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Caderno de Aula 2

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Caderno do semestre e conteúdos de aula 
Direito Processual Penal II – 2016/1 
 
Universidade de Passo Fundo – Faculdade de Direito 
 
Prof. Dr. Gabriel Divan 
 
http://gabrieldivan.com 
 
 Resumo-guia dos conteúdos do semestre 2016/1 da 
disciplina de Direito Processual Penal II: 
 
1) Não se recomenda que seja utilizado como 
‘bibliografia’ nem como exclusiva fonte de contato 
com a matéria; 
2) Trata-se de um “plano de conteúdos” ampliado. As 
explicações, exemplos e discussões em aula e as 
avaliações vão perpassar conteúdos além do que aqui 
está exposto. 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
 Bibliografia básica/mínima para o estudo 
 
LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal e sua conformidade constitucional, São 
Paulo: Saraiva; 
_______________. Prisões cautelares, 4ª Edição.. Saraiva  disponível na 
Biblioteca Virtual UPF 
 
GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Direito à Prova no Processo Penal. São Paulo: 
RT, 1998. 
 
TÁVORA, Nestor. ASSUMPÇÃO, Vinícius.. Col. saberes do direito 11 - Processo 
penal II: provas – questões e processos incidentes, 1ª Edição. Saraiva. 
 
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. São Paulo: Atlas 
 
GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a 
Constituição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. São Paulo: Atlas 
 
CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: Saraiva. 
 disponível na Biblioteca Virtual UPF 
 
 
DIVAN, Gabriel Antinolfi. Processo Penal e Política Criminal. Porto Alegre: 
Elegantia Juris  disponível em http://gabrieldivan.com 
 
 
 
Bibliografia para aprofundamento: 
 
GIACOMOLLI, Nereu. Prisão, liberdade e as cautelares alternativas ao cárcere. 
São Paulo: Marcial Pons, 2013. 
 
WEDY, Miguel Tedesco. Eficiência e prisões cautelares. Porto Alegre, Livraria do 
Advogado, 2014. 
 
SUANNES, Adauto. Os fundamentos éticos do devido processo penal. São Paulo, 
RT, 2005. 
 
LOPES JR., Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal. Fundamentos da 
Instrumentalidade Constitucional. RJ: Lúmen Juris, 2010. 
 
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón. Madrid: Trotta, 1997. 
 
DUCLERC, Elmir. Direito Processual Penal. RJ: Lumen Juris, 2011. 
 
 4 
DI GESU, Cristina. Provas Penais e Falsas Memórias. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 
2010. 
 
WARAT. Luis Alberto. Introdução Geral ao Direito: Interpretação da Lei: Temas 
para uma reformulação. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed., 1994. 
 
DIVAN, Gabriel. Decisão Judicial nos Crimes Sexuais. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2009. 
 
ACHUTTI, Daniel. Modelos Contemporâneos de Justiça Criminal. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2009 
 
MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A lógica das provas em matéria criminal. 
Campinas: Bookseller, 1996. 
 
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal (volumes 1 a 4). São Paulo: 
Saraiva. 
 
TÁVORA, Nestor. ANTONNI, Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. 
Salvador: JusPodium, 2012. 
 
CASARA, Rubens. MELCHIOR, Antônio Pedro. Teoria do Processo Penal 
Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. 
. 
 
Temas abordados – visão geral 
 
 PROVAS: Teoria Geral da Prova, Princípios relativos à Prova no Processo 
Penal, Considerações sobre a Prova no CPP atual, Provas em Espécie, Exame de 
Corpo de Delito e demais perícias, Interrogatório do acusado, Confissão do 
acusado, Ofendido / perguntas ao ofendido, Prova Testemunhal, 
Reconhecimento de Pessoas e/ou Coisas, Acareação, Prova Documental, 
Indícios, Busca e Apreensão, Metodologias novas de prova, Interceptação 
Telefônica. 
 
 PRISÃO: Considerações introdutórias: prisão-pena x prisão processual, 
Modalidades de Prisão Provisória, Prisão temporária, Prisão em Flagrante, 
Esquema – Prisão em Flagrante, Liberdade Provisória x Prisão em Flagrante, 
Liberdade Provisória – considerações gerais, Fiança, Prisão Preventiva 
 
 SUJEITOS PROCESSUAIS 
 CITAÇÕES E INTIMAÇÕES: Esquemas dos procedimentos 
 
 5 
 
 
 
1. PROVAS NO PROCESSO PENAL 
 
 
A porta da verdade estava aberta, 
mas só deixava passar 
meia pessoa de cada vez. 
 
Assim não era possível atingir toda a verdade, 
porque a meia pessoa que entrava 
só trazia o perfil de meia verdade. 
 
E sua segunda metade 
voltava igualmente com meio perfil. 
E os dois meios perfis não coincidiam. 
 
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. 
Chegaram a um lugar luminoso 
onde a verdade esplendia seus fogos. 
Era dividida em duas metades, 
diferentes uma da outra. 
 
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. 
As duas eram totalmente belas. 
Mas carecia optar. Cada um optou conforme 
seu capricho, sua ilusão, sua miopia 
 
(Carlos Drummond de Andrade, A verdade dividida) 
 
 
 
1.1) TEORIA GERAL DA PROVA 
 
 Conceito de prova processual: 
 
Prova é o elemento que pode ser utilizado para a demonstração fática 
dos argumentos pugnados em meio ao processo; É – comumente – tida 
 
“ 
 6 
por meio legal e processualmente aceito para comprovar, 
genericamente falando, a “veracidade de uma alegação” ou mesmo 
suposição. 
 
 É elemento importante para proporcionar uma eficiente 
reconstrução jurídico-processual de um fato supostamente 
ocorrido conforme uma das versões apresentadas em juízo. É 
um ponto de apoio para que o julgador se convença de que uma 
das (re)construções proporcionadas pelas partes é a mais 
correta, “correspondente” à justiça de uma decisão para o caso 
penal. 
 
 
- Cordero/Aury: Prova como elemento de “captura psíquica” do julgador 
para obbtenção de uma sentença favorável; 
- Duclerc: Prova como ato de comunicação destinado a fornecer elementos 
tendentes para participar da construção decisional pelo julgador. 
 
 Efeitos da prova: 
Somente aquilo que resta provado ou em alguns casos induzido de forma a 
constituir-se em conhecimento (pretensamente) seguro sobre um dito fato 
pode orientar e definir uma decisão judicial de mérito. As provas são 
elementos que compõem a decisão e a alicerçam: com elas, o julgador tem a 
“esteira” para chegar a uma ou outra decisão. Depende de que provas forem 
maiores e melhores. 
 
 
 
Leitura complementar sugerida: 
 
ANTÔNIO PEDRO MELCHIOR 
JUIZ-SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA. BREVE ENSAIO 
SOBRE O NEOCONSTITUCIONALISMO E O ATIVISMO JUDICIAL EM 
MATÉRIA CRIMINAL NA REALIDADE PERIFÉRICA 
Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 96/2012 | p. 313 - 341 | 
Mai/Jun / 2012 
Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional | vol. 7/2015 | p. 1419 - 1446 
| Ago / 2015 | DTR\2015\10964 
 
 7 
 
 
 Princípios Processuais relativos à prova: 
 
a) Inadmissão das provas ilícitas 
 
- CF Art. 5º LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por 
meios ilícitos; 
 
- CPP, Art. 157. 
 
Provas ilícitas são espécies de provas que, legalmente denominadas, se 
revelam como tendo sido obtidas por meios ilícitos. Por vezes se usa o 
vocábulo como termo genérico para qualquer tipo de prova que não pode ser 
utilizada, mas diante da definição legal vigente desde 2008 essa 
conceituação fica inconveniente. 
 
São espécie ou categoria das chamadas provas vedadas, ou seja, aquelas 
provas que não podem – em tese – ser utilizadas para compor a edificação 
de uma decisão judicial (devem ser “descartadas”, isto é, não devem ser 
levadas em conta pelo julgador como elemento de motivação válido). 
 
 
 
As chamadas provas ilegais são aquelas que são produzidas de forma ilegal, 
ou seja, tem seu ingresso no processo maculado pelo ferimento de uma
8 
norma processual (ex: documento sobre o qual não foi dada vista à outra 
parte para devida impugnação, testemunha ouvida além do número previsto 
para o rito, etc: são provas que poderiam ser válidas, mas há vício processual 
que as impediria de “ser consideradas” para a decisão). 
 
 
 
b) “Nemo tenetur se detegere” (nenhum temor por se deter – direito de 
não fazer prova contra si mesmo): 
 
- Pacto de San José da Costa Rica (Decreto 678/1992) Art. 8º, item 9. 
Incorporado à Constituição Brasileira (Art. 5º, parágrafo 2°, CF) – há 
polêmica (EC 45 – Art. 5º parágrafo 3º), com parte da doutrina negando essa 
“incorporação”. 
 
- Art. 5º LXIII, CF – por analogia; 
 
Consagrado pela doutrina, pelos modernos princípios do Processo Penal e 
pelas interpretações de princípios constitucionais-democráticos na maioria 
dos sistemas processuais contemporâneos, este princípio alerta para o fato 
de que o acusado não possui (nem poderia possuir) nenhuma 
“obrigação” de auxiliar ou colaborar de qualquer forma para o “bom” 
andamento do processo contra si mesmo. 
 
O acusado, assim, tem o “Direito ao silêncio” – literalmente e, também, 
genericamente entendido como “direito” a não fazer prova que possa 
prejudicar a si mesmo, sem ser obrigado nem sofrer penalização alguma com 
relação a isso (Ex: o silêncio voluntário no interrogatório não pode presumir 
Leitura complementar sugerida: 
 
ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES FILHO 
A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO 
PENAL BRASILEIRO 
Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 85/2010 | p. 393 - 410 | 
Jul - Ago / 2010 
Doutrinas Essenciais Processo Penal | vol. 3 | p. 213 - 229 | Jun / 2012 | 
DTR\2010\221 
 
 9 
a culpa; a recusa em participar de reconstituições e exames não pode 
“presumir os fatos verdadeiros” contra ele, etc.). 
 
 POLÊMICA: discussão sobre o crime do Art. 306 do CTB (Lei n. 
9.503/97) e a questão do exame do “Bafômetro” (Etilômetro) – Art. 277 
e parágrafos da mesma lei (modificados pela Lei n. 12.760/12) - VER: 
DECRETO n. 6.488/2008, Art. 2º. 
 
 
 
 
 Lei n. 12.654/12 – altera disposições sobre a identificação criminal 
(Lei n. 12.037/2009 – CF Art. 5º, LVIII) e a própria execução penal 
para criar o “Banco de dados genético-criminais” no país (Art. 3o A 
Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal, passa a 
vigorar acrescida do seguinte art. 9o-A: 
 
“Art. 9o-A. Os condenados por crime praticado, dolosamente, com 
violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes 
previstos no art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão 
submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, 
mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica 
adequada e indolor. § 1o A identificação do perfil genético será 
armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser 
expedido pelo Poder Executivo. § 2o A autoridade policial, federal ou 
estadual, poderá requerer ao juiz competente, no caso de inquérito 
instaurado, o acesso ao banco de dados de identificação de perfil 
genético”. 
 
 
 
Leitura complementar sugerida: 
 
GABRIEL DIVAN 
NEGOCIANDO O INEGOCIÁVEL 
Boletim do Instituto Brasileiro de Direito Processual 
Penal (IBRASPP) n. 02 – acesso em 
http://www.ibraspp.com.br/?page_id=41 
 
 10 
c) “Presunção de inocência” x ônus da prova: 
 
- Art. 5º, LVII, CF; 
- Art. 156 CPP 
 
A “presunção de inocência”, no campo do estudo da Prova no Processo Penal 
significa, entre outras coisas a impossibilidade de condenação de alguém 
sem que haja suficiente lastro probatório. Afinal, a liberdade é a regra – a 
constrição da liberdade (qualquer liberdade) deve ser a exceção. A 
“presunção” da não-culpabilidade do réu/acusado atinge, portanto, a análise 
das provas. 
 
IMPORTANTE: tanto é verdade que não basta sequer haver provas 
“esvaziadas”, nem “presunções” eis que é preciso uma prova robusta 
para poder condenar: ex: Art. 386, VII do CPP – pode até haver 
“prova” para condenar, mas se essa não for “suficiente”, deve-se pender 
para a absolvição (resguardo da liberdade – valor maior). 
 
Sobre o ônus da prova: ver abaixo – Considerações gerais do CPP: Art. 
156 CPP 
 
d) Devido Processo Legal (due process of law) 
 
- Art. 5º LIV, CF. 
 
Em relação à Prova Processual, obriga o respeito ao rito processual devido. 
Não se pode ter o processo sem a observância do procedimento correto, nem 
ferir a lógica processual do embate justo entre as partes. 
 
As provas analisadas devem ser aquelas que são processualmente admitidas 
e legais (não ilegais nem ilícitas), eis que, sem isso, não há o justo e devido 
processo. 
 
 
 
e) Princípio da Proporcionalidade 
 
Não há unanimidade doutrinária se de fato é um princípio ou se é uma regra 
de aplicação e elaboração do direito, confundindo-se com a própria 
atividade jurídica. É o dever de obedecer a critérios de razoabilidade, 
 11 
prudência e adequação, tanto na elaboração legislativa, quanto na aplicação 
jurisdicional das normas e ditames. 
 
A atividade do juiz, especialmente, deve estar guiada pela prudência e pela 
proporcionalidade, entendida como adequação dos meios e dos fins. 
 
A proporcionalidade por vezes pode ser entendida como um critério de 
controle jurisdicional do sistema, vez em que pode servir de escopo para que 
um julgador (por exemplo) deixe de aplicar na íntegra um dispositivo legal 
pertinente, por considerá-lo evidentemente des-proporcional em relação ao 
fim pretendido. Cuidado: não é uma mera vontade de “modificar” a lei ou 
de “substituir” o legislador – isso é arbítrio. É um elemento que serve para 
questionar a Constitucionalidade ou não de certas medidas legais com base 
na ausência de razoabilidade das mesmas, o que feriria toda a proporção e a 
própria razão de existir do aparelho estatal de composição dos conflitos. 
 
Na questão da Prova no Processo Penal, o tom da discussão se dá 
principalmente quanto à possibilidade ou não da aceitação de provas ilícitas 
no processo, com base na discussão entre as “duas faces” do Princípio da 
Proporcionalidade. Vejamos 
 
- PROIBIÇÃO DE EXCESSO (übermassverbot): é a visão clássica do 
Princípio da Proporcionalidade: a aplicação do direito não deve ser 
excessiva a ponto de desvirtuar seus fins. 
 
Exemplo: podemos fazer uma analogia com o Direito Penal material – 
se entendermos a norma penal como mecanismo de “proteção” de um 
determinado Bem Jurídico, vemos que o oferecimento de uma pena visa 
punir (e assim “proteger”, visando desestimular) condutas que 
ofereçam perigo a esse bem jurídico. Ver figura abaixo: 
 
 
 12 
 
 
 
Por outro lado, não se pode (ou, não seria razoável nem aceitável) que, 
a título de “proteção maior” desse Bem Jurídico, se amplie de forma 
desmesurada o espectro de atuação da norma, “abrindo” seus verbos e 
suas descrições de forma a abarcar toda e qualquer conduta relativa a 
aquele bem protegido, mesmo as mais insignificantes, atribuindo-lhes 
penas exageradas, o que caracterizaria um Direito Penal 
excessivamente rigoroso e autoritário. Ver figura abaixo: 
 
 13 
 
 
 
- PROIBIÇÃO DE PROTEÇÃO DEFICIENTE (ou PROIBIÇÃO DE 
INSUFICIÊNCIA) – untermassverbot: é a chamada outra face do Princípio 
da Proporcionalidade. 
 
Se é des-proporcional a atuação excessiva do Direito (tanto na produção 
legislativa quanto na aplicação jurisdicional do mesmo), seria igualmente 
fora de proporção uma atuação por demais negligente ou branda. 
 
Ainda tendo por analogia o Direito Penal material, a título de “Não 
exceder os parâmetros razoáveis”, não se pode “descriminalizar
tudo”, nem 
abrir mão de certas atuações do Direito Penal (ex: a Constituição inclusive 
PREVÊ a punição de certas condutas – Art. 5º, XLI a XLIV – estabelecendo 
que, nos preceitos do Estado Democrático de Direito por ela regido, certas 
condutas – Ex: o racismo – CONSISTIRÃO em crimes). 
 
 14 
Se pecasse por “proteger de menos” um bem jurídico a atividade do operador 
do direito estaria sendo igualmente desproporcional, uma vez que 
 
- PROPORCIONALIDADE E PROVA NO PROCESSO PENAL: o que 
atualmente se discute é se a questão das provas no Processo Penal, sobretudo 
as ilícitas devem passar por esse crivo. 
 
As Provas Ilícitas são constitucional e legalmente vedadas, como se sabe. 
Não se pode fazer provar algo dentro do processo com o uso de um 
instrumento de prova obtido por meio ilícito (ou seja: com violação de 
normas de direito material ou ao arrepio de garantias constitucionais). 
 
Ex: não se pode invadir a casa de alguém sem a autorização judicial 
devida (ver Busca Domiciliar e seu regramento, abaixo, nas “Provas em 
Espécie” e também a partir do Art. 240 CPP) para fins de buscar 
documentos “interessantes” para comprovar algum fato controvertido 
do processo. 
 
Assim como não se pode querer utilizar em juízo uma confissão ou 
depoimento extraídos mediante tortura ou algum outro tipo ilegal de 
coação. 
 
CONTROVÉRSIAS: 
 
a) Prova ilícita que COMPROVA a inocência do réu: doutrina e 
jurisprudência concordam de forma unânime que uma prova, ainda que 
ilicitamente obtida, que servir para comprovar cabalmente a inocência 
do réu, pode ser utilizada, eis que a liberdade é o valor maior do nosso 
sistema e da Constituição, como um todo. Dessa forma, o apego à “regra 
do jogo” não pode ser maior que o apego ao valor fundamental de todo 
o sistema (que é proteger a liberdade e regular os casos excepcionais em 
que o Estado pode tolhê-la). 
 
Não se pode, por apego ao formalismo, esquecer da questão mais 
importante tratada e a liberdade de alguém que é evidentemente 
inocente é superior ao formalismo que em tese veda o uso e o valor 
processual de qualquer prova obtida por meios ilícitos 
 
b) Prova ilícita que comprova a CULPA do réu: diz-se, do mesmo modo, 
que por uma questão de interesse “público”, quando houver uma prova 
 15 
ilícita que sirva para comprovar sem dúvidas a culpa do réu, ela não 
deve ser ignorada e “formalmente desconsiderada” pelo juiz, eis que o 
sistema estaria aí incorrendo em uma “proteção deficiente/insuficiente” 
do direito que o Estado possui de punir os efetivos culpados de infrações 
penais. 
 
Assim, não se deveria, por formalismo, por exemplo, desconsiderar 
documentos reveladores descobertos em uma invasão policial a uma 
residência, que na verdade se revelou arbitrária e sem a devida 
autorização, eis que, dependendo do crime a ser elucidado e dos 
interesses em jogo, se estaria agindo com um formalismo perigoso ao se 
“descartar” essa prova. 
 
c) CUIDADO: não existe a dicotomia “interesse público” x “interesse 
privado”. 
 
Tende-se a crer que o processo é movido pelo “interesse público” em ver o 
acusado condenado e pelo “interesse privado” (do acusado) em se ver solto. 
ISSO É UMA FALÁCIA. 
 
Há interesse público (ou deveria haver...) em ver as “regras do jogo” 
sendo cumpridas e em ver o Processo Penal ser ordenado pelos ditames 
Constitucionais e democráticos. O fato de que se está admitindo em 
juízo provas onde o Estado age com abuso e burlando as normas 
estabelecidas não é “em favor” do “interesse público”. Isso traz uma 
visão distorcida do objeto e do objetivo do Processo (sumamente o 
Penal). 
 
Leitura complementar sugerida: 
 
PIERPAOLO CRUZ BOTTINI 
O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE NA PRODUÇÃO 
LEGISLATIVA BRASILEIRA E SEU CONTROLE JUDICIAL 
Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 85/2010 | p. 267 - 
296 | Jul - Ago / 2010 
Doutrinas Essenciais de Direito Penal | vol. 1 | p. 467 - 494 | Out 
/ 2010 | DTR\2010\222 
 
 16 
 Considerações Gerais do CPP sobre a Prova (rito do CPP pós-2008): 
 
Introdução – SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DA PROVA 
 
 
Ao longo da história, o modelo de apreciação e admissão judicial das provas 
processuais sofreu grandes mudanças (em que pese resquícios de todos os 
sistemas subsistirem em maior ou menor grau). 
 
Não existe certeza quanto a uma cronologia exata nem quanto à “vigência” 
e o “abandono” da utilização dos sistemas, sendo que em variadas épocas e 
sociedades, pode-se verificar – historicamente – a existência de 
procedimentos largamente aplicados ou que guardam resquícios das mais 
variadas sistemáticas de valoração e avaliação de provas “judiciais” penais. 
 
Entre aqueles mais comumente destacados, podem ser evidenciados os 
seguintes sistemas, e momentos históricos correlatos onde sua aplicação se 
deu majoritariamente: 
 
 
a) Sistema das provas “irracionais” ou “Juízos de Deus” (Ordálias): 
 
Geralmente é um sistema relacionado historicamente ao período pré-
medieval, e mesmo ao Baixo Medievo. “Oficialmente” fora extinto pela 
Santa Inquisição no Concílio de Latrão, em 1215. 
 
Não havia um controle eminentemente técnico-jurídico sobre as provas, 
senão que um juízo absolutamente arbitrário baseado em considerações 
sobrenaturais e ausentes de empirismo. O Juiz era um verdadeiro árbitro da 
casualidade que “comprovaria” a afirmação ou fato colocado em questão. 
 
Ex: “convocação” de animais para depor em favor do acusado (“Deus 
vai preferir o milagre de um animal ganhar voz e falar do que ver um 
inocente ser condenado (...)”) 
 
Geralmente se materializavam nas chamadas Ordálias, que significavam 
provações que deveriam ser superadas pelo sujeito a fim de que ele pudesse 
“comprovar” que estava falando a verdade “perante Deus”. 
 
 17 
Ex: “ele deve caminhar sobre a brasa e Deus fará com que ele não sinta 
dor, caso esteja falando a verdade” ou “Se ela tiver a leveza dos inocentes, 
vai pesar menos do que –tal animal – na balança”. 
 
CURIOSIDADE: para aqueles que crêem que os juízos “sobrenaturais” 
são elementos absurdos das eras subdesenvolvidas do Direito 
Processual, ver, por exemplo, o caso do Júri de Viamão da “CARTA 
PSICOGRAFADA” – o Acórdão do Processo pode ser achado na 
“Jurisprudência” do TJRS (n. 70016184012). 
 
 
 
b) Sistema da Prova Legal ou tarifada 
 
Esse Sistema teve ampla aceitação durante os processos Inquisitórios da 
Europa Continental da Idade Média (tanto no Processo do Direito Comum 
quanto nos Processos da Inquisição movida pelo Santo Ofício, nos processos 
Eclesiásticos envoltos com o combate à “heresia”) e com resquícios fortes 
ao longo da Idade Moderna. 
 
Visava pré-estabelecer o “valor” probatório para orientar o julgador: 
critérios quantitativos e estabelecidos de antemão (daí o nome “tarifada”) 
pretendiam tornar mais segura a apreciação dos julgadores. GOMES FILHO 
(Direito à Prova no Processo Penal, pp. 23-24) sustenta que, apesar de o 
sistema surgir para evitar abusos indiscriminados na apreciação da prova 
cumpria um desfavor no instante em que legitimava outro tipo de abuso: em 
sendo a confissão vista em regra como prova irrefutável e de valor superior 
a todos os demais meios probatórios, não eram medidos esforços para obtê-
la (daí o amplo uso de meios apavorantes de tortura nos “interrogatórios”). 
 
O depoimento de certas pessoas (nobres por exemplo) era legalmente mais 
valorado em relação ao de outras (servos, por exemplo), e haviam crimes 
tais como heresia, bruxaria ou qualquer um que fosse classificado como 
lesa-majestade que poderiam ser alvo de condenação por meros “indícios” 
de autoria. 
 
TOURINHO menciona que o Code
d’Instruction Criminelle (de 1808 - pós-
medievalismo, portanto, mas com uma identificável matriz inspirada nas 
Ordonnance Criminelle de 1670) trazia interessante disposição quanto ao 
crime de adultério: quanto aos homens, ele devia ser provado 
 18 
exclusivamente com o flagrante delito ou com confissão ou escritos de seu 
próprio punho. Já quanto à mulher adúltera, o Art. 338 estabelecia que a 
comprovação do seu adultério se dava “submissa às regras de direito 
comum”. 
 
CURIOSIDADE: ver, por exemplo, Art. 155, parágrafo único do CPP: 
quanto ao “estado das pessoas” (ex: filiação, paternidade, óbito, direitos 
políticos, casamento), só se pode provar algo do mesmo jeito que se faz 
de acordo com a lei civil – certidões, p. ex. A propriedade de um imóvel, 
por exemplo, comporta amplitude probatória na esfera penal (se for 
pertinente ao caso). Já na lei civil, ela é válida presumidamente apenas 
com o registro (matrícula) do imóvel. Quanto ao Estado da pessoa, no 
entanto, a lei penal aceita a subordinação às regras da lei civil. O Art. 
158 também traz semelhante disposição: só o Exame de Corpo de Delito 
é aceito como prova nas infrações materiais. Logicamente não se trata 
de uma similitude ao sistema de “prova tarifada”, mas há 
correspondência visível no intuito de estipulação prévia quanto a um 
meio probatório. 
 
 
 
c) Sistema da Íntima Convicção 
 
O sistema de “livre” ou “íntima” convicção é usualmente tido enquanto uma 
resposta dos Iluministas ao ancién regimen das Monarquias Absolutistas: se 
no período da Inquisição e dos Monarcas Absolutos o sistema é inquisitório 
e a prova é tarifada, para reformadores como Beccaria, a idéia é ter o rigor 
aplicado à estipulação das leis penais, e a liberdade para o julgador na 
apreciação da prova. 
 
Essa aparente contradição é esclarecida por GOMES FILHO (Direito à 
prova..., p. 26): os iluministas detêm tamanha confiança na 
racionalidade/razoabilidade do homem que têm por premissa estipular leis 
claras e plenas de rigor e “confiar” em sua boa aplicação pelos juízes. 
Beccaria, por exemplo, crê um juiz incorruptível, o que faz com que todo o 
espectro de prévia estipulação esteja deslocado para a lei a ser aplicada pelo 
julgador (Boca da lei), e se libere o mesmo para – sempre racionalmente 
realizar essa operação de subsunção. 
 
 19 
Daí que vai incentivado um modelo de decisão onde o julgador pode realizar 
uma livre apreciação da prova, desvinculado de regramentos pré-
estabelecidos quanto ao um “valor” da mesma. E mais: não seria necessário 
identificar a motivação estrita da decisão e do valor e proeminência 
conferido às provas que foram apresentadas. É aí que – com inspiração do 
Trial by jury inglês – ganha ascensão o modelo de corpo de jurados, que 
igualmente decidem sem a necessidade de pública motivação. 
 
CURIOSIDADE: vigora ainda em nosso direito no Procedimento do 
Tribunal do Júri – os jurados decidem por íntima convicção, sem 
precisar explicar ou motivar a decisão, que vai sofrer apenas um verniz 
técnico pelo juiz (esse sim, precisando explicar claramente seus pontos 
e obedecendo aos requisitos legais) 
 
 
 
 
d) Sistema da Livre Convicção Motivada (Art. 93, IX CF) 
 
O sistema vigorante na maioria dos ordenamentos democráticos ocidentais 
contemporâneos é informado por uma necessidade de o julgador revelar os 
motivos de sua decisão, e isso passa por uma minuciosa análise do conteúdo 
probatório e de uma publicização às partes de como as provas foram 
valoradas e quais delas foram ou não determinantes para a tomada da 
decisão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 20 
 
 
 
 - CÓDIGO DE PROCESSO PENAL BRASILEIRO 
 
Art. 155 – SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE PROVA 
 
Adota a livre convicção (motivada) para a análise das provas, estabelecendo 
diretamente que a prova para ser válida deve ser aquela judicial produzida 
(ou repetida) ao longo do processo e não aquela produzida exclusivamente 
na fase de investigação pré-processual, a menos que seja caso de prova não-
repetível (perícia feita respeitando os ditames legais que não se pode repetir, 
por exemplo), cautelar (exemplo: gravações feitas com escuta telefônica 
autorizada), ou caso de produção antecipada de prova, que, no caso, 
contará com respeito ao contraditório (eis que não é investigação e sim 
antecipação do rito judicial – podendo-se ter como analogia os dispositivos 
do CPC, nos artigos 846 a 851 – ou, de acordo com os artigos do novo CPC 
– as disposições previstas no Art. 381 e seguintes – Lei n. 13.105/2015). 
 
 SÚMULA 455 do STJ (2010): 
A DECISÃO QUE DETERMINA A PRODUÇÃO ANTECIPADA DE 
PROVAS COM BASE NO ART. 366 DO CPP DEVE SER 
CONCRETAMENTE FUNDAMENTADA, NÃO A JUSTIFICANDO 
UNICAMENTE O MERO DECURSO DO TEMPO" 
 
Ou seja: o mero decurso do tempo não é fonte para que se passe a atos de 
instrução antecipada do processo. Uma boa postura jurisprudencial, que 
necessariamente deve ser ponderada não apenas quanto aos casos do Art. 
366 (processo suspenso pela não-citação pessoal do acusado) – resta saber o 
que justificaria a produção probatória antecipada se não o passar do tempo 
em um caso exclusivamente relativo ao artigo em questão. 
 
 
 
 
Caso seja um fato de investigação realizado somente perante a autoridade 
responsável pela investigação pré-processo (Autoridade policial, por 
exemplo) e não sendo caso dos exemplos acima autorizados, essa “prova” 
não pode ser utilizada pelo julgador na decisão para valorar o caso, eis que 
 21 
só se entende por “prova” fora das “exceções” aquela que foi produzida 
frente ao contraditório dentro do processo; 
 
Inquérito e demais peças de investigação: tidas, legalmente, por 
instrumento informativo, e não “probatório”. 
 
 
 
 
Art. 156 – GESTÃO DA PROVA 
 
O ônus da prova é de quem alega – POLÊMICA 
 
Duas posições: (1) quem quiser alegar algo que prove; (2) quem ALEGA 
no processo penal é o acusador. A defesa apenas se defende, estando 
assim a defesa desincumbida de provar fatos que alegue em seu favor 
(ex: homicídio praticado em “Legítima Defesa” – quem tem que 
PROVAR que não ocorreu a excludente é o acusador, uma vez que a 
Presunção de Inocência pende em favor do réu e o estado natural é o de 
inocência-liberdade). 
 
 Jurisprudência do STJ HC 157798 / RS HABEAS CORPUS 
2009/0247874-1 (adotando a premissa de que “quem alega, prova”) 
 
 
 
Produção da prova de ofício 
 
 
Inciso II – o juiz pode determinar a produção de provas “de ofício” 
quando julgar necessário – resquício do Sistema Inquisitório ou símbolo 
do processo de caráter público (Sistema Acusatório modelo 
inquisitorial)? 
 
Inciso I (POLÊMICA) – o juiz pode agora determinar a produção de 
provas de ofício mesmo ANTES de iniciada a Ação Penal (ex: ordenar 
– “de ofício” – uma Busca e Apreensão ou uma Interceptação Telefônica 
quando “souber” da existência de uma investigação, para já orientar a 
“futura” decisão sobre o processo que vai posteriormente correr sob sua 
jurisdição. 
 22 
Art. 157 – PROVAS ILÍCITAS 
 
 
 
 Pedro Algorta, advogado, mostrou-me o gordo expediente do assassinato 
de duas mulheres. O crime duplo tinha sido à faca, no final de 1982, num 
subúrbio de Montevidéu. 
 
A acusada, Alma Di Agosto, tinha confessado. Estava presa fazia mais de 
um ano; e parecia condenada a apodrecer no cárcere o resto da vida. 
 
Seguindo o costume, os policiais tinham violado e torturado a mulher. 
Depois de um mês de contínuas surras, tinham arrancado de Alma várias 
confissões. As confissões não eram muito parecidas entre si, como se ela 
tivesse
cometido o mesmo assassinato de maneiras muito diferentes. Em 
cada confissão havia personagens diferentes, pitorescos fantasmas sem 
nome ou domicílio, porque a máquina de dar choques converte qualquer 
um em fecundo romancista; e em todos os casos a autora demonstrava ter 
a agilidade de uma atleta olímpica, os músculos de uma forçuda de parque 
de diversões e a destreza de uma matadora profissional. Mas o que mais 
surpreendia era a riqueza de detalhes: em cada confissão, a acusada 
descrevia com precisão milimétrica roupas, gestos, cenários, situações, 
objetos... 
 
Alma Di Agosto era cega. 
 
Seus vizinhos, que a conheciam e gostavam dela, estavam convencidos de 
que ela era culpada. 
 
- Por quê? – Perguntou o advogado. 
 
- Porque os jornais dizem. 
 
- Mas os jornais mentem – disse o advogado. 
 
- Mas o rádio também diz – explicaram os vizinhos. – E até a televisão! 
 
(Eduardo Galeano, O livro dos abraços) 
 
 
 
- Art. 157, Caput: inadmissibilidade, devendo ser desentranhadas do 
processo quando se tratarem de documentos ou elementos físicos. 
 
“ 
 23 
- Parágrafos primeiro e segundo: Provas derivadas das ilícitas – 
admissibilidade ou não: influência da jurisprudência norte-americana 
 
As “derivadas” são aquelas provas às quais se “chegou” apenas por 
intermédio das provas antecedentes, que são ilícitas. É o que a doutrina 
(inspirada na jurisprudência da Suprema Corte dos EUA, batizou de “fruits 
of the poisonous tree”, ou frutos da árvore envenenada, em homenagem a 
um preceito bíblico – se a árvore é envenenada, seus “frutos” não podem 
ser bons). 
 
EXEMPLO 1: 
Escuta telefônica clandestina revela local onde suposta quadrilha 
armazena documentos comprometedores. A polícia então “descobre” o 
local de armazenamento de tais documentos e com isso chega a 
informações capazes de justificar a prisão dos suspeitos. Comentário: 
não haveria nenhum sentido proibir o uso processual de provas ilícitas 
se todas as informações obtidas a partir dessas pudessem livremente ser 
utilizadas. Assim, “caindo” a prova ilícita, “caem” junto aqueles demais 
elementos que são sua conseqüência direta. Se uma prova (ilícita) leva 
a descoberta de mais e melhores provas, essas igualmente não devem ser 
admitidas, eis que sua “existência” para o processo advém de uma prova 
que não pode ser tida como “existente”. 
 
As provas que guardam relação com aquela dita “ilícita”, mas cuja 
descoberta não possui um nexo de causalidade evidenciado para se ter elas 
como “conseqüência” da ilicitude das primeiras são fruto de uma 
“descoberta inevitável” (ou inevitable discovery) ou ainda de uma “fonte 
independente” (independent source). 
 
EXEMPLO 2: 
Se comprovadamente há várias frentes de investigação em um caso, e 
uma delas obtém uma informação por meio ilícito (ex: tortura de um 
suspeito) e outra frente obtém a mesma informação mediante uma 
investigação legítima e legal (ex: monitorando as atividades de um outro 
suspeito), essa informação não necessariamente pode gerar prova 
processual tida por ilícita, eis que esse elemento viria a se revelar ainda 
que não houvesse a ilicitude de um dos meios investigativos. 
 
- Parágrafo terceiro: decisão interlocutória não comporta recurso no 
Processo Penal – salvo nos casos abrigados pelo Art. 581 do CPP. Assim, a 
 24 
decisão que pode ser recorrida é sempre aquela que julga o mérito do 
processo e faz uso (ou não) do arcabouço probatório do qual faz parte a 
suposta prova ilícita. 
 
Se precluir a decisão que considerou ilícita, pois, tudo relativo à mesma 
(documentos, por exemplo) será destruído em incidente que pode inclusive 
ser acompanhado pelas partes. 
 
- Parágrafo quarto (vetado): O juiz que conhecer do conteúdo da prova 
declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão. 
 
Bastante perspicaz e inteligente o texto previa, para maior segurança da 
imparcialidade da decisão, que o julgador que estivesse “contaminado” 
pela análise de uma prova – ainda que a tivesse julgado ilícita – não 
poderia proferir a decisão de mérito. 
 
Isso porque tecnicamente o juiz pode “fingir” que não tomou 
conhecimento de uma prova que “juridicamente” não existe, mas 
subjetivamente isso fica muito difícil e não há como garantir a 
separação anímica no momento de avaliar a causa. 
 
Uma lástima esse dispositivo ter sido vetado e acabar não ingressando 
na legislação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 25 
 
 
 
 
1.2) PROVAS EM ESPÉCIE 
 
 EXAME DE CORPO DE DELITO E DEMAIS PERÍCIAS 
 Arts. 158 a 184 CPP 
 
 De início é importante lembrar que “exame de corpo de delito” é uma 
categoria de prova diversa das demais perícias. 
 
Conceito de “Corpo de Delito”: é o rastro, o registro passível de análise, o 
resultado da prática de um delito. “Corpo” do delito. Nos delitos ditos 
“materiais”, que “modificam” o mundo, existe a necessidade de se ter um 
resultado material para que se configure o crime (ex: o cadáver em relação 
ao homicídio); 
 
Materialidade: é a existência do delito. Todos delitos possuem materialidade 
(do contrário, não existiram). Com os crimes “materiais”, a materialidade é 
literal, é algo, é visível. 
 
Exame de corpo de delito direito – indireto e “Corpo de Delito indireto”: 
 
CUIDADO – não confundir. 
O exame de Corpo de Delito geralmente é feito quanto ao próprio 
resultado do delito (cadáver, lesões corporais, dano). Contudo, nada 
impede que esse exame se realize em vestígios periféricos (ex: através de 
análise laboratorial de sangue nas vestes do acusado e comparando esses 
dados com o sangue da vítima e as condições do local do crime, pode se 
concluir que ele esteve com a vítima no momento da morte/sangramento 
e assim pode-se processá-lo pelo homicídio, ainda que não tenha o corpo 
de delito em si – o cadáver – sido encontrado) 
 
 
 
 26 
 
 
EXAME de Corpo de Delito (seja diretamente no Corpo ou 
indiretamente, nos demais vestígios) é feito por PERITOS. Já o “Corpo 
de Delito” indireto é configurado quando, havendo a 
IMPOSSIBILIDADE DE SE FAZER UM EXAME, a Prova 
Testemunhal exerce o papel de suprir a carência. 
 
Importante: para muitos doutrinadores o “Exame de Corpo de Delito 
Indireto” ocorre na hipótese da suplência de sua ausência física pela 
prova testemunhal. Não concordamos, porque não se trata de EXAME 
algum(!). Assim, muita doutrina vai trabalhar com o termo “exame 
indireto de corpo de delito” falando da palavra de testemunhas que 
substitui o material/vestígio. 
 
 
Confissão espontânea: de acordo com o Art. 158 ela não pode suprir o 
Exame. (ex: não se pode ser processado nem preso por algum crime material 
se o resultado do delito não surgir, nem nenhum outro vestígio puder ser 
analisado, nem houver prova testemunhal da ocorrência); 
 
Laudo: é o nome dado à manifestação técnica fornecida pelo perito ou pelos 
substitutos legais. Ver. Art. 160 CPP. 
 27 
 
 
 PERITOS E EXAMES 
 
a) Os atos serão realizados por 1 (um) perito oficial (Art. 159 CPP) ou por 
2 (dois) substitutos na falta de encarregado “oficial”, sendo que esses se 
sujeitam aos mesmos encargos judiciais dos Peritos Oficiais, inclusive 
quanto ao “compromisso” prestado (art. 159, parágrafos 1º e 2º do CPP). 
 
b) Os peritos podem ser submetidos à resposta de “quesitos” em seus laudos, 
que podem ser formulados pelo Ministério Público, pelo assistente de 
acusação, pelo ofendido, pelo querelante e pelo acusado (art. 159, parágrafo 
3º e Art. 176 – até a diligência ser realizada); 
 
c) As partes podem nomear assistente técnico para “acompanhar”
o trabalho 
do perito e fornecer laudo complementar. Esse assistente não presta o 
compromisso – eis que “trazido” pela parte ao processo e se sujeita às regras 
de admissão do parágrafo 4º do Art. 159. Ver também o parágrafo 6º; 
 
e) A atuação dos peritos e assistentes técnicos não se restringe à confecção 
dos laudos, podendo eles ser chamados para dar depoimento em 
audiência e mesmo responder quesitos em audiência, obedecidas as 
regras e a anterioridade (10 dias) dispostas na lei – para o caso dos 
PERITOS Artigo 159 parágrafo 5º incisos I e II 
 
Importante: seria uma forma de submeter ou procurar tentar 
submeter ao contraditório certos tipos de produção de provas que já 
se realizaram (ex: necropsias). 
 
 
f) IMPEDIMENTOS: Arts. 275 a 281 do CPP tratando dos impedimentos e 
incompatibilidades dos peritos, sem excluir os mesmos aos quais se sujeitam 
os juízes (Impedimento e suspeição – 252 e seguintes do CPP). 
 
 
 MOMENTO DE PROVA 
 
Geralmente a prova pericial é realizada na fase de investigação – até pelo 
fato de que se destina a configurar a existência (materialidade) ou não co 
 28 
crime (se for um crime Material, precisa de Exame de Corpo de Delito – 
direto ou indireto – ou de prova testemunhal que o supra). 
 
Contudo, os peritos podem ser convocados no meio do processo a realizar 
novas perícias ou a dar depoimentos. 
 
(É com o intuito de possibilitar a realização de nova perícia que o Art. 170 
CPP dispõe sobre a conveniência de se preservar material ou mesmo dados 
que sirvam para novos exames – tratando das demais perícias – ver abaixo). 
 
Há, no entanto, possibilidade excepcional de as próprias partes (ou 
mesmo a autoridade judicial) operar em uma espécie de “simulação” de 
contraditório ainda antes da instauração da Ação Penal: é a do Art. 168, 
quando as próprias partes podem solicitar a realização de novas perícias 
relativas à existência ou não de Lesões Corporais: 
 
Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido 
incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da 
autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério 
Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. 
 § 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo 
de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo. 
 § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no 
art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 
30 dias, contado da data do crime (a saber: CP 129, par 1º, I : Lesão 
corporal de natureza grave - § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as 
ocupações habituais, por mais de trinta dias) 
 § 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova 
testemunhal. 
 
 
 NECRÓPSIA/AUTÓPSIA e EXUMAÇÃO: 
 
Autópsia, ou Necropsia é o tipo de exame verificado quando o objeto de 
investigação é um cadáver. Não é um simples exame, mas sim um exame 
interno que tem por objetivo verificar a causa mortis do corpo em 
questão. É realizada com pelo menos seis horas de carência desde o 
 29 
“falecimento”, a menos que os sinais que evidenciem invariavelmente a 
morte do indivíduo em questão já se verifiquem com antecedência. 
 
Exumação é o nome que se dá ao exame realizado quando se é necessário 
desenterrar cadáver já sepultado, com o mesmo intuito (verificar a causa 
mortis que se encontra em caráter duvidoso). 
 
O Art. 162 exibe os casos em que excepcionalmente se pode prescindir do 
exame cadavérico através da autópsia: quando houver morte violenta (em 
que a causa mortis é evidente – EX: vítimas de uma explosão em um prédio 
que tem seus corpos dilacerados) ou mesmo quando houver morte 
relacionada a fatos irrelevantes do ponto de vista penal (EX: morte 
ocasionada por doença ou problema congênito – quando não há dubiedade 
de versões e o falecimento não é cercado de nenhuma controvérsia, ou seja, 
quando não há infração penal a apurar). 
 
 DEMAIS PERÍCIAS: 
 
Podem ser realizadas não apenas em relação à prova ou não da existência de 
Corpo de Delito, mas com outros propósitos até mesmo secundários – como 
avaliação do valor econômico dos bens que foram produto do crime ou 
demais circunstâncias que ajudem a elucidar os fatos ocorridos e suas 
peculiaridades: 
 
- O Art. 171 se refere às hipóteses correlatas de “Furto Qualificado” (CP, 
Art. 155, par. 4º); 
 
- O Art. 172 se refere ao valor dos objetos e suas características. Para 
NUCCI (CPP Comentado..., p. 171) boas referências aqui são, por 
exemplo, os Arts. 155, par. 2º e 170 CP – onde importa o valor da coisa 
furtada para a definição do tipo penal privilegiado; 
 
- O Art. 173 parece ter clara correspondência com o Art. 250 do CP 
(Crime de incêndio) e suas causas de aumento de pena, que podem ser 
atestadas via exame pericial. 
 
 
 PERÍCIA GRAFOTÉCNICA x “NEMO TENETUR” 
 
 30 
O Artigo 174 disciplina a perícia realizada em escritos e documentos. E 
dispõe que o juiz pode ordenar que o acusado participe da diligência sendo 
obrigado a escrever de próprio punho o que lhe for ordenado para que possa 
servir de comparativo. 
 
Pensamos que isso não se compatibiliza com o DIREITO que o acusado 
tem de não fazer prova contra si mesmo e está, nos pontos em que 
confronta essa premissa, eivado de inconstitucionalidade o CPP. 
 
 
 PODERES/FACULDADES DO JUIZ 
 
O julgador não está vinculado obrigatoriamente às conclusões dos 
peritos, podendo rejeitar os laudos no todo ou em parte (Art. 182), e 
pode inclusive rejeitar perícias que não sirvam em sua concepção para 
elucidar nada de relevante quanto ao caso (salvo no caso de Exame de 
Corpo de Delito – Art. 184). 
 
 PROBLEMA: o “ABSOLUTISMO” das perícias médico-psicológicas: 
 
Mesmo que o julgador não precise necessariamente estar adstrito ao 
laudo, é inegável que, modernamente, se tenha nas perícias psicológicas 
ou psiquiátricas uma análise especializada que tradicionalmente tem 
bastante relevância como auxílio no momento da decisão. 
 
FOUCAULT (por exemplo em Os Anormais ou em O Poder Psiquiátrico – 
ambos editados pela Martins Fontes, São Paulo) já alertava para o fato da 
“psiquiatrização” dos expedientes judiciais, não com o auxílio, mas sim com 
uma verdadeira transferência de lógica e de função – “de julgar” – para o 
perito que vai praticamente estabelecer verdades, uma vez que seu parecer 
é tido por neutro e cientificamente verossímil. CUIDADO: se análises 
como essas podem, por vezes, prestar ajuda vigorosa no trato com as 
questões judiciais, por outras – arriscamos dizer, na maioria dos casos – 
acaba ocorrendo uma verdadeira “ditadura” do laudo psiquiátrico e 
questões repletas de subjetivismo com base em análises feitas de modo 
muito rápido terminam por pautar temas como progressão de regime 
(ainda que não haja obrigatoriedade do laudo) e imputabilidade ou não. 
 
 
 
 31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 INTERROGATÓRIO DO(A) ACUSADO(A) 
 Arts. 185 a 196 do CPP 
 
 
 
Leitura complementar sugerida: 
 
MARIA REGINA FAY DE AZAMBUJA 
VIOLÊNCIA SEXUAL INTRAFAMILIAR: INTERFACES 
COM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR, A OITIVA DA 
CRIANÇA E A PROVA DA MATERIALIDADE 
Revista dos Tribunais | vol. 852/2006 | p. 424 - 446 | Out / 2006 
Doutrinas Essenciais Processo Penal | vol. 3 | p. 1055 - 1085 | 
Jun / 2012 | DTR\2006\676 
 
Leituras complementares sugeridas: 
 
ADA PELLEGRINI GRINOVER 
O INTERROGATÓRIO COMO MEIO DE DEFESA (LEI 
10.792/2003) 
Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 53/2005 | p. 185 - 
200 | Mar
- Abr / 2005 
Doutrinas Essenciais Processo Penal | vol. 3 | p. 81 - 93 | Jun / 
2012 | DTR\2005\179 
 
IONILTON PEREIRA DO VALE 
O DIREITO AO SILÊNCIO NO INTERROGATÓRIO NO 
DIREITO PROCESSUAL PENAL PÁTRIO E COMPARADO 
Revista dos Tribunais | vol. 929/2013 | p. 419 - 458 | Mar / 2013 
Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional | vol. 9/2015 | p. 
305 - 343 | Ago / 2015 | DTR\2015\11053 
 
 32 
Interrogatório: ato judicial que se configura em meio de defesa e fonte de 
prova, possibilitando ao réu apresentar diretamente ao julgador a sua versão 
dos fatos que lhes são imputados – AUTODEFESA POSITIVA 
 
Trata-se do único momento processual em que o acusado põe em prática 
uma postura ativa de defesa argumentativa sem estar representado pela fala 
de seu defensor técnico. 
 
Lei 10.792/03: o CPP traz (sabidamente) uma orientação inquisitorial muito 
forte, de maneira em que o Interrogatório do acusado era considerado meros 
meio e fonte de prova. A lei de 2003 alterou sensivelmente alguns 
dispositivos originais do CPP, para dar um tom de meio de DEFESA ao 
interrogatório. Inclusive foi a Lei que instituiu a obrigatoriedade da presença 
do Defensor do réu durante o procedimento, coisa que não estava prevista 
originalmente. 
 
Lei 11.719/08: nos novos ritos comuns do CPP, o interrogatório deixa de ser 
a primeira etapa do Procedimento após o recebimento da denúncia e passa a 
ser a última averiguação probatória da instrução, realizado antes dos debates 
orais/alegações finais em audiência (por exemplo: Art. 400 CPP); 
 
 
Art. 185 
Qualificação x Depoimento: dá-se o nome de Qualificação à parte inicial do 
interrogatório, onde o réu é literalmente qualificado, identificado, como 
oportunidade inicial de verificar se não há nenhum engano quanto à pessoa 
que responde o processo. Perdeu o sentido essa qualificação, eis que 
dificilmente não serão feitas considerações a esse respeito uma vez que o 
interrogatório agora ocupa lugar no FINAL da instrução e não no INÍCIO. 
 
LOCAL DO INTERROGATÓRIO: a regra era para ser a audiência 
“deslocada” para o estabelecimento prisional e o deslocamento do preso uma 
exceção. Na prática, se inverteu tudo e a regra é o deslocamento do preso. 
 
IMPORTANTE: a Lei nº 11.900 de 2009 alterou 
profundamente o Art. 185 do CPP, PERMITINDO a antes 
inválida realização do interrogatório por videoconferência 
(“interrogatório on-line”). Atente-se para os dispositivos 
incluídos no Código desde então: 
 33 
 § 1o O interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em que 
estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público e 
dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato. (Redação dada pela Lei nº 11.900, 
de 2009) 
 § 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, 
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso 
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para 
atender a uma das seguintes finalidades: (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009) 
 I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre 
organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; (Incluído pela 
Lei nº 11.900, de 2009) 
 II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade 
para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; (Incluído pela Lei 
nº 11.900, de 2009) 
 III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível 
colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; (Incluído pela Lei 
nº 11.900, de 2009) 
 IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) 
 § 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência, as partes serão 
intimadas com 10 (dez) dias de antecedência. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) 
 § 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema 
tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que tratam os 
arts. 400, 411 e 531 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) 
 § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista prévia 
e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a 
canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado 
presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) 
 § 6o A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais por sistema 
de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como também pelo 
Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) 
 § 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses em que o interrogatório 
não se realizar na forma prevista nos §§ 1o e 2o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) 
 § 8o Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no que couber, à realização de outros atos 
processuais que dependam da participação de pessoa que esteja presa, como acareação, reconhecimento 
de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou tomada de declarações do ofendido. (Incluído pela Lei 
nº 11.900, de 2009 
 § 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompanhamento do ato processual pelo 
acusado e seu defensor. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) 
 
 
 34 
Direito de entrevista: o réu deve ter assegurado o direito de encontro 
reservado com o seu defensor antes de ser interrogado 
 
Art. 186 
 
Consagração do “Direito ao Silêncio” - AUTODEFESA NEGATIVA: 
direito de se defender “não fazendo nada” sem ser de forma alguma 
prejudicado por isso. Não importa em confissão nem em nenhuma 
“presunção”. 
 
Art. 187 
 
Interrogatório em duas partes – regras para proceder nas perguntas 
 
a) Sobre a pessoa do acusado: parágrafo 1º 
b) Sobre os fatos: parágrafo 2º 
 
Súmula 522/STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante 
autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada 
autodefesa (julgamento em 25/03/2015, DJe 06/04/2015) 
 
Ou seja: negar-se a falar qualquer coisa que importa em possibilidade de 
auto-incriminação é direito, mas falsear quanto à identidade ou qualificação 
não está incluído no ‘conteúdo’ da autodefesa em interrogatório 
 
 
Art. 188 
 
Participação das partes: ao final do interrogatório, as partes podem querer 
ver algumas dúvidas satisfeitas, ou intentar a complementação de algumas 
respostas. Elas sugerem ao juiz a complementação do questionário – e não 
passam a interrogar elas mesmas o julgador. IMPORTANTE: as partes não 
têm direito “Absoluto” à resposta, uma vez que o interrogatório é sobretudo 
um meio de DEFESA. O juiz deve estar atento para gerir tal questão, sempre 
protegendo o direito “ao silêncio” do acusado. 
 
Art. 189 
 
Cotejado com o Art. 200 = a confissão é divisível e o interrogando pode 
assumir no todo ou em parte os fatos como verdadeiros 
 35 
 
 
 RE-INTERROGATÓRIO: possibilidade trazida pelo Art. 196. Não tem 
maior sentido hoje, vez em que o Interrogatório
agora está localizado na 
audiência e é um dos últimos atos do processo. Tinha razão de ser 
antigamente, quando o interrogatório era realizado logo após o 
recebimento da denúncia, e havia grande disparidade de tempo entre sua 
realização e a produção probatória, podendo, inclusive acontecer de juiz 
diferente colher o interrogatório e as demais provas. O Art. 196 apenas 
evidencia a visão que o legislador de 1941 tinha do Processo Penal: o 
interrogatório não era visto como um meio de defesa, eis que estava à 
mercê da vontade do julgador, que poderia realizá-lo de novo quando 
julgasse conveniente. 
 
 
  CONFISSÃO 
 Arts. 197 a 200 CPP 
 
Confissão: ato voluntário, expresso, formal e pessoal, praticado por 
acusado com discernimento, onde esse assume no todo ou em parte a 
prática de determinados fatos que contra ele são imputados. 
 
a) Voluntário: não pode ser objeto de qualquer pressão, coação, tortura 
ou outro meio que vicie a manifestação de confessar; 
b) Expresso: não se presume confissão. Ela é sempre expressa; 
c) Formal: ou ela é feita pessoalmente frente ao juiz em interrogatório 
(momento típico da confissão) ou é tomada por termo em cartório, 
que será anexado aos autos. Não existe confissão informal nem 
impessoal; 
d) Pessoal: só o acusado pode confessar, pessoalmente ou por termo. 
Ninguém confessa por outrem nem por procurador; 
e) Acusado com discernimento: deve haver a certeza de que o acusado 
está pleno de suas faculdades mentais. Tem relação com a 
voluntariedade do ato; 
f) No todo ou em parte: pode-se confessar apenas parte das acusações, 
sem assumir a culpa quanto ao todo; 
 
 
 36 
“Rainha das provas”: a confissão já foi assim tratada, principalmente durante 
a maior força vigorante do processo Inquisitivo medieval – sobretudo 
Eclesiástico – onde era conferida força máxima ao princípio da “Verdade 
Real” e assim se tinha no acusado o “portador” da verdade que era revelada 
pela confissão. 
 
Hoje, o próprio CPP afirma no seu Artigo 197 que a confissão deve estar 
municiada de cotejo analítico com outras provas e encadeamentos lógicos, 
sob pena de não se aceitá-la caso não haja qualquer compatibilidade ou 
concordância dela com os demais elementos. 
 
Sobretudo para que se impeça – ou tente impedir – de haver confissões por 
motivo de pressão ou mesmo qualquer outra intenção, por parte de uma 
pessoa que aparentemente não é aquela realmente culpada. 
 
SILÊNCIO DO ACUSADO: muito embora já haja até mesmo no próprio 
CPP menções claras ao direito do acusado de silenciar (até literalmente) 
quanto às acusações, as reformas do Processo Penal Brasileiro 
inexplicavelmente não retiraram do texto legal a segunda parte do Art. 198 
que claramente OFENDE a principiologia constitucional e remonta a traços 
inquisitórios inaceitáveis: O silêncio do acusado não importará confissão, 
mas poderá constituir elemento para a formação do convencimento do 
juiz. 
 
 Confissão divisível e retratável: Art. 200 CPP 
 
Pode haver retratação da confissão, sendo essa uma faculdade do acusado. 
 
Pode haver também a divisão da mesma, sendo que o julgador também pode 
promovê-la: o réu pode “confessar” o todo ou parte da acusação e o controle 
exercido pelo julgador e sua livre apreciação das provas fornecidas pode 
fazer com que ele, igualmente, “aceite” a confissão no todo ou mesmo em 
parte. 
 
Súmula 545/STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do 
convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 
65, III, d, do Código Penal. (HC 318.184) 
 
 
 37 
 VÍTIMA/OFENDIDO(A) E SEU DEPOIMENTO 
 Art. 201 CPP 
 
 
De acordo com a sistemática do CPP pós-2008, a nova audiência de 
Instrução tem por primeiro meio de prova a ser produzido as “declarações 
do ofendido” (Art. 400 CPP). 
 
No entanto, o CPP de 2008 decidiu por disciplinar, ao contrário dos outros 
meios de prova, não uma metodologia e um roteiro claros para a realização 
do “questionário” do Ofendido (vítima), mas dar mais ênfase a questões 
periféricas. 
 
Vejamos: 
 
No caput do Art. 201 diz: Sempre que possível, o ofendido será qualificado 
e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma 
ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas 
declarações; 
 
No parágrafo primeiro, está a possibilidade de condução coercitiva do 
Ofendido à audiência, eis que, salvo motivo justo, seu depoimento é 
essencial. 
 
Em uma tentativa um tanto quanto frustrada de inserir o Ofendido no 
Processo (em um intuito de talvez lhe “prestar satisfações” quanto ao 
andamento do feito), são previstas as possibilidades de comunicações 
Leitura complementar sugerida: 
 
MARCOS CÉSAR ÁLVAREZ e outros 
A VÍTIMA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO: 
UM NOVO PROTAGONISMO NO CENÁRIO 
CONTEMPORÂNEO? 
Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 
86/2010 | p. 247 - 288 | Set - Out / 2010 | 
DTR\2010\716 
 
 38 
(IMPORTANTE: não é intimação, eis que ele não é parte) do mesmo 
quanto aos atos processuais – em especial quanto às saídas do acusado 
da prisão (resquício vingativo?). Essas comunicações poderão ser feitas 
por meio de correio eletrônico (Parágrafos 2° e 3°) 
 
Parágrafo 4º: espaço reservado ao Ofendido (não bem explicitado o que 
é, se é um mero “lugar reservado” ou se é um espaço físico diferenciado) 
 
IMPORTANTE: parágrafo 5° - Assistência ao Ofendido às custas do 
Estado ou do ofensor: como? Se o sujeito AINDA não foi condenado, ele 
ainda não é ofensor. E mais: qual a natureza jurídica disso: é pena? (não 
porque não está tipificada como tal nem prevista para o delito no CP). 
E como se dá essa obrigatoriedade? O Estado paga e é ressarcido? O 
sujeito paga e é ressarcido em caso de absolvição? 
Um tanto quanto incoerente e mal explicitada a intenção do legislador 
sobre essas premissas. 
 
Parágrafo 6º - medida interessante - O juiz tomará as providências 
necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do 
ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação 
aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu 
respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação. 
 
 
 
 
  PROVA TESTEMUNHAL 
 Arts. 202 a 225 CPP 
 
Leitura complementar sugerida: 
 
FELIPE DANIEL AMORIN MACHADO 
NULIDADE NA OITIVA DE TESTEMUNHAS: POR UMA 
INTERPRETAÇÃO CONFORME DO ART. 212 DO CPP 
Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 87/2010 | p. 165 - 
187 | Nov - Dez / 2010 | DTR\2010\871 
 
 39 
A prova testemunhal é tanto útil quanto perigosa: confiar na subjetividade 
das apreciações pessoais para ter evidência (o direito anglo-saxão costuma 
chamar evidences os relatos obtidos pela forma testemunhal) quanto a um 
fato pode ser uma “faca de dois gumes”. 
 
Diante da ausência de meios (e mesmo de tradição “técnica”) de apreciação 
de fatos no processo penal brasileiro, a prova testemunhal acaba por ser a 
mais utilizada em nosso sistema. 
 
a) REGRA GERAL: toda e qualquer pessoa pode ser testemunha; 
b) EXCEÇÕES: existem pessoas que não podem testemunhar e outras 
que “testemunham” sob determinadas condições; 
c) EXCEÇÕES DAS EXCEÇÕES: em alguns casos, mesmos os 
“proibidos de depor” podem ser ouvidos como testemunhas; 
 
 
IMPORTANTE: o que define a condição de testemunha ou não é a 
prestação do “Compromisso” ao qual alude o Art. 203 CPP. Ele 
configura a testemunha como auxiliar do bom andamento do processo, 
estando ela proibida de mentir e/ou de omitir fatos de seu conhecimento, 
sob pena de responsabilização criminal:
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, 
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, 
inquérito policial, ou em juízo arbitral: 
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 
 § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante 
suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em 
processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração 
pública direta ou indireta. 
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o 
ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade 
 PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM A PROVA TESTEMUNHAL 
 
1) Oralidade (Art. 204 – com exceção do Art. 221, parágrafo 1º): os 
depoimentos são orais, salvo nos casos especiais que podem ser dipostos 
por escrito 
 40 
2) Objetividade (Art. 213): sempre que possível deverá, o depoimento, se 
ater exclusivamente aos fatos; 
3) Retrospectividade: o testemunho serve para reconstruir fatos pretéritos 
na (parca) medida do possível e não para apreciações ou apostas 
intuitivas; 
 
 CLASSIFICAÇÃO DAS TESTEMUNHAS: 
 
1) PRESENCIAL: aquela que teve contato direto com o fato 
2) INDIRETA: presenciou fatos acessórios (ou mesmo “ouviu dizer”) 
3) INFORMANTES: aquelas “testemunhas” que na verdade não são 
testemunhas por serem ouvidas sem terem prestado compromisso. Sem 
o respectivo compromisso são tidas como testemunhas de “grau menor”, 
presumivelmente parciais 
4) ABONATÓRIAS: Nada sabem sobre o fato em si, mas servem para 
abonar a conduta pregressa do acusado (importantes, talvez, para o Art. 
59 do CP) 
5) “REFERIDAS”: testemunhas mencionadas por outras, sendo que são 
chamadas ao processo sem ter sido inicialmente arroladas (Art. 209, 
parágrafo 1º). 
 
 
 
 MOMENTO DE ARROLAR TESTEMUNHAS 
 
No primeiro momento em que a parte se manifesta nos autos do Processo. 
 
Para a Acusação (Denúncia ou Queixa) – Art. 41 CPP 
Para a Defesa – na “resposta preliminar”: exemplo – Procedimento 
Ordinário, Art. 396 – A CPP 
 
Importante: a REGRA é a de que a testemunha arrolada seja 
“pertencente” ao Processo, não mais “disponível” para as partes. 
Excepcionalmente se pode fazer alterações (substituições), desde que 
não haja evidente malícia para burlar a regra do prazo para 
arrolamento (ex: arrolo uma testemunha que descubro ser 
“desfavorável” para mim, na verdade e procuro “substituí-la”. Não 
posso. Contudo, em virtude de enganos e de a testemunha se mostrar 
absolutamente ineficaz para o processo, pode ser descartada colocando-
se outra no Cômputo – Art. 209, § 2º). 
 41 
 
 
a) PESSOAS DESOBRIGADAS DE DEPOR 
 
Não são proibidas de depor. Apenas não estão obrigadas. E se 
depuserem não prestam compromisso (serão ouvidas como 
informantes conforme Art. 208) 
 
São aquelas dispostas no Art. 206: ascendente ou descendente, o 
afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, 
a mãe, ou o filho adotivo do acusado. 
 
“Exceção da exceção”: se, contudo, não houver disponível outro 
meio de prova quanto ao fato, essas pessoas serão obrigadas a 
depor:...salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou 
integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias (Art. 206). 
 
 
b) PESSOAS PROIBIDAS DE DEPOR 
 
São aquelas que não podem depor, mesmo que quisessem. 
 
São aquelas dispostas no Art. 207: as pessoas que, em razão de 
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo. 
(Médicos, psiquiatras, psicólogos, padres ou outros ministros 
religiosos, advogados e toda e qualquer pessoa que em razão de sua 
função exerça frente ao acusado posição de necessariamente – ou 
provavelmente – ter segredos para si revelados). 
“Exceção da exceção”: contudo, se o acusado desincumbir a 
testemunha de guardar o seu (eventual) segredo, e se a testemunha 
quiser depor, ela vai passar a estar autorizada, inclusive com 
compromisso (vira uma testemunha “normal”, como qualquer 
outra). 
 
 
c) PESSOAS QUE NÃO PRESTAM COMPROMISSO (sendo 
ouvidas sempre como informantes): 
 
 42 
Conforme o Art. 208, fora os desobrigados do Art. 206, não vão 
prestar o compromisso em hipótese alguma os doentes e 
deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos. 
 
 
 
 “INCOMUNICABILIDADE” 
 
Deve ser garantida, mediante novas implementadas pela modificação do Art. 
210. 
 
 FALSO TESTEMINHO 
 
O crime do Art. 342 e parágrafo primeiro do CP ocorre quando a testemunha 
faz afirmação falsa, cala ou nega a verdade. 
 
O juiz, depois de averiguada a suposta prática do tipo penal ele remete os 
autos à autoridade policial para o início da investigação do OUTRO crime 
(que não é da sua competência exclusivamente) ou mesmo diretamente ao 
Ministério Público (o inquérito é prescindível – Arts. 12 e 27 CPP). 
 
Parágrafo 2º do 342 CP: o crime não se configura se até a SENTENÇA a 
testemunha se retrata ou revela a verdade. 
 
 
 PRODUÇÃO DA PROVA TESTEMUNHAL 
 
 
É feita em audiência através do sistema de indagação direta, permitindo a 
chamada técnica da cross examination, que significa que as próprias partes 
realizem os questionamentos aos depoentes. 
 
O novo Art. 212 do CPP (2008) extinguiu o sistema anterior, chamado de 
Presidencial: o juiz (“Presidente do ato”) era quem realizava as perguntas, após 
ouvir da parte o que ela gostaria de questionar à testemunha. Agora, no sistema 
adotado pelo nosso Código, as partes perguntam e o juiz tem uma função 
principal de fiscalizador da coerência, da pertinência e do eventual conteúdo 
tendencioso das perguntas. 
 
 43 
IMPORTANTE: o sistema não é mais o Presidencial, mas o juiz ainda pode 
realizar perguntas diretas, conforme o Art. 212, de maneira 
“complementar” às perguntas realizadas pelas partes. Ou seja – o juiz não 
deixa de ser ator na produção da prova, mas o sistema informado pelo 
Código “sugere” que ele utilize esse poder como complemento, e não como 
meio de protagonizar a tomada do depoimento. 
 
 
 CONTRADITA (Art. 214) 
 
Deve ocorrer sempre no instante imediatamente anterior à oitiva da 
testemunha: consiste no momento legalmente próprio para que se 
levantem aspectos impeditivos ou que tornem suspeito o testemunho 
(ex: algum fator não-declarado que torne a testemunha proibida de 
depor, ou alguma relação de suposto interesse dela em algum dos 
desfechos possíveis do processo, etc). 
 
É importante salientar que o Artigo da lei abre margem para uma discussão, 
diferenciando a contradita (quando seriam opostos a ela algum ou alguns 
dos aspectos constantes dos Arts. 207 e 208, tornando-a desobrigada do 
compromisso) e a simples argüição de suspeição ou má-fé (apenas para 
levantar suspeita de parcialidade no testemunho). 
 
É um ato que não comporta dilação probatória, e após a argüição ou 
contradita, é aberto espaço para que a testemunha confirme ou 
desminta as alegações, sendo que a decisão do juiz é momentânea e se 
fará constar dos autos. 
 
 APENAS nos casos explicitamente listados nos Arts. 207 e 208 a 
testemunha não será compromissada, bom lembrar. “Amigo”, por 
exemplo, pode ser testemunha, mas pode ter contra si alegados 
“vícios” (Argüição). Ver jurisprudência do STJ: APn 431 / RJ 
AÇÃO PENAL 004/0117726 
 
 Existe, contudo, uma série de julgados que, na casuística, exibem o 
contrário: APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DEFENSIVO. 
PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ART. 14, LEI 0.826/2003. 
PRELIMINAR. INFORMANTES. AUSÊNCIA DE 
COMPROMISSO. DESACOLHIMENTO. Os depoentes, amigos 
íntimos do réu, não prestam compromisso, sendo ouvidos como
44 
informantes, por aplicação analógica do art. 228, IV, do atual Código 
Civil, c/c art. 3º do Código de Processo Penal (...) Apelação Crime Nº 
70045532363, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 11/10/2012 
 
 
 
 VIDEOCONFERÊNCIA para a oitiva de TESTEMUNHA - (Art. 217) 
 
Possibilidade que surgiu com a reforma de 2008 do CPP. Em caso de haver 
fundado receio de que a presença do acusado pode causar problemas de 
intimidação ou constrangimento, atrapalhando a colheita do testemunho, há 
a opção de o réu não presenciar o depoimento. Logicamente, seu defensor 
deve permanecer na sala, uma vez que se está – excepcionalmente – 
violando um dos direitos do réu, que é o de presenciar o ato, até para 
qualquer efeito de autodefesa, e para que ele possa melhor orientar o 
defensor quanto ao que está sendo dito. 
 
 EXCEÇÕES AO “MOMENTO DA PROVA” E À “ORALIDADE” 
 
A Prova Testemunhal tem seu momento disposto em lei e tem a Oralidade 
como um de seus princípios-chave. 
 
Porém, é preciso atentar para as exceções legais a essas regras: 
 
Art. 220 – a enfermidade ou a velhice do depoente podem fazer com que o 
local e outras condições do depoimento se alterem; 
Art. 221 e par. 1º - Algumas pessoas detentoras de alguns cargos podem 
prestar seu depoimento em dia e horas marcados de acordo com sua 
conveniência e inclusive por escrito; 
Art. 222 – Precatória: 
Quando o depoimento precisa ser colhido em outro juízo, a medida pode ser 
cumprida por precatória. O processo, no caso, não vai suspenso (sendo que 
o juízo deprecante fixa prazo razoável para que ela seja cumprida e 
retorne aos autos). Há quem diga que é indispensável a presença do réu no 
juízo deprecado para tornar efetivo seu direito à defesa, mas apesar da 
coerência principiológica desse argumento, o entendimento é minoritário. 
 
 
 
 45 
 
  RECONHECIMENTO DE PESSOAS E/OU COISAS 
 Arts 226 a 228 CPP 
 
A questão desse meio probatório é complexa, uma vez que devem ser 
levados em conta dois fatores: 
 
a) O CPP define e estabelece regramentos pensando exclusivamente na fase 
policial-investigativa da colheita dessa prova, ignorando a necessidade 
de estabelecer uma forma precisa para a existência do “Reconhecimento” 
enquanto prova no processo; 
 
b) Se é “Reconhecimento...” deve obedecer a um rito para ser tido enquanto 
um meio legítimo de prova. 
 
Vejamos: o que ocorre é o fato de que – conforme o código, vide o parágrafo 
único do Art. 226 CPP – todo o formalismo e a minúcia para que se proceda 
ao “Reconhecimento...” na fase policial é legalmente prescindível na fase 
judicial. 
 
Ou seja: segundo o Código, o “Reconhecimento...” na fase judicial 
(processual) pode se dar sem regra alguma. O que comumente ocorre é 
o juiz questionar diretamente a testemunha ou a vítima se “reconhece” 
o réu ali presente como o autor do fato e anotar o resultado dessa 
indagação como meio de prova. Isso não pode ser tomado dessa 
maneira: para ser tido como uma verdadeira prova, o reconhecimento 
de uma pessoa ou coisa deve obedecer ao formulismo rígido do código, 
AINDA QUE NA FASE JUDICIAL, sob pena de termos não um 
“Reconhecimento...”, mas um simulacro. 
 
 Lamentavelmente não é o entendimento majoritário das Cortes 
pátrias. 
 
(STJ) AgRg no Ag 972087 / SC AGRAVO REGIMENTAL NO 
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2007/0253425-6 
 
 
Muitos julgadores optam por reproduzir (ou tentar reproduzir) em sala 
de audiência o “Reconhecimento...” de acordo com as regras do código 
 46 
para a esfera investigativa, e promovem visualização do(s) suspeito(s) à 
distância, por intermédio de janelas/vidros opacos (quando há), dentre 
vários voluntários. Essa medida garante um mínimo de credibilidade à 
prática e procura evitar algum sugestionamento da parte que 
“reconhece” ou não o autor pelo simples apontamento dele no cara-a-
cara. 
 
 
 
  ACAREAÇÃO 
 Art. 229 e seg. CPP 
 
É o ato processual que pode colocar frente à frente todas as classes de 
depoentes, confrontando depoimentos, declarações e opiniões 
contraditórias ou conflitantes. 
 
Pode ser tanto requerida pelas partes como pelo juiz, de ofício, sendo que 
se trata de um meio literal de dirimir dúvidas: a força dde uma prova 
testemunhal ou de algum outro tipo de depoimento pode ser neutralizada se, 
diante do depoente antagônico. 
 
Comum em CPI’s e CPMI’s, onde há, geralmente, muitos depoentes e 
muitas versões diversas dos fatos narrados. É um meio probatório que tem 
como regra a inquirição simultânea dos acareados, a fim de se procurar 
extrair a versão definitiva ou de se procurar descobrir qual a versão 
verdadeira (ou menos inverídica). 
 
IMPORTANTE: na prática – levando-se em conta os princípios do 
processo penal e a própria lógica do sistema, a acareação tem pouco 
resultado prático. Nenhum dos depoentes em tese precisa realmente 
“dizer a verdade” e isso compromete o ideal da acareação. 
 
RÉU: direito de não produzir prova contra si mesmo, o direito ao 
silêncio e a prerrogativa de não se auto-incriminar fazem com que em 
uma eventual acareação o réu não precise temer e possa manter sua 
versão dos fatos, seja ela sincera ou mentirosa; 
 
 47 
VÍTIMA: comprometida com a parcialidade, seu depoimento não 
acarreta no processo em questão nenhum prejuízo se for tido por 
falsário e não há porque temer, inicialmente, penalização; 
 
TESTEMUNHA: é a única classe de depoentes que tem a obrigação 
legal de não falsear seu depoimento. Porém, há autores que defendem 
que essa necessidade não vigora no caso de o depoimento acarretar em 
auto-incriminação (baseando-se na doutrina e jurisprudências 
estadunidenses, que celebram o privilegy against self-incrimination – que 
defende o direito de testemunhas omitirem fatos que podem levar à sua 
própria incriminação, se esta não estiver em questão no processo, 
evidentemente). 
 
Em regra, o momento da acareação pode ser a brecha para que um 
testemunho eventualmente falso seja corrigido e retratado, o que EVITA 
a incidência do Art. 342 do CP. 
 
 
 PROVA DOCUMENTAL 
 Art. 231 e segs. CPP 
 
Documento é o elemento material que expressa um pensamento ou 
idéia, ou mesmo qualquer manifestação de vontade, pertinente para 
comprovar um fato juridicamente relevante. 
 
Elementos que expressam algo e que expõem conteúdo relevante e assim 
ingressam no processo são documentos, pois. Desde papéis contendo 
escritos até dados eletrônicos obtidos com o rastreamento de computadores. 
Não se trata apenas de escritos e declarações literais de vontade. 
 
De acordo com o Art. 232 são, entre outras coisas, “documentos”: Escritos 
(declarações escritas em próprio punho, mensagens, etc), Papéis 
(documentos impressos, tabelas, livros contábeis, etc.), “instrumentos” 
(qualquer outro meio de documentar algo – é a base interpretativa para se 
pensar nos meios ópticos e eletrônicos). 
 
 Classificação 
 48 
Os documentos podem ser PÚBLICOS (certidões, atestados, etc. Emitidos 
por autoridade ou órgão público) ou PARTICULARES (Anotações, textos, 
arquivos, todos emitidos por particular). 
 
 A polêmica da Correspondência Postal (Carta): 
 
Art. 233 CPP 
Cartas não podem mais servir de prova documental, eis que a 
correspondência é sigilosa e constitucionalmente inviolável (CF: Art. 5º, 
inc. XII), podendo ser configurado crime de violação de correspondência 
(Art. 151, CP). 
 
Não se pode “interceptar” correspondência entre particulares e utilizar como 
documento, eis que a inviolabilidade transforma o objeto em prova ilícita 
(por

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