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Behaviorismo Metodológico e Behaviorismo Radical

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V Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, Campinas –1995 
BEHAVIORISMO METODOLÓGICO E BEHAVIORISMO RADICAL 
Maria Amália P.A. Andery e Tereza Maria de A.P. Sério 
PUC-SP - Laboratório de Psicologia Experimental 
 
 
A questão básica da psicologia é: por que as pessoas se comportam de uma determinada 
maneira? 
O que fazemos para responder a esta pergunta? Observamos nós mesmos. E o que vemos 
quando nos observamos? Ao observarmos nosso comportamento, percebemos que sentimos 
algo e, então, agimos. Em outras palavras, parece que um estado interno antecede nossa ação. 
Baseados em uma concepção de causa e efeito mecanicista, em que a causa antecede o efeito 
e tem com ele um contato direto, atribuímos a causa do comportamento aos estados internos. 
Para a psicologia esta concepção de causalidade coloca algumas perguntas: Onde estão estes 
estados internos? De que eles são feitos? A primeira resposta e talvez a mais aceita até hoje é 
que estes estados são eventos de uma natureza e uma dimensão distintas da natureza e das 
dimensões que compõem os fenômenos ditos físicos e que estes estados estariam situados na 
mente (vista, então, como algo que é diferente do corpo). Esta concepção deixa em aberto 
uma outra pergunta: Como um fato mental pode causar um fato físico? Na tentativa de evitar 
e superar os problemas ocasionados pelos dilemas produzidos nesta concepção é que se 
constituem as propostas para a psicologia denominadas behavioristas. O contorno dos 
problemas ou a sua superação acabam encontrando diferentes caminhos. Um deles é o que 
Skinner (1945,1974) denomina behaviorismo metodológico. 
 
BEHAVIORISMO METODOLÓGICO 
 
A abordagem behaviorista metodológica evita os problemas gerados pela dicotomia mente-
corpo, desviando-se dos estados mentais. Para fazer isto, limita-se a tratar os fatos que podem 
ser objetivamente observados. Nas palavras de Skinner (1974), este behaviorismo emita-se (...) 
"a considerar aqueles fatos que podem ser objetivamente observados no comportamento de 
uma pessoa em relação a sua história ambiental anterior". Para fundamentar esta posição o 
behaviorismo metodológico baseia-se em duas concepções de filosofia da ciência difundidas 
no início do século XX: o positivo lógico e o operacionismo. Tais concepções propunham que se 
dois observadores não podem concordar acerca do que ocorre no mundo da mente, então: os 
acontecimentos mentais são inobserváveis e sobre eles não pode haver verdade por acordo. E, 
por isto, o exame dos fatos mentais deve ser abandonado pela ciência. Deve ser considerada, 
em seu lugar, a maneira pela qual eles são estudados. Por exemplo: em vez de se estudar a 
inteligência em si mesma (correndo o risco, devido a sua inacessibilidade à observação direta, 
de atribuir a ela características fictícias), estuda-se os testes que a medem, a maneira pela qual 
inteligência é identificada e medida. Aparentemente esta proposta foi bem sucedida: ela 
parece evitar os problemas da dicotomia mente-corpo e não precisa recorrer à introspecção 
como única alternativa de acesso aos fenômenos psicológicos. Entretanto, o que efetivamente 
ocorre é a reafirmação do dualismo, uma vez que, o behaviorismo metodológico, ao afirmar 
que os fatos mentais não podem ser objeto de estudo científico porque não podem ser 
observados por observadores externos, reafirma a existência de fatos mentais como diferentes 
fenômenos corporais (físicos). 
 
BEHAVIORISMO RADICAL 
 
O termo foi usado, em 1945, por Skinner, para contrapor-se ao que denominou, então, de 
behaviorismo meramente metodológico. A proposta de Skinner de um behaviorismo radical 
tinha como objetivo superar o dualismo que, segundo ele, marcava o behaviorismo 
metodológico. 
Nas palavras de Skinner, "O Behaviorismo radical restaura um certo de equilíbrio": não nega a 
possibilidade de auto conhecimento e não nega a introspecção. E, ao mesmo tempo, não 
descarta a importância dos eventos externos. A restauração deste equilíbrio exige uma 
concepção na qual se rejeita o critério de verdade por acordo público. Em seu lugar, é 
assumido como critério de avaliação do conhecimento a possibilidade de intervenção dele 
decorrente. Desta forma, é possível lidar com os eventos privados; a eles não é negado o 
estatuto de objeto de estudo da ciência: o behaviorismo radical não considera os eventos 
privados como inobserváveis e não os descarta por serem subjetivos. Entretanto, o 
behaviorismo radical questiona a natureza destes eventos privados. Em primeiro lugar, os 
eventos privados não são de outra dimensão: o que é sentido é o próprio corpo e não um 
mundo não físico, não material, um mundo mental. Em segundo lugar, o que é sentido não é a 
causa do comportamento: a causa está sempre na história genética e ambiental; tanto o 
comportamento como os estados internos que o acompanham são produtos desta história. 
Esta concepção prescinde das noções mecanicista e teleológica de causalidade. A elas opõe-se 
uma noção de causalidade baseada no modelo de seleção por conseqüências. A explicação do 
comportamento se dá por meio do papel seletivo das conseqüências por ele produzidas. A 
compreensão desta relação comportamento-consequência ambiental selecionadora implica a 
consideração de três histórias: a história da espécie, a história do indivíduo e a história da 
cultura.

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