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3a. Aula de Ciência Política - Nascimento e Extinção do Estado + Separação de Poder e Constitucionalismo

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 FACULDADE DE DIREITO
Profª Bernadete Bacellar do Carmo Mercier 
Ciência Política
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 FACULDADE DE DIREITO
Profª Bernadete Bacellar do Carmo Mercier 
Ciência Política
3ª Aula de Ciência Política
Nascimento e Extinção do Estado
NASCIMENTO E EXTINÇÃO DO ESTADO
	
	Dalmo Dallari afirma que tal estudo implica em duas espécies de indagação: a época e o motivo do aparecimento do Estado. 
 
	Estado (do latim status= estar firme) – denominação “significando situação permanente de convivência, ligada à sociedade política” – expressão que aparece pela 1ª vez na obra “O Príncipe”. Assim o nome “Estado”, indicando sociedade política, aparece apenas no sec. XVI.
Teorias quanto à época de seu aparecimento:	
a) Diz que sempre existiu o Estado mesmo com outros nomes – acredita que desde que o homem vive sobre a terra acha-se integrado a alguma organização social, dotada de Poder e autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo.
b) Acredita que a sociedade humana existiu primeiramente sem o Estado – durante um certo tempo – e depois por razões diversas – foi constituído para atender às necessidades e conveniências dos grupos sociais. (maioria dos autores).
c) Afirma que a existência do Estado somente é admitida quando a sociedade política é dotada de certas características muito bem definidas – só admitem seu aparecimento no séc. XVII. 
Modos de sua formação:
Formação originária: o Estado se forma partindo de agrupamento humano, de indivíduos ainda não integrados. Dois grandes grupos: formação natural e formação contratual. Entre as não contratuais várias teorias quanto a causa: origem familiar ou patriarcal, origem pela força ou conquista, origem em causas econômicas ou patrimoniais.
Formação Derivada: a formação de novos Estados a partir de outros (fracionamento ou união)
	Sahid Maluf pondera que é necessária a concorrência dos elementos constitutivos do Estado, que para ele são: população, território e governo, que nós vamos considerar: povo, território, finalidades (ou fins) e poder soberano (ou poder ou soberania).
	Apenas precisamos conhecer como esses elementos se reúnem ou de que forma nasce o Estado. Ou seja, por qual ato formal? 
	Os estudiosos indicam que teriam surgido originariamente em decorrência da evolução das sociedades humanas, emergindo no seio das comunidades primitivas, que caminharam paulatinamente até a instauração de forma política específica. E mesmo antes do aparecimento do Estado como conhecemos certamente já havia regras comportamentais ditadas intuitiva e instintivamente.
	 Estados primitivos se extinguiram e novos Estados surgiram sobrepondo-se aos primeiros. E com o desaparecimento do Estado não implica necessariamente o desaparecimento dos agrupamentos étnicos, esses podem conservar-se, mantendo sua continuidade histórica, como, por exemplo, a comunidade romana que sobreviveu às invasões bárbaras, ou a comunidade judaica depois de destruída Jerusalém, ou seja, desaparecem os Estados e permanecem as Nações.
	Segundo a escola filosófica denominada orgânica o Estado nasce, vive e morre, a qual compara o Estado com a vida orgânica. Contudo, o Estado não morre por completar um ciclo orgânico, aliás tem como pressuposto jurídico a continuidade.
	Um dos fatores que levam o Estado à extinção (ou morte) está em sua estrutura. Se apóia-se na força, gera naturalmente a resistência e o desejo de sua morte, se ao contrário sua estrutura sujeita-as às mutações próprias da evolução tende a persistir. 
	
	
1. NASCIMENTO 
Como dito há formas diversas de se combinar os elementos do Estado e assim explicar o surgimento do Estado. 
São três os modos de nascimento dos Estados: 
 Originário
 Confederação
 Federação
		 União União pessoal
 União real
Modos de
Nascimento Secundário
dos Estados (desaparece o 
 Estado anterior)
 
 Nacional
 Divisão Sucessoral
 
 Colonização
		 Derivados	 Concessão dos direitos de soberania
		 	 Ato de Governo
A) Modo Originário -, nasce do próprio meio nacional – em via de regra é homogêneo, possui vínculos de raça, língua, religião, usos, costumes, sentimentos e aspirações – não depende de qualquer fator externo - grupo humano, estabelecido em determinado território, que paulatinamente se organiza (socialmente), e a seu governo (administrativamente), estabelecendo como ordem política e jurídica em face de outros agrupamentos (independência), para atingir a determinados anseios comuns (fins).
	Geralmente os Estados primitivos eram formados desse modo. No mundo moderno o Estado se forma por novas circunstâncias, como por exemplo: necessidade de autonomia econômica e política; divergências de raças, índoles e aspirações ou, ao contrário, coligações de povos unidos pela identidade de raça ou por um forte laço de interesse comum; por influência dissolvente de uma guerra ou por imposição de um inimigo vencedor, ou combinações políticas das grandes potências. 
B) Modo Secundário - pela união ou divisão de Estados.
Pela União: Confederação, Federação, União Pessoal e União Real.
Confederação: união convencional de Estados por interesses comuns em questões estratégicas, econômicas e militares (defesa). Exemplos: em tempos antigos: as confederações Gregas. Mais recentemente os EUA (1776- 1787) e atualmente foi formada a Confederação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI – Rússia, Ucrânia e Bielorrúsia + outras nove repúblicas ex-integrantes da extinta URSS), mas não é um Estado único. 
Federação: união nacional perpétua e indissolúvel de províncias para formar uma só pessoa de direito público internacional. Ex. Argentina, Alemanha, etc.
						
União Pessoal: governo de dois ou mais países por um monarca – É uma união de natureza precária e transitória, decorrente de direitos sucessórios ou convencionais, predominantemente nas monarquias, onde por vezes um só rei governava dois ou mais países. Exemplo: Alemanha e Espanha – Rei Carlos V; Inglaterra e Hanover – Rei George I, etc. 
União Real: união efetiva, em caráter permanente, de dois ou mais países que se juntam para formar um único Estado – uma só pessoa de direito público internacional. Exemplo: Áustria e Hungria (1867-1918); 
Pela Divisão: Nacional e Sucessoral.
Divisão nacional: determinada região ou província integrante de um Estado obtém sua independência formando um novo Estado na ordem mundial. Exemplo: separação dos países baixos em 1830; depois da 2ª guerra verificou divisão da Alemanha por conveniência ou imposição dos vencedores.
Divisão sucessoral: típica do Estado Medieval - divisão do Estado pelo Monarca entre seus parentes e sucessores – posto que considerava sua propriedade. Surgindo reinos menores autônomos. Hoje inexistente. 
C) Modos Derivados - surge em decorrência de movimentos e fatores externos: Colonização, Concessão dos Direitos de Soberania e Ato de Governo.
Colonização (ou Descolonização): motivada pela necessidade de exploração de novas terras pelos Estados então desenvolvidos - colonizavam terras que se transformam em Estados livres posteriormente. Exemplo: o Brasil oriundo da colonização Portuguesa. Nasce um Estado novo, mas subsiste o Colonizador. 
Concessão dos Direitosde Soberania: outorga dos direitos de autodeterminação pelos Monarcas, especialmente na Idade Média, aos seus principados, ducados, condados, etc., Freqüente na Idade Média. Em tempos atuais (1922), podemos citar a Irlanda que progressivamente caminhou para sua completa independência por concessões feitas pelo governo inglês.
Ato de Governo: pela simples vontade de um conquistador ou de um governante absoluto. Exemplo: Napoleão criou vários Estados por mera liberalidade – independentemente dos anseios dos governados. 
2- DESENVOLVIMENTO E DECLÍNIO - O Estado se desenvolve progressivamente, fortalecendo sua ordem social, jurídica e econômica.
	Seu eventual declínio se dá com a corrupção de costumes, a perda (ou amortecimento) da consciência cívica, da perversão da justiça, relaxamento do sistema educacional, etc. Inicia-se seu enfraquecimento. Podendo se tornar presa fácil para conquistadores estrangeiros. Se não consegue reagir e se restabelecer, pode vir a sofrer um colapso geral e morte. Ex. Império Romano, Império de Carlos Magno (coroado pelo Papa Leão III), etc .
3- EXTINÇÃO – Pode ser dar por causas gerais ou específicas.
 Causas Gerais (desaparecer um dos ele-
					 mentos/União ou Divisão). 	
 - Conquista 
Extinção dos Estados Causas Específicas - Emigração 
 - Expulsão
- Renúncia aos Direitos de Soberania
Gerais - Ocorre o desaparecimento de um Estado sempre que faltar qualquer um de seus elementos. 
Também pela Divisão ou União de Estados, que ensejam a formação de novas entidades estatais e determinam de desaparecimento do Estado que se uniu ou daquele que se dividiu em outros.
Especiais:
Pela Conquista: invadido por forças estrangeiras – quando desorganizado, enfraquecido, sem amparo de órgãos internacionais, ou quando forças estrangeiras fomentam um movimento separatista. Ex. Polônia (1772, 1793 e na 1ª Guerra).
Emigração: abandono do território pela população nacional por acontecimentos imprevistos. 
 
Expulsão: quando a força conquistadora ocupa totalmente o território invadido e obriga o povo vencido a se deslocar para outro lugar. Ex. Invasões Bárbaras. 
Renúncia aos Direitos de Soberania: desaparecimento espontâneo - uma comunidade renuncia pacificamente seus direitos de autodeterminação (soberania) em benefício de outro Estado, formando um novo e maior. Ex. Unidades Feudais com prerrogativas de Estado da Idade Média e passaram a integrar a Monarquia Francesa; o Estado do Texas que proclamou sua independência do Mexido para depois se incorporar aos Estados Unidos (quando ainda Federação).
TEORIAS QUE JUSTIFICAM AS TRANSFORMAÇÔES DOS ESTADOS, SEU RECONHECIMENTO E SUA ACEITAÇÂO: 
	A criação ou supressão de um Estado pressupõem sua aprovação pelos outros Estados, para que a sociedade internacional de Estados reconheça esse fato político, harmonizando-o com o princípio da coexistência pacífica de soberanias, com paridade jurídica, a Política Internacional vem, no decorrer da Historia, adotando as seguintes teorias:
 
Princípio das nacionalidades (1851): Os grupos nacionais (nação) devem cada um formar seu Estado, ou seja, a cada nacionalidade deverá corresponder uma composição política autônoma. Teoria já usada para o bem e para o mal. Ex. bem-separação da Holanda e Bélgica (1830);mal – criação da URSS que subjugou pequenas nações; 
Teoria das fronteiras naturais: alegava que a nação deveria ter seu território delimitado pelos acidentes geográficos naturais, mas não assegurava harmonia nas relações internacionais em razão de diversas disputas de fronteiras.
Teoria do equilíbrio internacional: foi formulada visando o equilíbrio europeu chamada também de Teoria da paz armada, pois parte do princípio de que a paz decorre do equilíbrio que se possa estabelecer entre as forças das várias potências. Não condiz com os ideais democráticos e anseios de Justiça da maior parte das nações, como também não impediu que a Europa mergulhasse em guerras (1914-18 e 1939-45).
Teoria do livre-arbítrio dos povos: semelhante ao Princípio das Nacionalidades, pois defende a vontade nacional como razão da existência do Estado. Advinda com o Estado Liberal do séc. XVIII, defende a plena liberdade de autodeterminação dos povos. Muitos conflitos mundiais foram solucionados com essa teoria. (unificação da Itália, integração da Grécia, etc.). É expressão dos ideais democráticos. Se negado, resultará, ou mais cedo ou mais tarde, em reação do povo oprimido (Ex. a extinção da URSS). 
Constitucionalismo e Separação do Poder (Montesquieu) – Por Dalmo de Abreu Dallari�
CONSTITUCIONALISMO
	
 Apesar de haver indícios nos povos da antiguidade, considerados por alguns autores como origem do Constitucionalismo (nos povos: hebreus, grego e egípcio), pode-se considerar que o mesmo começou a nascer em 1215 – quando os barões da Inglaterra obrigaram o Rei João Sem Terra a assinar a Carta Magna, jurando obedecê-la e aceitando a limitação de seus poderes. 
Muitos séculos se passaram (final da Idade Média, com Estado Medieval, como também início dos Tempos Modernos, com o Absolutismo Monárquico e começo do Estado Liberal) para que ocorressem avanços, o que se deu na Inglaterra com a Revolução Inglesa (1640 a 1689) que consagra a supremacia do Parlamento como órgão Legislativo. 
Mas apenas no séc. XVIII se determinou o verdadeiro aparecimento das Constituições, com suas características fundamentais, em razão da conjugação de diversos fatores: 
-a influência dos contratualistas os quais (com as idéias do jusnaturalismo – contrato social deve trazer benefícios ao indivíduo) afirmam a superioridade do indivíduo que é dotado de direitos inalienáveis, que devem ser protegidos pelo Estado; 
-a luta contra o absolutismo monárquico com os movimentos que defendem a limitação dos poderes dos governantes;
- o Iluminismo (racionalistas), a razão refletindo nas relações políticas, exigindo a racionalização do poder. 
Nascendo o Constitucionalismo para afirmar (objetivo):
- afirmar a supremacia do indivíduo – com a necessidade de limitar o poder dos governantes.
- a busca da racionalização do poder.
	A ideia de democracia como a de constituição se originou na França, embora a 1ªConstituição tenha sido a do Estado de Virgínia (Declaração de Independência dos Estados Unidos – 1776) e a primeira posta em prática a de 1787 também dos Estados Unidos da América, foi a francesa de 1789/1791 que maior repercussão causou. 
	O Constitucionalismo teve quase sempre um caráter revolucionário, posto que limitava o poder dos Monarcas contra sua vontade, e quando esses cediam era por força da enorme pressão exercida, especialmente pela burguesia. Por essa razão se preferiu as Constituições escritas, que definiram melhor as condições políticas, tornando difícil algum retrocesso. 
O Constitucionalismo foi impulsionado pelos mesmos objetivos básicos, mas teve características diversificadas conforme as circunstâncias de cada Estado. Sendo a doutrina econômica predominante da época o liberalismo, e o Constitucionalismo, como defendia os direitos e liberdades individuais, configurou também o liberalismo político. 
 
O Conceito de Constituição permite distinguir um sentido material e formal.
 	No Aspecto Material – que compreende sua própria substância – é a expressão de valores de convivência de seu povo e deve conter: 
as tarefas estatais e sua atribuição a diversos órgãos ou detentores do poder (sem concentração de poder); 
mecanismo de cooperação entre os diversos detentores do poder – prevendo a distribuição e limitação recíproca; 
mecanismo para solução de conflitos entre os detentores do poder; 
mecanismo para adaptação das mudanças sociais e políticas (de reforma constitucional); 
 previsão de direitos individuais, das liberdades fundamentais, e sua proteçãocontra a interferência dos detentores do poder estatal.
 	No Aspecto Formal entende-se a lei fundamental de um povo, superior, suprema, que não pode ser desobedecida. 
Ambos os aspectos são importantes para averiguar a autenticidade da CONSTITUIÇÃO, pois há constituições que não atendem ao aspecto formal, apenas ao material. 
Conjugando-se ambos os aspectos decorre a conclusão que o titular do poder constituinte é sempre o povo, pois é ele quem dita os valores fundamentais, que por sua vez vão informar os comportamentos sociais queridos por ele. 
A Constituição que reflete a vontade apenas de um indivíduo ou de um grupo, que não reflete os valores e as aspirações do povo que está vinculada é ilegítima. 
Porém a Constituição que nasceu entre outras coisas para limitar o poder do Estado e mantê-lo afastado das relações particulares e individuais, hoje, cada vez mais se exige do Estado sua participação, mais ampla e intensa, na vida social, sem, contudo, deixar de proteger os direitos fundamentais individuais. Sendo para tanto, indispensável que o Estado seja Democrático, que imponha a lei fruto da vontade do povo porque feita por seus representantes, que ele próprio (Estado) atenda em sua atuação a vontade popular. 
Portanto, também, não está superada a necessidade de se preservar a supremacia Constitucional, com padrão jurídico fundamental que não pode ser contrariada por qualquer outra norma do sistema, uma vez que carrega em seu corpo os princípios e as normas mais importantes, as quais não podem ser desrespeitadas, condicionando todo o sistema jurídico e, conseqüentemente, o exercício do Poder, uma vez que todo ato tem que estar de conformidade com ela. 
SEPARAÇÃO DO PODER
	Montesquieu ao conceber sua teoria da separação dos poderes o fez com o intuito de assegurar a liberdade dos indivíduos, para garantir que quem faça as leis não as execute, evitando a concentração de poder e a tirania. Buscava o enfraquecimento do Estado, sua não interferência na vida social, a não ser como vigilante e mantenedor da vida social estabelecida pelos próprios indivíduos.
 	No séc. XIX essa doutrina se converteu num dogma para evitar o aparecimento de governos absolutos, e tal teoria passou a objetivar também o aumento da eficiência do Estado, por distribuir entre órgãos especializados as principais funções do Estado.
Há críticas na denominação: divisão de poderes ou separação de poderes, uma vez que o poder soberano do Estado é uno, como já visto, e apesar de suas principais funções serem exercidas por órgãos distintos sua unidade não se quebra. 
Já na antiguidade Aristóteles considerava necessário haver essa Separação, uma vez que para ele era injusto e perigoso atribuir a um só indivíduo o exercício do poder, mencionando também a impossibilidade de um só homem prever tudo (breve menção sobre a falta de eficiência na concentração de poder). 
Porém a concepção moderna de Separação de Poder não busca em Aristóteles sua inspiração, tendo sido construída gradativamente, de acordo com o a evolução do Estado e em função dos grandes conflitos político-sociais.
Já na passagem do Estado Medieval para o Absolutismo Monárquico (séc. XVI), Maquiavel, menciona que na França já existia o parlamento como legislativo, o rei como executivo e um judiciário independente, o que ele achava conveniente, pois para ele evitava que o Rei tivesse que intervir nas disputas e ser desagradável com quem perdesse. 
 	No séc. XVII, Locke também já sintetiza a doutrina da Separação de Poder, que separava em quatro funções distinta exercidas por dois órgãos: Legislativa pelo parlamento, a Executiva exercida pelo Rei que ele dividida em duas funções, ela propriamente dita e outra denominada federativa (questões tratadas fora do Estado – guerras, tratados, alianças, etc) e quarta função também exercida pelo Rei, que definia como sendo o poder de fazer o bem público. 
	Mas somente com Montesquieu a teoria foi concebida como um sistema que conjugava um legislativo, um executivo e um judiciário. Harmônicos e independentes entre si, configuração essa que apareceu praticamente na maioria das Constituições. Em sua obra “O Espírito das Leis” afirmada a existência de funções intrinsecamente diversas e inconfundíveis, dizendo que seria conveniente que cada função fosse exercida por órgãos distintos. Porém não se preocupou com a eficiência do Estado, mesmo porque não atribui ao Executivo praticamente nenhuma função (acreditando que os indivíduos cumpririam a lei por si sós e o Estado só puniria os transgressores), uma vez tinha como preocupação maior o enfraquecimento do Estado, como já referido.
	Na Declaração de Direito da Virgina, 1776, consta a separação de poder em executivo e legislativo, com um judiciário totalmente separado. E na Constituição de 1787, dizia que se não houvesse separação de poder se constituiria uma tirania. 
	Na França em 1789, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, condiciona a existência da própria Constituição à previsão de separação de poder (ou poderes).
 	Assim essa Teoria consiste em atribuir as principais funções do Estado a órgãos diferentes, independentes e harmônicos, evitando a concentração de Poder. Essa preocupação se refletiu em todo o movimento constitucionalista, e esse sistema de separação de poder foi associado à idéia de Estado Democrático, o que deu origem a uma construção doutrinária conhecida como sistema de freios e contrapesos. 
	Essa teoria divide os atos estatais em duas categorias:
Atos Gerais – só praticados pelo P. Legislativo que emite normas gerais e abstratas. (não sabemos quando ou a quem vai atingir). O Legislativo não atua concretamente na vida social somente possibilita que o poder executivo o faça.
e
Atos Especiais – praticados pelo P. Executivo que atua nos casos concretos - estão limitados pelos atos gerais praticados pelo Legislativo. 
Ação Fiscalizadora do Poder Judiciário – em caso de exorbitância – obrigando-os a manter-se nos limites de sua competência. 
Críticas ao Sistema:
	Porém, sempre houve uma interpenetração, onde um órgão pratica o que a rigor seria do outro. 
	E outro ponto importante que sua previsão nas constituições é que não foi suficiente para garantir a liberdade do indivíduo e a democracia nos Estados. A Sociedade totalmente injusta nascida do Liberalismo foi construída à sombra da separação de poder. E mesmo as leis sendo criadas pelo Legislativo muitas vezes ele não representou o povo e assim também não garantiu o caráter democrático. 
	E por fim, atualmente cada vez mais se exige que Estado participe de maneira mais ampla e intensa, sendo cada vez mais solicitado a agir, ampliando sua esfera de ação, o que também impõe a necessidade de um maior número de diplomas legais com maior especificação técnica. Assim, o Legislativo não consegue editar regras gerais sem conhecer o que o Executivo fez ou está fazendo, e os seus meios de atuação. Por outro lado o Executivo não pode aguardar esse processo mais lento de elaboração legislativa, para atender as necessidades da população. Ficando incompatível com o modelo de separação de poder. 
FORMAS DE GOVERNO – Por Dalmo de Abreu Dallari�
Regime de Governo - Estrutura Global da realidade política - complexo institucional e ideológico. Determina a forma de aquisição e exercício do poder. Democrático ou Autocrático. 
Forma de Estado – diz respeito à estrutura da organização política (divisão de poder com relação ao território). Federativo (Federal) ou Unitário. 
Sistema de Governo – trata das relações entre as instituições políticas (P.Legislativo e Executivo). Parlamentarista ou Presidencialista (ou Diretoral).
Forma de Governo - maneira como se institui o poder e se relacionam governantes e governados. Monarquia ou República
	
	Dalmo de Abreu Dallari
	José Afonso da Silva�
	Regime de Governo
	“estrutura global da realidade políticacom todo seu complexo institucional e ideológico.”
	“Complexo estrutural de princípios e forças políticas que configuram determinada concepção do Estado e da sociedade, e que inspiram seu ordenamento jurídico.” “Configura a estrutura global da realidade política com todo o seu complexo institucional e ideológico." Determina a forma de aquisição e exercício do poder.
Cita Jorge Xifras: “conceito amplo que se baseia numa semelhança de ideologia e instituições, envolvendo sistema de governo (presidencialismo, parlamentarismo, etc.), forma de Estado (unitário e federal) e de governo (república e monarquia), mostrando a síntese integradora das instituições das forças e das idéias que operam numa sociedade.” (Autocrático ou Democrático)
	Forma de Estado
	diz respeito à estrutura da organização política.
	“o modo de exercício do poder político em função do território.” (Unitário e Federal).
	Sistema de Governo
	Trata das relações entre as instituições políticas. 
	“o modo que se relacionam os poderes, especialmente o Legislativo e o Executivo.” tb a composição do Executivo (Parlamentarista, Presidencialista e Diretoral).
	Forma de Governo
	Estuda os órgãos do Governo através de sua estrutura fundamental e da maneira como estão relacionados. 
	“Maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e como se dá a relação entre governantes e governados.” (República ou Monarquia)
Forma de Governo
	Em razão da diversidade de Estados com suas múltiplas peculiaridades, sua classificação se faz em termos gerais, identificando-se as características básicas encontradas em grande número de Estados.
Porém, só se procuram características em formas normais de governo, que decorrem da evolução natural dos fenômenos políticos.
	Não se leva em consideração as formas anormais de governo, ou seja, aquelas que advêm de regimes de força, que são totalitarismos ou ditaduras de homens e de grupos, porque essas impedem a expansão natural das vocações políticas (impedem suas escolhas e aspirações). Esses se identificam apenas como tirania, despotismo, totalitarismo ou ditadura (dependendo da época e lugar).
Aristóteles. Classificação mais antiga – em razão do número de governantes. Três espécies. 
Realeza ou Monarquia – um só indivíduo governa
Aristocracia – governo de um grupo. – governo de alguns.
Democracia - República – governo de todos. 
Para ele essas formas de governo podem sofrer degeneração – quando quem governa deixar de se orientar pelo interesse geral e passa governa segundo seu próprio interesse ou conveniências, e assim as formas puras se transformam em impuras: 
Realeza (monarquia) em tirania.
Aristocracia em oligarquia.
Democracia (República) em demagogia. 
Maquiavel (Discursos sobre a 1ª Década de Tito Lívio). Sustenta que há ciclos de governos. 
Ponto de partida - um estado anárquico – início da vida humana sociedade – onde se escolhia para líder o mais robusto e valoroso.
Depois de algumas escolhas não eram suficientes para um bom chefe – deram preferência ao justo e sensato. 
Essa monarquia eletiva transformou-se em hereditária.
Porém os herdeiros começaram a degenerar e surgiu a tirania;
Para coibi-los quem tinha mais riqueza e nobreza instaurou a aristocracia, orientada pelo bem comum.
Entretanto os descendentes dos governantes aristocratas – que não haviam sofrido os males da tirania – não estavam preocupados com o bem comum – utilizaram o governo para seu próprio proveito, e converteram a aristocracia em oligarquia.
O povo não aguentando mais a oligarquia e não querendo a volta da tirania, decidiu governar-se por si mesmo, surgindo um governo democrático. 
 Mas sofrendo também um processo degenerativo, onde cada um passou a utilizar em proveito próprio a condição de participante no governo, gerou a anarquia, voltando ao estágio original. 
Ele acreditava que a única maneira de evitar degenerações quebrando ciclo era a conjugação da monarquia, da aristocracia e da democracia. 
Mas em “O Príncipe” ele afirma que “Os Estados e Soberanias que tiveram e têm autoridade sobre os homens foram e são ou repúblicas ou principados”. Os governos aristocráticos (povos da Antiguidade) já não eram admitidos, consagrando-se a república e a monarquia, como formas de governo possíveis no Estado Moderno.
Montesquieu. Aponta três formas de governo: Republicano, Monárquico, e Despótico. 
Republicano – aquele que o povo como um todo ou uma parcela dele possui o poder soberano.
Monárquico – aquele que só um governa, de acordo com leis fixas e estabelecidas. 
Despótico – um só governa, sem obedecer às leis e regras – obedecendo somente sua vontade e interesses. 
	Assim: Monarquia e República são as formas fundamentais de governo.
Monarquia. Já foi adotada por quase todos os Estados do mundo. Com o passar do tempo foi sendo enfraquecida e abandonada. A partir do século XVIII surgiram as Monarquias Constitucionais, onde o Rei continua governando mais com as limitações jurídicas impostas pela Constituição. 
 Depois com a adoção do parlamentarismo (sistema de governo) pelas Monarquias, o Rei permanece apenas como Chefe de Estado e não mais de Governo que passa a ser exercido por um Gabinete de Ministros, tendo somente a atribuição de representação especialmente perante os demais Estados. 
Tem como principais características: a Vitaliciedade (governa enquanto viver ou tiver condições de continuar governando), Hereditariedade (escolha do monarca pela sucessão hereditária) e Irresponsabilidade (o monarca não tem responsabilidade política não deve explicações ao povo ou a qualquer órgão de seus atos).
A favor: o Monarca está acima de disputas políticas. É um fator unidade do Estado. Assegura a estabilidade das instituições e recebe desde o nascimento educação especial para governar.
Contra: é uma inutilidade dispendiosa que sacrifica o povo. A estabilidade das instituições não pode depender de um fator pessoal, e sim da ordem jurídica. Apesar de educação especial já houve inúmeros exemplos de monarcas desprovidos de qualidades, ineficientes e sem liderança. E é essencialmente antidemocrático. E por isso a Monarquia vai perdendo adeptos e desaparecendo como forma de governo.
República. Opõe-se a Monarquia, tem um sentido próximo ao significado da democracia, pois da mesma forma indica a participação do povo no governo. 
Como já visto, a idéia republicana nasceu com a luta contra o absolutismo monárquico e pela afirmação da soberania popular. A verificação dos males da monarquia e a exigência da participação do povo no governo foi dando ensejo ao surgimento da república, mais do que uma forma de governo, símbolo de todas as reivindicações populares (porque era a expressão democrática de governo, era a limitação do poder dos governantes e a atribuição de responsabilidade política, o que assegurava a liberdade individual).
A partir do séc. XX, pelas transformações econômicas e depois em razão das guerras (1ª e 2ª mundiais), iniciou a liquidação das monarquias. Atualmente não há qualquer movimento monarquista significativo.
 	Características: Temporariedade (Chefe do Governo cumpre um mandato por tempo limitado – prazo previamente determinado – com proibição de reeleição sucessivas), Eletividade (o Chefe do Governo é eleito pelo povo – não se admite sucessão hereditária) e Responsabilidade (O Chefe do Governo é politicamente responsável – tem o dever de prestar contas de seus atos).
Em toda República (também nas Monarquias Constitucionais) é instituída a Tripartição do Poder. E da relação entre o Executivo e o Legislativo vai se determinar o Sistema de Governo (presidencialista e parlamentarista).
Questões para responder em classe:
1- Quais são os modos de nascimento do Estado?
2- E de Extinção?
3- Indique e explique as Teorias Justificam o Nascimento e a Extinção dos Estados.
4- Quais fatores determinaram o aparecimento do Constitucionalismo?O pretendia assegurar?
5- Quais os aspectos que se pode distinguir ao conceituar Constituição? Porque são importantes? Quais as principais funções da Constituição?
6- O que podemos notar hoje no que se refere a participação do Estado na vida social? Isso retira a necessidade da proteção dos direitos fundamentais individuais? E a necessidade de preservar a supremacia da Constituição de cada país diminui? 
7- Qual o primeiro objetivo da teoria da Separação do Poder? E após o séc. XIX que objetivo pode ser acrescido?
8- Em que consiste tal teoria? Como divide os atos estatais?
9- Defina: Regime de Governo, Forma de Estado, Sistema de Governo e
Forma de Governo.
10- Como era a classificação de Aristóteles para as formas de governos? E o que ele considerava como formas impuras?
11 - Como Maquiavel concebia as formas de governos?
12 - Como Montesquieu classificou as formas de governos?
13 - Quais as principais características da Monarquia? E da República?
� Elementos de Teoria Geral do Estado – tópicos iniciados nas págs.198 e 216
� Elementos de Teoria Geral do Estado – pág. 224 e segs.
� Curso de Direito Constitucional Positivo – pág: 98, 102,124.
 
 		ANO LETIVO 2017

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