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Material Didático - AULA 5 Patologias associadas à Gestação: Síndromes Hipertensivas na Gravidez Prof.ª. Liliane Martins 1 Definição • A DHEG (doença hipertensiva específica da gravidez) pode ser definida como uma manifestação clínica e laboratorial resultante do aumento dos níveis pressóricos de uma gestante, previamente normotensa, a partir da 20ª semana de gestação, desaparecendo até seis semanas após o parto. • A doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG), na sua forma pura, caracteriza-se pelo aparecimento, em grávida normotensa, após a vigésima semana de gestação, da tríade sintomática: hipertensão, proteinúria e edema. 2 Epidemiologia • A OMS destaca que as SHG estão entre as principais causas de morbimortalidade materna e fetal, aumentando o risco de baixo peso ao nascer, asfixia e morte fetal. • Segundo o MS é responsável por mais de 20% dos óbitos maternos, principalmente nas regiões nordeste e centro-oeste. 3 Fatores de Riscos • A identificação de gestantes em risco de desenvolver as SHG é fundamental para permitir a complementação de conduta adequada, visando a prevenção da doença e o tratamento precoce. 4 Principais fatores de risco • Constituição física; • História pessoal ou familiar; • Associações mórbidas; • Idade materna; • Hereditariedade; • Raça / Etnia; • Nutrição; • Tabagismo; • Escolaridade; • Paridade; • Gestação múltipla; • Polidraminia; • Etc... 5 Constituição física: maior incidência de SHG em gestantes obesas, de baixa estatura e brevilíneas (tamanho do tronco proporcionalmente maior que os membros); História pessoal ou familiar: mulheres com história de hipertensão há mais de 4 anos ou em gestação prévia e de doença renal, ou com história familiar de PE apresentam maior risco de SHG; 6 7 Associações mórbidas: maior incidência em portadoras de diabetes melito com proteinúria, hipertensão arterial crônica, nefropatia hipertensiva. A intolerância a glicose e resistência a insulina tem papel na etiologia da SHG e as obesas estão mais predispostas à SHG associadas à maior resistência da insulínica. O sobrepeso e o ganho de peso no intervalo intergestacional são associados com a recorrência de SHG em mulheres com hipertensão gestacional. Idade materna: ocorre principalmente em primigesta e em mulheres com mais de 40 anos. Adolescentes com 16 anos ou menos de idade tem maior incidência em comparação com as maiores de 16 anos. Hereditariedade: fator genético é discutível; as mulheres com história familiar tem maior predisposição. Raça / Etnia: as gestantes mais acometidas são as negras, hindus, árabes e judias iraquianas; 8 Nutrição: observou-se redução da prevalência das SHG em populações com dieta hiperprotéica. A dieta com baixo teor de proteína e cálcio está associada a maior prevalência de pressão arterial elevada e SHG conforme observações em estudos experimentais. Tabagismo: alguns autores tem sugerido menor incidência de SHG entre as gestantes tabagistas, devido aos altos níveis de tiocianato (efeito hipotensor) no sangue encontrado nestas mulheres. Vale ressaltar que tabagismo durante a gestação está associado à RCIU, devendo ser desencorajados. 9 10 Escolaridade: é observado maior prevalência entre as gestantes com menor escolaridade e maior risco entre as que trabalham fora de casa; Paridade: a doença é quase específica de primigesta e nulíparas, podendo incidir nas próximas gestações. As primigestas são 6 a 8 vezes mais suscetíveis ao desenvolvimento da SHG; Gestação múltipla: são frequentes em casos de gestações múltiplas, com risco de 5 vezes maior em comparação com gestação de feto único. De acordo com Day et al, a incidência é 2 vezes maior em gestação de gêmeos e 3 vezes maior em gestação de trigêmeos, não sendo observado o mesmo em gestação de quadrigêmeos. Polidraminia: a prevalência é comum nos casos de gestação múltiplas, diabetes e hidropsia fetal, situações em que a SHG também são mais frequentes. 11 Classificação da Hipertensão na Gravidez Hipertensão arterial crônica; Pré-Eclâmpsia (PE) / Eclâmpsia (E); Hipertensão crônica com PE associada; Hipertensão Gestacional; Hipertensão transitória; Síndrome de HELLP. 12 Classificação de pressão arterial em adultos Classificação PAS (mm Hg) PAD (mm Hg) NORMAL < 120 < 80 PRÉ-HIPERTENSÃO 120 - 139 80 - 89 HIPERTENSÃO ESTÁGIO – 1 140 - 159 90 - 99 ESTÁGIO - 2 ≥ 160 ≥ 100 13 MS- Ministério da Saúde 2006 Hipertensão Arterial Crônica Hipertensão de qualquer etiologia (nível da pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg) presente antes da gravidez ou diagnosticada até a 20ª semana da gestação; Gestantes hipertensas crônicas tem maior risco de desenvolver PE ou E; 14 15 • Mulheres com estágio 1 (140 - 149 x 90 - 99)de hipertensão arterial tem baixo risco de complicações cardiovasculares durante a gestação e são candidatas a modificações do estilo de vida como estratégia terapêutica (não existe evidências de que o tratamento farmacológico tenha melhores resultados neonatais). Pré-Eclâmpsia (PE) / Eclâmpsia (E) • PE – Geralmente ocorre após a 20ª semana de gestação, classicamente pelo desenvolvimento gradual de hipertensão (≥ 140/90 mmHg) e proteinúria (300 mg/24h). Pode evoluir para E; • Mulheres com hipertensão arterial pregressa, por mais de 4 anos, tem aumento do risco de desenvolver PE em cerca de 25%. Outro fator de risco é história familiar de PE e de doença renal; 16 Pré-Eclâmpsia (PE) / Eclâmpsia (E) • E – caracteriza-se pela presença de convulsões não causadas por epilepsia ou qualquer outra doença convulsiva. Pode ocorrer na gravidez, no parto e no puerpério imediato; • Em gestante com quadro convulsivo, o primeiro diagnóstico a ser considerado deve ser a E. 17 18 • Hipertensão crônica com PE Associada É o surgimento de PE em mulheres com hipertensão crônica ou doença renal. Nessas gestantes, essa condição agrava-se e a proteinúria surge ou piora após a 20ª semana de gravidez. • Hipertensão Gestacional: É o desenvolvimento de hipertensão sem proteinúria que ocorre após 20 semanas de gestação. O diagnóstico é temporário. Pode evoluir para PE e, se grave, levar a altos índices de prematuridade e restrição do crescimento fetal. 19 • Hipertensão Transitória: De diagnóstico retrospectivo, a pressão arterial volta ao normal cerca de 12 semanas após o parto. Pode ocorrer nas gestações subsequentes e prediz hipertensão arterial subsequentes e hipertensão arterial primária futura. É importante considerar a presença de outros fatores de risco, lesões em órgão-alvo e outras comorbidades. Síndrome HELLP HELLP são as iniciais usadas para descrever condição de paciente com pré-eclâmpsia grave que apresenta hemólise (H), níveis elevados de enzimas hepáticas (EL) e um número baixo de plaquetas (LP) (KAHHALE; ZUGAIB, 2000). A complicação clínica da pré-eclâmpsia em sua forma mais grave está associada a índices de mortalidade materna de até 24% e mortalidade perinatal que varia de 7,7% a 60% dos casos (CASTRO et al, 2004). 20 21 Sinais de extrema gravidade: insuficiência cardíaca congestiva, hepatomegaliadolorosa, icterícia, cianose, diurese inferior a 500ml/24h. Entre as SHG, a síndrome HELLP destaca-se por apresentar, em todo o mundo, os piores resultados maternos e perinatais. A mortalidade materna tem atingido 24%, enquanto a mortalidade perinatal oscila em torno de 60%. Principais complicações: descolamento prematuro de placenta, insuficiência renal, coagulopatia grave, choque e alterações neurológicas. Fisiopatologia das SHG Alterações normais da gestação : • 1º trimestre: artérias espiraladas da decídua (vasos uterinos) são invadidas pelo trofoblástico. Consequências: – Vasodilatação das artérias uteroplacentárias ( pressão e fluxo sanguíneo) – Alteração do sistema das prostaglandinas predomínio da ação das protaciclinas (vasodilatadora e antiagregante plaquetária) em relação ao tromboxano (vasoconstritor) vasodilatação generalizada 22 Alterações anormais na SHG • 1º trimestre: ausência de invasão ou invasão incompleta do tecido trofoblástico nos vasos uterinos. • Manutenção da camada muscular dos vasos com resistência ao fluxo sanguíneo; • Redução das protaciclinas (vasodilatadora) e aumento dos níveis de tromboxano (vasoconstritor) • Vasoespasmo, dano endotelial, agregação plaquetária, aumento da pressão arterial; • Hipoxia tecidual e alterações uteroplacentárias, cerebrais, hematológicas, hepáticas, renais, pulmonares... 23 Complicações associadas a SHG MATERNAS hemorragia cerebral falha renal, hepática ou cardíaca coagulação Intravascular generalizada sangramento generalizado morte FETAIS prematuridade baixo peso RCIU descolamento da placenta aborto espontâneo morte fetal 24 ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS • As alterações bioquímicas incluem alterações no sistema de prostaglandinas. Há predominância da ação vasodilatadora por aumento da protaciclinas (PGI2) produzida pelas paredes dos vasos sobre a ação vasoconstritora e agregadora plaquetária do tromboxano (TXA2), normalmente produzido pelas plaquetas. Uma das consequências é a vasodilatação generalizada, com diminuição da resistência vascular. Os vasos maternos se tornam refratários à infusão de substâncias vasoconstritoras, tais como a angiotensina II. 25 26 • Outras alterações incluem a elevação do volume plasmático e débito cardíaco, além de modificações do sistema renina-angiotensina- aldosterona, o sistema das cininas e dos fatores de coagulação (KAHHALE; ZUGAIB, 2000). ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS • Na grávida com PE ocorre hemoconcentração progressiva relacionada com o grau de extravasamento de plasma para o interstício. • A trombocitopenia á a alteração mais comum, associada à agregação plaquetária e a sua deposição no endotélio vascular lesado, podendo ser grave o suficiente quando a contagem de plaquetas for 30.000 mm3, pondo em risco a coagulação, como observado na síndrome HELLP. 27 28 • A RESPEITO DAS DIVERSAS ALTERAÇÕES NA FISIOPATOLOGIA DA SHG, FAÇA UM RESUMO DE CADA UMA DELAS: • ALTERAÇÕES RENAIS; • ALTERAÇÕES HEPÁTICAS; • ALTERAÇÕES CEREBRAIS; • ALTERAÇÕES PULMONARES; • ALTERAÇÕES OFTLMOLÓGICAS; • ALTERAÇÕES UTEOPLACENTÁRIAS; • ALTERAÇÕES HORMONAIS. • Ver cap. 10, pág. 179-180 – ref. Bibliográfica 1 Profilaxia da SHG • Estratégia: identificar gestantes predispostas • No pré-natal: Diagnóstico precoce da pré-eclâmpsia Avaliações periódicas: PA, pesquisa de edema, exames de sangue e urina, controle de ganho de peso Uso de aspirina após 20a semana gestacional** Suplementação com cálcio (atividade da renina) FAÇA UM RESUMO SOBRE AS MEDIDAS GERAIS NAS SHG (ver cap. 10, pag. 187; ref. Bibliográfica 1) 29 Assistência Nutricional na SHG • Importante: Monitorar aumento súbito de peso (edema) durante a gestação • GANHO DE PESO GESTACIONAL • Ministério da Saúde atenção para ganho de peso ≥ 500g/semana • 1kg/semana ou 3 kg/mês suspeita de SHG 30 Aspectos Nutricionais na SHG • PRESCRIÇÃO DA DIETA • Objetivo: corrigir a proteinúria e controlar o ganho de peso • Características: • Normocalórica, hiperprotéica ( ≥2g/kg/dia) (compensar a proteinúria) • Normossódica : Ministério da Saúde Na < 2,4g/dia = < 6g de sal (NaCl) 31 VARIAÇÕES DA DIETA • Pré-eclâmpsia leve e na Hipertensão gestacional leve (PAS 140 a 159mmHg e PAD 90 a 99mmHg) Dieta normossódica (até 6g/dia de NaCl de adição) • Pré-eclâmpsia grave e na Hipertensão gestacional grave (PAS ≥ 160mmHg e PAD ≥ 100mmHg) Dieta hipossódica (2 a 3g/dia de NaCl de adição) ou Normossódica 32 33 • Eclâmpsia Sonda nasogástrica ou nasojejunal p/ administrar dieta líquida hipossódica • FAÇA UM RESUMO SOBRE OREINTAÇÃO NUTRICIONAL / RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NAS SHG . (Ver cap. 10, pag. 186-187; ref. Bibliográfica 1) 34 Consumo de cálcio (2.000mg) • hipótese: ↓ ingestão de Ca horm. paratireoidiano reatividade muscular com contração dos músculos lisos vasoconstrição e da pressão arterial; • FEBRASGO (1997): suplementação de 2g/dia de Ca para gestantes de risco e com baixa ingestão de Ca, a partir da 14 semana até o parto; • Suplementações à base de óleo de peixe (w-3 , EPA), magnésio parece prevenir SHG. Importante: orientar ingestão de 2 a 3 porções de peixe/semana 35 • Aumentar oferta de vitaminas antioxidantes (vitamina A, C e E) , evitam lesão endotelial • A RESPEITO DAS PROTEÍNAS, RESPONDA: QUAIS OS 3 PAPEIS FUNDAMENTAIS QUE ELA DESEMPENHA NA SHG? • Ministério da Saúde recomenda dieta contendo os vários grupos alimentares, com redução de gorduras saturadas, trans e colesterol Tratamento da SHG • 1 – Repouso físico e psíquico Repouso em decúbito lateral esquerdo Repouso psíquico diminui descarga de adrenalina • 2 – Medicamentos Varia em função das características clínicas Sedativos ( excitabilidade), hipotensores, diuréticos (nos casos de edema pulmonar, ICC, síndrome nefrótica crônica) 36 Terapia Nutricional e Avaliação Dietética • TN: Na consulta inicial, o nutricionista deve realizar avaliação global da gestante, incluindo a identificação dos fatores de risco, história obstétrica pregressa, avaliação nutricional detalhada (ver cap. 7 da Assistência Pré Natal), que fornece subsídios para o cuidado nutricional. 37 38 • A avaliação dietética visa identificar ingestão inadequada de energia, proteínas, vitaminas (incluindo vits A, C, E), minerais (Ca e Na). O método de inquérito de Frequência de Consumo Semiquantitativo tem sido empregado por fornecer uma estimativa da dieta usual dos indivíduos e, quando empregado em gestantes, tem fornecido bons resultados. Avaliação Clínica e Funcional • Atenção para presença de edema, níveis da pressão arterial, presença de incisura associada a alterações de fluxo sanguíneo uteroplacentário, segundo doplllerfluxometria, diurese, evolução da altura uterina, estado geral da gestante (nível de consciência) e sinais de vitalidade fetal. • Avaliar a presença de cegueira noturna gestacional, sintoma ocular sugestivo da deficiência de vitamina A, a partir da aplicação da entrevista padronizada (ver cap. 7 – AssistênciaNutricional Pré-natal). 39 Avaliação antropométrica • A avaliação do estado nutricional pré gestacional e gestacional deve ser realizada de forma criteriosa seguindo as mesmas orientação para gestante adolescentes ou adulta. • Pode-se adotar as recomendações do MS, baseando-se nas faixas de ganho de peso recomendadas, segundo o IMC inicial (pré gestacional ou gestacional), com os mesmos cuidados para gestantes sadias. (ver cap. 7 – Assistência Nutricional Pré-natal e cap. 9 – Gestantes Adolescentes). • Atenção para o ganho de peso súbito > 0,5 kg/semana associado à hipertensão e/ou edema. 40 Avaliação dos Exames Laboratoriais e Bioquímicos • Avaliação do hemograma; • Contagem total de plaquetas; • Função renal (ácido úrico, ureia, creatinina) • Função hepática ( transaminases – AST, ALT, DHL “Desidrogenase Láctica” e bilirrubinas); • TTOG com 26 semanas de gestação; • Proteínas plasmáticas; • Proteinúria; • Coagulograma; • Urina; • Oftalmoscopia e ECG. 41 Ver quadro -2 ; cap. 10, pag. 185-186; ref. Bibliográfica 1 Referência Bibliográfica • 1- ACCIOLY, E; SAUNDERS, C; LACERDA, E. Nutrição em obstetrícia e pediatria, 2ª edição, Rio de Janeiro: Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2009 Capítulo 10: Síndromes Hipertensivas na Gravidez; pag. 173 -190. • ATIVIDADE EM SALA: LEITURA DO ARTIGO EM ANEXO - HIPERTENSÃO GESTACIONAL – UMA REVISÃO DE LITERATURA 42
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