Buscar

007 Direitos de Personalidade

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Direitos da Personalidade no CC/2002: análise à luz da teoria dos direitos fundamentais
Anderson Araújo de Medeiros
1
A Constituição e o Direito Civil
A Mudança de Paradigma (Século XX) -
Reconhecimento da força normativa da Constituição:
- constitucionalização do direito civil;
- aplicação das normas constitucionais nas relações privadas (eficácia horizontal dos direitos fundamentais)
- interpretação do Código Civil à luz da Constituição (dimensão objetiva dos direitos fundamentais)
 
2
A Constituição e o Direito Civil
3
Os Direitos de Personalidade
Direitos de personalidade são direitos que visam o desenvolvimento e a expansão da individualidade física e espiritual da pessoa humana. Há vários pontos em comum com a dignidade da pessoa humana. 
Exemplos:
- Proteção à integridade física e moral
- Proteção à intimidade e à privacidade
- Proteção à imagem e à honra
- Proteção ao nome
4
Proteção à Integridade Física
CF: Art. 5, inc. III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
Código Civil:
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
5
Proteção à Integridade Física
Casos:
STF - HC 71373-4: Condução do réu “debaixo de vara” para realização de exame de DNA – “violação ao direito de locomoção da parte”
Caso do bafômetro
Caso Pedrinho (o problema da ponta de cigarro)
6
Proteção à Integridade Física
Casos:
STF - HC 71373-4: Condução do réu “debaixo de vara” para realização de exame de DNA: impossibilidade.
Súmula 301 do STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade. (SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 18.10.2004, DJ 22.11.2004 p. 425)
7
Caso do Bafômetro
8
“Não há obrigatoriedade de algum indivíduo submeter-se ao teste de bafômetro, pois apresenta-se como direito público subjetivo a não-realização de provas contra si, ou seja, auto-incriminação, consubstanciado no art. 5º, incisos LV, LVII e LXIII, da CF/88, representando uma limitação ao Poder Estatal, inclusive quanto à persecução penal” (TRF 4).
Código de Trânsito Brasileiro:
Art. 277. Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado.
§ 2o No caso de recusa do condutor à realização dos testes, exames e da perícia previstos no caput deste artigo, a infração poderá ser caracterizada mediante a obtenção de outras provas em direito admitidas pelo agente de trânsito acerca dos notórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor, resultantes do consumo de álcool ou entorpecentes, apresentados pelo condutor. (acrescentado pela Lei 11.275/2006).
9
TRANSEXUAL
Inversão da identidade psicossocial, levando a uma neurose reacional obsessivo-compulsiva, manifestada pelo desejo de reversão sexual integral.
Adequação do sexo morfológico ao psicológico.
Direito da personalidade à integridade psíquica.
Resolução CFM 1955/2010: diagnóstico, maior de 21 anos e sem características físicas inapropriadas.
DIREITO AO NOME
Desenvolvimento da personalidade = identidade pessoal, individualização na sociedade e inserção em família (reconhecimento a partir do registro).
Art. 16 CC: todos têm direito ao prenome + sobrenome
Lei 6.015/73: preferencialmente, sobrenome da mãe e do pai. Prenome de livre escolha dos pais, vedada a exposição ao ridículo.
Alteração – 1º ano da maioridade, mantendo nomes de família (art. 56).
Tribunais acatam alterações em outros casos, mesmo fora desse prazo.
Art. 17 veda uso sem autorização, em publicação/representação que exponha ao desprezo público, mesmo sem intenção (indenização – art. 12).
Titular pode autorizar uso TRANSITÓRIO para fins comerciais. Sem autorização, impossível o uso (art. 18), mesmo sem conteúdo difamatório.
EXEMPLOS DE NOMES PASSÍVEIS DE ALTERAÇÃO
ESPARADRAPO CLEMENTE DE SÁ
HIMINEU CASAMENTICIO DAS DORES CONJUGAIS
LYNYLDES CARAPUNFADA DORES FÍGADO
PLACENTA MARICÓRNIA DA LETRA PI
AGRÍCOLA DA TERRA FONSECA
É possível suprimir o sobrenome de um dos pais?
REGISTRO CIVIL. NOME DE FAMÍLIA. SUPRESSÃO (...). AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. INADMISSIBILIDADE. 2. As regras que relativizam o princípio da imutabilidade dos registros públicos não contemplam a possibilidade de exclusão do patronímico paterno (...). Art. 56 da Lei 6.015/73. 3. O art. 1.565, §1º, do CC/02 em nenhum momento autoriza a supressão ou substituição do sobrenome dos nubentes. Apenas faculta a qualquer das partes o acréscimo do sobrenome do outro cônjuge aos seus (RESP 1189158/SP; 3ª Turma STJ; Relatora: Nancy ANDRIGHI; julgamento em 14/12/2010. Disponível em: HTTP://www.stj.jus.br).
DIREITO À IMAGEM
Figura, representação, retrato ou imagem física, podendo-se proibir sua reprodução em representações plásticas (figura, semelhança ou aparência).
Em regra, só titular autoriza difusão ou exige que cesse a reprodução.
Regra geral (art. 19): cabe indenização quando uso da imagem atingir honra, boa fama ou respeitabilidade, ou tiver fins comerciais.
Imagem de pessoa morta – legitimidade processual dos herdeiros.
Não se confunde com fama e honra, mas pode haver intimidade ou honra envolvida. Art. 5º, V, da CF “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.
Proteção à Intimidade e à Privacidade
CF: Art. 5, inc.X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Código Civil: Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
15
Proteção à Intimidade e à Privacidade
Casos:
Caso do detector de mentiras (TST)
Caso do monitoramento de e-mail no ambiente de trabalho (TST)
16
Proteção à Intimidade e à Privacidade
Caso do detector de mentiras (American Airlines):
“a inserção da empregada no ambiente do trabalho não lhe retira os direitos da personalidade, dos quais o direito à intimidade constitui uma espécie. (...) o uso dopolígrafo por parte da recorrente apresenta-se como ilegal e ao permitir essa lógica do mercado de aviação, é dizer, essa política equivocada de gerenciamento, estaríamos reduzindo a importância do Direito do Trabalho brasileiro e a força normativa de seus princípios, restringindo o trabalhador à condição de objeto” (TRT – SP).
“é dever da companhia aérea proteger seus passageiros e que a submissão de seus funcionários ao teste de mentira se revela “medida preventiva de segurança, visando o bem-estar da comunidade, o que por si só já justificaria o procedimento” (TST).
 
17
Proteção à Intimidade e à Privacidade
Monitoramento do e-mail em ambiente de trabalho:
Caso HSBC – Decisão do TST
18
PROVA ILÍCITA. “E-MAIL” CORPORATIVO. JUSTA CAUSA. DIVULGAÇÃO DE MATERIAL PORNOGRÁFICO.  Os sacrossantos direitos do cidadão à privacidade e ao sigilo de correspondência, constitucionalmente assegurados, concernem à comunicação estritamente pessoal, ainda que virtual (“e-mail” particular). Assim, apenas o e-mail pessoal
ou particular do empregado, socorrendo-se de provedor próprio, desfruta da proteção constitucional e legal de inviolabilidade. Solução diversa impõe-se em se tratando do chamado “e-mail” corporativo, instrumento de comunicação virtual mediante o qual o empregado louva-se de terminal de computador e de provedor da empresa, bem assim do próprio endereço eletrônico que lhe é disponibilizado igualmente pela empresa. Destina-se este a que nele trafeguem mensagens de cunho estritamente profissional ((TST – 1ª Turma – RR 00613-2000-013-10-00 – Rel. Ministro João Oreste Dalazen – DJ 10/06/2005)
Determinado homem foi denunciado por ter, supostamente, participado da conhecida “chacina da Candelária” (ocorrida em 1993 no Rio de Janeiro).
Ao final do processo, ele foi absolvido.
Anos após a absolvição, a rede Globo de televisão realizou um programa chamado “Linha Direta”, no qual contou como ocorreu a “chacina da Candelária” e apontou o nome desse homem como uma das pessoas envolvidas nos crimes e que foi absolvido.
Existe o chamado “direito ao esquecimento”????
O indivíduo ingressou, então, com ação de indenização, argumentando que sua exposição no programa, para milhões de telespectadores, em rede nacional, reacendeu na comunidade onde reside a imagem de que ele seria um assassino, violando seu direito à paz, anonimato e privacidade pessoal. Alegou, inclusive, que foi obrigado a abandonar a comunidade em que morava para preservar sua segurança e a de seus familiares.
Qual a posição do STJ?
Liberdade de expressão e imprensa X Direito a honra e a imagem
TESES CONTRÁRIAS:
a) o acolhimento do chamado direito ao esquecimento constituiria um atentado à liberdade de expressão e de imprensa;
b) o direito de fazer desaparecer as informações que retratam uma pessoa significa perda da própria história, o que vale dizer que o direito ao esquecimento afronta o direito à memória de toda a sociedade;
c) o direito ao esquecimento teria o condão de fazer desaparecer registros sobre crimes e criminosos perversos, que entraram para a história social, policial e judiciária, informações de inegável interesse público;
d) é absurdo imaginar que uma informação que é lícita se torne ilícita pelo simples fato de que já passou muito tempo desde a sua ocorrência;
e) quando alguém se insere em um fato de interesse coletivo, mitiga-se a proteção à intimidade e privacidade em benefício do interesse público.
Como conciliar, então, o direito ao esquecimento com o direito à informação?
Deve-se analisar se existe um interesse público atual na divulgação daquela informação.
Se ainda persistir, não há que se falar em direito ao esquecimento, sendo lícita a publicidade daquela notícia. É o caso, por exemplo, de “crimes genuinamente históricos, quando a narrativa desvinculada dos envolvidos se fizer impraticável” (Min. Luis Felipe Salomão).
Por outro lado, se não houver interesse público atual, a pessoa poderá exercer seu direito ao esquecimento, devendo ser impedidas notícias sobre o fato que já ficou no passado.
Em março de 2013, na VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, foi aprovado um enunciado defendendo a existência do direito ao esquecimento como uma expressão da dignidade da pessoa humana. 
Veja:
Enunciado 531: “A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento.”
CASO ANA PAULA ARÓSIO!
Como assevera o Min. Gilmar Ferreira Mendes:
“Se a pessoa deixou de atrair notoriedade, desaparecendo o interesse público em torno dela, merece ser deixada de lado, como desejar. Isso é tanto mais verdade com relação, por exemplo, a quem já cumpriu pena criminal e que precisa reajustar-se à sociedade. Ele há de ter o direito a não ver repassados ao público os fatos que o levaram à penitenciária (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 1ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 374).
No Brasil, o direito ao esquecimento possui assento constitucional e legal, considerando que é uma consequência do direito à vida privada (privacidade), intimidade e honra, assegurados pela CF/88 (art. 5º, X) e pelo CC/02 (art. 21).
Alguns autores também afirmam que o direito ao esquecimento é uma decorrência da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88).

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais