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-1- Capítulo 1 – O Trabalho do Administrador: uma visão geral e crítica Edmundo Escrivão Filho Juliana Veiga Mendes 1 - Introdução Formação e treinamento de administradores é tema de fundamental importância. A criação de riquezas e o bem-estar das pessoas dependem de administradores capacitados, seja na empresa pública, na empresa privada ou em organizações/associações sem fins lucrativos. Para preparar administradores capacitados é preciso fundamentar o ensino e o treinamento em estudos reveladores sobre suas atividades de trabalho. A literatura apresenta poucas obras teóricas e pesquisas empíricas sobre o assunto. Para Mintzberg1, “os estudos administrativos, tão devotados ao progresso e à mudança, têm por mais de meio século não considerado seriamente a questão básica: o que os administradores fazem?”. A eficácia da formação e treinamento de administradores depende da adoção de uma boa descrição de seu trabalho. A revisão apresentada a seguir revela o predomínio de uma descrição surgida no início do século. Sua perseverança como descrição do trabalho do administrador seria devido a seus atributos explicativos superiores? Ou estamos acomodados ao examinar a questão? Os professores e os treinadores precisam examinar mais detalhadamente a descrição sobre o trabalho do administrador que adotam em seus ensinamentos a fim de avaliar sua adequação à realidade das organizações e da administração. 2 - A Abordagem do Processo O fundador da Abordagem do Processo é o engenheiro francês Henri Fayol (1841- 1925). Graduado em Engenharia de Minas em 1860, atuou 6 anos como engenheiro e 52 anos como gerente e diretor. Seus princípios e elementos de administração foram extraídos de sua própria experiência profissional. Para Fayol, são funções administrativas as atividades de “prever, organizar, comandar, coordenar e controlar”, o conhecido POC3. A descrição sobre as funções do administrador apresentada por Fayol é a dominante na literatura. Carroll examinou 21 livros de administração e constatou que “todos os 21 livros mencionaram as funções de Fayol ao descreverem o trabalho executivo... Dos 21 livros, 17 usaram pelo menos quatro das funções clássicas de Fayol para organizar o livro. Três dos restantes usaram pelo menos três das funções em sua estruturação”2. Para os teóricos desta abordagem, as funções administrativas são representadas por um grupo de atividades cujo desempenho forma um processo seqüencial na concepção e simultâneo na operação, o qual se repete continuamente. Daí os seguidores do ensinamento de Fayol serem conhecidos como processualistas. Os autores processualistas não são consensuais ao especificarem as atividades componentes das funções administrativas. No entanto, suas diferenças em nada alteram o significado do processo. A doutrina, os princípios e as funções administrativas de Fayol tornaram-se conhecidas nos Estados Unidos através de seus seguidores, entre eles pode-se citar Luther Gulick e Lyndall Urwick. Os partidários dessas idéias ficaram conhecidos como autores clássicos da Administração. Para Gulick3, o trabalho do executivo principal é desempenhar o -2- POSDCORB, sigla formada pelas iniciais das atividades de Planning, Organizing, Staffing, Directing, CO-ordinating, Reporting, Budgeting (planejamento, organização, designação de pessoal, direção, coordenação, informação e orçamento). Esta definição do processo é uma variação da apresentada por Fayol sem alteração relevante em seus fundamentos. A contribuição de Fayol perdeu seu brilho nos anos 30 e 40, mas voltou à cena na década de 50. Este obscurecimento se deve às pesquisas realizadas por um grupo de professores de Harvard na Western Electric Company, no bairro de Hawthorne, em Chicago, de 1927 a 1932, onde foi lançado o pilar principal do Movimento das Relações Humanas. Mas a Segunda Guerra Mundial trouxe mudanças nos produtos, tecnologias, mercados e nos trabalhadores. “... a mudança [do pensamento administrativo] foi de uma orientação da produção para um ponto de vista da alta gerência, que exigiu uma mudança no papel do executivo para enfrentar o crescimento das empresas e dos mercados”4. A “teoria da chefia”, como é conhecida a contribuição de Fayol, era a que melhor estava preparada para responder a este desafio. “O primeiro esforço de uma segunda geração de autores [da abordagem processual] foi aquele de William H. Newman em 1950”5. Newman inicia seu livro expondo a importância da administração em face da complexidade das empresas. Apresenta dois novos pontos em relação aos autores clássicos: 1) a definição de administração como a ação de “orientar, dirigir e controlar os esforços de um grupo de indivíduos para um objetivo comum”6; 2) e “o tratamento da coordenação sob a direção ao invés de uma atividade separada”7. A contribuição de maior repercussão nesta nova era da abordagem processual foi a de Harold Koontz e Cyril O'Donnell. A definição da administração como “fazer coisas através dos outros”, estabelecida por estes autores, “tornou-se uma das visões mais amplamente considerada”8. Para Koontz e O'Donnell9, “o método mais útil de classificar as funções administrativas é agrupá-las em torno das atividades de: planejamento, organização, designação de pessoal, direção e controle”. Esses autores conceberam a atividade de coordenação como a própria essência da administração. Isto significa dizer que essas atividades visam, em seu conjunto, a coordenação (esforço sincronizado) dos subordinados. É a partir da segunda metade da década de 50 que o processo administrativo toma sua forma de quatro funções: planejamento, organização, direção e controle. As formulações dos diferentes autores terão pouca variação fora deste núcleo comum. No início dos anos 60, o pensamento administrativo vai defrontar-se com novas forças que remodelarão a abordagem processual. As principais forças, de acordo com WREN10, são: a) a crescente consciência da influência do ambiente no papel do executivo, levando a concepção da “responsabilidade social da administração”; b) a necessidade em repensar o ensino administrativo; c) a rápida evolução em número e sofisticação dos conhecimentos relacionados à gestão das empresas, advindas dos métodos quantitativos, das ciências comportamentais, da teoria da decisão e da teoria dos sistemas. Peter Drucker hoje é uma unanimidade em administração e negócios, mas quando iniciou sua carreira de autor teve a sensibilidade para entender as mudanças do ambiente empresarial e alcançar o reconhecimento dos grandes autores com a obra “A prática da Administração de Empresas” onde aparece a crítica à centralização administrativa praticada por Henry Ford. Além disso, Drucker aliou os fundamentos do planejamento com conceitos da Teoria Comportamental, o que lhe permitiu conceber uma administração por objetivos enfatizando os resultados e a eficácia em lugar de destacar os métodos e a eficiência. -3- Desta forma, nota-se que Drucker11 tem uma formulação do trabalho do administrador sincronizada com os autores processualistas, no entanto, renovada e refinada com a perspicácia que lhe é própria. Define o trabalho do administrador como: Determinar e estabelecer objetivos; Organizar através da análise das atividades, decisões e relações necessárias; Motivar e comunicar, transformando as pessoas que são responsáveis por várias tarefas em uma equipe; Avaliar os funcionários e também ajudá-los a auto se avaliarem; Promover o aperfeiçoamento dos funcionários e inclusive o seu próprio. A formulação clássica de Fayol sobre as funções executivas domina o pensamento administrativo até os dias de hoje. Tomando emprestada a crítica de Kliksberg12 à teoria tradicional, pode-se dizer que este enfoque baseou-se no raciocínio especulativo a partirda experiência de executivos empresariais. O exame do modelo teórico da Abordagem do Processo revela coerência ao conhecimento e à contextualização própria do início do século XX, berço de sua formulação. Fayol vivenciou os problemas administrativos nas três últimas décadas do século XIX. Foi nesta época que as pequenas oficinas se transformaram em fábricas, consolidando o sistema fabril. A concentração elevada de trabalhadores no mesmo local de trabalho impossibilitou a condução do negócio apenas pelo proprietário. Logo surgiu, em conseqüência, um batalhão de chefes. Diferentemente das empresas de hoje, as fábricas praticamente limitavam-se ao departamento de fabricação. Neste ambiente, era quase que natural a preocupação dominante com a execução do trabalho. Assim como Taylor preocupou-se com a eficiência na execução do trabalho operário, Fayol preocupou-se em caracterizar o trabalho do administrador levando em conta o ponto de vista da execução. A preocupação com a execução levou à busca da eficiência, da otimização dos meios empregados. Esta engenharia da “racionalização do trabalho” foi pertinente para definir as funções administrativas neste período histórico. Nos dias atuais, o modelo da execução constitui-se em um quadro de análise parcial do trabalho do administrador. A execução continua sendo uma dimensão importante para descrever a natureza do trabalho do administrador, mas incapaz de revelar toda sua abrangência. 3 - A Abordagem dos Papéis Pode-se identificar em Chester I. Barnard (1886-1961) o pioneiro de uma nova abordagem explicativa do trabalho do administrador. Em sua principal obra, “As funções do executivo”13, ele aborda a relação indivíduo-organização, não do ponto de vista do indivíduo, mas como a organização é formada das relações dos indivíduos. As pessoas são individualidades carregadas de experiências, capacidades, conhecimento, necessidades, objetivos etc. Mas, também, são limitadas. Portanto, as pessoas cooperam com outras para realizar seus objetivos pessoais. Ao cooperarem entre si, as pessoas acabam influenciando e sendo influenciadas, decorrendo daí o caráter de uma relação social. Este conjunto de relações cooperativas forma a organização. Assim, para Barnard, a organização não é uma hierarquia de autoridade como definida pelos clássicos e nem uma arena de pessoas insaciadas de reconhecimento social caracterizada pelos humanistas. A organização é um sistema racional de relações cooperativas para alcançar objetivos pessoais. Para realizar os objetivos é preciso despender esforços e as pessoas devem estar dispostas a isto. No entanto, as pessoas não podem empregar seus esforços da maneira que desejem, mas devem estar dispostas a abrir mão do controle de sua conduta pessoal, uma auto-renúncia de decidir o que fazer, uma certa despersonalização para que esses esforços -4- sejam empregados na quantidade, no momento, no lugar certo. Surge da disposição de cooperar a coordenação impessoal dos esforços, a própria organização. Essencial a essa coordenação é a existência de um propósito comum que permita direcionar o esforço coletivo. Aqui aparecem as funções do executivo: criar e comunicar este propósito comum. Para Motta e Vasconcelos14, Barnard caracteriza a função do executivo como: “a criação de métodos de persuasão e criação de valores e outras formas morais de obter o comprometimento dos indivíduos com os objetivos organizacionais”. Discordando dos clássicos, para Barnard a força da autoridade não vem de cima, mas de baixo, da aceitação dos subordinados. Cabe ao executivo “inculcar” a crença da superioridade do objetivo organizacional para a renúncia dos valores pessoais, para a aceitação da despersonalização. A comunicação é o principal instrumento de “implante” de valores organizacionais no indivíduo de modo a “suspender”, ao menos no local de trabalho, seu livre arbítrio e mecanizar sua decisão a favor da orientação dada pelos superiores. Avançando na direção delineada por Barnard, Herbert A. Simon caracterizou os processos gerenciais como processos decisórios. Sua formulação partiu de uma crítica na década de 40 às três abordagens tradicionais de Administração. Na obra “Comportamento Administrativo: estudo dos processos decisórios nas organizações administrativas”15, originalmente publicado em 1945, Simon censurou: a) a Teoria da Gerência Científica (de Taylor) pelo caráter fisiológico de suas proposições; pelo empirismo e a ausência de teoria explícita em suas explicações; pela falta de realidade do propósito maximizador de sua perspectiva; b) a Teoria da Gerência Administrativa (de Fayol) por suas descrições sofrerem de superficialismo, supersimplificação e falta de realismo; pela ênfase demasiada no estudo dos mecanismos de autoridade, falhando na inclusão de outros modos de influenciação do comportamento organizacional; c) a Teoria das Relações Humanas (de Mayo) pela ênfase exagerada na personalidade esquecendo do sistema social; pela “fé” ingênua apenas nas relações informais como aglutinadoras das relações sociais; pela manipulação dos grupos informais a serviço da gerência. Para Simon, o comportamento da vida real não apresenta a racionalidade plena de um homem racional a identificar todas as alternativas, a avaliar todas as alternativas e, por fim, a encontrar a melhor solução. Uma formulação mais realista apresenta o homem administrativo, que busca um curso de ação satisfatório ou razoavelmente bom, reconhece que o mundo por ele percebido é apenas um modelo drasticamente simplificado do agitado e confuso mundo real. Simon quer dizer que a racionalidade tem limites. À medida que estas limitações são removidas, a organização aproxima-se do seu objetivo de elevada eficiência. A teoria administrativa tem que se interessar pelos fatores que determinarão com que capacidade, valores e conhecimento o membro da organização realizará o seu trabalho. Os estímulos externos à pessoa exercem considerável influência sobre seu comportamento. Por serem externos, podem ser interpessoais. Em outras palavras, podem ser utilizados pela gerência para influenciar comportamentos desejados. Simon identifica os seguintes modos de influência na organização: a) autoridade; b) aconselhamento e informação; c) treinamento; d) lealdade; e) o critério da eficiência. Uma das principais funções destas influências consiste em assegurar a coordenação das atividades dos membros da organização. A comunicação é essencial nas formas mais complexas de comportamento cooperativo. Pode ser formalmente definida como o processo mediante o qual as premissas decisórias são transmitidas de um membro da organização para outro. -5- Em continuação à obra de Simon, surge Henry Mintzberg16 que teve o mérito de divulgar a crítica à Abordagem do Processo, chamando a atenção para seu formalismo e abstração. Em alternativa à contribuição de Fayol, propôs uma nova formulação através de descrição de papéis interpessoais, informacionais e decisionais. O enfoque de Mintzberg tem raízes na obra de Simon17. Segundo Aktouf18, “como Herbert Simon em 1946, pode-se dizer que Mintzberg inicia sua carreira de teórico da gestão através de uma crítica bastante violenta da gerência: onde Simon fala de provérbio, ele fala de folclore, com trinta anos de distância”. O exame, já citado, de Carroll em 21 livros gerenciais, revelou que Mintzberg foi o único autor concorrente com Fayol tendo onze citações19. Sua fonte principal de crítica é o caráter prescritivo dos clássicos, os quais orientam seus trabalhos para “o que deve o executivo fazer” para ser eficaz. O caráter formal e sistemático que as atividades de planejamento, organização, direção e controle transmitem, na verdade, está longe das ações de um executivo de carne e osso. Mintzberg20 refere-sea conhecidas descrições do trabalho administrativo como verdadeiros folclores, por exemplo: 1) o executivo é um planejador reflexivo e sistemático; 2) o executivo eficaz não tem deveres regulares para executar; 3) o executivo necessita de informação agregada e a melhor ferramenta é um sistema formal de informação. Neste contexto, a imagem do executivo trancado por horas em sua sala na realização de um planejamento é pura ficção. Suas atividades são caracterizadas pela brevidade, variedade e fragmentação em conseqüência de ser um respondente, em tempo real, das pressões do cargo. O planejamento é implícito, uma reprogramação de seu dia de trabalho ocorre freqüentemente. A variedade de tarefas e a preferência pelo contato verbal intensificam as relações interpessoais. Esses contatos são utilizados para a coleta e transmissão de informações. “Eles folheiam a maioria dos relatórios em segundos, quase ritualisticamente”21. O autor pergunta: como aguardar um relatório diante de um importante fornecedor que rompeu contrato? Um encontro não programado de dois minutos de duração no cafezinho é melhor que centenas de páginas impressas no computador uma semana depois. A rede de contatos interpessoais forma uma organização informal de transmissão de informações que alimenta a decisão executiva. Desta descrição, bastante diversa do enfoque clássico, o autor formula os papéis componentes do cargo administrativo22: 1) PAPÉIS INTERPESSOAIS: representativo; líder; contato; 2) PAPÉIS INFORMACIONAIS: monitor; disseminador; porta-voz; 3) PAPÉIS DECISIONAIS: empreendedor; solucionador de distúrbios; alocador de recursos; negociador. Para o autor estes dez papéis em conjunto formam o cargo administrativo. No entanto, “dizer que os dez papéis formam um todo integrado não é dizer que todos os administradores dão igual atenção a cada papel”23. Por exemplo: o gerente de vendas pode dar maior atenção aos papéis interpessoais, o gerente de pessoal aos papéis informacionais e o gerente de produção aos papéis decisionais. Mas, nos três casos, os papéis interpessoais, informacionais e decisionais permanecem inseparáveis e presentes em todo cargo administrativo. O desejo de fazer da atividade executiva e organizacional uma ciência exata está presente em Taylor e Fayol. De acordo com Aktouf 24, a abordagem da tomada de decisão, de Simon a Mintzberg, não representa uma ruptura com os clássicos, mas uma reforma. “Herbert Simon marca o lançamento de uma corrente neo-racionalista, re-introduzindo, em resumo, a crença da possível condução racional e científica das organizações”. 4 - Contribuições Alternativas -6- John Kotter, professor da Harvard Business School, em suas pesquisas sobre o trabalho de executivos encontrou um padrão de comportamento bastante diverso daquele descrito pela “Abordagem do Processo”, o que levou o autor a notar que os executivos têm que lidar com dois desafios do cargo: a) a diversidade e volume de informações potencialmente relevantes; b) a dependência de um grande número de pessoas. Ao analisar a natureza do trabalho do administrador (claramente trata-se de altos executivos) o autor construiu o modelo de desempenho no cargo a partir da agenda de trabalho e da rede de contatos. A ação do executivo visa três pontos25: a) Estabelecimento de uma agenda: é sua estratégia pessoal para alcançar as metas de seu trabalho, procurando mais agressivamente informações de outros; fazendo mais habilmente questões; estabelecendo com mais êxito programas e projetos; b) Construção de redes de contatos: essa rede de relacionamentos cooperativos abrangerá todos aqueles de quem o executivo sinta-se dependente para o desempenho eficaz do cargo, até mesmo fora da organização; c) Implementação das agendas: para isso se utilizam de recursos orçamentários, da influenciação e da informação. Como o autor enfatiza a mudança, ele faz uma diferenciação entre administração e liderança26, pois no processo de transformação a liderança seria mais necessária. A administração seria formada pelas atividades de: planejamento e orçamento; organização e recrutamento de pessoal; e controle e solução de problemas. A liderança é composta das ações de: estabelecimento da orientação; desenvolvimento de uma visão do futuro; alinhamento de pessoal; motivação e inspiração. Hampton27 lembra que há duas visões sobre liderança, uma que trata da “construção” da instituição e outra da influência interpessoal; a primeira guarda relação com os trabalhos dos autores institucionalistas na administração, como Selznick, e descreve os grandes líderes construtores de organizações poderosas; a segunda trata dos relacionamentos face-a-face, e lembra os estudos pioneiros de Likert e Bales, descrevendo como um líder pode influenciar seus seguidores. Deve-se registrar que a perspectiva de Kotter para a liderança é a dos grandes “construtores” empresariais, portanto, a cultura organizacional é o cimento que une, mantém e dá força a essas grandes construções. Existe a idéia de que cultura forte resulta em bom desempenho. A ênfase na mudança levou Kotter a destacar a liderança em detrimento das funções administrativas, isto não significa que ele negue a importância delas em outro momento da empresa. Stewart28 é outra autora que critica a Abordagem do Processo, pois esta “tende a ser muito formal e idealística”. Busca a natureza do cargo administrativo na investigação empírica, tendo realizado diversas pesquisas com quadro de referência de análise repousando sobre dois pilares: o conceito de cargo e o conceito de agenda. Para Stewart29, o cargo é representado pelas demandas, restrições e escolhas, onde: • demandas são as atividades que o ocupante tem de realizar por causa da descrição do cargo ou porque o chefe considera importante. Exemplo: cumprir um critério mínimo de desempenho; • restrições são os fatores que limitam o que seu ocupante pode fazer. Exemplo: limitações de recursos financeiros, restrições legais ou desaprovação sindical; • escolhas são as atividades que o ocupante pode fazer, mas não tem de fazer. Exemplo: como o trabalho é feito ou em tomar parte em alguma atividade organizacional. -7- A agenda refere-se “ao processo pelo qual o executivo decide o que fazer”30. Em outras palavras, são as estratégias pessoais para realizar as metas de seu trabalho. Mintzberg31 demonstrou que o trabalho executivo é fragmentado e, em função disso, ele é um respondente em tempo real das pressões do cargo. Ou seja, o gerente tem uma agenda (estratégia pessoal) reativa. Stewart32 confirma em parte: “a maioria dos executivos não tem agendas explícitas”33... “executivos com tal padrão de trabalho fragmentado provavelmente terão uma agenda reativa”34... No entanto, “isto não é verdade para todos os cargos”35, mas apenas para aqueles com trabalho fragmentado. Os poucos executivos que possuem agendas explícitas estão provavelmente em cargos não fragmentados, isto sugere que “a natureza do cargo pode fornecer um estímulo para estabelecer agendas explícitas”36. A autora tem uma hipótese pessoal, não comprovada empiricamente, que os executivos proativos (aqueles que tem agenda explícita) parecem ser os mais eficazes. Portanto, o estudo empírico do comportamento é insuficiente para explicar as funções administrativas se não forem levantadas as escolhas disponíveis ao ocupante do cargo. Quando é medido o comportamento, a atividade de ronda pela fábrica é indiferente para o executivo que vai motivar seus funcionários ou aquele que busca encontrar melhorias. Quando são examinadas as escolhas, as ações dos executivos são bem distintas. A lição apreendida da exposição de Stewart refere-se à impossibilidade de generalizar sobre o trabalho administrativo apenas pelo estudo do comportamento. Há de se entender,também, a flexibilidade do cargo através do estudo de suas demandas, restrições e escolhas. Para Nadler e Tushman37, a ação administrativa é orientada pelo processo de resolução de problemas. Não haveria novidade alguma a apresentar se este processo reduzisse seu foco de análise à execução ou à decisão, como enfatizado, respectivamente, na Abordagem do Processo e na Abordagem dos Papéis. No entanto, o processo de resolução de problemas é formado por um conjunto de passos que guia a análise do executivo de forma a concentrar sua atenção no funcionamento organizacional. Esta representação sistemática da dinâmica organizacional, os autores chamam de “Modelo de Congruência do Comportamento Organizacional”. Ao privilegiar o funcionamento organizacional, o Modelo da Congruência adota como primeiro passo do processo a identificação do sistema e, em seguida, a especificação das variáveis essenciais deste sistema. Execução e decisão são possíveis variáveis do sistema, no entanto, serão com toda certeza apenas elementos parciais do foco de análise. Uma primeira perspectiva da idéia de fazer diagnóstico pode ser delineada com base em sintomas. Neste caso, o executivo toma conhecimento de algum sintoma (greve, queda nas vendas, falta de matéria-prima) e age para corrigir esta “anormalidade”. A ação baseia-se simplesmente nas conseqüências de uma situação já transformada sem sua efetiva participação. Apresenta a deficiência de limitar-se aos problemas diretamente relacionados com os sintomas. Além disso, carrega uma visão reativa. São os sintomas que iniciam o processo de diagnóstico e mudança. O executivo é passivo, não se antecipa aos sintomas. A característica mais prejudicial desta perspectiva é seu enfoque localizado, parcial e simplista da esfera de ação administrativa. É comum encontrar entre os profissionais de administração uma segunda perspectiva da Abordagem do Diagnóstico: com base na intuição. Neste caso, o executivo tem um modelo próprio para compreender sua esfera de atuação. O enfoque fundamenta-se na experiência pessoal e considera assistematicamente o conhecimento científico. Assim, “os enfoques intuitivos são freqüentemente ingênuos e simplistas”38. Neste caso, o papel administrativo oscila entre reativo e ativo, dependendo das características pessoais do profissional. A -8- abrangência do modelo sobre o campo de ação do administrador também é variável, mas quase sempre parcial. Uma terceira perspectiva é o diagnóstico com base em componentes organizacionais isolados; deixa de ter um caráter fortuito para assumir um caráter sistemático. No entanto, mantém o enfoque parcial das perspectivas anteriores. É o caso da Abordagem do Processo ao enfatizar a execução do trabalho e da Abordagem dos Papéis ao enfatizar a tomada de decisão. RETRO-ALIMENTAÇÃO PLANEJAMENTO EXECUÇÃO CONTROLE MODELO DA EXECUÇÃO 39 DECISÃO AÇÃO CONTROLE MODELO DA DECISÃO 40 ORGANIZAÇÃO INDIVÍDUO TAREFA INFORMAL ARRANJOS DA ORGANIZAÇÃO FORMAL PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO - ORGANIZA- - GRUPAL - INDIVIDUAL - AMBIENTE - RECURSOS - HISTÓRIA ESTRATÉGIA CIONAL RESULTADOSINDUTOS RETRO-ALIMENTAÇÃO MODELO SISTÊMICO 41 Figura 1 - Modelos da Execução, da Decisão e Sistêmico -9- Tendo em vista que a organização, campo característico da ação administrativa, é uma realidade de alta complexidade, grande interdependência e rápida mudança, são os modelos anteriores deficientes em representar a realidade. Para enfrentar tal situação existe a perspectiva do diagnóstico organizacional, isto é, diagnóstico baseado na representação dos principais componentes de uma organização. A importância deste enfoque é ainda maior ao se considerar que “não há procedimentos de diagnóstico amplamente aceitos para avaliar as organizações... há muitos procedimentos de diagnóstico para funções parciais. Cada especialista tem seu próprio remédio para resolver ou melhorar os problemas que ele percebe. Freqüentemente esforços para resolver problemas em uma área criam novos problemas para a organização como um todo ou para outras áreas”42. Segundo Nadler e Tushman43, “a teoria do sistema aberto é um arcabouço geral para conceptualizar o comportamento organizacional”. Ao esboçar a organização como um sistema aberto fica estabelecido o seguinte: a organização é um todo; a organização é um conjunto de partes em constantes inter-relacionamentos; a organização é orientada para finalidades; a organização está em interdependência com o ambiente. É importante destacar que a teoria do sistema aberto enfatiza o processo de transformação de recursos organizacionais em produtos organizacionais. Desta forma, o Modelo de Congruência do Comportamento Organizacional baseado no modelo sistêmico irá focalizar as partes componentes essenciais do funcionamento da organização e suas inter- relações. Essa combinação forma uma poderosa ferramenta executiva para “estruturar e lidar com a realidade complexa das organizações”44. Como orientação geral é utilizada a teoria dos sistemas abertos. Como orientação específica adota-se a resolução de problemas. As interações sistêmicas guiarão os passos da resolução de problemas, que podem ser entendidos como as próprias atividades do “Trabalho do Administrador” alicerçado em um Modelo de Congruência do Comportamento Organizacional45: 1 - Identificar o sistema; 2 - Determinar a natureza das variáveis essenciais; 3 - Diagnosticar o estado das ligações (entre variáveis) e os relacionamentos aos resultados organizacionais; 4 - Identificar os problemas críticos do sistema; 5 - Gerar soluções alternativas; 6 - Avaliar estratégias alternativas; 7 - Escolher estratégias para serem implementadas; 8 - Implementar estratégias; 9 - Avaliar; reiniciar o passo 1. 5 - Contribuições Contemporâneas Até aqui, este capítulo fez uma revisão da literatura sobre o “Trabalho do Administrador” e constatou duas abordagens consolidadas: a Abordagem do Processo e a Abordagem dos Papéis. É possível identificar o esboço de uma terceira alternativa, mais no sentido de contraponto às duas primeiras, do que no sentido de formação de uma terceira abordagem. A Abordagem do Processo surgiu no início do século com a transformação da oficina em fábrica. Sua preocupação principal é com o “como fazer”, própria e coerente ao seu contexto de origem. Sua descrição revela um modelo associado à execução do trabalho. A Abordagem dos Papéis surgiu na época da Segunda Guerra Mundial com o aparecimento dos computadores eletrônicos. Sua preocupação principal é com o “como decidir o que fazer”, espelha preocupações da época. Sua descrição revela um modelo associado à tomada de decisão. Kotter e Stewart foram hábeis em sinalizar deficiências dessas duas abordagens. A complexidade organizacional exige um modelo menos simplista do que o da execução e o da decisão. Apesar das deficiências do modelo sistêmico, já reveladas pelos contingencialistas, o -10- Modelo de Congruência do Comportamento Organizacional de Nadler e Tushman é um bom começo para repensar as funções do administrador e sua formação. O próprio Mintzberg46 admite a parcialidade dos modelos existentes e afirma: “é uma curiosidade da literatura administrativa que todos os seus autores clássicos parecem enfatizar uma parte específica do trabalho do administrador em exclusão das outras”. A figura 2 exibe uma comparação entre os três modelos. MODELO CARACTERÍSTICAS EXECUÇÃO DECISÃO SISTÊMICO FOCO OPERAÇÃO DECISÃO FUNCIONAMENTO ORGANIZACIONAL AÇÃO ADMINISTRATIVA PROCESSO DE PLANEJAMENTO PROCESSO DECISÓRIO PROCESSO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ENFATIZA TAREFA ESCOLHA INTERDEPENDÊNCIA PREOCUPAÇÃO COMO“FAZER” (*) COMO “DECIDIR O QUE FAZER”(*) COMO “FUNCIONA” CRITÉRIO DE DESEMPENHO EFICIÊNCIA DOS PROCESSOS (*) EFICÁCIA DOS RESULTADOS (*) EFETIVIDADE DO CONJUNTO ORIENTADO PARA MÉTODOS, TAREFAS E NORMAS (*) PARA OBJETIVOS, PROGRAMAS E METAS (*) PARA PROBLEMAS, DIAGNOSTICO E AÇÃO Figura 2 - Comparação entre Modelos associados às explicações sobre o “Trabalho do Administrador” (*) Baseado em Nascimento47. Em um contexto mais contemporâneo do que os primeiros estudos sistêmicos de Nadler e Tushman para as organizações, Peter Senge também utiliza o raciocínio sistêmico como uma disciplina integradora e central na caracterização da administração e organização. Em uma perspectiva voltada para a aprendizagem, o autor descarta a organização como controladora e define as cinco disciplinas voltadas para o aprendizado: domínio pessoal, modelos mentais, objetivos comuns, aprendizado em grupo e raciocínio sistêmico48. Nas organizações de aprendizagem, os líderes ou administradores desempenham novas funções anteriormente não definidas49: Projetista; Guia; Professor. Senge observa que a realidade pode ser percebida em quatro níveis distintos: nível dos eventos, nível dos padrões de comportamento, nível das estruturas e nível dos ideais. Os administradores tradicionais percebem a realidade e atuam pelos primeiros dois níveis; os administradores das organizações de aprendizagem devem estar atentos aos quatro níveis, mas principalmente aos dois últimos, de visão holística da organização e de transmissão das razões da organização. Examinando o desenvolvimento contemporâneo das explicações sobre o “Trabalho do Administrador”, além da contribuição de Senge para esse período, outro autor de grande reconhecimento atual cuja contribuição não poderia deixar de ser examinada é C. K. Prahalad. Esse autor emerge ao mundo acadêmico e empresarial ao fazer forte crítica à visão de posicionamento estratégico de Michael Porter. Sua crítica fundamenta-se sobre um novo -11- entendimento da dinâmica competitiva das empresas que exigiria dos administradores uma postura ativa de desenharem a arena em que se dará a competição. A construção desse mercado futuro se dará pelo preparo das empresas em suas competências essenciais, conseqüentemente será exigida mudança no papel do gerenciamento tendo os gerentes que se concentrar em seis elementos críticos: uma pauta competitiva compartilhada; um conjunto claro de valores e comportamentos; focalizar a influência sem o controle acionário; competir por talentos; velocidade de reação da organização; alavancar recursos corporativos50. Dentro dessa visão, Prahalad define as atividades do administrador como: raciocínio sistêmico; competência intercultural; treinamento intensivo e contínuo; padrões pessoais de comportamento. Conclui o autor que o gerente da Nova Era não será um mero executor, ele será também um pensador51. A contribuição instigante de Prahalad sobre o “Trabalho do Administrador” é oportuna para a atualidade da competição empresarial. No entanto, muitas vezes, nem mesmo grandes empresas têm a possibilidade de construir o futuro; menor chance quando pensadas as pequenas empresas; talvez, com exceção daquelas de alta tecnologia. A própria história do Pensamento Administrativo é um relato das soluções gerenciais encontradas pelas megacorporações para problemas concretos por elas enfrentados. Tais soluções, consideradas boas soluções, tornaram-se capítulos da Teoria Administrativa. A pequena empresa nunca mereceu atenção nesta história, ou porque iria tornar-se uma grande, ou porque iria desaparecer. Só recentemente, na década de 90 do século XX, com as transformações políticas, econômicas e sociais que levaram a reestruturação das grandes corporações, e conseqüentemente o corte de milhares de postos de trabalho, que as pequenas voltaram a merecer atenção. Se não existe uma Teoria da Pequena Empresa, o que dizer da descrição do trabalho do administrador em pequenas empresas? Se de um lado a teoria é escassa, de outro a realidade é bastante heterogênea para aquilo que se denomina pequena empresa. Fillion52 estudou os sistemas (ou funções) gerenciais empregados pelos proprietários de pequenos negócios. A questão central em sua pesquisa empírica em 116 empresas é a seguinte: Quais sistemas de pensamentos os gerentes-proprietários de pequenos negócios usam como base para suas ações? O autor registra que os elementos definidos por Fayol (na verdade, uma forma abreviada) como POCC (Planejar, Organizar, Comandar e Controlar), ainda aparecem de várias formas em livros sobre gerenciamento de pequenos negócios. Continua argumentando que ainda não foi desenvolvida nenhuma abordagem específica utilizando os modelos obtidos a partir de estudo empírico sobre o processo gerencial de proprietários de pequenos negócios. A pesquisa realizada por Fillion mostra que, ao contrário do que dizem alguns autores, os métodos gerenciais desses gerentes-proprietários de pequenos negócios não seguem a lógica formal do POCC de Fayol. O autor classifica os gerentes-proprietários de pequenos negócios em duas categorias: os empreendedores e os operadores. Para os empreendedores, o processo gerencial compreende 5 fases: visualizar, criar, animar, monitorar e aprender. Para os operadores, o processo gerencial envolve 6 fases: selecionar, desempenhar, atribuir, alocar, monitorar e ajustar. A contribuição do autor é de importância para entender o gerenciamento na pequena empresa; centraliza a descrição da categoria empreendedor na visão, ou sonhos realistas, com cuja realização estão comprometidos estes gerentes-proprietários. Para os operadores, o autor centraliza no desejo desses gerentes-proprietários em dar bom uso às suas habilidades de forma a ganhar a vida. -12- EMPREENDEDORES OPERADORES POCC DE FAYOL Visualizar Selecionar 1. Planejar Criar (2 e 3) Desempenhar 2. Organizar pessoas --- Atribuir 3. Organizar recursos Animar Alocar 4. Comandar Monitorar Monitorar 5. Controlar Aprender Ajustar 6. Feed-back Fig. 3 - Comparação do gerenciamento de empreendedores e operadores criados por Fillion e o POCC de Fayol Embora a contribuição seja indiscutivelmente relevante e o autor tenha negado a similaridade das funções dos proprietários de pequenos negócios com o POCC de Fayol, não há como deixar de fazer um paralelo entre suas descrições de gerenciamento na pequena empresa com o POCC do velho (e bom) ensinamento de Fayol. 5 - Conclusão O propósito desse conjunto de textos sobre o “Trabalho do Administrador” é exatamente encerrar com uma leitura crítica sobre o tema. Guerreiro Ramos é uma boa indicação para introduzir a questão da tensão existente na ação do administrador: deve este enfatizar a ação instrumental que privilegia a eficiência como sinônimo da ação calculista do melhor meio (recurso) a empregar em desprezo do questionamento dos fins visados? Ou deve o administrador enfatizar a ação substantiva que privilegia a felicidade como sinônimo da ação fundada no livre-arbítrio e na liberdade em detrimento da preocupação com bom uso dos meios? Para Guerreiro Ramos53, baseado na obra de Max Weber54, esta tensão entre ação instrumental e ação substantiva caracteriza a ação administrativa. A ação instrumental é própria da organização enquanto a ação substantiva é própria do ser humano. O autor acredita que ambas são conciliáveis, aceitando que sempre existirá uma combinação da ação instrumental e da ação substantiva nos agrupamentos sociais, tendo administrador que lidar com essa tensão. A “Teoria da Delimitação dos Sistemas Sociais” de Guerreiro Ramos55 propõe uma separação, de um lado, dos sistemas claramenteinstrumentais, como o mercado e suas supercorporações, e de outro, dos sistemas alternativos a esta construção dominante, como a sociedade organizada substantivamente, talvez ao exemplo das Organizações Não Governamentais. A “delimitação dos sistemas sociais” foi, na década de 80, uma crítica inspiradora ao modo de organizar na sociedade capitalista. Hoje, porém, a hegemonia econômico-militar dos Estados Unidos, sustentada pelas corporações multimilionárias, revela uma sociedade bastante diferente. O pressuposto da separação do enclave instrumental (mercado) do enclave substantivo (sociedade) é de difícil aceitação, pois há uma dependência dos enclaves, ou melhor, a subordinação e exploração de um pelo outro, revelada pela concentração de renda nas maiores empresas enquanto um terço da população mundial é excluída do mercado de bens de primeira necessidade. Isto nos obriga ir além na crítica da “delimitação dos sistemas”. -13- Como diz o Diretor-Geral do Grupo Amana-Key, consultoria empresarial, “chegamos à cúpula das empresas e colocamos todo nosso talento e competência para fazer a empresa evoluir, ficar mais competitiva e conseguir cada vez melhores resultados. E até fazê- la ser a melhor do setor e ser reconhecida publicamente. Mas quantas vezes - como líderes (administradores) - pensamos sobre o impacto do que fazemos para a construção de um Brasil melhor?”56. Nesses tempos em que nossas vidas são governadas pelas megaorganizações, talvez seja preciso redescobrir a crítica do Prof. Maurício Tragtenberg à “Teoria Geral da Administração”57 e refletir sobre o papel da ideologia do trabalho do administrador. Ainda é possível recordar sua voz nas aulas no início dos anos 80 a comentar sobre o modismo das “Novas Teorias Administrativas” emergentes a cada dia, tão vazias teoricamente quanto descompromissadas criticamente com a realidade de suas aplicações: “é uma grande empulhação”. Notas 1MINTZBERG , Henry. The manager's job: folklore and fact. Harvard Business Review, v. 53, July- Aug, 1973. p.51; 2CARROLL, Stephen J. & GILLEN, Dennis J. Are the classical management functions useful in describing managerial work? Academy of Management Review, 1987, v. 12, n. 1. p.38 3GULICK , Luther. Notes on the Theory of Organization. In: GULICK, Luther & URWICK, Lyndall. Papers on the science of administration. New York: A. M. Kelley, 1969. p. 1-45. 4WREN, Daniel A. The evolution of management thought. 2rd. New York: John Wiley & Sons, 1979. p.4l7 5WREN, 1979, p.440; 6NEWMAN, William H. Ação administrativa: as técnicas de organização e gerência. 4a. ed. São Paulo: Atlas, 1977. p.11 7 WREN, 1979, p.44l; 8 WREN, 1979, p.445; 9KOONTZ, Harold & O'DONNEL, Cyril. Princípios de administração: uma análise das funções administrativas. 12a. ed. São Paulo: Pioneira, 1978. p.48-50), 10WREN; 1979, p.447; 11 DRUCKER, Peter F. A prática da administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 1989. 12KLIKSBERG, Bernardo. A gerência na década de 90. Revista de Administração Pública. v. 22, n. 1, 1988. p. 74; 13BARNARD , Chester. As funções do executivo. São Paulo: Atlas, 1971. 14MOTTA, Fernando C. P.; VASCONCELOS, Isabela F. G. de. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. p.62. 15SIMON, Herbert A. Comportamento administrativo: estudo dos processos decisórios nas organizações administrativas. 3a. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1979. 16MINTZBERG, 1975; 17SIMON, 1979; 18AKTOUF, Omar. Le management entre tradition et renouvellement. Boucherville (Canadá): Gaëitan Morin Éditeur, 1989. p. 242; 19CARROLL & GILLEN, 1987, p.38; 20MINTZBERG, 1975, p.51-3; 21MINTZBERG, 1975, p.52; 22MINTZBERG, 1975, p.54-8; 23MINTZBERG, 1975, p.59; 24AKTOUF; 1989, P. 229; 25KOTTER, John P. What effective general managers really do. Harvard Business Review, v. 60, n. 6, Nov- Dec., 1982. p.161-3; 26KOTTER, J. P. Liderando mudança. Tradução de Isabel Cristina Rodrigues. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 27HAMPTON, David R. Administração: comportamento administrativo. São Paulo: MAKRON Books, 1990. p.198-209. 28STEWART, Rosemary. A model for understanding managerial jobs and behavior. Academy of Management Review, 1982, v. 7, n. 1. p. 7-13. p.12. -14- 29STEWART, l982, p.9. 30STEWART, Rosemary. Managerial agendas - reactive or proactive? Organizational Dynamics, Autumn, 1979. p.34-47.1979, p.35. 31MINTZBERG, 1975. 32STEWART, 1979. 33STEWART, 1979, P.45. 34STEWART, 1979, P.37. 35STEWART, 1979, p.38 36STEWART, 1979, p.38. 37NADLER, David A. & TUSHMAN, Michael L. A diagnostic model for organizational behavior. In: HACKMAN, J. Richard; LAWLER III, Edward E. & PORTER, Lyman W. Perspectives on behavior in organizations. New York: McGraw-Hill, 1977. p.85-98. 38NADLER & TUSHMAN, 1977, p.85. 39SÁ MOTTA, Ivan de. Planejamento e controle da produção. In; MACHLINE, Claude et alli. Manual de administração da produção. 2a ed. Rio de Janeiro: FGV, 1971. Vol. 1. p. 252. 40AKTOUF, 1989, p. 132. 41NADLER e TUSHMAN, 1977, p. 27-41. 42LEVINSON, Harry. Organizational diagnosis. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1972. p. 5. 43NADLER e TUSHMAN, 1977, p.88. 44NADLER e TUSHMAN, 1977, p. 97. 45NADLER e TUSHMAN, 1977, p. 95-7. 46MINTZBERG, Henry. Rounding out the manager’s job. Sloan Management Review, Fall, 1994. p. 11. 47NASCIMENTO, Kleber. A revolução conceptual da administração: implicações para a formulação dos papéis e funções essenciais de um executivo. Revista de Administração Pública, v. 6, n. 2, Abr/Jun 1972. p.5-52. 48SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte, teoria e prática da organização de aprendizagem. São Paulo: Best Seller, 1990. p. 14-22. 49SENGE, Peter M. A nova função do dirigente. In: A quinta disciplina. op. cit. p. 299-311. 50PRAHALAD, C. R. O trabalho emergente dos gerentes. In: CHOWDHURY, S. Administração no século XXI. São Paulo: Pearson do Brasil, 2003. p. 147-8. 51PRAHALAD, C. K. A atividade dos gerentes da Nova Era no emergente panorama competitivo. In: HESSELBEIN, F.; GOLDSMITH, M. e BECKHARD, R. A organização do futuro. São Paulo: Futura, 1997. p. 185-6. 52FILLION, Louis Jacques. Diferenças entre sistemas gerenciais de empreendedores e operadores de pequenos negócios. São Paulo, Revista de Administração de Empresas, V. 39, n. 4, Out/Dez 1999. p. 6-20. 53RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e contexto brasileiro: um esboço de uma teoria geral da administração. 2a ed. Rio de Janeiro: FGV, 1983. 54WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília(DF): UnB, 1991. Vol. 1. 55RAMOS, Alberto Guerreiro. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: FGV, 1981. 56MOTOMURA, Oscar. Prefácio. In: HENDERSON, Hazel. Transcendendo a economia. São Paulo: Cultrix, 2000. p.17. 57TRAGTENBERG, Maurício. A Teoria Geral da Administração é uma ideologia? Revista de Administração de Empresas, 1971, V. 11, n. 4. p. 7-21. TRATENBERG, Maurício. Burocracia e ideologia. São Paulo: Ática, 1980.
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