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Representações Sociais

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Representações sociais - 
A TEORIA DO SENSO COMUM
A Psicologia Social não podia fechar-se numa torre de marfim, alheia às questões colocadas pela sociedade (Moscovici, 1973).
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A teoria da Representação social é conhecida como “teoria do senso comum” baseando-se nas construções sociais do cotidiano.
O conceito de representação social tem origem na França, em 1961, pelas mãos de Serge Moscovici em sua pesquisa La psychanalyse – Son image et son public realizada com a sociedade francesa. 
Moscovici tem como referência básica o sociólogo Durkheim,- representação coletiva em 1897, para se referir às características do pensamento social e distingui-las das do pensamento individual.
“Um homem que não pensasse por meio de conceitos não seria um homem; pois não seria um ser social, reduzido apenas aos objetos da percepção individual, seria indistinto e animal. “ (Durkheim, 1912, p. 626)
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Partiu de Dürkheim (1912) a identificação desses objetos como produções mentais sociais, extraídos de um estudo sobre a ideação coletiva: Dürkheim (1912), investigando as práticas religiosas das tribos de primitivas em sociedades australianas, acabou desenvolvendo a tese de que a religião faz parte da natureza fundamental do homem e que essa prática social reflete representações coletivas - fenômenos que mantêm laços entre os membros de uma sociedade através das gerações (As formas elementares da vida religiosa) - elabora o conceito de “representações coletivas” .
 Moscovici renova esse conceito em 1961 - chama atenção para a singularidade desses fenômenos nas sociedades contemporâneas, configuradas por mobilidades sociais, desenvolvimento científico, intenso ritmo de trocas e comunicações. As representações sociais vão além de representações coletivas referentes à designação de conhecimentos e crenças, indicadas por Dürkheim. 
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Moscovici supera o reducionismo sociológico e incorpora mecanismos sócio-cognitivos. Propõe a substituição do adjetivo coletivo (Durkheim) pelo adjetivo social para:
descartar a oposição individual versus coletivo;
contrapor a homogeneidade implícita nas representações coletivas à diversidade e pluralidade das representações no contexto histórico-social de uma sociedade complexa e aberta; 
enfatizar a comunicação que possibilita fazer algo individual tornar-se social.
Moscovici (1961) rompe o tradicional pensamento da Psicologia, para quem a noção de sujeito era dissociada do contexto social. 
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O sentido atribuído a um dado objeto e o processo mesmo da atribuição desse sentido não são aspectos a serem estudados isoladamente, na medida em que ambos são construções psicossociais do homem, uma ação que envolve integração de história pessoal à dos grupos com os quais interage, quer direta ou indiretamente. Portanto, um processo que requer a articulação do particular e do social de forma indissociável. 
Explicar o conceito de representação social não se trata de tarefa simples - posição mista, na encruzilhada de uma série de conceitos sociológicos e psicológicos.
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Múltiplas definições e principais teóricos- MOSCOVICI, JODELET, ABRIC, CELSO PEREIRA SÁ
Moscovici: a teoria das Representações Sociais implica a consideração de aspectos individuais e coletivos do conhecimento social, ou seja, o sujeito se constitui nas relações sociais e esse fato ocorre através da linguagem.
“Por representação social, entendemos um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum.” (Moscovici, 1981; s/p.)
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Denise Jodelet: É uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada que tem uma dimensão prática e que concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. As representações sociais são fenômenos sempre ativados e em (re)construção na vida social. O estudo de tais fenômenos possibilita o desvelamento de diversos elementos que, tantas vezes, foram estudados isoladamente: (...) informativos, cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões, imagens etc. 
Jean-Claude Abric : A representação não é, portanto, um simples reflexo da realidade ; ela é uma organização significante. A representação funciona como um sistema de interpretação de realidade que rege as relações dos indivíduos com o seu ambiente físico e social, determinando seus comportamentos ou suas práticas.
 
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O homem precisa ajustar-se ao mundo em que vive para adequar-se a ele, no que se refere ao comportamento e sobrevivência. Isso implica uma busca contínua de informações sobre esse mundo – instrumentalizam o indivíduo para o convívio em sociedade. 
Em decorrência dessa realidade criamos representações - a existência humana não transcorre em um vazio social: compartilhamos um mundo povoado de objetos, acontecimentos e pessoas, portanto, um viver marcado tanto pela convergência quanto pelo conflito. Precisamos compreender o mundo em que vivemos e nele sobreviver, quer administrando-o, quer enfrentando-o. Através delas, nomeamos, definimos e interpretamos diferentes aspectos da realidade diária.
Nossas decisões são tomadas em conformidade com as representações sociais que elaboramos ao longo da vida. O modo pelo qual surgem essas representações está relacionado à construção de significados que vão se configurando sobre os dados os quais dispomos. 
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REPRESENTAÇÃO SOCIAL
Resumidamente, a representação é uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, que tem um objetivo prático e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Tem como funções: constituição de um saber comum; orientação das condutas e dos comportamentos e constituição e fortalecimento da identidade.
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A importância da RS é que ele serve para se agir sobre o mundo e sobre os outros. É uma “representação para a ação” - remodela e reconstitui os elementos do meio ambiente em que o comportamento deve ter lugar. 
Ela consegue incutir um sentido ao comportamento, integrá-lo numa rede de relações em que está vinculado ao seu objeto, fornecendo ao mesmo tempo as noções, as teorias e os fundos de observação que tornam essas relações estáveis e eficazes. 
Abric (1994) tem afirmado que as representações são sociais pois têm origem dentro de grupos numa determinada cultura, em indivíduos que ocupam diferentes posições sociais, imersos em relações sociais e práticas específicas a seu grupo. Tais variáveis marcam os tipos de representação realizadas e os comportamentos delas decorrentes. 
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Quatro funções essenciais às representações sociais segundo Abric: 
1) Funções de saber: elas permitem compreender e explicar a realidade. Saber prático do senso comum, elas permitem aos atores sociais adquirir conhecimentos e integrá-los a um quadro assimilável e compreensível para eles, em coerência com seu funcionamento cognitivo e os valores aos quais aderem. Por outro lado, elas facilitam – e são mesmo condição necessária para a comunicação social. Elas definem o quadro de referência comum que permite a troca social, a transmissão desse saber ingênuo.
2) Funções identitárias: elas definem a identidade e permitem a salvaguarda da especificidade dos grupos. (...) “As representações têm também por função situar os indivíduos e os grupos no campo social [permitindo] a elaboração de uma identidade social e pessoal gratificante, ou seja, compatível com sistemas de normas e de valores social e historicamente determinados.” (...) A referência às representações como definido a identidade de um grupo vai por outro lado desempenhar um papel importante no controle social exercido pela coletividade sobre cada um de seus membros, em particular nos processos de socialização. 
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3) Funções de orientação: elas guiam os comportamentos e as práticas.
A representação intervém diretamente na definição da finalidade da situação, determinando assim a priori o tipo de relações pertinentes para o sujeito (...). A representação produz igualmente um sistema de antecipações e de expectativas, constituindo portanto uma ação sobre a realidade: seleção e filtragem de informações, interpretações visando tornar essa realidade conforme à representação. (...) refletindo a natureza das regras e dos laços sociais, a representação é prescritiva de comportamentos ou de práticas obrigatórias. Ela define o que é lícito, tolerável ou inaceitável em um dado contexto social. 
4) Funções justificatórias: elas permitem justificar a posteriori as tomadas de posição e os comportamentos. (...) a montante da ação as representações desempenham um papel. Mas elas intervém também na ação, permitindo assim aos atores explicar e justificar suas condutas em uma situação ou em relação aos seus participantes. 
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Segundo Moscovici (1984), “desde que possamos falar sobre alguma coisa, avaliá-la e assim comunicá-la, (...) então podemos representar o não usual em nosso mundo usual, reproduzi-lo como a réplica de um modelo familiar.” 
Moscovici considera que “para compreender o fenômeno das representações sociais devemos começar do começo, perguntando: “Por que criamos as representações?”. 
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R: O propósito de todas as representações é o de “transformar algo não familiar, ou a própria não familiaridade, em familiar”. E, em termos mais globais e implicativos: 
“No todo, a dinâmica dos relacionamentos é uma dinâmica de familiarização, onde objetos, indivíduos e eventos são percebidos e compreendidos em relação a encontros ou paradigmas prévios. Como resultado, a memória prevalece sobre a dedução, o passado sobre o presente, a resposta sobre o estímulo, as imagens sobre a realidade.” (Moscovici, 1984) 
É por meio das representações sociais que os sujeitos são orientados e organizam os comportamentos, intervindo nos comportamentos coletivo e individual, nas transformações sociais e na definição das identidades pessoal e social. 
 
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ANCORAGEM E OBJETIVAÇÃO 
Existem dois processos formadores das representações sociais: ancoragem e objetivação.
Ancoragem: consiste na integração cognitiva do objeto representado – sejam idéias, acontecimentos, pessoas, relações, etc. – a um sistema de pensamento social preexistente e nas transformações implicadas .
Moscovici, define: ancorar é classificar e denominar: coisas que não são classificadas nem denominadas são estranhas, não existem e ao mesmo tempo ameaçadoras (in Sá, 1998, p. 38). Ancorar é encaixar o não familiar via processo de classificação. O processo de ancoramento cria um certo conforto ao sujeito na aceitação do estranho, do diferente.
 Decodificar o “novo”, o “ameaçador” é ação básica do sujeito perante o mesmo. 
Exemplo: o lugar social que os sujeitos dominantes, na sociedade brasileira – os de origem européia – colocam o negro. Como ameaça ao poder o negro é colocado – ancorado – na posição de “marginal”. 
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Objetivação: consiste em uma “operação imaginante e estruturante”, pela qual se dá uma “forma” – ou figura – específica ao conhecimento acerca do objeto, tornando concreto, quase tangível, o conceito abstrato, “materializando a palavra.Para Moscovici, objetivar é reproduzir um conceito em uma imagem..
 Moscovici também apresenta como a coisificação – a conversão de idéias em coisa localizadas fora da mentalidade individual .
Objetivação constitui um processo de concretização para a realidade. A imagem torna-se concreta, física, cópia da realidade concebida. 
Exemplo: imagem de Deus (abstrato) codificada em Pai (concreto).
Esses dois processos são visualizados pelos pesquisadores como base na construção, pelo sujeito, das representações sociais.  
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UNIVERSO CONSENSUAL X UNIVERSO REITERADO
Moscovici parte da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar, guiadas por objetivos diferentes, formas que são móveis: a consensual e a científica, cada uma gerando seu próprio universo. A diferença não significa hierarquia nem isolamento entre elas, apenas propósitos diversos.
 Universo consensual: se constitui principalmente na conversação informal, na vida cotidiana;
Universo reificado se cristaliza no espaço científico, com seus cânones de linguagem e sua hierarquia interna. 
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As representações sociais constroem-se mais freqüentemente na esfera consensual, embora as duas esferas não sejam totalmente estanques. 
No universo consensual aparentemente não há fronteiras, todos podem falar de tudo, enquanto no reificado só falam os especialistas. Seríamos todos sábios amadores, capazes de opinar sobre qualquer assunto numa mesa de bar, diferentemente do que ocorre nos meios científicos, nos quais a especialidade determina quem pode falar sobre o quê.
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PARA PENSAR...
“ As teorias do senso comum, são menos elaboradas ou menos válidas do que as dos cientistas e peritos?”
“ O fato é que as teorias do senso comum são plausíveis e satisfazem o intelecto do mesmo modo que as científicas, embora formadas de acordo com outros métodos e respondendo a preocupações diferentes...a prática médica despreza essas teorias ou representações sociais: suas investigações não respondem aos mesmo interesses de conhecimentos. Em suma, elas procuram soluções para problemas que os cientistas não tratam. É porque desprezam essas teorias que tantas campanhas inspiradas pela medicina fracassam, ao passo que os saberes paramédicos florescem. Alertam para a ignorância do público e constata-se a ignorância dos especialistas...não devemos denegri-la como popular, pré-científica, pois, longe de ser uma pura e simples imagem desprovida de função, ela tem um papel essencial, ajudando a determinar o gênero de argumentos e explicações que aceitamos.” ( Moscovici no prefácio do livro Loucuras e Representações Sociais de Jodelet)
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 O que Moscovici avança, com esta sistematização, é uma reabilitação do senso comum, do saber popular, do conhecimento do cotidiano, o conhecimento.pré-teórico.

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