafio do Carbon Disclosure Project (CDP), um banco de dados de inventários empre .sariajg.qy.e também auxilia investidores ate.ntos à sustentabilidade. "Quantificar impactos para gerenciá-los é o primeiro passo para mapear ris- cos e oportunidades'l afirma Fernando figueí rede, diretor da organização no Brasil. "0 grande desafio do CDP é induzir empresários e investi dores a pensar. Nosso objetivo é indicar opor tunídades de financiamentos; estes sim. men- suráveis. E pode-se ganhar com eles'; garante. Os números mostram que sím. Uma pesquisa conduzida pela coordenação internacional do CDP. em Londres, em parceria com a Accenture, no ano passado, ouviu 2.415 empresas(sendo 52 grandes companhias compradoras e as demais integrantes de suas cadeias de fornecimento). Segundo o estudo, respectivamente. 92% e 38% delas já assumem metas para diminuir emís iões. E. para 73%, o carbono é um direcionador de investimentos até mais relevante do que os próprios marcos regulatórios. INVESTIR PARA INOVAR Uma das .15 empresas brasileiras a integrar o SustainabiiítyEmerging Markets Index, novo índ\ce recém-lançado pela Dow cones exclusivamente para países emergentes, a Braskem prova que estar na vitrine das carteiras sustentáveis impul- siona o círculo virtuoso do desenvolvimento. 'A empresa só ganha ao adotar indicadores como os do IC02 0u ISE-Bovespa. Carteiras dife- renciadas refletem uma imagem positiva aos 22 Ideia Sustentável MARÇO 201s e de incentivos dos governos para produtos ino vadores e Instalações mais sustentáveis, como seria o correto'l desabafa. Como se diz popularmente, no entanto, o bom é inimigo do ótímo. E, em se tratando de sustentabilidade, esperar pelo ideal pode cus tar ainda mais caro ao negócio. "Com a crer cente saturação e alta competitividade dos mer cados, será difícil manter estratégias tradicionais. Ir além significa vender soluções para problemas sociais e ambientais. Seria excelente contar com incentivos de governos. Porém, os empreendi- mentos com capacidade de 'destruição criativa' do antigo modelo de produção certamente são aqueles que irão liderar nas próximas décadas'; disse 8yêlLl:lâLÇ.gU.dgpginle.r)tg exclusivo à Ideia Sustentável. sustentabilidade -= económico, social e ambien tal. No Brasíl, quem atende a essa demanda é o BNDES, maior banco de desenvolvimento social do mundo em volume de investimentos As instituições financeiras privadas também já entenderam que apoiar a sustentabilidade das empresas tornou-se um vasto campo de opor- tunidades. A instabilidade dos anos de crise ser viu para que os bancos descobrissem que se por um lado passaram a ganhar menos por operação, com desaceleração dos rendimentos, por outro, podem lucrar com um maior número de emprés- timos a pessoas físicas ou jurídicas da categoria dos "bons pagadores'l Nesse sentido, destacam se os microfinan- ciamentos, principalmente quando aslocíados a políticas públicas ou empresas intermediá- rias. O holandês Rabobank, por exemplo, sur- giu de cooperativas para crédito agrícola há 110 anos. Hoje. está presente em 47 países, em todos os continentes. No Brasíl, a instituição dá ênfase ao mercado de pequenas e médias empresas, aconselhando a produção sustentá- vel e demonstrando boas práticas. U a das m8}0r©s autoridades murldiais soi)re implicações do ambiente e da poõrcz'a baía a estlatéqla pais da tQclriã Sabre a riqueza na 9a$Q da pirâmide MENOS PODE SER MAIS Nos Estados Unidos, o Congresso Nacional incentiva o crédito para o desenvolvimento junto às instituições privadas. Por meio dos Community Development Ins titutlons Fund (c DF\ 9. fomentam-se sfarfups sobre os três pilares da mARçO 201s Ideia $us e áve1 23 O Santander é outro banco que tem se des- tacado no Brasil por suam práticas sustentáveis. Dentrc as quais, a composição de carteiras de alguns funchos de renda fixa. A rentabilidade do Fundo fth/ca/, de 2001 , por exemplo, já urra passa a do lbovespa. Já o serviço Sanrander .4sset /managemenf orienta investimentos segundo os PR#. Além disso, por meio de seu programa de microcrédito, promove a inclusão social e finan- ceira, oferecendo capital de giro aos microem- preendedores. "Em 2011, nossas linhas somaram 1,2 bilhão de reais para financiar a eficiência no consumo de água, energia, tratamento de resí- duos e construção de pequenas e médias empre sas. E somos o banco que mais investe em ener- gia eólica no Brasil'; orgulha-se Carlos Nomoto, superintendente executivo de Desenvolvimento Sustentável do Santander. Segundo Nomoto, a noção de sustentabi- lidade, hoje, abarca custos operacionais e ris- cos. "Não precisamos mais ficar convencendo as empresas. Os clientes prestam atenção, MAGRA CAMPORA PROPRIETÁRIA DA LAVANDA GREEN "Não faz sentido que produtos e serviços sustentáveis curtem mais caro se a proposta é exatamente poupar recursos, reutilizá-los." 24 Ideia Sustentável mÂRç020is principalmente nos casos negativos. Catástro- fes climáticas, por exemplo,já afetam os prémios das seguradoras. Assim,junto à valoração de ati- vos ambientais, avançam mecanismos quanti- tativos para evoluírmos. É preciso medir para gerenciar'; afirma. A legislação ambiental, portanto, é outro favor que deve influenciar investimentos susten- táveis, segundo Nomoto. "Sustentabilidade é ino- vação, durabilidade. O governo também é indu- tor da mudança. Num futuro próximo, acredito, a Política Nacionalde Resíduos Sólidos (PNRS) pro- moverá uma transformação em cadeia. na qual teremos oportunidade de financiarmos a adap- tação dos clientes. Nosso trabalho é satisfazê los. E, para eles, isso será uma necessidade:' produzem painéis solares. Temos três ou qua- tro projetos de escala, ainda em experimenta- ção. Intermediamos investidores e fabricantes. E já existe grande interesse internacional em se instalar no Brasil'l afirma. Para o consultor, o atual protecionismo bra: saleiro nesse mercado preserva a indústria nacio- nal. "Os estrangeiros esbarram na exigência do compartilhamento 0 charme do m 2008. dois estudantes sem dinheiro para o alu- guel, em São Francisco (EUAj, resolveram anunciar a locação de dois colchões de ar que tinham na sala de vIsItas. A brincadeira acabou se transformando num dos mais proeminentes negócios da atualldade. Qua- tro anos depois, o weós/fe Airbnb encerrou 201 2 com cinco milhões de diárias reservadas no mundo inteiro agora em quartos e apartamentosl No Brasil des- de o ano passado, Stefan Schimenes, gerente da empresa para América Latina, afirma que a procu ra é cada dia maior. 'Já dispomos de oito mil apartamen- tos para hospeda- gem. 0 Rio de Janeiro é o lugar mais procurado. com diárias a partir de 50 reais". afirmou em depoimento exclusivo à Ideia Sustentável 0 negócio funciona assim: o locatário anuncia e paga ao site cerca de 3% do valor do aluguel que irá receber. Já o hóspede, além do valor mais acessível do que uma diária de hotel. recolhe entre 6% e 12% de taxa para o site. conforme a localidade. 0u seja, o Airbnb fica com cerca de 10% do valor da tíansação A inovação foi criar um espaço para as oportunidades de intercâmbio. com uma gestão facilitadora de negó aios, "Temos um conceito de escala. no qual os an- fitriões são nossas parceiros, e os hóspedes. nossos clientes". diz Schimenes Mas os rapazes dos colchões de ar enxergam lon- ge. 'A maioria dos clientes ainda utiliza os serviços por lazer. Porém as empresas Já entenderam que esse tipo de hospedagem resulta em ganhos de capital e agrada os funcionários. Eles podem escolher lugares fora das regiões concentradoras de hotéis". empolga- se Schimenes. Para ele. o charme do compartilhamen- to está na possibilidade de hospedar-se na casa de um superarquiteto ou em um quarto-sala. "0 fato é que sua percepção da vida local nas cidades visitadas e sua con- cepção de viagem seguramente se transformarão; E SOL E VENTO SEMEANDO LUCROS Em 2010, a Eletrobrás, antiga companhia esta- tal energética brasileira, passou a ter capital aberto. Foco de investimentos estrangeiros no mercado, a empresa está listada no índice l)ow Jones Sustainabilitylndex World. Entre as 63 com- panhias concessionárias no serviço público de distribuição de energia elétrica, sob coordena- ção da Agência Nacional de Energia Elétrica IANEEL), a Eletrobrás administra boa parte do gr/d de transmissão nos estados do Amazonas, Piauí, Alagoas, Roraima, Acre e Rondaria. Mas atrasos na entrega de ínfraestutura afetam a confiabilidade do país. Segundo Fernando Brasileiro, díretor da Cleantech Investments, consultoria em ener- gias limpas baseada em Londres, "existem par- ques eólicos prontos, aguardando serem 'ligados na tomada"l A Cleantech fornece informações estratégicas sobre o mercado de energia solar, eólica, de marés, ondas, água, veículos, doce// jcombustível de células), entre outras. Conforme Brasileiro, mesmo com as dificuldades, "a hora do Brasil chegou. Segundo a Associação Bra- sileira de Energia Eólica. até 2020 o Brasil pro- duzirá cerca de 5 g/gawatts em energia eólica. Ainda há espaço para o mercado.de pequenas turbinas, para atender postos de gasolina, por exemplo'l acrescenta. Segundo Brasileiro, a nova tendência será cada um produzir sua própria energia. 'Agora. depois de aprovada a lei sobre a geração dis- tribuída, em 2012, a 'bola da vez' será a ener- gia solar. com maior potencial de microgeração. Todavia. ainda não há leilões no Brasil nem se UARçozots Ideia $aseentávei 25 gia implementou o sistema junto à espanhola lberdrola. com apoio da prefeitura. SÓ as refor- mas de estádios nos diversos estados do país irão garantir a autogeração e ainda compartilhar o excedente na redes Publicidade na onda verde ÍÍ\ /ai mudar seu penteado. m.as também a sua cabe- ça". Com s/ogans como esse, a agência Salve. de São Paulo. decretou guerra ao que chama de "ditadu- ra do automóvel nas cidades" e conseguiu. alavancas as vendas da Calor, centenária fabricante de bicicle- tas. Encontrar argumentos "sustentáveis" para conven- cer o consumidor. aliás. não foF tarefa das mais dlfí ceia, "Em São Paulo, por exemplo, só as bicicletas an- dam no trânsito depois da chuva. Então. a sociedade empurra a bicicleta. É o que, em publicidade. chama- mos de 'tensão social'. Nada segura uma ideia se o mundo está pronto para ela", diz Jades Sca- vone, diretor de criação da agência. que trocou o carro pela ó/ke há mais de seis anos.2 A valorização da cul- tura da bicicleta caiu como luva para a Salve, Guio nome, segundo Sca- vone. reflete uma paixão por sustentabilidade. "Nossas soluções vão além de frases engraçadas ou mentiras bem embaladas. Queremos fazer as pessoas pensa- rem. Com a Calor, pudemos explorar. por exemplo. o aumento no preço da gasolina. Nosso desafio é falar as coisas certas." Apesar da pressão do governo para aumentar Im- postos, como o ipÉ, a campanha resultou na venda de mais de um milhão de bicicletas por ano. Com popu- laridade nas redes sociais. recuperou-se a imagem da marca. "que já não está mais no ma/nsfíeam da TV, hoje dominado pela Indústria do automóvel". diz. Ap%ar de alimentar um círculo virtuoso. Scavone admite que a publicidade ainda não está pronta para sobreviver apenas de sustentabilidade: " Infelizmente. ainda não podemos fazer $ó propagandas 'do bem' Um ciclo aiç)da não se encerrou no mercado brasileiro. no qual muitos só agora começam a consumir' V CONSUMO EFICIENTE REALIMENTA O NEGOCIO Economizar energia, sob todos os aspectos, é bom negócio. Para Ténia Cosentino, vice presidente sénior da Schneider Electric para a Améríca do Sul, "conscíentízação empresa rial não é custo, mas investimento. Sistemas inteligentes se pagam em três anos, na média'l afirma. "Processos de automação costumam diminuir o consumo em 30%. Eficiência energé- tica éa base do pensamento verde. Quanto mais racionarmos o consumo, mais ganharemos em produção. A energia mais barata é aquela que você não gera. Atualmente. a cada três pa nes de energia produzida, consumimos efetívamente apenas uma'l alerta. Por isso, a empresa apostou na gestão de efí ciência como princípio de seu negócio. 'A auto- mação de linhas de controle industrial oferece recursos para reduzir perdas energéticas e da produção, diminuir custos operacionais e gastos desnecessários. Essa expert/se custa. Mas os pro duros são funcionais e interconectados. Nosso diferencial está na aplicação, pois velocidade, hoje, é tudol Nossos clientes -- g randes indústrias e grupos empresariais acreditam nesse inves tímento, porque há um retorno do capital. Além disso, os ganhos com a imagem são significativos AssirD, acredito que os mais avançados devam ajudar a cadeia de fornecedores e suprimentos a evoluir'l avalia Ténia. Um círculo virtuoso que combina lucros com sustentabilidade. Outra crença da Schneider é a de que o seu negócio é capaz de promover a inclusão social e. de quebra, realimentar a própria empresa. Além de sofisticados projetos para smartc/t/es, a com- panhia gera energia solar em regiões da Ama zunia onde o gr/d de transmissão não chega. E também investe na educação profissional 'A economia cresce. mas há um déficit de mão de obra qualificada no mercado de trabalho. Por Isso, junto ao SENAI investimos na formação de 6 mil jovens técnicos em eletricídade básica. Cer temente, eletricistas formados por nós preferirão os produtos da Schneiderl De fato, ao contrário do que se imaginava. a economia verde vem promovendo a geração BNDES de que 60% dos componentes tenham certificado de origem nacional para liberar fínan cíamentas à fabricação de pás, turbinas e torres eólicas. SÓ os chineses vieram com financiamen tos próprios, porque, além do Brasil, ainda miram exportar para a Áfrlcaí' Ainda de acordo com Brasileiro, outra opor tunidade de lucro com as energias limpas são os grandes eventos esportivos que acontecerão no Brasil. "Estádios com painéis solares integrarão a geração distribuída. Em Salvador, a Neoener- 26 Ideia Sustentável Manco z0 3 de empregos. Segundo o mais recente rela- tório da Organização Internacional do Tra- balho, em 2010 foram criados, só no Brasil, 2,9 milhões de postos de trabalho em áreas de- dicadas à redução dos danos ambientais. O que prova que a sustentabilidade, literalmente, dá mais trabalhos COBERTA SIMONETTI GVCÇS - FUNDAÇÃO GETULIO VERGAS "Todo investimento vincula-se a um horizonte de tempo, um apetite de risco e uma expectativa de retorno. Existem investidores que podem, e preferem, abrir mão do curtíssimo prazo em função do futuro:' FAZER BEM CITO EVITA PREJUÍZO Com duas plantas de exploração no Brasil, ambas no estado de Golas, a Unidade de Negócios Níquel da Anglo American atum no Brasíl desde 1982. A multinacional é pioneira e líder global na produção de platina e diamantes. Os esforços socioambientais da companhia renderam diver- sas premiações. Desde 2008, a revista Exame a nomeia entre as 20 empresas-modelo em sus- tentabilidade no Brasil. Em 2012, foi eleita pela mesma publicação como a empresa do ano. Segundo Juliana Rehfeld. gerente de Desen- volvimento Sustentável da Unidade Níquel, um estigma permanece na mineração. "Os impactos diminuíram,.mas o público ainda enxerga essa atívidade como danosa. Por isso, desde a pri- meira convenção mundial sobre meio ambiente, em Estocolmo (1972), o selar adorou práticas sustentáveis antes de outras indústrias'l explica. Para Juliana, a gestão da empresa íntegra meio ambiente, saúde, segurança e responsabilidade social. Hoje, entende-seque o retornoà população vale a pena. "Não existe desenvolvimento com pobreza ou dano ambiental'l constata A política de sustentabilidade da Anglo Níquel foca investimentos no entorno das minas, em parcerias com ONGs e instituições locais Diferente de siderúrgicas ou automobilísticas, míneradoras sabem que irão embora. Isso leva 30 anos, em média. Então, evitamos tornar as populações dependentes da empresa'l comenta Para Juliana, a presença em 60 países levou a um aperfeiçoamento nos padrões de atua- ção. "No Brasíl, participamos das atualizações nas câmaras temáticas sobre as leis ambientais e queremos ser fiscalizadosl O lema é fazer direito desde a primeira vez. Prevenir custa menos do que remediar. Evitam-se multas ambientais e, sobretudo, danos à reputação e imagem. Nesse i mAnç02cl3 Ideia Sustentável 27 sentido, a comunicação também é estratégica para mostrar quem somos e como queremos ser vistos. E, claramente, tudo isso se paga:' Encontrar valores de sustentabilidade no setor extrativísta é, sem dúvida, um desafio. Definir indicadores de eficácia no que faze- mos não q simples. Podemos medir estatísticas de empregos, nãó relações causa efeito. Porém, consertar relações e projetos certamente sai mais caro do que começa los corretamente. Assim, também medimos os nossos ganhos'l dizJuliana. Os indicadores financeiros comprovam que a boa governança e vizinhança dão resul fado, inferindo alta no valor de ações e fun- dos e atraindo investimentos no longo prazo. 'Trabalho bem feito custam Mas a contrapartida resulta em valorização e procura dos investido res'l garante. CARLOS NOMOTO SUPERINTENDENTE EXECUTIVO DE DESENVQLVIMENTC SUSTENÜVEL DO SANTANDER INDUSTRIA CONSCIENTE DOS SEUS LIMITES Fabricantes de eletrodomésticos e automó vens representam os maiores consumidores de minério de ferro no mundo. Na balança comer- cial brasileira, de 2011 para 2012, as exporta- ções da matéria prima aumentaram de 29 para quase 42 milhões de toneladas -- 1 6,3% de toda "0 avanço nas mensurações das práticas sustentáveis e a valoração de ativos ambientais são tendências. Portanto. não precisamos mais ficar convencendo as empresas." 28 :a:. 8 Sustentável Nana zo: [ a exportação nacional. O desgaste dos recursos naturais do planeta, no entanto, obriga resigni ficar o valor do capital ambiental. E as empre sas que entenderam isso primeiro, hoje ocu- pam a liderança em seus setores. É o caso da Whirlpool, cujos desafios ultrapassam os lucros financeiros. "É postura da empresa criar produ- tos e processos mais sustentáveis e viáveis eco nomicamente. Porém. ser ético e responsáve não é barato. Ainda não podemos repassar total mente os custos para o consumidor'l díz Vander lei Níehues, gerente geral de Sustentabilidade da Whírlpool. A empresa acredita que responsabilidade significa pensar no médio e longo prazos. Por isso, adorou o programa DfE (Des/gr7 for rhe Enr/ronmenf), desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, obje- tivando visualizar o ciclo de vida dos produtos e desenhar estratégias para minimizar impactos ambientais. Além disso, a reutilização de efluen- tes e captação de água da chuva, por exemplo, levaram a uma economia significativa no con- sumo, afetando os custos. Na fábrica de lavado ras, economizam-se, em média, 66 milhões de litros de água por ano em testes. "Nosso desa- fio é criar soluções inovadoras, que ao mesmo tempo gerem valor ao acionísta e ofereçam benefícios ao consumidor. A empresa que não conseguir produtos e processos melhores, a cus- tos viáveis, ficará para trás. Mais do que respon sabilídade. sustentabilidade é pilar de negócio'l afirma Níehues. No caso da Whírlpool, investir em sustentabi- lidade melhora a imagem e aceitação da marca. 'lq maioria dos brasileiros não só prefere produ- tos sustentáveis como trabalhar em empresas responsáveis. Queremos a preferência do con sumidor e atrair talentos da nova geração, mais consciente. Assim. criamos uma cultura de sus tentabílidade entre os funcionários, que sáo quem de fato atua nos processos da empresa'l conclui. TÉNIA COSENTINO VICE-PRESIDENTE DA SCHNEIDER ELETRIC PARA A AMÉRICA DO SUL 'As empresas trabalham com ót/dyef apertado. Et;onomizar insumos resulta em lucros. A questão é como passar o preço do 'wa/k Ihe fa/k' -- que pesa na balança -- para o mercado. Grandes grupos industriais estão cada vez mais preocupados com sustentabilidade. Agora precisam olhar para suas cadeias de suprimentos, envolvendo forrlecedores." dessa igreja no Brasíl --, a Korin investiu durante 40 anos, preparando o terreno para a produção de hortífrutigranjeíros naturais. Hoje, é referên- cia no assunto. 'Até pouco tempo atrás, trabalha mos no prejuízo; as vendas não cobriam os gas tos. Porém. com o aumento da escala, ainda que lento, conseguimos chegar a custos e preços víá vens'l revela Edson Shíguemoto, díretor comercial e financeiro da empresa. Foí preciso perseverar, no entanto, para har- monizar sustentabilidade e ganhos financeiros. Para se ter uma ideia. a empresa líder no abaste- cimento de frangos no Brasil abate 5 milhões de aves por dia. Na Korin, são apenas 16 mil. A meta é chegar aos 60 mil abatimentos diários para tor nar o produto competitivo. No entanto, com a re.comendação de médicos e nutricíonístas -- já que a Korín não utiliza agrotóxicos nem antibióti- cos nos produtos , o negócio cresce. sem publi- cidade. "0 público precisa valorizar para pagar. Porém. trabalhamos sempre para reduzir custos e atingir mais pessoas'l diz Shiguemoto. Para isso, a empresa tem investido na diversa ficação de produtos e pontos de venda. No pró- ximo mês de abril, deve lançar a carne de boi 100% natural. Além disso, inaugurou três fran- quias, recentemente. aditando um modelo em que não há cobrança de roça/r/es. O objetivo é conquistar novos canais de distribuição para difundir a marca. "Muitos vendem a ideia de que sustentabilidade dá dinheiro. Mas o dinheiro é consequência de alguma coisa. E é natural que ele venha de coisas boas. Aqui, o que se planta dá. E certamente se traduzirá em lucros. Tal- vez demore. No entanto, serão duradouros e QUEM PLANTA COLHE! A crescente conscientízação em relação ao con sumo saudável e ao comérciojusto tem ampliado a popularidade e diversificação de produtos vol tados a estilos de vida mais naturais. E muitos empreendedores aproveitam essa onda para transformar simplicidade em ousadia. Com uma paciência literalmente messiânica -- a empresa nasceu para atender os adeptos UApçoloâ3 Ideia Susteatávei 2$ + só poderão melhorar com o tempo'; ensina. Outra promissora jante de renda na alimen- tação sustentável é a pisci- cultura ou aquicultura. Afinal, embora a Organização Mundial de Saúde(OMS) recomende o consumo de 12 Kg de peixe ao ano, por habitante, o brasileiro consome. em média. apenas 9 Kg. Conquistar esse mercado, no entanto, exige fôlego. 'A escala ainda é um problema do negócio. Nossas espécies disputam mer cedo com substitutos como atum e sal- mão, geralmente importados do Chile' diz Pedro Furlan, diretor-presidente da Nativ. indústria produtora de espécies ríatívas da Amazõnia, como tambaqui, pintado amazõnico e tílápia. Considerada mais ecológica do que a pesca, a criação de peixes já representa 45% do consumo mundial. "Nossa pro- dução é totalmente sustentável. Cultivar em haó/taf natural evita a correção gené- tica'; garante Furlan. Com isso, a empresa vem conquistando mercados na Suíça, Alemanha, Portugal e Espinha. "Recen- temente, nos aliamos a uma companhia de pesca do Alagca, nos Estados Unidos. Pretendemos expandir cada vez mais para o mercado internacional'l revela. Outra estratégia da empresa para ganhar escala tem sido a diversifica- ção para produtos industrializados processados, como iscas de peixes ou fishburgers -- conge- lados e mais práticos. Com isso, a Natív tornou-se fornecedora de 19 das 20 maiores redes de varejo nacio- nais. Segundo Furlan, o governo brasi- leiro também tem demonstrado esfor- ços pelo crescimento do setor. "Em 2007, regulamentou questões como o conge- lamento dos produtos. Podemos nos tor- nar grandes p/ayers globais em aquicul- tura. Afinal, 12oK da água doce do mundo estão no Brasil e ainda produzimos grãos para rações PEQUENOS LAMBEM TEM VEZ Em 2008, a engenheira florestal Magra Campora decidiu investir numa tecnolo gía importada da Suécia para a lavagem de roupas. O processo wef c/ean/r7g uti- liza máquinas com sensores de precisão que proporcionam um consumo mínimo de água e energia. E a Lavando Green não parou por aí. Uma ampla e arejada sala com ventilação natural evita o uso de secadoras. Os detergente s -- biode gradáveís -- não fazem espuma nem são ácidos ou alcalinos. Os cabides são reuti- lizados, e a entrega, fêíta apenas na vizi- nhança, a pé ou de bicicleta, elimina o uso do carro. O grande pulo do gato, no entanto, reside no fato de que o sistema também pode substituir a lavagem a seco, apoiada no uso do percloroetileno. Esse solvente químico). além de poluente, pode ser cancerígeno. "Apesar de proibido em muitos países, ele ainda é comercializado no Brasíl. Por isso muitas franquias insta laram se aqui'l observa Moira. A proprietária da Lavando Green garante que todo esse cuidado não custa mais para o consumidor. "Os pro dutos utilizados na lavagem são caros. Mas a economia de água e eletricidade compensa'; dlz Moira que, no início, ima- ginava conquistar apenas uma seleta clientela de "ecologistas de carteirinha' Hoje. ela comemora: 'A procura ocorre mais pelo preço e o resultado final, que são imbatíveísl" » DO DIGlml AO REAL Para Massimo Di Felice. redes digitais e sus- tentabilidade caminham de mãos dadas. Junto à Julliana Cutelo Torres e Leandro Key Higuchi Yanaze. curiosos das influências do avanço da cultura reticular sobre as relações do homem com o território ao seu redor, o intelectual ita- liano escreveu uma obra inovadora e profunda sobre o tema. Segundo os autores, estruturas e comportamentos virtuais adquirem corpo no mundo real Redes Digitais e Sustentabilidade-- as intera- ções om o meio ambiente na era da informação conta com prefácio do pensador francês Michel Maffesolí, responsável pela retomada do concei- to de "Ecosofia'; e propõe um debate acerca do potencial das arquiteturas informativas online para o. desenvolvimento não apenas de um for- mato diferenciado de comunicação, mas de um novo modelo social. De acordo com a obra, o acesso às redes digitais (e a educação para o seu usei gera uma transparente e inclusive dinâmica de tomada de decisões públicas, considerando o meio am- biente, a natureza e seus atores "não humanos como parte do contrato social, e não mais como externalidades. Em outras palavras, trata-se da emersão de uma nova forma de democracia. sobre a qual o trio de autores nos desafia a pensar. (Fábio Congiu) + JORGE SOTO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA BRASKEM "Muito se questionam sobre os retornos económicos da sustentabilidade: é uma estratégia de negócio. Eu diria que vivenciamos uma transição. Produzir sustentaveimente custa um pouco mais; porém. é possível aproveitar a escala menor para experimentar novidades no mercado." Redes Digitais e Sustentabilidade Massimo Di felice, Julliana (utolo Torres e Leandro Key Higuchi Yanaze Editora Annablume, 220 págs. R$ 26,00 30 Ideia Sustentável RIAnç02013
Compartilhar