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TRANSTORNOS ALIMENTARES Material Didático - AULA 9 BULIMIA NERVOSA E ANOREXIA NERVOSA Prof.ª. Liliane Martins 1 Planejamento da Aula Introdução Etiologia Epidemiologia Quadro clínico e manifestações clínicas Complicações e mortalidade Tratamento nutricional Tratamento farmacológico e hospitalar 2 Introdução- Transtornos Alimentares São quadros psiquiátricos que afetam principalmente mulheres adultas jovens e adolescentes, com elevada morbidade e mortalidade. 3 Introdução- Anorexia Nervosa Subtipo restritivo Alterações extremas do hábito alimentar Abuso de drogas laxativas e anfetaminas Temor intenso de engordar Imagem corporal perturbada 4 Introdução- Anorexia Nervosa Subtipo bulímico Vômitos induzidos Exercícios físicos exagerados Temor intenso de engordar Imagem corporal perturbada 5 Introdução- Bulimia Nervosa Grande ingestão de alimentos de uma maneira muito rápida com sensação de perda de controle (episódios bulímicos); Métodos compensatórios inadequados (vômito auto- induzidos, uso de medicamentos, dietas, exercícios físicos, cafeína e cocaína). 6 Etiologia Os transtornos alimentares têm uma etiologia multifatorial, ou seja, são determinados por uma diversidade de fatores que interagem entre si de modo complexo, para produzir e, muitas vezes, perpetuar a doença. 7 Etiologia Fatores etiológicos Vulnerabilidades genéticas Psicopatologia parental Pressões socioculturais Se diferencia em predisponentes, precipitantes, protetores e mantenedores 8 Etiologia- Fatores Predisponentes Estão presentes antes do aparecimento do transtorno em questão e torna o indivíduo vulnerável ao seu aparecimento. Os fatores predisponentes dos TA são categorizados em três grupos: individual, familiar/hereditário e sociocultural 9 Etiologia- Fatores Predisponentes Morgan, 2002 10 Etiologia- Fatores Precipitantes Dieta A dieta para emagrecer é o fator precipitante mais freqüente nos TA, sendo um comportamento comum nas sociedades ocidentais Predomina o ideal da magreza 11 Indivíduos que faziam dieta tiveram um risco 18 vezes maior para o desenvolvimento de TA do que entre indivíduos que não faziam dieta após um ano de seguimento. Etiologia- Fatores Precipitantes Dieta Patton,1999 12 Eventos estressores Etiologia- Fatores Precipitantes Eventos envolvendo uma desorganização da vida ou uma ameaça à integridade física (doença, gravidez, abuso sexual e físico) são mais freqüentes em indivíduos com BN do que em controles. Papel desencadeador do transtorno por reforçar sentimentos de insegurança e inadequação. Welch,1997 13 Etiologia- Fatores Mantenedores Morgan, 2002 14 Etiologia- Fatores Mantenedores Fatores fisiológicos Pacientes com AN demonstraram valores séricos ↑ cortisol e ↑ da atividade do hormônio liberador de corticotropina (CRH). A recuperação parcial ou total de peso dos pacientes reverte o quadro de valores elevados de cortisol, indicando que esta anormalidade é secundária ao quadro de inanição. Gold,1986; Doerr, 1980; Fichter,1982. 15 Etiologia- Fatores Mantenedores Fatores fisiológicos - Hormônio liberador de corticotropina (CRH) Em estudos experimentais o CRH → anorexia, aumento da atividade motora e ↓ atividade sexual. Pacientes com AN e perda de peso importante, sintomas como: anorexia, perda da libido e hiperatividade que são reforçados por uma maior atividade de CRH no cérebro. CRH pode contribuir para manter o círculo vicioso da perpetuação de um baixo peso na AN já instalada Gold,1986 16 Etiologia- Fatores Mantenedores Fatores fisiológicos - Leptina Vários estudos demonstraram que a correlação entre massa de gordura e leptina está preservada na AN. Durante a fase de perda de peso → valores de leptina são baixos, e são maiores, na recuperação ponderal 17 Etiologia- Fatores Mantenedores Fatores fisiológicos - Leptina Em dois estudos independentes foi observado que a leptina atingiu valores normais antes da recuperação integral do peso em pacientes com AN → A normalização prematura da leptina pode dificultar a chegada e a manutenção de um peso normal na AN. A leptina estaria gerando um sinal errôneo de saciedade para o cérebro quando na verdade o peso corporal ainda não está integralmente restituído Hebebrand, 1995; Mantzoros, 1997; Hebebrand, 1997 18 Etiologia- Fatores Mantenedores Fatores fisiológicos Episódios bulímicos induzidos → metabolismo da glicose e da insulina ↑ glicemia de jejum e resposta a insulina Justificam a dificuldade de se estabelecer um balanço energético adequado em pacientes com BN 19 Epidemiologia A AN e a BN são doenças raras, que acometem principalmente adolescentes ou mulheres jovens (18 a 30 anos) e que até o final da década de 80, eram pouco descritas em países não-ocidentais 20 Epidemiologia Prevalência Anorexia nervosa → 0,3% da mulheres jovens Bulimia nervosa → 1% da mulheres jovens Taxas mais elevada na população de risco: Adolescentes do gênero feminino 21 Epidemiologia Altas taxas de prevalência 3,5% Estudantes de moda 8,6% Bailarinos profissionais 22 Epidemiologia Incidência - AN 8/100 mil indivíduos/ano (Hoek e Hoeken, 2003) Entre as décadas de 50 e 80 houve↑ da incidência entre mulheres jovens (15 a 25 anos) Na década de 80 → estável 23 Epidemiologia Incidência - BN 12/100 mil indivíduos/ano Na década de 80 houve↑ da incidência entre mulheres (Reconhecimento da doença) Na década de 80 → estável, 30/100 mil mulheres Década de 90 → ocorre uma redução principalmente entre mulheres > 19 anos. 24 Epidemiologia Transtornos Alimentares 10 a 20% em atletas dos sexos feminino e masculino Mulheres atletas de modalidades como ginástica olímpica, corridas de longa distância e balé, assim como homens atletas em modalidades como lutas e fisiculturismo estão mais propensos a desenvolverem um TA American Psychiatry Association,2006 25 Diagnóstico Anorexia X Bulimia Dieta Família Sócio cultural Alterações dos neurotransmissores 26 Não é possível especificar como os fatores de risco se combinam para gerar a AN em alguns indivíduos e a BN em outros Bulimia Parece estar associado a uma propensão para a obesidade e para dificuldades no controle dos impulsos. A restrição alimentar favorece o aparecimento das compulsões alimentares, o que inicia o ciclo compulsão/purgação Diagnóstico 27 Anorexia Pessoas em restrição alimentar, conseguem aumentar cada vez mais a restrição sem ter compulsão. Instalado a desnutrição, que aumenta a distorção da imagem corporal e, conseqüentemente, aumenta também o medo de engordar e o desejo de emagrecer Diagnóstico 28 Diagnóstico Anorexia X Bulimia CID-10 29 Diagnóstico Anorexia X Bulimia CID-10 30 Diagnóstico Anorexia X Bulimia DSM-IV 31 Diagnóstico Anorexia X Bulimia DSM-IV 32 Diagnóstico Anorexia X Bulimia DSM-IV 33 Quadro clínico e manifestações clínicas O início do quadro clínico ocorrefrequentemente a partir da elaboração de uma dieta, em que o paciente inicia a restrição de grupos alimentares, eliminando aqueles que julga mais calóricos. 34 Quadro clínico e manifestações clínicas Características associadas com a história pré-morbida: • Perfeccionismo • Rigidez • Introversão • Baixa auto-estima • Empobrecimento das capacidades de socialização • Comportamento dirigido a dieta O paciente tem como meta emagrecer, cada vez mais, desejando a todo custo ficar cada vez mais magro. 35 Quadro clínico e manifestações clínicas Anorexia Nervosa • Restritivo • Purgativo 36 Quadro clínico e manifestações clínicas Aspectos evidentes (anorexia restritiva) • Negativismo • Irritabilidade • Distorção da imagem corporal • Medo irracional de engordar • Rituais alimentares (comem sozinhas, horários para se alimentar, cortam os alimentos em pequenos pedaços) 37 Quadro clínico e manifestações clínicas Aspectos evidentes (anorexia purgativo) • Jejum prolongados com episódios bulímicos • Ingerem quantidades excessivas de alimentos • Comem com voracidade • Comem doces, massas, chocolates, sorvetes em excesso 38 Quadro clínico e manifestações clínicas Comportamento/Sintomas • Vestem roupas largas → disfarçar a magreza • Pele e cabelo → aparência ressecada • Petéquias, edemas, palma das mãos amareladas • Erosão do esmalte dentário • Lesões no dorso da mãos (prática de vômito) 39 Quadro clínico e manifestações clínicas Comportamento/Sintomas • Intolerância ao frio • Fadiga • Queda de cabelos • Constipação • Dor abdominal • Anorexia • Amenorréia • Dificuldade de concentração 40 Quadro clínico e manifestações clínicas Como em geral os pacientes não admitem estar doentes, eles tendem a não relatar espontaneamente suas queixas, ficando a cargo do médico de questioná-las. 41 Quadro clínico e manifestações clínicas Transtorno mental de ordem alimentar, caracterizado pela perda de controle em relação à comida. Bulimia Nervosa Binge eating 42 Quadro clínico e manifestações clínicas Bulimia Nervosa Tipicamente o paciente começa a sentir uma vontade de comer incontrolável. Depois sente-se culpado → induz o vômito para não engordar Este comportamento lhe traz satisfação e alívio momentâneos. 43 Quadro clínico e manifestações clínicas Aspectos evidentes-Bulimia Nervosa Vergonha Culpa Fracasso Baixa auto-estima Fadiga física 44 Quadro clínico e manifestações clínicas Fatores que desencadeia os episódios de compulsão alimentar Estresse Perdas afetivas Frustrações Rejeições Dificuldade em se relacionar Angustia Depressão 90% dos pacientes são mulheres 45 Quadro clínico e manifestações clínicas Há um sentimento de perda de controle sobre a alimentação, ou seja, um sentimento de não poder parar de comer ou não controlar o quê e quanto se come. A frequência desses episódios é variável podendo ocorrer várias vezes em um único dia ou em uma semana. O paciente come sozinho e escondido, não dá atenção ao sabor e a textura do alimento, comendo sem nenhum critério na hora da compulsão. 46 Quadro clínico e manifestações clínicas Desenvolvimento de pensamentos dicotômicos 47 Quadro clínico e manifestações clínicas Comportamento/Sintomas Manutenção do peso Fadiga Epigastralgia e pirose Diarréia, desidratação ou constipação Aumento de glândulas parótidas Dor, distensão abdominal, náusea e mal-estar Irregularidade menstrual Sudorese, taquicardia, irritabilidade Sinal de Russel 48 Quadro clínico e manifestações clínicas Comportamento/Sintomas Prática intensa de exercícios físicos, podendo causar danos aos ligamentos e aos músculos. Também pode ocorrer o uso de laxantes, diuréticos, inibidores de apetite e de hormônios tireoidianos 49 Complicações e mortalidade Aproximadamente 80% das mulheres que apresentam TA, BN e NA Transtorno de humor, ansioso e dependência de substâncias (laxantes, diuréticos e anorexígenos) 50 Complicações e mortalidade Complicações (Anorexia) Osteoporose Insuficiência Renal Crônica DM tipo I (17% dos casos) Complicações (Bulimia) Depressão (83% dos casos) Transtorno bipolar do humor Transtorno de ansiedade 51 Complicações e mortalidade Mortalidade A taxa de mortalidade varia de 0 a 20%, resultante de complicações clínicas. A taxa de mortalidade deve diminuir com a influência de novos tratamentos e avanços nos diagnósticos. Alto risco para as recaídas 52 Tratamento Psiquiatra, Psicólogo, Nutricionista, Psicoterapeuta familiar, Clínico geral 53 Tratamento Nutricional American Psychiatric Association.- Practice guideline for the treatment of patients with eating disorders. Am J Psychiatry 157: 1-39, 2000. Anorexia Restabelecimento do peso Normalização do padrão alimentar e da percepção de fome e saciedade Correção das sequelas biológicas e psicológicas da desnutrição 54 Tratamento Nutricional American Psychiatric Association.- Practice guideline for the treatment of patients with eating disorders. Am J Psychiatry 157: 1-39, 2000. Pacientes em enfermaria → Ganho de 900g a 1,3 kg/semana Pacientes de ambulatório → 250 g a 450 g/semana. Um ganho de peso de 720 g/ em 4 dias era mais seguro, pois não causava a síndrome da realimentação (Ornstein, 2003) 55 Tratamento Nutricional American Psychiatric Association.- Practice guideline for the treatment of patients with eating disorders. Am J Psychiatry 157: 1-39, 2000. Síndrome de Realimentação Anormalidades dos fluidos e eletrólitos e pode levar a complicações cardiológicas, neurológicas, hematológicas e até à morte súbita 56 Tratamento Nutricional Recomendação Calórica O consumo energético recomendado é de 30 a 40 kcal/kg/dia, podendo chegar até 70 a 100 kcal/kg/dia com a progressão do tratamento. Segundo Marcason (2002), o valor energético total da dieta não deve ser abaixo de 1.200 kcal/dia. 57 Tratamento Nutricional Recomendação Nutricional A proporção de macronutrientes deve ser igual às recomendações para populações saudáveis. Deficiência de zinco e ácido fólico → em adolescentes com AN que não se reverteram após o tratamento Suplementação com zinco promove maior ganho de peso e redução da ansiedade e depressão. Su e Birmingham (2004) 58 Tratamento Nutricional Recomendação Nutricional A alimentação nasogástrica pode ser recomendada ao invés da intravenosa, que só deve ser utilizada em situações nas quais há risco de vida. A alimentação nasogástrica pode acarretar, contudo, retenção de fluidos, arritmia e falência cardíaca. O uso da sonda nasogástrica noturna pode trazer ganho de peso mais rápido do que somente com a alimentação oral. Robb et al. (2002) 59 Tratamento Nutricional Bulimia Diminuir as compulsões Minimizar as restrições alimentares Estabelecer um padrão regular de refeições Incrementar a variedade de alimentosconsumidos Corrigir deficiências nutricionais Estabelecer práticas de alimentação saudáveis 60 Tratamento Nutricional Proposta Nutricional Educação sobre a BN e suas consequências Redução da preocupação com peso e aumento da aceitação de seu próprio corpo Monitoramento da alimentação por meio do diário alimentar Estabelecimento de um plano alimentar regular Story, 1986 61 Tratamento Nutricional Proposta Nutricional É interessante mostrar ao paciente quais são as recomendações de consumo de energia, para que ele possa perceber que o valor energético da maioria das dietas é inferior às necessidades. 62 Tratamento Nutricional Proposta Nutricional O nutricionista deve pesar o paciente regularmente É comum ocorrer retenção de fluidos quando o paciente reduz o consumo de diuréticos e/ou laxantes e a prática de vômitos O nutricionista deve explicar que este aumento é transitório e não corresponde a um aumento da adiposidade Gendall et al., 1997 63 Tratamento Nutricional Proposta Nutricional Deve ser discutido qual é o peso ideal para o paciente, com base na sua compleição física e histórico de peso. É importante que o paciente compreenda que o peso ideal é determinado em função da sua saúde, e não de padrões de beleza ou exigências pessoais desmedidas. 64 Tratamento Farmacológico e Hospitalar - Anorexia Fase Aguda Favorecer o ganho de peso Reduzir sintomatologia específica Reduzir sintomatologia associada Fase de Manutenção Evitar recaídas → piora dos sintomas e perda de peso 65 Tratamento Farmacológico e Hospitalar - Bulimia Promover a redução e a remissão dos episódios de compulsão alimentar periódica Auxiliar no controle das alterações comportamentais relacionadas à alimentação, em especial as purgações Tratar os sintomas que podem acompanhar os distúrbios do comportamento alimentar (depressão, ansiedade e impulsão) 66 Para Fixar 67 "Eu sempre vomito depois que como. Mas tenho muita vergonha disso; acho que é politicamente incorreto". Depoimento de uma jovem. a) Qual é a periodicidade da compulsão periódica e dos comportamentos compensatórios inadequados, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais para os pacientes com Bulimia Nervosa? b) Descreva os comportamentos compensatórios inadequados realizados com o objetivo de prevenir o aumento do peso. 68 A) Em média duas vezes por semana, por três meses. B) Auto-indução de vômitos, uso indevido de laxantes, diuréticos, enemas ou outros medicamentos, jejuns ou exercícios excessivos. Considerações: 1- Os transtornos alimentares são conceituados como um conjunto de atitudes, comportamentos e estratégias associados a uma preocupação permanente com o peso e a imagem corporal onde: Entende-se como episódio do tipo purgativo quando o indivíduo realiza a auto- indução de vômito ou faz uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas. 69 2- A hipoglicemia é uma possível complicação metabólica da anorexia nervosa justificada por Jejum prolongado. 3- Destacam-se entre os objetivos da conduta nutricional para um paciente com anorexia nervosa o estímulo à uma alimentação normal e sadia. Inicialmente, deve-se adotar na prescrição Suplementos alimentares. 4- A anorexia nervosa é considerada um transtorno alimentar. Qualquer que seja a causa, o resultado é uma repulsa acentuada a alimentos. Estes pacientes têm peso corporal 15 a 20% abaixo do normal. 5- Pacientes anoréxicas possui aversão a comida e com isso apresentam redução extrema do peso e da taxa metabólica basal. Para esses pacientes a melhor conduta adotada, inicialmente, seria utilizar uma dieta de baixa caloria, para manter pelo menos as necessidades metabólicas basais. Referência Bibliográfica Nutrição clínica – Estudos de casos comentados Organizador(es): Rita de Cássia de Aquino & Sonia Tucunduva Phillippi Selo Editorial: Editora Manole Ltda Transtornos alimentares e obesidade Autor (es): Angélica de Medeiros Claudino & Maria Teresa Zanella Selo Editorial: Editora Manole Ltda Edição: 1ª Edição, 2004; reimpressão 2007 Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica Organizador(es): Dan L. Waitzberg Ed. Atheneu, 2009 Transtornos alimentares. José Carlos Appolinárioa e Angélica M Claudinob. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II):28-31. 70
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