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2 Caderno do semestre e conteúdos de aula Direito Processual Penal II – 2016/1 Universidade de Passo Fundo – Faculdade de Direito Prof. Dr. Gabriel Divan http://gabrieldivan.com Resumo-guia dos conteúdos do semestre 2016/1 da disciplina de Direito Processual Penal II: 1) Não se recomenda que seja utilizado como ‘bibliografia’ nem como exclusiva fonte de contato com a matéria; 2) Trata-se de um “plano de conteúdos” ampliado. As explicações, exemplos e discussões em aula e as avaliações vão perpassar conteúdos além do que aqui está exposto. 3 Bibliografia básica/mínima para o estudo LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal e sua conformidade constitucional, São Paulo: Saraiva; _______________. Prisões cautelares, 4ª Edição.. Saraiva disponível na Biblioteca Virtual UPF GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Direito à Prova no Processo Penal. São Paulo: RT, 1998. TÁVORA, Nestor. ASSUMPÇÃO, Vinícius.. Col. saberes do direito 11 - Processo penal II: provas – questões e processos incidentes, 1ª Edição. Saraiva. OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. São Paulo: Atlas GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. São Paulo: Atlas CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: Saraiva. disponível na Biblioteca Virtual UPF DIVAN, Gabriel Antinolfi. Processo Penal e Política Criminal. Porto Alegre: Elegantia Juris disponível em http://gabrieldivan.com Bibliografia para aprofundamento: GIACOMOLLI, Nereu. Prisão, liberdade e as cautelares alternativas ao cárcere. São Paulo: Marcial Pons, 2013. WEDY, Miguel Tedesco. Eficiência e prisões cautelares. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2014. SUANNES, Adauto. Os fundamentos éticos do devido processo penal. São Paulo, RT, 2005. LOPES JR., Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal. Fundamentos da Instrumentalidade Constitucional. RJ: Lúmen Juris, 2010. FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón. Madrid: Trotta, 1997. DUCLERC, Elmir. Direito Processual Penal. RJ: Lumen Juris, 2011. 4 DI GESU, Cristina. Provas Penais e Falsas Memórias. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2010. WARAT. Luis Alberto. Introdução Geral ao Direito: Interpretação da Lei: Temas para uma reformulação. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed., 1994. DIVAN, Gabriel. Decisão Judicial nos Crimes Sexuais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. ACHUTTI, Daniel. Modelos Contemporâneos de Justiça Criminal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009 MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A lógica das provas em matéria criminal. Campinas: Bookseller, 1996. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal (volumes 1 a 4). São Paulo: Saraiva. TÁVORA, Nestor. ANTONNI, Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: JusPodium, 2012. CASARA, Rubens. MELCHIOR, Antônio Pedro. Teoria do Processo Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. . Temas abordados – visão geral PROVAS: Teoria Geral da Prova, Princípios relativos à Prova no Processo Penal, Considerações sobre a Prova no CPP atual, Provas em Espécie, Exame de Corpo de Delito e demais perícias, Interrogatório do acusado, Confissão do acusado, Ofendido / perguntas ao ofendido, Prova Testemunhal, Reconhecimento de Pessoas e/ou Coisas, Acareação, Prova Documental, Indícios, Busca e Apreensão, Metodologias novas de prova, Interceptação Telefônica. PRISÃO: Considerações introdutórias: prisão-pena x prisão processual, Modalidades de Prisão Provisória, Prisão temporária, Prisão em Flagrante, Esquema – Prisão em Flagrante, Liberdade Provisória x Prisão em Flagrante, Liberdade Provisória – considerações gerais, Fiança, Prisão Preventiva SUJEITOS PROCESSUAIS CITAÇÕES E INTIMAÇÕES: Esquemas dos procedimentos 5 1. PROVAS NO PROCESSO PENAL A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os dois meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram a um lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em duas metades, diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. As duas eram totalmente belas. Mas carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia (Carlos Drummond de Andrade, A verdade dividida) 1.1) TEORIA GERAL DA PROVA Conceito de prova processual: Prova é o elemento que pode ser utilizado para a demonstração fática dos argumentos pugnados em meio ao processo; É – comumente – tida “ 6 por meio legal e processualmente aceito para comprovar, genericamente falando, a “veracidade de uma alegação” ou mesmo suposição. É elemento importante para proporcionar uma eficiente reconstrução jurídico-processual de um fato supostamente ocorrido conforme uma das versões apresentadas em juízo. É um ponto de apoio para que o julgador se convença de que uma das (re)construções proporcionadas pelas partes é a mais correta, “correspondente” à justiça de uma decisão para o caso penal. - Cordero/Aury: Prova como elemento de “captura psíquica” do julgador para obbtenção de uma sentença favorável; - Duclerc: Prova como ato de comunicação destinado a fornecer elementos tendentes para participar da construção decisional pelo julgador. Efeitos da prova: Somente aquilo que resta provado ou em alguns casos induzido de forma a constituir-se em conhecimento (pretensamente) seguro sobre um dito fato pode orientar e definir uma decisão judicial de mérito. As provas são elementos que compõem a decisão e a alicerçam: com elas, o julgador tem a “esteira” para chegar a uma ou outra decisão. Depende de que provas forem maiores e melhores. Leitura complementar sugerida: ANTÔNIO PEDRO MELCHIOR JUIZ-SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA. BREVE ENSAIO SOBRE O NEOCONSTITUCIONALISMO E O ATIVISMO JUDICIAL EM MATÉRIA CRIMINAL NA REALIDADE PERIFÉRICA Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 96/2012 | p. 313 - 341 | Mai/Jun / 2012 Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional | vol. 7/2015 | p. 1419 - 1446 | Ago / 2015 | DTR\2015\10964 7 Princípios Processuais relativos à prova: a) Inadmissão das provas ilícitas - CF Art. 5º LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; - CPP, Art. 157. Provas ilícitas são espécies de provas que, legalmente denominadas, se revelam como tendo sido obtidas por meios ilícitos. Por vezes se usa o vocábulo como termo genérico para qualquer tipo de prova que não pode ser utilizada, mas diante da definição legal vigente desde 2008 essa conceituação fica inconveniente. São espécie ou categoria das chamadas provas vedadas, ou seja, aquelas provas que não podem – em tese – ser utilizadas para compor a edificação de uma decisão judicial (devem ser “descartadas”, isto é, não devem ser levadas em conta pelo julgador como elemento de motivação válido). As chamadas provas ilegais são aquelas que são produzidas de forma ilegal, ou seja, tem seu ingresso no processo maculado pelo ferimento de uma 8 norma processual (ex: documento sobre o qual não foi dada vista à outra parte para devida impugnação, testemunha ouvida além do número previsto para o rito, etc: são provas que poderiam ser válidas, mas há vício processual que as impediria de “ser consideradas” para a decisão). b) “Nemo tenetur se detegere” (nenhum temor por se deter – direito de não fazer prova contra si mesmo): - Pacto de San José da Costa Rica (Decreto 678/1992) Art. 8º, item 9. Incorporado à Constituição Brasileira (Art. 5º, parágrafo 2°, CF) – há polêmica (EC 45 – Art. 5º parágrafo 3º), com parte da doutrina negando essa “incorporação”. - Art. 5º LXIII, CF – por analogia; Consagrado pela doutrina, pelos modernos princípios do Processo Penal e pelas interpretações de princípios constitucionais-democráticos na maioria dos sistemas processuais contemporâneos, este princípio alerta para o fato de que o acusado não possui (nem poderia possuir) nenhuma “obrigação” de auxiliar ou colaborar de qualquer forma para o “bom” andamento do processo contra si mesmo. O acusado, assim, tem o “Direito ao silêncio” – literalmente e, também, genericamente entendido como “direito” a não fazer prova que possa prejudicar a si mesmo, sem ser obrigado nem sofrer penalização alguma com relação a isso (Ex: o silêncio voluntário no interrogatório não pode presumir Leitura complementar sugerida: ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES FILHO A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 85/2010 | p. 393 - 410 | Jul - Ago / 2010 Doutrinas Essenciais Processo Penal | vol. 3 | p. 213 - 229 | Jun / 2012 | DTR\2010\221 9 a culpa; a recusa em participar de reconstituições e exames não pode “presumir os fatos verdadeiros” contra ele, etc.). POLÊMICA: discussão sobre o crime do Art. 306 do CTB (Lei n. 9.503/97) e a questão do exame do “Bafômetro” (Etilômetro) – Art. 277 e parágrafos da mesma lei (modificados pela Lei n. 12.760/12) - VER: DECRETO n. 6.488/2008, Art. 2º. Lei n. 12.654/12 – altera disposições sobre a identificação criminal (Lei n. 12.037/2009 – CF Art. 5º, LVIII) e a própria execução penal para criar o “Banco de dados genético-criminais” no país (Art. 3o A Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 9o-A: “Art. 9o-A. Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor. § 1o A identificação do perfil genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido pelo Poder Executivo. § 2o A autoridade policial, federal ou estadual, poderá requerer ao juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o acesso ao banco de dados de identificação de perfil genético”. Leitura complementar sugerida: GABRIEL DIVAN NEGOCIANDO O INEGOCIÁVEL Boletim do Instituto Brasileiro de Direito Processual Penal (IBRASPP) n. 02 – acesso em http://www.ibraspp.com.br/?page_id=41 10 c) “Presunção de inocência” x ônus da prova: - Art. 5º, LVII, CF; - Art. 156 CPP A “presunção de inocência”, no campo do estudo da Prova no Processo Penal significa, entre outras coisas a impossibilidade de condenação de alguém sem que haja suficiente lastro probatório. Afinal, a liberdade é a regra – a constrição da liberdade (qualquer liberdade) deve ser a exceção. A “presunção” da não-culpabilidade do réu/acusado atinge, portanto, a análise das provas. IMPORTANTE: tanto é verdade que não basta sequer haver provas “esvaziadas”, nem “presunções” eis que é preciso uma prova robusta para poder condenar: ex: Art. 386, VII do CPP – pode até haver “prova” para condenar, mas se essa não for “suficiente”, deve-se pender para a absolvição (resguardo da liberdade – valor maior). Sobre o ônus da prova: ver abaixo – Considerações gerais do CPP: Art. 156 CPP d) Devido Processo Legal (due process of law) - Art. 5º LIV, CF. Em relação à Prova Processual, obriga o respeito ao rito processual devido. Não se pode ter o processo sem a observância do procedimento correto, nem ferir a lógica processual do embate justo entre as partes. As provas analisadas devem ser aquelas que são processualmente admitidas e legais (não ilegais nem ilícitas), eis que, sem isso, não há o justo e devido processo. e) Princípio da Proporcionalidade Não há unanimidade doutrinária se de fato é um princípio ou se é uma regra de aplicação e elaboração do direito, confundindo-se com a própria atividade jurídica. É o dever de obedecer a critérios de razoabilidade, 11 prudência e adequação, tanto na elaboração legislativa, quanto na aplicação jurisdicional das normas e ditames. A atividade do juiz, especialmente, deve estar guiada pela prudência e pela proporcionalidade, entendida como adequação dos meios e dos fins. A proporcionalidade por vezes pode ser entendida como um critério de controle jurisdicional do sistema, vez em que pode servir de escopo para que um julgador (por exemplo) deixe de aplicar na íntegra um dispositivo legal pertinente, por considerá-lo evidentemente des-proporcional em relação ao fim pretendido. Cuidado: não é uma mera vontade de “modificar” a lei ou de “substituir” o legislador – isso é arbítrio. É um elemento que serve para questionar a Constitucionalidade ou não de certas medidas legais com base na ausência de razoabilidade das mesmas, o que feriria toda a proporção e a própria razão de existir do aparelho estatal de composição dos conflitos. Na questão da Prova no Processo Penal, o tom da discussão se dá principalmente quanto à possibilidade ou não da aceitação de provas ilícitas no processo, com base na discussão entre as “duas faces” do Princípio da Proporcionalidade. Vejamos - PROIBIÇÃO DE EXCESSO (übermassverbot): é a visão clássica do Princípio da Proporcionalidade: a aplicação do direito não deve ser excessiva a ponto de desvirtuar seus fins. Exemplo: podemos fazer uma analogia com o Direito Penal material – se entendermos a norma penal como mecanismo de “proteção” de um determinado Bem Jurídico, vemos que o oferecimento de uma pena visa punir (e assim “proteger”, visando desestimular) condutas que ofereçam perigo a esse bem jurídico. Ver figura abaixo: 12 Por outro lado, não se pode (ou, não seria razoável nem aceitável) que, a título de “proteção maior” desse Bem Jurídico, se amplie de forma desmesurada o espectro de atuação da norma, “abrindo” seus verbos e suas descrições de forma a abarcar toda e qualquer conduta relativa a aquele bem protegido, mesmo as mais insignificantes, atribuindo-lhes penas exageradas, o que caracterizaria um Direito Penal excessivamente rigoroso e autoritário. Ver figura abaixo: 13 - PROIBIÇÃO DE PROTEÇÃO DEFICIENTE (ou PROIBIÇÃO DE INSUFICIÊNCIA) – untermassverbot: é a chamada outra face do Princípio da Proporcionalidade. Se é des-proporcional a atuação excessiva do Direito (tanto na produção legislativa quanto na aplicação jurisdicional do mesmo), seria igualmente fora de proporção uma atuação por demais negligente ou branda. Ainda tendo por analogia o Direito Penal material, a título de “Não exceder os parâmetros razoáveis”, não se pode “descriminalizar tudo”, nem abrir mão de certas atuações do Direito Penal (ex: a Constituição inclusive PREVÊ a punição de certas condutas – Art. 5º, XLI a XLIV – estabelecendo que, nos preceitos do Estado Democrático de Direito por ela regido, certas condutas – Ex: o racismo – CONSISTIRÃO em crimes). 14 Se pecasse por “proteger de menos” um bem jurídico a atividade do operador do direito estaria sendo igualmente desproporcional, uma vez que - PROPORCIONALIDADE E PROVA NO PROCESSO PENAL: o que atualmente se discute é se a questão das provas no Processo Penal, sobretudo as ilícitas devem passar por esse crivo. As Provas Ilícitas são constitucional e legalmente vedadas, como se sabe. Não se pode fazer provar algo dentro do processo com o uso de um instrumento de prova obtido por meio ilícito (ou seja: com violação de normas de direito material ou ao arrepio de garantias constitucionais). Ex: não se pode invadir a casa de alguém sem a autorização judicial devida (ver Busca Domiciliar e seu regramento, abaixo, nas “Provas em Espécie” e também a partir do Art. 240 CPP) para fins de buscar documentos “interessantes” para comprovar algum fato controvertido do processo. Assim como não se pode querer utilizar em juízo uma confissão ou depoimento extraídos mediante tortura ou algum outro tipo ilegal de coação. CONTROVÉRSIAS: a) Prova ilícita que COMPROVA a inocência do réu: doutrina e jurisprudência concordam de forma unânime que uma prova, ainda que ilicitamente obtida, que servir para comprovar cabalmente a inocência do réu, pode ser utilizada, eis que a liberdade é o valor maior do nosso sistema e da Constituição, como um todo. Dessa forma, o apego à “regra do jogo” não pode ser maior que o apego ao valor fundamental de todo o sistema (que é proteger a liberdade e regular os casos excepcionais em que o Estado pode tolhê-la). Não se pode, por apego ao formalismo, esquecer da questão mais importante tratada e a liberdade de alguém que é evidentemente inocente é superior ao formalismo que em tese veda o uso e o valor processual de qualquer prova obtida por meios ilícitos b) Prova ilícita que comprova a CULPA do réu: diz-se, do mesmo modo, que por uma questão de interesse “público”, quando houver uma prova 15 ilícita que sirva para comprovar sem dúvidas a culpa do réu, ela não deve ser ignorada e “formalmente desconsiderada” pelo juiz, eis que o sistema estaria aí incorrendo em uma “proteção deficiente/insuficiente” do direito que o Estado possui de punir os efetivos culpados de infrações penais. Assim, não se deveria, por formalismo, por exemplo, desconsiderar documentos reveladores descobertos em uma invasão policial a uma residência, que na verdade se revelou arbitrária e sem a devida autorização, eis que, dependendo do crime a ser elucidado e dos interesses em jogo, se estaria agindo com um formalismo perigoso ao se “descartar” essa prova. c) CUIDADO: não existe a dicotomia “interesse público” x “interesse privado”. Tende-se a crer que o processo é movido pelo “interesse público” em ver o acusado condenado e pelo “interesse privado” (do acusado) em se ver solto. ISSO É UMA FALÁCIA. Há interesse público (ou deveria haver...) em ver as “regras do jogo” sendo cumpridas e em ver o Processo Penal ser ordenado pelos ditames Constitucionais e democráticos. O fato de que se está admitindo em juízo provas onde o Estado age com abuso e burlando as normas estabelecidas não é “em favor” do “interesse público”. Isso traz uma visão distorcida do objeto e do objetivo do Processo (sumamente o Penal). Leitura complementar sugerida: PIERPAOLO CRUZ BOTTINI O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE NA PRODUÇÃO LEGISLATIVA BRASILEIRA E SEU CONTROLE JUDICIAL Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 85/2010 | p. 267 - 296 | Jul - Ago / 2010 Doutrinas Essenciais de Direito Penal | vol. 1 | p. 467 - 494 | Out / 2010 | DTR\2010\222 16 Considerações Gerais do CPP sobre a Prova (rito do CPP pós-2008): Introdução – SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DA PROVA Ao longo da história, o modelo de apreciação e admissão judicial das provas processuais sofreu grandes mudanças (em que pese resquícios de todos os sistemas subsistirem em maior ou menor grau). Não existe certeza quanto a uma cronologia exata nem quanto à “vigência” e o “abandono” da utilização dos sistemas, sendo que em variadas épocas e sociedades, pode-se verificar – historicamente – a existência de procedimentos largamente aplicados ou que guardam resquícios das mais variadas sistemáticas de valoração e avaliação de provas “judiciais” penais. Entre aqueles mais comumente destacados, podem ser evidenciados os seguintes sistemas, e momentos históricos correlatos onde sua aplicação se deu majoritariamente: a) Sistema das provas “irracionais” ou “Juízos de Deus” (Ordálias): Geralmente é um sistema relacionado historicamente ao período pré- medieval, e mesmo ao Baixo Medievo. “Oficialmente” fora extinto pela Santa Inquisição no Concílio de Latrão, em 1215. Não havia um controle eminentemente técnico-jurídico sobre as provas, senão que um juízo absolutamente arbitrário baseado em considerações sobrenaturais e ausentes de empirismo. O Juiz era um verdadeiro árbitro da casualidade que “comprovaria” a afirmação ou fato colocado em questão. Ex: “convocação” de animais para depor em favor do acusado (“Deus vai preferir o milagre de um animal ganhar voz e falar do que ver um inocente ser condenado (...)”) Geralmente se materializavam nas chamadas Ordálias, que significavam provações que deveriam ser superadas pelo sujeito a fim de que ele pudesse “comprovar” que estava falando a verdade “perante Deus”. 17 Ex: “ele deve caminhar sobre a brasa e Deus fará com que ele não sinta dor, caso esteja falando a verdade” ou “Se ela tiver a leveza dos inocentes, vai pesar menos do que –tal animal – na balança”. CURIOSIDADE: para aqueles que crêem que os juízos “sobrenaturais” são elementos absurdos das eras subdesenvolvidas do Direito Processual, ver, por exemplo, o caso do Júri de Viamão da “CARTA PSICOGRAFADA” – o Acórdão do Processo pode ser achado na “Jurisprudência” do TJRS (n. 70016184012). b) Sistema da Prova Legal ou tarifada Esse Sistema teve ampla aceitação durante os processos Inquisitórios da Europa Continental da Idade Média (tanto no Processo do Direito Comum quanto nos Processos da Inquisição movida pelo Santo Ofício, nos processos Eclesiásticos envoltos com o combate à “heresia”) e com resquícios fortes ao longo da Idade Moderna. Visava pré-estabelecer o “valor” probatório para orientar o julgador: critérios quantitativos e estabelecidos de antemão (daí o nome “tarifada”) pretendiam tornar mais segura a apreciação dos julgadores. GOMES FILHO (Direito à Prova no Processo Penal, pp. 23-24) sustenta que, apesar de o sistema surgir para evitar abusos indiscriminados na apreciação da prova cumpria um desfavor no instante em que legitimava outro tipo de abuso: em sendo a confissão vista em regra como prova irrefutável e de valor superior a todos os demais meios probatórios, não eram medidos esforços para obtê- la (daí o amplo uso de meios apavorantes de tortura nos “interrogatórios”). O depoimento de certas pessoas (nobres por exemplo) era legalmente mais valorado em relação ao de outras (servos, por exemplo), e haviam crimes tais como heresia, bruxaria ou qualquer um que fosse classificado como lesa-majestade que poderiam ser alvo de condenação por meros “indícios” de autoria. TOURINHO menciona que o Code d’Instruction Criminelle (de 1808 - pós- medievalismo, portanto, mas com uma identificável matriz inspirada nas Ordonnance Criminelle de 1670) trazia interessante disposição quanto ao crime de adultério: quanto aos homens, ele devia ser provado 18 exclusivamente com o flagrante delito ou com confissão ou escritos de seu próprio punho. Já quanto à mulher adúltera, o Art. 338 estabelecia que a comprovação do seu adultério se dava “submissa às regras de direito comum”. CURIOSIDADE: ver, por exemplo, Art. 155, parágrafo único do CPP: quanto ao “estado das pessoas” (ex: filiação, paternidade, óbito, direitos políticos, casamento), só se pode provar algo do mesmo jeito que se faz de acordo com a lei civil – certidões, p. ex. A propriedade de um imóvel, por exemplo, comporta amplitude probatória na esfera penal (se for pertinente ao caso). Já na lei civil, ela é válida presumidamente apenas com o registro (matrícula) do imóvel. Quanto ao Estado da pessoa, no entanto, a lei penal aceita a subordinação às regras da lei civil. O Art. 158 também traz semelhante disposição: só o Exame de Corpo de Delito é aceito como prova nas infrações materiais. Logicamente não se trata de uma similitude ao sistema de “prova tarifada”, mas há correspondência visível no intuito de estipulação prévia quanto a um meio probatório. c) Sistema da Íntima Convicção O sistema de “livre” ou “íntima” convicção é usualmente tido enquanto uma resposta dos Iluministas ao ancién regimen das Monarquias Absolutistas: se no período da Inquisição e dos Monarcas Absolutos o sistema é inquisitório e a prova é tarifada, para reformadores como Beccaria, a idéia é ter o rigor aplicado à estipulação das leis penais, e a liberdade para o julgador na apreciação da prova. Essa aparente contradição é esclarecida por GOMES FILHO (Direito à prova..., p. 26): os iluministas detêm tamanha confiança na racionalidade/razoabilidade do homem que têm por premissa estipular leis claras e plenas de rigor e “confiar” em sua boa aplicação pelos juízes. Beccaria, por exemplo, crê um juiz incorruptível, o que faz com que todo o espectro de prévia estipulação esteja deslocado para a lei a ser aplicada pelo julgador (Boca da lei), e se libere o mesmo para – sempre racionalmente realizar essa operação de subsunção. 19 Daí que vai incentivado um modelo de decisão onde o julgador pode realizar uma livre apreciação da prova, desvinculado de regramentos pré- estabelecidos quanto ao um “valor” da mesma. E mais: não seria necessário identificar a motivação estrita da decisão e do valor e proeminência conferido às provas que foram apresentadas. É aí que – com inspiração do Trial by jury inglês – ganha ascensão o modelo de corpo de jurados, que igualmente decidem sem a necessidade de pública motivação. CURIOSIDADE: vigora ainda em nosso direito no Procedimento do Tribunal do Júri – os jurados decidem por íntima convicção, sem precisar explicar ou motivar a decisão, que vai sofrer apenas um verniz técnico pelo juiz (esse sim, precisando explicar claramente seus pontos e obedecendo aos requisitos legais) d) Sistema da Livre Convicção Motivada (Art. 93, IX CF) O sistema vigorante na maioria dos ordenamentos democráticos ocidentais contemporâneos é informado por uma necessidade de o julgador revelar os motivos de sua decisão, e isso passa por uma minuciosa análise do conteúdo probatório e de uma publicização às partes de como as provas foram valoradas e quais delas foram ou não determinantes para a tomada da decisão. 20 - CÓDIGO DE PROCESSO PENAL BRASILEIRO Art. 155 – SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE PROVA Adota a livre convicção (motivada) para a análise das provas, estabelecendo diretamente que a prova para ser válida deve ser aquela judicial produzida (ou repetida) ao longo do processo e não aquela produzida exclusivamente na fase de investigação pré-processual, a menos que seja caso de prova não- repetível (perícia feita respeitando os ditames legais que não se pode repetir, por exemplo), cautelar (exemplo: gravações feitas com escuta telefônica autorizada), ou caso de produção antecipada de prova, que, no caso, contará com respeito ao contraditório (eis que não é investigação e sim antecipação do rito judicial – podendo-se ter como analogia os dispositivos do CPC, nos artigos 846 a 851 – ou, de acordo com os artigos do novo CPC – as disposições previstas no Art. 381 e seguintes – Lei n. 13.105/2015). SÚMULA 455 do STJ (2010): A DECISÃO QUE DETERMINA A PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS COM BASE NO ART. 366 DO CPP DEVE SER CONCRETAMENTE FUNDAMENTADA, NÃO A JUSTIFICANDO UNICAMENTE O MERO DECURSO DO TEMPO" Ou seja: o mero decurso do tempo não é fonte para que se passe a atos de instrução antecipada do processo. Uma boa postura jurisprudencial, que necessariamente deve ser ponderada não apenas quanto aos casos do Art. 366 (processo suspenso pela não-citação pessoal do acusado) – resta saber o que justificaria a produção probatória antecipada se não o passar do tempo em um caso exclusivamente relativo ao artigo em questão. Caso seja um fato de investigação realizado somente perante a autoridade responsável pela investigação pré-processo (Autoridade policial, por exemplo) e não sendo caso dos exemplos acima autorizados, essa “prova” não pode ser utilizada pelo julgador na decisão para valorar o caso, eis que 21 só se entende por “prova” fora das “exceções” aquela que foi produzida frente ao contraditório dentro do processo; Inquérito e demais peças de investigação: tidas, legalmente, por instrumento informativo, e não “probatório”. Art. 156 – GESTÃO DA PROVA O ônus da prova é de quem alega – POLÊMICA Duas posições: (1) quem quiser alegar algo que prove; (2) quem ALEGA no processo penal é o acusador. A defesa apenas se defende, estando assim a defesa desincumbida de provar fatos que alegue em seu favor (ex: homicídio praticado em “Legítima Defesa” – quem tem que PROVAR que não ocorreu a excludente é o acusador, uma vez que a Presunção de Inocência pende em favor do réu e o estado natural é o de inocência-liberdade). Jurisprudência do STJ HC 157798 / RS HABEAS CORPUS 2009/0247874-1 (adotando a premissa de que “quem alega, prova”) Produção da prova de ofício Inciso II – o juiz pode determinar a produção de provas “de ofício” quando julgar necessário – resquício do Sistema Inquisitório ou símbolo do processo de caráter público (Sistema Acusatório modelo inquisitorial)? Inciso I (POLÊMICA) – o juiz pode agora determinar a produção de provas de ofício mesmo ANTES de iniciada a Ação Penal (ex: ordenar – “de ofício” – uma Busca e Apreensão ou uma Interceptação Telefônica quando “souber” da existência de uma investigação, para já orientar a “futura” decisão sobre o processo que vai posteriormente correr sob sua jurisdição. 22 Art. 157 – PROVAS ILÍCITAS Pedro Algorta, advogado, mostrou-me o gordo expediente do assassinato de duas mulheres. O crime duplo tinha sido à faca, no final de 1982, num subúrbio de Montevidéu. A acusada, Alma Di Agosto, tinha confessado. Estava presa fazia mais de um ano; e parecia condenada a apodrecer no cárcere o resto da vida. Seguindo o costume, os policiais tinham violado e torturado a mulher. Depois de um mês de contínuas surras, tinham arrancado de Alma várias confissões. As confissões não eram muito parecidas entre si, como se ela tivesse cometido o mesmo assassinato de maneiras muito diferentes. Em cada confissão havia personagens diferentes, pitorescos fantasmas sem nome ou domicílio, porque a máquina de dar choques converte qualquer um em fecundo romancista; e em todos os casos a autora demonstrava ter a agilidade de uma atleta olímpica, os músculos de uma forçuda de parque de diversões e a destreza de uma matadora profissional. Mas o que mais surpreendia era a riqueza de detalhes: em cada confissão, a acusada descrevia com precisão milimétrica roupas, gestos, cenários, situações, objetos... Alma Di Agosto era cega. Seus vizinhos, que a conheciam e gostavam dela, estavam convencidos de que ela era culpada. - Por quê? – Perguntou o advogado. - Porque os jornais dizem. - Mas os jornais mentem – disse o advogado. - Mas o rádio também diz – explicaram os vizinhos. – E até a televisão! (Eduardo Galeano, O livro dos abraços) - Art. 157, Caput: inadmissibilidade, devendo ser desentranhadas do processo quando se tratarem de documentos ou elementos físicos. “ 23 - Parágrafos primeiro e segundo: Provas derivadas das ilícitas – admissibilidade ou não: influência da jurisprudência norte-americana As “derivadas” são aquelas provas às quais se “chegou” apenas por intermédio das provas antecedentes, que são ilícitas. É o que a doutrina (inspirada na jurisprudência da Suprema Corte dos EUA, batizou de “fruits of the poisonous tree”, ou frutos da árvore envenenada, em homenagem a um preceito bíblico – se a árvore é envenenada, seus “frutos” não podem ser bons). EXEMPLO 1: Escuta telefônica clandestina revela local onde suposta quadrilha armazena documentos comprometedores. A polícia então “descobre” o local de armazenamento de tais documentos e com isso chega a informações capazes de justificar a prisão dos suspeitos. Comentário: não haveria nenhum sentido proibir o uso processual de provas ilícitas se todas as informações obtidas a partir dessas pudessem livremente ser utilizadas. Assim, “caindo” a prova ilícita, “caem” junto aqueles demais elementos que são sua conseqüência direta. Se uma prova (ilícita) leva a descoberta de mais e melhores provas, essas igualmente não devem ser admitidas, eis que sua “existência” para o processo advém de uma prova que não pode ser tida como “existente”. As provas que guardam relação com aquela dita “ilícita”, mas cuja descoberta não possui um nexo de causalidade evidenciado para se ter elas como “conseqüência” da ilicitude das primeiras são fruto de uma “descoberta inevitável” (ou inevitable discovery) ou ainda de uma “fonte independente” (independent source). EXEMPLO 2: Se comprovadamente há várias frentes de investigação em um caso, e uma delas obtém uma informação por meio ilícito (ex: tortura de um suspeito) e outra frente obtém a mesma informação mediante uma investigação legítima e legal (ex: monitorando as atividades de um outro suspeito), essa informação não necessariamente pode gerar prova processual tida por ilícita, eis que esse elemento viria a se revelar ainda que não houvesse a ilicitude de um dos meios investigativos. - Parágrafo terceiro: decisão interlocutória não comporta recurso no Processo Penal – salvo nos casos abrigados pelo Art. 581 do CPP. Assim, a 24 decisão que pode ser recorrida é sempre aquela que julga o mérito do processo e faz uso (ou não) do arcabouço probatório do qual faz parte a suposta prova ilícita. Se precluir a decisão que considerou ilícita, pois, tudo relativo à mesma (documentos, por exemplo) será destruído em incidente que pode inclusive ser acompanhado pelas partes. - Parágrafo quarto (vetado): O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão. Bastante perspicaz e inteligente o texto previa, para maior segurança da imparcialidade da decisão, que o julgador que estivesse “contaminado” pela análise de uma prova – ainda que a tivesse julgado ilícita – não poderia proferir a decisão de mérito. Isso porque tecnicamente o juiz pode “fingir” que não tomou conhecimento de uma prova que “juridicamente” não existe, mas subjetivamente isso fica muito difícil e não há como garantir a separação anímica no momento de avaliar a causa. Uma lástima esse dispositivo ter sido vetado e acabar não ingressando na legislação. 25 1.2) PROVAS EM ESPÉCIE EXAME DE CORPO DE DELITO E DEMAIS PERÍCIAS Arts. 158 a 184 CPP De início é importante lembrar que “exame de corpo de delito” é uma categoria de prova diversa das demais perícias. Conceito de “Corpo de Delito”: é o rastro, o registro passível de análise, o resultado da prática de um delito. “Corpo” do delito. Nos delitos ditos “materiais”, que “modificam” o mundo, existe a necessidade de se ter um resultado material para que se configure o crime (ex: o cadáver em relação ao homicídio); Materialidade: é a existência do delito. Todos delitos possuem materialidade (do contrário, não existiram). Com os crimes “materiais”, a materialidade é literal, é algo, é visível. Exame de corpo de delito direito – indireto e “Corpo de Delito indireto”: CUIDADO – não confundir. O exame de Corpo de Delito geralmente é feito quanto ao próprio resultado do delito (cadáver, lesões corporais, dano). Contudo, nada impede que esse exame se realize em vestígios periféricos (ex: através de análise laboratorial de sangue nas vestes do acusado e comparando esses dados com o sangue da vítima e as condições do local do crime, pode se concluir que ele esteve com a vítima no momento da morte/sangramento e assim pode-se processá-lo pelo homicídio, ainda que não tenha o corpo de delito em si – o cadáver – sido encontrado) 26 EXAME de Corpo de Delito (seja diretamente no Corpo ou indiretamente, nos demais vestígios) é feito por PERITOS. Já o “Corpo de Delito” indireto é configurado quando, havendo a IMPOSSIBILIDADE DE SE FAZER UM EXAME, a Prova Testemunhal exerce o papel de suprir a carência. Importante: para muitos doutrinadores o “Exame de Corpo de Delito Indireto” ocorre na hipótese da suplência de sua ausência física pela prova testemunhal. Não concordamos, porque não se trata de EXAME algum(!). Assim, muita doutrina vai trabalhar com o termo “exame indireto de corpo de delito” falando da palavra de testemunhas que substitui o material/vestígio. Confissão espontânea: de acordo com o Art. 158 ela não pode suprir o Exame. (ex: não se pode ser processado nem preso por algum crime material se o resultado do delito não surgir, nem nenhum outro vestígio puder ser analisado, nem houver prova testemunhal da ocorrência); Laudo: é o nome dado à manifestação técnica fornecida pelo perito ou pelos substitutos legais. Ver. Art. 160 CPP. 27 PERITOS E EXAMES a) Os atos serão realizados por 1 (um) perito oficial (Art. 159 CPP) ou por 2 (dois) substitutos na falta de encarregado “oficial”, sendo que esses se sujeitam aos mesmos encargos judiciais dos Peritos Oficiais, inclusive quanto ao “compromisso” prestado (art. 159, parágrafos 1º e 2º do CPP). b) Os peritos podem ser submetidos à resposta de “quesitos” em seus laudos, que podem ser formulados pelo Ministério Público, pelo assistente de acusação, pelo ofendido, pelo querelante e pelo acusado (art. 159, parágrafo 3º e Art. 176 – até a diligência ser realizada); c) As partes podem nomear assistente técnico para “acompanhar” o trabalho do perito e fornecer laudo complementar. Esse assistente não presta o compromisso – eis que “trazido” pela parte ao processo e se sujeita às regras de admissão do parágrafo 4º do Art. 159. Ver também o parágrafo 6º; e) A atuação dos peritos e assistentes técnicos não se restringe à confecção dos laudos, podendo eles ser chamados para dar depoimento em audiência e mesmo responder quesitos em audiência, obedecidas as regras e a anterioridade (10 dias) dispostas na lei – para o caso dos PERITOS Artigo 159 parágrafo 5º incisos I e II Importante: seria uma forma de submeter ou procurar tentar submeter ao contraditório certos tipos de produção de provas que já se realizaram (ex: necropsias). f) IMPEDIMENTOS: Arts. 275 a 281 do CPP tratando dos impedimentos e incompatibilidades dos peritos, sem excluir os mesmos aos quais se sujeitam os juízes (Impedimento e suspeição – 252 e seguintes do CPP). MOMENTO DE PROVA Geralmente a prova pericial é realizada na fase de investigação – até pelo fato de que se destina a configurar a existência (materialidade) ou não co 28 crime (se for um crime Material, precisa de Exame de Corpo de Delito – direto ou indireto – ou de prova testemunhal que o supra). Contudo, os peritos podem ser convocados no meio do processo a realizar novas perícias ou a dar depoimentos. (É com o intuito de possibilitar a realização de nova perícia que o Art. 170 CPP dispõe sobre a conveniência de se preservar material ou mesmo dados que sirvam para novos exames – tratando das demais perícias – ver abaixo). Há, no entanto, possibilidade excepcional de as próprias partes (ou mesmo a autoridade judicial) operar em uma espécie de “simulação” de contraditório ainda antes da instauração da Ação Penal: é a do Art. 168, quando as próprias partes podem solicitar a realização de novas perícias relativas à existência ou não de Lesões Corporais: Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. § 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo. § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime (a saber: CP 129, par 1º, I : Lesão corporal de natureza grave - § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias) § 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal. NECRÓPSIA/AUTÓPSIA e EXUMAÇÃO: Autópsia, ou Necropsia é o tipo de exame verificado quando o objeto de investigação é um cadáver. Não é um simples exame, mas sim um exame interno que tem por objetivo verificar a causa mortis do corpo em questão. É realizada com pelo menos seis horas de carência desde o 29 “falecimento”, a menos que os sinais que evidenciem invariavelmente a morte do indivíduo em questão já se verifiquem com antecedência. Exumação é o nome que se dá ao exame realizado quando se é necessário desenterrar cadáver já sepultado, com o mesmo intuito (verificar a causa mortis que se encontra em caráter duvidoso). O Art. 162 exibe os casos em que excepcionalmente se pode prescindir do exame cadavérico através da autópsia: quando houver morte violenta (em que a causa mortis é evidente – EX: vítimas de uma explosão em um prédio que tem seus corpos dilacerados) ou mesmo quando houver morte relacionada a fatos irrelevantes do ponto de vista penal (EX: morte ocasionada por doença ou problema congênito – quando não há dubiedade de versões e o falecimento não é cercado de nenhuma controvérsia, ou seja, quando não há infração penal a apurar). DEMAIS PERÍCIAS: Podem ser realizadas não apenas em relação à prova ou não da existência de Corpo de Delito, mas com outros propósitos até mesmo secundários – como avaliação do valor econômico dos bens que foram produto do crime ou demais circunstâncias que ajudem a elucidar os fatos ocorridos e suas peculiaridades: - O Art. 171 se refere às hipóteses correlatas de “Furto Qualificado” (CP, Art. 155, par. 4º); - O Art. 172 se refere ao valor dos objetos e suas características. Para NUCCI (CPP Comentado..., p. 171) boas referências aqui são, por exemplo, os Arts. 155, par. 2º e 170 CP – onde importa o valor da coisa furtada para a definição do tipo penal privilegiado; - O Art. 173 parece ter clara correspondência com o Art. 250 do CP (Crime de incêndio) e suas causas de aumento de pena, que podem ser atestadas via exame pericial. PERÍCIA GRAFOTÉCNICA x “NEMO TENETUR” 30 O Artigo 174 disciplina a perícia realizada em escritos e documentos. E dispõe que o juiz pode ordenar que o acusado participe da diligência sendo obrigado a escrever de próprio punho o que lhe for ordenado para que possa servir de comparativo. Pensamos que isso não se compatibiliza com o DIREITO que o acusado tem de não fazer prova contra si mesmo e está, nos pontos em que confronta essa premissa, eivado de inconstitucionalidade o CPP. PODERES/FACULDADES DO JUIZ O julgador não está vinculado obrigatoriamente às conclusões dos peritos, podendo rejeitar os laudos no todo ou em parte (Art. 182), e pode inclusive rejeitar perícias que não sirvam em sua concepção para elucidar nada de relevante quanto ao caso (salvo no caso de Exame de Corpo de Delito – Art. 184). PROBLEMA: o “ABSOLUTISMO” das perícias médico-psicológicas: Mesmo que o julgador não precise necessariamente estar adstrito ao laudo, é inegável que, modernamente, se tenha nas perícias psicológicas ou psiquiátricas uma análise especializada que tradicionalmente tem bastante relevância como auxílio no momento da decisão. FOUCAULT (por exemplo em Os Anormais ou em O Poder Psiquiátrico – ambos editados pela Martins Fontes, São Paulo) já alertava para o fato da “psiquiatrização” dos expedientes judiciais, não com o auxílio, mas sim com uma verdadeira transferência de lógica e de função – “de julgar” – para o perito que vai praticamente estabelecer verdades, uma vez que seu parecer é tido por neutro e cientificamente verossímil. CUIDADO: se análises como essas podem, por vezes, prestar ajuda vigorosa no trato com as questões judiciais, por outras – arriscamos dizer, na maioria dos casos – acaba ocorrendo uma verdadeira “ditadura” do laudo psiquiátrico e questões repletas de subjetivismo com base em análises feitas de modo muito rápido terminam por pautar temas como progressão de regime (ainda que não haja obrigatoriedade do laudo) e imputabilidade ou não. 31 INTERROGATÓRIO DO(A) ACUSADO(A) Arts. 185 a 196 do CPP Leitura complementar sugerida: MARIA REGINA FAY DE AZAMBUJA VIOLÊNCIA SEXUAL INTRAFAMILIAR: INTERFACES COM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR, A OITIVA DA CRIANÇA E A PROVA DA MATERIALIDADE Revista dos Tribunais | vol. 852/2006 | p. 424 - 446 | Out / 2006 Doutrinas Essenciais Processo Penal | vol. 3 | p. 1055 - 1085 | Jun / 2012 | DTR\2006\676 Leituras complementares sugeridas: ADA PELLEGRINI GRINOVER O INTERROGATÓRIO COMO MEIO DE DEFESA (LEI 10.792/2003) Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 53/2005 | p. 185 - 200 | Mar - Abr / 2005 Doutrinas Essenciais Processo Penal | vol. 3 | p. 81 - 93 | Jun / 2012 | DTR\2005\179 IONILTON PEREIRA DO VALE O DIREITO AO SILÊNCIO NO INTERROGATÓRIO NO DIREITO PROCESSUAL PENAL PÁTRIO E COMPARADO Revista dos Tribunais | vol. 929/2013 | p. 419 - 458 | Mar / 2013 Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional | vol. 9/2015 | p. 305 - 343 | Ago / 2015 | DTR\2015\11053 32 Interrogatório: ato judicial que se configura em meio de defesa e fonte de prova, possibilitando ao réu apresentar diretamente ao julgador a sua versão dos fatos que lhes são imputados – AUTODEFESA POSITIVA Trata-se do único momento processual em que o acusado põe em prática uma postura ativa de defesa argumentativa sem estar representado pela fala de seu defensor técnico. Lei 10.792/03: o CPP traz (sabidamente) uma orientação inquisitorial muito forte, de maneira em que o Interrogatório do acusado era considerado meros meio e fonte de prova. A lei de 2003 alterou sensivelmente alguns dispositivos originais do CPP, para dar um tom de meio de DEFESA ao interrogatório. Inclusive foi a Lei que instituiu a obrigatoriedade da presença do Defensor do réu durante o procedimento, coisa que não estava prevista originalmente. Lei 11.719/08: nos novos ritos comuns do CPP, o interrogatório deixa de ser a primeira etapa do Procedimento após o recebimento da denúncia e passa a ser a última averiguação probatória da instrução, realizado antes dos debates orais/alegações finais em audiência (por exemplo: Art. 400 CPP); Art. 185 Qualificação x Depoimento: dá-se o nome de Qualificação à parte inicial do interrogatório, onde o réu é literalmente qualificado, identificado, como oportunidade inicial de verificar se não há nenhum engano quanto à pessoa que responde o processo. Perdeu o sentido essa qualificação, eis que dificilmente não serão feitas considerações a esse respeito uma vez que o interrogatório agora ocupa lugar no FINAL da instrução e não no INÍCIO. LOCAL DO INTERROGATÓRIO: a regra era para ser a audiência “deslocada” para o estabelecimento prisional e o deslocamento do preso uma exceção. Na prática, se inverteu tudo e a regra é o deslocamento do preso. IMPORTANTE: a Lei nº 11.900 de 2009 alterou profundamente o Art. 185 do CPP, PERMITINDO a antes inválida realização do interrogatório por videoconferência (“interrogatório on-line”). Atente-se para os dispositivos incluídos no Código desde então: 33 § 1o O interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato. (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009) § 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades: (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009) I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) § 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) § 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) § 6o A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais por sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) § 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses em que o interrogatório não se realizar na forma prevista nos §§ 1o e 2o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) § 8o Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no que couber, à realização de outros atos processuais que dependam da participação de pessoa que esteja presa, como acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou tomada de declarações do ofendido. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009 § 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompanhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) 34 Direito de entrevista: o réu deve ter assegurado o direito de encontro reservado com o seu defensor antes de ser interrogado Art. 186 Consagração do “Direito ao Silêncio” - AUTODEFESA NEGATIVA: direito de se defender “não fazendo nada” sem ser de forma alguma prejudicado por isso. Não importa em confissão nem em nenhuma “presunção”. Art. 187 Interrogatório em duas partes – regras para proceder nas perguntas a) Sobre a pessoa do acusado: parágrafo 1º b) Sobre os fatos: parágrafo 2º Súmula 522/STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa (julgamento em 25/03/2015, DJe 06/04/2015) Ou seja: negar-se a falar qualquer coisa que importa em possibilidade de auto-incriminação é direito, mas falsear quanto à identidade ou qualificação não está incluído no ‘conteúdo’ da autodefesa em interrogatório Art. 188 Participação das partes: ao final do interrogatório, as partes podem querer ver algumas dúvidas satisfeitas, ou intentar a complementação de algumas respostas. Elas sugerem ao juiz a complementação do questionário – e não passam a interrogar elas mesmas o julgador. IMPORTANTE: as partes não têm direito “Absoluto” à resposta, uma vez que o interrogatório é sobretudo um meio de DEFESA. O juiz deve estar atento para gerir tal questão, sempre protegendo o direito “ao silêncio” do acusado. Art. 189 Cotejado com o Art. 200 = a confissão é divisível e o interrogando pode assumir no todo ou em parte os fatos como verdadeiros 35 RE-INTERROGATÓRIO: possibilidade trazida pelo Art. 196. Não tem maior sentido hoje, vez em que o Interrogatório agora está localizado na audiência e é um dos últimos atos do processo. Tinha razão de ser antigamente, quando o interrogatório era realizado logo após o recebimento da denúncia, e havia grande disparidade de tempo entre sua realização e a produção probatória, podendo, inclusive acontecer de juiz diferente colher o interrogatório e as demais provas. O Art. 196 apenas evidencia a visão que o legislador de 1941 tinha do Processo Penal: o interrogatório não era visto como um meio de defesa, eis que estava à mercê da vontade do julgador, que poderia realizá-lo de novo quando julgasse conveniente. CONFISSÃO Arts. 197 a 200 CPP Confissão: ato voluntário, expresso, formal e pessoal, praticado por acusado com discernimento, onde esse assume no todo ou em parte a prática de determinados fatos que contra ele são imputados. a) Voluntário: não pode ser objeto de qualquer pressão, coação, tortura ou outro meio que vicie a manifestação de confessar; b) Expresso: não se presume confissão. Ela é sempre expressa; c) Formal: ou ela é feita pessoalmente frente ao juiz em interrogatório (momento típico da confissão) ou é tomada por termo em cartório, que será anexado aos autos. Não existe confissão informal nem impessoal; d) Pessoal: só o acusado pode confessar, pessoalmente ou por termo. Ninguém confessa por outrem nem por procurador; e) Acusado com discernimento: deve haver a certeza de que o acusado está pleno de suas faculdades mentais. Tem relação com a voluntariedade do ato; f) No todo ou em parte: pode-se confessar apenas parte das acusações, sem assumir a culpa quanto ao todo; 36 “Rainha das provas”: a confissão já foi assim tratada, principalmente durante a maior força vigorante do processo Inquisitivo medieval – sobretudo Eclesiástico – onde era conferida força máxima ao princípio da “Verdade Real” e assim se tinha no acusado o “portador” da verdade que era revelada pela confissão. Hoje, o próprio CPP afirma no seu Artigo 197 que a confissão deve estar municiada de cotejo analítico com outras provas e encadeamentos lógicos, sob pena de não se aceitá-la caso não haja qualquer compatibilidade ou concordância dela com os demais elementos. Sobretudo para que se impeça – ou tente impedir – de haver confissões por motivo de pressão ou mesmo qualquer outra intenção, por parte de uma pessoa que aparentemente não é aquela realmente culpada. SILÊNCIO DO ACUSADO: muito embora já haja até mesmo no próprio CPP menções claras ao direito do acusado de silenciar (até literalmente) quanto às acusações, as reformas do Processo Penal Brasileiro inexplicavelmente não retiraram do texto legal a segunda parte do Art. 198 que claramente OFENDE a principiologia constitucional e remonta a traços inquisitórios inaceitáveis: O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do convencimento do juiz. Confissão divisível e retratável: Art. 200 CPP Pode haver retratação da confissão, sendo essa uma faculdade do acusado. Pode haver também a divisão da mesma, sendo que o julgador também pode promovê-la: o réu pode “confessar” o todo ou parte da acusação e o controle exercido pelo julgador e sua livre apreciação das provas fornecidas pode fazer com que ele, igualmente, “aceite” a confissão no todo ou mesmo em parte. Súmula 545/STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal. (HC 318.184) 37 VÍTIMA/OFENDIDO(A) E SEU DEPOIMENTO Art. 201 CPP De acordo com a sistemática do CPP pós-2008, a nova audiência de Instrução tem por primeiro meio de prova a ser produzido as “declarações do ofendido” (Art. 400 CPP). No entanto, o CPP de 2008 decidiu por disciplinar, ao contrário dos outros meios de prova, não uma metodologia e um roteiro claros para a realização do “questionário” do Ofendido (vítima), mas dar mais ênfase a questões periféricas. Vejamos: No caput do Art. 201 diz: Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações; No parágrafo primeiro, está a possibilidade de condução coercitiva do Ofendido à audiência, eis que, salvo motivo justo, seu depoimento é essencial. Em uma tentativa um tanto quanto frustrada de inserir o Ofendido no Processo (em um intuito de talvez lhe “prestar satisfações” quanto ao andamento do feito), são previstas as possibilidades de comunicações Leitura complementar sugerida: MARCOS CÉSAR ÁLVAREZ e outros A VÍTIMA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO: UM NOVO PROTAGONISMO NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO? Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 86/2010 | p. 247 - 288 | Set - Out / 2010 | DTR\2010\716 38 (IMPORTANTE: não é intimação, eis que ele não é parte) do mesmo quanto aos atos processuais – em especial quanto às saídas do acusado da prisão (resquício vingativo?). Essas comunicações poderão ser feitas por meio de correio eletrônico (Parágrafos 2° e 3°) Parágrafo 4º: espaço reservado ao Ofendido (não bem explicitado o que é, se é um mero “lugar reservado” ou se é um espaço físico diferenciado) IMPORTANTE: parágrafo 5° - Assistência ao Ofendido às custas do Estado ou do ofensor: como? Se o sujeito AINDA não foi condenado, ele ainda não é ofensor. E mais: qual a natureza jurídica disso: é pena? (não porque não está tipificada como tal nem prevista para o delito no CP). E como se dá essa obrigatoriedade? O Estado paga e é ressarcido? O sujeito paga e é ressarcido em caso de absolvição? Um tanto quanto incoerente e mal explicitada a intenção do legislador sobre essas premissas. Parágrafo 6º - medida interessante - O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação. PROVA TESTEMUNHAL Arts. 202 a 225 CPP Leitura complementar sugerida: FELIPE DANIEL AMORIN MACHADO NULIDADE NA OITIVA DE TESTEMUNHAS: POR UMA INTERPRETAÇÃO CONFORME DO ART. 212 DO CPP Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 87/2010 | p. 165 - 187 | Nov - Dez / 2010 | DTR\2010\871 39 A prova testemunhal é tanto útil quanto perigosa: confiar na subjetividade das apreciações pessoais para ter evidência (o direito anglo-saxão costuma chamar evidences os relatos obtidos pela forma testemunhal) quanto a um fato pode ser uma “faca de dois gumes”. Diante da ausência de meios (e mesmo de tradição “técnica”) de apreciação de fatos no processo penal brasileiro, a prova testemunhal acaba por ser a mais utilizada em nosso sistema. a) REGRA GERAL: toda e qualquer pessoa pode ser testemunha; b) EXCEÇÕES: existem pessoas que não podem testemunhar e outras que “testemunham” sob determinadas condições; c) EXCEÇÕES DAS EXCEÇÕES: em alguns casos, mesmos os “proibidos de depor” podem ser ouvidos como testemunhas; IMPORTANTE: o que define a condição de testemunha ou não é a prestação do “Compromisso” ao qual alude o Art. 203 CPP. Ele configura a testemunha como auxiliar do bom andamento do processo, estando ela proibida de mentir e/ou de omitir fatos de seu conhecimento, sob pena de responsabilização criminal: Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM A PROVA TESTEMUNHAL 1) Oralidade (Art. 204 – com exceção do Art. 221, parágrafo 1º): os depoimentos são orais, salvo nos casos especiais que podem ser dipostos por escrito 40 2) Objetividade (Art. 213): sempre que possível deverá, o depoimento, se ater exclusivamente aos fatos; 3) Retrospectividade: o testemunho serve para reconstruir fatos pretéritos na (parca) medida do possível e não para apreciações ou apostas intuitivas; CLASSIFICAÇÃO DAS TESTEMUNHAS: 1) PRESENCIAL: aquela que teve contato direto com o fato 2) INDIRETA: presenciou fatos acessórios (ou mesmo “ouviu dizer”) 3) INFORMANTES: aquelas “testemunhas” que na verdade não são testemunhas por serem ouvidas sem terem prestado compromisso. Sem o respectivo compromisso são tidas como testemunhas de “grau menor”, presumivelmente parciais 4) ABONATÓRIAS: Nada sabem sobre o fato em si, mas servem para abonar a conduta pregressa do acusado (importantes, talvez, para o Art. 59 do CP) 5) “REFERIDAS”: testemunhas mencionadas por outras, sendo que são chamadas ao processo sem ter sido inicialmente arroladas (Art. 209, parágrafo 1º). MOMENTO DE ARROLAR TESTEMUNHAS No primeiro momento em que a parte se manifesta nos autos do Processo. Para a Acusação (Denúncia ou Queixa) – Art. 41 CPP Para a Defesa – na “resposta preliminar”: exemplo – Procedimento Ordinário, Art. 396 – A CPP Importante: a REGRA é a de que a testemunha arrolada seja “pertencente” ao Processo, não mais “disponível” para as partes. Excepcionalmente se pode fazer alterações (substituições), desde que não haja evidente malícia para burlar a regra do prazo para arrolamento (ex: arrolo uma testemunha que descubro ser “desfavorável” para mim, na verdade e procuro “substituí-la”. Não posso. Contudo, em virtude de enganos e de a testemunha se mostrar absolutamente ineficaz para o processo, pode ser descartada colocando- se outra no Cômputo – Art. 209, § 2º). 41 a) PESSOAS DESOBRIGADAS DE DEPOR Não são proibidas de depor. Apenas não estão obrigadas. E se depuserem não prestam compromisso (serão ouvidas como informantes conforme Art. 208) São aquelas dispostas no Art. 206: ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado. “Exceção da exceção”: se, contudo, não houver disponível outro meio de prova quanto ao fato, essas pessoas serão obrigadas a depor:...salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias (Art. 206). b) PESSOAS PROIBIDAS DE DEPOR São aquelas que não podem depor, mesmo que quisessem. São aquelas dispostas no Art. 207: as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo. (Médicos, psiquiatras, psicólogos, padres ou outros ministros religiosos, advogados e toda e qualquer pessoa que em razão de sua função exerça frente ao acusado posição de necessariamente – ou provavelmente – ter segredos para si revelados). “Exceção da exceção”: contudo, se o acusado desincumbir a testemunha de guardar o seu (eventual) segredo, e se a testemunha quiser depor, ela vai passar a estar autorizada, inclusive com compromisso (vira uma testemunha “normal”, como qualquer outra). c) PESSOAS QUE NÃO PRESTAM COMPROMISSO (sendo ouvidas sempre como informantes): 42 Conforme o Art. 208, fora os desobrigados do Art. 206, não vão prestar o compromisso em hipótese alguma os doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos. “INCOMUNICABILIDADE” Deve ser garantida, mediante novas implementadas pela modificação do Art. 210. FALSO TESTEMINHO O crime do Art. 342 e parágrafo primeiro do CP ocorre quando a testemunha faz afirmação falsa, cala ou nega a verdade. O juiz, depois de averiguada a suposta prática do tipo penal ele remete os autos à autoridade policial para o início da investigação do OUTRO crime (que não é da sua competência exclusivamente) ou mesmo diretamente ao Ministério Público (o inquérito é prescindível – Arts. 12 e 27 CPP). Parágrafo 2º do 342 CP: o crime não se configura se até a SENTENÇA a testemunha se retrata ou revela a verdade. PRODUÇÃO DA PROVA TESTEMUNHAL É feita em audiência através do sistema de indagação direta, permitindo a chamada técnica da cross examination, que significa que as próprias partes realizem os questionamentos aos depoentes. O novo Art. 212 do CPP (2008) extinguiu o sistema anterior, chamado de Presidencial: o juiz (“Presidente do ato”) era quem realizava as perguntas, após ouvir da parte o que ela gostaria de questionar à testemunha. Agora, no sistema adotado pelo nosso Código, as partes perguntam e o juiz tem uma função principal de fiscalizador da coerência, da pertinência e do eventual conteúdo tendencioso das perguntas. 43 IMPORTANTE: o sistema não é mais o Presidencial, mas o juiz ainda pode realizar perguntas diretas, conforme o Art. 212, de maneira “complementar” às perguntas realizadas pelas partes. Ou seja – o juiz não deixa de ser ator na produção da prova, mas o sistema informado pelo Código “sugere” que ele utilize esse poder como complemento, e não como meio de protagonizar a tomada do depoimento. CONTRADITA (Art. 214) Deve ocorrer sempre no instante imediatamente anterior à oitiva da testemunha: consiste no momento legalmente próprio para que se levantem aspectos impeditivos ou que tornem suspeito o testemunho (ex: algum fator não-declarado que torne a testemunha proibida de depor, ou alguma relação de suposto interesse dela em algum dos desfechos possíveis do processo, etc). É importante salientar que o Artigo da lei abre margem para uma discussão, diferenciando a contradita (quando seriam opostos a ela algum ou alguns dos aspectos constantes dos Arts. 207 e 208, tornando-a desobrigada do compromisso) e a simples argüição de suspeição ou má-fé (apenas para levantar suspeita de parcialidade no testemunho). É um ato que não comporta dilação probatória, e após a argüição ou contradita, é aberto espaço para que a testemunha confirme ou desminta as alegações, sendo que a decisão do juiz é momentânea e se fará constar dos autos. APENAS nos casos explicitamente listados nos Arts. 207 e 208 a testemunha não será compromissada, bom lembrar. “Amigo”, por exemplo, pode ser testemunha, mas pode ter contra si alegados “vícios” (Argüição). Ver jurisprudência do STJ: APn 431 / RJ AÇÃO PENAL 004/0117726 Existe, contudo, uma série de julgados que, na casuística, exibem o contrário: APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DEFENSIVO. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ART. 14, LEI 0.826/2003. PRELIMINAR. INFORMANTES. AUSÊNCIA DE COMPROMISSO. DESACOLHIMENTO. Os depoentes, amigos íntimos do réu, não prestam compromisso, sendo ouvidos como 44 informantes, por aplicação analógica do art. 228, IV, do atual Código Civil, c/c art. 3º do Código de Processo Penal (...) Apelação Crime Nº 70045532363, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 11/10/2012 VIDEOCONFERÊNCIA para a oitiva de TESTEMUNHA - (Art. 217) Possibilidade que surgiu com a reforma de 2008 do CPP. Em caso de haver fundado receio de que a presença do acusado pode causar problemas de intimidação ou constrangimento, atrapalhando a colheita do testemunho, há a opção de o réu não presenciar o depoimento. Logicamente, seu defensor deve permanecer na sala, uma vez que se está – excepcionalmente – violando um dos direitos do réu, que é o de presenciar o ato, até para qualquer efeito de autodefesa, e para que ele possa melhor orientar o defensor quanto ao que está sendo dito. EXCEÇÕES AO “MOMENTO DA PROVA” E À “ORALIDADE” A Prova Testemunhal tem seu momento disposto em lei e tem a Oralidade como um de seus princípios-chave. Porém, é preciso atentar para as exceções legais a essas regras: Art. 220 – a enfermidade ou a velhice do depoente podem fazer com que o local e outras condições do depoimento se alterem; Art. 221 e par. 1º - Algumas pessoas detentoras de alguns cargos podem prestar seu depoimento em dia e horas marcados de acordo com sua conveniência e inclusive por escrito; Art. 222 – Precatória: Quando o depoimento precisa ser colhido em outro juízo, a medida pode ser cumprida por precatória. O processo, no caso, não vai suspenso (sendo que o juízo deprecante fixa prazo razoável para que ela seja cumprida e retorne aos autos). Há quem diga que é indispensável a presença do réu no juízo deprecado para tornar efetivo seu direito à defesa, mas apesar da coerência principiológica desse argumento, o entendimento é minoritário. 45 RECONHECIMENTO DE PESSOAS E/OU COISAS Arts 226 a 228 CPP A questão desse meio probatório é complexa, uma vez que devem ser levados em conta dois fatores: a) O CPP define e estabelece regramentos pensando exclusivamente na fase policial-investigativa da colheita dessa prova, ignorando a necessidade de estabelecer uma forma precisa para a existência do “Reconhecimento” enquanto prova no processo; b) Se é “Reconhecimento...” deve obedecer a um rito para ser tido enquanto um meio legítimo de prova. Vejamos: o que ocorre é o fato de que – conforme o código, vide o parágrafo único do Art. 226 CPP – todo o formalismo e a minúcia para que se proceda ao “Reconhecimento...” na fase policial é legalmente prescindível na fase judicial. Ou seja: segundo o Código, o “Reconhecimento...” na fase judicial (processual) pode se dar sem regra alguma. O que comumente ocorre é o juiz questionar diretamente a testemunha ou a vítima se “reconhece” o réu ali presente como o autor do fato e anotar o resultado dessa indagação como meio de prova. Isso não pode ser tomado dessa maneira: para ser tido como uma verdadeira prova, o reconhecimento de uma pessoa ou coisa deve obedecer ao formulismo rígido do código, AINDA QUE NA FASE JUDICIAL, sob pena de termos não um “Reconhecimento...”, mas um simulacro. Lamentavelmente não é o entendimento majoritário das Cortes pátrias. (STJ) AgRg no Ag 972087 / SC AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 2007/0253425-6 Muitos julgadores optam por reproduzir (ou tentar reproduzir) em sala de audiência o “Reconhecimento...” de acordo com as regras do código 46 para a esfera investigativa, e promovem visualização do(s) suspeito(s) à distância, por intermédio de janelas/vidros opacos (quando há), dentre vários voluntários. Essa medida garante um mínimo de credibilidade à prática e procura evitar algum sugestionamento da parte que “reconhece” ou não o autor pelo simples apontamento dele no cara-a- cara. ACAREAÇÃO Art. 229 e seg. CPP É o ato processual que pode colocar frente à frente todas as classes de depoentes, confrontando depoimentos, declarações e opiniões contraditórias ou conflitantes. Pode ser tanto requerida pelas partes como pelo juiz, de ofício, sendo que se trata de um meio literal de dirimir dúvidas: a força dde uma prova testemunhal ou de algum outro tipo de depoimento pode ser neutralizada se, diante do depoente antagônico. Comum em CPI’s e CPMI’s, onde há, geralmente, muitos depoentes e muitas versões diversas dos fatos narrados. É um meio probatório que tem como regra a inquirição simultânea dos acareados, a fim de se procurar extrair a versão definitiva ou de se procurar descobrir qual a versão verdadeira (ou menos inverídica). IMPORTANTE: na prática – levando-se em conta os princípios do processo penal e a própria lógica do sistema, a acareação tem pouco resultado prático. Nenhum dos depoentes em tese precisa realmente “dizer a verdade” e isso compromete o ideal da acareação. RÉU: direito de não produzir prova contra si mesmo, o direito ao silêncio e a prerrogativa de não se auto-incriminar fazem com que em uma eventual acareação o réu não precise temer e possa manter sua versão dos fatos, seja ela sincera ou mentirosa; 47 VÍTIMA: comprometida com a parcialidade, seu depoimento não acarreta no processo em questão nenhum prejuízo se for tido por falsário e não há porque temer, inicialmente, penalização; TESTEMUNHA: é a única classe de depoentes que tem a obrigação legal de não falsear seu depoimento. Porém, há autores que defendem que essa necessidade não vigora no caso de o depoimento acarretar em auto-incriminação (baseando-se na doutrina e jurisprudências estadunidenses, que celebram o privilegy against self-incrimination – que defende o direito de testemunhas omitirem fatos que podem levar à sua própria incriminação, se esta não estiver em questão no processo, evidentemente). Em regra, o momento da acareação pode ser a brecha para que um testemunho eventualmente falso seja corrigido e retratado, o que EVITA a incidência do Art. 342 do CP. PROVA DOCUMENTAL Art. 231 e segs. CPP Documento é o elemento material que expressa um pensamento ou idéia, ou mesmo qualquer manifestação de vontade, pertinente para comprovar um fato juridicamente relevante. Elementos que expressam algo e que expõem conteúdo relevante e assim ingressam no processo são documentos, pois. Desde papéis contendo escritos até dados eletrônicos obtidos com o rastreamento de computadores. Não se trata apenas de escritos e declarações literais de vontade. De acordo com o Art. 232 são, entre outras coisas, “documentos”: Escritos (declarações escritas em próprio punho, mensagens, etc), Papéis (documentos impressos, tabelas, livros contábeis, etc.), “instrumentos” (qualquer outro meio de documentar algo – é a base interpretativa para se pensar nos meios ópticos e eletrônicos). Classificação 48 Os documentos podem ser PÚBLICOS (certidões, atestados, etc. Emitidos por autoridade ou órgão público) ou PARTICULARES (Anotações, textos, arquivos, todos emitidos por particular). A polêmica da Correspondência Postal (Carta): Art. 233 CPP Cartas não podem mais servir de prova documental, eis que a correspondência é sigilosa e constitucionalmente inviolável (CF: Art. 5º, inc. XII), podendo ser configurado crime de violação de correspondência (Art. 151, CP). Não se pode “interceptar” correspondência entre particulares e utilizar como documento, eis que a inviolabilidade transforma o objeto em prova ilícita (por
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