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PROCEDIMENTALISMO VERSUS SUBSTANCIALISMO:
UM “DIÁLOGO HIPOTÉTICO” ENTRE HABERMAS E STRECK
(Categoria: Revisão Bibliográfica)
Tiago Brene∗
RESUMO: Expõe as principais características das teorias procedimentalista e substancialista 
do Direito. Apresenta a crítica de Lenio Luiz Streck à teoria procedimentalista, bem como à 
concepção procedimentalista de democracia de Jürgen Habermas. Foca-se nas justificações e 
nos argumentos levantados pelos autores, para a fundamentação das teorias em análise. 
Restringe-se, por fim, a uma breve abordagem sobre os reflexos na forma de conceber a 
jurisdição constitucional ou sobre as perspectivas para a atuação do Poder Judiciário 
propriamente dito, sob o olhar de cada corrente filosófica. Conclui que ambas as teorias 
pretendem alcançar um mesmo fim, a saber, uma sociedade mais equânime e justa, 
outorgando ao Direito um importante papel na persecução destes fins. Todavia, verifica-se 
uma divergência no tocante a definição do limite entre o sistema jurídico e o político, bem 
como sobre o papel que o Judiciário deve desempenhar nem um Estado Democrático, cujo 
modelo historiográfico revela um déficit de implementação de princípios e valores inerentes 
aos direitos fundamentais e, que, se encontram positivados em nível constitucional. 
PALAVRAS-CHAVE: Filosofia do Direito, Procedimentalismo, Substancialismo.
SUMÁRIO: INTRODUÇÃO. 1. PROCEDIMENTALISMO E SUBSTANCIALISMO: 
CONSIDERAÇÕES GERAIS. 2. A CRÍTICA DE ESTRECK À TEORIA 
PROCEDIMENTALISTA. 2.1. O PROCEDIMENTALISMO EM FACE DA REALIDADE BRASILEIRA. 3. 
SUPERAÇÃO DE PARADIGMAS E O PAPEL DO JUDICIÁRIO. 3.1. EVENTUAL RESPOSTA 
CONTRA-ARGUMENTATIVA DE HABERMAS. CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS.
INTRODUÇÃO
Após a segunda guerra mundial, tratada por muitos autores como segundo 
pós-guerra, a estrutura normativa e o papel do Direito tornaram-se objetos de investigação 
das mais variadas áreas do conhecimento. Considerando a grande complexidade e o 
entrelaçamento de áreas como política, economia, sociologia e o próprio direito, tem-se uma 
contínua e dinâmica revisão dos fundamentos do sistema jurídico. Muito mais do que um 
simples debate teórico ou meramente acadêmico, as diversas teorias e revisões econômicas, 
 Aluno do 4º ano de filosofia da Universidade Estadual de Londrina, membro do projeto pesquisa “A Relação 
entre a Moral e o Direito na Filosofia de Jürgen Habermas”. 
sociológicas e filosóficas tendem a propiciar eventuais mudanças no itinerário político-
jurídico de ordenamentos jurídicos. Em linhas gerais, trata-se de investigações que 
perscrutam a legitimidade de ordenamentos jurídicos históricos, isto é, quando tais 
ordenamentos são espelhados em face de suas comunidades.
As teorias procedimentalista e substancialista apresentam-se como correntes 
de tradições filosóficas. Muito embora seja possível identificar traços marcantes em ambas as 
correntes, não se pode falar em ideologias. As duas teorias pretendem superar o paradigma 
da filosofia da consciência. Os substancialistas cobram a realização histórica para os estados 
latinos tal como, supostamente, ocorrera nos países do hemisfério norte, o que faz lembrar, 
timidamente, uma filosofia da história de cunho hegeliano, e, de certa forma, o materialismo 
histórico de Marx. Nesta perspectiva, os valores a ser realizados devem ser apreendidos 
historicamente a partir da sociedade, por assim dizer. Os procedimentalistas, por seu turno, 
pretendem superar tanto o paradigma do direito liberal quanto o paradigma do direito 
republicano, voltando-se para captação dos valores que são construídos comunicativamente 
em situações ideais de fala, nas quais todos os indivíduos, autônomos, podem deliberar. 
O desdobramento da discussão entre procedimentalismo e substancialismo é 
enorme. Mormente, no Brasil, bem como em diversos países classificados como países em 
desenvolvimento, o escopo repousa sobre a atuação do Poder Judiciário, como mandatário 
para efetivar certos princípios positivados em âmbito constitucional. Disso resulta, ainda, 
uma discussão muito peculiar no tocante a intervenção do Judiciário no que se refere à 
realização de políticas públicas. O presente trabalho abre mão desta discussão, para centrar-
se nos argumentos e fundamentos de cada corrente. Um pequeno passo, porém, vai além da 
análise dos fundamentos para pontuar questões pertinentes à jurisdição constitucional, isto é, 
a justiça constitucional enquanto atividade das supremas cortes.
Neste contexto, toma-se duas obras como referência para a proposta de 
confronto teórico: Jurisdição Constitucional e Hermenêutica: Uma nova Crítica do Direito, 
do professor Lenio Luiz Streck e Direito e Democracia: Entre Facticidade e Validade do 
filósofo alemão Jürgen Habermas. 
 2
 
1 PROCEDIMENTALISMO E SUBSTANCIALISMO: CONSIDERAÇÕES GERAIS
Um primeiro ponto que deve ser fixado para esse estudo é o fato de que, 
tanto os procedimentalistas (HABERMAS, 1997) quanto os substancialistas (STRECK, 
2004), partem de um mesmo pressuposto: estão tratando de modelos democráticos. O 
desdobramento constitui-se, portanto, de um lado uma concepção formal ou procedimental 
de democracia, e, de outro lado, a concepção material ou substancial.
Segundo Habermas (1997, vol. 2. p.183) “o paradigma procedimentalista do 
direito procura proteger, antes de tudo, as condições do procedimento democrático. Este 
apego, por assim dizer, ao procedimento democrático implica que a qualquer momento um 
determinado tema poderá ser debatido na esfera pública política. Isto pressupõe, porém, o 
acatamento da opinião pública, tanto por parte de um parlamento quanto por parte da 
administração. A partir da referência a D. Grimm, Habermas assevera que:
O paradigma procedimental do direito orienta o olhar do legislador para as 
condições de mobilização do direito. Quando a diferenciação social é grande 
e há ruptura entre o nível de conhecimento e a consciência de grupos 
virtualmente ameaçados, impõem-se medidas que podem “capacitar os 
indivíduos a formar interesses, a tematizá-los na comunidade e a introduzi-
los no processo de decisão do Estado. (HABERMAS, 1997, vol. 2, p. 185).
Para Habermas (1997, vol. 2, p. 186), o núcleo procedimentalista seria a 
mediação recíproca entre a soberania do povo, institucionalizada juridicamente, e, a não-
institucionalizada.
Se por um lado Habermas é enfático em privilegiar o procedimento 
democrático, por outro lado, Streck (2004, p. 149), questiona de forma escancarada, tendo 
em vista valores e principios constitucionais: qual dimensão do direito que deve ser 
privilegiada? Embora Streck (loc., cit) mencione timidamente, a discussão está envolta das 
 Concepçõe
s de liberdade negativa e liberdade positiva1. É a partir da concepção positiva de liberdade 
1 A liberdade segundo o paradigma liberal é denominada liberdade negativa, a qual garante ao indivíduo que o 
Estado não irá interferir na sua intimidade ou subjetividade, são os chamados direitos de defesa. A liberdade 
segundo o paradigma republicano é denominada liberdade positiva, a qual está voltada para o bem comum,3
 
(embora não diga isso expressamente) somada ao princípio da democracia que Streck vai 
apresentar o Estado Democrático de Direito como um novo paradigma. Assim, assevera 
Streck (2004, p. 153) que, “os procedimentos democráticos constituem, por certo, uma parte 
importante, mas só uma parte, de um regime democrático e têm de ser verdadeiramente 
democráticos no seu espírito”. 
Para compreender tais correntes, é preciso ter em mente que, se está 
tratando, como pano de fundo, de teorias fundacionais do próprio Estado. Streck (2004, p. 
148) entende o Estado Democrático de Direito como uma síntese dos momentos 
historiográficos dos Estados, um avanço, um plus acrescentado ao Estado de Direito. Isto 
significa, segundo entendimento de Streck (op. cit. p. 147), uma valorização do jurídico.
Em síntese, a corrente substancialista entende que, mais do que equilibrar e 
harmonizar os demais Poderes, o Judiciário deveria assumir o papel de um 
intérprete que põe em evidência, inclusive a contra maiorias eventuais. A 
vontade geral implícita no direito positivo [...] é inexorável que, com a 
positivação dos direitos sociais-fundamentais, o Poder Judiciário (e, em 
especial, a justiça constitucional) passe a ter um papel de absoluta 
relevância, mormente no que pertine à jurisdição constitucional. (STRECK, 
2004, pp. 147, 148)
Na visão de Streck (op. cit. p. 164), Habermas esquece esse novo paradigma 
que é o Estado Democrático de Direito. Ocorre, entretanto, que Habermas concebe sim, um 
novo paradigma, todavia o procedimentalista, pautado na ética do discurso. A diferença 
marcante é que para Streck (2004, p. 165), o Direito no Estado Democrático é um 
transformador, sendo que para Habermas seria apenas um medium entre a sociedade e o 
Estado.
Habermas, por sua vez, faz uma reconstrução teórica que salvaguarda tanto 
elementos liberais quanto elementos republicanos. Assim, o procedimentalismo seria uma 
superação dos modelos liberais e republicanos:
[...] o paradigma procedimental do direito resulta de uma controvérsia acerca 
de paradigmas, partindo da premissa, segundo a qual o modelo jurídico 
liberal e o do Estado social interpretam a realização do direito de modo 
para coletividade, sendo que o espaço de subjetividade do indivíduo passa a ser menor. Neste paradigma, o 
Estado assume compromissos positivos com a coletividade. Para tanto cf. De la liberté des anciens comparée 
à celle des modernes, Benjamín Constant. Ver, ainda, Dos Conceptos de libertad, Isaiah Berlin.
 4
 
demasiado concretista, ocultando a relação interna que existe entre 
autonomia privada e pública, e que deve ser interpretada caso a 
caso.(HABERMAS, vol. 2. p. 185).
Dessa forma, fica claro que o autor alemão não vê com bons olhos a 
“instrumentalização do direito para fins da regulação política, a qual sobrecarrega a estrutura 
do médium jurídico, dissolvendo a ligação que existe entre política e a realização de direitos 
dos quais não se pode dispor” (HABERMAS, 1997, vol. 2, p. 182). 
2 A CRÍTICA DE STRECK À TEORIA PROCEDIMENTALISTA DE HABERMAS
A primeira crítica de Streck, praticamente já foi mencionada nas 
considerações gerais. Lenio L. Streck (2004, p. 165) é enfático ao afirmar que Habermas não 
reconhece o verdadeiro sentido, por assim dizer, do modelo de Estado Democrático. Na 
verdade, essa concepção implica admitir obrigações positivas por parte do Estado. Parece, no 
entanto, que tal caráter não passa desapercebido na obra de Habermas, mesmo que este não 
utilize necessariamente a expressão Estado Democrático com o mesmo sentido apresentado 
por Streck (para Streck a superação de paradigmas é Estado Democrático de Direito, para 
Habermas, é o procedimentalismo). Ao invés disso, Habermas parece não ser muito 
simpático ou favorável à sobrecarga de determinadas funções como atribuições do Estado:
[...] num Estado sobrecarregado com tarefas qualitativamente novas e 
quantitativamente maiores, resume-se a dois pontos: a lei parlamentar perde 
cada vez mais seu efeito impositivo e o principio da separação dos poderes 
corre perigo. (HABERMAS, 1997, vol. 2, p.173).
Em seguida, a crítica reside no fato de que Streck (2004, p. 165) entende 
que o Direito nesse novo paradigma (Estado Democrático de Direito –E.D.D.) possui uma 
nova legitimidade. A legitimidade viria, então, segundo Streck, da própria constituição. Isto 
porque, para Streck, a constituição é a representação de um contrato social, diga-se de 
passagem, de um contrato que encerra no seu interior valores históricos em contínua 
referência ao momento de sua formação. 
É possível depreender uma eventual resposta de Habermas a esta crítica, a 
 5
 
partir da análise da “perda de ‘validade da constituição’ na interpretação do paradigma 
procedimentalista” (HABERMAS, 1997, vol. 2, p. 181). Para o autor alemão, a carta 
constitucional não basta por si só, como portadora de legitimidade do ordenamento. Ao 
contrário, a legitimidade é um simulacro da comunicação entre o ordenamento 
institucionalizado e a opinião pública que advém da esfera pública política (op. cit., pp. 185, 
186). Assim, em momentos de crises no âmbito interno da lógica da divisão dos poderes, 
desde diretrizes aos problemas administrativos, deve voltar-se à facticidade social com o fim 
de filtrar legitimações de temas sintetizados em forma de uma opinião pública, que, se 
formam na intersecção das diversas esferas públicas. A diferença em relação à proposta de 
Streck2, reside no fato de que Habermas não se aceita que um dos poderes se auto-atribua 
como responsável para uma interpretação final da legitimidade constitucional, mesmo que tal 
interpretação tenha em mente a gênese democrática do direito.
Ainda sobre a compreensão epistemológica e ontológica (Streck aborda as 
duas questões), o autor brasileiro critica a forma como o procedimentalismo habermasiano 
desvincula os valores do texto constitucional de sua ação/concretitazação (STRECK, 2004, p. 
172). Antes de apresentar um argumento de Habermas para esta assertiva de Streck, cabe 
ressaltar que, no entendimento do autor brasileiro, seguindo a orientação de Vital Moreira, 
“nenhum preceito constitucional pode ser privado de função normativa” (STRECK, 2004, p. 
168). Pois bem, dito isso, cabe observar, agora, compreensão e a distinção que Habermas faz 
entre normas3 e valores:
Princípios ou normas mais elevadas, em cuja luz outras normas podem ser 
justificadas, possuem um sentido deontológico, ao passo que os valores têm 
um sentido teleológico. [...] Normas válidas obrigam seus destinatários sem 
exceção [...] valores expressam preferência tidas como dignas. [...] À luz das 
2 Embora o presente trabalho não se aprofunde sobre a concepção de constituição para Streck, cumpreressaltar 
que o autor, no capítulo V da obra aqui trabalhada, apresenta uma concepção ontológica da constituição, que, 
de antemão, já fica visível quando se verifica a afirma de que a constituição deve ser entendida como valores a 
serem realizados, uma vez que surge a partir de um contrato social. Não se trata, porém, de uma compreensão 
metafísica, embora seja uma confusão que freqüentemente se verifica no meio acadêmico. Uma compreensão 
metafísica implicaria atemporalidade e uma essência desvinculada da historicidade de uma comunidade e um 
ordenamento, em outras palavras, da própria formação da constituição. O caráter de ente de uma constituição 
se dá justamente, quando se apresenta inserida em um tempo histórico, isto é, mesmo que de uma história do 
presente. 
3 Normas no sentido que Habermas expõe, pode, em casos limitados, ser compreendidas como princípios, desde 
que apresente eficácia vinculadora.
 6
 
normas é possível decidir o que deve ser feito, ao passo que, no horizonte 
dos valores, é possível saber qual comportamento é recomendável. 
(HABERMAS, 1997, Vol. 1, pp. 316, 317).
2.1 O PROCEDIMENTALISMO EM FACE DA REALIDADE BRASILEIRA
Em linhas bem genéricas, tentou-se pontuar a crítica de Streck ao 
procedimentalismo e, sempre em seguida, apresentar pretensos ou possíveis argumentos de 
Habermas, como uma hipótese contra-argumentativa. Agora, porém, pretende-se tão-somente 
ressaltar certos questionamentos, os quais se mostram pertinentes, levantados pelo autor 
brasileiro. Ademais, de tempos em tempos, o pensamento jurídico-filosófico brasileiro fica 
em xeque pelos próprios acadêmicos brasileiros. Curiosamente, quando surge uma 
transgressão do pensamento comum e dogmatizado da cultura jurídica brasileira, tem-se um 
torcer de narizes, por assim dizer, por parte dos estudiosos patrícios. É muito salutar um 
diálogo com tantas tradições filosóficas complexas sem perder o foco da realidade histórica 
brasileira. Tal postura, por si só, já é digna de grande apreço. As correções normativas que 
podem e devem ser apresentadas, pressupõem o acolhimento de uma teoria para o interior da 
discussão. O que não se pode, porém, é expurgar preliminarmente uma nova proposta crítica.
Pois bem. Lenio Luiz Streck questiona a proposta procedimentalista de 
Habermas em face de peculiaridades brasileiras. A proposta de Habermas visa não a apenas a 
institucionalização legítima do direito – em seu âmbito interno – mas uma legitimidade com 
justificação moral. Esta, por sua vez, só pode ser alcançada por meio de um agir 
comunicativo (HABERMAS, 1989) que pressupõe condições ideais de fala e sujeitas 
autônomos. Aliás, a própria autonomia privada, isto é, de sujeitos singulares, constitui uma 
preocupação para Habermas.
Em face disso Streck questiona:
Como ter cidadãos plenamente autônomos, como Habermas propugna, se o 
problema da exclusão sócia não foi resolvido? Como ter cidadãos 
plenamente autônomos se suas relações estão colonizadas pela tradição que 
lhes conforma o mundo da vida? (grifos do autor) (2004, p.p. 174, 175).
 7
 
Ainda sobre as peculiaridades brasileiras questiona Streck:
Pode uma eleição ser justa, se uma grande parte do eleitorado carece de 
instrução necessária para compreender as principais linhas do debate 
políticos? (loc. cit.)
O próprio autor brasileiro responde negativamente a tais perguntas. Como 
não há na obra de Habermas reflexões sobre o modelo brasileiro ou mesmo considerações 
sobre se a sua teoria pode ou não ter perspectivas em outros modelos, deixa-se de expor um 
contra-argumento. Por outro lado, nada obsta que tais questionamentos, pertinentes por sinal, 
sejam explorados por estudiosos do direito brasileiro. Assim, quiçá, se encontrem caminhos 
para uma formação de uma opinião pública brasileira que seja autônoma, tal como exposta na 
ética do discurso e, ao mesmo tempo, transformadora, como advoga Lenio L. Streck.
3 SUPERAÇÃO DE PARADIGMAS E O PAPEL DO JUDICIÁRIO
A posição substancialista defendida por Streck (2004, p. 179) é expressa e 
enfática ao dizer que “[...] o judiciário não pode assumir uma postura passiva diante da 
sociedade”. Como os desdobramentos4 desta perspectiva são enormes, deve-se ter em mente 
a justiça constitucional propriamente dita. Essa compreensão é fundamentada a partir da 
teoria das normas programáticas e, em certo ponto, no dirigismo5 constitucional. 
Existe uma virada paradigmática significativa na forma substancialista de 
compreender as atribuições para o Judiciário. Ressalte-se, entretanto, que não se trata apenas 
de eleger novas atribuições, até porque, não se apresenta uma lista exaustiva de atribuições, 
mas é o cenário histórico que irá nortear racionalmente qual a atribuição que deve ser 
assumida, bem como os parâmetros hermenêuticos. O fundamento consiste em que, se por 
um lado as normas estruturais garantem os aspectos formais da democracia, por outro lado, 
os direitos fundamentais são princípios que garantem a realização da dimensão matérial da 
4 Reitera-se, aqui, que a análise é conceitual, isto é, investiga os fundamentos e as justificações de cada teoria. 
Assim, o trabalho não aborda a influência da concepção substancialista no tocante a ação (intervenção) do 
judiciário no âmbito das políticas públicas. 
5 O próprio Streck cita o primeiro momento do constitucionalista português J.J. Gomes Canotilho, como 
referencial teórico para inferior que os valores constitucionais programáticos que se dirigem ao legislativo, 
podem ser auto-atribuído ao Judiciário, quando aquele poder mantém-se inerte ou mora legislativa.
 8
 
democracia substancial (STRECK, 2004, p. 182). Um Estado que cumpre apenas a parte 
formal estaria, nesta linha de pensamento, incompleto, e não contemplaria o plus que o 
Estado Democrático representa.
O “corte” apresentado por Streck, no tocante ao intervencionismo 
substancialista, alberga o cumprimento dos preceitos e princípios ínsitos aos Direitos 
Fundamentais sociais e ao referencial de Estado Social (previsto especificamente na 
Constituição da República Federativa do Brasil –CF/88). Embora cite as críticas que os 
procedimentalistas fazem, no sentido de que falta aos tribunais a legitimidade política e os 
instrumentos básicos necessários para a implementação das políticas do bem-estar social, 
Streck vale-se das exposições de Díaz Revorio e Gilberto Bercovici:
[...] nenhuma fundamentação de valores pode ignorar o texto constitucional 
buscando elementos sem qualquer ligação com a constituição. Por outro 
lado, a abertura dos valores constitucionais não significa que não tenham 
significa jurídico, passíveis de ser ignoradospelo legislador ou pelo 
intérprete. (STRECK, 2004, p. 194-196).
Assim, o que se propõe é um redimensionamento na relação entre os 
Poderes. Os conteúdos materiais das constituições devem ser implementados por meio da 
realização (efetivação) de seus valores substantivos. Caso o Poder originariamente 
incumbido desta realização mantenha-se interte, quer seja por questões políticas partidárias, 
quer seja por incompetência, deve-se o judiciário interar-se para o cumprimento de das 
chamadas promessas da modernidade6 .
3.1 EVENTUAL RESPOSTA CONTRA-ARGUMENTATIVA DE HABERMAS7
6 Trata por Streck no âmbito dos direitos humanos fundamentais, isto é, direito básico e no paradigma da 
dignidade da pessoa humana. A obra aponta dois referenciais para tais promessas: a revolução francesa e o 
chamado segundo pós-guerra.
7 Doravante, a exposição contra-argumentativa de Habermas equivale ao VI capítulo da obra Direito e 
Democracia, entre facticidade e validade volume 1, intitulado Justiça e Legislação. Sobre o papel e a 
legitimidade da jurisdição constitucional (pp. 297-330). A exposição do texto é fruto de um trabalho anterior, 
sendo que reflete uma condensação de uma analise quase exaustiva do capítulo citado, bem como das 
discussões realizadas nas reuniões do projeto de pesquisa “A relação entre a Moral e o Direito na filosofia de 
Jürgen Habermas”. Por isso, as citações não seguem a métrica até então apresentada.
 9
 
Tendo em vista que a jurisprudência constitucional diz respeito à atuação dos 
Tribunais tanto na aplicação do Direito, isto é, nos casos em que um Tribunal decide um caso 
concreto, quanto no parecer final sobre a validade ou invalidade das normas, nos casos de 
controle abstrato, uma orientação axiológica por parte dos tribunais daria ensejo, segundo 
Habermas, ao surgimento de uma legislação concorrente por parte dos Tribunais, o que coloca 
em risco a lógica da divisão dos poderes.
 O primeiro passo para entender a crítica de Habermas consiste em visualizar 
as diferenças que o filósofo entende existir entre normas e valores. Normas, no contexto 
tratado por Habermas, são princípios normativos ou “normas mais elevadas”. As normas, 
portanto, possuem uma pretensão de validade universal ao passo que os valores são 
preferências direcionadas a determinados fins. Entre as normas não existe hierarquia. Os 
valores, porém, comportam uma flexibilidade na hierarquia de suas proposições. As 
proposições normativas, em que pese serem principiológicas, são absolutas, isto é, 
obrigatórias, já os valores, são relativos e sua aplicação ou ausência de aplicação se dá de 
forma arbitrária.
Da análise da atuação dos Tribunais no âmbito privado a crítica reside na 
arbitrariedade na escolha da aplicação de um valor em detrimentos de outros, uma vez que 
não existem medidas racionais que possam direcionar qual valor deverá ser aplicado em cada 
caso, o que torna a atuação judicial irracional e funcionalista. No âmbito do controle 
constitucional das normas a crítica consiste em três pontos: (1) Habermas defende com 
veemência um autocontrole da validade constitucional das normas por parte do Legislativo; 
(2) o controle da constitucionalidade das normas orientado por valores tende a compreender a 
constituição como uma categoria ontológica, do que resulta prescrição a priori da ordem 
jurídica e, ainda, compreendendo esta como global e concreta; (3) os discursos jurídicos se 
autocompreendem com uma racionalidade superior nas decisões. No entanto, Habermas dirá 
que a suplantação do discurso político pelo discurso jurídico, ainda que este seja mais 
especializado, colocará em risco: (i) a lógica da separação dos poderes (ii) a legitimação 
democrática do Estado de Direito, uma vez que esta legitimação advém do próprio processo 
político de formação dos parlamentos.
Dessa forma, Habermas entende que um Tribunal Constitucional só manter-
 10
 
se imparcial, se resistir à tentação de preencher seu espaço de atuação e interpretação com 
juízos morais. A interpretação de princípios normativos, ainda que o sistema normativo 
comporte uma estrutura relacional razoavelmente flexível, consegue manter uma reserva de 
coerência para que o sistema de regras permaneça íntegro.
CONCLUSÃO
Para este estudo, duas obras foram utilizadas de forma especial, as quais 
serviram como eixo-base do trabalho. São elas: “Direito e Democracia: Entre facticidade e 
validade” do filósofo alemão Jürgen Habermas e “Jurisdição constitucional e Hermenêutica. 
Uma Nova Crítica do Direito”de Lenio Luiz Streck. Outras obras dos mesmos autores, bem 
como de outros autores serviram para a orientação e acompanhamento do tema.
Apresenta os argumentos substancialista do direito, o qual atribui um papel 
intervencionista e atuante para o Poder Judiciário a partir de dois pontos: o Estado 
Democrático de Direito como um novo paradigma de Estado; valores e princípios inerentes 
aos direitos humanos fundamentais positivados em nível constitucional.
Descreve, também, fundamentos da teoria procedimentalista, para qual a 
preocupação primeira é proteger, antes de tudo, as condições do procedimento democrático, 
bem como a lógica da divisão dos Poderes. Assim, não aceita uma atuação do Judiciário que 
possa extrapolar suas atribuições clássicas, e, ainda, em termos de um controle de 
constitucionalidade das normas.
Mais do que um resultado prático ou funcionalista, a provocação teve o fito 
de instigar a uma reflexão jusfilosófica com pertinência à realidade brasileira. As duas teorias 
contra-postas neste trabalho possuem um mesmo motivo, a saber, uma sociedade mais 
equânime. A lógica da divisão dos Poderes recebe uma nova leitura pelos autores. Para 
Streck, o cenário de um ordenamento pode deslocar para o Poder Judiciário a função 
mandatária de realizar valores e princípios positivados em âmbito constitucional. Para 
Habermas, o filtro de legitimação de ser realizado pelo Poder Legislativo, o que implica 
devolver e submeter a uma nova análise parlamente um tema cuja opinião pública esteja 
 11
 
deliberando.
Deve-se considerar, por fim, que, no âmbito da filosofia, não se pode dirigir 
para determinadas teorias com o fito de posicionar-se como certo ou errado. As construções 
sistêmicas possuem ou não validade no seu interior. O confronto de sistemas serve, quando 
muito, para proporcionar uma reflexão ou impulsionar novos horizontes teóricos. 
REFERÊNCIAS:
APPIO, Eduardo. Controle de Constitucionalidade no Brasil. Curitiba: Juruá Editora, 
2005. 222 p.
BONAVIDES, Paulo. DoEstado Liberal ao Estado Social. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 
1996. 230 p.
In:______. Ciência Política. 2 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1972, 627 p.
 12
 
In:______. Teoria do Estado. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2001. 379 p.
DWORKIN, Ronald. Uma Questão de Princípio. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 593 p.
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Tradução: Guido Antônio 
de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. 236 p.
In:______. Direito e Democracia, entre facticidade e validade volume 1. Tradução. Flávio 
Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. 354 p.
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	PALAVRAS-CHAVE: Filosofia do Direito, Procedimentalismo, Substancialismo.

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