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Objetivo 1: Micobactérias - características Objetivo 2: Hanseníase e Tuberculose – patogênese Objetivo 3: Manifestações clínicas - descrever MICOBACTÉRIAS Gênero que compartilha muitas características comuns com os gêneros Corynebacterium e Actinomyces, como: produção de ácidos graxos de cadeia longa ramificados (raros, os ácidos micólicos), e o conteúdo genômico de bases Guanina-Citosina. Considera-se que seja um intermediário entre as eubactérias e os actinomicetos; Mais de 160 espécies conhecidas = maioria saprófica de solo e apenas algumas espécies são patogênicas ao homem; Merecem destaque: M. tuberculosis, M. bovis e M. africanum (todas causam tuberculose); M. leprae = causa a hanseníase; De forma geral: crescimento lento (semanas para formar colônias visíveis em meio sintético); M. leprae = única não cultivada em ambiente laboratorial; Propriedades gerais Aeróbias restritas; Fracamente Gram+; Pequenos e em forma de bastão; Não possuem flagelos; Não formam esporos; Não produzem toxinas; Não possuem cápsula; Parede celular = faz com que sejam diferentes das demais bactérias; Quantidade e de lipídeos complexos presentes no envelope, destacam-se entre as propriedades exclusivas do gênero; Intracelulares = infectam e proliferam-se dentro dos macrófagos; Crescimento: pode ser dividido em lento, moderado e rápido, variando entre as espécies; Velocidade de crescimento varia com a temperatura: Crescimento em temperaturas inferiores a 37ºC: geralmente causam infecções cutâneas (pele apresenta temperatura inferior às regiões mais profundas) = M. leprae; Retenção de fucsina básica pela parede celular: característica que distingue as micobactérias das outras bactérias. Mesmo na presença de álcool e ácido = confere a elas a designação de álcool-ácido resistentes (BAAR); Bactérias BAAR positivas reterão fucsina, corando-se em vermelho. Negativas não retêm, coram-se em azul, portanto (devido ao azul de metileno após a lavagem com álcool e ácido). Somente as micobactérias não são descoradas; Infecções por micobactérias geralmente são acompanhadas por hipersensibilidade do tipo tardia, envolvendo imunidade mediada por células; Administração intradérmica de tuberculina: é uma proteína de baixo peso molecular produzida pelo M. tuberculosis. Quando purificada, recebe a designação de PPD (purified protein derivative). É utilizada em testes dermatológicos de reatividade para diagnosticar exposição prévia ao bacilo e infecção latente, e para monitoramento epidemiológico; Parede celular Estrutura extremamente singular; Peptídeoglicano contém ácido N-glicolilmurâmico, ao invés de N-acetilmurâmico (mais comum nas outras bactérias); Cerca de 60% da parede celular é composta de lipídeos: ácidos graxos de cadeia longa incomuns, com 60 a 90 átomos de carbono = são os ácidos micólicos. Covalentemente ligados ao polissacarídeo que compõe a parede celular, denominado arabinogalactano, que, por sua vez, se liga ao peptideoglicano através de pontes fosfodiéster; A parede celular também possui alguns tipos de lipídeos livres (apresentam epítopos passíveis de reconhecimento pelo hospedeiro), não covalentemente associados a este esqueleto basal (complexo arabinogalactano-peptídeoglicano) e algumas proteínas; Gradiente de fluidez da parede celular micobacteriana: regiões externas mais fluidas que as internas (ao contrário da maioria das outras bactérias); Proteínas de membranas formam canais catiônicos seletivos chamados porinas, controlando ou retardando a difusão de pequenas moléculas hidrofílicas = confere baixa permeabilidade da parede celular a solutos hidrofílicos = presentes em baixa concentração na parede; M. tuberculosis possui um das paredes mais permeáveis a agentes antimicrobianos hidrofílicos, enquanto outras espécies são mais resistentes às drogas com esta propriedade; Tal parede singular permite que o micro-organismo sobreviva dentro de macrófagos, que normalmente aniquilam patógenos fagocitados. Facilita também a agregação bacteriana = dificulta então a realização de contagens e cultivos desses patógenos; Relativamente resistentes à dessecação, álcali e desinfetantes químicos = dificulta a prevenção da sua transmissão. TUBERCULOSE Conhecida como peste branca; Principal causadora de mortes no final do século XIX e início do século XX; Principal causadora de mortes em adultos no mundo por um único agente infeccioso; Cerca de 1 bilhão de pessoas já morreram por causa da tuberculose; Já infectava a 70 mil anos atrás e acompanhou as migrações; Conhecida como tísica nos tempos de Hipócrates; Escrófula, uma forma da doença manifestada nos gânglios linfáticos do pescoço, descrita nos tempos medievais; Doenã de Pott ou deformidade de Gibbous = forma destrutiva da tuberculose que induz deformidades da espinha, causando paralisia dos membros; Robert Koch, 1982, apresentou em Berlin o isolamento e cultivo a partir de tubérculos macerados = M. tuberculosis identificado como agente etiológico da tuberculose = bacilo de Koch; II GM: descoberta da estreptomicina, isoniazida e ácido para-amino—alicílico na década de 50 = reduziram consideravelmente a mortalidade; Etambutol, pirazinamida e rifampicina = por causa de amostras resistentes, surgiram essas drogas; 1927: primeira aplicação de BCG no Brasil; 1940: grande redução das mortes; 1973: implantação da BCG intradérmica = passou a ser obrigatória a partir de 1976 em menores de 1 ano de idade; 3 anos mais tarde: tratamento de curta duração - 6 meses – baseado em rifampicina, isoniazida e pirazinamida. A doença Principal forma de transmissão: partículas infectantes; Tuberculose ativa: tosse como inflamação pulmonar crônica = principal mecanismo de disseminação; Podem permanecer em suspensão no ar por algumas horas = altamente contagiosa; Partículas com 1 a 10 bacilos são suficientes para causar a infecção; Na maioria das pessoas: bacilos inalados são fagocitados por macrófagos alveolares, podendo seguir 2 caminhos: são eliminados ou se multiplicam no interior dos macrófagos, em lesões localizadas chamadas tubérculos = normalmente, de 2 a 6 semanas após a infecção, ocorre o estabelecimento de imunidade mediada por linfócitos T, seguida de infiltração de macrófagos ativados na lesão, resultando na eliminação de maior parte da carga bacilar e no término da infecção primária, normalmente não há presença de sintomas; Evidência de infecção: teste de tuberculina ou lesão calcificada (em alguns casos) diagnosticada através de raios-X; Bacilo pode apresentar coexistência pacífica com seu hospedeiro humano na forma de uma infecção quiescente ou dormente = forma grande reservatório bacteriano em indivíduos infectados; Pessoas com infecção latente = 5% de risco de desenvolverem tuberculose ativa após o primeiro ano e 10% ao longo da vida; Muitos bacilos são eliminados = fagócitos infiltrantes e células do parênquima pulmonar também são = produzem uma necrose sólido-esponjosa (granuloma ou complexo de Gohn), onde alguns bacilos podem se refugiar = se houver predomínio da resposta imune do hospedeiro, a lesão pode ser contida, restando apenas cicatrizes residuais no pulmão; Caso predomine a reação de necrose, pode atingir um brônquio, ocorrendo a formação de uma cavidade no pulmão = muitos bacilos podem se disseminar para o meio através de tosse e hemoptises (escarro com sangue arterial) = cerca de 15% dos pacientes apresentam tuberculose extrapulmonar, causada pela evolução do granuloma devido ao crescimento bacteriano excessivo, que atinge a corrente sanguínea, disseminando os bacilos por várias partes do corpo = é a tuberculose miliar (ocorre com frequência na pleura, lifonodos, fígado, baço, ossos e articulações, coração, cérebro, sistema geniturinário, meninges, peritônio e pele); Sintomas do processo inflamatório/patológico: enfraquecimento, febre, perda de peso, sudorese noturna, dor no peito, insuficiência respiratória, tosse (com ou sem produção de escarro); Quando ocorre rompimento de vaso sanguíneo na tuberculosepulmonar: hemoptise. Mycobacterium tuberculosis Principal agente etiológico da tuberculose no homem; 0,3 a 0,6 micrômetros de diâmetro; 1,0 a 4,0 micrômetros de comprimento; Patógeno intracelular de macrófagos; Infecção preferencialmente no sistema pulmonar; Ação regulada pelo sistema imune do hospedeiro; Quase sempre condicionado ao estado de dormência; Tempo de geração: aprox. 24h; Formação de colônias com superfície seca e rugosa = 3 a 4 semanas para verificar o crescimento em placa; M. tuberculosis H37Rv é a mais bem caracterizada desse grupo, seu cromossomo circular possui 4.411.532 pares de base = Guanina + Citosina de aprox. 65,9%; Proteínas que poderiam atuar como FV: fosfolipases C, lipases e esterases = podem atacar membranas celulares ou vacuolares, assim como algumas proteases; Uma das fosfolipases está relacionada com a persistência do bacilo no ambiente fagossômico, que é limitado em nutrientes. Sistema imunológico humano na tuberculose A resposta imunológica do hospedeiro, no caso das micobactérias, está associada a danos teciduais, devido a formação de granulomas e necrose; M. tuberculosis infecta primeiro os macrófagos, residem dentro dos vacúolos (fagossomos); Os bacilos apresentam tempo de replicação muito curto > o que leva a ativação de macrófagos a partir de citocinas pré-inflamatórias: IL-6, IL12 e TNF; INF-gama derivado das células NK, para conter ou inibir o crescimento bacteriano; 2 semanas depois: grande redução da replicação bacteriana; Grande redução da carga bacteriana hepática e no baço; Bacilos entram em estado não replicativo de persistência (equilíbrio entre a persistência do patógeno e a resposta imune do hospedeiro) = estado de dormência; Dormência e reativação do Mycobacterium tuberculosis Tuberculose latente = estado de quiescência no tecido infectado; Redução no metabolismo bacteriano, decorrente da ação da resposta imune, mas não erradica a infecção; A forma latente não se caracteriza como uma doença infecciosa = sem risco para a saúde pública; Condições imunossupressivas comprometem a eficácia do sistema imune, permitindo a reativação do bacilo até então dormente = o indivíduo desenvolve a tuberculose ativa = pode ocorrer muitas décadas após a infecção; A tuberculose pode induzir o desenvolvimento da AIDS em pacientes HIV positivos pela produção de citocinas estimulatórias e redução do número de células T CD4+ no organismo; O diagnóstico de tuberculose entre pacientes HIV+ tornou-se mais difícil devido a fatores como: falsos negativos nos testes de tuberculina, achados atípicos em raios-X torácicos de tuberculose pulmonar, quadro pulmonar com esfregaço de escarro negativo para BAAR, tuberculose extrapulmonar; Em pacientes HIV positivos infectados por tuberculose resistente a múltiplas drogas ou Multidrug-Resistant Tuberculosis (MDR-TB), os índices de mortalidade frequentemente superam 80%, com intervalo entre o diagnóstico e a morte variando entre 4 a 16 semanas = MDR-TB é considerada a mais maligna infecção oportunista associada a infecção por HIV; MDR-TB = resistente a isoniazida e rifampicina; XDR = extensivamente resistente, já encontrada nos EUA e também resiste às drogas de segunda linha; Diagnóstico Teste e tuberculina (PPD): identifica infecção recente ou latente. Conhecido como teste de Mantoux, consiste na injeção intradérmica de 0,1 ml de tuberculina na face anterior do antebraço. Positivo se o paciente desenvolver uma área endurecida de pelo menos 5 mm de diâmetro no local da injeção após 48 horas. A BCG tem reatividade ao PPD, fazendo com que a utilização e a confiabilidade deste teste diminuam com o aumento do número de crianças vacinadas; Esfregaço de escarro para BAAR: maneira simples de diagnosticar tuberculose, além de baixo custo e fácil acesso; Testes de sensibilidade do bacilo a drogas antituberculose: para diagnosticar MDR/XDR-TB. Leitura estável ou decrescente: linhagens susceptíveis. Leitura crescente: linhages resistentes; O custo das técnicas para detecção dessa micobactéria muitas vezes restringe a utilização delas aos países desenvolvidos; PCR: pode identificar o patógeno em poucas horas; Epidemiologia 1993: declarada uma questão de urgência à saúde pública global pela OMS; Maior índice de mortalidade humana causada por um único agente infeccioso, representando 26% das mortes possíveis de se prevenir e 7% de todas as mortes na Terra; Ressurgimento da tuberculose: devido ao aumento da incidência de resistência a drogas, surgimento da epidemia de HIV/AIDS nos anos 80 e aumento de imigrantes com alta prevalência para países desenvolvidos; Estimativas: 1,7 bilhão de pessoas estejam infectadas com M. tuberculosis e sob risco de desenvolver a doença; Cerca de 8 a 10 milhões de novos casos de tuberculose e 3 milhões de mortes por ano; 95% dos casos acontecem em países subdesenvolvidos e 98% desses casos vão ao óbito; 25 a 30% da população brasileira encontra-se infectada pelo bacilo. 90 mil casos novos a cada ano e 5 mil mortes por ano; 500 mil novos casos de MDR-TB por ano mundialmente e 79% dos casos são super cepas. Tratamento Recomendação da OMS: terapia de curta duração, com a combinação de 4 drogas antituberculose, conhecida como DOTS (Directly Observed Treatment Short-course), uma combinação de Isoniazida, Rifampicina, Pirazinamida e Etambutol nos 2 primeiros meses, seguida de uma combinação de Isoniazida e Rifampicina por pelo menos mais 4 meses; Pode ocorrer resistência inicial a Isoniazida: adiciona-se, nesse caso, drogas de primeira linha como a estreptomicina; Nos casos de resistência a pelo menos Rifampicina e Isoniazida (MDR-TB), usa-se drogas de segunda linha, mesmo sendo menos efetivas e mais tóxicas; Pacientes com a tuberculose latente e que ainda não desenvolveram a forma ativa podem ser tratados apenas com Isoniazida por 6 a 9 meses, inviabilizando o desenvolvimento da doença através da eliminação de bacilos dormentes. Mecanismo de ação de drogas, resistência e multirresistência Rifampicina: interage com subunidades beta da enzima RNA polimerase de organismos procarióticos, para inibir a transcrição = morte bacteriana. Casos de resistência: quase sempre ligados à mutação da cadeia beta da enzima; Estreptomicina: atua na inibição do início da síntese de proteínas em procariotos; Muitas bactérias patogênicas possuem plasmídeos de resistência, que podem potencializar uma rápida transição à MDR/XDR de linhagens selvagens susceptíveis a drogas, podendo conferir resistência a várias substâncias antibacterianas de uma só vez; Vacina: o resultado da lesão onde as primeiras bactérias invasoras se instalam depende da natureza das células T atraídas à lesão. Se as células imunes recrutadas forem Th-2, a lesão prosseguirá para a necrose e haverá progresso da doença. Se forem as Th-1, as bactérias serão destruídas, ocorre a formação de um granuloma e tanto a lesão como a doença sofrerão regressão; A vacina mais usada é a BCG, que confere a prevenção de tuberculose meningeal em crianças, não confere, entretanto, proteção à tuberculose pulmonar em adultos; HANSENÍASE Lepra, vem de lepros (latim), significa “ato de sujar ou poluir”; Origem provavelmente indiana e levada para a Itália por soldados romanos após batalhas na Índia, disseminando-a pela Europa; Leprosários = onde eram tratados como se já estivessem mortos > submetidos a tratamentos humilhantes perante a comunidade > algumas situações se mantiveram até os anos 80 do século XX; Gerhard Henrik Armauer Hansen = associou o micro-organismo M. leprae com a doença humana, a partir de biopsias de lesões cutâneas, em 1873; A doença de Hansen Infecto-contagiosa; Causada pelo Mycobacterium leprae; Única bactéria patogênica conhecida por invadir o sistema nervoso periférico; Afeta predominantemente a pele, vias aéreas superiores, SNP e olhos; Colonização do SNP: modificações patológicas como a degeneração axonal, fibrose aumentada e desmielinização; Falta de produção de mielina (células de Schwann): mediada porreações imunes do hospedeiro, induzindo a lesões nervosas, perda sensorial e desfiguração; Desconhecido o mecanismo de invasão dos bacilos sobre os nervos; Uma vez no nervo, coloniza as células de Schwann de fibras não mielinizadas; Infecção: afeta o metabolismo destas células de diferentes maneiras, aumentando a proliferação celular, a secreção de proteínas extracelulares e a expressão de moléculas de adesão, podendo também causar o aumento da expressão de moléculas imunoinflamatórias, modificando a circulação de citocinas que mantém a homeostase do SN. Uma das citocinas, o TNF, está aparentemente envolvida com o desenvolvimento de lesões nervosas nos leprosos; Pode causar sequelas graves, como a cegueira (a partir de iritis, sinequia posterior, catarata, lagoftalmose e ulceração da córnea). Em pacientes “curados” a doença ocular normalmente continua progredindo, mas, ainda não se sabe o motivo; Pacientes que ficaram cegos correm risco de vida muito maior que pacientes da mesma faixa etária e sem complicações visuais; Informação atual: lesões oculares não são causadas pela infecção ativa do M. leprae, mas são resultantes da danificação crônica dos nervos simpatéticos. Patogenicidade e formas de manifestação Organismo de baixa patogenicidade (somente algumas pessoas infectadas desenvolvem a doença; Incide principalmente em indivíduos com idade variando de 10 a 20 anos; Mais comum no sexo masculino; Variação do espectro de formas clínicas da doença: Lepra tuberculóide (TL) à lepra lepromatosa (LL); Intercaladas por variantes chamadas de borderline (BT, BB e BL). Lepra tuberculóide: Lesões cutâneas e nervosas localizadas e limitadas; Carga paucibacilar (PB) = poucos bacilos; Desenvolvimento de uma vigorosa resposta celular; Período de incubação: entre 2 e 5 anos; Resposta celular confere proteção contra a doença e inviabiliza a disseminação do bacilo. Lepra lepromatosa: Lesões generalizadas. Carga multibacilar (MB) = cerca de 1010 bacilos por grama de tecido; Nenhuma resposta imune celular específica, associada a uma potente resposta humoral e produção de anticorpos anti-M. leprae; Lesões nas superfícies mais frias do corpo (mucosa nasal e extremidades periféricas (cotovelos, pulsos, joelhos e tornozelos); Período de incubação: 8 a 12 anos; Resposta humoral: ocorre um alto índice de anticorpos IgM específicos contra o glicolipídeo fenólico 1 (PGL1) = antígeno encontrado apenas na superfície da parede celular de M. leprae; Borderline: A transição BT-BB-BL é acompanhada de progressiva redução da resposta imune celular; Aumento das lesões cutâneas e nervosas; Aumento da carga bacilar; Aumento dos níveis de anticorpos. Mycobacterium leprae Tamanho médio variando entre 0,3 a 0,5 micrômetros de diâmetro; 4,0 a 7,0 micrômetros de comprimento; 30ºC: temperatura ótima de crescimento (infecta principalmente áreas frias); Tempo de geração: 12 a 14 dias; Bactéria pode permanecer viável por alguns dias fora do hospedeiro; Parede altamente complexa: proteínas, glicolipídeos fenólicos, peptideoglicano, arabinogalactano e ácidos micólicos; BAAR é mais fraca que as demais micobactérias; Grande habilidade em sobreviver e crescer dentro de macrófagos; FV como glicolipídeos fenólicos: podem remover e, consequentemente, proteger o bacilo de formas tóxicas de O2; FV como lipoarabinomanano: potente repressor de certas funções imunológicas; Bacilo não pode ser cultivado em meio laboratorial (não segue os postulados de Koch); Patógeno intracelular obrigatório = macrófago; Pode crescer em camundongos, tatus e primatas, além do ser humano; Não se sabe se pode ser transmitida de animais para os seres humanos; Contém 3.268.203 pares de base, com G+C em torno de 57,8%. 49,5% do genoma contém genes que codificam proteínas e 27% do genoma contém pseudogenes; Pseudogenes: responsáveis pela limitadíssima atividade metabólica do M. leprae; Inicialmente possuía tamanho parecido ao das micobactérias de forma geral. A evolução reducional da quantidade de genes aparenta ocorrer por meio da inativação de genes, quando a função dos mesmos não é mais necessária em nichos altamente especializados = tem apenas o conjunto mínimo de genes necessários para a sobrevivência da micobactéria patogênica; A deleção e inativação de genes, a degradação gênica de M. leprae, eliminaram muitas atividades metabólicas importantes, incluindo a produção de sideróforos, parte da cadeia oxidativa e a maior parte das cadeias respiratórias, assim como vários sistemas catabólicos e seus circuitos regulatórios = por isso alguns pesquisadores acreditam que a habilidade do bacilo em manter a integridade do seu genoma está comprometida, e que a extinção ocorrerá naturalmente, dependendo apenas de uma questão de tempo; Energia obtida pelos bacilos = degradação de lipídeos derivados do hospedeiro, em sua maior parte; Bacilo da tuberculose possui 22 genes lip (para codificação de enzimas que degradam lipídeos), equanto que o bacilo da hanseníase apresenta apenas 2; Transmissão Envolvimento das vias aéreas superiores = mucosa nasal. Pequenas lesões geradas por condições climáticas e infecções respiratórias facilitam o estabelecimento da infecção; Em uma minoria de indivíduos infectados ocorre a propagação de bacilos para os nervos periféricos e pele, onde são fagocitados por células de Schwann e macrófagos; Pele tem papel fundamental na entrada e saída do patógeno, contudo, não há confirmação de o bacilo consegue penetrar na pele intacta = abrindo margem para a avaliação de vetores de transmissão, como artrópodes. Fatores de risco A possibilidade de infecção depende do nível de exposição e da intensidade da fonte infecciosa; Há hipótese de que a lepra dependa de fatores genéticos que determinam variações individuais na susceptibilidade a resistência à doença; Gene BCG seria o responsável pela resistência inata a infecções micobacterianas, e fica localizado na terminação telomérica do cromossomo 2. É chamado de nramp (natural resistance associated macrophage protein) = regula a atividade de macrófagos. Sua expressão induz a produção de óxido nítrico = tóxico antimicrobiano; O gene receptor da vitamina D, no cromossomo 12, também pode ser responsável por influenciar a resposta imune do hospedeiro para a resposta humoral; Condições de imunossupressão aumentam a propensão de o indivíduo infectado desenvolver a doença, como a subnutrição; O lento crescimento do bacilo da lepra permite que o paciente venha a sucumbir a outras doenças antes mesmo que surjam os primeiros sinais clínicos de lepra, quando o paciente já apresenta o vírus HIV ou que já tenha progredido para AIDS; A vacina BCG confere efeito de proteção contra a hanseníase, normalmente entre 20 e 80%; Em pessoas que não receberam BCG, mas que apresentam sensibilidade cutânea a tuberculina a antígenos de M. leprae, pode ser observada essa proteção também. Imunologia Linfócitos Th1 produzem IL-2 e INF e aumentam a resposta celular observada predominantemente em pacientes TL, conferindo-lhes o “estado de imunidade resistente” = ocorre a ativação de macrófagos e recrutamento de linfócitos T que reconhecem antígenos de M. leprae. IL-2 estimula a expansão clonal de células T antígeno-específicas > aumenta então a produção de INF (principal citocina ativadora de radicais microbicidas) em macrófagos > que secretam TNF de forma autócrina > que forma o granuloma imune > torna a doença mais branda; As células T que produzem IL-4, 5 e 10 são as Th2, que potenciam a resposta humoral, principalmente em pacientes LL, conferindo-lhes uma resposta imune ineficaz e comprometendo a ativação de macrófagos. Reações hansênicas Reações do tipo 1: Também chamada de reação reversa (RR); Ocorre principalmente em pacientes paucibacilares; Abrupto aumento da resposta Th1; Reações do tipo 2: Também chamada de reação tipo Eritema Nodosum Leprosum (ENL); Ocorre em pacientes multibacilares (LL e BL); Reação inflamatória sistêmica; Além da pele e dos nervos, ocorre oenvolvimento de outros órgãos, como olhos, fígado, baço, gânglios linfáticos e testículos, articulações, tendões, músculos e óssos. Métodos de diagnóstico Exame histológico de biópsias amostrais colhidas de granulomas e outras lesões cutâneas; Observação de sintomas característicos; Associação dos sintomas com presença de BAAR em exame baciloscópio = forma indireta de diagnosticar a infecção; Teste de lepromina = baixo valor diagnóstico, mas importante para avaliar o status imunológico do indivíduo; Teste de PCR para identificar pequenas quantidades de DNA do bacilo; Medida padrão de imunidade celular mediada pelo bacilo é chamada de reação de Mitsuda = reação de hipersensibilidade do tipo tardia, cuja avaliação é realizada três a quatro semanas após a injeção intradérmica de bacilos mortos em pacientes: Positivo para pacientes TL; Negativo para pacientes LL. Epidemiologia Atualmente limitada a alguns países em desenvolvimento; Manifesta-se de forma endêmica em regiões tropicais e subtropicais; Relacionada com a pobreza; Mais prevalente em áreas rurais; Prevalência tem sido reduzida devido a vacinação por BCG; Incidência continua grande, devido aos novos casos; Incide sobre 10 a 12 milhões de pessoas no mundo (principalmente na Ásia e África); Brasil: alta endemicidade, como na Índia e África; Taxa de prevalência mundial: 1,25 por 10 mil pessoas. Tratamento e controle 1908: o químico alemão Gerhardt Domack desenvolveu um composto chamado Diamino Difenil Sulfona (DDS ou dapsona), cuja administração à pacientes com lepra apresentou inicialmente resultados pouco satisfatórios pela sua toxicidade. Em 1940 foi definitivamente introduzido no tratamento = Robert Cochrane descobriu que doses muito menores eram suficientes para se obter resultados satisfatórios; Tal composto nunca foi capaz de erradicar a doença = ação bacteriostática, mas não bactericida; Necessidade de introdução de bactericidas, como a rifampicina; 1982: OMS estabeleceu a terapia de múltiplas drogas (poliquioterapia) = combate da doença multibacilar = combinação de rifampicina, dapsona e clofazimina. 2 anos para pacientes multibacilares e 6 meses para paucibacilares, com índice de erradicação bacteriana perto dos 100%; Medidas de controle da doença: Rápida e eficiente detecção de pacientes infectados; Instituição do tratamento adequado; Provisão de cuidados compreensivos para a prevenção de sequelas. Pacientes paucibacilares: 600 mg de rifampicina mensalmente e 100 mg de dapsona diariamente; Pacientes multibacilares: 600 mg de rifampicina e 300 mg de clofazimina mensalmente e 100 mg de dapsona e 50 mg de clofazimina diariamente; Quanto às vacinas: até o momento não há disponibilidade de vacinação contra a hanseníase = então o tratamento deve ser de múltiplas drogas; Testes em primatas com BCG + bacilos de M. leprae inativados ou mortos pelo calor, tem demonstrado resultados aparentemente promissores. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Tuberculose Pela disseminação decorrente da bacilemia constatada na infecção primária-pode causar doença extratorácica além do acometimento pleuropulmonar; Hospedeiro imunocompetente tende a deter doença restrita ao pulmão ou a outro local, já os com defesa comprometida desenvolvem doenças multifocais ou até disseminadas Doença pulmonar: sintomas clássicos = tosse (seca no início e progride com o aumento no volume de secreções purulentas, certas vezes tem raias de sangue ou hemoptises macroscópias), febre (comum com a progressão da doença, temperatura vai de subnormal a muito elevada) e sudorese (é típica, inclui a diaforese noturna); outras queixas comuns = mal-estar, fadiga, perda de peso, dor torácica não pleurítica e dispneia; Sinais podem ser discretos até q a doença atinja estágios avançados; febre com picos de até 40 a 41°C no período vespertino ocorre nos mais variados estágios e formas de tuberculose; crepitações localizadas são achados precoces; roncos fortes surgem conforme as secreções se tornam mais volumosas e persistentes; sinais de consolidação pulmonar (pulmão com fluidos) raramente são percebidos; pequenos sibilos e/ou murmúrio vesicular no local podem ser ouvidos em pacientes com estreitamento das vias aéreas peri ou endobrônquicas; mas anormalidades podem, mesmo extensas, ter ruídos adventícios mínimos ou ausentes à ausculta; Tuberculose extrapulmonar: ocorre em +/- 15% do casos de doença ativa em adultos HIV negativos nos EUA; áreas mais comuns: vasos linfáticos, trato geniturinário, ossos, articulações, SNC, trato gastrointestinal e pericárdio; comprometimento ocular é raro e patognomônico; a grave caquexia observada na doença pulmonar avançada raramente está presente na tuberculose extrapulmonar; sensação de febre ocorre quando há doença mais extensa (doenças miliar, pleural e do trato geniturinário); Hanseníase Manifestações mais comuns: compromete a pele e os nervos periféricos - determinadas pela polaridade da doença: paucibacilar (tuberculoide) ou multibacilar (lepromatosa); o início da hanseníase é habitualmente insidioso; dependendo da forma de hanseníase - entorpecimento pode ser queixa ou achado inicial e lesões cutâneas podem se tornar aparentes só meses ou anos mais tarde; Classificação dessa doença como tuberculoide, lepromatosa ou uma das formas borderline baseia-se na combinação do exame clínico, no número de bactérias vistas em esfregaços de linfa cutânea ou em biopsia de pele e no aspecto histológico; a natureza das complicações potenciais e a série específica de quimioterapia são determinadas pela forma de hanseníase, diagnóstico e classificação precisos são essenciais; Hanseníase tuberculoide: presença de menos de 5 lesões na pele, que em geral consistem em máculas hipopigmentadas ou eritematoses com bordas eritematosas elevadas e um centro atrófico; em geral lesões cutâneas nessa lepra são hipestésicas ou anestésicas; quando há lesões múltiplas a distribuição é simétrica; lesões na pele podem ser grandes e são mais comuns na face, no tronco ou em extremidades devido a temperaturas menores que 37°C; Comprometimento local dos nervos periféricos é comum e é assimétrico; além da hipestesia ou anestesia das lesões na pele, o comprometimento nervoso é manifestado sob a forma de aumento ou dor à palpação(ou ambos) dos nervos periféricos correspondentes à região das lesões da pele; nervos superficiais(ulnar, fibular superficial ou auricular maior) podem estar visivelmente aumentados dependendo da localização das lesões na pele; é possível haver complicações funcionais do comprometimento nervoso-atrofias, contraturas musculares; é uma forma estável – não se converte nas outras formas; Hanseníase lepromatosa: múltiplas lesões na pele, são menores do que as da tuberculoide, na maioria são simetricamente distribuídas; as máculas lepromatosas podem ter bordos pouco definidos e n exibir perda de sensibilidade; aumento local de nervos não é característico; essas lesões podem ser nódulos ou placas, ou podem infiltrar difusamente a pele(mais na face-pode gerar perda de cílios e face leonina); comprometimento nervoso é caracteristicamente simétrico e exibe distribuição em “meias” e “luvas”, não relacionado com os locais de lesão na pele; é possível que o comprometimento de nervos periféricos ser manifestado inicialmente sob a forma de perda da sensibilidade à temperatura, seguida por perda do sentido do toque, dor e pressão profunda; é comum haver disestesia (enfraquecimento ou perda de algum sentido); complicações motoras (fraqueza muscular e atrofia os músculos das maõs, pés e face) desenvolvem-se na ausência de quimioterapia eficaz; o comprometimento do nervo facial pode resultar em exposição corneana, ulceração e cegueira; também pode ter rinorreia (escoamento de fluido) abundante devido o comprometimento da mucosa nasal e eliminar grandes números de M.leprae nas suas secreções nasais – importante fonte de transmissão a outros indivíduos; é estável - a conversão em outras formas não ocorre. Formas borderline de hanseníase: Na hanseníase tuberculoideborderline: presença de lesões na pele semelhantes à tuberculoide mas são mais numerosas e podem ser acompanhadas por lesões-satélite em torno de lesões grandes; Na hanseníase borderline: as lesões são numerosas e assimétricas; lesões, em geral, são placas e não máculas; comprometimento nervoso é através de espessamento ou dor à palpação de nervos locais, mas as lesões na pele retêm a sensibilidade; Na hanseníase lepromatosa de borderline; numerosas pequenas máculas, pápulas, placas e nódulos simétricos, mas a infiltração cutânea difusa encontrada na hanseníase lepromatosa não se manifesta por completo; Formas borderline: são instáveis e progridem para a forma lepromatosa a menos que seja aplicado um tratamento eficaz; estados reacionais (reações de reversão e reações de piora imunológica) ocorrem em pessoas com formas borderline de hanseníase Estados reacionais: indivíduos com hanseníase que podem evitar tratamento talvez exibam sintomas e sinais reacionais agudos - quadro que médicos nos países desenvolvidos podem encontrar e situações de emergência Reações do tipo1: mediadas por respostas imunes celulares a antígenos de M.leprae nas lesões da pele e nervos - ocorrem na hanseníase borderline tuberculoide, borderline diforma e borderline lepromatosa; reações acompanhadas por piora das manifestações nos nervos periféricos e podem resultar em lesão nervosa permanente - consideradas emergência médica; reações de reversão são do tipo 1 e ocorre após início da quimioterapia para hanseníase ou infecção pelo vírus de imunodeficiência humana (HIV) -associadas a respostas imunes de tipo Th1 intensificadas que se desenvolvem em pessoas com grande carga de M.leprae - são mais graves naquelas com hanseníase borderline para a forma lepromatosa; reações de piora imunológica ocorrem em associação à transição da doença borderline para a forma lepromatosa - manifestações clínicas são indistinguíveis das reações do tipo 1 mesmo mecanismos imunes sendo diferentes; reações do tipo1 podem ter início agudo ou insidioso-caracterizadas por inflamação das lesões cutâneas e nervosas preexistentes; lesões na pele que se tornam eritematosas e edematosas tornam-se dolorosas à palpação e assemelham-se à celulite, mas as reações do tipo 1 não são acompanhadas por febre ou outros sinais sistêmicos; expressão aumentada de TNF foi observada nas lesões durante lesões do tipo 1 e contribui para as consequências clínicas e funcionais Reações do tipo2 = ENL: ocorrem na hanseníase borderline lepromatosa e hanseníase lepromatosa e são mediadas por complexos imunes em vez de respostas imunes celulares; as que ocorrem mais frequentemente após o início de quimioterapia anti-hanseníase ou durante a gravidez - são em geral acompanhadas por febre e artralgias; sinais adicionais de doença inflamatória sistêmica podem aparecer - hepatosplenomegalia, linfadenopatia, artrite, nefrite, ceratite e irite; lesões cutâneas do ENL se assemelham às do eritema nodoso clássico, com nódulos eritematosos dérmicos e subcutâneos amplamente distribuídos, cuja localização não se relaciona com as das lesões de hanseníase; biopsia das lesões de ENL mostra vasculite leucocitoclástica Hanseníase e vírus de imunodeficiência humana: imunidade mediada por células TCD4+ é essencial para o controle do M. leprae e a extensão da imunidade Th1 determina se um indivíduo terá hanseníase tuberculoide ou lepromatosa; a coinfecção pelo HIV e a depleção de linfócitos T CD4+ n afetam a velocidade de progressão da hanseníase nem causam a conversão de hanseníase tuberculoide para a forma lepromatosa; em contraste reações de reversão tipo1 podem acompanhar a reconstituição imune subsequente ao início da terapia antirretroviral - altamente eficaz contra infecção HIV; manifestações destas reações de reversão são semelhantes às observadas em pessoas q n estão infectadas com o HIV.
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